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A versão estendida de "Esquadrão Suicida" é quase o filmão da porra que tanto queríamos


"Batman VS Superman" veio com a função de estabelecer e expandir o universo da DC Comics no cinema. Entretanto, o que vimos nas telonas foi um material muito mal executado e uma montagem que deixa a desejar, porém com personagens interessantes. Foi só com a sua versão estendida, apelidada de "Ultimate Edition", que pudemos ver todo o seu potencial. Com "Esquadrão Suicida" não foi diferente.

O filme começa idêntico ao que vimos no cinema. A primeira meia hora que parece um grande clipe que destoa completamente do tom imposto nas cenas seguintes continua lá. A sensação de ver dois filmes num só também, mas o carisma dos personagens e sua construção no decorrer dos dois últimos atos fazem com que esqueçamos daquele começo desconexo. Falando assim, soa bem similar a versão do cinema, não é mesmo? Mas a versão estendida vai além.

A personagem de Margot Robbie, Harley Quinn se torna, novamente, o grande atrativo daqui. Porém, esqueça pontos sub-entendidos da primeira versão. Aqui acreditamos que ela é realmente só uma peça do Coringa (Jared Leto) e que sua relação com o mesmo é problemática e abusiva. A romantização do casal morre com um maior número de cenas que visam explorar o passado da personagem. Não vemos a hora de termos ela se libertando do Coringa numa produção futura — quem sabe em seu filme solo.

Por falar do personagem, até aqui ele se prova apenas como um elemento para estabelecer a Arlequina. Só. E isto é ótimo! Não há necessidade de usar e abusar de um vilão tão icônico simplesmente por ele ser quem ele é numa trama que não tiraria proveito algum de sua participação. Deixem o Coringaleto para um filme futuro do morcegão para vermos toda sua potencia real.

Surpreendentemente, a dinâmica do grupo se torna mais atrativa. Boa parte das cenas adicionais nesta versão envolvem o grupo como um todo com a necessidade de mostrar que, apesar das diferenças, uns se importam com os outros ainda que da maneira deles. A cena do bar, agora maior e melhor, é um ótimo exemplo disto.

Apesar da montagem da versão estendida não destoar tanto da versão dos cinemas, a sensação que temos é que a produção caminha melhor com as cenas novas. Mesmo que poucas, conseguem fazer uma diferença gritante e estabelecer aquilo que deveria ter sido estabelecido. Porém, algumas coisas continuam grotescas e não era de se esperar que fossem melhoradas nesta versão.

Cara Delevingne é péssima como vilã. O problema vai além da atriz e sua atuação duvidosa. A partir do momento em que estabelecem a Magia como uma grande ameaça, ainda mais com o famigerado raio azul (risos), é impossível crer que o problema não chegue até os ouvidos de algum herói. Ela quer dominar o planeta Terra e ninguém. fica. sabendo. disso. Ponto negativo para o roteiro.

Enfim, os minutos adicionais se tornam drásticos para o longa, mudando-o quase por completo. Com as novas cenas, o ritmo é outro e o saldo final é bem mais positivo apesar de alguns erros permanentes. A versão estendida de "Esquadrão Suicida" é só mais uma prova de que a DC em conjunto com a Warner precisa urgentemente confiar em seus diretores para que eles possam entregar o material desejado. Em outras palavras, um filmão da porra.

"Doutor Estranho" é a produção mais séria e contida da Marvel nos cinemas


Em julho deste ano, em seu painel na San Diego Comic-Com, o Marvel Studios divulgou um novo logo que deve anteceder seus filmes pelos próximos anos. Nos quase 30 segundos de duração, vemos rápidos flashs de todos os últimos filmes apresentados pela Marvel desde "Homem de Ferro". O logo que estreia nos cinemas junto com "Doutor Estranho", serve para reforçar que, depois de 13 filmes a Marvel possui passe livre para introduzir os personagens mais desconhecidos ao público geral. Eles sabem usar a formula para não errar.

Assistir ao novo logo em tela grande pela primeira vez, já é motivo para qualquer fã sentir agraciado por mais conteúdo inédito.

"Doutor Estranho" é o décimo quarto filme do Universo Cinematográfico Marvel. E, junto de "Guardiões da Galáxia" e "Homem-Formiga", é um dos filmes mais ousados desse universo. Pela primeira vez, a Marvel pisa em solo declaradamente mágico (já que teoricamente, Thor e os Asgardianos são alienígenas e não exatamente Deuses). Dessa forma, existe a necessidade de apresentar à audiência toda uma nova gama de conceitos inéditos, e encaixa-los de forma coesa e assertiva no contexto dos outros filmes. Quando se junta isso ao fator de que o filme deve também agradar ao público geral, e não se perder em sua própria história, podemos concluir que tirar Doutor Estranho do papel foi um grande desafio para a Disney e seus executivos.

A primeira etapa para superar essa barreira foi a escolha acertada do elenco. Primeiramente, escolhendo Benedict Cumberbatch, o equivalente ao Robert Downey Jr da Tv, para fazer o papel principal. Benedict não só tem um imenso carisma, como também é um excelente ator. Ele brilha interpretando o detetive Sherlock Holmes e leva um pouco dessa interpretação para o papel de Stephen Strange. As comparações com Tony Stark são inevitáveis. Ambos os personagens são arrogantes, mas também excepcionais naquilo que fazem e ambos passam por traumas que os levam a despertar o heroísmo dentro de si. A caracterização está impecável e para quem já viu alguma ilustração dos quadrinhos sabe que a semelhança entre o Doutor Estranho do papel e do cinema é imensa. O elenco de apoio também está sensacional, Rachel McAdams em suas poucas cenas está excelente, e Tilda Swinton está literalmente destruidora no papel da Anciã, enfiando goela abaixo os discursos machistas que ela vinha ouvindo desde o anúncio de sua participação.

A diferença entre "Doutor Estranho" e os outros filmes da Marvel não fica apenas na temática mágica. "Doutor Estranho" é também um filme mais contido, menos caótico e apocalíptico como seus antecessores que insistiam em dizimar cidades, planetas e aeroportos. Seguindo a tradicional fórmula de filme de origem em três atos, temos a introdução do personagem, seu treinamento seguido de negação e por fim aceitação dos poderes e responsabilidades na luta contra o vilão. Mantendo então uma narrativa linear, o roteiro se transforma em algo muito menos bagunçado do que estamos acostumados a ver nos filmes de super-herói do estúdio. Essa contenção de escala certamente foi uma decisão certeira, e que melhorou muito na narrativa da história. Outro grande acerto foi evitar o erro comum cometido na maioria dos filmes de origem: a enrolação. Ao invés de protelar, e esconder ao máximo todo seu potencial para o clímax do filme, logo nos minutos iniciais já somos jogados literalmente de cabeça na viagem cinematográfica que é "Doutor Estranho". Apesar de ser um novo conceito e exigir a introdução de elementos espirituais envolvidos com Multiversos, o filme não teme ou fica beirando o sigilo, pelo contrário, já prontamente nos explica tudo o que precisamos entender, numa das melhores cenas do filme.

