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Azealia Banks foi vítima de abuso sexual e muita gente saiu dizendo que “ela mereceu”

Se não fosse pelos fãs de Azealia Banks e o seu fã-site no Brasil, pouquíssimo teríamos lido sobre o que aconteceu com a artista neste final de semana. Por meio de seu Instagram Stories, a rapper preocupou seu público ao implorar por ajuda, alegando ter sido vítima de estupro na madrugada do último sábado (14).

As publicações de Azealia Banks foram apagadas de suas redes sociais. No lugar delas, a rapper manteve uma mensagem de conforto aos seus fãs, avisando que estava acompanhada de seu irmão e amigos, sob cuidados e “acordando” após ter sido dopada e estuprada.

Na contramão dos tantos casos discutidos pela indústria nos últimos meses, o silêncio foi o que prevaleceu sobre Azealia. Não houveram páginas manifestando seu repúdio, não houveram charges que ilustrassem críticas ao ocorrido, não houveram hashtags, exceto a compartilhada por seus próprios fãs, mas houveram questionamentos, ofensas e, pra variar, omissões.

Principalmente pelo Twitter e Facebook, vários usuários questionaram a veracidade da história da rapper e as possibilidades dela ter inventado o caso “para chamar atenção” e muitos ainda disseram que ela havia merecido a agressão, por conta do seu histórico de discussões com outros artistas.


Já tem mais de um ano desde que Azealia Banks protagonizou um dos momentos mais tensos da sua relação com o Brasil. A rapper, que já se apresentou no país duas vezes, foi atacada em suas redes sociais após uma discussão sobre a sua religião com a cantora e compositora Sia, e entre as ofensas, recebeu muitas mensagens racistas, misóginas e machistas. Mas, para a imprensa brasileira, incluindo sites como Huffpost e Buzzfeed Brasil, o que valeu ser destacado foram os memes e a frase infeliz, na qual ela disse que “não sabia que tinha internet na favela”.

Na época, fizemos uma matéria explicando aos mínimos detalhes o que aconteceu e  o porquê do caso ter sido mais do que “uma rapper gringa atacando brasileiros”, mas no ritmo com que as notícias são disseminadas atualmente, principalmente quando carregadas por sensacionalismo e posicionamentos que reforçam o senso comum, já parecia tarde demais, e assim foi.

Hoje, não tem a menor importância o que Azealia Banks fez ou deixou de fazer, bem como com quem ela discutiu ou não, mas, sim, que a artista foi vítima de abuso sexual e em hipótese alguma merecia ser alvo de tamanha violência, e isso sequer é algo que deveríamos estar explicando.

A rapper, é claro, não é uma pessoa perfeita, assim como qualquer um de nós, mas em um momento como esse, o que ela realmente merece é toda forma de apoio e empatia, ou, no mínimo, o devido respeito.



Ainda abalada, a artista não abriu mão dos planos com seu novo single, “Anna Wintour”, que segue sendo um dos seus lançamentos mais bem-sucedidos desde o disco “Broke With Expensive Taste”, e, no mesmo final de semana em que sofreu o abuso, já estava de volta aos palcos.

Por aqui, seguimos mandando todo o nosso apoio e boas vibrações! ✊🏾

***


Caso você esteja sofrendo ou tenha presenciado qualquer tipo de violência contra mulher, denuncie! No Brasil, a Secretaria de Políticas para as Mulheres está disponível para atendê-la todos os dias, sem restrições de horário, e a ligação pode ser feita de maneira anônima e gratuita para o número 180.

Depois de Beyoncé, não veremos nenhuma performance do Coachella com os mesmos olhos

Texto por Vinícius Zacarias

Quem assistiu o show da Beyoncé no Festival Coachella na madrugada deste domingo, 15, não conseguiu voltar a dormir. A deusa jamais igualada subiu ao palco com uma apresentação recheada de referências políticas, musicais e cênicas, ficando difícil enumerar todas neste breve texto. O espetáculo histórico e cultural, com muitas surpresas, repertório vasto e participações especiais, correspondeu a perfeição da virginiana que ficou ensaiando junto aos seus mais de 200 componentes 14 horas por dia nas últimas semanas.

Beyoncé é inerente a artista pois "reflete seus tempos", como dizia a Nina Simone, também referenciada no show junto a Malcon X e Big Freedia, uma rapper negra transviada de New Orleans. Sua direção criativa construiu complementos ao fundo do palco com composição de fanfarras. O mais notável foi o trabalho da direção musical que montou todos os arranjos das músicas com base nos instrumentos de sopro e percussão, num trabalho notadamente exaustivo. São diversas referências que vão desde os uniformes das fraternidades negras norte-americanas até as leves indiretas à ex-amante de seu marido.

Esse conceito de "fanfarras", sobre o qual me dedico a discorrer, faz referência à expressão cultural muito forte no estado do Alabama/EUA, terra natal de seu pai, aonde existem grandes organizações de escolas, bairros, corporações e concursos musicais. O Alabama também foi o palco do estopim para a organização do movimentos dos direitos civis depois que Rosa Parks, em 1955, resistiu a pressão de ceder assento no ônibus para brancos no período da oficial segregação racial no país. Apesar de forte incidência de resistência negra, o estado do Alabama é considerado o mais LGBTfóbico dos Estados Unidos.

Devido a isso, em 2015, a TV Oxigen estreou o reality show gay afro-americano de dança intitulado The Prancing Elites Project, composto por Adrian Clemons, Kentrell Collins, Kareem Davis, Jerel Maddox e Tim Smith que tentam conciliar suas vidas pessoais e profissionais na cidade de Mobile. O reality mostra o cotidiano e as provas que os meninos precisam passar diariamente, mostrando os conflitos que interseccionam os problemas de raça, gênero e sexualidade.

O reality teve apenas duas temporadas, mas destaco um dos primeiros episódios onde os meninos são desafiados a se apresentarem como balizas de fanfarra, com maiô justíssimo ao corpo e cheios de brilho, em meio a uma parada cívica tradicional. As reações foram de espanto e rejeição, gerando até mesmo represálias, como o fato de terem sido retirados do desfile por policiais. (confira o vídeo abaixo)



Para muitos de nós, negros e gays, vivemos numa celeuma identitária que imbricam diversas dores, mas que nos motivam a resistir neste mundo estruturado pelo racismo e regido pela heterossexualidade. Assim como os meninos do Elites, que também são fãs da Beyoncé, resistimos e tornamos nossas vidas possíveis através da arte. Tornamos nossa sobrevivência um produto criativo da vida.

Foi gratificante assistir um espetáculo que traz a referência cultural do Alabama intercalado com outras representações de masculinidades negras, como na sensibilidade e na capacidade da inteligência cômica dos novos dançarinos, propondo suas projeções para além do sexual, e também nas mulheres dançarinas gordas e com muita auto confiança. Faltou, claro, uma "fechação" bem viada no palco, mas tenho certeza que isso sobrou na platéia repleta de bichas pretas prontas para o ataque.

Beyoncé não é rainha, é uma deusa. Só um ser sagrado tem a capacidade de fazer de um show uma catarse de reflexão política sobre o mundo. Nina Simone deve estar orgulhosa.

Vinícius Zacarias é mestrando em Ciências Sociais, pesquisa sobre performances culturais de homens negros gays da Bahia. Siga-o pelo Facebook!

O disco de estreia da Hayley Kiyoko e a importância dessa geração de novos artistas LGBTQs

As causas LGBTQs tem ganhado cada vez mais espaço na indústria, porém, em sua maioria das vezes, através das vozes de estrelas que se identificam como heterossexuais ou até fazem músicas insinuando o flerte com o mesmo gênero, mas sem levantarem nenhuma bandeira. Falas importantes, sim, mas que trazem a tona uma representatividade falha.

