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Primeiro trailer de “Hollywood” mostra os bastidores de todo o glamour do cinema


A nova série do Ryan Murphy para a Netflix, "Hollywood", ganhou o seu primeiro trailer nesta segunda-feira (20) e traz Darren Criss, Jim Parsons e Queen Latifah nos bastidores sombrios de todo o glamour do cinema. Se depender apenas dessa prévia, essa série pode contar conosco para absolutamente tudo. Vem ver!


A série apresenta uma Hollywood pós-Segunda Guerra Mundial e promete trazer "um olhar único na Era de Ouro de Hollywood, chamando atenção para o sistema injusto e imparcial em termos de raça, gênero, sexualidade que continua até hoje. 'Hollywood' pretende expor e examinar décadas de dinâmicas de poder e revelar o que a cena do entretenimento seria hoje se não isso tivesse sido desmantelado".

Mais uma vez Ryan Murphy irá servir pelo menos no elenco. Além do ex-"Glee", ex-"Taxi" e ex-"Big Bang", a série traz Patti LuPoneLaura Harrier, Holland Taylor e muitos outros. "Hollywood" estreia no dia 1º de maio.

Nova comédia romântica da Netflix será inspirada na vida de Antoni Porowski, de “Queer Eye”

A Netflix está preparando mais uma comédia romântica original para sua plataforma e desta vez será inspirado na vida amorosa de Antoni Porowski, de "Queer Eye". O Fabuloso, aliás, está envolvido na produção, junto de Kenya Barris, e Andrew Rhymer e Jeff Chan, responsáveis pelo roteiro. As informações foram divulgadas nesta quarta-feira (15) pelo The Hollywood Reporter.

O longa-metragem se chama "Girls & Boys" e acompanha as experiências sexuais e de namoro de Antoni com homens e mulheres. O filme é apenas inspirado na vida do cozinheiro e não deve se assemelhar a uma biografia.

Antoni faz parte do elenco de "Queer Eye", reboot da série "Queer Eye For The Straight Guy", junto de Jonathan Van Ness, Tan France, Karamo Brown e Bobby Berk. O reality show mostra a intervenção destes cinco homens na vida de uma pessoa. A intervenção vai muito além de roupas melhores e atinge a autoestima e insegurança destas pessoas.

Karamo também já se envolveu em um projeto da sétima arte, porém como ator no filme "The Thing About Harry". Ele interpreta Paul, o namorado do protagonista Sam, em uma única cena.

Crítica: “O Poço” vai de “O Cubo” a Foucault em seu estudo da desumanidade do Capitalismo

Atenção: a crítica contém detalhes da trama.

Dentre as várias instituições que formam a sociedade como conhecemos, uma das mais desafiadoras, que já passou por drásticas mudanças e, segundos alguns estudiosos, até presente data ainda não encontrou um modelo que seja ideal, é a prisão. Ou, para ser mais abrangente, o mecanismo de punição do Estado.

Na Europa, antes da Revolução Francesa em 1789, os crimes eram punidos com a tortura e a morte. A figura do rei, detentor absoluto de todas as leis, sentenciava criminosos baseado na ideia de que, se um crime é um ato contra o Estado, e ele é o Estado, um crime é um atentado ao rei. A punição brutal servia tanto para garantir que o acusado não voltasse a cometer o mesmo erro quanto para servir de exemplo para todas as outras pessoas, afinal, tais sentenças eram proferidas de maneira pública. Sabe a clássica cena em que Cersei, em “Game of Thrones”, tem que caminhar nua pelas ruas da cidade enquanto todos os súditos a assistem, como um espetáculo? Pois é. Só que muitos terminavam como em “A Paixão de Joana D’arc” (1928).

A saída da monarquia para a república também mudou o modo de punição, abandonando as execuções públicas para o projeto de encarceramento que conhecemos. Pode parecer que a mudança seja um avanço incrível – o que de certa forma é até verdade (paramos de matar pessoas no meio da rua) –, todavia, ainda estamos bem longe de uma instituição que funcione como deveria. Pode soar, também, que as prisões como conhecemos sejam uma diminuição do poder do Estado sobre seus cidadãos, mas esse poder só é exercido de maneira diferente.

Em “O Poço” (El Hoyo), vamos a alguns anos no futuro – jamais sabemos exatamente quando – em que um novo modelo prisional está em vigor. Ainda baseado no encarceramento, as grades são trocadas por andares: a construção é vertical, como um prédio, e cada andar comporta dois presos. A característica principal – e que rege a ideologia do sistema – é a maneira como quem está lá dentro se alimenta: há um poço bem no meio dos andares, por onde uma plataforma desce todos os dias, como um elevador, levando comida aos presos. No andar nº 0, os cozinheiros estritamente vigiados preparam as melhores refeições possíveis, depositando tudo para que a plataforma desça ao andar nº 1. Então, após alguns minutos, a plataforma desce para o andar seguinte, ou seja, o nº 2 vai comer o que restou do nº 1, o nº 3 vai comer o que restou do nº 2, e assim por diante.

O ponto focal do filme está com Goreng (Ivan Massagué), que acorda no 48º andar. Ao seu lado está Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor já de idade que foi preso por acidental e irresponsavelmente matar um homem. Ele, estando ali há quase um ano, explica como funciona o sistema, e se espanta ao saber que Goreng está ali por vontade própria: o protagonista trocou sua liberdade por um diploma.

Logo de cara já recebemos uma enxurrada de informações, com alguns pontos de destaque: é possível se voluntariar para entrar na prisão, porém, ninguém do lado de fora sabe o que acontece lá dentro – caso contrário, não aceitaria. Mesmo sendo possível conversar com os presos dos andares próximos através do poço, a única pessoa que cada um tem contato é com o companheiro de andar, excluindo a figura do agente prisional. Mas isso não abre brechas para maiores liberdades, pelo contrário: de alguma maneira, a construção é violentamente inteligente, alguma forma de tecnologia pra lá de avançada que sabe se algum dos detentos quebrou a regra básica de lá: você só pode comer enquanto a plataforma estiver no seu andar. Guardar comida é punido com a morte pelo frio ou calor – algo que Goreng descobre rapidamente ao separar uma maçã.


Isso, então, nos remete a quem? Michel Foucault. Se você não for familiarizado com o livro “Vigiar e Punir”, o filósofo resgata um conceito do séc. XVIII primordial para o entendimento de “O Poço”: o Pan-óptico. Do grego “o que tudo vê”, o Pan-óptico é uma construção arquitetônica disposta de maneira em que todas as celas e todos os presos fossem vistos por um só vigilante. É a ideia utópica da cadeia, a vigilância absoluta. Em “O Poço”, essa utopia é real. Há uma força onipresente, capaz de punir qualquer um que quebre a lei fundamental de lá – e não engrossa apenas o caráter físico, mas também o psicológico: uma figura divina que sabe de tudo aumenta a claustrofobia e força seus presos a jogarem o jogo.

Outra característica da prisão é que, todo mês, os presos acordam em um andar diferente. Trimagasi diz que o 48º é ótimo pois a comida ainda chega até lá, afirmando que já esteve em níveis bem mais baixos onde a fome era a única companhia. “O Poço” é um filme de terror, e as imagens criadas pela forma de distribuição da comida são efetivamentes repulsiva: Trimagasi imediatamente devora as sobras tocadas, mastigadas e cuspidas por – atualmente – 94 pessoas sem pensar duas vezes. O design de produção é um dos maiores aliados na geração da atmosfera, criando um banquete capaz de causar ânsia no espectador quando os personagens comem os frangos em pedaços e bolos com cobertura de saliva em pratos imundos. É um contraste enorme entre o que chega no andar dos personagens e o que é feito no andar nº 0, uma cozinha cinco estrelas.

Os únicos poderes que os presos possuem são: eles podem matar o companheiro; eles podem se matar, pulando pelo poço, por exemplo; e eles podem controlar como a comida chegará no andar de baixo. Um dos atos mais grotescos de todo o roteiro parte de Trimagasi, que cospe e urina na comida antes de a plataforma descer. É uma atitude atroz, que condena sem volta todo mundo dali para baixo. Quando questionado por um revoltado Goreng o motivo da atitude, Trimagasi responde: “os de cima provavelmente fizeram o mesmo”.

Essa suposição, que está longe de ser absurda, é baseada no viés misantropo da película: somos seres terrivelmente egoístas. Contanto que nossas necessidades sejam atendidas, os outros não importam mais. Goreng compartilha do sentimento altruísta, e encontra um reforço quando uma mulher tenta conscientizar os presos de outros andares a dividir a comida de maneira igualitária, mas é tudo em vão. O sistema tem uma maneira bem suja de corromper quem está dentro: com a mudança de andares todos os meses, você pode sair de um nível “confortável” e parar em algum onde passará fome. Se eu estou em um andar que chega comida, eu comerei o máximo possível, pois próximo mês posso não ter mais essa regalia. Difícil argumentar contra essa ideia, e basta uma pessoa para arruinar toda a conscientização das outras na divisão do alimento – uma comendo mais o que deve, alguém não terá.

