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O que sabemos sobre “Escândalo Íntimo”, o novo álbum de Luísa Sonza

Luísa Sonza tem um novo escândalo. De surpresa, a cantora gaúcha anunciou para o dia 29 de agosto a estreia do seu novo álbum: “Escândalo Íntimo”, revelando também a sua capa e os títulos de algumas faixas que compõem a sua tracklist.

Antecedendo sua estreia no palco do The Town, “Escândalo Íntimo” é o primeiro álbum da artista desde o “Doce 22”, que rendeu hits como “VIP”, “Anaconda”, “Melhor sozinha” e “Penhasco”. Essa última música, inclusive, ganhará uma sequência no novo trabalho. “Penhasco 2” está entre as inéditas anunciadas pela cantora, ao lado de outros nomes como “Surreal”, “Carnificina”, “Principalmente me sinto arrasada” e “Chico”, nome também do seu namorado atual.

A capa de “Escândalo Íntimo” é assinada pela artista Olga Fedorova, que manteve a linha conceitual de seus últimos trabalhos, o que chama a atenção principalmente pela contracapa com uma espécie de cavalo com rosto humano.


Numa carta aos fãs, Luísa definiu seu novo álbum como o mais íntimo e doloroso de sua carreira até aqui, além de ter um divisor de águas na forma como compreende o relacionamento abusivo que manteve com ela mesma: “Me doeu tanta coisa por tanto tempo e agora tudo do meu eu mais íntimo vai estar aí, pra todo mundo ver e escutar.”

Após uma temporada nos Estados Unidos, é esperado que “Escândalo Íntimo” conte com a produção e composição de nomes internacionais com quem a cantora dividiu estúdio nos últimos meses, mas, até então, nenhum nome de sua ficha técnica foi revelado.

Mia Badgyal está de volta com o reggaeton experimental de “LOKA”

Um dos símbolos emergentes da resistência clubber brasileira, com influência de artistas que vão do francês Gesaffelstein a venezuelana ARCA, Mia Badgyal está pronta pra contar e cantar a sua própria história ao som do seu álbum de estreia “EMERGÊNCIA”, esperado para ainda este ano em todas as plataformas.

O carro-chefe desse novo projeto, sucessor da mixtape “Mia” (2019) e singles como “Na batida” (2017), “Amor Fajuto” (2019) e “VTQ” (2020), é a produção de FUSO! e Rodrigo Kills em “Loka”, um reggaeton com experimentações eletrônicas que entregam muito das influências que cercam este novo trabalho.

“É um grito por todas as travestis que são donas de si, e que sabem da sua força. Se ser louca é tomar as suas próprias rédeas, eu sou LOKA mesmo, nós somos o que existe de melhor e somos fortes”, define a artista.

“A Mia é ‘loka’ e tá pronta pra conquistar seu espaço”, conta um dos produtores da música, FUSO! “A vibe obscura da música me chamou a atenção, em algumas horas rascunhei um instrumental pra complementar a demo. Junto com Rodrigo, conseguimos misturar timbres techno à la Gesaffesltein e a vibe reggaeton que Mia queria pro álbum, sintetizando muito bem a mensagem.”

Do reggaeton ao neo-perreo, são muitos os artistas que estão explorando e renovando as influências da música latina pelo pop global, com nomes que vão de FKA Twigs (“papi bones”) a Rosalía (“SAOKO”), passando ainda pela própria ARCA, Bad Bunny, Isabella Lovestory e Rakky Ripper, entre outros nomes e, no que depender dessa nova fase, não tardará até que Badgyal também garanta seu espaço nessa lista que têm dominado os festivais - e nossos fones de ouvido - mundo afora.

Ouça “LOKA”:

Crítica: “Medida Provisória” tritura sua importância quando tem um roteiro à la Quebrando o Tabu

Na minha crítica para o fabuloso "Divino Amor" (2020), apontei como o cinema nacional, apesar da resseção cultural, está emergindo com nomes que unem críticas sociais com ineditismos criativos. Com as pressões de um país em crise, esse seria um efeito colateral benigno, o de usar a arte como meio de reflexão das nossas mazelas, e no chamado "Novíssimo Cinema Brasileiro", estamos cada vez mais recheados de exemplares do gênero: "Trabalhar Cansa" (2011), "As Boas Maneiras" (2018), "Morto Não Fala" (2018), "Bacurau" (2018), "Casa de Antiguidades" (2020) e "A Nuvem Rosa" (2020) são exemplos, e "Medida Provisória" acaba de entrar para o mesmo panteão.

"Medida Provisória" é o filme de estreia de Lázaro Ramos na cadeira de direção de ficção. Baseado na peça "Naníbia, Não!" (2009) de Aldri Anunciação, o enredo se passa em um futuro brasileiro próximo. O governo capengamente tenta criar uma reparação - seja social, seja econômica - pelos anos de escravidão, e, após várias tentativas falhas, a solução foi feita por meio de uma medida provisória que obriga todas as pessoas pretas do país a serem imediatamente levadas de volta para a África. Pretas não, todos com "melanina acentuada", como a nova denominação para pessoas retintas.

O longa de Lázaro vai de mãos dadas com "Divino Amor" para um futuro assustadoramente próximo que eleva à máxima potência uma pequena fagulha opressora que já se instalou em nosso país. É claro que o projeto entregue com a boca cheia de dentes de políticos passa longe de uma reparação, e sim um projeto mais do que direto de higienização social, a fim de deixar o Brasil um país de brancos - o mesmo país que era originalmente povoado por índios e não por brancos, mas tá bom.


A premissa do roteiro é mais do que instigante - é difícil ler a sinopse e não querer sentar pelos 103 minutos a fim de saber como essa distopia se desenrolará, principalmente quando é comparada com fenômenos midiáticos como a série "Black Mirror" (2011-) e o vencedor do Oscar "Parasita" (2019). E é aqui que se inicia o grande "porém" de "Medida Provisória". Confesso que não tinha total certeza se este era ou não o primeiro filme de Lázaro, afinal, sua carreira na tevê e cinema é vasta e o convite para sentar do outro lado da câmera já deveria ter acontecido mais cedo, mas sim, é a estreia do ator como diretor, e isso fica claríssimo durante quase todos os segundos de projeção.

Ultimamente ando com um debate interno (sem ainda grandes resoluções) sobre o papel do Cinema como arte social. Esse debate se inflamou após assistir a "Red Rocket" (2021), uma película que segue um personagem principal completamente asqueroso, todavia, sem um julgamento escancarado por parte da obra. Seria obrigação do Cinema uma exposição claríssima e sem resquícios de dúvidas sobre o bem e o mal? É dever do cineasta julgar atitudes problemáticas de seus próprios personagens, com o intuito de não fomentar na vida real pessoas como as da tela? Enquanto acho que deve haver responsabilidade na arte, também não vejo o Cinema como uma escola audiovisual. Onde então reside esse limiar? Qual a medida dessa balança? Sinceramente não sei.