O visual do longa é outro ponto alto. Quando se faz necessária uma explicação maior a respeito do conceito de Multiverso, a estratégia utilizada é nos jogar juntos com Stephen Strange numa experiência visual completamente imersiva, psicodélica e absolutamente incrível cheia de cores e efeitos visuais delirantes. Aliás, apenas essa sequência já seria o suficiente para nos obrigar a ver o filme na maior e melhor tela possível, mas a qualidade técnica do filme não para aí. Desde as já conhecidas cenas a lá “A Origem” que vimos nos trailers até as cenas de invocação de magia e as de luta, vemos que tudo foi muito bem desenhado e produzido para ser um grande deleite aos nossos olhos. O filme só perde para "Guardiões da Galáxia" no quesito beleza e entretenimento visual.

As já tradicionais cenas pós-crédito estão lá. Enquanto uma tem o objetivo de dar continuidade na história que culminará em "Vingadores 3" e ligar "Doutor Estranho" diretamente ao próximo filme da Marvel, Thor Ragnarok, a outra serve para definir o próximo vilão que atormentará Stephen Strange no futuro. 

A sensação final é de que a Marvel finalmente chegou a sua madureza, usando e abusando dos recursos tecnológicos direcionados ao cinema. Porém com a madureza, a Marvel passa a experimentar mais do receio de se enfiar em produções com clímax megalomaníacos. Isso pode chatear um pouco a expectativa da audiência, que sempre espera por escalas cada vez maiores, tanto das destruições quanto das ações dos seus heróis. Outro grande calcanhar de Aquiles dos filmes Marvel é o tom de seus filmes, e aqui "Doutor Estranho" ganha muitos pontos. O filme não é propriamente sombrio mas muito mais sério que seus companheiros. O humor está lá em cenas pontuais mas nada espalhafatoso e desnecessário com o simples intuito de arrancar gargalhadas, Os roteiristas estão lapidando cada vez mais suas histórias. Uma coisa que a Marvel claramente ainda não aprendeu é o desenvolvimento dos seus vilões, mais uma vez temos um personagem raso com motivações toscas que até mesmo é ironicamente ofuscado pelos personagens mais coadjuvantes da história, mais uma vez Loki mantém o posto de melhor vilão. Quando se põe na balança, ao final concluímos que esse é certamente um dos melhores filmes desse universo compartilhado, um filme que funciona bem tanto na introdução de novas ideias como na continuação de uma longa história. E por fim, podemos arriscar dizer que com esse filme, a Marvel acaba de encontrar o futuro substituto do protagonismo de Robert Downey Jr e seu Tony Stark nos próximos filmes da franquia "Vingadores".

Kéfera se esforça para convencer como atriz no desastroso "É Fada"


Irritada com o ensurdecedor barulho das vuvuzelas durante a Copa de 2010, uma adolescente de 17 anos posta no YouTube um vídeo para desabafar sobre. Na época, essa profissão chamada "youtuber" nem era algo tão forte como é hoje, e garota mal tinha ideia do barulho que iria fazer no decorrer dos anos. Hoje, Kéfera Buchmann é uma das maiores youtubers do Brasil.

O sucesso é contraditório. A atriz tem uma gama gigante de haters que até mesmo quem sequer se importa com sua existência não consegue entender tanto ódio. Na verdade, ela tem N motivos para ganhar tanta recepção negativa de alguns, de determinados vídeos postados à polêmicas que envolvem blackface. "É Fada", baseado no livro "Uma Fada Veio Me Visitar" de Thalita Rebouças, é mais um motivo que contribuirá para tal recepção.

O elenco de apoio está totalmente ofuscado. Até mesmo Klara Castanho, a protagonista, quase se perde ao lado de Kéfera tentando ganhar algum espaço, mas consegue ir tão bem quanto. Aliás, a moça até que se esforça para tirar toda aquela imagem de youtuber conquistada. Não é para menos, ela fez teatro e seu sonho sempre foi ser atriz. Ela manda relativamente bem, e os cameos trazidos por ela são um prato cheio para quem a acompanha. De uma fala que remete alguns vídeos à própria mãe, querida pelos fãs.

Os efeitos visuais, montagem e trilha sonora rendem uma mistura duvidosa. O uso de CGI para a criação de fumaça é supérfluo e o chroma key é um insulto aos olhos. A montagem é mais atropelada que o próprio roteiro. Por fim, a trilha entra em momentos errados e a escolha de músicas parece ter sido feita no aleatório do Spotify.

A trama é simples, ordinária e não procura em momento algum se aprofundar. Kéfera é Geraldina, uma fada que perdeu as asas após dar conselhos errados ao Felipão durante a Copa de 2014, e para recuperá-las ela deve cumprir uma missão. Tal feito consiste em ajudar Julia, uma adolescente de pais separados que acabou de entrar em uma nova escola. Geraldina interpreta errado a missão dada à ela, e é aí as "trapalhadas" começam.

Tudo para Geraldina se resume em bens superficiais e soluções grotescas. Para tudo correr bem no colégio, Julia tem que adaptar ao grupo da sala, não o contrário. É cabelo que passa por chapinha, amigos verdadeiros que são esquecidos, roupas que serão bem aceitas na sociedade e incentivo à pegar o namorado da amiga. Se todo esse mix — que é superficialmente justificado no longa — rendesse um bom plot final, com ela se libertando e sendo quem ela realmente quer ser, teríamos algo bem legal para entregar ao público infanto-juvenil. Porém ficamos com um rap esquecível que tenta se opor às soluções dadas por Geraldina. É frustante.

"É Fada" pode ser mais um elemento que contribuirá para a onda de ódio que Kéfera ganhou com a fama. Entretanto, o grande problema da produção não chega ser a youtuber — ela se esforça. São as soluções grotescas e problemáticas do roteiro que transformam "É Fada" em algo esquecível e desastroso. Não foi dessa vez, Kéfera.

A beleza é demoníaca em "Demônio de Neon", filme com Elle Fanning


Exibido no Festival de Cannes deste ano, "Demônio de Neon" ("The Neon Demon", 2016) deixou público e crítica em polvorosa. A expectativa já era grande por ser a mais nova empreitada de Nicolas Winding Refn, diretor dinamarquês do cult "Drive (2011) e "Só Deus Perdoa" (2013). Mas depois das vaias durante uma exibição prévia para a imprensa, a ansiedade pela exibição da produção aumentou ainda mais. Se criou então uma recepção extrema ao filme, alguns adoram enquanto outros odeiam. Mas também, os filmes de Refn não são do tipo de deixar o público em cima do muro.