Na metade da exibição descobrimos que os pratos feitos no andar nº 0 são baseados nas escolhas de cada um dos presos, e que haveria comida o suficiente para alcançar todos os andares – que são exatamente 333. Quando acorda no andar nº 122, Goreng vê que a comida há muito tempo acabou, e ali nem é a metade da estrutura – exatamente como no mundo real, que produz alimentos o suficiente para toda a população mundial, e mesmo assim a fome é um problema sólido. Engraçado notar que, no andar 122, Trimagasi amaldiçoa a todos os de cima por comerem tudo o que a plataforma carrega, no entanto, quando está em cima, não pensa duas vezes antes de fazer exatamente o mesmo que viria a condenar. É um círculo vicioso e asqueroso de hipocrisia. O que resta para as centenas de pessoas dali para baixo? Definhar de fome o resto do mês, suicídio ou canibalismo. É claro que a obra não é discreta em abordar essas opções, em cenas que arrepiam.

O primeiríssimo diálogo do filme é “O mundo é dividido em três tipos de pessoas: aqueles que estão no topo, os que estão no fundo, e os que caem”. Não apenas uma definição bem literal da prisão, a fala é uma ilustração perfeita do sistema. Os que estão no topo estão confortáveis, afinal, conseguem comida. Os que estão no fundo querem desesperadamente mudanças. E há os que caem. Sejam os que se atiram poço abaixo ou Goreng, que decide descer pela plataforma para chegar até o último andar e subir até o nº 0 quando a plataforma retornar seu trajeto.


Segundo Foucault, o poder é uma força vertical, exercida de cima para baixo, e atravessa todos os espaços existentes na sociedade. "O Poço" é a construção cinematográfica dessa definição – bem ao pé da letra quando abraça a ideia do “vertical”. Então, os que estão em cima dessa estrutura não querem mudanças, pois jamais abdicarão seus poderes; os que estão embaixo não possuem recursos para produzir essa mudança; e os que caem são os que arriscam tudo para tentar quebrar o status quo. É claro que todos esses conceitos geram várias teorias para explicar a mitologia do longa.

Uma das mais interessantes é que ali seria o intermédio entre o Paraíso e o Inferno. O número de andares não pode ser por acaso: se existem 333 pisos, com duas pessoas em cada um, 666 estão ali dentro, o número do Diabo. Quanto mais abaixo, mais próximo do Inferno você está. A perfeição do andar nº 0 remete à glória de deus ao fazer suas criações, irretocáveis em todos os detalhes. Ele provém tudo que todos precisam e todos poderiam desfrutar do Reino do Céu (o prato favorito de cada um, o único luxo disponível), mas o homem em toda sua ganância está pronto para destruir. Os presos estão ali sendo testados, indo do Céu ao Inferno em busca de uma maneira que os una. Porém, como diz Goreng, nenhuma mudança é espontânea.

Era de se esperar que o final da obra não trouxesse algo conclusivo. Deixando o espectador tirar suas próprias conclusões e imaginar o destino dos personagens, há um problema latente da maneira que o filme escolheu amarrar seu desfecho: ele cria uma sensação de que há algo maior do que realmente existe. Há todo um reforço na ideia de uma “mensagem” a ser levada até o andar nº 0, como se fosse algo enviado pelos deuses ou um simbolismo folclórico além da superfície do ecrã, o que é uma perfumaria bem desnecessária. Parece que o roteiro tem medo de assumir a simplicidade do seu final e tenta torna-lo mais grandioso do que realmente ele é.

Por se tratar de uma produção espanhola, “O Poço” impressiona pelo requinte técnico – e é a estreia do diretor Galder Gaztelu-Urrutia, mais um motivo para potencializar a boa realização da película. Longe de estúdios bilionários de Hollywood, a concepção visual da trama é realizada fantasticamente; quase inteiramente filmado em um único cômodo, os efeitos especiais são essenciais para a imersão da plateia diante da estrutura, seja nos momentos em que a plataforma magicamente atravessa os pisos, seja nos takes que mostram o quão grande é o poço. E isso reflete também na própria concepção ideológica do todo.

As discussões de “O Poço” soam óbvias – é só você ler a sinopse que a fundamentação central da fita estará presente. Sim, esse é um filme que quer mostrar como a estruturação do Capitalismo é falha, desumana e cruel – e provavelmente você, proletariado, já sabe disso. Do adestramento do corpo pelas prisões à distribuição desigual de recursos, a metáfora cinematográfica do filme preenche todos os requisitos esperados, todavia, há muito mais a ser percebido ao instigar debates sobre as relações entre diversas cenas e o panorama da sociedade contemporânea, uma das melhores funções da Sétima Arte. Uma mistura de “O Cubo” (1997), “Jogos Mortais” (2004) e “O Anjo Exterminador” (1962), “O Poço” é uma alegoria brilhantemente terrível da natureza humana que gera indagações ao mesmo tempo que executa um trabalho de gênero delicioso.

Obs.: parabéns para a Netflix pelo timing assustador ao lançar um filme sobre a importância da divisão de mercadorias exatamente no meio de uma pandemia que causou desinformação e panic buying, esgotando produtos que poderiam ser divididos igualmente. Você aí conseguiu encontrar álcool em gel em algum lugar?


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Análise: o Globo de Ouro 2020 nos mostra que Hollywood ainda não engole a Netflix

A 77ª edição do Globo de Ouro aconteceu na noite do último domingo (6) e abriu oficialmente a temporada de premiações televisivas em Hollywood, que consiste em cinco grandes noites: o Globo, o Critics' Choice, o Satellite, o BAFTA e, claro, o Oscar, o maior e último da temporada. Precisamos entender alguns pontos.

Ainda há uma grande impressão que o Globo de Ouro é um termômetro definitivo para o Oscar, o que não é bem verdade. Já começa pelo fato de que as duas premiações são realizadas por organizações diferentes: enquanto o Globo é feito pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, o Oscar é realizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Enquanto a primeira possui 90 membros - jornalistas do mundo inteiro -, a Academia tem mais de 6 mil.

Outro motivo para diminuirmos a ideia de "termômetro" é o posicionamento das premiações no calendário. O Globo é realizado enquanto nem ao menos os indicados ao Oscar foram divulgados, ou seja, eles já premiam seus favoritos antes mesmo do Oscar dizer quem vai para sua corrida. Se olharmos para essa década, cinco vencedores do Oscar de "Melhor Filme" perderam uma das três categorias principais no Globo ("Melhor Filme Drama", "Comédia" ou "Estrangeiro"), ou seja, a metade: "A Forma da Água" em 2018, "Spotlight" em 2016, "Birdman" em 2015, "O Discurso do Rei" em 2011 e "Guerra Ao Terror" em 2010.

Pois bem. Entre tantas divergências, há uma semelhança que o Globo de Ouro 2020 deixou gritante: Hollywood não está interessada em premiar a Netflix. Na temporada de 2019, o grande favorito ao Oscar de "Melhor Filme" era "Roma". O filme de Alfonso Cuarón estava sendo amplamente celebrado na indústria, mesmo sendo em língua não-inglesa, e todos apontavam como o primeiro filme estrangeiro a vencer a maior categoria na história.............mas veio a premiação e quem levou foi "Geen Book: O Guia". Qual seria o maior motivo para isso? "Roma" é da Netflix.

A atual temporada, curiosamente, possui vários filmes da plataforma como grandes candidatos ao careca mais cobiçado do mundo, como o próprio Globo nos mostrou. Dos 10 indicados a "Melhor Filme", quatro eram da Netflix - com três deles na categoria de "Drama". Com 40% de chances de vitória, com outros estúdios dividindo as outras posições, tudo levava a uma estatueta na estante da produtora, porém, como a imagem abaixo revela, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood deixou claro seu posicionamento.


Todos os quatro filmes da Netflix foram chutados. É verdade que "Meu Nome é Dolemite" não era, nem de perto, o favorito em "Comédia", que não surpreendeu ao dar para "Era Uma Vez em Hollywood", contudo, foi um choque "1917" levando em "Drama". Entre os cinco indicados, o filme de guerra de Sam Mendes era o menos cotado, ficando muitíssimo atrás de "Dois Papas""História de Um Casamento" e, principalmente, "O Irlandês", a maior aposta da noite.

A zebra foi tão grande que "O Irlandês" levou o montante de ZERO prêmios, algo que ninguém esperava. Ao todo, a Netflix conseguiu apenas uma categoria em Cinema, "Melhor Atriz Coadjuvante" para Laura Dern em "História de Um Casamento" - e nem é necessário discorrer sobre como um prêmio em 17 indicações (com favoritismos) é um alerta.

A escolha do Globo, de abertamente esnobar a Netflix, é um desejo em preparar o terreno dentro da indústria para as próximas premiações - o que nem sempre dá certo, como no caso de 2017 quando "La La Land" levou TODAS as sete categorias indicadas e perdeu o Oscar de "Melhor Filme". O que a organização quer dizer para o que vem em seguida é: "Temos escolhas que não sejam da Netflix". "1917" levando "Melhor Filme Drama" e "Melhor Direção" (outro choque que até mesmo o diretor não acreditou) é um apelo para colocar o filme em posição de destaque, a fim de diminuir o peso dos selecionados pela Netflix.