Em "Medida Provisória", o efeito é o extremo oposto: é tudo tão exposto que se torna didático. Depois de um confuso primeiro ato, com milhares de informações jogadas de maneira desconexa, um eixo é encontrado quando a medida provisória do título é instaurada. A partir de então, a falta de maturidade na linguagem cinematográfica dos envolvidos fica latente quando essa linguagem é utilizada da forma mais básica possível.

Vamos voltar lá nos fundamentos do Cinema. O Cinema é chamado de "Sétima Arte" desde 1923 quando Ricciotto Canudo escreveu o "Manifesto da Sétima Arte", e isso se deu pelo Cinema unir todas as outras seis em uma só mídia: Pintura, Escultura, Música, Literatura, Dança e Arquitetura. E se formos entrar em cada elemento de cada uma dessas artes, o cinema tem uma infinidade de recursos para transmitir suas mensagens: são imagens, sons, cores, formas e transições que, juntas, criam sensações. Para resumir, o Cinema mostra, não diz.


Isso não quer dizer que os diálogos são supérfluos no Cinema, não é esse dizer - todos os filmes não precisam ser como "A Gangue" (2014), que não há um só diálogo ou legenda na tela, cunhado unicamente em imagens. O grande problema de "Medida Provisória" é a histriônica falta de sutileza: absolutamente tudo precisa ser dito detalhadamente ao invés de mostrado. Enquanto a duração corria pelo ecrã, pensava em "Bacurau" e como o brilhante roteiro falava tanta coisa sem deixar muitos pontos explícitos, como a valorização da história e da cultura em detrimento da religião para o povo "gente" (denominação dada para quem nasce em Bacurau). O filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles encontra o balanceamento entre o que precisa ser dito e o que deve ser mostrado, e isso é conseguido a partir da maturidade semiótica da arte que é o Cinema, algo que falta em "Medida Provisória".

Talvez o exemplo mais cristalino dessa falta de domínio cinematográfico está na sequência em que um personagem branco e um personagem negro são assassinados ao mesmo tempo. Quando se utiliza de um dos elementos mais poderosos da linguagem fílmica, a montagem, o filme cai em uma ambiguidade que não soa muito certeira: enquanto uma das mortes é uma reação, a outra é puro ódio, então como colocar ambas em um mesmo patamar?

A principal trama da fita está no fato de que os policiais não podem entrar nas casas das pessoas pretas, tendo que capturá-las para o exílio somente nas ruas. O protagonismo do filme se divide entre três personagens: o advogado Antônio (Alfred Enoch, sim, o Dean Thomas da franquia "Harry Potter", 2001-11) e seu primo André (Seu Jorge) estão escondidos em casa enquanto Capitú (Taís Araújo), esposa de Antônio, foge do hospital em que trabalha e para em um "afrobunker", esconderijo de pessoas pretas que criam um movimento contra a "devolução". A separação da família, que não sabe do paradeiro um do outro, é o cerne da trama, enquanto o país entra no caos da caça de pessoas pretas.


Tirando esses três personagens, todos os outros sofrem de uma pobreza de desenvolvimento terrível, como a Isabel de Adriana Esteves, uma Dolores Umbridge que tem receio de falar que gosta de café preto. E claro que não poderia faltar a vizinha branca que diz que já sofreu """racismo""" pelo seu cabelo e que adora pessoas pretas, a empregada dela é até uma; e o diálogo de "nossa como eu queria ter a pele negra", já que é muito legal """querer""" ser preto até sofrer tudo o que eles passam, não é mesmo?

No entanto, é inegável a importância de toda a mensagem, por mais mastigada que ela seja. Me pergunto (com uma leve certeza) se essa mensagem vai atingir quem deveria atingir, afinal, a massa reacionária vai evitar ferrenhamente qualquer aproximação com a obra. Indiferentemente, por mais cansativo que ainda seja para pessoas pretas falarem de racismo (2022, pelo amor de deus), enquanto houver a necessidade, a mensagem deve ser dita para todos os lados.

A importância de uma obra como "Medida Provisória" não dá para ser contestada, principalmente no Brasil atual, afogado com conservadorismo, fascismo e opressões. Contudo, o Cinema como arte não sobrevive de boas intenções, e o roteiro aqui tritura sua mensagem de forma tão forte, a fim de facilitar ao máximo a assimilação das massas, que enfraquece o impacto de algo que poderia ser enorme. São frases de efeito e poemas que anulam a naturalidade e que amainam o que poderia ser um dos melhores filmes do ano. De qualquer forma, é lindo ver salas de cinema lotadas com um longa tupiniquim que discute o racismo, porém, quando há uma cena em que o Emicida tira das mãos de um personagem uma arma e entrega pra ele um livro, foi a confirmação da imensa falta de sutileza de um roteiro digno do Quebrando o Tabu.

Crítica: “A Nuvem Rosa” previu a pandemia em seu (sensacional) estudo do distanciamento social

Existem certas coincidências que são assustadoras demais para serem verdade - e quando envolvem a corrente pandemia, se tornam ainda maiores. Lembro bem quando, no primeiro semestre de 2020, a Netflix lançou "O Poço" (2019), um filme sobre a equidade de recursos e como somos egoístas nessa coisa doida chamada "sobrevivência". A película espanhola refletia bem a loucura em supermercados e a falta de produtos pela compra desenfreada - álcool em gel mesmo, ninguém achava.
 

Pulamos para 2021. Em pleno mês de setembro do corrente ano, estamos caminhando para uma realidade menos caótica pelo avanço das vacinas (defenda o SUS), porém, a quarentena ainda é um fantasma mais que presente. No último dia 02, chegou nas plataformas de stream o filme "A Nuvem Rosa", longa de estreia de Iuli Gerbase. A primeira coisa que vemos sobre o filme, nos segundos iniciais, é um cartão informando que o roteiro foi finalizado em 2017 e as filmagens em 2019. "Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência". É raro vermos uma pontuação tão incisiva sobre um aspecto não-diegético, então por que aquela informação era tão vital para ser a abertura da obra?

A história se passa em algum presente ou futuro mais-do-que-próximo. Giovana (Renata de Lélis) é uma mulher que conhece Yago (Eduardo Mendonça) em uma festa e leva-o para passar a noite em sua casa (empoderadíssima, virei fã). Pela manhã, sirenes disparam ao redor da cidade, e os noticiários informam que nuvens tóxicas cores-de-rosa surgiram ao redor do mundo, matando quem entra em contato em apenas 10 segundos. A regra é fechar todas as portas e janelas e o que quer que dê acesso ao mundo externo, trancafiando todas as pessoas no lugar em que elas estiverem no momento - quem estava em casa, parabéns pela sorte.

Ali estava Giovana com Yago, um homem que ela conhece há menos de 24h. As primeiras reações são um misto de preocupação e frivolidade: por mais que eles levem a sério o que estava acontecendo, há uma latente impressão de "isso vai passar logo". E a partir de então, a câmera de Gerbase se instala claustrofobicamente dentro da casa de Giovana - mais uma fita para a lista de "filmes que se passam inteiramente em um só lugar".