Na história, Jesse (Elle Fanning) é uma aspirante à modelo que desembarca em uma Los Angeles que é um verdadeiro ninho de cobras. Em uma cidade na qual todo movimento e ação é calculado, a moça interiorana, órfã e de uma beleza angelical é tomada de surpresa por uma carreira que começa a deslanchar rapidamente. Não seria difícil de a personagem emplacar, afinal na indústria da beleza e da moda o que mais falta é alguém como a própria, que exala inocência e uma beleza natural, nada artificial e montada por inúmeras plásticas. Conforme a personagem avança sem malícia pelos trabalhos e editoriais que é convidada, Refn constrói sua trama como um suspense de lindas imagens e bem pensadas, refletindo muito dos conceitos gregos de belo: equilíbrio, simetria, harmonia e proporcionalidade. Essa beleza do exterior só confirma a forma deturpada que os personagens são constituídos em seu interior. 

A assepsia da direção de arte juntamente da fotografia é de reafirmar a ideia dos conceitos gregos difundidos nos inúmeros editoriais de moda que rodam por aí. Se o roteiro não possui diálogos memoráveis, sobra no impacto de estética de fashion film, que é muito bem ritmado pela trilha sonora de Clint Mansell, colaborador habitual de Refn. A cena em que a personagem de Fanning, em ótima e introspectiva performance, é pintada nua de um líquido viscoso cor de ouro poderia ser taxada de brega, mas aos poucos vai se contornando para se mostrar uma das mais sensuais da produção. A presença de Jena Malone (a Johanna, da série "Jogos Vorazes") ajuda a desenvolver e impor uma tensão que oscila entre o sexual e o sombrio. Tanto que é de sua personagem uma forte cena de necrofilia.

Aliás, é através da necrofilia e do canibalismo que Refn dá o tom de metáfora à superficialidade do meio fashion. O corpo morto e ainda belo, porém sem alma. A forma literal de se alimentar de um corpo para, quem sabe, assumir assim a “magia” e sucesso de alguém. E, se em alguns momentos essa metáfora cai no previsível ou até mesmo desande para o literal, o diretor a justifica exatamente na superficialidade e objetividade dos temas da trama. Caminhando entre fábula, suspense e gore, Refn apresenta um filme que na superfície parece bobo e exageradamente belo, mas que ao embarcamos em seus subtextos entendemos as suas críticas a um modelo ultrapassado de busca pela perfeição e juventude.

"Águas Rasas" se apoia em um roteiro que equilibra tensão e entretenimento


Quando lançou “Tubarão” no longínquo  ano de 1975, Steven Spielberg não estava apenas criando a categoria de filmes que futuramente seria conhecida como blockbuster, como também entregava a figura do que viria a ser um dos maiores antagonistas do homem nas telas de cinema: o tubarão.

O terror criado por esse gigante dos mares foi tão grande, que Spielberg teve que se lançar em campanhas de proteção ao tubarão branco, que começou a ser intensamente caçado após o lançamento do filme.  De lá pra cá, o medo pelo bichão não diminuiu, e inúmeras vezes ele foi retratado nas telas de cinema como o maior e mais perigoso predador existente para os seres humanos.

O ano de 2016 nos entregou duas grandes produções envolvendo tubarões. Em seu quarto filme da franquia, que chegou as telinhas em julho, “Sharknado 4: The 4th Awakens” os tubarões continuam a assolar os Estados Unidos em seus tornados gigantes cheios de terror e morte, e apenas Finn e sua família são capazes de enfrentar essas feras de forma destemida. (Adoro essa franquia gente, sério!)

Seguindo uma proposta bem mais séria, e bem mais aterrorizante que "Sharknado", “Águas Rasas” conta a história de uma surfista que se vê encalhada numa minúscula ilha de pedra após ser atacada por um gigantesco tubarão branco.

No filme, Blake Lively ("Café Society") vive Nancy, uma jovem surfista que vai a uma ilha secreta e paradisíaca curtir um dia de surf. Após ser atacada pelo tubarão, Nancy consegue encontrar refúgio em uma mini ilha de pedras a cerca de 200 metros da margem.

Tanto a sinopse, quanto os trailers de divulgação, trabalharam muito bem a questão do suspense, e a premissa que a principio pode parecer entediante, com uma protagonista sozinha por mais de uma hora de filme acaba se transformando em um show interessante de sobrevivência.

Tecnicamente falando, “Águas Rasas” é um filme visualmente incrível. O diretor soube aproveitar muito bem as magníficas locações do filme. O destaque certamente vai para as cenas abaixo do nível da água, que são surreais de tão belas. Não houve uma cena submersa que não tenha ficado incrível. A tristeza fica para uma série de cenas acima da água, com o que parece ter sido feito usando um CGI de baixíssimo orçamento.

Sozinha no filme, Blake Lively carrega a história bem. Não é uma atriz magnífica, mas possui um carisma que cativa, e com o auxílio de um bom trabalho de maquiagem, vê-se um claro sofrimento na jornada da personagem.

“Águas Rasas” possui um incrível saldo positivo. De um filme que poderia ter sido completamente entediante, o roteiro se transforma num ótimo entretenimento, sabendo aproveitar todas as armas disponíveis, sem apelar para clichês clássicos desse tipo de filme, que se banham em flashbacks e delírios felizes.

"Aquarius" nos mostra que podemos lutar pelo que é nosso


Após uma estrondosa campanha em festivais internacionais, angariando prêmios, elogios, e claro, muitas polêmicas, chega aos cinemas nacionais (obviamente em circuito limitado) o aguardado “Aquarius”, do diretor Kleber Mendonça Filho.

Logo no início, o burburinho geral foi causado devido ao protesto de todo o elenco no Festival de Cannes contra o impeachment. O elenco inundou o tapete vermelho do festival com cartazes com dizeres como “não há mais democracia no Brasil”, “o mundo não pode aceitar esse governo ilegítimo”, “houve um golpe de estado no Brasil”, entre outros.

Elenco de "Aquarius" protestando no Festival de Cannes. 

Dias antes de estrear no Brasil, outra polêmica aportou no horizonte, a classificação indicativa do filme foi elevada para 18 anos. Segundo o Ministério da Justiça, o filme continha uma “situação sexual complexa”.

Começou a surgir a alegação de retaliação da parte do Governo Temer contra o filme, devido sua relação com a situação política e manifestações contra o impeachment. Basicamente, ficou evidente que havia um ato de censura, já que um filme nacional com essa classificação afastaria boa parte da audiência.

Como forma de protesto, Anna Muylaert retirou “Mãe Só Há Uma” da lista de submissão dos filmes do Oscar, por não concordar com as diretrizes tomadas no processo de seleção dos candidatos. Foi tanto o barulho, que um dia antes da estréia a classificação foi baixada para 16 anos

Curiosamente, a história de “Aquarius” não nos entrega nenhuma referência política direta, mas a situação do filme é tão parecida com o que vivemos que é difícil não assimilar nenhuma analogia.