Nos últimos anos, as coisas começaram a mudar. Miley Cyrus declarou sua panssexualidade, Sam Smith cantou as tristezas de seus amores, que são como todos os outros, e Troye Sivan fez um lindo disco sobre ser um jovem gay e se aceitar (e já prepara outro, mais alegre e pra cima), isso só pra citarmos alguns exemplos. Em 2017, Halsey e Lauren Jauregui representaram em “Strangers” e Kehlani falou abertamente sobre como gosta de suas garotas. Pra somar a todo esse grupo que, ainda bem, só cresce, Hayley Kiyoko, uma das promessas do pop para esse ano, finalmente lançou seu disco de estreia nesta sexta-feira (30). 

Recheado com muito synthpop, aos moldes do “Lady Wood” de Tove Lo, o álbum conta as histórias de uma mulher lésbica que se relaciona secretamente com uma outra que ainda não se abriu sobre sua orientação sexual e tenta mostrar para ela que o homem com quem se relaciona não é a pessoa certa.



Todo mundo pode se identificar com as histórias de Hayley, que são, primariamente sobre amar e ser amada. Indo fundo, entretanto, temos ainda mais: é uma representatividade escancarada que se faz extremamente necessária. Ela não tem medo de falar sobre seus relacionamentos como são, naturalizando todos esses sentimentos e mostrando que, na verdade, tudo é amor e descobrimento, e é isso que faz o disco ser não só um ótimo álbum pop, mas também um importante avanço. Hayley não é só uma promissora artista pop, ela é uma promissora voz. 

Em recente entrevista, a cantora contou que foi questionada por executivos sobre colocar e fazer vídeos sobre garotas.

“Vários executivos da indústria me disseram 'você vai fazer outro videoclipe sobre garotas?'. Eu literalmente olhei pra eles e disse 'bem, sim, Taylor Swift fala sobre homens em toda música e clipe e ninguém reclama que ela não está sendo original”.


Não é preciso de muito para entender que Hayley não fez uma crítica a colega, mas sim reivindicou seu espaço para fazer sua arte do jeito que queria, representando suas histórias da forma que bem entende. Afinal, como cantora heterossexual, Taylor Swift nunca precisou escutar que estava fazendo muitas músicas e clipes sobre caras. É isso que a própria Taylor disse em sua resposta: "Nós deveríamos aplaudir artistas que são corajosos o suficiente para contar honestamente a sua narrativa romântica através de sua arte e é fato que eu nunca me deparei com a homofobia como ela. É direito dela falar sobre todos que tratam de forma diferente o interesse amoroso gay e heterossexual".

Muito se discute sobre o que é a música do futuro. Ainda que a música viva sua fase conservadora, com homens dominando as paradas, acreditamos que esse futuro se vê representado por quem pode trazer não só boa música, mas, também, uma boa narrativa, falar com coragem sobre o que sente e quem é e, dessa forma, trazer representatividade para esse meio.

São mulheres como Kesha e Lady Gaga usando sua voz para denunciar o machismo diário e os abusos da indústria, Kendrick Lamar e Frank Ocean escancarando o racismo, Beyoncé e SZA indo além e desabafando sobre a realidade de uma mulher negra, Camila Cabello falando por uma massa que está sempre prestes a ser jogada para o outro lado do muro de Trump e, agora, Hayley, Troye e tantos outros contando a realidade do que é ser jovens LGBTQs.



A música do futuro é composta por vozes que vão se levantar para falar sobre sua realidade, contar suas histórias e finalmente falar por aqueles que até então não conseguiam ser ouvidos e não se sentiam vistos. Vozes que não só vão nos fazer dançar, mas ajudar a transformar a sociedade. Hayley é mais uma dessas vozes. E por cada uma delas, seremos gratos.

Anitta fala sobre Marielle Franco, apaga e reclama: “Não se pode mais ter opinião nessa vida”

Nos últimos dias, não se falou em outro assunto no Brasil. A vereadora Marielle Franco, mulher, negra, lésbica e recém eleita relatora da comissão que acompanharia os trabalhos da intervenção militar no Rio de Janeiro, foi brutalmente assassinada no dia 14 de março, despertando uma série de protestos e manifestações pelo país e fora dele, pedindo por justiça, explicações e culpados pelo crime.

Entre os pronunciamentos sobre o caso, houveram falas de muitos artistas, não só brasileiros, e cientes do quanto, por sua influência, ela poderia potencializar ainda mais essa discussão, muitos fãs começaram a questionar o silêncio de Anitta que, enquanto todos só falavam sobre o caso, se dedicava a comentar o BBB e seguir com sua agenda de shows, como se nada estivesse acontecendo.

É claro que ela não tinha nenhuma obrigação. Ninguém precisa ser forçado a falar sobre nada, quem dirá se sensibilizar. Mas faz apenas alguns meses desde que a cantora esteve numa favela do Rio, se dizendo orgulhosa de suas origens e de “levar a favela” para outros espaços, apenas alguns meses desde que ela lançou “Vai Malandra” e se mostrou empenhada a dar voz, rosto e nome para os moradores do Vidigal e, inclusive, se debruçou em discutir sobre a criminalização do funk que, assim como o assassinato de Marielle, seria mais uma maneira deles silenciarem, marginalizarem e, de certa forma, matarem a favela. E Anitta, enquanto divulgava seu novo single, estava interessadíssima em abordar todos esses assuntos, mas agora o cenário é outro.


Com manifestações por todo o país, o caso de Marielle ganhou uma nova página no final de semana, quando, durante seu show no Rio de Janeiro, a cantora californiana Katy Perry dedicou uma parte da apresentação para a ativista, exibindo sua foto em um telão e convidando sua filha e irmã para falarem com o público, dando espaço pra que pedissem por justiça e fizessem uma homenagem para Marielle. Não havia transmissão ao vivo para nenhuma emissora, muito menos uma maneira da gringa se aproveitar da situação. Foi uma postura de boa fé e respeito pelos que estavam ali presentes, e uma maneira de demonstrar que seu carinho pelo país ia além da preocupação em encher estádios.

Já Anitta, tava meio cansada. Cinco dias mais tarde, publicou um texto em que se disse pressionada a tocar no assunto, por conta do “ódio gratuito da internet”. Porque, sim, uma mulher foi assassinada com quatro tiros, se tornou o rosto da mudança há tempos reivindicada pela favela e movimentos sociais brasileiros, e enquanto todos viram nessa discussão uma oportunidade de usar suas plataformas em prol de algo maior, ela estava apenas sendo alvo do ódio gratuito desta malvada internet.

Nem tão malandra, a cantora ficou desconfortável com a repercussão do texto - uma falácia sobre não importar a cor, gênero ou classe social de Marielle, porque “ninguém merece morrer” - e voltou atrás, substituindo toda a conversa por um simples emoji, e, nos comentários, continuando a se defender. Num desses, uma fã estava perdida com toda a discussão, perguntando “O que há de errado com o texto? (...) Daqui dois meses vocês vão estar nessa comoção toda? (....) Foi isso o que ela quis dizer”. E Anitta reapareceu: “Não se pode mais ter opinião nessa vida. Se sua opinião não for igual a do outro é madeira em você… Dá não.”

O adeus da Banda Uó e o fim de um ciclo que marcou a música pop brasileira

“Tô Na Rua” foi, sem dúvidas, um dos melhores e mais tristes lançamentos da música pop brasileira no último ano. Melhores porque entregou um dos trabalhos mais interessantes da Banda Uó que, sob a produção de Pedrowl e um de seus integrantes, Davi Sabbag, demonstrou não só muito mais maturidade musical, como também estarem pronta para alçar voos maiores; tristes porque esses voos não acontecerão como um trio, mas, sim, com os três em suas respectivas carreiras solos.


A despedida da banda, que surgiu na internet há seis anos, com uma versão eletrobrega para o hit “Whip My Hair”, de Willow Smith, dá fim a todo um ciclo que abriu as portas para muito do que a música pop brasileira se tornou hoje, incluindo a ascensão de nomes como Pabllo Vittar, Lia Clark e, por que não?, de certa forma, até mesmo Anitta.


