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"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" aposta em tom despretensioso e traz o herói que queríamos ver

Inseguro, apaixonado, inocente, amigo e (ir)responsável. Se tivéssemos que descrever o Peter Parker de 15 anos, essas seriam as características mais adequadas para o jovem. “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, novo filme da franquia produzido pela primeira vez pela Marvel Studios e Columbia Pictures, sendo distribuído pela Sony, deixa para trás o tom melancólico visto nos últimos filmes e traz um refresco, um “quentinho” no coração, com as aventuras (e desventuras) do adolescente superpoderoso pós-batalha ao lado (e contra!) dos Vingadores em “Guerra Civil”.

O primeiro ponto que deve ser ressaltado em "De Volta ao Lar" é o seu tom despretensioso. A produção desde seu primeiro ato não tenta em momento algum (ou promete) ser megalomaníaco e grandioso com raios azuis surgindo em tela no ato final. O filme procura condensar cada vez mais sua trama, sendo única e exclusivamente importante para o universo do herói, e sabe convencer o espectador quanto as motivações do vilão Abutre por mais ordinárias que sejam. Talvez "Homem-Aranha: De Volta Ao Lar" seja a produção mais contida da Marvel Studios desde "Homem-Formiga".

Se alguém duvidava da performance de Holland, mesmo com seu ótimo desempenho em "Guerra Civil", provavelmente irá se surpreender ao assistir ao longa. O carisma e o bom desempenho como Peter Parker nos traz um personagem com gás suficiente para ser um “melhor Homem-Aranha” – ou mesmo um tão cativante quanto os outros. Outro elemento importante, que faz com que a atuação do ator fique ainda mais crível, é por sua idade e pelo quão mergulhado ele é com as tecnologias atuais. Ponto para diretor Jon Watts!

Todos os pontos citados acima fazem com que consigamos nos conectar facilmente com o personagem. Peter, apesar de todos os poderes, consegue ser um dos super-heróis mais "gente como a gente" – ou até, talvez, O mais. Por estar na adolescência, todos os seus conflitos pessoais e o universo que o cerca nos transpassa uma sensação de nostalgia não somente de quando tínhamos sua idade, mas também por nos lembrar daqueles filmes “gostosinhos”, típico de Sessão da Tarde. É um personagem que se vende para o público de sua própria idade e vai além.

Tom não deixou a peteca cair, mas também não roubou a cena de outros personagens. Por falar nisso, diferente do que muitos pensavam, as aparições de Robert Downey Jr. como Tony Stark não tiraram o destaque do personagem-título – ele cumpriu a proposta de ser um mentor para o novo super-herói e não passou disso, contribuindo mais como uma participação especial. Do lado obscuro da história, temos os vilões liderados pelo personagem Abutre/Adrian Toomes, interpretado por Michael Keaton – que novamente ganha asas após "Birdman".

Apesar de ser o principal alvo de Peter, ele é um personagem apresentado logo no início do filme como uma pessoa com valores morais, nos fazendo ver que a "maldade" não é nada mais do que um escudo para evitar que seus planos vão por água abaixo, e não algo inerente a ele. Um vilão que é pai e zela muito pela família, que apenas se agarrou na única oportunidade de ascender numa “profissão”. Será que seríamos muito diferentes dele nas mesmas circunstâncias?

Mas não é só dos grandiosos do cinema que o longa é feito: além de Downey Jr., Keaton e Marisa Tomei (que trouxe uma Tia May jovem, "fresh"; porém, um tanto quanto “avulsa” na história em alguns momentos), vale também destacar o responsável pela maioria dos alívios cômicos no decorrer do filme: Ned, o melhor amigo de Parker interpretado por Jacob Batalon, e Michelle vivida pela Zendaya – que, inclusive, contribui com algumas tiradinhas que discretamente denunciam escravidão, preconceito, entre outros problemas sociais.

Em questões técnicas, o longa também não decepciona: roteiro bem construído e cenas de ação memoráveis – impossível não sentir um frio na barriga quando o Homem-Aranha trava uma batalha com o Abutre nas alturas, enquanto o jovem herói tenta evitar um roubo no avião que transporta itens dos Vingadores. Entretanto, os efeitos especiais do protagonista enquanto faz suas acrobacias e artimanhas com as teias deixam um pouco a desejar. Os bruscos movimentos são muito artificiais em algumas tomadas, o que prejudica um pouco a credibilidade da cena; mas não deslegitima a qualidade do restante da trama. Ressaltemos, também a fotografia, que nos mostra uma Nova York mais “vida real”, já que Peter reside no Queens; e a trilha sonora que, diferente de outros filmes da Marvel, conta com rocks, batidas de pop e eletrônico ao invés das tradicionais scores de filmes de super-heróis.

"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" é um filme adolescente que empolga a todas as idades e públicos: adultos, crianças, fãs dos quadrinhos ou, até mesmo, aqueles que assistirão a um longa de herói pela primeira vez. Ao contrário de alguns outros do gênero, a história dos primeiros passos do Peter Parker como super-herói é despretensiosa, assim como o personagem que, no fim das contas, pelo menos por enquanto, não se importa em ser apenas o "super-herói amigo da vizinhança”, como descreve Tony Stark. Parker está se descobrindo como ser humano e "Homem-Aranha" e, sem dúvidas, o filme nos deixa com muita vontade de acompanhar essa evolução.

Se você não achar "Guardiões da Galáxia Vol. 2" incrível, você viu errado; veja de novo!

James Gunn inventou o space opera com "Guardiões da Galáxia" em 2014, isto todo mundo sabe, né? O cara trouxe um filmão foderoso de maravilhoso que se passava todo no espaço e conseguiu fazer com que um grupo desconhecido de personagens dos quadrinhos se tornassem top da bala, gatos do rolê. Entretanto, você sabia que o diretor conseguiu se superar na sequência, o "Volume 2", reinventando o gênero?

"Guardiões da Galáxia Vol. 2" chegou aos cinemas na última semana e reúne novamente Senhor das Estrelas (Chris Pratt), Gamora (Zoë Saldaña), Rocket Raccoon (Bradley Cooper), Groot (Vin Diesel) e Drax (Dave Baudista) em uma nova aventura que celebra a família de uma forma incrível — você quer, "Velozes 8"? 

Não vamos mentir, o roteiro é bem ordinário, mas tenta ao máximo não soar repetitivo para dentro do gênero e seu universo inserido. Mais uma vez James Gunn consegue trazer um filme quase desprendido do Universo Cinematográfico Marvel, algo muito bem-vindo visto que, seremos sinceros, é um saco ter sempre estas ligações entre uma produção e outra. Claro, isto acontece de maneira absurda em uma das 452 cenas pós-créditos, mas não temos aquela necessidade gritante de interligar tudo durante o play. É um longa para curtir e se divertir sem a preocupação de ter visto o filme anterior do UCM.

Gamora e sua turma são talvez um dos maiores atrativos da produção. Já no primeiro filme tínhamos uma química maravilhosa entre os personagens. Agora nesta sequência vamos além. Por já estarmos envolvidos com os personagens por conta do primeiro filme, se torna fácil se envolver ainda mais neste. Além da empatia, a trama de cada um deles (ou entre eles) nos faz com que nos aproximemos mais dos mesmos, tornando também seu desenvolvimento ainda mais profundo. 

Um ponto interessante a ser relevado, é como cada personagem é tão único em meio a tantos, com suas personalidades tão fortes. O destaque fica para a estranhamente simpática Mantis, interpretada por Pom Klementieff, um adicional que hoje não conseguimos ver sem. Parecida até certo ponto com o personagem de Dave Bautista, ela ganha todos com sua inocência e fofurinha — calma, Groot, ainda te amamos.

O humor novamente é certeiro. Como esperado, a produção usa e abusa do nenis Groot. O personagem surge como alívio cômico em momentos inesperados, inclusive na sequência de abertura, que é praticamente toda dedicada ao personagem. Drax também não fica para trás; por falar sem ao menos pensar no que está dizendo ele se torna o motivo de várias gargalhadas. Também não podemos esquecer de Mantis que rouba a cena inúmeras vezes.

Indo pelos aspectos técnicos, "Guardiões 2" ganha muitos pontos. Se em "Doutor Estranho" ficamos encantados com as inúmeras cores jogadas em tela, aqui não é diferente, visto que o filme também é super colorido, mesmo se apoiando boa parte da trama em tons amarelados. Apoiado em efeitos visuais foderosos, a fotografia nos proporciona sequências belíssimas. Por fim, a trilha sonora é outro acerto; deixamos as canções agitadas lá no primeiro filme, e ganhamos músicas que contribuem para o dosado tom dramático da produção. 

Com roteiro bem amarrado, um grupo de personagens com uma química e simpatia excelentes, um humor pontual e aspectos técnicos dignos de serem reconhecidos pela Academia, "Guardiões da Galáxia Vol. 2" se torna a melhor produção da Marvel até o momento, e se você não o achar incrível, você viu errado; veja de novo. Brincadeira, mores.

