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Throwback Review | Mesmo com inúmeros problemas, "O Chamado 2" consegue ser um bom filme

Mesmo com o sucesso de "O Chamado", um sequência chegou aos cinemas somente três anos depois. Público e crítica adoraram o primeiro filme, com a nova produção não poderia ser diferente, mas foi. A bilheteria teve uma arrecadação inferior, o público e a crítica especializada fazem de conta que esta sequência nem existe. Nosso palpite, é que até mesmo "O Chamado 3" não considere o segundo, mas isto é assunto para outro post.

Throwback Review | "O Chamado" é o maior remake que você respeita e morre de medo

Infelizmente, "O Chamado 2" não é um remake de "Ringu 2", porém segue a mesma linha, ou quase isso. "Ringu 2" cria uma nova história, ignorando por completo o segundo livro de Koji Suzuki. "O Chamado 2" ignora ambos e pega um dos temas mais enlatados de Hollywood: possessão. Hideo Nakata, de "Ringu", é quem comanda a direção. Naomi Watts e David Dorfman retornam para os seus respectivos papéis.


O único e grande problema de "O Chamado 2" é o roteiro. Ehren Kruger, que também roteirizou "O Chamado", não sabe aproveitar as pontas soltas deixadas para trás. O primeiro longa termina sugerindo que a fita se espalharia como um vírus e, de fato, começamos com algo similar na sequência, porém de um modo bem preguiçoso, resumido em uma única fala. Entretanto, é válido ressaltar que a produção é acompanhada de um curta chamado "Rings", que serve de base para "O Chamado 3" e que ajuda a esclarecer dois pontos.

O primeiro deles é o fato de que a fita se espalhou por todo o mundo. No curta, acompanhamos um grupo de amigos que tem um sistema para que ninguém morra após ver o vídeo. Porém, mais tarde, descobrimos que o sistema é maior, com direito a site, no qual o objetivo é registrar os 7 dias, buscando capturar imagens da Samara. No mais, o curta mostra que a Samara se manifesta de modos diferentes para cada pessoa. Enquanto o segundo ponto esclarece que a maior contorcionista que você respeita já estava atrás de Rachel há muito tempo.

Como falamos, "O Chamado 2" é um filme de possessão, e apesar do roteiro de Kruger não ser tão efetivo nos pontos anteriores, ele consegue justificar Samara voltando atrás de Rachel e Aidan. Samara se apegou a Rachel, da maneira mais bizarra, claro. Ela não volta por vingança, e sim por enxergar Rachel como a figura de uma mãe que nunca teve, uma mãe que se preocupa. O único modo de conseguir esta mãe tão desejada seria possuindo o corpo de Aidan. É bizarramente fofo. Pontinho pro roteiro.


Novamente, Samara é humanizada. Os flashbacks do primeiro filme surgem com o objetivo de transformar Samara em uma vítima, e conseguem com firmeza transmitir este ponto. Entretanto, para Kruger e Nakata isto parece não ter sido suficiente, ao ponto de cavucar ainda mais o passado da demoniazinha.

Finalmente conhecemos sua mãe biológica, e ela não serve para coisa alguma. Tudo bem, ela surge para justificar Samara e seus poderes, mas tudo é explicado de maneira tão superficial que seria melhor deixar o mistério no ar. Até mesmo para esclarecer que os mortos não dormem soa desnecessário. Aidan bate o martelo neste ponto desde o primeiro filme.

Se o terror em seu antecessor só surge no último ato, neste ele é quase inexistente. Porém diferente do primeiro, aqui isto se torna um problema. As cenas que gritam por um terror são muitas, mas não funcionam. O espectador tem empatia suficiente para não sentir medo de Samara mais. O espectador agora está sedento por querer saber o motivo pelo qual Samara retornou para os Keller, algo que traz um excelente suspense.

Mesmo com inúmeros problemas de roteiro, "O Chamado 2" é uma boa pedida para aqueles que querem um gostinho adicional de Samara em sua vida. É interessante o modo como a demoniazinha se relaciona com Rachel Keller, e a forma como ela a enxerga como mãe é bizarramente boa. Se você busca se aprofundar mais na mitologia, esqueça "O Chamado 2". Entretanto se procura um bom suspense com a dona de um cabelo de mais de 6 mil reais, se joga.

Throwback Review | "O Chamado" é o maior remake que você respeita e morre de medo

Koji Suzuki lançou em 1991 o livro que mais tarde contribuiria para um marco não só para o terror japonês, como também para cinema mundial. "Ringu" foi adaptado para outra mídia pela primeira vez em 1998, através de um filme que se banha de um terror psicológico fudido e traz uma das cenas mais icônicas do cinema. Mais tarde, em 2002, a obra é readaptada aos moldes de Hollywood, popularizando Samara, a maior entidade do mal que nós respeitamos.

Throwback Review | Mesmo com inúmeros problemas, "O Chamado 2" consegue ser um bom filme

A nova produção é comandada por Gore Verbinski, de "A Cura" (2017), que com auxílio do roteiro de Ehren Kruger, consegue transformar o terror psicológico em uma pegada mais investigativa, e assim como o original, só traz o terrozão que tanto amamos no último ato. A anglo-australiana Naomi Watts é quem lidera o elenco ao lado do esquecidíssmo David Dorfman. 

Rachel Keller (Watts) é uma jornalista que após a misteriosa morte de sua sobrinha, bem próxima de seu filho Aidan (Dorfman), resolve ir a fundo descobrir como e porquê ela morreu a pedido de sua irmã. Keller então descobre que a garota, assim como outras pessoas que morreram no exato momento que ela, assistiu uma macabra fita uma semana antes. Com a fita em mãos, Rachel resolve assisti-la para confirmar a história contada pelos amigos da garota.


O telefone toca logo após o fim do vídeo. Ao atendê-lo, Rachel confirma a história dos amigos. Sete dias. Agora, além de tentar descobrir a causa da morte da sobrinha, ela deve também correr contra o tempo para encontrar uma maneira de se salvar. 

Rachel, num primeiro momento, acredita que a mulher que aparece no vídeo é a responsável por todas as mortes. Porém, mais tarde, descobre que a criança refletida em um espelho é a causadora de todo o caos. A garotinha se chama Samara e foi adotada pelos Morgan após o casal falhar nas tentativas de gravidez. Samara sempre foi uma garota problemática, paranormal, para dizer a verdade. Com todos os problemas causados, ela é morta por sua mãe e jogada em um poço. Tadinha, gente. :(


O vídeo visto por Rachel é primordial não só para a resolução do caso com sua sobrinha, como também nos ajuda a entender quem foi Samara. Uma escada, por exemplo, surge aleatoriamente em um frame, e só mais tarde entendemos sua relação com a garota. Ela dormia em quarto no alto de um celeiro, por isso a escada.