A diretora foi bem esperta na tentativa de manter o espectador junto com os personagens naquela casa. Com exceção do rápido prólogo, não saímos das paredes da residência - até mesmo na cena em que Giovana conhece Yago, estamos afundados em um background escuro, sem conseguir visualizar o local da festa, apenas os personagens. Até esquecemos que um dia aqueles dois sentiram a brisa de uma rajada de vento.

Então, estranhamente, "A Nuvem Rosa" "previu" a pandemia. A distopia natural, no entanto, vai para caminhos que fogem da obviedade fomentada pela premissa. Ao contrário de nomes como "Contágio" (2011, que também se aproxima demais do nosso real) e qualquer longa que se baseia em algum tipo de "fim do mundo", "A Nuvem Rosa" não está tão interessado em estudar o que acontece do lado de fora das paredes de Giovana, focando quase que inteiramente na relação forçada dos dois protagonistas.


Em um momento, Giovana fala que ela e Yago são como um "casal indiano" que se conhece apenas no dia do casamento e devem aprender a conviver um com o outro a partir dali. Esse é o cerne da fita. Banhados por uma áurea rosa emanada pelas nuvens, os dois, que começaram como um lance de fim de noite, mantêm a relação que não estava prevista - e muito é questionado a partir disso. Quando o tempo vai passando e as nuvens não dão sinal de desistência, a situação fica mais precária.

Aqui também está uma das melhores escolhas técnicas e narrativas do filme, a maneira que ele cria as elipses temporais da história. Não há sinais cronológicos diretos de quanto tempo eles estão ali, explorados pelas mudanças físicas dos protagonistas, como o crescimento dos cabelos e da barba de Yago. No começo pode parecer um pouco estranho navegar pelo enredo sem uma bússola temporal, todavia, embarcamos sem problemas quando percebemos qual foi a estratégia selecionada por Gerbase, executada com êxito a partir da montagem certeira.

O primeiro grande estudo do roteiro é a convivência forçada. Giovana e Yago funcionavam muito bem nos primeiros tempos de quarentena, tendo o trabalho (agora home-office) para distrair e fugir da monotonia da rotina, porém, estar 24h por dia ao lado de alguém que você não escolheu se torna um peso cada vez mais difícil de ser carregado.


Giovana com frequência se comunica com amigos e parentes por meio de chamadas de vídeo. Sua irmã mais nova estava na casa de uma amiga quando a nuvem surgiu, estando lá desde então. Uma amiga está sozinha no apartamento depois que o namorado foi à uma padaria no momento que desencadeia a história, prendendo-o lá. Sua saúde mental vai degringolando pela ausência de contato humano, correndo em busca de válvulas de escape que se mostram inúteis, como a compra de um cachorro-robô.

É então entramos no segundo grande estudo do texto, o contato físico. O talo, a pele. Com as relações cortadas com Yago, ele e a protagonista desenrolam estratégias para suprir o desejo sexual - ele através de sexo virtual; ela, por meio de um vizinho de janela. Se ali a coisa não é tão ortodoxa, há situações bem piores: a irmã mais nova liga para Giovana e diz que o pai da amiga engravidou duas outras garotas que também estão lá desde o incidente da nuvem. Sim, o pai engravidou as amigas (menores de idade) da filha - esse momento me recordou "Miss Violência" (2013), uma referência bem-vinda.

E, para o espanto de ninguém, Giovana acaba grávida de Yago - um "bebê da pandemia". A chegada da criança é um ótimo elemento de elipse temporal, com o público podendo mensurar com mais precisão a passagem do tempo - e somos engolidos pelo crescimento da criança e a certeza de que eles continuarão presos ali. É triste pensar que o menino jamais pisou os pés fora daquela casa.


A maior previsão da obra, que deixaria Nostradamus abismado, é a galera que celebra a nuvem. Temos vídeos de youtubers falando como o conjunto de gás tóxico colorido do lado de fora na verdade é uma bênção, vinda para ensinarmos a vivermos de forma melhor. Coatches se aproveitam para vender estilos de vidas vitoriosos, independente da ameaça mortal ao lado da janela. Soa familiar? É o desgosto absoluto.

Com a depressão afogando Giovana, ela ganha de aniversário um óculos de realidade virtual. O presente é um ponto de virada na relação de todo mundo, pois a mulher acaba se perdendo naquela realidade artificial criada pelo óculos - no melhor estilo "Black Mirror" (2011-). Ela vai se distanciando cada vez mais da família para "viver" qualquer simulação dada pelo VR, chegando a espalhar areia em um quarto para se sentir ainda mais em uma praia. Ela anda pela casa de maiô e só interage com alguém nos rápidos momentos em que está fora da praia de led.

Uma das escolhas feitas pelo roteiro pode ser uma faca de dois gumes: raramente temos conhecimento de como está funcionando o mundo exterior. Não sabemos como está o governo, as autoridades e qualquer tipo de poder institucional que reja aquele Brasil, e isso é uma decisão correta. Não interessa os comos e os porquês da nuvem e das configurações que se iniciaram a partir dela - e, curiosamente, por estarmos dentro de uma realidade parecida, a falta dos porquês não é uma deficiência, pelo contrário. Sabemos muito bem como é estar ali - por mais que tenhamos mais liberdade de ir e vir que Giovana e Yago.

Com um final igual um acidente que vemos acontecer, mas podemos fazer nada acerca, "A Nuvem Rosa" fortalece uma veia grossa do novíssimo cinema nacional, a extrapolação criativa de enredos que hiperbolizam nossa realidade a fim de estudá-la e criticá-la - como "As Boas Maneiras" (2017), "Bacurau" (2019), "Trabalhar Cansa" (2011) e "Divino Amor" (2019). Essa veia contraposta o estilo mais clássico da nossa indústria, o "cinema verdade" ("Aquarius", 2016; "Que Horas Ela Volta?", 2015; "Tropa de Elite", 2007; "Temporada", 2018; etc), e não quer fincar as unhas no crível, pelo contrário, almejando desenvolvimentos mais fantasiosos que (absurdamente) soam mais do que reais - e a explanação de "A Nuvem Rosa" sobre o "novo normal" é um espelho desconfortável de ser encarado.

A Travestis lança seu primeiro álbum, “Respeita as travestis”, misturando pagodão baiano com Lady Gaga e Pabllo Vittar

Seguindo os passos do funk e suas diferentes vertentes Brasil afora, o pagodão baiano têm conquistado cada vez mais força e espaço no pop brasileiro e, pelas beiradas, emplacou hits nas vozes de Pabllo Vittar (“Problema Seu”), Lexa (“Provocar”), Anitta (“Me Gusta”) e Ludmilla (“Invocada” e “Pra Te Machucar”, essa última com o trio Major Lazer), pra citar alguns.

Na cena local, são muitos os nomes de destaque e, entre eles, uma artista que está decidida a cruzar as fronteiras baianas pra fazer o grave bater por todo o território nacional: estamos falando da artista Tertuliana ou, como é chamada nos palcos, A Travestis.