Vemos em “Aquarius” a vida de Clara, interpretada pela poderosa Sônia Braga em sua maior parte do tempo e pela talentosa Babara Colen no inicio do filme, retratando seu “eu” mais jovem. Duas atrizes que interpretam a mesma personagem com uma diferença de 30 anos, mas com uma sincronia perfeita. 

Aquarius é o nome do edifício em que Clara viveu toda sua vida. Foi ali aonde ela festejou, enfrentou um câncer, criou seus filhos e perdeu um marido. É em Aquarius que Clara reside, não é apenas seu lar, mas a representação física de sua história.

Entretanto, após anos vivendo no mesmo prédio, o avanço da cidade ameaça seu lar quando uma construtora planeja demolir o Aquarius e construir um novo condomínio residencial no mesmo local. Para concluir esse projeto, Diego, vivido por Humberto Carrão, precisa convencer Clara a vender seu apartamento.

Enquanto Clara resiste às investidas da construtora, uma guerra “passiva-agressiva” começa a ser travada dentro do prédio. Vemos Clara mostrar toda sua força e fraqueza em momentos tocantes e bem dirigidos do longa.

Enquanto o prólogo do filme é incrível e mostra na simplicidade das cenas o background da história de Clara, é no segundo ato em que a conhecemos melhor. No capítulo do filme intitulado “O Amor de Clara”, vemos Sônia Braga dar ares mais livres e leves para a personagem, num instante ela se mostra uma mãe frágil e em outro ela nos entrega uma verdadeira felina protetora. Já no capitulo final temos alguns confrontos entre Clara e Diego — aliás, tal personagem, foi até mesmo associado pelo diretor com a persona de Donald Trump.

É nesse ponto que vemos o maior e melhor discurso social do filme, quando Clara diz verdades a respeito dos egocêntricos de classe alta com frases como,  “você não tem caráter, aliás seu caráter é o dinheiro”. Propositalmente, Clara diz essas verdades de frente, como se olhando nos olhos da audiência no cinema, e percebemos que nesse momento a personagem está falando com aqueles sentados na sala assistindo ao filme, não com seu real ouvinte à sua frente.

“Aquarius” possui além de um roteiro excelente, e atuações impecáveis, uma qualidade técnica exemplar e inovadora para o nosso cinema. Indo de enquadramentos sufocantes até zooms exagerados, o diretor busca trabalhar de forma a transformar o filme em toda uma experiência.

Não podemos deixar passar a trilha sonora, que também é excelente e que, inclusive, já está disponível para ouvirmos no Spotify. A música, aliás, faz parte não só da vida da personagem como também é um elemento importante do filme, complementando a experiência visual.


Mas e a política? “Aquarius” não é um filme politico. Não há debate sobre partido, sobre direita ou esquerda. Mas o que temos é uma fábula moderna da nossa situação brasileira.

O Edifício Aquarius no filme é quase um ser vivo. Um personagem extra, com personalidade e que Clara luta para impedir que seja tomado. Clara resiste à ocupação com unhas e dentes, luta contra aqueles que querem tomar ilegitimamente seu lar. Ela se mostra frágil, quando na verdade possui uma voz poderosa.

Apesar da sessão se encerrar ao som de aplausos e gritos de “Fora Temer”, a mensagem que fica no final não é política, é de resistência. Da batalha do dia-a-dia que pode não ser ganha, mas que nunca podemos deixar de travá-la. O apego ao nostálgico é latente na história.

“Aquarius” nos mostra que podemos lutar pelo que é nosso, se apegar ao passado sem necessariamente repelir o futuro. Com tantas boas qualidades, aguardamos com o coração na mão que esse seja o aguardado filme que irá representar o Brasil nas indicações ao Oscar 2017.

Nem Jacob Tremblay consegue salvar o fraco "O Sono da Morte"


Hoje o maior ator de cinema que você respeita, Jacob Tremblay, antes de "O Quarto de Jack" era apenas mais um garotinho fofo que estava tentando sua vez na Sétima Arte. Poucos conheciam o trabalho do ator e as produções que participava não contribuía para seu talento. "Os Smurfs 2" deve ser seu trabalho de "maior renome" pré-"Room", mas isto mudou. Diversos projetos foram despontados — como "Extraordinário" e "The Book of Henry" — e até antigos viram a luz do dia. "O Sono da Morte" esteve engavetado por um tempo e seu lançamento nos deixa com vontade de coloca-lo de volta na gaveta e trancá-lo com sete chaves.

"O Sono da Morte" traz um casal, Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane), que após perder um filho, resolvem seguir em frente adotando uma criança, e é Cody (Jacob Tremblay) quem acaba sendo acolhido pela família. Entretanto, o garoto tem um dom: seus sonhos se tornam realidade. Ao início, seu "poder" é apresentado como uma benção, mas se torna uma maldição quando ele tem pesadelos, com uma entidade perseguindo não só ele como todas as pessoas a sua volta.



O longa-metragem de Mike Flanagan ("O Espelho") está longe de ganhar o título de Pior Lançamento de 2016 por uma coisa ou outra que gera pontos positivos para a produção, mas a trama é tão rasa que terminamos o play nos perguntando se o filme era só aquilo que o diretor e o roteirista se propuseram a mostrar. É decepcionante!

A computação gráfica é algo de se relevar. Quando os longa-metragens de terror resolvem se apropriar desta tecnologia, o resultado é muitas vezes tenebroso — um beijo, "Invocação do Mal 2". Claro, tais produções têm seu orçamento curtíssimo, o que acaba resultando em um ataque aos olhos, porém "O Sono da Morte" mostra que dá para entregar um visual gráfico bem interessante com pouco dinheiro. Não iremos mentir dizendo que em algum momento ou outro nos sentimos incomodados pelo CGI, mas nada que nos fizesse sair da sala de cinema.

É indiscutível a atuação de Jacob Tremblay. Não é tão fantástica quanto aquilo que vimos em "O Quarto de Jack", mas é absurdo o quanto ele consegue fazer com seu personagem se aproxime do público em questão de minutos. Talvez a admiração pelo ator tenha contribuído para a rápida aceitação que temos de seu personagem, mas é bizarro, por exemplo, ver que o garotinho consegue sair melhor que o elenco adulto.

Como dito no começo deste texto, os sonhos de Cody se tornam realidade e por estarmos tão bem acostumados com justificativas horríveis seja para qualquer plot, é de se ficar surpreso pela leveza que é dada aqui ao explicarem o porquê de tais sonhos ganharem vida. É tão leve que desconstrói o filme por completo. Além da produção não conseguir manter um bom equilibro entre terror e suspense, por este motivo, não consegue ser nenhum dos dois no fim das contas. É um drama fantasioso com poucos elementos do terror e suspense.