"Power Rangers" tem seus erros, mas compensa com tom certeiro e diverte

Hey!, demos alguns spoilers no decorrer do texto, viu?

Com o sucesso de "Super Sentai", franquia de séries japonesa, a Saban Entertainment resolveu trazer uma adaptação ao mercado norte-americano, resultando numa bagunça de recortes de cenas das séries do Japão — principalmente as cenas de batalha — e cenas dos atores norte-americanos. Estranhamente, esta mistura deu certo. "Power Rangers" tinha até então dois filmes, além de se encontrar hoje em sua 25ª temporada. É um ícone da cultura pop, e Hollywood em algum momento iria trazer os heróis morfados para o cinema novamente.

A Lionsgate foi quem pegou todos de surpresa ao adquirir os direitos da Saban para uma nova adaptação cinematográfica. O lado trash e baixo orçamento presente até hoje na série foi uma preocupação eminente desde o anúncio do novo filme, proposto como um reboot — tais aspectos não seriam bem aceitos pelo público em geral. O público clamava por um tom maduro e que soubesse o que realmente queria ser, mas que não deixasse de lado a essência da série que conquistou gerações.

Dirigido por Dean Israelite, "Power Rangers" finalmente chegou aos cinemas ontem, com enorme potencial para tornar a produção em uma franquia grandiosa. A versão da Lionsgate soube muito bem o que queria ser, apresentando um tom certeiro. Porém tais pontos positivos compensam os inúmeros erros encontrados ao longo da produção?



A trama é bem simples, e bebe de fontes louváveis, como "O Clube dos Cinco" e "Poder Sem Limites". Em "Power Rangers" somos apresentados a um grupo de cinco desajustados, cada um com suas problemáticas, que logo após os dez primeiros minutos se veem juntos em uma pedreira. Após uma explosão causada por um deles, os cinco encontram moedas coloridas. Só depois de um acidente, a descoberta de poderes causados por estas moedas e de uma nave que os cinco descobrem que foram escolhidos para compor o novo grupo dos Power Rangers que vão defender a Terra de Rita Repulsa (Elizabeth Banks), a ex-Ranger Verde que busca o poder do Cristal Zeo.


Jason (Dacre Montgomery), Kimberly (Naomi Scott), Billy (RJ Cyler), Zack (Ludi Lin) e Trini (Becky G) compõem o quinteto principal do longa, sendo também um dos grandes acertos. Seja pela dramática super atual por traz de cada um deles, e sua diversidade, os personagens se tornam críveis e urgentes para que qualquer adolescente possa se identificar com cada um deles. O mais incrível, é que o espectador consegue se envolver com os personagens logo nos primeiros minutos da produção, e a química dos atores contribui para tal.

A diversidade dos personagens que compõem o quinteto principal talvez seja o maior acerto da produção. É do histórico da série um certo grau de diversidade entre os heróis, porém aqui vamos além. Dentre os cinco, temos quatro etnias diferentes. E não podemos esquecer da grande representatividade que temos com a primeira heroína lésbica do cinema e um herói negro e com TEA (Transtorno do Espectro Autista).


Rita Repulsa é um show à parte! A antagonista da produção é a clássica vilã má por ser má e que anceia poder. O filme de Dean Israelite não se preocupa em justificar profundamente sua maldade. Rita Repulsa é má e ponto. Talvez pela busca desenfreada de poder, a ex-Ranger Verde tenha ido para o mal caminho. Mas quem realmente se importa? Banks emula sua própria versão da personagem com maestria, sendo em alguns momentos até mesmo assustadora.

Por não ter medo em deixar claro suas inspirações em "O Clube dos Cinco", "Power Rangers" é um filme que quer conversar com os adolescentes, é um filme direcionado a eles. Porém a trilha sonora segue caminho contrário, usando, por exemplo, a clássica música-tema da série de TV, buscando aquecer os corações de quem passava todas as manhãs vendo as aventuras dos heróis morfados. A Lionsgate conseguiu misturar muito bem nostalgia e modernidade, fazendo com que a produção conversasse com qualquer público que já tenha tido contato com a franquia.

A trilha sonora também auxilia no tom de humor da produção. Uma das melhores cenas ficam por conta de Rita Repulsa comendo donuts ao som de "Survivor" das Destiny's Child em quanto Goldar está destruindo tudo ao fundo. O humor aqui ganha inúmeros pontos ao ser pop, com referências a alguns personagens dos quadrinhos, e em alguns momentos é até mesmo ousado, alfinetando outra franquia com robôs gigantes.


Ao contrário do original de 95, esta produção é um filme de origem, logo, passamos boa parte dela com os heróis sem seus uniformes, e é aí que encontramos um dos problemas de "Power Rangers". Claro, não é necessário que o quinteto esteja morfado para termos um ótimo longa — para falar verdade, ele caminha muito bem apenas com os dramas pessoais. Porém deixar a morfagem apenas para o ato final implicou em sequências de ação corridas e mal executadas.

Entretanto, algumas sequências se destacam entre o primeiro e segundo ato. Como as cenas de perseguição, com uma delas contando com uma filmagem excelente em 360º. Até mesmo o primeiro encontro de todos os Rangers e Rita, que conta com uma ação minimamente tímida, consegue ser melhor que o misto de explosões e robôs gigantes do último ato. Talvez se tivéssemos um extensão daquela farofa, o saldo seria bem positivo.

Os problemas do longa de Dean Israelite não param por aí. O roteiro muitas vezes não é nem um pouco efetivo, deixando inúmeras pontas para trás. A computação gráfica não é das melhores. A sensação de estarmos vendo algo que precisava passar por mais alguns processos de renderização antes de chegar às telonas é eminente.

"Power Rangers" tem seus erros, mas compensa com seu tom pé no chão, sabendo muito bem o que queria ser. Banhando-se do humor, drama, um toque de nostalgia e muita diversidade entre os personagens, a produção traz também um grande potencial para a prometida franquia de 7 filmes. Os erros encontrados são de aspecto técnico e que podem (e devem!) ser corrigidos em um segundo filme. "Power Rangers" é surpreendentemente um ótimo ponta pé inicial, e não vemos a hora de morfar de novo!

"Kong: A Ilha da Caveira" não inova, mas é um puta filmão da porra


O “rei” está de volta, mas, desta vez, sem a titulação que lhe confere a soberania no nome. Kong, que desta vez é citado como um “deus” para o povo local de uma ilha, chega ao seu quarto filme, “Kong: A Ilha da Caveira”, sob a direção de Jordan Vogt-Roberts. A história é ambientada em 1971, logo no fim da retirada das tropas estadunidenses do Vietnã e no período da Guerra Fria, e tudo começa quando William Randa (John Goodman), junto à Monarch, uma organização secreta, decide enviar uma equipe de pesquisadores numa desconhecida ilha a fim de explorar o local.

Para a segurança do grupo, Randa conta com o reforço do exército, que está sob o comando do determinado Tenente Coronel Preston Packard (Samuel L. Jackson), e de James Conrad (Tom Hiddleston), um ex-capitão da guerra do Vietnã contratado como apoio por conta de suas habilidades na floresta asiática. Isso sem contar com a equipe de cientistas e biólogos e a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson), contratada para capturar cada novidade vista ali. Quando chegaram à ilha, os soldados dispararam bombas sob o pretexto de testar o solo, só que Kong não gostou nem um pouco disso. E aí, o resto é spoiler.

Temos uma criatura desconhecida e ameaçadora, uma ilha cheia de mistérios, um galã com bom senso e pragmático, uma jovem inexperiente, porém destemida e inteligente, um vilão cego pela vingança e honra, e um time de coadjuvantes que dão o tom leve ao filme. Em questão de roteiro, o filme é, sem dúvidas, mais do mesmo para o gênero. E como já era de se esperar, “Kong: A Ilha da Caveira” traz a essência das versões anteriores em alguns momentos, como na relação de carinho e respeito entre Mason (Larson) e Kong, por exemplo.

As atuações são as mais caricatas possíveis, principalmente as dos “mocinhos” James e Mason (Hiddleston e Larson) e do vilão Packard (Jackson). Porém, não se sabe se por acaso ou propositalmente, o time de coadjuvantes, em especial os soldados e Hank Marlow (John C. Reilly) – tenente da 2° Guerra Mundial que vive há 28 anos na ilha) – ganhou bastante espaço na trama. O que é bom, já que são personagens bastante espirituosos e carismáticos que contribuem, e muito, para o desenvolvimento da narrativa.

As questões técnicas não deixam a desejar: fotografia, efeitos especiais e mixagem de som estão excelentes no longa. Nesta última versão, entretanto, Kong perde um pouco do aspecto de gorila. O corpo deste é mais musculoso, e já não usa mais as mãos para andar (quase como um chimpanzé). Além disso, seus traços estão bem mais reais, mas isso fica mais por conta da evolução da tecnologia mesmo, já que o último filme foi lançado em 2005, há mais de 10 anos.