Na estrada desde 2019, quando estourou com o hit “Murro na costela”, A Travestis é essa banda de uma cantora só que, após o primeiro sucesso, encontrou uma fórmula infalível: mistura o grave do pagodão baiano com referências da cultura pop, acompanhadas por letras que, sem o menor pudor, tratam de suas vivências enquanto mulher trans.

“Respeita as travestis”, seu disco de estreia, chegou aos streamings na última semana e faz uma coleção de acertos. Na tracklist, só traz colaborações com outras mulheres nordestinas: a alagoana Danny Bond e as baianas Nêssa e Daiana Leone, da banda Swing de Mãe. Enquanto, através de suas faixas, explora as sonoridades do pagodão em encontro com outros ritmos, incluindo reggaeton, funk e, claro, música pop.

Lady Gaga, sampleada em “Murro na costela”, tem outras duas faixas servindo de inspiração para a brasileira: “Applause”, do disco “ARTPOP”, aparece com andamento mais lento em “Disputa”, enquanto “Poker Face”, da saudosa era “The Fame”, vem pra estourar o grave com “Desce viado”.

Pabllo Vittar, com quem A Travestis colaborou na faixa “Tímida”, do disco “111 Deluxe”, também é lembrada em pelo menos dois momentos: na mistura de “Tokyo Drift” com funk em “Cagar no pau” —a mesma mistura acontece em “Bandida”, da drag maranhense — e na faixa “Bunda de PV” que, como entrega seu título, fala justamente sobre o traseiro da cantora.

O álbum está disponível na íntegra pelo Youtube e outras plataformas de streaming.

Luísa Sonza anuncia “Modo Turbo”, com Anitta e Pabllo Vittar, e Cardi B comemora: “já quero ouvir”

O feat é real, Brasil! Depois de muitas especulações e o silêncio ensurdecedor de todas as artistas envolvidas, chegou a confirmação: na próxima segunda-feira (21) tem música nova da cantora Luísa Sonza ao lado de Pabllo Vittar e Anitta.


Primeiro single de seu segundo álbum, sucessor do aclamado “Pandora”, do qual extraiu hits como “Pior Que Possa Imaginar” e “Garupa”, a parceria se chama “Modo Turbo” e precisou ser revelada após o vazamento de sua capa pelas redes sociais.



Levando em consideração o histórico de colaborações entre as cantoras, é certo que o hit virá mais do que pronto: Luísa e Pabllo cantam juntas em “Garupa”; já com Anitta, a cantora dividiu os vocais em “Combatchy”, e, sem a cantora de “Braba”, Anitta e Pabllo são as vozes do smash hit “Sua Cara”. OU SEJA.


A ficha técnica da faixa também é promissora. “Modo Turbo” tem os mesmos compositores de hits como “Boa Menina”, da Luísa Sonza, e “Disk Me”, da Pabllo, além da produção do criador do Baile da Gaiola, Rennan da Penha, ao lado do Rafinha RSQ, que assina faixas como “Loka”, de Anitta e Simone & Simaria, “Século 21”, de Luísa com Léo Santana, e um dos maiores hits brasileiros do segundo semestre deste ano, “Só Tem Eu”, do cantor Zé Felipe. Os streamings que lutem.



Gente como a gente, quem já está animadíssima pra essa parceria é ninguém menos que a rapper Cardi B, que celebrou a colaboração pelo Twitter, afirmando: “mal posso esperar pra ouvirrr!”. Super por dentro do pop brasileiro, a artista colabora com Anitta em “Me Gusta” e, recentemente, também elogiou o visual de Pabllo Vittar inspirado em um de seus penteados no clipe de “Bandida”.



Se tem a benção da Cardi, tá mais do que aprovada, né? Anota aí: Luísa Sonza, Pabllo Vittar e Anitta. “Modo Turbo”. Segunda.

Sem Anitta, PSY e Major Lazer, MC Lan canta em três idiomas no álbum “Bipolar”

Não foi dessa vez que MC Lan emplacou sua planejada carreira internacional, mas ninguém pode negar que ele está no corre. “Bipolar”, disco anunciado pelo artista há alguns meses em suas redes sociais, e prometido com parcerias de artistas como PSY, Wiz Khalifa, Major Lazer e até Anitta, chegou nesta sexta-feira (18) às plataformas de streamings, só que sem os tão comentados feats.


Com sete músicas nas quais o funkeiro se divide entre versos em português, inglês e espanhol, o álbum tem como carro-chefe a colaboração com Ludmilla, Skrillex e Ty Dolla $ign em “Malokera”, além do single anteriormente lançado com o rapper Desiigner, do hit “Panda”, “I’m F.R.E.A.K.”.


Sem outros nomes de peso, a tracklist segue acompanhada de artistas em ascensão por diferentes regiões do mundo, incluindo os rappers mexicanos Snow Tha Product e MC Davo, o duo venezuelano Blackie & Louis e o parceiro de Anitta em “Vai Malandra”, Maejor. Não há nenhuma música solo.



Neste ano, MC Lan concorreu ao Grammy Latino pela colaboração com Major Lazer e Anitta em “Rave de Favela”, ausência notável dentro do disco, além de ter indiretamente colaborado com Billie Eilish nesse remix de “everything i wanted” que, segundo o brasileiro, foi devidamente autorizado pela cantora.


Suposta briga no namoro de Ludmilla termina em pagode com Orochi: “I Love You Too”


 Calma, gente! Que tá tudo bem entre Ludmilla e a namorada, Brunna Gonçalves!


A cantora de “Amor difícil” deu um susto no público após usar seu Twitter para reclamar desabafar sobre ver coisas que não gostaria no celular de alguém, dizendo: “Pegar celular que não é seu pra ver a hora e descobrir coisa errada é foda.”


Em seguida, Lud continuou a fic falando que achou “mentira onde nem tava procurando.” Mas não tardou em explicar o que estava rolando: foi tudo marketing pra promover sua música nova em parceria com o Orochi, “I Love You Too”.


Parte do projeto ao vivo de pagode “Numanice”, a canção chegou aos streamings nesta sexta-feira (18) e, em sua letra, Ludmilla desabafa após encontrar mensagens de outra pessoa no celular do parceiro Orochi, que justifica dizendo se tratar apenas de uma fã.


Pra quem não conhece a história da música, “I Love You Too” pode soar esquisita aos ouvidos brasileiros pelo sotaque de Ludmilla e algumas escolhas de palavras, isso porque a canção, na verdade, é uma regravação de outra do mesmo nome, lançada no ano passado pela cantora cabo-verdiana Soraia Ramos - seu país de origem, assim como o Brasil, sofreu colonização portuguesa, tendo o idioma, ligeiramente diferente do falado no Brasil, como a sua língua oficial.


Ouça a música abaixo:



Se aventurando pelo pagode, Ludmilla estreou o projeto “Numanice” neste ano com um EP composto por seis faixas, incluindo uma versão solo do seu feat com o Silva em “Pôr do sol na praia”, além de destaques como “Amor difícil” e “Não é por maldade”. Com “I Love You Too”, a cantora dá início a versão ao vivo do projeto, que contará ainda com versões para sucessos como “A Boba Fui Eu”.