Por mais que "O Sono da Morte" traga uma premissa diferente e execução aceitável, é simples demais sua resolução e a exploração de uma trama em potencial fica apenas prometida nos trailers. Por outro lado, Jacob Tremblay prova mais uma vez o grande pequeno ator que é. Uma pena que ele não consegue sustentar o filme sozinho.

"Quando As Luzes Se Apagam" é banhado em sustos gratuitos, mas traz um roteiro competente


Em 2013 estávamos inflados com o famigerado found-footage no terror, sub-gênero que utiliza "imagens encontradas" para a criação de um longa-metragem, baseados em fatos (ir)reais, e gritávamos desesperadamente por algo novo. "Invocação Do Mal", lançado naquele, não foi suficiente. Até que surge na internet um curta genialmente simples.

Os tímidos dois minutos de “Lights Out” conseguem criar uma tensão pouco vista no terror. Uma entidade persegue uma mulher no escuro, sumindo quando as luzes são acessas e retornando quando apagadas. Acompanhamos todo o desespero envolta da personagem em querer manter as luzes acessas, infelizmente, sem muito sucesso.



O curta foi tão estrondoso que garantiu sua versão em longa-metragem, "Quando As Luzes Se Apagam", com produção do mozão James Wan e distribuição da Warner Bros, mantendo em partes a mitologia já apresentada, mudando detalhes minúsculos (e necessários) para estabelecer a entidade, dando uma excelente justificativa, diga-se de passagem, para suas aparições, ganhando até mesmo uma boa origem. A reviravolta do ato final não é surpreendente, mas não deixa de ser interessante para a trama como um todo. Ponto para o roteiro de Eric Heisserer.

Algo bem legal de ressaltar, é que “Quando Luzes Se Apagam” foge do ordinário e traz personagens absurdamente espertos e inteligentes. Eles não levam quase todos os três atos para entender como a entidade se manifesta. É tudo bem rápido — corrido até — para os protagonistas assimilarem tudo que está acontecendo e buscarem uma maneira de se defender. Parece bobo relevar esse ponto, mas se pegarmos no leque atual, isto tem se tornado uma tendência no gênero. Então podemos dizer que o longa-metragem de David F. Sandberg só contribui para o fim dos “personagens burros”.

Por falar no diretor, ao mesmo tempo em que não conseguimos enxergar sua assinatura, vemos que ele não deixou James Wan tomar conta do filme todo. É uma direção bem competente, com uma produção tímida se formos relevar quem cuida dela. O único toque perceptível de Wan aqui é no visual do ser monstruoso, bem similar ao de “Invocação do Mal”, mas nada que incomode quem assiste.

O jump scare é presença garantida, infelizmente. Vai desde aquele estrondo aleatório da trilha sonora ao corte mais aleatório ainda. A tentativa de criar uma tensão é quase grotesca, com pouco sucesso. O atrativo do curta-metragem acaba se tornando uma piada quando levado ao longa.

O filme não salvou o terror, mas é aquele algo novo que tanto pedíamos. Os sustos são irrelevantes como falamos agora pouco, porém o roteiro é um dos poucos bem trabalhados no gênero (no meio dos blockbusters) nos últimos anos — ele te prende. Talvez se James Wan tivesse dado maiores pitacos na produção, o resultado seria outro e o longa poderia ter se tornado o assunto do momento como seu curta.

“Esquadrão Suicida” vale o hype e nos deixa com vontade de vê-lo outra vez

A superexposição de “Esquadrão Suicida” já denunciava o voto de confiança dado pela Warner para o novo longa, que rendeu teasers, trailers, pôsteres, videoclipes e mais um pouco, e com a estreia marcada para a próxima quinta-feira (04), o filme será recebido em meio às críticas negativas dos que assistiram sua pré-estreia, mas nós também estivemos entre os primeiros brasileiros a conferí-lo e viemos para te aliviar: toda a produção é digna do seu hype SIM.

Antes de qualquer coisa, “Esquadrão Suicida” é um filme que foge à regra, em todos os sentidos. Mais colorido e divertido do que as últimas produções da Warner com o universo DC, o longa chega disposto a te conquistar por uma fórmula infalivelmente pop, costurada por uma trama estrelada por supervilões que, no fundo, também têm o seu lado bom – e te fazem gostar muito deles por conta disso.


Na história, Amanda Waller (Viola Davis) quer emplacar um ambicioso projeto, no qual confia a segurança do país nas mãos dos piores vilões de todos os tempos, mas quando tem essa oportunidade, se mostra mais sangue frio e malvada do que qualquer um dos figurões desse puta elenco. Você pode ficar surpreso em ler “puta elenco”, mas é de se impressionar a maneira como o filme conseguiu torná-los grandes, ainda que seja uma escalação de segunda linha, com personagens pouco conhecidos pelo grande público.

Os grandes momentos de “Esquadrão” ficam nas mãos da Arlequina de Margot Robbie, além da chefona Waller, interpretada pela ainda mais foda Viola, e tê-las como os destaques do filme, sem muito esforço, é um dos seus passos fora do convencional, visto que o cinema ainda vive essa virada na qual as mulheres deixam os papeis de vítimas para serem as heroínas e, se tratando do meio dos HQs, esse possa ser um movimento bem arriscado.


Arlequina, inclusive, vai contra a insatisfação dos que questionavam a sexualização da sua personagem, uma vez que, ainda que seja apresentada de uma maneira sexy, traz outros atributos que são reforçados ao longo do filme, como a sua loucura, submissão doentia pelo sofrível Coringa do Jared Leto e, o que se torna um fator crucial para toda a trama, a sua sagacidade. Já Viola Davis, nos deixa num misto de surpresa e admiração, fazendo da sua Amanda uma personagem que tinha tudo pra morrer na praia, como as esquecíveis aparições do Nick Fury (Samuel L. Jackson) nas aventuras da Marvel, mas cresce a cada cena e, como dissemos, se mostra pior que os piores vilões do seu álbum de figurinhas.

A narrativa de “Esquadrão Suicida” é certeira em acompanhar a agilidade do longa como um todo, fazendo uso muito inteligente da sua trilha sonora para construir a personalidade de seus vilões.


Bastante criticada pelas primeiras resenhas do filme, a narrativa de “Esquadrão Suicida” é certeira em acompanhar a agilidade do longa como um todo, não se prendendo aos dramas paralelos de seus personagens – e quantos dramas, hein! – e fazendo uso muito inteligente da sua trilha sonora para construir a personalidade de cada um deles. Algumas das nossas partes favoritas são quando tocam “You Don’t Own Me”, da novata Grace, dando um ar cabaré à prisão de Arlequina, e “Black Skinhead”, do Kanye West, para um momento em que o Pistoleiro (Will Smith) se descobre com o poder em mãos outra vez.


O Pistoleiro de Will Smith é outro ponto alto do filme. Em meio às fortes personalidades femininas, ele se mostra a pessoa certa para entrar no jogo de todos e, ainda assim, ditar quais serão as regras. Diríamos que, neste papel, ele pegou muito emprestado do seu “Hancock”, sendo também um dos personagens mais emocionalmente explorados – e mais bonzinho do que o número de cabeças explodidas por ele durante o filme sugere.