“Kong: A Ilha da Caveira”, de fato, não traz nada de novo. É inevitável ter aquela sensação de “já vi isso antes” ao assistir. Mas, sem deméritos: o longa em nenhum momento é pretensioso, mas sim veste a camisa de “pipocão” e cumpre seu papel, que é entreter o público de forma superficial. O cinema nem sempre é para fazer pensar ou conscientizar sobre algo (mesmo que toda história tenha a sua moral), mas é, também, entretenimento, diversão e frio na barriga. E não há nada de mal nisso! 

Apesar de alguns deslizes, ainda há encanto em "A Bela e a Fera"

"Tudo é igual, nessa minha aldeia...". Se você reconhece este trecho, e até mesmo sabe continuá-lo, certamente ficará feliz com o resultado do novo "A Bela e a Fera" (2017), live-action da Disney para a animação clássica de 1991, que é um dos maiores sucessos do estúdio e foi o primeiro filme do gênero a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme (categoria com apenas cinco indicados, na época), conquistando duas estatuetas douradas para a casa do Mickey — e posteriormente trilhando caminho à Broadway, com o nascimento de uma divisão da empresa destinada estritamente ao teatro.  

Nesta adaptação, dirigida por Bill Condon ("Dreamgirls", 2006; "Saga Crepúsculo: Amanhecer", 2011 e 2012) e roteirizada por Stephen Chbosky ("As Vantagens de Ser Invisível", 2012) e Evan Spiliotopoulos ("O Caçador e a Rainha de Gelo", 2016), a Disney busca reapresentar sua produção animada ao público (e à bilheteria), como fez com "Mogli: O Menino Lobo" (2016), "Cinderela" (2015) e "Malévola" (2014). Seguindo os passos dos dois mais recentes, "A Bela e a Fera" apresenta conteúdo adicional àquilo que foi visto no longa animado, mas mantêm-se fidedigno à produção original. Esta decisão do estúdio de manter-se seguro pode incomodar a um público sedento por reviravoltas, mas agrada aos fãs mais puristas, que de fato constroem o arrecadamento financeiro do filme.

Com Emma Watson (marcada por interpretar Hermione na saga "Harry Potter" [2001-2011])  no papel de Bela (oscilando entre ótima, nas sequências mais dinâmicas e de cunho emocional, e apática, nas demais) e Dan Stevens (das séries de TV "Downton Abbey e "Legion") como Fera, a nova versão consegue construir um romance crível entre o duo protagonista, mas se destaca mesmo com a performance e o espaço dado a seus coadjuvantes; Luke Evans e Josh Gad, ambos com background forte no teatro musical, brilham como Gaston e Le Fou, respectivamente, e a constelação de atores por trás dos objetos mágicos (entre eles, Ewan McGregor, Emma Thompson, Ian McKellen, Audra McDonald, Stanley Tucci e Gugu Mbatha-Raw) atinge o carisma necessário a estes personagens. 

É nos quesitos técnicos que a produção encontra seus maiores prós e contras: a trilha, novamente conduzida por Alan Menken, emociona; as novas canções, em especial "How Does a Moment Last Forever", "Days in the Sun" e "Evermore", arrepiam e são dignas das grandes premiações; o design de produção é belo e preciso; o figurino obedece (em sua maior parte) ao contexto histórico (fator ignorado na animação) e a maquiagem funciona nas situações em que faz-se necessária. Em contraponto, a montagem é terrível; entrega um problema de ritmo forte no primeiro ato, em que algumas cenas são "apressadas" com cortes pontuais na conclusão de diálogos e outras são "estendidas" e demoram mais do que o necessário. Há também problemas em manter a fluidez narrativa, com sequências editadas para uma organização episódica. O CGI, por sua vez, é suntuoso em certos momentos, mas falha de forma frustrante em relação ao visual da Fera, por vezes semelhante à computação amadora.

A direção de Bill Condon é bastante dúbia: falha em diálogos-chave, em que o desempenho dos protagonistas não está ao máximo, mas acerta precisamente no teor teatral dos números musicais — o ápice de todo o filme, com "Belle", "Gaston" e "Be Our Guest" figurando entre as melhores cenas. Quanto ao conteúdo inédito, apesar de ser relativamente pouco (em seus 45 minutos), consegue ser necessário, entreter e funcionar. A cena da transformação final, por exemplo, encontra uma interessante participação dos objetos mágicos, no intuito de reavivar o aspecto comovente que a consiste. E, em reação à representatividade, a Disney (uma empresa em prol da diversidade) dá pequenos (e importantes) passos que contestam ideais retrógrados, trazendo dois personagens LGBT (que, ao contrário do esperado, não recaem com força em estereótipos) e casais interraciais. 

"A Bela e a Fera" é um blockbuster dentre os melhores do estúdio, que apesar dos defeitos, agrada em quesitos gerais, sendo uma obra que atende às expectativas dos fãs e funciona no que propõe. Pode não soar tão encantador aos exigentes por inovação, mas consolida-se como uma boa obra de entretenimento, que reconhece seu público e o delicia com pompa visual e prazer nostálgico.

"Resident Evil 6" quase não tem roteiro, mas é um pipocão muito bem resolvido

A franquia "Resident Evil" nunca se preocupou em trazer uma produção que fosse fiel à série de jogos começada em 1996. A proposta de Paul W. S. Anderson se mostrou ousada logo no primeiro filme, trazendo uma protogonista que sequer existe na franquia de games, interpretada pela talentosa Milla Jovovich. Alice carregou durante cinco filmes um mistério envolvente quanto a sua origem, e agora, neste sexto, tem um desfecho surpreendente satisfatório.

Começamos o longa em uma Washington pós-guerra, com Alice sendo a única sobrevivente e, logo após ter sido ataca por um zumbizão da porra, é convocada pela Rainha Vermelha para salvar toda a humanidade através de um anti-vírus criado pela Umbrella. Alice tem 48 horas para voltar a Raccon City — finalmente! — e liberar o anti-vírus que se dissipa pelo ar. O roteiro que se preocupa em trazer algum diálogo morre aqui.


Após os dez primeiros minutos do primeiro ato em diante, o filme simplesmente não para. O ritmo frenético domina todos os atos, com poucos momentos que trazem um alívio ao espectador, um momento para respirar em meio de todo o caos é raríssimo. É através deste ritmo que entendemos — de novo — a proposta de Anderson que foi aplicada a partir do quarto filme: um filme de ação que não para. Terror? Só jump scare barato.

Exigir um roteiro complexo para a produção chega a ser risonho. A franquia nunca se propôs para tal e sempre funcionou dentro do que Paul W. S. Anderson quis trazer para as telonas. É um pipocão muito bem resolvido, obrigado, e não vemos sentido em cobrar um roteiro minuciosamente trabalhado quando temos uma direção fantástica, apoiada numa computação gráfica de dar inveja e sequências grandiosas. Anderson mostra mais uma vez que sabe dirigir um filme de ação.

Dentro daquilo que a franquia se propôs ao longo dos filmes, "Resident Evil 6" consegue trazer um desfecho improvável. Como reforçado no início do texto, roteiro é algo que Paul não se preocupou, refinando o melhor dos últimos dois filmes: a ação. São sequências grandiosas que preenchem toda a produção, que trazem uma das coisas mais divertidas em 2016 até o momento.


"Estrelas Além do Tempo" é um filme maravilhoso sobre três mulheres negras poderosas


A ideia de trabalhar na NASA pode soar muito glamorosa e, até mesmo, um sonho para alguns. Afinal de contas, estar envolvido com missões espaciais da mais alta tecnologia é ter em mãos parte do futuro, do avanço e do desconhecido. Provavelmente foi esse o pensamento que o oficial que ajuda o trio de “computadores humanos” Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) a rebocar o carro que as levava ao trabalho teve – mostrado, inclusive, no momento em que pergunta se elas trabalham diretamente com os astronautas. Mas a realidade é diferente – ou, teoricamente, era.

“Estrelas Além do Tempo” (“Hidden Figures”), dirigido por Theodore Melfi, une a corrida espacial entre EUA e União Soviética com as últimas fases da segregação racial legal, resultando em algo impressionante e comovente à sua maneira. Isso porque o longa, apesar de ser um drama, não se desenrola de maneira “pesada”, o que de forma alguma torna as situações em que as personagens são postas menos revoltantes a quem assiste ou vela o racismo.

Um exemplo disso são as cenas da saga diária de Katherine para ir ao banheiro específico para negras: mesmo com o jeito desajeitado de correr carregando uma porção de pastas (e uma música animada tocando ao fundo), o sentimento de compaixão pela personagem e revolta pela condição que lhe é imposta acontece. A narrativa, portanto, se constrói entre alívios cômicos e momentos mais dramáticos, em que o próprio trio protagonista denuncia o racismo e expõe a realidade em que vivem. Em alguns pontos, o longa tem uma leve semelhança com “Histórias Cruzadas”, que, inclusive, também conta com Octavia Spencer no elenco.