Mas, afinal, por que há tanta resistência à plataforma? Para um filme ser elegível às premiações, ele deve estrear por, no mínimo, uma semana em solo norte-americano (em Los Angeles de preferência, pois a maioria dos votantes está lá). A Netflix costumava lançar seus longas diretamente no catálogo em stream, mas, com a visibilidade de "Roma", passou a mudar o jogo. Em 2019, indo atrás das grandes redes de cinema do país, fez uma proposta de até um mês de exclusividade (antes de jogar os filmes na plataforma) e foi sumariamente negada: as redes só aceitam, no mínimo, três meses de exclusividade. Ela, então, decidiu cancelar as negociações, deixando seus filmes de fora das maiores redes.

A indústria vê essa decisão da Netflix como um privilegiamento do streaming - ao não querer demorar a disponibilizar suas obras para quem paga o catálogo, a Netflix enfraquece o ato de ir ao cinema. Caso suas exigências fossem aceitas, o cinema como conhecemos sofreria grandes mudanças já que o stream seria o principal foco, e é claro que não é isso que a indústria quer. Válido lembrar do ataque de Steven Spielberg no começo do ano, que é severamente contra ao modo que a Netflix não aceita as mesmas condições que todos os estúdios aceitam para disputar prêmios - Spielberg até mesmo fez enorme campanha para "Green Book" derrotar "Roma" no Oscar 2019, e foi o que aconteceu. A plataforma chegou a se pronunciar, apontando que o streaming facilita o acesso à arte.


Além disso, a Netflix surge com campanhas cada vez maiores - a de "Roma" custou 50 milhões de dólares, a maior da temporada - a fim de driblar as restrições de distribuição e colocar seus escolhidos nos postos mais altos. Se o Oscar 2020 seguirá os passos do Globo de Ouro, temos que esperar para ver, porém, é o caminho que parece mais certo. Vamos concordar que poderiam premiar "Parasita" e acabar com qualquer briga, pois é o melhor filme da temporada em qualquer uma das categorias.

Crítica: “Dois Papas” aparenta ter sido pensado na hora que ligaram as câmeras

É bastante gratificante ver como Fernando Meirelles está aumentando seu portfólio na indústria após ser o primeiro diretor brasileiro a ser indicado ao Oscar de "Melhor Direção" pela obra-prima "Cidade de Deus" (2002) - que é co-dirigido pela Kátia Lund, injustiçada ao ser sempre esquecida na ficha do filme (ela nem ao mesmo foi indicada ao Oscar). Ele dirigiu os hits "O Jardineiro Fiel" (2005) e "Ensaio Sobre a Cegueira" (2008), todos no seio de Hollywood, vendo seu mais novo longa, "Dois Papas" (Two Popes), sendo produzido e distribuído pela Netflix.

É válido entrarmos na discussão sobre a plataforma e seu posicionamento diante da temporada de premiações. A Netflix em 2019 está no apogeu dentro do circuito da Sétima Arte, vendo quatro dos 10 indicados a "Melhor Filme" no Globo de Ouro 2020 sendo originais seus - "História de um Casamento", "O Irlandês" e "Dois Papas" em "Drama"; "Meu Nome é Dolemite" em "Comédia", um feito histórico. Mesmo "Dois Papas" não encabeçando a campanha - a plataforma tem focado bem mais em "História" e "O Irlandês" -, "Dois Papas" tem encontrado seus adeptos.

A obra começa com a morte do Papa João Paulo II em 2005. Os líderes da Igreja Católica partem para o Vaticano a fim de elegerem o novo papa, e a disputa está entre dois nomes: o alemão Bento XVI (Anthony Hopkins) e o argentino Francisco (Jonathan Pryce). Quem vive em um contexto católico já sabe o resultado: Bento XVI vence a eleição.

Por ter um núcleo no Vaticano com pessoas de absolutamente todos os cantos do planeta, é importante avaliar como é o uso da língua, afinal, todo mundo falando um inglês sem sotaque à la uma novela da Glória Perez não denotaria cuidado. Como era de se esperar, há uma pá de cenas em italiano, porém, Pryce sofre quando entra na língua materna de seu personagem. Francisco é argentino, no entanto, Pryce não fala espanhol. A solução foi dublar todas as suas falas na língua, o que é gritantemente artificial. A mixagem de som nas cenas em específico é tão desregulada que é quase impossível manter a atenção no que está acontecendo, principalmente quando há outros atores falando um espanhol verdadeiro. 


Para piorar ainda mais, a produção tenta esconder a falta de sincronia entre a boca de Pryce e a dublagem entupindo as cenas com milhares de cortes e colocando o ator atrás de pessoas, portas, janelas e o que tiver pela frente. Há um momento que Francisco caminha por um mercado e, o que seria uma sequência simples (ele apenas conversa e sai do local), é exagerada ao extremo com cortes, ângulos e movimentos para driblar a dublagem, tudo em vão.

Então o """estilo""" é arrastado em diversas outras cenas. Há duas sensações quentíssimas a partir disso: a primeira é que o filme se esforça herculanescamente na dificultação de cenas que são simplórias, no intuito de parecerem mais intricadas; a segunda é que não havia uma ideia fixa e bem definida da estética imagética da obra na pré-produção, sendo feita na hora que as câmeras eram ligadas. Na primeira conversa entre Bento e Francisco na residência papal, anos depois da eleição de Bento, os dois fazem um passeio pelo jardim do lugar, e a câmera vai para ângulos e enquadramentos totalmente aleatórios, sem uma fluidez para o que mais importa, que é o texto. Parece bem mais que as escolhas são feitas pela beleza das locações - que são incríveis - do que unir o visual com o narrativo. É gratuito um corte estar no rosto dos personagens e partir do nada para um ângulo aéreo e depois para atrás de um arbusto (?).

O cerne de "Dois Papas" habita na relação entre os dois personagens títulos. A película não demora em definir o posicionamento da dinâmica entre os dois homens, quando Francisco está no banheiro assoviando a melodia de "Dancing Queen" do ABBA, música que Bento jamais havia ouvido - e a fita não perde a oportunidade e coloca a cena da votação embaixo da música, um anacronismo bem charmoso. Inclusive, essa cena da votação, logo no início da sessão, é a melhor de todo o filme pela montagem ágil e energética, e a fotografia belíssima, que foca no contraste entre o branco sacro da Capela Sistina com o vermelho das vestes dos votantes. É aqui que as escolhas são corretas, porém, a sequência diverge de basicamente todas as outras em termos de composição e ritmo, então o que funciona aqui não funciona no resto.

A beleza real do longa é a dicotomia entre os personagens, uma dupla que é feita com arquétipos nada novos, mas que são eficazes. De um lado temos Bento XVI, o papa velho, doente e reacionário, contra Francisco, o novo e (dentro dos enormes limites da religião) revolucionário papa que diz que o perdão ajuda o pecador, não a vítima, enquanto assiste futebol e acha que cada gol é um presente do altíssimo. Suas composições são reflexos do status vigente da igreja: Bento enfrenta o escândalo dentro do Vaticano sobre corrupção e pedofilia. Sua instituição está tão falida quanto sua pessoa, e todos precisam do frescor de um novo papa e uma nova igreja, com ideias mais coerentes com a sociedade atual, e esse é Francisco.

Francisco almeja sua aposentadoria do sacerdócio, todavia, o único que tem o poder de conceder tal desejo é o próprio Papa, e Bento se nega veementemente. Seus motivos são revelados quando ele começa a se familiarizar com o "rival": ele quer que Francisco o substitua quando anunciar sua renúncia, um escândalo por si só - um papa não renunciava o cargo há mais de 700 anos. O roteiro é uma repetição dessa teimosia, cada um querendo algo que anula o desejo do outro, e o impasse cansa já na metade do filme.


Falando na duração, "Dois Papas" tem 125 minutos, o que é bastante sólido. Entretanto, pelo menos meia hora poderia ter sido deixada de lado. No segundo ato, o filme literalmente interrompe seu plot central para acrescentar um paralelo: Francisco não se acha digno do posto de papa pelo o que ocorreu durante a ditadura militar argentina. São 25 minutos de flashbacks remontando o que gerou essa mácula no homem, e este outro filme destoa completamente do que "Dois Papas" realmente é. Os rumos vão ladeira abaixo com o típico mote aula-de-história-na-tela, e só comprova o erro que é essa bagunça de decisões sem firmeza dentro da produção.

O roteiro adentra demais em um período histórico da Argentina que não tem o peso compatível com o espaço dado a este período. É interessante vermos o passado de Francisco para ilustrar o que o fez ser tão diferente de Bento XVI, principalmente quando aborda o passado na ciência do homem, só que nada é capaz de render misericórdia para uma mudança tão brusca de narrativa. Além disto, chega a ser cômico como o texto de Anthony McCarten (escritor do livro que o filme se baseia e do roteiro de, eeeeerrrrr, "Bohemian Rhapsody", 2018) é recheado de sacadas para ser inteligente. É verdade que alguns diálogos são bem inspirados - o da construção de muros ao redor da igreja, por exemplo -, mas é muito forçado o uso de pontuações gratuitas para serem usadas em outros momentos só para parecer que o roteiro foi pensado de maneira abstrua - como a fala de Bento sobre a fumaça de uma vela que previsivelmente será usada em outro momento.

O que faz "Dois Papas" ser minimamente assistível é a atuação fantástica da dupla protagonista. Tanto Hopkins quanto Pryce são majestosos na pele dos papas que não se bicam, e assusta como ambos são parecidos com os papas reais - Pryce é a cópia do Papa Francisco, até nas cenas com imagens reais dá para gerar uma dúvida. Mesmo em cenas que não possuem tanto brilho, suas performances fazem tudo valer a pena, e não havia possibilidade de esperarmos algo diferente. Meirelles, que dirige com tropeços o longa, não precisa nem suar para retirar o melhores dessa dupla monstruosa.