Outro elemento relevante do vídeo é uma árvore pegando fogo. O diretor brinca com o espectador o tempo todo através dela. Um pouco antes e depois de Rachel assistir à fita, temos uma árvore que é utilizada para simbolizar uma passagem ou até mesmo para situar um tempo. A árvore em questão está presente durante todo o filme, entretanto é apenas no último ato que conseguimos assimilar esta árvore com aquela que pega fogo no vídeo. A árvore condena o local onde Samara foi enterrada. É genial!

O vídeo surge pela vontade de Samara ser ouvida, não para matar quem assiste — é uma consequência. É um modo de esclarecer que ela é apenas uma vítima, ou quase isso — os flashbacks contribuem para tal sensação. Ela sempre foi uma criança problemática, porém os pais demonstravam um apoio superficial e inclusive a mal-tratavam, o que desencadeou em ela ser quem é.

A trilha-sonora, liderada pelo mozão Hans Zimmer, é um dos grandes pontos relevantes da produção. Ela acompanha todo o filme, e são raros os momentos em que ela desaparece. Por ser minimalista, com poucos momentos grandiosos, ela não causa incomodo algum, inclusive contribui para o suspense e tensão.



Comparações com o original de 98 são inevitáveis. As diferenças de um roteiro ao outro são relativamente poucas e quase imperceptíveis. É incrível como Ehren Kruger consegue mudar e readaptar elementos de um modo que não cause um certo incomodo para quem conheça o filme japonês. Tais mudanças entram única e exclusivamente para ajudar na nova ambientação da história. Elas são bem-vindas.

O que se perde nesta readaptação é o terror psicológico louvado de 98. Kruger opta por um ritmo mais acelerado e com um tom mais investigativo. Em contrapartida desta perda, ganhamos uma aflição nunca sentida. O longa pontua a contagem dos dias em tela, fazendo com que o espectador perca o folego a cada dia perdido. 

Outro elemento que destoa na versão americana é o abuso de efeitos visuais, seja com um CGI ou o auxílio de maquiagemTambém não podemos deixar de ressaltar a diferença visual de Samara, conhecida como Sadako pelos japoneses. No original, sua pele é comum e a demoniazinha nunca mostra o rosto por completo; enquanto na nova versão, eles tornam crível a ideia de que a moça levou sete dias para morrer no poço, com a pele toda enrugada e a produção faz questão de mostrar seu rosto todo deformado.

"O Chamado" consegue fazer o que poucos remakes conseguem: manter a essência do original e até mesmo aperfeiçoar alguns elementos. A refilmagem é excelente e arriscamos dizer ser melhor que o longa-metragem de 1998. Talvez pela readaptação não beirar apenas na troca de elenco e sim mudar o necessário tenha resultado neste saldo final tão positivo. "O Chamado" é o maior remake que você respeita e morre de medo.

Throwback Review: "Bionic", a.k.a. aquele álbum da Christina Aguilera que todos comentam, mas ninguém compra! Afinal, o flop foi merecido?

A maior voz da geração! Sim, todos pensaram em Christina Aguilera, porque é isso que ela foi e ainda é para quem cresceu na década de 90. Uma artista revolucionária, sem medo de explorar suas maiores emoções e, com uma voz quase que infinita, conquistou o coração do mundo todo. Depois de três eras consolidadas e mostrando sua relevância, como acontece comumente, Christina resolveu cuidar da família, parir umas crianças, casar, essas coisas. Nesse meio tempo ainda lançou uma coletânea destruidora e sua carreira estava simplesmente non-stop

Entretanto, vocês já sabem do que vamos falar aqui. Dele! O controverso, irreverente, arqui-inimigo do The Fame e consolidador do vocábulo "flop". O "Bionic" foi lançado em 2010, não fez uma história positiva como as outras eras da Christina, iniciou um estigma de pouco sucesso na carreira da loira, mas ele ainda continua importantíssimo, porque este disco pode ser tudo... menos ruim. Sendo assim, todo mundo ativando suas lentes biônicas para darmos uma boa olhada e, quem sabe, descobrir o que deu errado afinal de contas.

"Bionic"

O disco é aberto com a música autointitulada e, talvez, um dos maiores pecados da carreira de Xtina: "Bionic" PRECISAVA ser single. Futurística, eletrônica, cheia de synths e com uma letra que mostra todo poder que a moça grita desde "Can't Hold Us Down", Christina abre o disco sendo tudo que esperávamos dela: Fantástica! "Muitas vezes imitada, induplicável, insubstituível / Agora vou soletrar e todo mundo pode gritar eu nome / X-X-X-T-T-T-I-I-I-N-N-N-A"...Só ouvimos verdades, não é mesmo?

"Not Myself Tonight"

Christina sempre gritou (literalmente) sobre liberdade e sexualidade. Aqui, no primeiro single do disco temos mais uma faixa muito boa, porém, para um retorno tão aguardado, a faixa deixou a desejar. Com uma percussão digna, um clipe polêmico por parecer em alguns momentos com "Express Yourself" e vocais de Christina Aguilera cantando: "Me sinto um outra pessoa e se você não gosta, FODA-SE!", "Not Myself Tonight" tinha quase todos os elementos de um hit, mas faltou a inovação e o charme que Christina sempre conseguiu impor. Escolha mediana para primeiro single, amargando num top 25 e onde acreditamos estar o primeiro erro da era.


"Woohoo (feat. Nicki Minaj)"

A terceira faixa do disco começa devagarzinho, despretensiosa, como uma mid-tempo. Até que você ouve WOOHOO! Mais um acerto para o "álbum, "Woohoo" é despretensiosa, divertidíssima e cheia de poder, sabe o por quê? Porque é uma música sobre a buceta! "Você sabe que quer experimentar minha WOOHOO / Você sabe que quer dar uma espiada, quer ver minha WOOHOO / você sabe que quer lamber onde meus quadris estão, beije minha WOOHOO", é isso que Madam X canta com muita diversão. Além disso, quem melhor para fazer um feat numa música dessas, senão a escrachada Nicki Minaj? Deliciosa como uma WOOHOO (pra quem gosta, é claro)!


"Elastic Love"

Em uma das músicas mais surpreendentes do "Bionic". "Elastic Love" vem recheada de sintetizadores e auto tune, poderia facilmente ser uma música da Robyn, além de ser completamente diferente de tudo que Christina já nos mostrou em sua carreira. Aqui vemos mais uma face de Aguilera, que sempre se mostrou uma das artistas mais versáteis que o mundo pop já conheceu. "Amor elástico, amor duradouro, amor cheio de luxúria", assim é o nosso amor por você X.

