Mostrando postagens com marcador oscar 2017. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador oscar 2017. Mostrar todas as postagens

O Oscar não fez mais do que a sua obrigação e ainda há muito o que problematizar

Ainda que estejamos em um dos momentos mais críticos da política mundial, com líderes autoritários e conservadores, carregados de discursos preconceituosos e discriminatórios, presenciamos uma das melhores fases em relação a sociedade, que tem se mostrado cada vez menos conformada com as grandes instituições e seus copos-meio-vazios. A tal geração que “vê preconceito em tudo”, porque ele implicitamente está ali.

Quando o público manifestou sua insatisfação com o Oscar, dando voz ao movimento #OscarSoWhite, eles não estavam realmente preocupados com o prêmio do grande evento, mas, sim, com o que ele representa para todas as pessoas negras, das que assistem à premiação anualmente e veem seus semelhantes sendo preteridos aos que trabalham no meio e percebem a desvalorização de seus trabalhos, independente do esforço feito.

No seu discurso durante o Emmy Awards de 2015, a atriz Viola Davis aproveitou o atual momento de sua carreira e espaço alcançado para destacar que a problemática vai bem além das premiações, uma vez que essa desvalorização começa na escolha dos atores e personagens para a produção do filme. Ela explicou que a diferença entre atrizes negras e brancas são as oportunidades.


E, sobre essa fala, não fica difícil comprovar. São inúmeros os atores e atrizes negros que sabemos serem muito talentosos, e vários deles já ganharam prêmios importantes dentro do meio, mas quantos foram por papéis que não fossem escravos, jovens viciados em drogas e, principalmente em relação às mulheres, empregadas domésticas?

A discussão soa ainda mais preocupante se pensarmos nas categorias técnicas, majoritariamente dominada por homens, e um exemplo recente foi a indicação de Joi McMillion ao Oscar 2017, pela edição de “Moonlight”, uma vez que ela se tornou a primeira mulher negra indicada nesta posição – e perdeu.

Numa tentativa de se mostrar mais democrático e, ainda que gradualmente, demonstrar estar ouvindo a demanda pública, o Oscar desse ano entregou o grande prêmio da noite para “Moonlight”, que disputava contra o favorito – e branco demais – “La La Land”, e tê-los como vencedores não só é importante por se tratar de uma produção feita por artistas negros, como também por sua temática, que aborda dos recortes raciais à luta contra a homofobia.

Viola Davis, que já se tornou um dos maiores ícones negros do cinema atual, também teve a oportunidade de levar seu primeiro prêmio e, como bem definiram pelas redes sociais, na verdade foi o evento quem teve a chance de ter entre seus vencedores uma atriz no cacife de Davis. A noite ainda marcou o fato dela se tornar a primeira atriz negra da história premiada pelo Oscar, Emmy e Tony Awards por sua atuação.



Não só por seus indicados e vencedores, o Oscar desse ano também se mostrou empenhado em fazer a diferença por meio dos discursos de todos que subiram no palco da premiação, incluindo o apresentador Jimmy Kimmel, levantando debates, ainda que de forma descontraída, sobre a política xenofóbica de Donald Trump, entre outras facetas recém-resgatadas do antigo “sim-você-pode” Sonho Americano.

Apesar do clima ser de comemorações, é importante não nos esquecermos de que a representatividade vai além dos prêmios entregues neste ano, devendo a exigência do público se manter tão rígida quanto nas edições anteriores, e, mais do que isso, se faz necessário que cobremos ainda mais diversidade para as premiações que estão por vir, pra que tenhamos eventos cada vez mais negros, que reconheçam o talento das mulheres em todas as camadas das produções, como fazem todos os anos com os homens, e também LGBTQ, como foi “Moonlight”.

Framboesa de Ouro: "Batman vs Superman" e documentário sobre Hillary Clinton são os piores da noite

Religiosamente, um dia antes da cerimônia do Oscar, temos a entrega do Framboesa de Ouro. A premiação dos piores filmes do ano é um contraposto irônico ao Oscar e geralmente entrega alguns troféus polêmicos.