Sendo um filme limitado em fotografia, figurino e, até mesmo, na edição (não por falta de qualidade, mas sim pelo tipo de história que é contada), quem o empurra são as próprias personagens. A grandiosidade da atuação de Taraji, Octavia e Janelle é inquestionável: mesmo dando claramente mais enfoque para Katherine, expert em fórmulas e equações que luta para mostrar seu potencial num cargo, até então, exclusivo para homens brancos, as histórias de Dorothy, que se empenha para manter o emprego aprendendo a manipular os computadores (que era uma nova tecnologia na época) e de Mary, que briga na justiça para estudar e se tornar engenheira da NASA têm bastante destaque e não dão a sensação de que faltou algo.


As personagens de Kirsten Dunst, Jim Parsons e Kevin Costner também merecem os créditos por ajudar a empurrar a trama. Mas nem tudo são flores, principalmente se tratando do arco entre Katherine e Al (Costner). A percepção que se tem, ao assistir o filme, é a de que o que acontece entre os dois é uma ajuda mútua: Al precisa da destreza de Katherine na matemática para ajudá-lo no projeto que coordena e, para isso, tenta fazer com que ela tenha condições de trabalhos dignas (demonstrado, principalmente, na cena em que ele quebra a placa de "colored restroom"). Esse acontecimento por si só não seria problemático se não fosse uma invenção do diretor, e não algo baseado em fatos.

Em entrevista para o Vice News, Theodore Melfi afirmou que essa cena foi inventada e que não via problema em existir o "branco bonzinho", tão comumente em filmes que retratam a luta negra de alguma forma. "É preciso haver pessoas brancas que façam a coisa certa, precisa haver pessoas negras que façam a coisa certa", disse Melfi ao repórter. "E alguém faz a coisa certa. E quem se importa com quem faz a coisa certa, desde que a coisa certa seja alcançada?". Além disso, não somente esse ato "heroico" não aconteceu como as próprias corridas diárias ao banheiro destinado às mulheres negras também são fictícias, já que a própria Katherine Johnson afirmou que, na verdade, enfrentava as regras e ia no banheiro das brancas. Ou seja: para exaltar a figura de Al, o diretor colocou em desmérito as atitudes de Katherine. Ponto negativo para Melfi.

“Estrelas Além do Tempo” muito provavelmente não é o tipo de longa inesquecível, daqueles que se encaixam num “top 10” de melhores filmes da vida, mas, certamente, deixou sua marca em diversos sentidos. Apesar da decepção com o whitewashing existente por trás das câmeras (que, consequentemente, interfere no resultado final), o filme tem sua importância. Isso porque vem numa corrente em que cada vez mais filmes com personagens negros estão ocupando as salas de cinema e, também, pelo fato de ser uma história de não só de uma, mas de três mulheres incrivelmente fortes e inspiradoras – tudo isso num momento em que os EUA beira o retrocesso e o caos.


"O Chamado 3" quer desesperadamente criar algo novo para a franquia, porém se torna dispensável

Após uma boa leva de anos banhados em rumores, produção, pós-produção e adiamentos, "O Chamado 3" finalmente chegou aos cinemas ontem, acompanhado de uma ousada, porém nem um pouco nova, proposta para a franquia. Se render bons números com a nova produção, certamente deve voltar para assombrar aqueles que têm pavor de Samara.

O maior desafio dos inúmeros roteiristas que cuidaram de "O Chamado 3" era criar algum gancho que permitisse o novo filme. Subtitulado "O Círculo Se Fecha", a sequência do primeiro filme anula qualquer possibilidade de Samara voltar a assombrar às pessoas com sua fita, porém isto não pareceu um problema. Como esperado, "O Chamado 2" é ignorado e é a partir deste ponto que os problemas surgem em tela. Mas vamos com calma.

"O Chamado 3" não traz de volta os Keller ou ao menos os cita — oportunidade teve — e resolve caminhar com seus próprios pés, buscando uma nova história e personagens. Na nova trama, acompanhamos Julia (Matilda Lutz), que após o desaparecimento do namorado Holt (Alex Roe), acaba se envolvendo com o misterioso vídeo que mata pessoas. Inclusive, o vídeo nunca esteve tão popular, sendo conhecido por muitos.

O longa-metragem de F. Javier Gutiérrez usa e abusa daquilo que tornou o curta "Rings" bom, porém de sua maneira. Somos apresentados a um "culto" à Samara que toma conta de boa parte do primeiro ato. Inclusive, é a por conta dele que a produção caminha muito bem na primeira meia hora, fazendo com que o espectador fique instigado a querer descobrir mais sobre tal culto. Apesar da morte repentina do arco, ele deve, felizmente, voltar nos próximos filmes.

A vontade de criar algo realmente novo para a franquia é exorbitante, porém não justifica as escolhas tomadas para tal inovação. Pela terceira vez, enxugam ao máximo a história de Samara, mais especificamente de sua mãe e pai biológicos. A sensação que permanece é de que tal exploração de mitologia não é necessária, causando grandes confusões para aqueles que sequer se recordam dos primeiros filmes, gera furos no roteiro e traz soluções um tanto quanto convenientes no mesmo.

Em consequência aos pontos escolhidos, Samara tem seu tempo de tela surpreendentemente reduzido. Por volta de seus 102 minutos, S. Morgan tem um presença fortíssima apenas em quatro cenas, e por estas aparições não serem bem distribuídas, "O Chamado 3" não parece ser um filme dela própria. Chega a ser cômico.

O tom escolhido também é preocupante. Enquanto no original japonês de 1998 temos um terror psicológico e em seu remake um suspense bem construído, aqui encontramos o famigerado terror pastelão, recheado de jump scare que beira ao ridículo, apoiado em uma releitura da trilha sonora dos primeiros filmes. A fotografia também falha ao tentar recriar o que vimos em "O Chamado". Em alguns momentos, a fotografia não sabe decidir o que realmente quer transmitir, jogando cores vivas e alegres numa mistura que resulta no começo de algum comercial da Coca-Cola, seguido de tons azuis e sombrios, causando drásticas mudanças visuais de uma cena a outra. 

Mesmo com o tom errôneo, furos inexplicáveis no roteiro e suas soluções duvidosas, "O Chamado 3" se vira dentro do possível, numa produção que parece ter sofrido grandes cortes (e que são muito bem-vindos, obrigado), para tentar entregar algo relativamente interessante e novo para a mitologia de Samara, porém o resultado final é dispensável.

Throwback Review | Mesmo com inúmeros problemas, "O Chamado 2" consegue ser um bom filme

Mesmo com o sucesso de "O Chamado", um sequência chegou aos cinemas somente três anos depois. Público e crítica adoraram o primeiro filme, com a nova produção não poderia ser diferente, mas foi. A bilheteria teve uma arrecadação inferior, o público e a crítica especializada fazem de conta que esta sequência nem existe. Nosso palpite, é que até mesmo "O Chamado 3" não considere o segundo, mas isto é assunto para outro post.

Throwback Review | "O Chamado" é o maior remake que você respeita e morre de medo

Infelizmente, "O Chamado 2" não é um remake de "Ringu 2", porém segue a mesma linha, ou quase isso. "Ringu 2" cria uma nova história, ignorando por completo o segundo livro de Koji Suzuki. "O Chamado 2" ignora ambos e pega um dos temas mais enlatados de Hollywood: possessão. Hideo Nakata, de "Ringu", é quem comanda a direção. Naomi Watts e David Dorfman retornam para os seus respectivos papéis.


O único e grande problema de "O Chamado 2" é o roteiro. Ehren Kruger, que também roteirizou "O Chamado", não sabe aproveitar as pontas soltas deixadas para trás. O primeiro longa termina sugerindo que a fita se espalharia como um vírus e, de fato, começamos com algo similar na sequência, porém de um modo bem preguiçoso, resumido em uma única fala. Entretanto, é válido ressaltar que a produção é acompanhada de um curta chamado "Rings", que serve de base para "O Chamado 3" e que ajuda a esclarecer dois pontos.

O primeiro deles é o fato de que a fita se espalhou por todo o mundo. No curta, acompanhamos um grupo de amigos que tem um sistema para que ninguém morra após ver o vídeo. Porém, mais tarde, descobrimos que o sistema é maior, com direito a site, no qual o objetivo é registrar os 7 dias, buscando capturar imagens da Samara. No mais, o curta mostra que a Samara se manifesta de modos diferentes para cada pessoa. Enquanto o segundo ponto esclarece que a maior contorcionista que você respeita já estava atrás de Rachel há muito tempo.

Como falamos, "O Chamado 2" é um filme de possessão, e apesar do roteiro de Kruger não ser tão efetivo nos pontos anteriores, ele consegue justificar Samara voltando atrás de Rachel e Aidan. Samara se apegou a Rachel, da maneira mais bizarra, claro. Ela não volta por vingança, e sim por enxergar Rachel como a figura de uma mãe que nunca teve, uma mãe que se preocupa. O único modo de conseguir esta mãe tão desejada seria possuindo o corpo de Aidan. É bizarramente fofo. Pontinho pro roteiro.