"Desnudate"

Sempre orgulhosa de suas raízes latinas, Christina vem cheia de descaração para o nosso lado em "Desnudate". "Sussurre todos seus fetiches no meu ouvido  / Meu reino é livre de vergonha então perca seus medos". A faixa mistura batidas eletrônicas com elementos latinos, principalmente nos instrumentos de sopro, e rola até uns elementos de samba no final da música. O resultado é mais uma vez excelente e com certeza, se a Bionic Tour não tivesse sido cancelada, teríamos aqui um highlight do show.

"Love & Glamour (Intro)" / "Glam"

"Fashion é um estilo de vida, uma escolha, uma liberdade de expressão,você tem que viver, amar e sangrar. A vida é toda sobre amor e glamour" essa é a introdução daquele que seria o primeiro single do "Bionic", "Glam". Denominada de "a "Vogue" da nossa geração", em cima da hora, foi deixada de lado e trocada por "Not Myself Tonight". Mais um erro! Se "Glam" seria um smash como "Vogue", não podemos afirmar com certeza, mas a faixa é fierce, glamurosa e merecedora de performances cheias de carões.  Uma faixa simples, sem muitos gritos e exageros, carregada de sintetizadores e finesse, na qual Christina canta: "Inibições enlouquecendo /  desça até o chão no seu  melhor couture /  venha e me eleve", rainha, né mores?

"Prima Donna"

"Eu sou prima Donna, posso controlar o mundo, não importa quem esteja do meu lado, posso controlar o mundo", ela sabe o poder que tem, ela sabe o que representa para os fãs e que inspira milhões de pessoas. "Prima Donna" é uma das faixas com mais cara de Christina Aguilera no disco, aquele momento em que a voz dela se torna a voz de todas as mulheres e cantando com muita agressividade ela afirma ser uma diva. Assim como em "Bionic", aqui as batidas eletrônicas são muito bem colocadas e Xtina segue biônica.

"Morning Dessert (Intro)" / "Sex For Breakfast"

Temos aqui um momento chave nos disco de Aguilera: Sexo! A hora de abusar de sussurros, melismas e nos fazer delirar. "Minha fome não é de comida, é de você", canta Christina em "Morning Dessert", nos preparando para uma mudança na sonoridade do disco que chega com "Sex For Breakfast". Um R&B leve, sexy, com um piano charmoso em momentos chaves, a faixa nos remete à momentos do "Stripped", e isso não poderia ser melhor, né mesmo? Ouvir Christina falar antecipar o café da manhã, se revirando na cama, com o corpo te tocando e ela querendo te amar é de deixar qualquer um nervoso. "Quando o sol amanhece, a única coisa que eu penso é: sexo para o café da manhã, continue dentro", sigamos com esta mensagem!

"Lift Me Up"

Chegamos à primeira balada do álbum. E que balada, meus caros! "Lift Me Up" é uma faixa linda, carregada por uma guitarra pesada, dando um toque dramático e uma letra escrita pela Linda Perry, ou seja, a fórmula perfeita para Christina brilhar. Bem crua, a faixa vem sem introdução, e ouvimos logo de início: "E a dor começa, assim que a música acaba e sou deixada aqui com mais do que aguento". Foi a primeira música do disco a ser apresentada ao mundo no "Hope For Haiti Now" e, sem dúvidas, uma das melhores coisas da era.



"My Heart (Intro)" / "All I Need"

A mulher biônica nos mostra agora os superpoderes de mãe. Na "Intro", ouvimos um momento mega fofo do ex-marido de Christina, Jordan Bratman, conversando com o filhinho deles, Max. Logo em seguida temos uma faixa dedicada aos dois, co-escrita por Sia e, por isso, "All I Need" já merece nossa atenção. Aguilera, com uma suavidade vocal ouvida poucas vezes, canta os versos "Você me traz esperança quando não consigo respirar / Você me dá amor, você é tudo que preciso / Devagar, te seguro perto / Tão feliz de te carregar dentro de mim". Temos aqui a faixa mais simples do disco, levada por um piano como se fosse a melhor das canções de ninar.

"I Am"

Mais uma balada escrita por Sia, porém "I Am" não é tão graciosa quanto "All I Need". A faixa peca pelo excesso de simplicidade, tanto em sua letra, quanto numa melodia que segue arrastada. Essa música poderia ser facilmente cantada pela Sia, que conseguiria impor mais personalidade na faixa e combinaria com "Some People Have Real Problems". Contudo, a letra ainda é bem bonita em momentos como: "E agora estou na sua frente com meu coração na mão / Pedindo para você me tomar do jeito que sou.

"You Lost Me"

Crua como as faixas do "Stripped" e dramática como as faixas do "Back To Basics", "You Lost Me" tem Christina na sua essência melódica, interpretativa e vocal. Embalada por um piano cruzando com um violino, Christina mostra o melhor dos seus vocais nos versos "Sinto que nosso mundo foi infectado / E de alguma forma você me negligenciou / Achamos que nossa vida mudou / Você me perdeu". Grande potencial para single, mas não foi bem trabalhada, assim como o CD como um todo, meio abandonado devido aos compromissos com o "Burlesque". Uma pena!


"I Hate Boys"

Um estigma para a música pop é a tentativa de faixas clichês. Dada toda sua discografia, não existe explicação para a necessidade de incluir uma faixa tão fraca como "I Hate Boys" na tracklist. Depois de tudo que ouvimos, ter uma faixa que fala: "Odeio garotos, mas eles me amam", chega a ser um disparate. A música não é uma atrocidade e seria super divertida em álbuns de novatas, mas nem Lady Gaga, enquanto novata, abusou de tamanho clichê no seu debute.


"My Girls"

A continuação perfeita para "I Hate Boys". "My Girls" é tão boba quanto, e falta o que analisar ao ouvir: "Minhas garotas, comandamos o show / Minhas garotas, estamos provocando todos os garotos / Minhas garotas, porque é assim que somos". Christina forçou a barra no final do disco, para mostrar que, mesmo tendo passado anos longe da música, poderia competir com a sonoridade do pop de 2010. Aqui, ela errou!


"Vanity"

Fechando o disco, "Vanity" soa um pouco melhor que as duas anteriores, principalmente na utilização do EDM, mas com a capacidade lírica de Christina, além de um time que incluiu Linda Perry e Sia, ela não precisa de uma música que comece com "Espelho, espelho meu, quem é a maior vadia de todas? Não importa..sou eu". Fraca, boba e até Fifth Harmony conseguiu utilizar o clichê do conto de fada de forma mais inovadora na faixa "Reflection". Até a high note que fecha o disco soa deslocada. A melhor coisa de "Vanity" é ouvir a audácia de Aguilera em colocar, como últimas palavras do disco, a pergunta: "Quem é a dona do trono? E ouvir Max responder: Você, mamãe!".