E a premiação de 2017 não foi nada diferente, "Batman vs Superman – A Origem da Justiça", o filme mais discutido do ano passado, recebeu 9 indicações, entre elas nas categorias de "Pior Filme", "Pior Ator", "Pior Diretor", "Pior Remake" e "Pior Combo em Tela", sendo o filme mais indicado ao ano junto com a continuação de "Zoolander".

Hoje (25) saíram os grandes premiados e "Batman vs Superman" se destacou como grande "vencedor" do ano,  junto de "Hillary’s America: The Secret History of the Democratic Party". Ambos levaram 4 prêmios, mas "Hillary's America" saiu com os quatro "maiores": "Pior Filme", "Diretor", "Ator" e "Atriz" (mesmo sendo um documentário). Confira abaixo a lista dos vencedores (em negrito).

PIOR FILME
  • Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Tirando o Atraso
  • Deuses do Egito
  • Hillary's America: The Secret History of the Democratic Party
  • Independence Day: O Ressurgimento
  • Zoolander 2

PIOR ATOR
  • Ben Affleck - Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Gerard Butler - Deuses do Egito / Invasão a Londres
  • Henry Cavill - Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Robert De Niro - Tirando o Atraso
  • Dinesh D'Souza (como ele mesmo) - Hillary's America: The Secret History of the Democratic Party
  • Ben Stiller - Zoolander 2
PIOR ATRIZ
  • Megan Fox - As Tartarugas Ninja - Fora das Sombras
  • Tyler Perry (como Madea) - Boo! A Madea Halloween
  • Julia Roberts - O Maior Amor do Mundo
  • Becky Turner (como Hillary Clinton) - Hillary's America: The Secret History of the Democratic Party
  • Naomi Watts - A Saga Divergente: Convergente / Refém do Medo
  • Shailene Woodley - A Saga Divergente: Convergente


PIOR ATRIZ COADJUVANTE
  • Julianne Hough - Tirando o Atraso
  • Kate Hudson - O Maior Amor do Mundo
  • Aubrey Plaza - Tirando o Atraso
  • Jane Seymour - Cinquenta Tons de Preto
  • Sela Ward - Independence Day: O Ressurgimento
  • Kristen Wiig - Zoolander 2
PIOR ATOR COADJUVANTE
  • Nicolas Cage - Snowden - Herói ou Traidor
  • Johnny Depp - Alice Através do Espelho
  • Will Ferrell - Zoolander 2
  • Jesse Eisenberg - Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Jared Leto - Esquadrão Suicida
  • Owen Wilson - Zoolander 2

PIOR DIRETOR
  • Dinesh D'Souza - Hillary's America: The Secret History of the Democratic Party
  • Roland Emmerich - Independence Day: O Ressurgimento
  • Tyler Perry - Boo! A Madea Halloween
  • Alex Proyas - Deuses do Egito
  • Zack Snyder - Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Ben Stiller - Zoolander 2

PIOR ROTEIRO
  • Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Tirando o Atraso
  • Deuses do Egito
  • Hillary's America: The Secret History of the Democratic Party
  • Independence Day: O Ressurgimento
  • Esquadrão Suicida

PIOR REMAKE, ADAPTAÇÃO OU SEQUÊNCIA
  • Alice Através do Espelho
  • Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Cinquenta Tons de Preto
  • Independence Day: O Ressurgimento
  • As Tartarugas Ninja - Fora das Sombras
  • Zoolander 2

PIOR COMBO EM TELA
  • Ben Affleck e seu pior inimigo para sempre Henry Cavill em Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
  • Qualquer deus egípcio ou mortal de Deuses do Egito
  • Johnny Depp e seu visual vibrante e nauseante de Alice Através do Espelho
  • O elenco inteiro de antes respeitáveis atores de Beleza Oculta
  • Tyler Perry e sua velha peruca de sempre em Boo! A Madea Halloween
  • Ben Stiller e seu amigo quase engraçado Owen Wilson em Zoolander 2

"Estrelas Além do Tempo" é um filme maravilhoso sobre três mulheres negras poderosas


A ideia de trabalhar na NASA pode soar muito glamorosa e, até mesmo, um sonho para alguns. Afinal de contas, estar envolvido com missões espaciais da mais alta tecnologia é ter em mãos parte do futuro, do avanço e do desconhecido. Provavelmente foi esse o pensamento que o oficial que ajuda o trio de “computadores humanos” Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) a rebocar o carro que as levava ao trabalho teve – mostrado, inclusive, no momento em que pergunta se elas trabalham diretamente com os astronautas. Mas a realidade é diferente – ou, teoricamente, era.