Todos os outros personagens servem de pano de fundo para momentos maiores e, pelo incrível que pareça, isso inclui o Coringa de Jared Leto. Há rumores de que o filme sofreu refilmagens pra ganhar uma linguagem mais leve e, nesse processo, perdeu muitas cenas, e acreditamos que estavam nelas as melhores cartas desse papel, que passa longe da grandiosidade dos seus anteriores, bem como termina como um mero auxiliar para contarem a história de Arlequina. Não foi isso que os materiais promocionais nos mostravam, nem mesmo o que o próprio Jared Leto alardeava em suas entrevistas.

Eles não só nos entregaram o prometido, como fizeram desse um dos filmes de super-heróis mais interessantes do ano.


Se a preocupação em torno da estreia de “Esquadrão Suicida” era da Warner não conseguir sustentar o hype criado pela própria, pode respirar aliviado: eles não só nos entregaram o prometido, como fizeram desse um dos filmes de super-heróis (na medida do possível) mais interessantes do ano. Não dá pra negar que, vez ou outra, o longa desliza em seu roteiro, bem como deixa de aproveitar o potencial de alguns papeis (a vilã da Cara Delevingne é menos interessante que o squad da Taylor Swift), mas temos a ação, aquela virada de enredo, os grandes personagens, a diversão e, sim, alguns clichês também, e embora não sejam nada que o tornem memorável, resultam numa produção que nos entretém do início ao fim. E nos deixa com vontade de vê-la outra vez.

“Esquadrão Suicida” é a prova de que a Warner está escutando os fãs da DC e aprendendo com seus erros, podendo significar uma importante mudança na abordagem à esse universo, que deverá ser refletida nos longas que estão por vir. Mal podemos esperar por isso.

Crítica: Qual é a do filme “Mãe Só Há Uma” e por que você deveria vê-lo?

Se em “Que Horas Ela Volta?” Anna Muylaert já havia surpreendido nos entregando um filme delicado, sensível e até mesmo polêmico, não podíamos esperar menos do seu seguinte trabalho, o tão aguardado, “Mãe Só Há Uma”.

O longa entrou em cartaz na última quinta (21/07) e apesar de chegar em circuito limitado, a tendência é que a distribuição vá crescendo com o passar das semanas. O sucesso gerado ano passado pelo filme anterior, e as excelentes críticas recebidas nos festivais internacionais, podem auxiliar nessa expansão.

O filme conta a história de um jovem que, aos 17 anos descobre ter sido roubado na maternidade e enquanto sua mãe passa pelo processo de prisão, ele se vê no início de uma relação com sua família biológica, membros da classe média alta, enquanto começa uma transição para sua verdadeira identidade.

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Alguém dê um prêmio de “Olhar Materno do Ano” para essa mulher.

O elenco do filme é maravilhoso, e temos Matheus Nachtergale e Dani Nefussi nos papéis dos pais biológicos do garoto, aliás, aqui temos uma sacada genial da diretora ao escolher a mesma atriz para realizar o papel tanto da mãe raptora, quanto da mãe biológica de Pierre. Por fim, o estreante Naomi Nero, que nos entrega uma atuação introspectiva e sincera do seu personagem. Naomi, apesar de protagonista, fala pouco, ele atua com olhares e movimentações e ainda assim consegue retratar muito bem seu personagem.

Aliás, quando pensamos no personagem de Pierre, é impossível não lembrar de Jéssica, outra maravilhosa personagem criada por Anna Muylaert. Ambos os personagens são jovens, colocados em situações de conflito envolvendo suas mães e uma classe social diferente da sua. Mas as semelhanças acabam aí, enquanto Jéssica diz na nossa cara tudo que pensa sobre qualquer coisa, não mede palavras e não se sente inferior à família dos patrões de sua mãe, Pierre já é muito mais quieto, calado e tímido, tanto que em várias situações as pessoas respondem por ele, ou ele acaba fazendo o que lhe pedem apenas para evitar conflito (ou porque ele simplesmente não se importa).

Engana-se quem pensa que devido à sua personalidade Pierre seja fraco, muito pelo contrário, ele enfrenta sua nova família de cabeça erguida quando o assunto se trata da sua identidade sexual.

“E tão dificil aceitar quem eu sou?” Pierre grita, quando tanto ele, quanto nós da audiência, já estamos explodindo de estresse por dentro, diante de tantas situações constrangedoras. 

GAROTO QUE GOSTA DE GAROTOS E BEIJA GAROTAS

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Pierre sendo quem ele quer ser logo nos primeiros cinco minutos de filme. 

Logo no início, já fica claro que Pierre não segue os padrões da “família tradicional brasileira”. Visual meio andrógeno. De lápis preto nos olhos, unhas pintadas, o personagem é introduzido com uma cena em que durante uma festa, dança sensualmente com outro rapaz , mas logo na sequência acaba tendo relações com uma garota. 

Conforme a história vai crescendo, e os conflitos familiares vão intensificando a personalidade de Pierre vai se desenvolvendo. As longas cenas em frente ao espelho, enquanto experimenta batons, e abusa de selfies e nudes (para o próprio prazer), é uma busca para encontrar seu verdadeiro eu em seu próprio reflexo. 

A diretora, que inseriu o enredo de identidade de gênero após já ter um roteiro evoluído, conta que a escolha do ator para interpretar Pierre, foi por ter visto em Naomi, não só uma sincera timidez mas também uma personalidade potente. Algo que vemos claramente durante a uma hora e meia de filme. O fato de Naomi ter uma irmã transgênero o ajudou bastante na construção do personagem.

O DISCURSO OUSADO DO FILME, E SUAS CONCLUSÕES

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Uma familia tradicional.

“Mãe Só Há Uma” é um daqueles filmes que não tem medo de afrontar. Temos uma história de conflitos familiares, uma discussão de classes sociais e por fim, uma tratativa sobre a questão de identidade de gênero. 

Seguindo o tema principal sobre o conflito familiar, o jovem desajustado proveniente de uma classe social baixa é visto no meio das regras do tradicionalismo da classe média. Aliás, a própria diretora já afirmou em entrevistas que os brasileiros de classes mais ricas tendem a ser conservadores e abusivos de seus privilégios, vide a cena da tentativa de fuga do condomínio fechado. 

O pai quer molda-lo da forma que deseja, e a mãe só pensa em mantê-lo sempre junto a si. Assim, Pierre vira um objeto na mão de seus pais biológicos, que sentem a necessidade de exibi-lo à todos como uma nova obra de arte adquirida. Entretanto, é impossível não se condoer com as caras e expressões extremamente apaixonadas feitas por Dani Nefussi, a admiração de uma mãe.