Crítica: “Casa de Antiguidades” frustra quando não atinge seu potencial de resistência


Atenção: a crítica contém detalhes da trama.

O principal nome brasileiro na Mostra de Cinema de São Paulo é "Casa de Antiguidades", estreia do diretor João Paulo Miranda Maria. O longa foi escolhido para a seleção do Festival de Cannes 2020 - que veio a ser cancelado por conta da pandemia -, angariando ainda mais atenção ao redor da obra, um dos fortes nomes nacionais para a representação do país na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2021.

A obra é estrelada por Antônio Pitanga no papel de Cristóvão, um idoso trabalhador que saiu do Goiás para uma fábrica de leite em uma colônia alemã do sul. A escolha do ator, por si só, é emblemática. Pai da também atriz Camila Pitanga, Antônio é um dos maiores nomes no Cinema Novo brasileiro, internacionalmente conhecido pelos trabalhos ao lado de Glauber Rocha, Anselmo Duarte e Cacá Diegues. Cristóvão é o primeiro papel do ator em quase uma década, e sua retomada é um acerto não apenas em termos de técnica performática, mas também como misticismo ao redor de sua pessoa.


Uma das primeiras cenas é o personagem conversando com seu chefe. O patrão, dono da fábrica, fala majoritariamente em alemão e diz como, mesmo estando há anos no local, Cristóvão terá o salário reduzido graças à "crise". "Ele é preto e velho, onde acharia algo melhor que isso?", diz o presidente do local para a secretária, que não traduz a fala. Só o público é cúmplice do que real está acontecendo ali.

A vida de Cristóvão do lado de fora da fábrica é bastante solitária. Ele não pega o ônibus para voltar para casa, preferindo ir a pé (os motivos ficam na mente do público). Em casa, sua única companhia é um cachorro com três patas, que é torturado por um grupo de crianças empenhado em infernizar a vida do homem. Em meio a tanta turbulência, uma casa abandonada próxima à sua começa a manifestar objetos que não estavam previamente ali, e acaba se tornando uma segunda casa para Cristóvão.

"Casa de Antiguidades" remonta algumas características presentes no Cinema Novo, como a fusão entre o cultural e o espacial - lembra do drone em formato de nave em "Bacurau" (2019)?, pois é, mesma coisa. A roupa de trabalho de Cristóvão mais parece um traje de astronauta, e, divertidamente, há referências charmosas ao redor da construção imagética, como no momento em que o protagonista observa uma máquina da fábrica com brilhantes luzes vermelhas que refletem em seu "capacete" como em "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968). Essa dicotomia visual é o primeiro elemento da mistura entre o "real" e a "fantasia" que permeia a atmosfera da sessão. 

E, assim como "Bacurau", "Casa de Antiguidades" tem como base textual um câncer da sociedade brasileira: o racismo. Cristóvão está no seio de um movimento separatista, que deseja retirar a "Região Sul" (entre aspas porque, malandramente, o movimento puxa São Paulo no bolo) do resto do país com o argumento de que o "Norte" atrasa a nação pela sua ignorância e corrupção. A coisa é tão absurda que a reunião que evoca com bravura o amor à pátria sulista é feita em alemão. O palanque que Hitler usava nos anos 40 deve estar orgulhoso.

O protagonista assiste a tudo sem entender uma palavra, claro, e é coagido a assinar um abaixo-assinado defendendo a independência da região. Ele, também, ganha uma camisa com a bandeira do "novo país", que é rasgada para servir de curativo para o pobre cachorro. Cristóvão se sente um verdadeiro alienígena em meio àquelas pessoas - seja pela sua cor ou pela sua língua. Todavia, ele não abaixa a cabeça, mesmo sufocado com a uma pressão cultural da maioria. Durante uma cantoria alemã, ele levanta o berrante e interrompe a celebração. Aqui é Brasil, meu irmão.


"Casa de Antiguidades" é um filme marcado pelo silêncio. Cristóvão se deixa sumir em meio às suas memórias, emoções e solidão, já condicionado a saber que sua existência naquele lugar é daquela forma. A tal casa, com os objetos que magicamente aparecem, acaba sendo uma extensão de sua própria consciência, produzindo artefatos que, de alguma forma, se conectam com a história do protagonista. 

Até aqui, a fita demonstrava bastante poder perante as temáticas escolhidas, principalmente pelo seu aspecto folclórico (o Brasil é rico demais em lendas e mitos, sendo terreno fértil para o Cinema), porém, a partir do momento em que a casa é explorada com mais profundidade, a narrativa começa a se perder. Várias tramas são abertas e esquecidas pelo caminho ou não finalizadas com relevância - como toda a situação da mulher no bar, ou as crianças que atormentam o protagonista, ou a própria fábrica e o movimento separatista. Até mesmo a relação do achado do protagonista com a casa não é tão explicada - ela simplesmente está lá.

Vamos descendo por um buraco onírico cada vez que Cristóvão vai achando algo da casa - como o pôster e a pintura rupestre por baixo de um xingamento pichado na parede. Dá para entender muito bem o que está acontecendo - como na sequência em que ele se transforma em um boi -, no entanto, muitos porquês não existem. Lá pela metade da película, deixei de tentar manter uma linha de raciocínio e simplesmente embarcar na viagem do filme e observar quais caminhos ele me levaria - e o trajeto foi se tornando cada vez menos motivador.

"Casa de Antiguidades" é um dos tipos de filmes mais frustrantes que existem: aqueles que almejam ser desvendados e não produzem uma vontade no espectador de tentar entender. É desapontador uma obra trazer tantos pontos de discussões urgentes e sabermos que eles poderiam ter um impacto muito maior. Por exemplo, há várias pichações com o malfadado número 17 na mesma casa que é usada como ameaça para Cristóvão, um símbolo de resistência contra o fascismo que poderia ter uma voz muito mais incisiva com escolhas mais coesas nesse trabalho que, apesar dos muitos méritos, não é sólido o suficiente para ser memorável. Agrega no Novíssimo Cinema Brasileiro, que põe o dedo nas mazelas contemporâneas (como "Que Horas Ela Volta?", 2015; "As Boas Maneiras", 2017; e "Temporada", 2018), mas não se destaca à altura do potencial.


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O emo vive! Lucas Silveira e Di Ferrero se unem na inédita “Será” e regravam “Silêncio”, de 2008; ouça

Dois dos maiores nomes da cena emo brasileira, marcada pelo auge da metade dos 2000 até o começo dos anos ‘10, os músicos Lucas Silveira (vocalista da Fresno) e Di Ferrero (NX Zero) se reuniram neste ano para uma sequência de dois feats que chegaram ao público nesta sexta-feira (04).