Apadrinhados pelo Bonde do Rolê, que na época já tinha a frente de suas produções Rodrigo Gorky, hoje também produtor de Pabllo Vittar, Alice Caymmi, entre outros, a Banda Uó começou a fazer seu nome pela zoeira, todo o sentimento do trash que era legal, mas bastava se aprofundar em seus trabalhos para ver que, apesar das brincadeiras e versões escrachadas para hits gringos, o que tínhamos era a boa música pop sendo produzida e em português e com muitos refrãos chicletes e arranjos que transformavam essas melodias nas propostas mais brasileiras possíveis. E dava certo.


O primeiro disco veio pela Deckdisc. “Motel” (nossa resenha), de 2013, era o primeiro passo ousado da banda, que agora se desvencilhava das versões e covers para abraçar suas próprias canções, e o resultado não poderia ter sido melhor: o álbum rendeu canções como a caricata “Faz Uó”, a maravilhosa “Búzios do Coração”, a homenagem inesperada a Rita Cadillac, “Show da Rita”, e até a participação do produtor Diplo, naquela época ainda no início do hype que se estende até os dias atuais, na faixa “Gringo”.


Dois anos mais tarde, chegou a hora deles descobrirem se podiam ir além e, com seu segundo disco, “Veneno” (nossa resenha), miraram ainda mais alto. O álbum investiu pesado em fórmulas mais comerciais e letras menos explícitas que o anterior, mas sem deixar de lado toda a zoeira que sempre acompanhou a banda, assim como as referências, aqui revividas diretamente dos anos 80 brasileiros.


O grande hit dessa era foi a parceria com Karol Conka, “Dá1Like”, mas o trabalho ainda rendeu releituras para sucessos como “Pretty Fly (For a White Guy)”, do The Offspring, na faixa “É Da Rádio?”, e “U Can’t Touch This”, do MC Hammer, em “Arregaçada”, além de clipes para as canções “Sauna” e “Cremosa”.


Assim como a música pop brasileira se viu entretida, em outrora, por nomes como Mamonas Assassinas e Blitz, a Banda Uó surgia como uma alternativa moderna - e muito bem vinda - de toda essa pegada trash para os dias atuais, dentro de uma era em que as rádios e os programas dominicais de TV eram gradualmente substituídos pelo Youtube, Spotify e tantas outras formas de se oferecer e consumir música, e nessa breve trajetória, não só descobriram e conquistaram seu espaço, como se fizeram ser vistos, curtidos e compartilhados, com um trampo independente e muito bem feito em português. Abrindo as portas para todos os outros que vieram depois.



Mais do que isso, a banda também se tornava um diferencial para os diálogos em torno da sexualidade e diversidade, anos antes do Brasil se ver entre a maior drag queen da música atual e toda essa onda de ódio, desinformação de LGBTQfobia que, enfim, vem sendo amplamente debatida. E se hoje, com tanto acesso à informação e possibilidade de discussões, isso ainda é um problema, quem dirá há anos atrás, para um grupo formado por dois gays e uma mulher trans e negra.


Com “Tô Na Rua”, entretanto, essa despedida tem mais um tom de “até a próxima” do que um adeus propriamente dito, e como os próprios cantam, eles continuarão por aí, sempre saberemos onde os encontrar. Nesta sexta (02) acontece o último show da Banda Uó em São Paulo, no Tropical Butantã, e se fossemos vocês, não perderíamos o fim desse capítulo por nada.

Querida pessoa branca, “Pantera Negra” não foi feito pra você

Nesta quinta-feira, 15, chega aos cinemas a mais nova produção da Marvel, “Pantera Negra”, e com todo um peso e relevância que vão bem além das tradicionais estreias dos caras: essa é a primeira vez que um super-herói negro de origem africana e todo o seu universo ganham um filme solo.


A história gira em torno do príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) e seu reino, Wakanda, e traz um puta elenco, incluindo nomes como Michael B. Jordan (“Quarteto Fantástico”, “Creed”), Lupita Nyong'o (“Star Wars”, “12 Anos de Escravidão”), Danai Gurira (“Vingadores: Guerra Infinita”, “The Walking Dead”) e Daniel Kaluuya (“Corra!”, “Black Mirror”).



Em tempos de discussões sobre representatividade, o longa faz a lição de casa. Todo o visual é fielmente inspirado na cultura de época da África, além da produção ser majoritariamente feita por artistas negros, dos atores ao diretor, Ryan Coogler. E a título de informação, há apenas dois personagens brancos de destaque, interpretados por Andy Serkis e Martin Freeman, o que, apesar de ser raro no cinema, principalmente neste universo de super-heróis, ainda rendeu reclamações e ameaças de boicote.

Levando o mesmo nome que, por mera coincidência, também batizou o movimento que marcou a luta contra o racismo nos EUA entre as décadas de 60 e 80, o herói da Marvel ressurge num momento de importantes passos para a cultura negra em Hollywood, visto ser também o ano em que o terror “Get Out!”, de Jordan Peele, é um dos favoritos ao Oscar 2018, e que plataformas como a Netflix têm demonstrado uma preocupação cada vez maior em também fazer a sua parte nesta busca por reparação, com produções como a bem-humorada e mais do que necessária “Dear White People”.

A importância desse momento, por sua vez, não se dá apenas pela presença, destaque e premiação desses artistas e produções negras, mas também pela oportunidade de finalmente conseguirmos nos ver representados de maneiras que fujam dos velhos estereótipos do cinema e TV, com toda a pluralidade que existe e resiste na história e cultura negra, além da chance de assumirmos essas narrativas na linha de frente e, mesmo que aos poucos, fazermos a diferença para os tantos negros desta e de futuras gerações, que poderão olhar para todos esses filmes e personagens e se identificarem de uma maneira bastante positiva.



Com o perdão da brincadeira no título, o longa está aí para todos apreciarem, sem distinções, e antes mesmo de sua estreia, já estava fadado a fazer a diferença. Aos que se sentiram incomodados de alguma forma no que tange a representatividade e maioria negra na produção, sejam muito bem vindos ao outro lado da história, foi mais ou menos assim que nos sentimos enquanto víamos esse tipo de filme por todos os últimos anos e vocês vão sobreviver.

“Pantera Negra” chega aos principais cinemas de todo o Brasil nesta quinta, 15, e pra encerrar, aproveitamos para mostrar a trilha-sonora do longa, que estreou na última semana no Spotify e, com curadoria do sempre foda Kendrick Lamar, também veio repleta de artistas negros talentosíssimos:




Excelência negra! ✊🏿

Editorial: “Envolvimento”, da MC Loma, e como ainda subestimam o poder da favela e da internet

A música da MC Loma, “Envolvimento”, já está entre as cinquenta mais ouvidas do Spotify no Brasil. No Youtube, agora são 8 milhões de exibições. E, muito em breve, o efeito será ainda maior: a cantora de Recife veio para São Paulo com suas amigas e compositoras do hit, As Gêmeas Lacração, para regravá-la em um estúdio profissional e ganhar um clipe pelas mãos do Midas do funk, Kondzilla.



Em suas redes sociais, ela comemora cada uma de suas conquistas com o mesmo entusiasmo e gratidão, sejam elas os números nas plataformas de streaming e apoio de artistas como Anitta, Wesley Safadão e Solange Almeida ou a oportunidade de comer, pela primeira vez, um lanche da rede de fast-food McDonald's. “Mesmo que isso tudo acabe hoje, eu sou muito grata por o que aconteceu.”


Quanto maior é o hype, maior é o número de quem se recusa a reconhecer o mérito da faixa que, por seu apelo viral, entrou para a corrida pelo hit do carnaval, ao lado de tantos lançamentos de artistas maiores, agenciados por grandes gravadoras, repletos de grana pra meter suas músicas em tudo quanto é lugar.

Mais do que isso, ainda rola uma subestimação imensa do que vem da favela e do poder da internet, que foi a responsável por tornar essa faixa um sucesso. E, muito provavelmente, será a responsável por torná-la ainda maior.