Entre diversos erros de produção, um grande acerto de "Dois Papas" é não tomar partido a partir da exposição da fé de seus personagens. Aliás, há um esvaziamento de um sentido real da instituição ao mostrar que o sentido é inventado - são homens discutindo o que deus havia lhes incumbido e, assim, moldado o rumo de uma legião. No entanto, se o argumento é a exposição de brigas de poder versus a santidade do cargo, "Dois Papas" na verdade é uma cinebiografia caótica e mal feita que visa santificar o nosso atual e humilde papa, que recusa a pompa da posição, liga ele mesmo para a companhia de aviação para reservar uma passagem e toma Fanta laranja com pizza recém ungida.

Crítica: está tudo bem se você for ao banheiro no meio de “O Irlandês”

Indicado a 10 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Roteiro Adaptado
- Melhor Ator Codjuvante (Al Pacino)
- Melhor Ator Codjuvante (Joe Pesci)
- Melhor Design de Produção
- Melhor Fotografia
- Melhor Figurino
- Melhor Montagem
- Melhores Efeitos Visuais

* Crítica editada após o anúncio dos indicados ao Oscar 2020

Quando pensamos no corpo de trabalho de um diretor, caso ele tenha um estilo bem característico, conseguimos definir do que seu cinema é feito. Alguns exemplos? Wes Anderson e seus filmes coloridíssimos e simétricos; Yorgos Lanthimos e seus filmes estranhos e sarcásticos; Spike Lee e seus filmes engajados e políticos, Sofia Coppola e seus filmes melancolicamente femininos; e por aí vai. Mas é curioso quando olhamos sobre Martin Scorsese.

A filmografia scorseseana é geralmente resumida por "filmes de máfia". Nos mais de 50 anos de atuação, o diretor passeou por uma enorme gama de temas, como "Touro Indomável" (1980), "Depois de Horas" (1985), "A Última Tentação de Cristo" (1988), "O Aviador" (2004), "Ilha do Medo" (2010), "A Invenção de Hugo Cabret" (2011), "O Lobo de All Street" (2013) e "Silêncio" (2016), todos bem diferentes um dos outros. Contudo, é inevitável apontar a temática gangster como a mais predominante em sua carreira - suas obras mais famosas e premiadas foram as desse mote, inclusive rendendo o único Oscar de "Melhor Direção" para Scorsese.

Então, mesmo não sendo assertivo resumir Scorsese com filmes de máfia, não é lá uma definição tão errada. "O Irlandês" (The Irishman) não me deixa mentir. O filme, inclusive, traz um dos maiores nomes na construção da fama do diretor: Robert De Niro (protagonista de "Touro Indomável" e "Taxi Driver", 1976) na pele de Frank Sheeran, um motorista de caminhão envolvido no crime organizado na Filadélfia dos anos 50. Pesadamente inspirado em fatos e indivíduos reais, a estrutura do filme não é linear, começando com Frank no fim da vida em um asilo contando o que o levou até ali.

Por possuir uma estrutura que caminha entre o tempo, o filme encontraria uma grande empecilho: De Niro, que atualmente possui 76 anos, não teria como interpretar as versões mais novas de seu personagem - assim como outros atores em cena. A solução foi um rejuvenescimento à base de efeitos visuais. O CGI é utilizado com muita precisão, sendo quase imperceptível e mantendo as expressões faciais dos atores, um dos maiores riscos da utilização da técnica - e que explica os 160 milhões de dólares em orçamento, um número altíssimo, principalmente levado em conta que o filme foi distribuído na Netflix, ou seja, sem bilheteria (com exceção do lançamento limitado nos cinemas como parte do processo de submissão ao Oscar - para ser indicado, o filme tem que sair nas salas por pelo menos uma semana).

E falando em Netflix, a plataforma está sedenta por um careca dourado. No Oscar 2019, chegou bem perto com "Roma" (2018), que viu o prêmio de "Melhor Filme" escorrer de suas mãos com uma Academia que ainda olha torto para obras vindouras do streaming. Em 2020, a Netflix vem com força total, tendo os dois maiores nomes da temporada: "O Irlandês" e "História de um Casamento" (2019). A gigante não perdeu tempo em comprar os diretos de distribuição de ambos - ainda investindo milhões na produção de "O Irlandês", visando, não podemos mentir, ser a primeira plataforma de stream a ter um Oscar na estante. Por enquanto, parece que o caminho está trilhado.


Pois bem. "O Irlandês", que foi eleito o melhor do ano pela National Board of Review e recebeu incríveis 14 indicações ao Critics' Choice 2020, um recorde na história da premiação repetido apenas por "A Forma da Água" (2017) e "A Favorita" (2018), resgata o estilo que viu o apogeu nos anos 70 - tanto "O Poderoso Chefão" (1972) quanto "O Poderoso Chefão: Parte II" (1974) venceram "Melhor Filme" na década. Então, sim, é tudo o que esse cinema hollywoodiano de ação mafiosa já nos entregou ao longo da história. E mais: são 3:30h de filme.

Esses pontos aqui renderam inúmeras discussões pela internet, com um crítico fazendo um post no Twitter sobre como assistir a "O Irlandês" como se fosse uma minissérie, dividindo o filme em quatro partes (que, levanto a mão, foi o que fiz). Do outro lado, o Pablo Villaça (um beijo para ele) virou meme quando disse que deveríamos assistir às 3:30h sem parar, não podendo nem ir ao banheiro, para não quebrar o "ritmo da narrativa". Villaça, perdão, mas eu falhei. O que esses dois extremos têm a nos dizer?

Como apontei na crítica de "História de um Casamento", cinema é passível de gostos. Sabe aquele seu amigo que venera qualquer filme de super-herói enquanto você acha um saco? Pois é. Quanto mais afunilado for o estilo, gênero ou molde de uma obra, mais de "nicho" ela será. É o caso de "O Irlandês". Villaça, que tem como filme favorito "O Poderoso Chefão", não surpreende quando ama "O Irlandês", que entrega tudo o que "Chefão" entregou. Para ele, acompanhar os 209 minutos ininterruptamente faz parte das rotinas de apreciação que ele tem pelo mote, o que, de acordo com a enxurrada de comentários acerca, não é a realidade de todo mundo.

O que eu quero dizer é: se você gosta de filme de máfia, esse momento é seu. Caso contrário, "O Irlandês" será um desafio, e é aqui que eu me enquadro. É impossível saber os valores de um filme de máfia caso você não aguente nem ouvir falar sobre? Não, contudo, o gosto da sessão com toda certeza não será tão doce. Admito que me peguei me obrigando a assistir ao filme, que, querendo ou não, é um evento para a Sétima Arte, e, dividindo entre vários dias (calma, Villaça), consegui chegar até o fim. O que posso dizer sobre "O Irlandês"?

O roteiro, escrito por Steven Zaillian, vencedor do Oscar pelo roteiro da obra-prima "A Lista de Schindler" (1993) e especialista em adaptar livros complexos, se atém demasiadamente nos fatos históricos que circulam os eventos do filme. Por trazer personagens reais e fincados num contexto político, há um background da política norte-americana e como ela impacta a vida dos personagens, como a eleição (e morte) de JFK. Então é laborioso escapar da sensação de que estamos assistindo à uma aula de história na tela, mas já garante pelo menos a atenção dos EUA, absurdamente egoicos e prontos para jogarem confetes em qualquer fita que trate sobre, bem, eles mesmos.


Há três vertentes de narrativa dentro do filme. A primeira é quando temos Frank recontando sua vida e quebrando a quarta parede, afinal, ele está falando diretamente com o público. A segunda trata-se da remontagem das falas de Frank, com uma narração e cenas de acordo. Essa é a pior escolha do filme. Feita sempre com uma colagem de micro cenas que duram segundos e que não esperam a plateia assimilar o que está acontecendo, ainda tem a narração e inúmeros personagens entrando e saindo de cena. Em várias dessas sequências eu me via incapaz de entender o que estava acontecendo, soando ainda pior quando havia o contexto histórico jogado em cima de tudo. A terceira é a salvação do dia: quando a presença do Frank idoso sai de cena para uma narrativa convencional.

Aqui, as cenas são compridas e finalmente podemos adentrar no desenvolvimento da trama. E os diálogos, ah, os diálogos... Encontrando maior espaço na parte central da duração, os diálogos são deliciosos, como a briga de Jimmy Hoffa (o lendário Al Pacino) com um mafioso que chegou cinco minutos atrasado para uma reunião. Sem toda a baboseira e falatório, se atendo especificamente nos personagens centrais, o filme mostra a que veio.

E esses momentos informam sem sombra de dúvida o quanto as atuações do trio central são fenomenais. De Niro e o Russell Bufalino de Joe Pesci são os peões silenciosos que conduzem a orquestra, todavia, Al Pacino é o verdadeiro protagonista de "O Irlandês". Não por ter o maior tempo em tela, mas por preencher cada quadro em que aparece com sua fenomenal atuação. É uma satisfação ver o ator, que já viveu tantas glórias, voltar ao topo após sofrer com escolhas desastrosas nessa década - deixo aqui uma cena de "Cada um tem a Gêmea Que Merece" (2011) para ilustrar o que chamo de "desastre", que lhe rendeu o Framboesa de Ouro de "Pior Ator Coadjuvante" pelo papel e apontava o declínio de sua carreira.