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Acho que deu para perceber que o comeback de Christina com o "Bionic" não tinha grandes motivos para dar errado. O disco é extremamente consistente e cheio de pontos fortes que mereciam ser explorados. Entretanto, a divulgação do disco foi extremamente bagunçada, desde a troca do primeiro single, até as performances com um cronograma bem disperso, falhando em dar a visibilidade necessária para nossa rainha! Além disso, Christina parecia não ter acompanhado a velocidade que a música pop tomou e não investiu o suficiente em singles, aparições e produções para fazer seu álbum ter o melhor desempenho possível.

O "Bionic" não é tão forte, intenso, reflexivo ou conceitual como o "Stripped" e o "Back To Basics", mas ele estava completamente coerente com a sonoridade que o pop mostrava, além de ter excelentes faixas para as pistas, além de seu maior diferencial: A Voz da Geração! As vendas menos expressivas de "apenas" 1 milhão e meio de cópias, deu ao disco o título de "Flop da década", mas pelo lado positivo, vai ser esse flop, junto com o do "Lotus", que vai fazer o próximo comeback ser ainda mais destruidor. Who owns the throne?

Throwback Review: *NSYNC oferece muito mais que 15 minutos de fama em "Celebrity", seu último e icônico álbum

O ano é 2001 e boybands como Backstreet Boys, Westlife e Five dominam as paradas e são idolatradas pelo público jovem. Enquanto isso, uma das maiores dessa fase planejava seu comeback, após toda a repercussão no processo movido contra seu antigo empresário e gravadora, culminando no lançamento e sucesso absoluto do seu segundo álbum, "No Strings Attached" (2000), os elogios após a performance no show do intervalo do Super Bowl e no Rock in Rio, além dos rumores de um possível hiato após o novo trabalho, para alguns membros se dedicarem a projetos solos. A boyband, em questão, é o *NSYNC. E o álbum da vez, é o icônico "Celebrity".
 

Terceiro e último álbum deles, foi lançado em 2001 e foi um sucesso estrondoso no mundo todo, ultrapassando a marca de 10 milhões de cópias vendidas, sendo o segundo maior recordista semanal das paradas norte-americanas, vendendo mais de 1.8 milhão de cópias apenas na semana de estreia e perdendo apenas para seu antecessor, que vendeu 2.4 milhões.
 

Indicado três vezes ao Grammy, incluindo o de "Melhor Álbum Pop", evidenciando ainda mais o destaque e favoritismo dado a Justin Timberlake, que havia sido um dos pontos altos em "No Strings Attached", e adotando uma postura musical mais arriscada que os dois álbuns anteriores, que eram predominantemente pop e R&B, em "Celebrity" vemos uma diversificação maior de gêneros, passando pelos já utilizados, além de europop, funky, eletrônico e suas variações predominarem. Isso, sem esquecer da proposta desafiadora (pra época), afinal, o álbum criticava, elogiava e se divertia com o lado bom e ruim da fama, numa clara demonstração de buscar amadurecimento e, quem sabe, abraçar novos públicos.
 

Composto por 13 faixas, tendo Timberlake co-escrevendo boa parte com JC e entre os produtores Pharrell Williams, Stargate e um tal de Max Martin (recrutado já nos álbuns anteriores, após os sucessos com os rivais do BSB), ainda engatinhando rumo ao sucesso, nossa Throwback Review, sobre um dos álbuns mais memoráveis dos anos 2000, começa agora:

1) "Pop"

À primeira ouvida, "Pop", produzida por Brian Transeau, tinha todos os ingredientes para dar errado: é estranha, com letras criticando de forma ácida a percepção sobre a fama e a importância maior que as pessoas dão à vida pessoal dos astros, antes da própria música ("Cansado de ouvir todas essas pessoas falando... Qual é o lance dessa vida pop e quando isso vai acabar? Você tem que perceber que o que estou fazendo não é uma moda. Tenho o dom da melodia, vou tocá-la até o final"// "Não importa as roupas que uso, onde eu vou e por quê. Tudo o que importa é que você fique estimulado e farei isso com você o tempo todo") e baseada em cima de um chocante (mas brilhante) arranjo pop-techno/vocais agressivos de JC e Justin, que foge um pouco do que nos acostumaram, além de sugerir algo sexualmente atrativo no refrão e repleto de elementos (de guitarras, sintetizadores e até o beatbox), que a tornam nada linear ou harmoniosa. Porém, quando o susto inicial passa, o single funciona e você se pega, despretensiosamente, afastando os móveis da sala e se jogando na magnética coreografia, é inegável não se encantar com uma das canções mais loucas e memoráveis dos anos 2000 e da carreira repleta de hits da boyband. Hinário!
 

2) "Celebrity"

Na sequência e com os sons de flashes sendo disparados, temos a canção que intitula o álbum, e que segue a proposta lírica bem construída da anterior, mas aqui, sobre as consequências de um jogo de interesses que pode se tornar uma relação com alguém rico e famoso: "Se eu não fosse uma celebridade, você seria tão boa para mim?", reclamam em um dos trechos. Do ponto de vista musical, a faixa é um ponto confuso, cheio de elementos entre o lado agressivo, misturados ao pop, R&B e harmonizações que, diferente do lead single, mais atrapalham que ajudam e, talvez, com exceção à sua letra, seja uma das mais fracas do material.

3) "The Game is Over"

Se na anterior fomos surpreendidos pelo som de flashes disparados por paparazzi, aqui, o que abre "The Game is Over" (também de forma sugestiva), é uma máquina de pinball acrescida pelo clássico jogo "Pac-Man", em que nos contam sobre uma relação rodeada de mentiras e traições, onde, ainda assim, a pessoa quer sair por cima, graças ao seu "poder" e não entende o fim: "Ainda que você pense que é uma estrela e aja como se todo mundo girasse à sua volta, querida, você pisou na bola e agora o jogo terminou". Também não muito convencional em sua eclética produção, mas acessível em todos os níveis, é mais uma que funciona.