Quem vê o sucesso de “Envolvimento” e não consegue ver além de um viral, precisa exercitar a mente. MC Carol foi do clipe amador - e viral - de “Meu Namorado É Mó Otário” pra um dos discos mais fodas lançados no último ano, com direito a show no festival do Red Bull, nos EUA, e aclamação vinda de todos os lados.

MC Bin Laden, engraçadíssimo com a sua “Tá Tranquilo, Tá Favorável”, também partiu pra shows no exterior, além de, atualmente, ter a atenção de páginas renomadas, como o Pitchfork, para cada um dos seus lançamentos. No Brasil, ainda dividiu palco com o Diplo e Skrillex, no Lollapalooza, validando o que foi bem além de um meme ou sucesso viral.



Mas aí falam que a música é ruim. E precisam compreender que isso parte de um ponto totalmente subjetivo. Assim como tem quem ame os ruídos conceituais da Björk ou os versos desafinados da MIA ou a barulheira dançante e eletrônica da Charli XCX ou toda a música pop engessada que vem sendo produzida para se tornar um hit óbvio há tanto tempo.

Com um sucesso temporário ou não, “Envolvimento” continua crescendo e, felizmente, dando a oportunidade de uma menina de origem humilde ganhar uma grana bacana e reconhecimento por algo que fez na brincadeira, sem nenhuma pretensão, e não conseguimos olhar pra isso sem pensar como uma coisa muito foda.

Nossa torcida é pra que esse envolvimento dure bem mais do que um carnaval. Cebruthius!

“A Vingança”, da MC Carol, é a música que deveria estar no topo do Spotify

Em seu disco de estreia, “Bandida”, lançado em 2016, a MC Carol traz uma música chamada “A Vingança”, que dá um desfecho diferente para uma história que, infelizmente, é muito comum no Brasil: ela foi pro baile e encontrou um cara que, mesmo sem conhecê-la, já estava oferecendo bebidas. Logo depois, ele oferece também drogas, e ela percebe quais são suas intenções.

“Vou te dar um papo, mas guarda pra você”, diz a funkeira. “Eu não gosto de cerveja, eu não gosto de maconha. Tu tá pensando que vai me deixar doidona?” E é na sequência que entrega a sua vingança, porque aproveitou o momento em que o cara foi ao banheiro para “sabotar” sua bebida, devolvendo o que ele esperava fazer com ela, pra que ela saísse inconsciente e se tornasse vítima de seus abusos.

A letra continua: 

“Queria me levar de ralo, me deixando mal / tudo planejado pra fazer bacanal (...) agora, você se fodeu, sou mais esperta que você / você tá doidão e seus amigos vão te comer”.




A música de MC Carol nos volta a memória especialmente nesta semana, por conta de todas as discussões em torno da faixa do MC Diguinho, “Surubinha de Leve”, que foi retirada do Spotify na última quarta-feira (17), após se tornar alvo de críticas pela letra que narra e faz apologia ao estupro contra mulheres.

Traçando um paralelo, os atos narrados por MC Diguinho são, basicamente, o que pretendia o cara na música de MC Carol e, sem a cantora e sua vingança, o final dificilmente seria diferente do que acontece diariamente no Brasil, onde uma mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos.

Já que estamos falando de música e muitas pessoas ainda arriscam defender a faixa retirada do Spotify, alegando que tudo não passa de uma questão de preconceito e discriminação contra o funk, a melhor resposta possível seria colocar “A Vingança”, da MC Carol, que é uma funkeira e negra, no topo das paradas da plataforma. Dando destaque para uma letra que, além de parecer ter sido composta para essa discussão, também combate o principal problema no meio de toda essa história, que é o machismo.

Em tempo, vale ainda sentar e aprender com todo o disco “Bandida”, que ainda traz faixas como “100% Feminista”, com Karol Conka,  e “Delação Premiada”.

Isso é o que você precisa saber sobre Rita Ora e o atual momento de sua carreira

Se você teve tempo de checar quais foram os principais lançamentos desta sexta-feira (05) no Spotify, muito provavelmente já soube que o cantor Liam Payne estreou uma faixa para o novo filme da franquia “Cinquenta Tons” e que essa música conta com os vocais de Rita Ora.



Pra quem não se lembra, Rita Ora é a cantora dessa música aqui:



Foi mais ou menos em 2012 que ela surgiu e, na época, muita gente acreditava que seria a “próxima Rihanna”, por conta dos anos que passou se preparando para ser lançada como a nova aposta de JAY-Z e sua gravadora, Roc Nation.



Felizmente, as coisas foram muito bem para ela, que lançou um disco de estreia, “ORA”, e dele extraiu vários hits: incluindo a parceria com Tinie Tempah em “R.I.P”, a eletrônica “Hot Right Now”, que chegou bem no hype do drum’n’bass do DJ Fresh, a dançante “How We Do”, “Shine Ya Light” e a composição da Sia em “Radioactive”.



Naturalmente, com o disco ganhando idade, as coisas começaram a esfriar para a cantora, mas isso não a impediu de voltar ao topo das paradas anos mais tarde, desta vez ao lado de Iggy Azalea e a sua “Black Widow”.



O sucesso de “Black Widow” foi ótimo pra Iggy Azalea, que não queria morrer como a hitmaker de “Fancy”, e funcionou bem para Rita, que já planejava lançar seu segundo disco, mas eis que surgiu uma pedra no seu caminho.

O ano é 2014. Rita Ora está em um relacionamento sério com Calvin Harris e, sendo o cara um verdadeiro hitmaker, o romance terminou em música. “I Will Never Let You Down” foi o resultado desta parceria e, obviamente, se tornou a quarta aparição de Rita Ora no topo das paradas britânicas, até que os dois terminaram e Calvin Harris não tardou em se mostrar um verdadeiro embuste.



O produtor, que detinha os direitos autorais da colaboração, impediu que a cantora desse sequência na divulgação da faixa e, no melhor momento do single, anunciado como carro-chefe do seu próximo disco, Rita Ora precisou simplesmente fingir que ele não existia, até que pudesse voltar com um novo material, sem a participação do cara, que havia produzido boa parte de suas inéditas.



Essa volta da cantora só foi acontecer um ano depois, quando Charli XCX chamou Rita para o remix de “Doing It”, do disco “Sucker”, e as duas conseguiram chegar ao top 10 britânico, preparando terreno mais uma vez para o sucessor de “ORA”, que ganhou outros dois singles: o hit “Poison” e a morte na praia de “Body On Me”. Nesta última, a cantora dividiu vocais com Chris Brown, o que retomou a relação da sua imagem com Rihanna e, inevitavelmente, afetou o desempenho da faixa.



Bota mais dois anos na conta e, em 2017, eis que a cantora finalmente parece ter o material certo para assumir de vez o lugar que merece.



“Your Song”, terceiro-primeiro-single do seu segundo álbum, surge com cara de hit. Ao lado de Ed Sheeran, que assina a co-composição da faixa, a produção soa como o único meio-termo possível entre “Shape of You”, do próprio, e “Work From Home”, do Fifth Harmony, e surte o efeito esperado, alcançando o sétimo lugar das paradas britânicas.

Pronta pra ir mais além, Rita repetiu a parceria com um produtor de música eletrônica no seu lançamento seguinte e, com Avicii, levou “Lonely Together” para as cinco mais do Reino Unido.



Com tudo mais do que encaminhado, a cantora terminou 2017 como um dos seus melhores anos desde 2012 e, na segunda posição da parada britânica, emplacou seu novo single, agora sem nenhuma participação especial: a maravilhosa “Anywhere”.