Um dos elementos a ser tópico de discussão sobre o filme foi como as mulheres são retratadas: elas basicamente inexistem. Scorsese, um homem branco, realiza seus filmes lotados de homens brancos, o que faz sentido - ele dirige o que está próximo de sua realidade. No entanto, me assustei ao ver que Anna Paquin, vencedora do Oscar, aceitou um papel que, não estou exagerando, não fala 10 palavras. Ela, como a versão adulta da filha de Frank, tem cena após cena sem um mísero diálogo, ganhando voz por cinco segundos no ato final. A atriz saiu em defesa do papel e se disse lisonjeada por estar em um filme do diretor, que é inegavelmente um dos maiores das história, mas não faz sentido reduzir a personagem a nada - e ela ainda chegou a receber indicação de "Melhor Atriz Coadjuvante" em algum dos distritos de crítica no EUA; caso ganhe, será o menor esforço da história a render um prêmio.

"O Irlandês", se olhado de cima do nicho que se enquadra, é uma realização competente que nada difere dos padrões elevados já impostos por Martin Scorsese ao logo das décadas. Traz algo de novo para sua filmografia? Não exatamente. A partir disso, pela sua temática e sua duração, o apreço vai muito da maneira como cada um enxerga os elementos, apesar de itens intocáveis como o aparato técnico e as atuações de primeira linha. Esse é um filme que coloca a subjetividade à flor da pele quando uns o enxergam como um épico sobre moralidades rachadas e brigas de poder, enquanto o mesmíssimo material para outros (e aqui me sento) denota pouco além do letárgico. Mas o mais incompreensível é pensar que Anna Paquin saiu de casa para isso.

A gente ligou pro Ian Somerhalder, de Vampire Diaries, pra falar sobre sua nova série na Netflix, “Apocalipse V”


Ian Somerhalder está de volta às telas! O ator que ficou mundialmente conhecido ao dar vida ao vampiro Damon Salvatore está de volta ao mundo dos vampiros na série "Apocalipse V (V-Wars)", nova aposta da Netflix.

Ian interpreta o Dr. Luther Swan, um humano que busca a cura para uma doença misteriosa, responsável por transformar as pessoas em vampiros. Em entrevista ao It Pop, o ator fala animado sobre a nova produção é sua diferença com outros projetos que já participou.

“Estou tão animado para interpretar um personagem que seja uma boa pessoa,  que tem os superpoderes certos. Um cara legal,  que é um bom marido, um bom cientista. O que para mim é ter um super poder.  Aprendi muito com esse papel, principalmente que a audiência não quer um herói  comum, querem ver algo extraordinário, algo especial”. disse Ian.

Apesar do universo vampiresco, não espere por nada sobrenatural. Ian conta que a série trata de assuntos atuais da nossa sociedade, como as mudanças climáticas, refugiados, racismo, crises políticas, entre outros assuntos importantes, o objetivo é levantar o debate de questões sociais global.

Sobre estar de volta às telas depois de tanto tempo Ian comenta:  “É muito incrível estar de volta. Não  estive em frente às câmeras há muito tempo. O que me deixa ainda mais animado para que as pessoas vejam a série e possam conferir que é um projeto maravilhoso”.

O ator também se aventurou em outras áreas da série, dessa vez produzindo e dirigindo um dos episódios.  "Foi uma jornada incrível com uma equipe incrível que montamos. E isso é ótimo para aprendizado." comenta. Quando questionado sobre os planos de dirigir algo sozinho ele completa: "Não pretendo ser um Quentin Tarantino ou Soderbergh, mas só me vejo envolvido em projetos que posso estar presente em todo o processo criativo". 

A série é baseada em uma graphic novela com o mesmo nome "Apocalipse V".  "Existem cinco livros neste momento, isso mostra a quantidade de histórias que podemos extrair do material de original, o que é incrível. Isso foi o que realmente me atraiu para fazer parte do projeto. Quando você começa a ler entende o universo rico em que esta inserido. Esse é um dos motivos que incentivando as pessoas a assistir, porque preciso que as pessoas assistam a primeira temporada para entrar na segunda temporada." Comenta Ian. Não vamos deixar nosso ex-vampiro, agora herói decepcionado né?

Nós do It Pop já começamos a maratonar a série, e você? Confira o trailer e corre para ver também:

Crítica: a D.R. de “História de um Casamento” conquista por abraçar o universal

Atenção: a crítica contém detalhes da trama.

Indicado a seis Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Ator (Adam Driver)
- Melhor Atriz (Scarlett Johansson)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Laura Dern)
- Melhor Trilha Sonora

* Crítica editada após o anúncio dos indicados ao Oscar 2020

Noah Baubach é um dos maiores expoentes do cinema indie norte-americano na atualidade. Seja pelos seu roteiros (ele co-escreveu "A Vida Marinha com Steve Zissou", 2004, e "O Fantástico Sr. Raposo", 2009, com Wes Anderson), seja pelos seus próprios filmes (como o clássico independente "Frances Ha", 2013, protagonizado pela sua esposa e cristal do cinema, Greta Gerwig), há muito tempo Baubach encontra o carinho do público e crítica, mas nunca antes como com "História de um Casamento" (Marriage Story).

Charlie (Adam Driver) comanda e dirige uma companhia de teatro em Nova Iorque, e tem como estrela de suas peças a sua esposa, Nicole (Scarlett Johansson) - teve um déjà vu? Só que a relação nos palcos não reflete mais a relação doméstica, e o casal decide se separar. Como prominente atriz, Nicole é escalada para uma série em Los Angeles, e vai até lá com o filho, o que transformará uma pacífica separação em uma guerra judicial.

O longa espertamente é aberto com um voice-over do casal, contando os meandros do outro e todos os detalhes que os fizeram se apaixonar. É muito divertido acompanhar a dicotomia dos dois, e impossível não projetar para nossas próprias vidas, afinal, estamos em constantes relações com pessoas que inevitavelmente terão diferenças drásticas com o que somos. E essa é a magia da coisa. O que parecia um apaixonado início é brutalmente cortado: os textos são cartas que cada um teve que escrever na terapia, só que Nicole se recusa a ler a dela em voz alta. O público é o seu cúmplice.

Com cada um vivendo em cidades diferentes, o trabalho é o motivo para, civilizadamente, justificar o afastamento (emocional e geográfico) dos dois - uma peça de Charlie está indo para a Broadway e as gravações de Nicole começaram. Havia um acordo entre eles: não seria preciso a intervenção de advogados no divórcio, com uma camaradagem expressiva entre eles, até mesmo na divisão dos bens, só que Nicole quebra o acordo e contrata Nora (Laura Dern), advogada especialista em separação que mudará toda a dinâmica do jogo.


Charlie fica consternado quando recebe a intimação judicial, sem entender o que levou a ex-esposa a tomar tal decisão. O roteiro diabolicamente não entrega a resposta de imediato, quase transformando Nicole na vilã da história, contudo, há um motivo, e dos bons: ela descobriu que Charlie a traiu. É claro que cada um tem uma "justificativa" que tenta anular a reação do outro, em uma das melhores cenas de toda obra, quando os dois aos berros vomitam suas mágoas e procuram atacar da forma mais baixa possível o outro. E note o trabalho belíssimo de fotografia e montagem, abrindo a cena com um enorme plano e gradualmente fechando até focar no rosto transtornado do casal.

Uma das nuances mais corretas de "História de um Casamento" é não se limitar em ser somente um olhar sobre uma relação em ruínas. Há um forte estudo sobre o que é essa instituição que chamamos de casamento e qual o papel de homem e mulher dentro dele. Tudo é jogado ao máximo quando inserido no contexto da advocacia, que tem como base o uso desses papéis no grande jogo de convencimento jurídico. Nicole jamais pode transparecer ser uma esposa ruim, pois isso a configuraria como uma mãe ruim, e a guarda do filho seria perdida. No caso do homem, tal peso inexiste. É aqui que habita, para mim, o melhor diálogo das mais de 2h de sessão, quando Nora dá uma aula sobre a construção social da mulher dentro do relacionamento, lincando com a imagem de Maria, mãe de Jesus, "uma virgem que dá à luz, apoia o filho incondicionalmente e o abraça enquanto ele morre; e o pai nem dá as caras, deus é o pai, deus está no céu e nem aparece!". O Oscar de "Melhor Roteiro Original" já tem dono.

Falando em Dern, uma das maiores cotadas ao Oscar de "Melhor Atriz Coadjuvante" e uma das melhores atrizes em atuação, não há muito o que se falar contra ela, porém, sua personagem é similar demais com Renata Klein, seu papel vencedor do Emmy na série "Big Little Lies" - mas não se engane, ela é ótima em cena, mesmo com uma personagem dentro do molde "advogado ixperto" tão batido no cinema. Adam Driver, que só pode ser escalado para personagens bem específicos, parece transbordar na pele de Charlie, caminhando com imensa segurança entre os momentos dramáticos e cômicos (a cena do canivete). Todavia, "História de um Casamento" é engolido por Scarlett Johansson.