Anna Muylaert, trabalha bem também a questão da identidade de gênero do protagonista. Por vezes, a audiência que desconhece do assunto, pode ser levada à confusão diante das exibições da sexualidade do garoto. 

Esse ponto é importantíssimo no filme, pois deixa claro que quando se trata de identidade de gênero e afinidade sexual, as pessoas devem ser o que desejam. Sem restrições ou delimitações, qualquer um pode ser um garoto de vestido, que se sente mulher, mas beija outras garotas. 



Terminado o filme, sentimos que foi tudo curto de mais. A história poderia ser levada por mais algumas horas sem problemas, e assim as questões discutidas poderiam ser mais exploradas. Cruelmente sábio, o filme termina em um ponto que deixa mais pontos de interrogação do que respostas, e nos leva à discussões de horas após o filme. É o anticlimax perfeito. 

***

Mãe Só Há Uma” estreou na última quinta, 21, e está rodando pelos cinemas do Brasil. A página do Facebook do filme contém a relação de cinemas em que o filme está sendo exibido.


Pare o que você estiver fazendo e vá ao cinema assistir "Mogli - O Menino Lobo"



O novo live action da Disney, "Mogli- O Menino Lobo", está entre nós desde a última quinta (14) e já provou ser um dos melhores realizados pelo estúdio até agora. Dirigido por Jon Favreau (de "Chef" e "Homem de Ferro"), o filme tem um grande elenco de vozes famosas tanto na versão legendada (Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Lupita Nyong'o, Scarlett Johansson e outros) quanto na dublada (Marcos Palmeira, Dan Stulbach, Julia Lemmertz, Tiago Abravanel, Alinne Moraes e Thiago Lacerda), além de introduzir o fofíssimo Neel Sethi no papel de Mogli. O It Pop! conferiu o filme e garante: existem bons motivos para assistir a nova versão de "The Jungle Book", e a gente te conta os principais!

O motivo mais óbvio (ao menos para a gente) é o visual lindíssimo. Dá para pensar "nossa, quero visitar essa floresta! Onde ficam as locações?", até descobrir que todas as cenas foram gravadas em estúdios de Los Angeles, e os cenários e personagens produzidos inteiramente em computação gráfica. O primeiro live da Disney no estilo foi "Alice no País das Maravilhas" (2010), e os efeitos de "Mogli" tem uma aproximação forte com os de "As Aventuras de Pi" (2012) e "Avatar" (2009). Vale a pena gastar um pouquinho mais no ingresso para ver em 3D!

Confira os bastidores de "Mogli - O Menino Lobo" 

Outra razão super legal é a adaptação que o roteirista e o diretor realizaram do filme clássico de animação, lançado pela Disney em 1967, e do livro original, escrito por Rudyard Kipling e publicado em 1984. Todas as principais cenas estão lá, com diálogos praticamente iguais e as músicas que a gente já conhece (e que chegam cheias de sutileza e naturalidade às cenas). Ao mesmo tempo, a trama traz coisas novas, explorando mais o universo do filme e trazendo uma aventura que não torna a narrativa chata. 

O último ponto (e talvez o mais interessante) que vamos levantar é a discussão social e política que se constrói nas entrelinhas da história. Ela já até existia na outra versão do estúdio, mas as coisas mudaram bastante nos últimos tempos, né? Vamos explicar: Mogli é um "filhote" diferente de todos daquele meio e, apesar de ser criado por lobos, não se identifica com eles. Sabendo que ele é humano, os outros animais têm medo de que ele se torne perigoso, visto que nossa espécie domina o fogo ("flor vermelha", no filme). Todo esse preconceito é evidenciado pelo tigre Shere Khan, que faz questão de impor medo no ambiente e deixar claro que o garoto não é capaz de pertencer à uma família que não é tradicional (no caso, da mesma espécie).

O controlador tigre Shere Khan é o vilão da trama 

Dito isso, a fábula mostra questões de aceitação às diferenças, explorando também temas de amizade, lealdade e democracia. A verdadeira definição de "família" fica clara nos últimos minutos, com um final que difere da animação e traz para as telonas alguns valores da geração moderna (não podemos contar o que acontece, seria spoiler!). 

Com o sucesso e boa aceitação da crítica de "Mogli - O Menino Lobo", a Disney já iniciou as negociações para uma sequência, trazendo de volta o diretor, o roteirista e Neel Sethi. Estamos animados! E você, já viu o filme? Confira o trailer abaixo:

Movie Review: o que nós achamos de ‘Minions’, animação divertidíssima, mas com roteiro fraco, da Universal


Os Minions foram um dos maiores fenômenos das telonas desde sua aparição em “Meu Malvado Favorito”, no qual são os proativos ajudantes do vilão enrustidamente fofo Gru, mas depois de ganhar tantos produtos próprios, além de inundar a internet com memes, GIFs, entre outras coisas, era só uma questão de tempo até que estudassem lançar algo só com essas criaturinhas amarelas.

+ No Poki, o que não faltam são jogos inspirados nos Minions, confira!

O momento chegou e, em vez de um curta, dedicaram todo um longa para os bichinhos, indo desde o começo da história do homem, já com a presença deles na Terra, ao episódio em que se encontraram pela primeira vez com Gru, com quem permaneceram até então.

Não dá pra negar que as animações ganharam um *booom* e tanto nos últimos anos e o que não faltam são produções para citarmos, de “Toy Story” e “Bolt, O Supercão” ao recente “Divertida Mente”, mas o principal trunfo delas é na mistura de uma estética aparentemente infantil, devido aos personagens fofos e fantasiosos, com dilemas e dramas da vida adulta (obviamente, adaptados para uma linguagem própria para crianças e adultos) e é aqui que os Minions perdem alguns pontos.

Numa síntese, a história de “Minions” nos mostra as aventuras das criaturinhas amarelas, que percorrem pelo mundo e história em busca de um vilão para servir, só que eles são todos desajeitados, então terminam mais atrapalhando seus mestres do que ajudando-os mesmo, e depois de encontrarem um lugar aonde não atrapalham ninguém, eles começam a sentir falta de um chefe e partem para Nova York, aonde haverá uma espécie de “feira dos vilões”, com vários mestres em potencial, hahaha, e caem de amores por uma das estrelas do evento, Scarlet Overkill, que se torna então o mais novo alvo de todo seu prazer em servir.

Olhando assim, tudo parece bem animador, mas sabe quando dá aquela sensação de que faltou algo? Não tem como não se encantar com os protagonistas, Bob, Stuart e Kevin, que nos arrancam risadas do início ao fim, seja com suas reações inesperadas ou com feitos realmente hilários, mas todo o resto do filme parece muito vago, explorando de maneira bastante rasa até o perfil da vilã Scarlet, no Brasil dublada pela Adriana Esteves (a Carminha de “Avenida Brasil”).