4) "Girlfriend"

Produzido por Pharrell Williams, "Girlfriend", o terceiro single do álbum foi outro sucesso na carreira da boyband, tanto que ganhou duas versões: a oficial, presente no álbum e tendo apenas Timberlake & Cia; e uma versão remix (muito melhor), com o rapper Nelly, outro destaque absoluto do começo da década passada. Num misto delicioso de R&B e funky, temos aqui um dos maiores destaques do álbum e que dão a Justin Timberlake os holofotes absolutos, porque é ele quem domina o single por todos os lados, falando sobre como, mesmo que bem intencionado, a fama oferece algumas possibilidades um tanto quanto questionáveis, como sugerir um relacionamento a uma garota que já se encontra num: "Eu não sei porque você se preocupa. Ele nem mesmo sabe que você está aqui (oh não). (...) Porque você não é minha namorada? Eu tratarei você bem. Eu sei ouvir seus amigos. Porque se você for minha namorada, eu seria sua estrela cadente".
 

5) "The Two of Us"

Midtempo que tinha tudo pra ser esquecido, mas que soa interessante no contexto do material. "The Two of Us" é meio que um ensaio desacelerado para a mega balada que vem na sequência. Vocais mais calmos, moderados e, aparentemente felizes, que contrastam com a tristeza de um coração partido que sua letra sugere: "Estou pensando em você dia e noite. Eu simplesmente não consigo tirar você da minha mente". No mínimo merece a atenção.

6) "Gone"

É na dolorosa primeira balada do álbum e segundo single oficial, em que Max Martin dá o ar da graça pela primeira vez, ajudando Justin Timberlake na produção. Também seguindo a proposta sonora eclética dentro de uma mesma música que domina todo o álbum, em "Gone", temos uma montanha-russa que incorpora desde violinos, passando por uma guitarra flamenca, violão e piano, até chegar nesse sussurro fantasmagórico do refrão, que ecoa na sua cabeça. O destaque, totalmente e descaradamente dado a Justin Timberlake aqui (ele canta a música toda sozinho, tendo os outros apenas como vocais de apoio), é justificável: "Gone" foi uma das primeiras canções escritas para o "Justified", álbum de estreia em carreira solo de JT, lançado no final de 2002, porém, foi convencido a encaixá-la na despedida do *NSYNC. Porém, com uma condição... rs. Nem precisamos dizer que temos outro sucesso aqui, né?!
 

7) "Tell Me, Tell Me... Baby"

É o mago sueco e maior hitmaker da era atual do pop, Max Martin, que também assina a produção europop de "Tell Me, Tell Me... Baby". E, diferente do feito acima, aqui é uma canção agitada e com destaques novamente divididos entre JT e JC, numa ótima produção pop, mesmo que com um refrão pobre liricamente e um tanto quanto previsível: "Me diga, me diga, amor, como você não quer me amar? Você sabe que eu não consigo respirar sem você".
 

8) "Up Against the Wall"

Tentando minimizar um pouco toda a atenção que Justin recebeu nesse álbum (onde o grupo passa, claramente, a cantar em função dele), é JC quem comanda "Up Against the Wall", que mergulha num louco ziguezague europop, entre a letra sobre um passeio noturno num cruzeiro, em que encontra uma sedutora mulher pelos corredores, que o coloca contra a parede, literalmente.

9) "See Right Through You"

Encerrando a versão padrão do álbum, temos outra música dançante e sobre traição: "Baby como você pode me trair, depois de tudo que fiz por você?". É assim que se desenha a nona faixa do álbum. Aqui, temos uma leve inspiração em Michael Jackson por toda a canção, seja com os versos de Justin ou de JC.

10) "Selfish"

Aqui, temos a inusitada balada produzida por Brian McKnight, que ficaria fora do corte final, mas acabou sendo o quarto single do "Celebrity", uma das faixas preferidas dos fãs e uma das melhores do álbum. Particularmente, é a melhor e mais delicada letra do material, que trabalha com o medo de uma reaproximação: "Você pode me chamar de egoísta, mas tudo que eu quero é seu amor. Você pode me chamar de perdido, porque estou perdidamente apaixonado. Você pode me chamar de imperfeito, mas quem é perfeito? Diga-me o que tenho que fazer para provar que sou o único para você? Então o que há de errado em ser egoísta? (...) Eu vou tomar seu tempo até o dia que eu faça você entender que para você não há mais ninguém". A melodia simples ajuda a evidenciar que os melhores vocais do álbum também estão aqui. Timberlake, as harmonias e, principalmente, JC nas notas altas, estão magníficos. Grande trabalho!
 

11) "Just Don't Tell Me That"

Também produzida por Max Martin, é uma irmãzinha de "Tell Me, Tell Me... Baby", mas, particularmente, menos boba e agradável, ainda que fique devendo.

12) "Something Like You"

Outra bela balada do material e totalmente escrita por Justin Timberlake, que também leva a música sozinho, num tom mais baixo e belíssimo, repleto de harmonias e o arranjo tendo essa gaita ao fundo, que dá um ar vintage e delicado pra cada verso cantado.

13) "Do Your Thing"

 Encerrando o álbum, temos a eletrônica "Do Your Thing", que mesmo agradável, ainda é aquele tipo de faixa presente apenas pra ocupar espaço. E só.

Concluindo

Diferentemente do que fizeram em "No Strings Attached", seu álbum anterior, que foi completamente tomado pelo lado mais pop e, relativamente, jovial, que uma boyband pode demonstrar, em "Celebrity", há uma clara tentativa de mostrar amadurecimento. Seja pelo risco musical, causado pelo flerte maior com gêneros além dos já habituais, que dão ao álbum um estilo mais experimental (e momentos de altos e baixos), ou até mesmo por conta da proposta calculada em fazer do material um ponto crítico à sociedade da época, que fazia tudo (e ainda faz, convenhamos) por seus 15min de fama. Num todo, é o melhor, mais maduro e redondo registro da banda (acentuado pelo destaque ainda maior dado a Justin Timberlake), mas pensando neles como um dos maiores hitmakers do começo dos anos 2000, talvez seja o mais fraco em termos de hits grandiosos, uma vez que apenas "Pop" repercutiu tanto como os singles das eras anteriores, mesmo tendo destaques como "Gone" e "Girlfriend". No geral, "Celebrity" é uma das viagens mais icônicas do começo da década passada, cheia de nuances, onde críticas, elogios e brincadeiras ao relacionamento com o mundo dos famosos foram e ainda são extremamente relevantes nos dias atuais. E que fecha, com maestria, a carreira de uma das duplas rs boybands mais talentosas que o mundo pop já viu.

Throwback Review: drogas, solidão, amores e outros vícios em ‘Back to Black’, com Amy Winehouse

Ela tinha pouco mais de vinte anos, uma imagem aparentemente inofensiva, além de um característico penteado, que só perdia o posto de sua marca registrada para a principal de suas armas: a sua voz. 