Novamente, Samara é humanizada. Os flashbacks do primeiro filme surgem com o objetivo de transformar Samara em uma vítima, e conseguem com firmeza transmitir este ponto. Entretanto, para Kruger e Nakata isto parece não ter sido suficiente, ao ponto de cavucar ainda mais o passado da demoniazinha.

Finalmente conhecemos sua mãe biológica, e ela não serve para coisa alguma. Tudo bem, ela surge para justificar Samara e seus poderes, mas tudo é explicado de maneira tão superficial que seria melhor deixar o mistério no ar. Até mesmo para esclarecer que os mortos não dormem soa desnecessário. Aidan bate o martelo neste ponto desde o primeiro filme.

Se o terror em seu antecessor só surge no último ato, neste ele é quase inexistente. Porém diferente do primeiro, aqui isto se torna um problema. As cenas que gritam por um terror são muitas, mas não funcionam. O espectador tem empatia suficiente para não sentir medo de Samara mais. O espectador agora está sedento por querer saber o motivo pelo qual Samara retornou para os Keller, algo que traz um excelente suspense.

Mesmo com inúmeros problemas de roteiro, "O Chamado 2" é uma boa pedida para aqueles que querem um gostinho adicional de Samara em sua vida. É interessante o modo como a demoniazinha se relaciona com Rachel Keller, e a forma como ela a enxerga como mãe é bizarramente boa. Se você busca se aprofundar mais na mitologia, esqueça "O Chamado 2". Entretanto se procura um bom suspense com a dona de um cabelo de mais de 6 mil reais, se joga.

Throwback Review | "O Chamado" é o maior remake que você respeita e morre de medo

Koji Suzuki lançou em 1991 o livro que mais tarde contribuiria para um marco não só para o terror japonês, como também para cinema mundial. "Ringu" foi adaptado para outra mídia pela primeira vez em 1998, através de um filme que se banha de um terror psicológico fudido e traz uma das cenas mais icônicas do cinema. Mais tarde, em 2002, a obra é readaptada aos moldes de Hollywood, popularizando Samara, a maior entidade do mal que nós respeitamos.

Throwback Review | Mesmo com inúmeros problemas, "O Chamado 2" consegue ser um bom filme

A nova produção é comandada por Gore Verbinski, de "A Cura" (2017), que com auxílio do roteiro de Ehren Kruger, consegue transformar o terror psicológico em uma pegada mais investigativa, e assim como o original, só traz o terrozão que tanto amamos no último ato. A anglo-australiana Naomi Watts é quem lidera o elenco ao lado do esquecidíssmo David Dorfman. 

Rachel Keller (Watts) é uma jornalista que após a misteriosa morte de sua sobrinha, bem próxima de seu filho Aidan (Dorfman), resolve ir a fundo descobrir como e porquê ela morreu a pedido de sua irmã. Keller então descobre que a garota, assim como outras pessoas que morreram no exato momento que ela, assistiu uma macabra fita uma semana antes. Com a fita em mãos, Rachel resolve assisti-la para confirmar a história contada pelos amigos da garota.


O telefone toca logo após o fim do vídeo. Ao atendê-lo, Rachel confirma a história dos amigos. Sete dias. Agora, além de tentar descobrir a causa da morte da sobrinha, ela deve também correr contra o tempo para encontrar uma maneira de se salvar. 

Rachel, num primeiro momento, acredita que a mulher que aparece no vídeo é a responsável por todas as mortes. Porém, mais tarde, descobre que a criança refletida em um espelho é a causadora de todo o caos. A garotinha se chama Samara e foi adotada pelos Morgan após o casal falhar nas tentativas de gravidez. Samara sempre foi uma garota problemática, paranormal, para dizer a verdade. Com todos os problemas causados, ela é morta por sua mãe e jogada em um poço. Tadinha, gente. :(


O vídeo visto por Rachel é primordial não só para a resolução do caso com sua sobrinha, como também nos ajuda a entender quem foi Samara. Uma escada, por exemplo, surge aleatoriamente em um frame, e só mais tarde entendemos sua relação com a garota. Ela dormia em quarto no alto de um celeiro, por isso a escada.

Outro elemento relevante do vídeo é uma árvore pegando fogo. O diretor brinca com o espectador o tempo todo através dela. Um pouco antes e depois de Rachel assistir à fita, temos uma árvore que é utilizada para simbolizar uma passagem ou até mesmo para situar um tempo. A árvore em questão está presente durante todo o filme, entretanto é apenas no último ato que conseguimos assimilar esta árvore com aquela que pega fogo no vídeo. A árvore condena o local onde Samara foi enterrada. É genial!

O vídeo surge pela vontade de Samara ser ouvida, não para matar quem assiste — é uma consequência. É um modo de esclarecer que ela é apenas uma vítima, ou quase isso — os flashbacks contribuem para tal sensação. Ela sempre foi uma criança problemática, porém os pais demonstravam um apoio superficial e inclusive a mal-tratavam, o que desencadeou em ela ser quem é.

A trilha-sonora, liderada pelo mozão Hans Zimmer, é um dos grandes pontos relevantes da produção. Ela acompanha todo o filme, e são raros os momentos em que ela desaparece. Por ser minimalista, com poucos momentos grandiosos, ela não causa incomodo algum, inclusive contribui para o suspense e tensão.



Comparações com o original de 98 são inevitáveis. As diferenças de um roteiro ao outro são relativamente poucas e quase imperceptíveis. É incrível como Ehren Kruger consegue mudar e readaptar elementos de um modo que não cause um certo incomodo para quem conheça o filme japonês. Tais mudanças entram única e exclusivamente para ajudar na nova ambientação da história. Elas são bem-vindas.

O que se perde nesta readaptação é o terror psicológico louvado de 98. Kruger opta por um ritmo mais acelerado e com um tom mais investigativo. Em contrapartida desta perda, ganhamos uma aflição nunca sentida. O longa pontua a contagem dos dias em tela, fazendo com que o espectador perca o folego a cada dia perdido. 

Outro elemento que destoa na versão americana é o abuso de efeitos visuais, seja com um CGI ou o auxílio de maquiagemTambém não podemos deixar de ressaltar a diferença visual de Samara, conhecida como Sadako pelos japoneses. No original, sua pele é comum e a demoniazinha nunca mostra o rosto por completo; enquanto na nova versão, eles tornam crível a ideia de que a moça levou sete dias para morrer no poço, com a pele toda enrugada e a produção faz questão de mostrar seu rosto todo deformado.

"O Chamado" consegue fazer o que poucos remakes conseguem: manter a essência do original e até mesmo aperfeiçoar alguns elementos. A refilmagem é excelente e arriscamos dizer ser melhor que o longa-metragem de 1998. Talvez pela readaptação não beirar apenas na troca de elenco e sim mudar o necessário tenha resultado neste saldo final tão positivo. "O Chamado" é o maior remake que você respeita e morre de medo.

"La La Land" é um filme belíssimo que faz uma grande homenagem ao cinema clássico de Hollywood

Conquistando buzz desde sua divulgação prévia, por tratar-se de um musical original com elenco de renome, "La La Land: Cantando Estações" (2016), filme de Damien Chazelle (diretor de "Whiplash" [2014] e roteirista de "Rua Cloverfield, 10" [2016]), tem divido bastante o público. Notório em seu patamar de "produção nostálgica", que enaltece o cinema clássico de Hollywood (um molde muito em voga nos 1950), o filme vem angariando prêmios e aplausos por onde passa, quebrando recordes no Globo de Ouro 2017 e sendo indicado como uma das principais apostas ao Oscar. 

A história de "La La Land" é, assim como seu título, simples. Mia (Emma Stone) é uma aspirante a atriz frustrada que ama cinema clássico; Sebastian (Ryan Gosling), por sua vez, é um pianista desempregado apaixonado por free jazz. Ambos se conhecem, se apaixonam e passam a acompanhar as conquistas e derrotas um do outro. O que há de tão espetacular que faça o filme se destacar, então? A dualidade entre sonho e realidade que seus carismáticos protagonistas vivenciam. 

Mia e Sebastian são tão tridimensionais quanto qualquer um de nós; são críveis, empáticos. Jovens adultos cujo a chama sonhadora resquício de um impulso artístico, seja do cinema hollywoodiano clássico ou da música como forma de expressão criativa e social — persiste, acima de qualquer decepção que a dura vida apresente. Uma temática de esperança já apresentada no número de abertura "Another Day of Sun" ("Quando te decepcionarem / Você levantará do chão / O amanhecer estará ao seu redor / É outro dia de Sol"), que inclusive cita cinema Technicolor, e que atinge ápice na belíssima canção "Audition (The Fools Who Dream)" ("Tragam os rebeldes / as ondas de cristais / Os pintores, os poetas e as peças / Um brinde aos tolos que sonham / Tão loucos quanto parecem / Um brinde aos corações que se partem / Um brinde à bagunça que criamos"). É uma história movida por paixão, sobre paixão, e que atinge em cheio o emocional de seus espectadores que sonham (frustrados ou não).

