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Crítica: “El Camino” tem tudo o que há de bom em “Breaking Bad” (mas não o que há de melhor)

O retorno do universo "Breaking Bad" vale pela nostalgia, apesar de não entrar no hall da genialidade da série
Atenção: a crítica contém spoilers.

Caso você esteja chegando agora a esse mundo, um aviso: "Breaking Bad" é a melhor série de todos os tempos. E não é apenas eu afirmando - o seriado de Vince Gilligan está no Guinness Book com o recorde de "mais bem avaliada série da história" - e os vários Emmys são só uma pontinha do sucesso absurdo das cinco temporadas da saga de Walter White no império da metanfetamina.

"Breaking Bad" terminou em 2013 no auge de sua criatividade, e desde então os fãs estão ansiosos para mais um capítulo da insana história (que terminou tão bem), por isso, foi uma grata surpresa o anúncio de "El Camino", filme que dá mais um passo da trama. O filme, lançado pela Netflix, segue o único protagonista ainda existente: Jesse Pinkman (Aaron Paul) - todos os outros ou estão mortos ou já tiveram seus arcos finalizados. No final de "Felina", o último episódio da série, vemos Jesse fugindo e finalmente encontrando a liberdade depois de meses preso, e o resto ficava a cargo da imaginação da plateia.

Agora não mais. "El Camino" vai mostrar o que rolou com o personagem, e começa segundos depois do fim de "Felina". Gilligan sabe o poder que tem em mãos, e já abre seu filme com um flashback com uma das melhores figuras do seriado, Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks). Isso demonstra o óbvio: "El Camino" é um filme para os fãs da série.

Então, caso você nunca tenha visto "Breaking Bad" ou tenha acompanhado de modo esporádico, o filme não fará sentido para você. Ele resgata - propositalmente - diversos personagens e acontecimentos das temporadas passadas a fim de costurar as motivações de Jesse e como ele chegou aonde está. Então a narrativa vai e vem entre períodos distintos da trama, intercalando flashbacks com o presente de Jesse.


Após a fuga, Jesse vai até a casa de seus fiéis escudeiros, Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones), buscando abrigo. Só que o carro que Jesse levou - um El Camino - possui rastreador, o que já está na mira da polícia. Novamente em fuga, Jesse divide uma cena absolutamente calorosa com Pete, que abre mão de todo o dinheiro que possui para ajudar o amigo a fugir. Questionado o motivo de tamanha ajuda, ele responde: "Porque você é meu herói".

O plot principal de "El Camino" é a corrida de Jesse atrás de dinheiro para poder sumir do mapa. Sua ideia é ir até o apartamento de Todd (Jesse Plemons), o único da gangue de neonazistas (presumo que você saiba o contexto aqui) que demonstrava apreço (ou pena) por ele durante o cárcere forçado. Como revela um flashback, Todd guardava seu dinheiro no local, porém, como tudo em "Breaking Bad", a busca pelo dinheiro não será uma ida ao caixa eletrônico. De longe, a melhor cena do filme, toda a sequência, que se desdobra com plot-twists, lembra os auges passados da série, exemplos da genialidade de seu criador.

Todavia, é para assustar que está em "El Camino" o pior momento de todo o universo "Breaking Bad": a cena do duelo. Após muitas idas e vindas, Jesse ainda precisa de dinheiro e vai até a casa de um gangster pedir caridosamente a quantia necessária para sua fuga. O plano já começa não fazendo o menor sentido, no entanto, o roteiro vai ainda mais longe e se joga no limite da imbecilidade quando o líder da gangue desafia Jessie a um duelo - exatamente, um duelo de armas como nos filmes de faroeste. Quem atirasse primeiro, e matasse o oponente, ficava com o dinheiro. Pois é, isso saiu de "Breaking Bad".

Lógico que a sequência é ridícula - o fato de o líder não verificar que Jesse possui mais de uma arma, ou de CINCO pessoas não conseguirem matar Jesse, ou o protagonista sair sem um mísero arranhão, tudo é vergonhoso. É bem verdade que alguns deus ex machinas já passaram pelos 62 episódios, mas era sempre muito bem fundamentado e desenvolvido, servindo como desenrolar para outros acontecimentos importantes. Aqui, o duelo é só triste mesmo.


Se você, como qualquer fã do seriado, espera ver Walter White: sim, Bryan Cranston está de volta - claro, na forma de flashback (ele não ressurgiu dos mortos). Um dos mais icônicos personagens da história da televisão, é um júbilo ver a brilhante atuação de Cranston na tela depois de tantos anos, mas a cena é bem pequena e totalmente focada em Jesse. Difícil pedir mais de um personagem que já morreu além de cenas como a mostrada, contudo, fica lá no fundo a vontade de quero mais, de que não supriu a necessidade da volta de Walt.

Para ser bem sincero, essa impressão é generalizada: parece que "El Camino" não entrega tudo o que poderia - ou tudo o que a espera pedia. O filme é basicamente um episódio, o que é bom: toda a estrutura clássica de "Breaking Bad", desde a montagem até a fotografia, volta igualzinha; só que soa como um daqueles episódios de meados da temporada, que estão desenvolvendo situações que acarretarão no ápice. Não há nada de impressionante no filme, um clímax, um estouro que é clássico da série. Existem cenas de ação, de tensão, de emoção, mas nada à altura dos picos que entraram na história.

Em termos de produto derivado de "Breaking Bad", o seriado "Better Call Saul" dá conta de seguir o legado - até porque a inteligência é emulada na série que mostra como Saul Goodman (Bob Odenkirk) virou o advogado que conhecemos. Outro fato essencial é que vários personagens importantes de "Breaking Bad" ainda estão vivos em "Saul", que se passa anos antes do império de Walt ser construído. Não havia como ter toda essa fórmula em "El Camino".

"El Camino" é um epílogo, e se limita em exercer sua função de "capítulo final". Pouca coisa é acrescentada na linha temporal da história além do encerramento da jornada de Jesse Pinkman, que finalmente encontra um derradeiro final para a trama. Qualquer fã vai se sentir feliz com esse mimo pelos aspectos emocionais reascendidos pela nostalgia, porém, mesas não são viradas com os 122 minutos do filme. "El Camino" faz tudo o que há de bom em "Breaking Bad", mas não o que há de melhor.

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