“Silêncio”, primeira música anunciada, se trata de uma releitura que tem uma história bem inusitada: a faixa, lançada pelo NX Zero em 2008, na época foi composta por Lucas Silveira, sob o codinome Beeshop, ao lado de Esteban Tavares, ex-integrante da Fresno. Até então, esse havia sido o mais perto que as bandas chegaram de lançar uma parceria em estúdio, tendo eles se encontrado apenas em especiais de TVs e festivais em que dividiram músicas do próprio repertório ou se aventuraram com covers.

Na nova versão, produzida por Lucas, a música de 12 anos atrás ganha uma roupagem muito mais enxuta, com camadas eletrônicas que sobrepõem o som roqueiro de 2008 sob uma melodia pop, mais próxima da sonoridade explorada por ambos os artistas atualmente.


“Será”, faixa inédita presente no mesmo registro, vem pra frisar o quanto a colaboração entre os músicos é uma proposta muito mais atual do que presa à nostalgia ou necessidade de reproduzir o que fazem e fizeram ao lado de suas bandas. Repleta de sintetizadores e camadas onde eles revezam entre primeira e segunda voz, a canção deixa o espírito emo, inevitavelmente invocado quando falamos sobre os dois, pra narrativa da sua letra.


Atualmente dedicado a sua carreira solo, Di Ferrero têm realizado várias colaborações com as chamadas “Di Boa Sessions”, sendo essa sua quarta edição. Longe da sonoridade explorada com o NX Zero, o cantor têm trabalhado ao lado de produtores e compositores como Ruxell, Pablo Bispo e Sérgio Santos, famosos por hits de IZA, Gloria Groove e Pabllo Vittar.

Lucas Silveira, por sua vez, lançou com a Fresno no ano passado o disco “Sua alegria foi cancelada”, responsável por todo um reposicionamento da banda na era dos streamings, acumulando milhões de execuções só no Spotify. Se não fosse a pandemia e a consequente quarentena, neste ano a banda seria uma das atrações nacionais do Lollapalooza; no lugar, vieram as lives intituladas “QuarentEMO”, nas quais o vocalista se encontra com integrantes da banda remotamente e apresenta hits próprios e diversos covers.

Em sua segunda e última edição, transmitida no dia 22 de agosto, a live trouxe presenças ilustres, incluindo o vocalista do My Chemical Romance, Gerard Way, e uma participação especial do músico Chris Carrabba, frontman da banda Dashboard Confessional.


“Di Boa Sessions 4”, com as duas colaborações entre Di e Lucas, já está disponível nas principais plataformas internet afora.

Crítica: “Boca a Boca” é a manufaturação de “Malhação” com cor-de-rosa e neon

Atenção: a crítica contém spoilers.

Eu, este entusiasta do audiovisual brasileiro, possuo alguns nomes que guardo em meu coração - então, qualquer produção feita por eles, terá minha atenção. Um dos maiores nomes para mim é o de Juliana Rojas. Rojas é diretora de curtas e longas pesadamente inspirados no terror, e é dela dois dos meus filmes tupiniquins favoritos da década passada: “Trabalhar Cansa” (2011) e “As Boas Maneiras” (2017), ambos co-dirigidos pelo também maravilhoso Marco Dutra. Resumindo: se Rojas sai de casa para fazer alguma coisa, eu assisto. Tudo para mim.

Foi exatamente por conta dela que encarei “Boca a Boca”, a nova série brasileira a estrear na Netflix. “Encarar” pode ser um verbo usado com certa.... força, mas até agora não consegui encontrar um seriado feito no país e com o selo da plataforma que seja algo realmente bom – “3%” (2016-) e “Reality Z” (2020), cof. Realmente, não assisti a todos os disponíveis (dizem que “Coisa Mais Linda”, 2019-20, vale a pena), no entanto, os que se encaixam mais no meu apetite foram decepções. Mas Rojas estava ali em “Boca a Boca” – que foi criada pelo também cineasta Esmir Filho –, e era irrelevante (até certo ponto) se a produção seria boa ou não, meu stream estava garantido.

Pois bem. “Boca a Boca” se passa em algum futuro não tão distante da nossa realidade – não fica explícito o quando, apenas o onde, em uma cidade do interior de Goiás chamada Progresso. A trama gira ao redor de três alunos da mesma escola: Alex (Caio Horowicz), filho do maior produtor de gado da região; Fran (Iza Moreira), filha da emprega da casa de Alex; e Chico (Michel Joelsas, o Fabinho do maior ato nacional da década, “Que Horas Ela Volta?”, 2015), um garoto vindo da capital para morar com o pai e reiniciar a vida.

A trama já é aberta com o mistério principal: a ficante/namorada de Fran, após uma festa, acorda com uma mancha preta nos lábios, o que desencadeia pânico na cidade sobre que doença seria aquela. O trio, quando a menina é internada, percebe que a coisa é mais séria do que poderia supor, e começa a buscar respostas sobre a epidemia, chegando à conclusão que ela era transmitida pelo beijo. Como todo mundo beijou todo mundo na tal festa, uma corrida contra o tempo se inicia para encontrar a cura.

Já fica bem evidente qual o primeiro pilar de sustentação de “Boca a Boca”: discutir as ânsias da juventude. O primeiro contato sexual, o descobrimento do próprio corpo, o acesso às drogas, tudo é embalado ali mesmo na sequência da festa – ou melhor, da rave, para ficar mais nos parâmetros modernecos. Um dos maiores alívios do roteiro é como o texto se preocupou não apenas em abrir uma gama de diversidade sexual, mas também explorá-la de maneira natural – Fran e sua bissexualidade existem na tela como qualquer relacionamento hétero. É claro que temos a ainda necessária discussão da homofobia quando a sexualidade de Chico cai na boca do povo.


Então dá para notar que os roteiristas sabiam da importância de transmitir sua mensagem da melhor maneira para a plateia. Todavia, também temos a certeza de que não foi um jovem que escreveu tudo aquilo, mais parecendo um compilado de tendências do momento (ou nem tanto) para fazer com que adolescentes se vejam no seriado. São jovens fazendo stories no Instagram com filtros de cachorro enquanto filmam um pai arrastando a filha para fora da escola ou até mesmo o grupo do “Zap-Zap” chamado “Progresso da Depressão”. Se no futuro ainda tivermos “Qualquer-Coisa da Depressão”, falharemos enquanto sociedade. Em diversos momentos me questionei se os jovens de hoje são daquela forma mesmo e eu, quase nos 30, já fui deixado para trás, mas quando os protagonistas tentam alertar uma menina sobre os riscos da doença e pedem para ela parar de beijar, ela grita “VoCÊs NãO pOdEM mE RePRimIR!”. É, talvez o problema não seja eu.