De longe, um de seus singles mais interessantes até aqui, “Anywhere” não só sela a volta de Rita Ora, como também a sua empreitada pela música eletrônica, sempre tão bem sucedida entre os ingleses, e mais do que isso, coloca a cantora na linha de frente das cantoras empenhados em tornar a música pop boa novamente, na mesma lista que, nos últimos meses, já anotamos os nomes de Dua Lipa, Little Mix, Camila Cabello, Charli XCX, Carly Rae Jepsen, Taylor Swift e Anitta. E isso não significa outra coisa, senão que precisamos dar todo o apoio possível para a cantora nesta nova fase, afinal, o que será da música pop, se não forem seus fãs engajados e sedentos?

Se a música nova de Liam Payne com Rita Ora seguir os passos dos últimos singles da cantora, que lentamente rumaram por posições cada vez mais altas nas paradas, “For You” será a faixa que colocará seu nome de volta ao topo, mas não podemos deixar que os britânicos façam todo o trabalho duro sozinhos e, no Brasil (ou, caso você esteja lendo isso de qualquer outro lugar do mundo: no país que você estiver), ela também precisa voltar a ser a próxima grande coisa. Então você, fã da boa música pop, agora tem uma missão: dê seu voto de confiança para Rita Ora e ajude-a a salvar o que mais valorizamos na vida, os bons e velhos hits. A música pop agradece.

Das favelas brasileiras para o mundo: onde o funk vai parar em 2018?

No começo de 2017, os dois principais hits do carnaval eram do funk: de um lado, tínhamos Pabllo Vittar e Rico Dalasam ao som de “Todo Dia” e, do outro, quem estourava era MC Kevinho e um de seus primeiros sucessos nas plataformas de streaming, “Olha a Explosão”.

A novela já não era nova, pouco antes, assistimos ao mesmo gênero ascendendo hits como “Deu Onda” e “Baile de Favela” e, em 2016, até rolou uma participação do MC Bin Laden no palco do Lollapalooza, tomando de assalto a performance de um dos headliners daquela noite, os produtores Diplo e Skrillex, que se apresentavam como o duo Jack Ü.



De maneira independente e orgânica, o funk seguiu construindo uma base cada vez mais estável dentro do meio digital e, ao longo do último ano, muitos outros nomes e hits surgiram, até que sua volta ao topo foi oficialmente selada com os números de “Bum Bum Tam Tam”, do MC Fioti, que se tornou nada menos do que o clipe mais visto da história do Youtube no Brasil e, no finalzinho de 2017, chamou a atenção de vários artistas gringos, terminando num remix com o cantor colombiano J Balvin, mesmo do hit “Mi Gente”, e o rapper americano Future.



Um dos maiores nomes da música brasileira atual, Anitta, que começou no funk, abraçou o gênero nessa crescente e, também no finalzinho do ano, se viu quebrando vários recordes ao som de “Vai Malandra”, faixa escolhida para encerrar seu projeto “Check Mate”, com produção do DJ Yuri Martins, mesmo de “Oh Novinha” e “Tá Tranquila, Tá Favorável”, e participação do MC Zaac, que já tinha os hits “Bumbum Granada” e “Vai Embrazando” para chamar de seus.

A volta de Anitta, por sua vez, se mostra um posicionamento mais complexo do que uma mera vontade de emplacar outros hits, principalmente por conta do seu envolvimento em discussões como o projeto de criminalização do funk e o elitismo do Rock in Rio, que tentou “moldar” o seu show para fazer parte do festival e, quando foi publicamente confrontado sobre isso, acabou por escutar o pedido do público e aceitar as considerações da cantora, que está confirmada nas suas próximas edições no Rio de Janeiro e Lisboa.



De olho nesta que já é mais do que uma tendência, quem topou levar mais da nossa música para fora foi o Spotify e, com a estreia do remix internacional de “Bum Bum Tam Tam”, aproveitou para lançar a playlist “Mother Funk”, lista de alcance global e com alguns dos principais hits do gênero brasileiro. O mesmo player também fechou uma parceria de publicidade com Anitta, colocando a sua “Vai Malandra” nos outdoors da Times Square (sim, a propaganda de uma estreia de funk, exposta na gigante Times FUCKING Square), e não deu outra, com a faixa figurando entre as vinte músicas mais ouvidas da plataforma mundialmente.



Na era da ascensão da música latina, com todo o mundo de olho no nosso som e em como podemos fazê-lo dançar, o funk encontra uma oportunidade de não só se consolidar nacionalmente, mas também ir além de nossas fronteiras, quem sabe se tornando o próximo grande momento da indústria. E neste ponto vale destacar, inclusive, que o gênero já havia atraído há alguns anos nomes como o produtor Diplo, que sampleou Deize Tigrona em “Bucky Done Gun”, da MIA, a artista Björk, que surpreendeu seus fãs tocando MC Brinquedo numa festa em Nova York, e até Beyoncé, que dançou ao som de “Passinho do Volante (Ah, Lelek)” no Rock in Rio 2013.



Com um significado, impacto e importância muito além do sucesso comercial, a chamada “fase anal” da música brasileira, como foi apelidada pelo cantor Lulu Santos, se torna também um espaço para, em meio ao avanço de tantos discursos conservadores, resgatar e empoderar a periferia e grupos minoritários que, após tanto tempo de nichos e isolamentos, encontram por todo país palcos dispostos a ouvi-los. 

Se continuarmos neste ritmo, 2018 promete ser um ano e tanto.


Anitta, Dua Lipa, Taylor Swift e a importância dos bons videoclipes para o pop atual

Lady Gaga teve um papel muito importante no que diz respeito a estética e parte visual da cultura pop atual. Quando lançou clipes como “Paparazzi”, “Bad Romance”, “Telephone” e “Alejandro”, a cantora resgatou para essa indústria a grandiosidade dos videoclipes, de uma forma que, anteriormente, só havíamos visto com alguns dos nomes mais fodas da música, do Michael Jackson a Madonna.



Depois de Gaga, a música pop teve seu segundo boom visual com Beyoncé e o disco autointitulado, que, seguido do seu “Lemonade”, não só redefiniu a posição da cantora no cenário atual, como também ressignificou a ideia de lançar álbuns, tornando-a maior, mais relevante e impactante que o velho “compre no iTunes”.

Tanto Gaga quanto Beyoncé criaram uma necessidade importante no público: para consumir sua arte, eles não poderiam simplesmente abri-la em qualquer lugar e ouvir de qualquer forma. Eles precisavam vê-la, aprendê-la, precisavam encontrar e decifrar cada um dos seus significados.



Por outro lado, quando o público começou a se reeducar em relação aos streamings e, graças a internet, uma indústria cada vez mais urgente, essa preocupação em revelar um trabalho visual realmente interessante foi ficando para trás.

Pensando nos últimos grandes hits pop, é difícil até mesmo lembrar se ao menos tiveram um videoclipe. E dizemos isso pensando de “Shape of You” a “Closer”, sem contar o smash hit “One Dance”, do Drake, que, de fato, não pode ser encontrado oficialmente pelo Youtube até hoje, tendo todo o seu sucesso creditado aos streamings e vendas.

Com essa nova postura, o videoclipe, quando lançado, assumia uma posição quase tão irrelevante quanto o lyric video, apenas existindo para aumentar a vida útil das canções e, seguindo as novas regras de paradas como a Billboard Hot 100, impulsioná-las mundo afora.

Mas 2017 tratou de acertar essa conta com gosto. Um dos maiores hits do ano, “New Rules”, de Dua Lipa, deve muito do seu sucesso ao videoclipe: já bem sucedida entre os britânicos, a cantora ainda não tinha nenhum trabalho que nos fizesse morrer de amores por sua videografia, mas mudou essa história quando apresentou suas regras, acompanhada por uma narrativa criativa, diferente e, claro, belíssima.



“New Rules” rendeu memes, despertou o interesse do grande público pela personalidade da cantora e, claro, resultou num sucesso absurdo pelo Youtube que, posteriormente, também chegou ao Spotify e outros players. A mensagem não poderia ser melhor: videoclipes ainda importam e, sim, fazem toda a diferença no trabalho de divulgação de uma canção.