Antes que os Estados Unidos e, consequentemente, resto do mundo se permitisse dar uma chance aos músicos britânicos, no que hoje acompanhamos com a aclamação em torno de Adele, Sam Smith, Joss Stone e outros mais levados para a música pop, como Jessie J, Florence + The Machine e até Ellie Goulding, uma única cantora foi a responsável por ultrapassar as barreiras do oceano, em tempo que também dominava indiscutivelmente a música de seu país, e trazendo às rádios uma melancolia sincera e até mesmo desbocada, provou da melhor forma possível que nada além da sua arte é o que imortaliza o artista.

Amy Winehouse foi um verdadeiro ícone para a música e por inúmeras razões. Fora ter aberto as portas para outros artistas britânicos, foi ela quem rompeu com diversos padrões ao se mostrar uma “artista feminina fora do convencional”, além de ter ditado às gravadoras de sua época o que segue sendo uma tendência até os dias de hoje, da junção de sua arte à sua persona, de sua tristeza à sua imponência e, claro, de seus mais sinceros sentimentos às suas letras.

O disco de estreia de Amy, “Frank” (2003), é daqueles que colocam nos ombros dos artistas a imensa responsabilidade quanto ao seu sucessor, no famigerado e frequentemente passado pra trás “desafio do segundo álbum”, mas Winehouse é mais um dos nomes que tiraram isso de letra e, com seu disco seguinte, não só provou um imenso amadurecimento musical, como também mostrou ser bem mais versátil do que seu primeiro álbum sugeria, além de bem mais triste. É por essas e outras que “Back to Black”, o segundo e, infelizmente, último disco da cantora em vida, se tornou não só uma obra obrigatória em sua discografia, como também no catálogo de qualquer um que se diga fã de todos os que só conseguiram seu espaço hoje graças à moçoila aqui. 

Vista-se de preto e entenda com a gente porque “Back to Black” é um dos melhores discos de todos os tempos e, por trás de suas influências de soul, jazz e R&B, o que faz dele uma das maiores influências para a indústria pop atual.

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“DE VOLTA AO PRETO”

Logo em seus primeiros versos, “Back to Black” traz o que se tornou o maior sucesso de Amy Winehouse. Passado o término de um relacionamento conturbado, seguido de problemas com álcool e drogas, a cantora vinha recebendo conselhos quanto a procurar tratamentos para a sua melhora e, difícil como era, fez graça da situação em “Rehab”. Sob a produção de Mark Ronson, que assina todo o disco ao lado de Salaam Remi, o arranjo pop faz com que sua confissão soe divertida, ainda que tratando de algo sério, e então ela entoa o clássico “eles tentaram me fazer ir para a reabilitação, mas eu disse que ‘não, não, não’”



Ao decorrer da música, a cantora explica que conversou com seu pai para saber o que ele pensava sobre isso e até chegou a procurar uma clínica, mas passou apenas alguns minutos por lá, visto que não achava que fosse o que precisava e podia encontrar o seu consolo em seus músicos favoritos. “Eu preferiria ficar em casa com Ray [Charles]. E eu não preciso de 70 dias [em tratamento], porque não há nada que você tenha para me ensinar que eu não possa aprender com Mr. Hathaway”.

Mantendo a influência da soul music, agora em tom menos radiofônico, “You Know I’m No Good” é uma confissão que mantém a mesma sinceridade amarga da música anterior. A maneira com que Amy descorre os fatos é bastante singular, enquanto ela narra sobre quando pareceu acabar com seu relacionamento por conta de uma traição, mas aos poucos entendia que talvez não fosse o único lado problemático da história.  “Eu me enganei, como eu sabia que faria. Eu te disse que eu era problema, você sabe que eu não sou boa”.



Especialista em relacionamentos que não dão certo, em “Mr. and Mrs. Jones”, a cantora fala sobre o que teve com o rapper Nas (na verdade, chamado Nasir Jones). Entre tantas referências ao rapaz, tática utilizada por ela bem antes de Taylor pensar em ser Swift, a cantora ressuscita uma sonoridade característica das rádios nos anos 50-60, com um coro que nos remete aos tempos das girl groups derivadas da Motown, enquanto vem com mais uma narrativa tragicamente cômica. “Ninguém fica entre mim e meu homem. Porque somos eu e o Mr. Jones. Eu e o Mr. Jones”.

E enquanto Mr. Jones era o homem de Amy, o seu parceiro em “Just Friends” parece não dar à ela a mesma certeza. Vindo com um reggae temperado com flertes do soul e R&B predominantes do disco, a música é quase que uma súplica de Winehouse ao seu amado, uma vez que a história deles caminha para um fim, visto que ele já está comprometido, mas eles nunca conseguem se libertar disso de verdade. “Eu não estou envergonhada, mas a culpa vai te matar. Isso se ela não fizer isso primeiro. Eu nunca vou te amar como ela. Acho que precisamos encontrar um momento para fazer isso juntos antes que as coisas piorem”.

Talvez a canção que melhor exemplifique o impacto de Amy Winehouse nos trabalhos de Adele, Sam Smith, entre outros, “Back to Black” não só é a faixa-título do disco, como também uma das mais simples e ainda assim elaboradas do material. Em mais uma de suas confissões de mágoas e amores proibidos, a música fala sobre o estado em que ela fica ao pensar que, ao se despedir dela, ele volta para as mãos daquela que julga ser um relacionamento mais seguro, enquanto ela se limita a ficar com sua solidão. “Nós dizemos adeus apenas por dizer e eu morro umas cem vezes. Você vai voltar para ela e eu voltarei para nós. Eu voltarei para a [minha] escuridão”.



Cada vez mais vulnerável, na sexta faixa do álbum Amy parece admitir o que já vinha comprovando com as narrativas anteriores. O amor é um jogo perdido. Com um arranjo mais minimalista, deixando em destaque seus vocais, a música carrega versos curtos, enquanto ela rebate cada um de seus feitos e sentimentos com a mesma conclusão: “Love Is A Losing Game”. “O amor é um jogo perdido. Um que eu gostaria de nunca ter jogado. Oh, que bagunça nós fizemos! E agora, na cena final, [descobrimos que] o amor é um jogo perdido”.

Com mais uma dose de Motown, aqui também trazendo um pouco de Marvin Gaye, “Tears Dry On Their Own” segue com sua sequência de amores que não deram certo. Na música, que foi mais um dos sucessos do “Back to Black”, ela parece passear por trechos de algumas anteriores, enquanto vai do arrependimento com Mr. Jones à escuridão de sua faixa-título, até que chega a outra estranha certeza de que, se não for com ele, logo ela estará partindo seu coração com outro homem. “Eu não posso brincar comigo mesma outra vez. Eu deveria ser minha melhor amiga e não acabar com a minha cabeça por causa de um cara estúpido”.