A atriz, que na corrente década caiu de vez nas graças do cinema pipoca - "Os Vingadores" (2008) e todos seus intermináveis filhotes, "Lucy" (2014), "A Vigilante do Amanhã" (2017), etc - entrega a sua melhor atuação do período nessa personagem que exige tanto talento. Há monógolos enormes e coreografados, que são executados com maestria pela atriz, unindo uma exigência enorme para a fluidez de cada cena com o estilo mumblecore que Baumbach adota em seus filmes. De fato, o apogeu de Johansson e a volta para sua boa forma.


A maior cartada de "História de um Casamento" é o realismo a que se propõe. É um filme bem "gente como a gente", tratando de dramas reais com pessoas reais, o que explica o imenso apreço dos espectadores, catapultando o longa como um dos mais ovacionados do ano. Além disso, há esmero na composição de seus indivíduos, enriquecendo ainda mais o universo multidimensional que é a vida dos personagens, contudo, mais uma vez iremos nos debruçar em um elemento seminal de qualquer arte e que muita gente ainda se recusa a aceitar: a  subjetividade.

Entre achar "História de um Casamento" um "filme sobre brancos discutindo a relação" e "uma das mais tocantes histórias do ano" (são comentários reais que li a respeito da película), tudo parte do princípio que cada pessoa irá ser atingida de uma forma diferente pelo mesmo filme. O estilo proposto por Baumbach possui fácil apelo pela proximidade que ele coloca seus mundos dos mundos reais, só que esse é um filme que, daqui a um mês eu estarei na fila da padaria e pensando "nossa, que perfeito"? Não.

Aqui temos o Cinema como contador de histórias do cotidiano, uma das funções seminais da Sétima Arte, e "História de um Casamento" atinge esse objetivo facilmente. É simpático, caloroso e, ao mesmo tempo, emocionante, uma fórmula pronta para arrebatar multidões, no entanto, mesmo tendo abraçado e me apegado ao todo, não é um estilo que me arranque suspiros ou que me devaste; é o mesmo que alguém amar filmes de super-herói, ou de faroeste, ou os "estranhões", ou os de máfia, e por aí vai e está tudo bem. É um ótimo filme que, sendo bem detalhista, não foge à regra de tantos outros com a mesmíssima temática e estilo, como "Cenas de um Casamento" (1973) e a maior referência, "Kramer vs. Kramer" (1979) - até os posteres são parecidos. Soa desconfortável apontar, porém, o apreço circula ao redor da sua preferência estilística - como basicamente acontece com todo filme - mas, no fim do dia, é essa a verdade.

"História de um Casamento" é um filme que deve ser visto pela dissecação palpável do quão complexo somos e como tudo vai para um limite além quando buscamos a utópica máxima de "juntos somos um só" dentro de um relacionamento. A vida de Charlie e Nicole é tão congruente com a vida de vários outros Charlies e Nicoles sentados diante da tela, e as decisões feitas por Noah Baumbach universalizam sua obra a um estágio que pode ser explicado pela sua imensurável aclamação. Assim como não dá para fugir que "História de um Casamento" é feito para fisgar multidões - até mesmo o genérico título, que não denota singularidade, resume a ideia -, não dá para fugir da particularidade de que prefiro muito mais uma fita que extrapole a realidade nas imensas possibilidades que a Sétima Arte nos agracia do que uma que seja expectadora da realidade pura e simples. E isso não é um problema de "História de um Casamento".

Crítica: “El Camino” tem tudo o que há de bom em “Breaking Bad” (mas não o que há de melhor)

Atenção: a crítica contém spoilers.

Caso você esteja chegando agora a esse mundo, um aviso: "Breaking Bad" é a melhor série de todos os tempos. E não é apenas eu afirmando - o seriado de Vince Gilligan está no Guinness Book com o recorde de "mais bem avaliada série da história" - e os vários Emmys são só uma pontinha do sucesso absurdo das cinco temporadas da saga de Walter White no império da metanfetamina.

"Breaking Bad" terminou em 2013 no auge de sua criatividade, e desde então os fãs estão ansiosos para mais um capítulo da insana história (que terminou tão bem), por isso, foi uma grata surpresa o anúncio de "El Camino", filme que dá mais um passo da trama. O filme, lançado pela Netflix, segue o único protagonista ainda existente: Jesse Pinkman (Aaron Paul) - todos os outros ou estão mortos ou já tiveram seus arcos finalizados. No final de "Felina", o último episódio da série, vemos Jesse fugindo e finalmente encontrando a liberdade depois de meses preso, e o resto ficava a cargo da imaginação da plateia.

Agora não mais. "El Camino" vai mostrar o que rolou com o personagem, e começa segundos depois do fim de "Felina". Gilligan sabe o poder que tem em mãos, e já abre seu filme com um flashback com uma das melhores figuras do seriado, Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks). Isso demonstra o óbvio: "El Camino" é um filme para os fãs da série.

Então, caso você nunca tenha visto "Breaking Bad" ou tenha acompanhado de modo esporádico, o filme não fará sentido para você. Ele resgata - propositalmente - diversos personagens e acontecimentos das temporadas passadas a fim de costurar as motivações de Jesse e como ele chegou aonde está. Então a narrativa vai e vem entre períodos distintos da trama, intercalando flashbacks com o presente de Jesse.


Após a fuga, Jesse vai até a casa de seus fiéis escudeiros, Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones), buscando abrigo. Só que o carro que Jesse levou - um El Camino - possui rastreador, o que já está na mira da polícia. Novamente em fuga, Jesse divide uma cena absolutamente calorosa com Pete, que abre mão de todo o dinheiro que possui para ajudar o amigo a fugir. Questionado o motivo de tamanha ajuda, ele responde: "Porque você é meu herói".

O plot principal de "El Camino" é a corrida de Jesse atrás de dinheiro para poder sumir do mapa. Sua ideia é ir até o apartamento de Todd (Jesse Plemons), o único da gangue de neonazistas (presumo que você saiba o contexto aqui) que demonstrava apreço (ou pena) por ele durante o cárcere forçado. Como revela um flashback, Todd guardava seu dinheiro no local, porém, como tudo em "Breaking Bad", a busca pelo dinheiro não será uma ida ao caixa eletrônico. De longe, a melhor cena do filme, toda a sequência, que se desdobra com plot-twists, lembra os auges passados da série, exemplos da genialidade de seu criador.

Todavia, é para assustar que está em "El Camino" o pior momento de todo o universo "Breaking Bad": a cena do duelo. Após muitas idas e vindas, Jesse ainda precisa de dinheiro e vai até a casa de um gangster pedir caridosamente a quantia necessária para sua fuga. O plano já começa não fazendo o menor sentido, no entanto, o roteiro vai ainda mais longe e se joga no limite da imbecilidade quando o líder da gangue desafia Jessie a um duelo - exatamente, um duelo de armas como nos filmes de faroeste. Quem atirasse primeiro, e matasse o oponente, ficava com o dinheiro. Pois é, isso saiu de "Breaking Bad".

Lógico que a sequência é ridícula - o fato de o líder não verificar que Jesse possui mais de uma arma, ou de CINCO pessoas não conseguirem matar Jesse, ou o protagonista sair sem um mísero arranhão, tudo é vergonhoso. É bem verdade que alguns deus ex machinas já passaram pelos 62 episódios, mas era sempre muito bem fundamentado e desenvolvido, servindo como desenrolar para outros acontecimentos importantes. Aqui, o duelo é só triste mesmo.


Se você, como qualquer fã do seriado, espera ver Walter White: sim, Bryan Cranston está de volta - claro, na forma de flashback (ele não ressurgiu dos mortos). Um dos mais icônicos personagens da história da televisão, é um júbilo ver a brilhante atuação de Cranston na tela depois de tantos anos, mas a cena é bem pequena e totalmente focada em Jesse. Difícil pedir mais de um personagem que já morreu além de cenas como a mostrada, contudo, fica lá no fundo a vontade de quero mais, de que não supriu a necessidade da volta de Walt.

Para ser bem sincero, essa impressão é generalizada: parece que "El Camino" não entrega tudo o que poderia - ou tudo o que a espera pedia. O filme é basicamente um episódio, o que é bom: toda a estrutura clássica de "Breaking Bad", desde a montagem até a fotografia, volta igualzinha; só que soa como um daqueles episódios de meados da temporada, que estão desenvolvendo situações que acarretarão no ápice. Não há nada de impressionante no filme, um clímax, um estouro que é clássico da série. Existem cenas de ação, de tensão, de emoção, mas nada à altura dos picos que entraram na história.

Em termos de produto derivado de "Breaking Bad", o seriado "Better Call Saul" dá conta de seguir o legado - até porque a inteligência é emulada na série que mostra como Saul Goodman (Bob Odenkirk) virou o advogado que conhecemos. Outro fato essencial é que vários personagens importantes de "Breaking Bad" ainda estão vivos em "Saul", que se passa anos antes do império de Walt ser construído. Não havia como ter toda essa fórmula em "El Camino".

"El Camino" é um epílogo, e se limita em exercer sua função de "capítulo final". Pouca coisa é acrescentada na linha temporal da história além do encerramento da jornada de Jesse Pinkman, que finalmente encontra um derradeiro final para a trama. Qualquer fã vai se sentir feliz com esse mimo pelos aspectos emocionais reascendidos pela nostalgia, porém, mesas não são viradas com os 122 minutos do filme. "El Camino" faz tudo o que há de bom em "Breaking Bad", mas não o que há de melhor.