Pra provar essa máxima, quem também voltou disposta a fazer história foi Taylor Swift. “Look What You Made Me Do” foi seu clipe de retorno e, com folga, chegou levando o título de clipe mais assistido de todos os tempos em suas primeiras 24h. No caso de Taylor, o sucesso não tinha a ver apenas com a qualidade do vídeo, mas também com o chamado “replay value”, que nada mais é do que a importância de assistir ao clipe mais de uma vez, seja por achá-lo incrível ou para catar todas as suas muitas referências. A cantora e o diretor do vídeo, Joseph Kahn, usaram a mesma tática quando colaboraram com “Bad Blood”, clipe que, na época em que foi lançado, havia batido o mesmo recorde de visualizações em sua estreia.



No Brasil, algo semelhante tem sido construído por Anitta que, de longe, é um dos nossos melhores casos a serem observados quando falamos em identidade visual. Você não consegue, por exemplo, ouvir a faixa “Bang” sem lembrar do videoclipe cheio de ilustrações coloridas que saltam pela tela e, não à toa, a internet recentemente se dividiu numa discussão sobre o clipe de “Beautiful Trauma”, da cantora P!nk, que inevitavelmente remete ao visual da cantora brasileira em “Essa Mina É Louca”.



Agora que lançou seu novo clipe, o encerramento do projeto Check Mate, “Vai Malandra”, Anitta demonstrou isso mais uma vez, a começar pela diferença da produção em relação aos outros singles do projeto: enquanto a parceria com MC Zaac, DJ Yuri Martins, Tropkillaz e Maejor teve seu clipe gravado há cerca de quatro meses, os outros vídeos foram rodados poucas semanas antes de chegarem ao público, com propostas simples e que só estavam ali para cumprir o requisito.

“Vai Malandra”, por sua vez, foi ganhando forma gradualmente, com a cantora e sua equipe revelando fotos, vídeos de bastidores e prévias oficiais, até que o clipe saiu oficialmente e, claro, se tornou um grande sucesso.



O tiro de Anitta com este lançamento foi tão certeiro que a música superou, inclusive, os números de suas últimas parcerias internacionais, levando-a mais longe do que conseguiu com J Balvin e seu hit em espanhol, “Downtown”.



No final das contas, 2017 nos lembra que, sim, apesar dos novos formatos e de ainda estarmos numa transição quanto ao consumo musical na era digital, os videoclipes cumprem um importante papel que vai além de unicamente angariar views, se tornando importante e necessário não só para a canção que ilustra, mas também para toda a carreira do artista que, fazendo um bom trabalho, terá tudo para colher os frutos disso. O público agradece.

A velha Taylor Swift voltou para nos atender?

Taylor Swift não poderia ter acertado mais no primeiro single do álbum “reputation”: apesar da temática de sua letra beirar o infantil, “Look What You Made Me Do” consegue soar ousada, um tanto quanto raivosa e, sob a produção do Jack Antonoff, mais do que certeira, resultando num dos melhores retornos da música pop neste ano.

Não só isso, Taylor ainda colheu frutos do seu clipe, um verdadeiro baú cheio de referências, influências e indiretas que, em 24 horas, deu a ela dezena de recordes. Tudo isso dentro de um ano em que, infelizmente, artistas femininas ainda estão custando a reconquistarem seu espaço nas premiações e paradas.

“Look What You Made Me Do” não só marcava a volta de Taylor Swift, como também a morte de sua antiga persona, pra dar lugar a sua nova versão, uma femme fatale sem remorsos, que parecia disposta a resolver tudo quanto é treta que ela acumulou nos últimos anos. Mas bastaram surgir outras músicas desse CD pra que a conta não fechasse.

Sucedendo o primeiro single do disco, a cantora apostou na faixa “...Ready For It?” como seu segundo passo e, apesar de ser maravilhosa, a música já nos afasta da ideia de novidade. A agressividade combina com a faixa anterior, sua estrutura, rodeada de pequenos ápices, causa uma expectativa que coincide com o seu título, “você está pronto?”, e eis que, em seu refrão, o que temos é uma típica música da Taylor Swift - da velha, que deveria estar morta, no caso.



Em sua letra, “Ready” também não vai muito longe. A música conversa bastante com outras duas composições da cantora, “Blank Space” e “Wildest Dreams”, do impecável “1989”, e no seu refrão final, ainda explode numa fórmula idêntica a outro hit de seu outro álbum, “Bad Blood”.

Agora, faltando apenas algumas semanas para “reputation” ser lançado, Taylor deu início a uma contagem regressiva que começa ao som de “Gorgeous” e, mais uma vez, somos pegos pela cantora se repetindo. 



Sem a ousadia sonora de “Look” ou a agressividade dançante de “Ready”, a faixa nova soa como uma versão soft de “Blank Space” com “On My Mind” da Ellie Goulding, que compartilha do mesmo produtor, o hitmaker e cada vez mais preguiçoso Max Martin, e ao terminá-la, o que temos é a sensação de estarmos escutando alguma descartada do seu álbum anterior.

Esse fluxo de reaproveitamento é bem comum na música pop. Muitos hits que conhecemos e dançamos hoje, pode ter sido a demo recusada de alguma outra artista e, falando em cantoras que compõem seus próprios materiais, no ano passado tivemos também o exemplo de Carly Rae Jepsen, que reaproveitou muito bem as sobras de seu “Emotion”, no álbum de descartadas “Emotion: Side B”, mas algo foge dessa narrativa quando voltamos a cantora de “Shake It Off” e isso nos lembra de uma outra artista.



Quando quis se desvencilhar dos símbolos que marcaram os hits da era “Teenage Dream”, quem partiu para a mesma tática de acabar com a sua antiga persona foi Katy Perry. Depois de queimar suas perucas, entretanto, a insegurança veio e a cantora optou pelo caminho mais óbvio: os hits prontos “Roar” e “Dark Horse”, que engoliram a era “Prism” e, pela proximidade do que ela já vinha apresentando há algum tempo, pouco despertou a curiosidade do público para o que viria depois.

Por algum tempo, isso pode até colar. Tanto Katy quanto Taylor têm um público bastante fiel, disposto a ajudá-las independente do que estiverem lançando, mas assim como Swift pode vir a enfrentar daqui um tempo, Katy só sentiu o peso dessas escolhas no seu trabalho seguinte, o passo fora da curva “Witness”, que chegou com  a pretensão de se tornar o seu trabalho mais maduro e, comercialmente falando, viveu um de seus piores momentos com a crítica e público.

A reputação de Taylor Swift está em jogo. Cientes de seu potencial, ainda botamos fé que a moça possa reposicionar o pop feminino nas paradas, mas, pra isso, ficamos na torcida pra que ela ouça os conselhos de uma das mulheres mais interessantes do pop deste ano, Dua Lipa, e não atenda o telefone. A velha Taylor pode esperar.

Pabllo Vittar foi a headliner que o Rock in Rio não esperava ter e merece todo o seu respeito

A semana passada começou com uma discussão sem pé, nem cabeça, na qual grupos conservadores lideravam protestos e manifestações (em sua maioria, pela internet) contra o banco Santander, por conta da mostra “Queermuseu”, que levava ao seu espaço cultural, em Porto Alegre, peças que discutiam sobre gênero, orientação sexual, sexo, entre outras coisas.

Por meio de imagens e peças expostas de maneira descontextualizadas, a internet reverberou que a mostra fazia apologia à zoofilia e pedofilia e, numa clara demonstração de covardia e ignorância de quem só pareceu apoiar uma causa pelo status de “empresa cool”, o banco não tardou em ceder às manifestações negativas, tirando a exposição do ar e, inclusive, se desculpando, sem sequer consultar os artistas antes ali expostos.

Como nem tudo é perda, foi nesta mesma semana que Pabllo Vittar, a cantora e drag queen brasileira, se tornou a headliner que o Rock in Rio não esperava ter, roubando a cena de um dos maiores festivais musicais do mundo, numa edição em que competia a atenção do público com artistas como a banda Maroon 5 que, de última hora, foi escalada para cobrir Lady Gaga, que não pôde cantar no evento por motivos de saúde.