A noite é a melhor amiga da solidão. Em “Wake Up Alone”, Winehouse parece estar prestes a se conformar com o que tem (ou melhor, não tem) em mãos, e sob um arranjo minimalista, também produzido por Ronson, acompanhado de um tímido coro ao fundo, conta que os dias são fáceis, já que ela se mantém ocupada para não ficar pensando nele, mas basta chegar à noite pra que com ela chegue também o sentimento de solidão. Ela o tem em seus sonhos, mas quando abre os seus olhos, descobre que não o tem em seus braços. “E eu acordo sozinha”.


você tá em casa homenageando kelly key, né amore?eu também
Posted by WordArt nosso de cada dia on Sexta, 17 de julho de 2015

Por mais que o amor seja um jogo em que ela entra para perder, Amy Winehouse mantém, por trás de toda sua melancolia, um senso de lealdade à pessoa que estiver ao seu lado. No que é dita como a primeira composição sobre seu, até então, futuro ex-marido, Blake Fielder-Civil, “Some Unholy War” é a promessa dela sobre ficar ao lado de seu amado independente do que ele estiver disposto a fazer. Numa clara aversão a solidão, ela prefere estar mal acompanhada do que só e garante que, “sim, meu homem está lutando numa guerra profana e eu continuarei ao seu lado. E por quem ele morrer, eu morreria também”.

Sam Smith adoraria ter feito “He Can Only Hold Her” antes de Amy Winehouse. Sem deixar a temática amorosa, a música conta, de maneira sonoramente harmoniosa, sobre um relacionamento em que a garota está lá fisicamente, mas com a mente em outro lugar. Desta vez olhando pela perspectiva de uma terceira pessoa, Amy mostra os esforços do rapaz em trazer sua amada de volta, mas como ele poderia ter um coração que já foi roubado? “Ele pode apenas segurá-la por um tempo. É como se as luzes estivessem acesas, mas sem ninguém em casa. Ela está tão distante que sua alma foi tomada. E ele pensa, ‘do que ela está fugindo?’”.



Encerrando a versão standard do disco, Amy Winehouse parece finalmente se conformar com a solidão em “Addicted”, com a diferença de que, em vez de procurar por outros homens, ela prefere a companhia dela mesma e sua maconha. Brigando por ela como quem briga por um amor, ela se mostra segura em afirmar não precisar de mais nada, enquanto declara, ao som de uma percussão que caberia bem ao disco de estreia da Lily Allen: “eu sou meu próprio homem, então, quando você vai aprender que, enquanto você tem um homem, eu só tenho que acender um? Não faz nenhuma diferença se eu acabar sozinha, porque eu prefiro ter eu mesma e fumar minhas [plantas] caseiras. E isso me vicia, vicia mais do que qualquer idiota tenha conseguido”.

Por muitas soando como um contraponto a estreia em “Frank”, o álbum “Back to Black” nada mais mostra do que a vulnerabilidade de Amy Winehouse, que parecia estar tão disposta a amar quanto a não estar sozinha, entretanto, tinha apenas a solidão como sua fiel companheira. O consolo nas drogas e seu comportamento autodestrutivo se torna então a chave para o caminho tomado por sua melancolia, sincera e ironicamente encarnada em cada um dos versos que podem até fazer com que a gente se identifique vez ou outra, mas jamais fará com que a gente entenda o que realmente foi a sua escuridão.

Com um segundo álbum tão promissor, não é surpresa pra ninguém o quanto que lamentam até hoje a perda de uma cantora tão talentosa, e se ela conseguiu isso em seus tempos escuros, o que poderíamos esperar após uma reviravolta? Uma pena que a inspiração encontrada na escuridão tenha sido justamente sua luz no fim do túnel, seu sincero e mais profundo refúgio.

Throwback Review: de 'álbum da geração' até 'o mais pretensioso da história', é impossível ser indiferente ao 'Born This Way' da Lady Gaga

"Prego que mais se destaca leva mais martelada". Já ouviu falar desse ditado? Foi exatamente assim que Lady Gaga se viu quando atingiu o ápice da sua carreira entre 2009 e 2010 com o "The Fame Monster". Turnê milionária, VMAs, Grammys, o mundo estava aos seus pés. Como conseguir manter esse império? Para qualquer artista, a resposta seria "fazendo mais um álbum bom". Para Gaga, a resposta foi "fazendo o álbum da geração".

Throwback Review: Lily Allen e a crítica social mais pop da década passada em ‘It’s Not Me, It’s You’

2009 foi um grande ano para a música pop. Alguns meses depois de estreias como Katy Perry e Lady Gaga, foi o ano que Kelly Clarkson lançou o  “All I Ever Wanted” e que o Black Eyed Peas nos enfiou goela abaixo a sonoridade eletrônica de seu “The E.N.D.”. Também foi nesse ano que Gaga lançou o EP “The Fame Monster” e Rihanna nos apresentou o que viria a ser o disco mais marcante de sua carreira, “Rated R”, e ainda rolaram grandes chegadas, como o disco “For Your Entertainment” do Adam Lambert e “I Dreamed A Dream” da Susan Boyle, mas o Reino Unido só tinha olhos e ouvidos para uma artista em especial: Lily Allen.

Throwback Review: Natalia Kills está pronta para matar você (da forma que você quiser) com o 'Perfectionist'

Muito antes de Natalia Kills eleger seu marido, Willy Moon, como o maior ícone fashion da cultura popular mundial no episódio já icônico do "The X Factor" neozelandês, a cantora e compositora já possuía identidade musical bem delimitada. Sob a alcunha "Kills", Natalia Noemi Cappuccini-Sinclair - que era chamada de Verbalicious anteriormente - chegou ao mundo em 2011 pela porta da frente com o "Perfectionist", seu álbum de estreia.

Throwback Review: o espetáculo versátil de Adam Lambert em 'For Your Entertainment'!


Que me desculpem os outros ótimos participantes que antecederam sua temporada, mas graças a Adam Lambert, o American Idol finalmente conseguiu, em 2009, um finalista que soasse contemporâneo e linear (no mais alto nível), sem cair na mesmice ou soar datado, a fim de seguir os modismos presentes ou redefinir tendências. Pelo contrário, durante sua estadia no programa, ele apenas se preocupava em dar seu melhor, adaptando-se ao tema de cada semana e nos dando sempre um espetáculo de versatilidade, que fazia do jovem californiano, o grande nome da temporada e, talvez, de toda franquia, tamanho potencial.