Uma das subtramas mais sem nexo é a da diretora da escola, Guiomar (Denise Fraga, anjo imaculado em “O Auto da Compadecida”, 2000). Além de ela ter sido composta com uma atuação muuuuito artificial, sua filha foi mandada para os EUA e a plateia só a vê através de suas fotos em redes sociais. SÓ QUE é gritante que todas as fotos são falsas – dá para catar imediatamente, logo na primeira vez que um dos personagens desliza pela timeline da garota –, no entanto, ninguém ali parece perceber. Demora alguns episódios para Chico desvendar um dos mais óbvios mistérios da cultura contemporânea, e isso ilustra bem como havia uma ideia que não foi executada de forma eficiente, afinal, a Rainha do Photoshop que conseguiu enganar todo mundo é um empurrão para fazer a história andar à força.

A trama de “Boca a Boca” está sentada em cima de uma briga ou desentendimento ou chame como quiser entre a cidade e a aldeia ao lado. Inúmeras vezes fica pontuado para os alunos que a segurança só existe dentro da cidade, e a culpa para a doença logo é jogada para os de “fora”, a clássica dicotomia “nós X eles”. É bem evidente que a solução de todo está exatamente do lado de lá, mas até mesmo a “mitologia” criada para salvar o dia é tão sem inspiração. Tudo vai sendo deixado pelo caminho.

Tenho notado uma feliz atenção de produções brasileiras em tocar nas desigualdades raciais. Mesmo em filmes/séries em que a pauta principal não seja esta, temos discussões acerca, afinal, a desigualdade social em nosso país é gritante. Em “Boca a Boca”, a questão está na casa grande X quarto da empregada. Os pais de Alex moram na “mansão” enquanto Fran e sua mãe vivem nos fundos, o padrão colonial que até presente data ainda habita nosso país. Há algumas tensões entre a mãe de Fran e o pai de Alex, contudo, o debate nunca consegue ser concreto o suficiente para ter relevância dentro do enredo – e não ajuda o personagem do pai ser o “vilão” unidimensional, o homem branco rico, frio e mal-humorado que só pensa em dinheiro.


Quanto mais chegamos perto do desvendar da série, mais absurda ela vai ficando. E nem digo “absurda” no sentido de “fantasiosa”, é “sem noção” mesmo. O que menos faz sentido em tudo – e olha que muita coisa não faz – é a maneira como o trio fica revoltado com os jovens doentes sendo internados no hospital. Quando Fran finalmente demonstra os sintomas, a mãe de Alex rapidamente a leva ao hospital, e o menino fica furioso. “Tá com a consciência pesada por ter lado a Fran ao hospital?”, pergunta ele, e eeeerrrrr, não? Por que ela estaria? Estamos falando de uma doença que ninguém nunca viu, que não se sabe ao certo como é transmitida, nem como age nas pessoas, e existe a certeza de que ela mata. Não seria a única coisa possível levar o doente ao médico e deixar profissionais capacitados resolverem (ou tentarem resolver) a questão? Os meninos agem como se houvesse uma prisão, ou que o hospital estivesse fazendo experiências como os doentes, mas não, eles estão literalmente fazendo de tudo para salvarem a vida dos enfermos. Qual a lógica ficar revoltado com isso?

A peça-chave da trama é que o pai de Alex está usando a pesquisa da filha para gerar mutações em seus bois e criar uma super raça a fim de impulsionar os negócios. Esse fio já começa ruim quando a filha, que trabalha com engenharia genética, é introduzida na história com uma placa em forma de DNA na mesa – porque tem que ficar extremamente óbvio que ela trabalha com DNA, por favor não esqueçam, hein, DNA, ela trabalha com DNA. Os bois, depois de várias mutações, desenvolvem a doença, o que é sim uma ideia boa, todavia, a história jamais explica como foi que a doença saiu dos bois e atingiu exatamente aquele grupo de pessoas da rave. Ou seja, a série termina e não sabemos o que de fato aconteceu. Então tá.

Ao terminar o seriado – que assisti com uma amiga (virtualmente, okay?, mantenham o distanciamento social) também perplexa com o quão forte a série se perde –, fomos ler os comentários das pessoas que gostaram, a fim de entender o ponto de vista oposto, e era quase um clichê falar como a série era boa graças à fotografia e trilha-sonora. E de fato, ambas são incríveis. Temos imagens fantásticas do interior do Brasil e uma trilha que vai de Baco Exú do Blues a Sophie (a saudades que deu de uma festa quando tocou “Faceshopping”), só que tais recursos não são o suficiente para fazer um bom trabalho. Aparatos para encher os olhos e os ouvidos, pelo visto, são o suficiente para muita gente.

É aí que está o cerne da produção. “Boca a Boca” é uma “Malhação” manufaturada para seu público-alvo: adolescentes que amam a Netflix e vivem no Instagram com suas fotos cheias de filtros. Uma pesquisa feita pela NetQuest para a Netflix informou que 80% dos jovens se veem mais na tela do que antes, e o que isso quer dizer? A plataforma está cada vez mais alimentando o público que a sustenta, com mercadorias feitas para agradá-los, o que, do ponto de vista mercadológico, é o correto a ser feito. Mas e o ponto de vista artístico? É claro que uma série como "Boca a Boca" não é algo descartável - e, curiosamente, ainda reflete bem o tempo de pandemia em que vivemos, outro acerto de timing da Netflix após "O Poço" (2020) -, porém, passa muito longe de algo que demonstra cuidado em sua concepção. Sempre que não gosto de uma produção nacional, repito: qualquer um que desbrave o audiovisual no Brasil merece total respeito, mas “Boca a Boca" usa fardas cor-de-rosa e luzes neon para hipnotizar, e não é todo mundo que vai se deixar levar pelo encanto. A mesma fórmula (futuro + pitadas de fantasia + análise social + cores neon) foi efetuada com brilhantismo em “Divino Amor” (2019).

P.S.: Juliana Rojas, continue contando comigo para tudo.

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Crítica: “Reality Z”, nova série nacional da Netflix, tem zumbis demais e criatividade de menos


Atenção: a crítica contém spoilers.

De tempos em tempos, alguma criatura ressurge com força total na cultura mainstream. Nenhuma delas está mais saturada do que os vampiros, sabemos, com zumbis estando um pouco atrás. A série “The Walking Dead” está desde 2010 injetando os mortos-vivos na tevê, sendo o maior expoente da criatura na atualidade. Quando pegamos algo tão batido, só enxergo real necessidade se a abordagem trouxer algo verdadeiramente original, como “Amantes Eternos” (2013) com vampiros e “Os Famintos” (2017) com zumbis.

Fiquei bastante curioso com o anúncio de “Reality Z”, nova série original da Netflix. Mais uma produção brasileira na plataforma – seguindo “3%” (2016-) e “O Mecanismo” (2018-), para citar algumas –, o que traz o diferencial de “Reality Z” é a temática. Se em um contexto geral os zumbis são figurinhas carimbadas há décadas, na arte brasileira ainda é elemento raro. Por algum motivo, nossa indústria não gera tantas fitas com o gênero terror, vendo-o desabrochar com maior efusão nos últimos tempos, o que garante o interesse.