Com apenas um disco lançado, a produção de Rodrigo Gorky em “Vai Passar Mal”, Vittar se apresentou duas vezes no festival: puxou uma multidão para o estande do banco Itaú na sexta-feira, ainda que esse não fosse um dos palcos principais do evento, e, no dia seguinte, fez a participação que marcou a apresentação de Fergie, com direito a verso no hit “Glamorous”, da americana, e dedicatória a Anitta, que também havia sido convidada pela dona de “Fergalicious”, mas não compareceu em resposta ao criador do Rock in Rio, Roberto Medina, que disse não ter muita afinidade com a sua música.



Desde seu primeiro hit, a parceria com Rico Dalasam em “Todo Dia”, foram muitas as vezes que Pabllo Vittar lidou com o preconceito, tanto de fora quanto dentro da comunidade LGBTQ, por pessoas que se diziam não representadas pelo artista gay que cantava sobre “ser vadia todo dia”. Mas, hit após hit, sendo eles o single “K.O.”, a parceria com Anitta e Major Lazer em “Sua Cara” e seu trabalho mais recente, a colaboração com Mateus Carrilho (Banda Uó) em “Corpo Sensual”, a cantora provou ter potencial para levar cada vez mais longe suas bandeiras e as tão discutidas representatividade e visibilidade, sem que ao menos precise cantar sobre isso.

A resistência de Pabllo Vittar está no ser LGBTQ e no existir e insistir para que possa ocupar cada vez mais espaços. Mesmo antes da fama, a cantora já lidava com a homofobia por ser uma “criança viada” – expressão que gerou muitas das discussões sobre a exposição do Queermuseu – e, depois do sucesso, lidou com inúmeras críticas ainda impregnadas de preconceitos, até que chegasse ao topo das paradas no Brasil, à parceria internacional com Anitta e Major Lazer e, agora, ao palco do Rock in Rio.



Não dá pra fugir da política quando se faz arte. A cultura, por si só, é política, e seja na música, cinema, teatro, TV ou museu, estará carregada de valores e discursos. Não é a toa que meros quadros foram capazes de despertar tanto incômodo nos grupos conservadores por tocarem em assuntos que já não deveriam mais ser tabus e, nesta linha, é impossível dizer que ter uma drag queen no palco principal do maior festival musical do mundo, mesmo que por alguns minutos, não é um ato político.



Claro que, como com qualquer outra artista, você não é obrigado a gostar dela ou de suas músicas, mas, parafraseando o verso da Mulher Pepita no hit de outra drag queen brasileira, Lia Clark, “tem que respeitar!”.

Nós precisamos ter uma conversa séria sobre a Manu Gavassi

Semanalmente, o Spotify brasileiro tem demonstrado uma importante mudança no comportamento de seus usuários, que vêm consumindo cada vez mais a música pop nacional.

Na última atualização de sua parada, por exemplo, apenas dois artistas internacionais aparecem entre as dez músicas mais ouvidas, Taylor Swift e J Balvin, sendo que as outras oito posições contam com mais de uma aparição de Anitta e Pabllo Vittar, além de hits de artistas que difundem o pop brasileiro por meio de outros gêneros, como Kevinho e Livinho.

Ouça a playlist “Novo Pop Brasil” no Spotify

Essa compreensão de que a música pop nacional não é e não deve soar exatamente como o que ouvimos de artistas internacionais é essencial para que possamos aproveitar o crescimento da nossa indústria como um todo, mas, apesar de aprovarmos por completo a virada que tem ocorrido neste cenário, ainda lamentamos algo quando olhamos para listas como essas: o país ainda não se uniu para ouvir e reconhecer o talento de Manu Gavassi.

E nós estamos falando realmente sério.


Tudo começou em 2015. A cantora, famosa por hits como “Planos Impossíveis” e “Garoto Errado”, lançou um EP chamado “Vício”, que quebrou seu jejum musical desde o disco “Clichê Adolescente”, de 2013, e ele deveria ter sido um puta hit.



O álbum, produzido por Junior Lima (sim, o irmão da Sandy!), era composto por uma dose de synthpop perfeitamente cantada em português, quase como se Carly Rae Jepsen, a rainha do pop subestimado, tivesse deixado alguma irmã perdida no Brasil. E o mais perto que tivemos de vê-lo fazer seu merecido sucesso foi com sua faixa-título, que acumula gloriosas 3 milhões de execuções no Spotify (algumas 1,5M só nossas, precisamos assumir).


Em seus visuais, a Era “Vício” também não nos decepcionou. Manu Gavassi foi da identidade retrô a “it girl”, ora aparecendo entre suas amigas e manequins, ora sozinha sob takes editados para simular o efeito VHS. Verdadeiras obras de arte contemporâneas.



Corta pra 2017, a brasileira anuncia seu contrato com a gravadora Universal Music e nós pensamos: “esse é seu momento, menina mulher!”. Ela lança o disco “Manu”, em abril do mesmo ano, e repetimos: “AGORA VAI!”. E eis que, meses desde a sua estreia, continuamos sem ver todas as suas faixas entre as mais ouvidas do Spotify. Nenhum de seus videoclipes bateram o recorde de exibições nas primeiras 24 horas pela Vevo e Youtube e, mais do que isso, ainda tem quem ouse criticar suas canções, que em nada perdem para o que consumimos em inglês de Selena Gomez, Tove Lo, Dua Lipa, Fifth Harmony e afins.



Com um time de produção ainda maior, composto por nomes como Pedro Dash (Anitta, Projota), Mãozinha (Anitta), Umberto Tavares (Anitta, Ludmilla) e Tropkillaz (Karol Conka), o disco “Manu” foi inicialmente promovido pela faixa “Hipnose”, que soa como algo sexy e dançante entre “Worth It”, do Fifth Harmony, e “This Girl”, do Kungs, mas teve sua divulgação conturbada por conta de comparações do seu videoclipe com “Hypnotic”, da cantora de pop alternativo Zella Day.

Manu Gavassi e sua equipe não hesitaram em ressaltar que se inspiraram no clipe da moça, até mesmo incluindo essa informação na descrição de seu vídeo, mas o efeito dessa hipnose não funcionou. Que país horrível.

Como ainda tem todo um disco pela frente, é claro que Gavassi percebeu que nem tudo estava perdido e, em seu passo seguinte, não deixou espaço para erros. O segundo single do disco foi definido com a ajuda de seus fãs: “Muito Muito” foi uma das faixas mais ouvidas, incluídas em playlists e espontaneamente enaltecidas do disco. E aposta numa pegada ainda mais comercial que “Hipnose”, investindo numa sonoridade dançante e tropical, facilmente comparável a faixas como “Cool Girl”, da Tove Lo, e “Kill ‘Em With Kindness”, de Selena Gomez. E estamos dizendo isso de uma forma completamente positiva.



Se é para ser a diva pop que o Brasil precisa, não basta um bom hit (ele vai acontecer, nós acreditamos) se não tiver um ótimo videoclipe, e assim ela o fez. “Muito Muito” trouxe um videoclipe perfeito para a canção, com muita dança, sensualidade e, claro, carões. Onde já se viu uma diva pop que não saiba acabar com a gente apenas com seu olhar?

Mesmo que tenha sido lançada antes, a música de Manu Gavassi também se aproxima bastante do atual hit de Dua Lipa no Reino Unido, “New Rules”, no sentido de ambas serem faixas dançantes e trabalhadas no empoderamento feminino. Uma sobre superar o término com o boy lixo, outra sobre reconhecer as suas qualidades e esfregar na cara dele sobre o quanto você é “muito muito” superior. Pode entrar, VMA de ‘Melhor clipe com mensagem’!



Até o momento da publicação deste post, o videoclipe de “Muito Muito” conta com exatas 996.462 exibições na Vevo e Youtube, o que é obviamente pouco para o que deveria ser o próximo smash-hit-pop-não-cantado-pela-Anitta no Brasil. Mas nós confiamos no poder da união do povo brasileiro, que se unirá em prol de algo maior.