"Look Mom I Can Fly": Travis Scott mostra sua jornada ao topo em novo documentário da Netflix


Travis Scott, um dos maiores rappers da atualidade, deu um novo salto em sua carreira e nos deixou entrar um pouco mais em sua história. “Voando Alto” (“Look Mom, I Can Fly”), seu novo documentário lançado na Netflix ontem (28), mostra grande parte da sua trajetória, nos deixa acompanhar sua história de amor com a música que só cresce desde que ele era criancinha (e muito fofo, por sinal) tocando bateria na sala de casa. 

O filme mostra como a ascensão rápida do rapper à fama não teve nada de fácil em seu caminho. Logo no começo vemos a casa onde Jacques Webster - sim, esse é o nome do Travis! - cresceu, criado pela sua avó, dividindo quarto com seu irmão autista. 

Também é bem legal acompanhar os primeiros shows de um Travis já bastante seguro de si e de seu som, mas ainda se descobrindo como artista. Todo mundo começa de algum lugar, né? Os conceitos que hoje acompanham sua música levaram anos para amadurecer e hoje percebemos que isso mudou a forma como ele se apresenta para uma indústria em tamanha ascensão como é a do rap americano. Seus shows são de outro mundo - sério, vê o documentário e diz se não é verdade- , e isso fica ainda mais evidente a cada cena em que partes dos shows aparecem. É animal! 

Seus fãs são grande parte de todo esse espetáculo também. Não só dos shows, sendo parte real e que dá vida a cada apresentação, mas também da figura que Travis tem como artista. Depoimentos do documentário só provam o quanto o som único dele falou com quem nunca se sentiu parte de nenhum grupo. Por ser tão fiel a si mesmo, Travis conquistou uma legião fiel de pessoas que vêem ser único como uma qualidade graças a ele. 

A parte do nascimento da primeira filha de Travis com Kylie Jenner, Stormi, é uma daquelas que faz o maior coração de pedra chorar. Num certo momento, Travis conta que a bebê estava chorando e, assim que ele a pegou no colo, ela se acalmou. É visível o impacto que a filha tem no músico, e o amor que ele tem por ela impacta quem vê. Todos os momentos em que ela aparece são de pura doçura e amor transborda. É fofo demais, gente! 

No mais, também é muito claro como o rapper é grato por tudo que conquistou. Ele, como tantos outros na mesma indústria, sabe os sacrifícios que fez para chegar ao lugar de admiração em que está. Se depender dele, nem o céu é o limite. Com certeza veremos muito mais do rastro de inspiração que ele quer deixar no mundo. Vale a pena conferir!


Foda! Netflix lança "The Poussey Washington Fund" para tentar mudar o sistema penitenciário dos EUA

Com o fim de "Orange is The New Black" chegando, a Netflix lançou a campanha "The Poussey Washington Fund", nesta quinta-feira (25), buscando tentar mudar o sistema penitenciário dos Estados Unidos. O anúncio foi feito por meio de um vídeo mega fofo que contou com relatos de fãs dizendo sobre o impacto da série em suas vidas.


O projeto leva o nome de uma principais personagens da série que sofreram com a represália do sistema. O anúncio é feito pela própria Samira Wiley, interprete da personagem. As doações podem ser feitas aqui.

Ele apoiará grupos jurídicos sem fins lucrativos com o objetivo de reformar a justiça criminal, proteger os direitos de imigrantes, acabar com as prisões em massa e apoiar mulheres que foram afetadas por ela.

O projeto tenta levar para frente justamente o legado da série que ficou famosa por trazer uma perspectiva jamais pensada para a TV e muito menos cinema. A série, baseada em fatos reais e em um livro, trouxe um olhar muito humanizado para pessoas que a sociedade tende a deixar de lado. 

Netflix irá produzir uma série baseada na versão original de "O Grito"

O próximo ano tem tudo para ser O ano para a franquia "Ju-On" visto que, além do reboot que será lançado em agosto de 2020 pela Sony, teremos uma série baseada na obra original com produção da Netflix, de acordo com o ComicBook.

O anúncio da nova produção do serviço de streaming teria sido feito em um evento fechado no Japão, confirmando também a participação do diretor Shô Miyake para comandar a produção. Detalhes sobre sua trama, se será um remake de alguma forma ou se irá seguir pós-eventos da própria franquia ainda não foram revelados.

"Ju-On" é um verdadeiro marco do terror japonês. A franquia está viva no mercado nipônico até hoje, mesmo com algumas sequência duvidosas e um crossover com "Ringu", a versão original de "O Chamado", que deu muito errado. Kayako, entretanto, ficou famosa mesmo quando foi para o ocidente em 2004, no remake norte-americano que contou com o diretor original no comando.

O reboot da versão norte-americana chega em agosto de 2020, com direção de Nicolas Pesce, que estreou com o horror "The Eyes of My Mother". No elenco, John Cho, Demián Bichir e Andrea Riseborough estrelam o filme. Sam Raimi volta a produzir a franquia.

Crítica: quinta temporada de “Black Mirror” afunda com broderagem, uber e Miley Cyrus

A marca gigantesca que é "Black Mirror" não começou com tanta influência; nas primeiras temporadas, seus lançamentos são viravam o tópico central da semana ao redor do mundo como é agora. As duas primeiras temporadas foram lançadas pela Channel 4, que, apesar de ser um cultuado canal da tevê britânica, não alavancava "Black Mirror" como uma das grandes sérias da grade televisiva.

Conheci "Black Mirror" em 2013, após sua segunda temporada, e me impressionei como algo tão inteligente ainda não havia caído no gosto do grande público. A coisa mudou quando a Netflix comprou os direitos de produção do seriado. A partir de 2016, a antologia virou pauta fixa do calendário da plataforma, que cria um verdadeiro evento quando joga cada material na roda.

Depois de 18 episódios, um especial e um filme ("Bandersnatch", 2018), a quinta temporada da série chegou no último dia 5 na Netflix. Composta por três episódios, é o menor número de lançamentos sob o selo da gigante - mas é exatamente o mesmo número das duas primeiras temporadas. É fato que aqui no Cinematofagia eu nunca escrevi sobre séries, porém, cada episódio de "Black Mirror" é como um filme, todos interligados pela premissa central do todo - estudar nossa relação com a tecnologia -, o que permite que eu possa escrever sobre.

Pois bem, vou dividir o presente texto entre os três episódios e analisá-los separadamente, antes de fazer a conclusão sobre a temporada como um todo. Nosso futuro será brilhante?

Striking Vipers: g0ys em seu habitat natural

O primeiro episódio da temporada, "Striking Vipers", já se destaca por ser inteiramente interpretado por atores negros. Danny (Anthony Mackie) é casado com Theo (Nicole Beharie), e ganha de seu amigo Karl (Yahya Abdul-Mateen II) um jogo em realidade virtual. O diferencial do tal jogo é que sua tecnologia permite que os jogadores sintam fisicamente os passos dos personagens. Uma espécie de "Mortal Kombat" futurístico, Danny escolhe um personagem Lance (interpretado no jogo por Ludi Lin), enquanto Karl escolhe Roxette (Pom Klementieff). É hora da porrada.


Os dois começam lentamente, se acostumando com a realidade aumentada da plataforma, e descobrindo que tudo o que é sentido no virtual é replicado no real. É então que os dois, por meio de seus personagens, fazem sexo. A interação vai causar um estranhamento óbvio, só que ambos acabam viciando naquilo, sempre entrando no jogo para transarem - o que é bizarramente curioso. O que começa a derrubar esse universo é a forma paupérrima que o jogo é feito na tela: parece mais o live-action de "Dragon Ball" - o desastroso "Dragonball Evolution" (2009) - de tão ruim.

A crítica do episódio é bem direta: até aonde vamos com essa reposição da existência pelo meio do digital? A fissura dos protagonistas é tamanha que eles se satisfazem sexualmente apenas se o orgasmo for naquela combinação binária - e Theo sente os efeitos-colaterais da brincadeira, já que Danny cada dia mais a procura com menos frequência.

"Striking Vipers" sofre do mal de produção quando a ideia é incrível no papel, não na tela. A hiperbolização da vida artificial que já sofremos hoje mesmo - há quem se perca nos esforços diários para construir uma vida perfeita pelo Instagram - só alcança um determinado ponto de reflexão, deixando de lado os aspectos mais interessantes que a trama em específico costura.


Os dois protagonistas são homens negros, mas seus avatares dentro do game são asiáticos. A atração sexual mútua ali é fomentada a partir das características físicas dos personagens, o que é uma semente fértil para discussões de raça, que nem ao menos são levadas em conta dentro do enredo. Além disso, a personagem de Karl é feminina, e ele transa (e sente) como mulher. Há uma rápida pontuação em um diálogo, mas as questões de gênero também são descartáveis para o todo. Danny e Karl fomentam uma relação com características tão diferentes das reais e nem ao menos parecem se perguntar o porquê.

O episódio prefere passar intermináveis minutos num jogo de gato e rato: ora Danny tem interesse em continuar a "brincadeira", ora percebe que aquilo é errado; todavia, o "errado" para ele soa muito mais porque está fazendo com um homem do que desviando seu apetite sexual em detrimento da esposa. "Black Mirror" pegou a cultura dos g0ys em um episódio de 60 minutos, só na broderagem e sem frescura.