Damien Chazelle construiu isto brilhantemente em seu roteiro, escolhendo um gênero cinematográfico tão marcado por "sequências de sonho" na era dourada de Hollywood, e que hoje resiste graças à seu público apaixonado. Em um dos principais diálogos, por exemplo, é perfeitamente notável o paralelismo existente entre o jazz e os filmes musicais, ambos supostamente "enterrados" pela modernidade, mas que persistem com grande potencial de adaptação.

A composição visual de "La La Land" está entre seus principais méritos. A fotografia, com muitas cores vivas e saturadas, não só homenageia os cenários em Technicolor dos principais musicais clássicos, mas também faz utilização sensacional da psicodinâmica das cores e constrói sequências belíssimas com um ótimo uso de contraste e iluminação (ferramenta por vezes utilizada no longa-metragem para destacar seus protagonistas). A abertura conta com uma ótima referência ao uso de Cinemascope, e os movimentos de câmera são quase coreografados como passos de dança, em uma decisão arriscada, mas que traz uma prazerosa dinamicidade (talvez inovadora) ao espectador.

Os números musicais são, certamente, ótimos. A coreografia de Mandy Moore (não é a atriz!) evoca muitas referências à musicais como "Cantando na Chuva" (1952) e "Amor Sublime Amor" (1961), principalmente durante as cenas de sapateado. A trilha sonora, composta por Justin Hurwitz, já parceiro do diretor em suas produções, é outro grande destaque positivo, com composições que exploram muito bem o instrumental e que são revisitadas durante todo o filme. As músicas da dupla Benj Pasek e Justin Paul, responsáveis pelo recente musical da Broadway "Dear Evan Hansen" (estrelado por Ben Platt, o Benji da franquia "A Escolha Perfeita") e alguns hits do seriado da NBC "Smash", são muito bem aproveitadas, principalmente no primeiro ato da produção, sendo responsáveis por parte do sentimento positivo que cerca "La La Land". A respeito de "City of Stars", só me resta dizer o óbvio: uma das favoritas ao Oscar de Melhor Canção Original.  

Sob a competente direção de Damien Chazelle e a química entre o casal protagonista (cujas atuações agradam), "La La Land" é um filme belo e bem realizado; cinema na sua forma mais pura e simples de contar histórias, que agracia a "fábrica de sonhos" californiana e emociona (e muito) com seu discurso esperançoso sobre sonhos. Uma ode aos musicais, com um final triunfante que convida à reflexão sobre decisões e a realidade natural da vida. "Um brinde aos tolos que sonham".

Faltou pouco para "Assassin's Creed" ser tão foda quanto queríamos

"Assassin's Creed" é uma franquia de jogos criada pela Ubsoft que arrecadou milhões nos últimos anos. O sucesso foi grande suficiente para trazer o game às telonas. 

Quando a adaptação foi anunciada com Michael Fassbender no papel principal, as expectativas foram para o alto, principalmente considerando que a Ubsoft estaria envolvida na produção. A franquia de jogos traz uma história digníssima de Hollywood, e esta era a oportunidade certa para ver algo bem incrível no cinema baseando-se num videogame do jeito certo. Porém fomos pegos de surpresa quando descobrimos que o longa-metragem não pegaria uma das tramas dos jogos.

Mesmo com toda a grandiosidade da franquia, seria arriscado trazer uma trama diretamente dos jogos, logo a melhor opção foi pegar apenas a mitologia e começar do zero. Aqui acompanhamos Cal Lynch (Fassbender), um ex-presidiário que revive as memórias de seu ancestral Aguilar na Espanha do século XV. Aguilar é um membro do Credo dos Assassinos que protege a Maçã do Éden, um artefato cobiçado pelos Templários. E pararemos aqui para não soltar grandes spoilers.

Por mais que o filme de Justin Kurzel ("Macbeth") busque algo novo, ela ainda consegue ser destinado até para o fã mais chatinho que insiste que uma adaptação deve ser extremamente fiel e que não entende que são mídias diferentes, logo mudanças são feitas para se adequar melhor ao formato de tal mídia. A tão pedida fidelidade entra como fanservice para o deleite dos fãs, e é por este motivo que a produção é destinada a eles. E surpreendentemente ele é dosado.


Um ponto legal de se relevar é todo o aspecto visual, que vai desde à fotografia ao próprio Animus. É tudo tão lindo: os tons cinzas da Abstergo e o aspecto sujo e escuro da Espanha são fantásticos. Considerando seu gênero, é bacana ver que até a fotografia foi pensada. E quanto ao Animus, a solução dada para tornar a experiência de Cal mais real é maravilhosa.

A ação é freneticamente foda e as coreografias são de tirar o fôlego. Boa parte de tais sequências ficam por conta das passagens no passado — coraçãozinho forte para a segunda sincronização do Animus ♥. Inclusive, estas passagens no passado entram para quebrar o ritmo lento do presente, que só mergulha na ação nos minutos finais.

Um dos problemas da produção fica pelos personagens de apoio que são totalmente descartáveis. Você não se importa com ninguém. Os assassinos são rasos ao ponto de serem apenas para efeito da ação — a companheira de Aguilar é problematicamente esquecível. Até mesmo o vilão do filme é bem qualquer coisa, sem personalidade e frases de efeito que dão sono. Seu tom genérico só é "perdoado" por estar ali apenas para dar gás à vilã de sua continuação. Apenas Michael Fassender e Marion Cotillard se salvam.


Outro probleminha de “Assassin’s Creed” é ser destinado única e exclusivamente para os fãs. Trazer referências claras à franquia de jogos quebra a experiência de quem sequer tem ideia de que o filme é baseado em algo maior. Por mais incríveis que o filme possa ser, o resultado é diferente para cada um — ele tem que ser quase o mesmo.

O roteiro também dá suas escorregadas. A mitologia de "Assassin's Creed" é complexa demais para ser explorada em pequenas 2 horas, e até que o roteiro consegue se virar, porém o saldo final é de que nada foi de fato muito bem aprofundado.

Enfim, poucos elementos dos jogos foram mantidos, enquanto coisa ou outra foi alterada e até mesmo melhorada (alô, Animus!). Talvez o fanservice tenha contribuído para uma melhor experiência, fazendo com que o que fosse alterado não causasse um certo estranhamento para quem conhece a franquia no mundo dos videogames. De qualquer maneira, a adaptação é a prova de que dá para fazer algo bom sem a necessidade de ser fiel. Uma boa dose de fanservice é sempre bem-vinda, mas não é apenas isto que torna um filme excelente.

Há muito coração no mar de "Moana", nova animação da Disney

Personagens Disney têm muito peso na cultura pop. Nem é preciso dissertar muito sobre o assunto; basta fazer pesquisas rápidas no Google para encontrar diferentes versões das adoradas princesas do estúdio, e adaptações alternativas das músicas que marcaram a infância de muitos. Carregando traços culturais e muitas ideologias sociais das épocas em que foram produzidos, os clássicos filmes de animação permanecem vividamente na memória do cinema (e do público), como "A Pequena Sereia" (1989), "Aladdin" (1992), "Hércules" (1997) e "A Princesa e o Sapo" (2009).

Ron Clements e John Musker, diretores responsáveis pelas produções aqui já citadas, decidiram então mergulhar totalmente nas técnicas de animação em computação gráfica (CGI) em sua nova produção, "Moana - Um Mar de Aventuras" (2017, Brasil). A dupla, que costuma trabalhar com culturas de diferentes locais do globo, realizando um intenso processo de pré-produção e pesquisa, resolveu desta vez mirar nos mares polinésios; sua nova protagonista (que nomeia o filme) é nativa da região e conta com a ajuda de um semideus chamado Maui (Dwayne "The Rock" Johnson/ Saulo Vasconcelos), personagem inspirado em lendas locais, para enfrentar desafios que retratam com afinco os credos do povo que a inspirou.

Moana (Auli'i Cravalho/Any Gabrielly) é a jovem filha do chefe da ilha Motuni. Desde criança, a personagem anseia em velejar e descobrir regiões além da ilha, mas por proibição do pai, que teme em perdê-la, ela cresce aprendendo a função de liderar seu povo. No entanto, com a aproximação de uma misteriosa "escuridão" que promete atingir o bem-estar do povo de Motuni, Moana sai em uma aventura para encontrar o semideus meta-morfo Maui e, com sua ajuda, realizar as atividades necessárias para restaurar o equilíbrio na vida de todos ao seu redor.