“Estrelas Além do Tempo” (“Hidden Figures”), dirigido por Theodore Melfi, une a corrida espacial entre EUA e União Soviética com as últimas fases da segregação racial legal, resultando em algo impressionante e comovente à sua maneira. Isso porque o longa, apesar de ser um drama, não se desenrola de maneira “pesada”, o que de forma alguma torna as situações em que as personagens são postas menos revoltantes a quem assiste ou vela o racismo.

Um exemplo disso são as cenas da saga diária de Katherine para ir ao banheiro específico para negras: mesmo com o jeito desajeitado de correr carregando uma porção de pastas (e uma música animada tocando ao fundo), o sentimento de compaixão pela personagem e revolta pela condição que lhe é imposta acontece. A narrativa, portanto, se constrói entre alívios cômicos e momentos mais dramáticos, em que o próprio trio protagonista denuncia o racismo e expõe a realidade em que vivem. Em alguns pontos, o longa tem uma leve semelhança com “Histórias Cruzadas”, que, inclusive, também conta com Octavia Spencer no elenco.

Sendo um filme limitado em fotografia, figurino e, até mesmo, na edição (não por falta de qualidade, mas sim pelo tipo de história que é contada), quem o empurra são as próprias personagens. A grandiosidade da atuação de Taraji, Octavia e Janelle é inquestionável: mesmo dando claramente mais enfoque para Katherine, expert em fórmulas e equações que luta para mostrar seu potencial num cargo, até então, exclusivo para homens brancos, as histórias de Dorothy, que se empenha para manter o emprego aprendendo a manipular os computadores (que era uma nova tecnologia na época) e de Mary, que briga na justiça para estudar e se tornar engenheira da NASA têm bastante destaque e não dão a sensação de que faltou algo.


As personagens de Kirsten Dunst, Jim Parsons e Kevin Costner também merecem os créditos por ajudar a empurrar a trama. Mas nem tudo são flores, principalmente se tratando do arco entre Katherine e Al (Costner). A percepção que se tem, ao assistir o filme, é a de que o que acontece entre os dois é uma ajuda mútua: Al precisa da destreza de Katherine na matemática para ajudá-lo no projeto que coordena e, para isso, tenta fazer com que ela tenha condições de trabalhos dignas (demonstrado, principalmente, na cena em que ele quebra a placa de "colored restroom"). Esse acontecimento por si só não seria problemático se não fosse uma invenção do diretor, e não algo baseado em fatos.

Em entrevista para o Vice News, Theodore Melfi afirmou que essa cena foi inventada e que não via problema em existir o "branco bonzinho", tão comumente em filmes que retratam a luta negra de alguma forma. "É preciso haver pessoas brancas que façam a coisa certa, precisa haver pessoas negras que façam a coisa certa", disse Melfi ao repórter. "E alguém faz a coisa certa. E quem se importa com quem faz a coisa certa, desde que a coisa certa seja alcançada?". Além disso, não somente esse ato "heroico" não aconteceu como as próprias corridas diárias ao banheiro destinado às mulheres negras também são fictícias, já que a própria Katherine Johnson afirmou que, na verdade, enfrentava as regras e ia no banheiro das brancas. Ou seja: para exaltar a figura de Al, o diretor colocou em desmérito as atitudes de Katherine. Ponto negativo para Melfi.

“Estrelas Além do Tempo” muito provavelmente não é o tipo de longa inesquecível, daqueles que se encaixam num “top 10” de melhores filmes da vida, mas, certamente, deixou sua marca em diversos sentidos. Apesar da decepção com o whitewashing existente por trás das câmeras (que, consequentemente, interfere no resultado final), o filme tem sua importância. Isso porque vem numa corrente em que cada vez mais filmes com personagens negros estão ocupando as salas de cinema e, também, pelo fato de ser uma história de não só de uma, mas de três mulheres incrivelmente fortes e inspiradoras – tudo isso num momento em que os EUA beira o retrocesso e o caos.


NÃO SAIA ANTES DE LER

música, notícias, cinema
© all rights reserved
made with by templateszoo