Na melhor das hipóteses, os brasileiros reconhecerão a qualidade do trabalho de Manu Gavassi antes que seja tarde demais e sua aceitação será tão grande, que sua gravadora se empolgará ao ponto de não deixar passar nenhum grande single em potencial, o que inclui “Perigo”, “Heart Song” e “Mentiras Bonitas”. (Também amaríamos que ela trabalhasse “Aqui Estamos Nós”, de longe a melhor música do disco, mas essa é a típica faixa ótima demais para virar single.)



Você, brasileiro e fã de música pop, tem uma única missão. Junte-se a nós por essa causa. #TodosComManu.

Cardi B é a dona do maior hit solo feminino dos Estados Unidos em 2017

Não é novidade pra ninguém que os rappers foram os que melhor se adaptaram ao sistema de streamings. De Kanye West e seu inacabado "Life Of Pablo" até Drake e a mixtape "More Life", os artista de hip-hop estão acostumados a sempre lançar músicas novas e, por isso, sabem lidar com uma era onde tudo é efêmero e o público está sempre com sede. Aí que, em meio a uma Hot 100 dominada por artistas masculinos do gênero, tivemos uma grata surpresa: Cardi B

Pegando carona na ascendência do rap nos Estados Unidos, Cardi surgiu com a sua "Bodak Yellow", um hit instantâneo. A canção apareceu pela primeira vez no chart americano há sete semanas atrás, em #85 e, sem ninguém perceber, escalou a parada com uma facilidade incrível para quem está apenas começando. Dando salto atrás de salto, a música, em apenas duas semanas no top 10, já chegou ao surpreendente #3 lugar e tem tudo para continuar subindo. 



Cardi é uma rapper negra e latina. Vítima de violência doméstica pelo ex-namorado, ela saiu da casa dele e virou stripper para escapar desse relacionamento abusivo. Em 2013, ganhou notoriedade como qualquer millennial hoje em dia: usando a internet, onde ficou conhecida no Vine e no Instagram

Em 2015, se lançou de forma independente e conseguiu até ser indicada ao BET Awards, premiação da música negra, nas categorias "Best New Artist" e "Best Female Hip-Hop Artist". Participou também de um reality show da VH1, "Love & Hip-Hop: New York", onde aumentou seu público. 

Em fevereiro de 2017, assinou um contrato com uma gravadora, mas, ainda assim, quem a conhecia de fato? "Bodak Yellow", seu verdadeiro debut com o apoio de um grande selo, foi lançada dia 16 de junho. E, em um ano tão difícil para as mulheres da música, Cardi foi contra tudo e todos, conquistou o (até agora) maior hit solo feminino dos Estados Unidos e conseguiu dar o que todos nós implorávamos: um sucesso feminino em território americano. 



Sua ascendência nós devemos, é claro, aos streamings. De playlist em playlist, Cardi foi se destacando. Se estamos vivendo a era do hip-hop, é claro que essas listas são as mais tocadas no Spotify e é claro que era questão de tempo até que a música passasse de apenas uma filler nessas playlist para uma canção salva no perfil dos ouvintes. 

O que tudo isso nos ensina? Que talvez a gente deva parar de criticar a era dos streamings ou, então, olhar seu lado positivo. Com a ascensão do hip-hop, quantas rappes novas não estão recebendo a atenção que merecem? Para citar algumas, temos CupcakKe e Stefflon Don que, em 2017, tem conquistado seu espaço, muitas vezes com letras que retratam problemas como o que a própria Cardi B viveu. Se estamos em um momento onde queremos representatividade, elas estão fazendo muito pela causa. 



Do outro lado do oceano, Dua Lipa consolida sua "New Rules", hino empoderador, como o maior hit solo feminino de 2017 no Reino Unido. Isso também nos trás outra lição: talvez devêssemos parar de colocar todas as nossas esperanças em artistas que já estão por aí e começar a olhar para os novos. Clamamos tanto por hits femininos, cobramos Katys e Gagas, mas esquecemos que, enquanto as já consolidadas querem tentar trabalhos mais conceituais, temos outras, novas, que estão dispostas a fazer a roda girar e a lutar pelos lugares mais altos nas paradas. 

O mundo mudou, a forma de se chegar ao estrelato mudou, a forma de consumir música mudou, tudo mudou. Talvez seja hora de mudarmos, pararmos de subestimar quem está chegando aí e começarmos a procurar a salvação em pessoas inimagináveis. Elas podem nos surpreender.

Esta é uma teoria sobre a treta entre Taylor Swift e Katy Perry terminar no VMA 2017

Quando vazaram os primeiros rumores sobre retorno de Taylor Swift, disseram que o tema central seria relacionado ao “tempo”. Voltar no tempo, avançar alguma coisa, retomar narrativas? Não sabemos. Mas sabemos que a Katy Perry, inspiração de “Bad Blood”, disse uma vez pelo Twitter: “o tempo dirá a verdade final”.


Corta pra 2017. Após cambalear com alguns singles, Katy lança o disco “Witness”. No mesmíssimo dia, Taylor Swift dá trégua a sua batalha contra as plataformas de streaming e disponibiliza toda a sua discografia no Spotify e afins. Até as versões instrumentais do disco ela lançou, pra vocês terem uma ideia de como estava inspirada.



Eis que, ainda buscando equilibrar a fase do disco “Witness” comercialmente, Katy Perry aceita uma oportunidade de ouro: vai apresentar o VMA, uma das maiores premiações da música pop, e na mesma semana, se prepara também pra estrear o clipe de “Swish Swish”, nada menos que sua resposta pra “Bad Blood”. E quem é que acorda do coma? Sim, a Taylor.



Na contramão da Katy, que esteve mais presente do que nunca nas redes sociais para a divulgação desse CD, tendo feito até mesmo uma transmissão ao vivo de 24 horas pelo Youtube, Taylor optou pelo silêncio. Voltou apagando tudo de todas as suas redes sociais. Uma volta no tempo, aquele que dirá toda a verdade. E, logo depois de Katy soltar uma prévia do clipe de “Swish Swish”, soltou também o que pode ser uma amostra do seu retorno.


Joseph Kahn, diretor de “Bad Blood”, que ironizou a letra de “Swish Swish” na sua estreia, já correu pra compartilhar o vídeo da Taylor. Alguns segundos com um animal peçonhento. É uma cobra, como os emojis que tomaram conta das menções a Taylor? Um crocodilo, quem sabe? Ou, no clima de “Game of Thrones”, um dragão? Sei lá. É um vídeo misterioso, que dá início a esse novo momento. Dá início ao relógio.


VMA tá aí. E a Taylor ama o VMA.

Foi nessa premiação que ela “fez as pazes” com Nicki Minaj, logo após uma discussão sobre empoderamento feminino e o racismo por trás do boicote de “Anaconda”. Fico desconfortável com essa apresentação até hoje.



Foi nessa premiação que, anos após ser interrompida por Kanye West, que acusou o privilégio branco sobre a vez em que ela venceu Beyoncé, Taylor subiu ao mesmo palco para homenageá-lo e vê-lo receber o título de artista vanguarda. Outro momento que ainda me embrulha o estômago.

E aposto várias fichas que será nessa premiação que ela retomará essa história. Com Katy Perry como a anfitriã. Tudo o que a MTV precisava para uma edição em que compete com a final da série mais comentada do momento.



Mas tem algo errado nessa conta. O VMA desse ano tá todo político, na medida do possível. Abriram mão das categorias separadas por gênero, por exemplo, e até mudaram o nome do “Moonman”, que agora se chama “Moonperson”. O quão controverso seria darem palco para uma disputa feminina que já se estende por anos? Ou, melhor, seria essa a oportunidade dessa história finalmente ter um ponto final?

Como a Katy nos avisou, só o tempo nos dirá. Vocês são testemunhas.

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