A ausência de momentos chaves também é um problema, em tempo que os ápices do filme ficam então para os segundos iniciais, que são exatamente os do primeiro trailer revelado, e a inexplicável reviravolta no final, qual não vamos contar, mas adianta a razão de como “Meu Malvado Favorito” começou. Um ponto a favor de toda a história é a riqueza em detalhes quando a missão é fazer referência aos anos 60, da trilha sonora aos elementos visuais, até colocando os bichinhos em meio à uma passeata hippie. Sensacional mesmo!

Em suma, a gente não faz parte daquele grupo que odeia e mataria os Minions (sério, tem quem não suporte essas coisinhas fofas amarelas!), os adoramos e rimos bastante com todos, mas saímos do cinema com aquela impressão de que dava pra ser melhor ou, na mais inteligente das hipóteses, que deixassem pra explorar um pouco mais da história deles em um curta, o que seria menos vago e cansativo, ou então lançassem uma versão dark-obscura-conspiratória com aquele lance deles serem nazistas. Não, a última parte é completamente zoeira.

Movie Review: sem proporções épicas, 'Homem-Formiga' é simples (até demais), mas diverte


Por mais que "O Incrível Hulk" seja o primeiro na ordem cronológica do Universo Cinematográfico Marvel - sim, ele entra -, foi "Homem de Ferro" quem deu gás a tudo isso e, para a época, foi considerado arriscado já que o herói-título era categoria B. Mesmo que firme no mercado, "Guardiões da Galáxia" também foi outro projeto perigoso para a Marvel, porém não tão quanto o longa de Tony Stark. Por fim, o estúdio corre atrás de algo novo com "Homem-Formiga", batendo na mesma fórmula que se repete há um bom tempo - que precisa ser reinventada, mas isso é assunto para outro post -, porém funciona.

Em "Homem-Formiga", a primeira versão do herói é tratada como uma lenda, e suas relações com a S.H.I.E.L.D. existem, abrindo a possibilidade dele estar relacionado, de alguma maneira, aos Vingadores, já que ele, originalmente e nos quadrinhos, é um dos fundadores do time. A lenda é Hank (Michael Douglas), criador das partículas Pym, e consciente do perigo de tal tecnologia de encolhimento, resolve escondê-la. Entretanto, quando Daren Cross (Corey Stoll) - um de seus pupilos e futuro Jaqueta Amarela - está prestes a chegar perto desta, o cientista se vê obrigado a impedir isto. É aí que Scott Lang (Paul Rudd) entra no jogo, recebendo sua segunda chance de fazer o bem - o personagem era um criminoso, sutilmente retratado como um Robin Rodd no filme.

Com Scott Lang prestes a assumir o traje, nasce então uma relação entre mentor e aprendiz. Mas, ela nem chega perto da relação pai-filha, abortada por dois lados diferentes, mas semelhantes. Hank, assim como Scott, tem problemas com a sua filha (Evengeline Lily). A relação entre os dois não é uma das melhores desde que sua esposa morreu, e ambos vivem jogando indiretas para si, formando uma verdadeira teia de intrigas. Com Lang, entretanto, o problema é outro. Por ter sido preso, o rapaz perde o contato com a filha e, após ter sido libertado, tenta se reaproximar, mas falha. Mas por que são semelhantes? Ambos os pais buscam se redimir com suas filhas. A abordagem desse "Casos de Família" é um dos pontos mais altos do longa-metragem, diga-se de passagem.

O humor, mais uma vez, é bem dosado, nada exagerado como o primeiro "Vingadores", e sim natural como o longa com Chris Pratt. Mesmo que, às vezes, o alívio cômico entre em momentos errados, ele funciona bem. Comparando com os trailers, houve até algumas piadas cortadas, e a estratégia foi inteligente. Por exemplo, num intervalo de 40 minutos teríamos duas piadinhas com o nome do herói, mas uma delas acabou ficando de fora, mesmo que a outra seja melhor que a permanente.

Algo já esperado, o longa brinca bastante com a ideia de perspectiva/ponto de vista. Em momentos, quando Scott Lang está minúsculo, temos a sua visão das coisas, com todos os objetos em escalas gigantescas. Em outras, temos uma perspectiva mais ampla, em que vemos que o personagem é insignificante perto dos objetos, assim como os acontecimentos que o envolvem. Engraçado que em apenas duas cenas isso é usado como alívio cômico - uma delas é até mostrada nos trailers de divulgação.

Cena que aliás faz parte da batalha final, e olha só, não temos proporções épicas ou até mesmo globais, destruindo uma ou diversas cidades, como nos últimos filmes do estúdio. Tudo é simples. Tal batalha acontece em um quarto. Sim! É claro, o fato de ambos os personagens (Homem-Formiga e Jaqueta Amarela), serem capazes de mudar drasticamente suas estruturas - contraindo e retraindo seus átomos -, torna tudo dinâmico, levando a luta para vários cenários, mesmo que pertencentes ao mesmo local. Porém, por trás disso, temos a ideia de "salvar o mundo" sussurrando em nossos ouvidos, dramatizando um pouco o combate. Um pequeno erro, mas que pode ser engolido facilmente já que a simplicidade ganha espaço.



ENFIM, a produção caótica - houveram trocas de diretor e roteiristas pra caramba - de "Homem-Formiga", mesmo com a fórmula pronta (enredo simples + piadas + ação) que se repete pela 367° vez, cumpre o seu papel. Ele entretém e é um ótimo filme pipoca - talvez um dos melhores do ano, tá? O melhor, ainda que implícita à outra ideia, é o fato do longa ser totalmente despreocupado em trazer uma batalha global e, por fim, vir com algo super simples - o espectador nem acredita que tudo se resolve num papapum. Um ótimo começo para a Fase 3 da Marvel nos cinemas.

Movie Review: 'Renascida do Inferno' reaproveita diversas ideias mas erra na execução

Há tempos reclamamos aqui no blog sobre o quão decepcionante os filmes de terror têm sido e o quão despreocupados os produtores, diretores e roteiristas demonstram estar, não buscando inovar. A grande preocupação de hoje é trazer nomes conhecidos e, as vezes, realmente relevantes, que tenha conseguido algum grande feito no passado, ou tenha reinventando uma antiga fórmula recentemente. "Renascida do Inferno" carrega nomes de peso, seja no elenco ou na produção, mas seria isso necessário para um grande filme de terror?

Em "Renascida do Inferno", um grupo de médicos - liderado pela Doutora Zoe (Olivia Wide pós-"House" rs) - busca uma maneira de trazer os mortos de volta à vida, através do soro Lázaro. Porém, ao "brincarem de deuses", nada ocorre como esperado. Começando pelo cachorro que eles trazem de volta à vida, que apresenta um comportamento estranho. Tudo chega ao extremo quando acontece um acidente durante um dos testes e Zoe morre, fazendo com que seu amante (Mark Duplass) traga ela de volta com auxílio do soro. Entretanto, nossa protagonista passa a ser a grande antagonista daqui.

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