Throwback Review: a evolução intimista e sem-vergonha de Christina Aguilera no épico 'Stripped'!

Quando comecei a pesquisar sobre o álbum para escrever esta resenha, achei uma frase que destaca perfeitamente o que o trabalho "Stripped" representa na carreira de Christina Aguilera: "Parece que a cantora finalmente se propôs a sair de sua garrafa", disse a Slant Magazine. A revista fazia clara referência ao até então maior single da carreira da americana, "Genie in a Bottle", extraído do primeiro álbum da intéprete. Mas o que isso queria exatamente dizer?

Throwback Review: Bruno Mars e sua dominação mundial com a máquina de hits 'Doo-Wops & Hooligans'!


Atualmente, Bruno Mars é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes nomes (senão "O") do pop masculino, emplacando hits atrás de hits nas rádios e paradas do mundo todo. Enquanto seu segundo álbum, "Unorthodox Jukebox" (2012) serviu para consolidá-lo ainda mais no mercado, seu debut "Doo-Wops & Hooligans" (2010) foi o grande responsável por fixar seu nome em nossos radares, após parcerias de sucesso com B.o.B e Travie McCoy, além de ter escrito "Fuck You" para Cee-Lo Gren, e lançar um EP aclamado ("It's Better If You Don't Understand") em 2010.

Throwback Review: David Guetta faz de seu eletropop um sucesso instantâneo em 'One Love'!

Apesar de serem ritmos extremamente harmônicos, o pop e a música eletrônica (leia-se, principalmente, a house music) sempre tiveram uma estreita ligação que nunca havia sido tão explorada até o surgimento do disco "One Love", quarto álbum de inéditas do francês David Guetta. E depois disso, a música nunca mais deixou de proporcionar mais e mais hits com uma letra melódica misturada em batidas insanas que ditam as tendências na rádio, na balada, na vida cotidiana em geral.

Throwback Review: P!nk te convida para seu circo dos amores no intimista e sensacional 'Funhouse'!

Desde que despontou como uma das principais cantoras da atualidade, P!nk nunca foi a diva preferida de 10 em 11 amantes do bom e velho pop. Aliás, muitos acham que a cantora sequer tem a atitude de uma diva. Mas será que isso em algum momento realmente importou pra carreira da americana? Se você ainda tem dúvidas disso, a resposta é não. P!nk sempre remou contra a maré dos rótulos e, em diversas oportunidades, chegou a zombar e renegar tais títulos. Numa visão de "anti-Cristo" do pop glamouroso, a cantora surge em 2008 com aquele que se tornaria o trabalho mais sóbrio e conciso de toda sua carreira.

Throwback Review: Marina & The Diamonds exibe suas mais preciosas posses com o 'The Family Jewels'

Hoje ela pode cuidar de frutas, mas Marina & The Diamonds sempre foi a dona dos diamantes. E esses diamantes são suas próprias músicas, reconhecidos desde antes do seu debut album: em 2009 ela ficou em segundo lugar no "Sound of 2010" da BBC, ranking que traz as próximas promessas da música, atrás apenas de Ellie Goulding. Aqui eles acertaram em cheio.

Throwback Review: Madonna é líder religioso onde nossa igreja é a pista de dança com o 'Confessions on a Dance Floor'

No começo do novo século o R&B parecia tomar de conta do mundo, principalmente dos EUA. Madonna, como sempre, nadava contra a correnteza, com seu auge no nono álbum de estúdio de sua carreira, "American Life", lançado em 2003. Bem experimental e conceitual, o álbum foi recebido com extrema divisão - enquanto uns amaram a ousadia da Rainha do Pop em fazer um material tão estranho para o cenário mainstream, outros detestaram seu conteúdo pesado, provocativo e, para uns, ofensivo (a faixa-título, por exemplo, foi eleita pela revista "Blender" a 10ª pior música de todos os tempos).

Throwback Review: Beyoncé alcança o panteão do pop com 'I Am... Sasha Fierce'!

O ano de 2008 chegava ao fim quando Beyoncé resolveu lançar dois singles simultâneos como as primeiras músicas de trabalho do seu novo álbum. A cantora, já consolidada pelos anos de carreira dentro do Destiny's Child, além dos hits que carregava no currículo solo como "Crazy in Love" e "Irreplaceable", nem poderia imaginar que o disco "I Am... Sasha Fierce" seria o grande responsável por destacá-la definitivamente das outras estrelas de sua época.

Throwback Review: Katy Perry coloca açúcar, tempero e tudo que há de bom para preparar seu 'Teenage Dream'

É fato que até hoje não entendemos o que Katy Perry quis ao queimar a peruca azul símbolo da era "Teenage Dream" e logo depois ir ao funeral da mesma sendo que os traços visuais e sonoros deste estão mais que presentes no "Prism". Por que a cantora ainda não conseguiu se desvincular do açucarado álbum? Para entendermos o presente é necessário voltarmos ao passado.

Throwback Review: Rihanna abre as portas do seu hospício particular com o pesado 'Rated R'

É até engraçado que a review do "Rated R" venha logo depois da review pro "Blackout" da Britney Spears (caso você tenha perdido, leia aqui). Engraçado pois os álbuns possuem inúmeros pontos em comum. Não em termos de sonoridade, mas de conceito e concepção. Ambos vieram depois de momentos bastante conturbados na vida das duas. Em 08 de fevereiro de 2009, Rihanna iria performar no 51º Grammy, porém a apresentação foi cancelada. O motivo: a cantora teria sido agredida pelo (então) namorado Chris Brown.

Throwback Review: os dois lados da moeda do retorno de Britney Spears com o 'Blackout'

Logo após o lançamento do "In The Zone", o quarto álbum de estúdio de Britney Spears, que ajudou de forma direta a consolidar a cantora no mercado, rendendo seu único Grammy, de "Melhor Canção Dance" para "Toxic", Britney viveu aquele momento que todo mundo está careca de saber. Super exposta pela mídia, a cantora acabou caindo numa clínica de reabilitação onde protagonizou momentos icônicos como a briga do guarda-chuva e o raspar do seu cabelo.

Throwback Review: Lady Gaga explora seus próprios medos com o 'The Fame Monster'

Depois de todo o suspense sobre o resultado da nossa enquete que decidiu o primeiro clássico pop a ser resenhado por nós, eis aqui o resultado. Foram mais de 1.000 votos e uma ótima mobilização que deu ao "The Fame Monster" seu lugarzinho na nossa Throwback Review. O resultado completo você confere abaixo para não vir nenhum fã de outra cantora falar "It Pop manipulou o resultado pra dar Gaga, It Lirou" rs.

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