A história da adolescente espirituosa que deseja descobrir o mundo longe de sua casa não é ao certo inédita; a fórmula já é conhecida da Disney, sendo utilizada em "A Pequena Sereia" (1989), "A Bela e a Fera" (1991) e "Enrolados" (2010), por exemplo. O modelo narrativo, que segue a jornada do herói de Joseph Campbell, também não soa como alguma novidade, criando uma trama bastante episódica (fator evidenciado pela curta participação dos piratas-coco Kakamora e do siri gigante Tamatoa). Apesar destes fatores tradicionais, que contrastam perfeitamente com o corajoso, moderno e excelente "Zootopia" (2016), seu filme predecessor, "Moana" ganha destaque por sua qualidade de trama, que traz personagens mais profundos e interessantes.

Também é, de fato, impossível negar as pequenas evoluções de discurso nesta nova era de produções Disney. Como dito no início deste texto, as animações do estúdio carregam ideologias da época em que foram produzidas  e, no caso de Moana, nada melhor do que apresentar uma protagonista com corpo curvilíneo, cabelo cacheado e novos traços étnicos que não são europeus (não que isto não tenha sido construído anteriormente em outros longa-metragens. No entanto, este é um novo patamar atingido). Aventureira nata, a personagem-título não gosta de ser definida como princesa, e tampouco deixa o poderoso (e convencido) Maui tomar seu lugar.

Em termos visuais, "Moana" é estonteante. A animação apresenta avanços notáveis de movimento, e o cenário, com grande fotorrealismo, é cheio de texturas e cores, sendo, acima de tudo, crível. Com alto nível de detalhes, o Oceano (aqui também personagem) e as estrelas compõem uma fotografia que é quase um presente aos espectadores, criando sequências tão belas que muita gente vai querer usar como screensaver ou capa nas redes sociais.


A música, composta em uma parceria entre a banda de ritmos tribais Opetaia Foa'i, o astro Lin Manuel-Miranda (responsável pelo premiado musical "Hamilton") e o compositor de trilhas Mark Mancina, é completamente satisfatória, contagiante e, inevitavelmente, viciante. A wish song de Moana, "How Far I'll Go", o glam rock cantado pelo caricato Tamatoa (Jemaine Clement), "Shiny", e a balada de auto-descoberta "I Am Moana (Song of Ancestors)" são alguns dos pontos altos do filme. As adaptações em português, produzidas por Mariana Elisabetsky, nome conhecido do teatro musical brasileiro, não deixam em nada a desejar (inclusive na dublagem). É música pra colocar on repeat!

Como resultado, "Moana" é uma animação cheia de sentimento. Com alguns passos mais longos do que outros, o estúdio do Mickey comprova que é sempre capaz não só de se reinventar, mas conquistar as lágrimas e o carinho do público (os adultos, inclusive, devem tirar um proveito maior da história que as crianças, facilmente entretidas pelo colorido na tela e as piadas que oscilam entre o humor genérico e o pontual). Há muito coração neste oceano, de um estúdio que vem se encontrando novamente na última década, após vários fracassos de bilheteria e uma crise criativa. E, em resposta, a protagonista canta: "Com o passado eu aprendi / Esse legado mora aqui, me invade".


Soluções preguiçosas do roteiro anulam todo o potencial de "Passageiros"

Quando o primeiro trailer de “Passageiros” saiu, lá por meados de setembro, muitos de nós ficamos um pouco irritados com o possível gigante spoiler que o vídeo de pouco mais de dois minutos trazia. A tela escurece, e antes do trailer acabar ouvimos Chris Pratt dizer, “Há um motivo para termos acordado antes”. BAM! Isso já foi o suficiente para irmos às redes sociais reclamar de que o plot principal do filme havia sido entregue e a surpresa estragada. Mas será que é realmente assim tão catastrófico a revelação do trailer? Passados quatro meses após a liberação do primeiro vídeo, fomos conferir o aguardado filme que estreou essa semana, e podemos afirmar com toda a certeza: Não! O trailer não estraga as surpresas da história.

Demorou, mas finalmente aconteceu. Juntaram a queridinha e o queridinho de Hollywood como protagonistas em um filme. Aliás, o protagonismo dos dois é tão grande (ou o cachê) que não existe mais nenhum outro personagem no filme além dos dois, salvo algumas participações especiais de míseros minutos em tela. J-Law aos 26 anos já tem um currículo invejável. Indicada quatro vezes ao Oscar (2011, 2013, 2014 e 2016), e vencedora de uma estatueta por Melhor Atriz em 2013, protagonista de uma franquia de sucesso, atriz mais bem paga de Hollywood por dois anos consecutivos e claro, não podemos deixar de mencionar o controverso protagonismo na nova trilogia dos mutantes da Fox. É inegável que sozinha a atriz já seria um arrasa quarteirão em bilheteria. Chris Pratt pode até não ter um Oscar, mas já é o protagonista de um dos melhores filmes do universo Marvel, confirmadíssimo em “Vingadores: Guerra Infinita” e protagonista da quarta maior bilheteria da história do cinema. Os dois tem carisma, bom humor, atuam bem além de serem maravilhosos. Só faltava o teste final para saber se teriam química em cena.


O tal teste final se chama “Passageiros” e apesar de todos os pesares, é um filme com um excelente potencial. Uma nave leva cerca de 5.000 pessoas em capsulas para habitarem uma nova colônia em um planeta que fica há cerca de 120 anos de distância da Terra. Tais capsulas programadas para acordarem os passageiros quatro meses antes da chegada ao planeta são a prova de falhas. Porém, algum erro misterioso acontece e Jim (Pratt) e Aurora (Lawrence) são acordados antes do tempo, precisamente 90 anos mais cedo. Sem poder voltar ao estado de hibernação inicial, eles ainda descobrem que a nave está apresentando uma série de comportamentos estranhos, e apenas eles podem fazer algo para salvar a nave e as outras milhares de pessoas. Basicamente, essa é a premissa do filme. Os trailers divulgados ainda nos dão a entender que existe toda uma conspiração e um bom motivo malévolo para os dois terem acordado mais cedo e a nave estar em pane.

E aí que começam os problemas de “Passageiros”. As prévias nos vendem um outro filme, que aparentemente funcionaria muito melhor do que o que foi entregue. Uma trama que se fosse bem aproveitada teria resultado ao menos em um excelente filme de ficção cientifica, mas que acabou sendo resumido rapidamente a um mero romance com saídas preguiçosas de roteiro. Antes de falarmos do roteiro, podemos parar aqui para elogiar as qualidades técnicas do filme. Se passando quase que exclusivamente dentro da tal nave, o filme aproveita bastante do conceito de futuro platinado utilizando cenários bem claros e luminosos e tecnologias fantasiosas. O design da própria nave é incrível, mas fica mal aproveitado dentro da história, não temos nenhuma sensação espacial dos ambientes por onde os personagens passam e aonde eles se localizam dentro da embarcação. O bar, onde temos os momentos de maior descontração do filme, e também a sempre excelente participação do Michael Sheen, é um ambiente clássico e sem nada demais. O design do androide Arthur está ótimo, foi criado para o personagem uma figura humana, porém com rodas da cintura para baixo. Apesar de ser curta sua participação podemos afirmar que sim, ela é o suficiente para ser elogiada. A famosa cena em que a personagem de Jennifer Lawrence se vê presa em uma piscina sob gravidade zero, também é digna de nota, e traz um dos momentos mais criativos em filmes do gênero que no final se transforma em um momento curto e de solução simplista. As rápidas cenas em que vemos o espaço foram bem desenhadas, mas não há nada visualmente espetacular.

O filme que começa com uma espécie de “O Naufrago” substituindo Wilson pelo androide Arthur possui bons momentos iniciais. Ironicamente após a entrada de Aurora na história o roteiro degringola para situações de extremos clichés. Sendo o maior e pior clichê do filme a aparição do personagem de Laurence Fishburne, quem para não estragar a história com mais detalhes, podemos dizer que está ali apenas como o deus ex-machina do roteiro. Para piorar, os personagens são absurdamente rasos, os momentos de tensão são raros e muitas vezes interrompidos rapidamente, a trilha sonora é neutra e não ajuda em nada para contar a história.  O final apesar de rápido até foge do convencional, e traz uma bonita mensagem, similar ao que temos no aclamado “A Chegada”. Quando tudo acaba, sentimos que nem todo o carisma e talento dos protagonistas poderiam segurar a bomba de roteiro que lhes foi entregue. Apesar das claras comparações com “Titanic”, “Passageiros” é um filme que será esquecido horas depois dos créditos subirem e que de clássico só possui a pretensão de ser um.

"Rogue One: Uma História Star Wars" não cai no fan service óbvio e surpreende


Há pouco mais de um ano atrás, quando "Star Wars: O Despertar da Força" foi lançado, muitos fãs da saga espacial encontraram-se extasiados com seu novo rumo e mal podiam esperar para a chegada do oitavo episódio da trama envolvendo os personagens Darth Vader, Luke Skywalker, Rey e companhia. É por essa e outras razões que a produtora Lucasfilm, sob as asas da Walt Disney Company, decidiu investir na produção spin-offs, que seriam lançados entre um episódio e outro, explorando novas facetas do rico universo (risos) expandido da saga, e garantindo sua permanência nas mentes do público e nas altas bilheterias mundo afora. É sob essa condição que "Rogue One: Uma História Star Wars" chegou às telonas em meados de dezembro.