O melhor de todo esse desperdício é que "Striking Vipers" foi inteiramente filmado em São Paulo - e é bem divertido reconhecer a cidade nas diversas locações.

Smithereens: a pior corrida de Uber já escrita

"Smithereens" é um dos poucos episódios de "Black Mirror" a se passar no presente - ou, no caso, levemente no passado, já que a história acontece em 2018 -; outros exemplos são "The National Anthem" na primeira temporada, e "Shut Up And Dance", na terceira (coincidentemente, esses são meus dois episódios favoritos de toda a trajetória do seriado).

Dessa vez seguimos Chris (Andrew Scott), motorista de um aplicativo como o Uber. Ele estaciona ansiosamente na frente da Smithereen, empresa de comunicação, e sempre aceita imediatamente as corridas de quem sai de lá. Um dia ele sequestra Jaden (Damson Idris), estagiário do conglomerado. Chris diz que matará Jaden caso não consiga o telefone de Billy Bauer (Topher Grace), o dono da Smithereen.


O episódio é um filme de suspense legítimo, daqueles que passam nos Supercines da vida. Chris é seguido pela polícia, até ameaçar matar Jaden, o que gera uma corrida contra o tempo a nível nacional. Enquanto isso, a ligação passa de mão em mão dentro da Smithereens, subindo de degrau na hierarquia até chegar no CEO, que convenientemente está num retiro espiritual - ou seja lá o que - e sem contato com o resto do mundo.

O primeiro grande problema do episódio é sua duração: 70 minutos. Não há a menor necessidade deste tamanho para o enredo escolhido, e isso fica claro quando Chris está dentro do carro com a polícia na sua cola e nada acontece. Há pequenas sub-tramas para enfeitar o eixo, como uns adolescentes que estão tirando foto do local e postando nas redes sociais, porque claro, a polícia deixou dois meninos no meio de uma cena de crime com um homem armado ameaçando atirar.

É inegável que o episódio consegue demandar a atenção - ou pelo menos o interesse - da plateia, mesmo com tantas inconsistências sendo acumuladas (não entendo o motivo de moldarem Chris como um neurótico cômico que dá surtos dignos do "Zorra Total"). Mas seguimos firmes, até o momento fatídico chega: Chris consegue falar com Billy. Por que ele faz tanta questão? O que aconteceu para o levar até ali?

E a resposta não poderia ser pior: Chris sentia a obrigação de falar com Billy pois ele é o dono do aplicativo que o protagonista usava enquanto dirigia, o que causou um acidente e a morte da esposa. Sim, o personagem sequestrou e ameaçou um inocente porque precisava ligar para uma pessoa que tem a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e nada a ver com tudo o que aconteceu, a fim de expurgar sua culpa. Essa é a brilhante resolução do mistério.


Em artes narrativas, a motivação é centro gravitacional de qualquer história. Por que a última temporada de "Game of Thrones" foi (merecidamente) tão massacrada? Porque os roteiristas criaram motivações incompatíveis para os acontecimentos e toda a construção de seus personagens. A motivação é aquilo que justifica a existência de uma trama, afinal, um personagem só faz X ação por ter algum motivo, por buscar uma conclusão que case com tal ação.

Com essa motivação porca, a existência de "Smithereens" é aniquilada. Todas as boas ideias se perdem, rodeadas de tantos momentos ruins - há uma sub-trama maravilhosa, a da mãe que desesperadamente tenta descobrir a senha de uma rede social da filha, que se suicidou alguns meses antes. E, ao mesmo tempo, há forte cunho religioso no episódio quando Chris precisa se "confessar" para Billy, que é posto em uma casa inteiramente de vidro no ponto mais alto e deserto encontrado. Há precisa composição para evocar a ideia de divindade no personagem (os compridos e louros cabelos, por exemplo), o ser superior e onipotente, contudo, a metáfora também não funciona quando a motivação geral é tão desproposital.

O ódio do protagonista pela geração que está hipnotizada pelos smartphones poderia receber um tratamento menos pobre que esse.

Rachel, Jack and Ashley Too: o sepultamento de "Black Mirror" ao virar "Sessão da Tarde"

E o episódio final da temporada tem como protagonistas Rachel (Angourie Rice, de "Todo Dia", 2018) e sua irmã Jack (Madison Davenport). Após a morte da mãe, as duas vão se enclausurando em seus mundo, imageticamente construído a partir do quarto: de um lado, a alternativa/wannabe-gótica Jack; e do outro, a colorida e pueril Rachel. Esta, carente de autoconfiança, vê em Ashley O (Miley Cyrus) tudo o que queria ter como personalidade. Ashley é a estrela pop teen do momento, cantando, com suas músicas grudentas, sobre sonhos e perseverança.

Rachel então ganha o lançamento do momento: uma Ashley Too, robô com inteligência artificial que fala como a cantora real, que se torna sua melhor amiga. Rachel conversa sobre suas inseguranças com a robô, que a aconselha a entrar em um concurso de talentos na escola, fadado ao fracasso. Se há uma palavra que resuma com esmero a trama central do episódio, essa palavra é "patética".


A protagonista, com 15 anos, parece na verdade ter 7. Há uma breguice latente ao redor de sua história, a pobre garotinha que não se encaixa na escola por não ter autoestima o suficiente e tem a ajuda de uma robô, sua fada madrinha computadorizada. É tudo ridículo, da interação entre as duas às frases de efeito retiradas dos mais batidos livros de "autoajuda".

Concomitantemente, entramos na vida de Ashley, que tem como empresária sua tia, Catherine (Susan Pourfar). A tia está focada em manter o sucesso da sobrinha a todo o custo, mas Ashley está cansada do molde fabricado que é sua carreira. Há uma palpável guerra fria entre as duas, principalmente porque Catherine obriga Ashley a tomar remédios. Quando descobre que a menina há tempos não toma a medicação, a tia a droga, simulando um coma para que seja criada um holograma de Ashley, a próxima aposta comercial que vai encher os bolsos da equipe.

Uma vertente de filmes/séries sobre o estrelato que adoro é quando a história foca nos bastidores da fama. Nomes como "Cisne Negro" (2010) e "Demônio de Neon" (2016) são exemplos da desglamourização de carreiras artísticas, no entanto, o mesmo aspecto é mastigado em "RJ&AT". Há diversas decisões que o roteiro assume que não fazem o menor sentido: por exemplo, Ashley, ao não tomar os remédios, os guarda numa caixinha. Por que ela simplesmente não joga fora? Ela prefere guardar todas as provas que, óbvio, serão encontradas pela tia. É um gancho narrativo burro para empurrar a história.


Durante a notícia do coma de Ashley, a robô "acorda" e sofre (?) com o anúncio. As irmãs, que passam o episódio todo brigando por causa da robô (Jack acha tudo aquilo uma babaquice, sensata), se unem para salvá-la, desbloqueando a "consciência" total da AI, que se torna..........Miley na era "Bangerz". A robô, agora completamente autônoma, xinga e dá ordens, só faltou fazer twerk e a língua de fora.

A gangue parte para a mansão de Ashley, com o plano de resgatar a menina. É então que o episódio vira um clássico do "Scooby-Doo", recheado de alívios cômicos, artimanhas, vilões e aventuras. O final, a cereja do bolo desse desastre, mostra Ashley finalmente encontrando seu "eu" artístico e cantando rock alternativo. Não desistam dos seus sonhos, meninas! Vergonhoso.

Entre armadilhas para ratos e lições de moral de filmes infantis, há apenas um bom aspecto de todo esse caos: há um bem-vindo paralelo entre a vida de Ashley e a de Britney Spears. Estamos em meio ao movimento "Free Britney", surgido após acusações de que o pai de Spears, que serve como seu guardião jurídico, internou a cantora contra sua vontade após a mesma se recusar a tomar suas mediações - mais ou menos o mesmo que acontece no episódio. É uma boa discussão acerca da integridade de estrelas em detrimento de uma indústria, e a luz no fim do túnel dessa que é a pior mercadoria já produzida sob o selo "Black Mirror".

***


Muito se fala sobre "Black Mirror" ter baixado o nível após a migração para a Netflix; a afirmativa nem se deita sobre a síndrome do cult, aquele que deixa de gostar de algo por ser popular. É fato que, mesmo sob as asas do Channel 4, houveram episódios bons e ruins, contudo, o efeito é mais forte quando estamos falando em uma das maiores empresas de entretenimento do mundo. Os erros ficam menos perdoáveis quando existe capital e potencial mais que o suficiente para algo competente ser realizado.

A quinta temporada de "Black Mirror" é uma mácula irremediável em uma série tão brilhante, e continuação da queda meteórica vista desde a quarta temporada, cheia de episódios fracos, e com o filme, uma lástima. Se por um lado a Netflix é dona da melhor temporada do seriado - a terceira, fabulosa -, agora deve aguentar o peso de possuir uma que não consegue salvar um mísero episódio. Os números de audiência com certeza ainda estão nas alturas, e só posso esperar que isso não seja conclusão concreta para a plataforma de que o trabalho aqui está sendo bem feito. Tirando os aspectos técnicos - o design de produção segue perfeito -, não está, nem de longe.

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