Ocorrida entre os episódios III ("A Vingança dos Sith") e IV ("Uma Nova Esperança"), a trama de "Rogue One" foca em explicar como a Aliança Rebelde conseguiu os planos de engenharia e funcionamento da primeira Estrela da Morte, famosa arma do Império capaz de destruir planetas inteiros (e que viria a explodir 13 anos depois, durante o quarto episódio). Sob este pretexto, somos introduzidos à Jyn Erso (Felicity Jones), uma jovem forte e independente cujo pai, um cientista de grande conhecimento, foi raptado pelo Império ainda durante a infância da garota. Detida pela Aliança, ela deve juntar-se ao oficial rebelde Cassian Andor (Diego Luna), seu droide K-2SO (Alan Tudyk) e uma equipe de guerreiros infiltrados (o piloto Bohd Rook [Riz Ahmed], o guerreiro espiritual Chirrut Imwe [Donnie Yen] e o atirador Beze Malbus [Jiang Wen]) na busca de informações sobre o perigoso projeto e, consequentemente, seu pai.

Com uma sequência inicial que busca contextualizar a situação em que Jyn, o primeiro ato do longa-metragem dirigido por Gareth Edwards ("Godzilla", 2014) é dotado de um ritmo acelerado, que estende-se até o segundo, com várias situações ocorrendo rápido demais. Os personagens são quase todos mal introduzidos, e apenas "jogados" em tela para a ação, sem conseguirmos acompanhar devidamente como chegaram até onde estão e quais as suas verdadeiras motivações. As performances do elenco, apesar do alto nível satisfatório, não trazem impacto. E, a respeito da organização daquele universo, principalmente quanto ao embate Rebeldes vs Império, o roteiro do spin-off não subestima o espectador, mas de certa forma requer que ele tenha conhecimento das outras produções da saga.

Em uma saga tão cheia de espírito como "Star Wars", como identificamos a "Força" na ausência de personagens Jedi ou Sith? Onde estão os sabres de luz? Tudo respectivo a este lado da narrativa é deixado de lado até certas sequências-chave, sendo reduzido basicamente à referências em boa parte do filme. Talvez este seja um dos principais fatores que dificultam a empatia do público quanto aos personagens, que não são tão carismáticos quanto os outros heróis da franquia. Isto reflete na atmosfera da produção, que é mais densa e menos bem-humorada, embora algumas piadas apareçam entre uma cena e outra para a manutenção do entretenimento, que desta vez encontra como principal base as bem-coreografadas e dirigidas sequências de ação.

É durante o terceiro ato que, então, o filme encontra sua devida força (sem trocadilhos!). Sob as reviravoltas no roteiro de Chris Weitz ("Cinderela", 2015) e Tony Gilroy ("Conduta de Risco", 2007), os personagens comprovam todo o potencial até então desperdiçado, demonstrando que conseguem sim cativar os espectadores. A tensão emocional, construída com o auxílio da belíssima fotografia e da ótima trilha de Michael Giacchino ("Zootopia" e "Star Trek: Sem Fronteiras", 2016), transforma as sequências em algumas das melhores e mais impactantes de todos os episódios da saga, ecoando na memória de quem as assiste. 

Sem apelar para o fan service óbvio, "Rogue One: Uma História Star Wars" é um trabalho bem realizado, e que faz os fãs pularem de surpresa da cadeira, em especial com a última cena. Se os próximos filmes mantiverem a qualidade (principalmente do último ato) em seus próximos spin-offs, inclusive tecnicamente, nós podemos ficar seguros. Lucasfilm e Disney, já estamos no aguardo por mais!

Pegue sua varinha e vá ao cinema: "Animais Fantásticos e Onde Habitam" vale o hype!


Quando mais um filme do universo de Harry Potter foi divulgado, nós todos ficamos entusiasmados, principalmente ao saber que J.K. Rowling, autora responsável pelo livros do bruxo mais famoso do mundo, seria a roteirista. Aos poucos, várias novidades foram sendo reveladas, nos deixando cada vez mais ansiosos - e apreensivos - para conferir o resultado do longa-metragem, intitulado "Animais Fantásticos e Onde Habitam" e baseado em um livro-apêndice de Harry Potter, publicado originalmente 2001. Após sua estreia, que ocorreu na última quinta-feira e movimentou muitos fãs ao redor do planeta, o It Pop! foi conferir o filme e te contamos: vale a pena!

Ambientado na Nova York de 1926, cerca de setenta anos antes dos eventos de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" (que chegou aos cinemas em 2001), "Animais Fantásticos e Onde Habitam" gira em torno de Newt Scamander (Eddie Redmayne), um tímido magizoologista britânico, que acabara de chegar à movimentada cidade norte-americana. Sem sabermos ao certo seus objetivos, acompanhamos o excêntrico personagem e sua maleta - cheia de criaturas mágicas - por situações cômicas e de infortúnio, que acabam causando a fuga de alguns animais pela cidade e provocando alvoroço no Congresso Mágico dos Estados Unidos (MACUSA), que teme a exposição do mundo mágico.

O primeiro ato do filme é bastante introdutório, apresentando não só Newt como também os personagens que acompanham sua jornada em seguida: o não-maj (termo americano para "trouxa", ou "não-mágico") Jacob Kowalski (Dan Fogler), que é basicamente o alívio cômico do filme; a bruxa Porpetina Goldstein (Katherine Waterston), funcionária bem-intencionada do MACUSA e sua irmã Queenie Goldstein (Alison Sudol), cujo charme e poder de ler mentes a tornam a personagem mais carismática do quarteto. 

Paralelamente, outro núcleo, mais sombrio, também é introduzido: trata-se da comunidade radical Nova Salém, uma espécie de seita caça às bruxas que remete ao episódio das "Bruxas de Salém", ocorrido nos EUA em 1692, onde várias pessoas foram executadas sob acusação de bruxaria. Este grupo é liderado pela fanática Mary Lou Barebone (Samantha Norton), com a participação de seus filhos adotivos Credence (Ezra Miller), Modesty (Faith Wood-Blagrove) e Chastity (Jenn Murray). Sua atuação em Nova York instiga os líderes mágicos, em especial Percival Graves (Colin Farrell), um influente auror (espécie de general e investigador do Congresso Mágico).

Por tratar-se de uma história completamente nova e distante de Hogwarts, a necessidade de uma contextualização torna o ritmo dos momentos iniciais mais lento e desinteressante, o que pode desagradar públicos mais adultos, visto o tom familiar e mais "leve" das sequências de ação e humor. No entanto, com o desenrolar do núcleo envolvendo a Nova Salém, a narrativa torna-se mais densa em atmosfera e temática, preparando o público para o clímax. As duas distintas propostas não conversam muito entre si; as cenas estreladas por Newt são mais coloridas e engraçadas, enquanto as sequências com Credence, Mary Lou e Percival compõem um enigmático e perverso tom de terror. No entanto, são esses contrapontos que mantém o longa-metragem fluido, não tornando-o tão cansativo em suas duas horas de duração.

Os momentos mais prazerosos do filme, inclusive, estão na revisita ao mundo mágico: o clima fantasioso orquestrado pelo diretor David Yates (responsável pelas quatro últimas produções da franquia Harry Potter) nos causa um conforto nostálgico e maravilha a percepção dos new-comers.  A ambientação é visualmente agradável, com todo o art-decó luxuoso da década de 20 e o tom sépio característico dos espaços urbanos em ascensão. O CGI é aqui muito bem produzido, assim como no criativo design dos animais fantásticos e seus habitats, apesar de não ser tão crível em algumas cenas. O 3D é bem aplicado, a trilha sonora de James Newton Howard (da franquia "Jogos Vorazes", 2012-2015) é cativante (como deveria ser) e o figurino da maravilhosa Collen Atwood ("Alice Através do Espelho", 2016) vai animar os fãs cosplayers.

Dentre os membros do elenco, que em sua maioria entrega boas performances (o Colin Farrell até tenta, gente!), destacamos dois: o queridinho Eddie Redmayne, que apesar de alguns maneirismos, entrega mais de uma faceta de Newt Scamander, apresentando boa preparação física, e Ezra Miller, talento de uma geração, que constrói talvez o personagem mais intenso de todos. (Queremos citar também a Alison Sudol, porque a Queenie ganhou nossos corações).

"Animais Fantásticos e Onde Habitam" certamente entrega um ótimo entretenimento, não decepcionando os fãs do universo bruxo com seus diversos easters eggs e preparando o público para suas sequências, que certamente virão cheias de mistério e conteúdo interessante. Tirem suas varinhas do armário, pois a magia está de volta.

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