“Reality Z” é um remake da série britânica “Dead Set” (2008). Criada por Charlie Brooker – a mente por trás do hit “Black Mirror” (2011-) –, “Dead Set” é uma sátira do “Big Brother”, colocando participantes reais para interpretarem eles mesmos durante o apocalipse zumbi – “Reality Z” pegou apenas a premissa, readaptando-a. Os cinco primeiros episódios são ligados diretamente aos cinco (e únicos) episódios de “Dead Set”, com os cinco restantes sendo originais. 

Em terras tupiniquins, o seriado se passa no Rio de Janeiro. Lá é sede do “Olimpo”, o maior reality da tevê nacional: é basicamente um “Big Brother”, mas os participantes “interpretam” deuses da mitologia grega. Por quê? Eis uma boa questão. A base de “Reality Z” enquanto trama gira ao redor do “Olimpo” – a casa falsa dos deuses é, de certa forma, a protagonista de tudo –, todavia, tudo o que passava pela minha cabeça era: “Como inventaram um reality (apesar de fictício) tão ruim?”.


E nem falo “ruim” no sentido de “é tão ruim que com certeza venderia”, e sim “ruim” como criatividade. A fundamentação do reality (o porquê do formato) é fraquíssima, e, mesmo fictícia, difícil de imaginar alguém assistindo. Toda a história de deuses é totalmente descartável, apenas uma ideia (bem rasteira) para enfeitar e tentar fugir de ser mais um reality convencional. A cereja do bolo é a apresentadora, Divina (“interpretada”, sim, entre aspas, por Sabrina Sato).

A escolha de Sato é tanto mercadológica como metalinguística. É divertido ver que ela participou do real “Big Brother Brasil”, no entanto, a apresentadora está ali como chamariz de público – ela estampa várias artes promocionais da série, apesar de durar bem pouco no enredo. Eu não encontro problemas em escalações de globais quando há uma sólida justificativa baseada no talento, e, perdão caso soe ríspido, não é minha intenção, talento para a atuação não se encontra presente em Sato diante da tela. Aliás, não se encontra na maior parte do corpo de atores.

A trama de “Reality Z” se desenrola em três vertentes – que se chocarão em algum momento. Levi (Emílio de Mello), um deputado corrupto e sua comitiva, suborna policiais para o tirarem do meio de um ataque; Ana (Carla Ribas), engenheira-chefe da construção do Olimpo, e seu filho Léo (Ravel Andrade) veem que as instalações do reality são a via de salvação; e Nina (Ana Hartmann), produtora do “Olimpo” que está dentro do prédio sem saber o inferno que acontece lá fora.

Os cinco primeiros episódios são focados em Nina e os participantes do “Olimpo”. Há poucos exemplos de redenção ali quando as performances são sofríveis. Para tornar o resultado ainda pior, o roteiro não tem sutilezas em transformar os personagens em completos imbecis que tomarão as decisões mais absurdas possíveis, condenando o destino de todos. Os “deuses” são criados em cima de estereótipos absolutamente clichês e unidimensionais – o malhado tapado e preconceituoso contra a travesti piedosa, o velho sexualmente reprimido contra a gostosa que vive na academia, etc.

Quem controla todo o jogo é Brandão (Guilherme Weber), o Boninho do “Olimpo”. Na minha crítica de “A Ilha da Fantasia” (2020), falei que o vilão do longa era o pior que havia encontrado em muito tempo; pois ele pode dormir sossegado que o título passou para Brandão. Nem me refiro à atuação de Weber, e sim à construção do personagem. Ele não é insuportável porque foi refinadamente pensado para assim ser (tenho uma lista especificamente acerca, com personagens criados para odiarmos), é insuportável por ser tão mal feito. De ser injustificadamente cruel até arrotar e defecar na frente de mocinhas loiras que choram pedindo pela mãe (?), o texto força ao extremo a figura de malvado, levando-o à uma caricatura ambulante que consegue ser a pior coisa pensada ali dentro. Cada cena em que ele está na tela é uma tortura – principalmente porque em vários momentos Divina está com ele - seja viva ou em formato de zumbi (Sato é morta em câmera-lenta, eeerrrr).


A partir do sexto episódio, o foco passa a ser sobre Ana e Levi, os dois polos da luta do bem contra o mal. Como era de se esperar, as composições são preguiçosas e não conseguem levar a história ao rumo que deveria ir. Um dos acertos da segunda metade do seriado é a diferenciação particular que “Reality Z” tem do seu derivado britânico: as discussões de classe e raça. No carro dos policiais que Levi suborna havia Teresa (Luellem de Castro), uma mulher negra presa que será uma das protagonistas na luta contra os zumbis. Ela é a porta-voz do bom-senso no meio das insanidades conduzidas por Levi e é constantemente vítima de racismo pelos outros. Na luta extrema pela sobrevivência, a mulher preta não se surpreende em se ver na posição de descartável - o que é um bom estudo a ser entregue ao público.

Porém, apesar das discussões racializadas (que poderiam ser bem maiores e mais contundentes), há três passagens específicas que possuem um padrão meio desconcertante. Dentro do Olimpo há apenas uma participante negra, e ela é a primeira a morrer. Em uma abordagem policial fora de um supermercado, há cinco pessoas; três vindos do Olimpo, um policial branco e um negro, e o negro é o primeiro a morrer. Na chegada de Levi com a polícia no Olimpo, o motorista é um policial negro, e ele é o primeiro (e único) a morrer ali. Coincidência ou não, isso segue uma tradição em obras de terror em que personagens negros são os primeiros a morrerem, e só me questionava o porquê.

Já levantei uma hipótese em algum dos inúmeros textos desta coluna, e várias recepções sobre “Reality Z” tendem a fomentá-la: quando falada na nossa língua materna, conseguimos perceber atuações ruins com mais afinco. Vi vários comentários muito positivos de expectadores internacionais sobre as performances em “Reality Z”, mas pensemos: como podemos captar as nuances de fala e atuação em uma língua que não dominamos? Um filme em húngaro dificilmente será assimilado por nós da mesma forma que uma película brasileira, por isso, tendemos a ser mais críticos com algo próximo por sabermos como aquelas pessoas agem de verdade – e não estou apontando a “Síndrome de Vira-lata”, que rejeita qualquer coisa só por ser local, e sim do simples fato de que temos o português brasileiro como língua materna. Roteiros nacionais precisam parar de fazer com que seus atores falem da mesma maneira que escrevemos.

Pensando que não teria salvação, “Reality Z” me surpreendeu demais com as escolhas do episódio final, introduzindo trama com uma milícia que ameaça invadir o Olimpo. Toda a criatividade que mal aparecia nos nove episódios anteriores é derramada na finale, que tem plot-twists divertidos e não possui pena dos personagens, finalmente injetando uma sensação de perigo. Achei muito acertada a decisão de salvar nenhum dos personagens, o que provavelmente aconteceria com um mar de zumbis invadindo. A cena final ainda finca um gancho para uma continuação que, caso replique a engenhosidade da conclusão, será bem-vinda.

Realmente me doía ver o quanto estava desgostoso com “Reality Z”: sou um grande entusiasta de qualquer pessoa que desbrave o mercado audiovisual nesse país que ainda põe a cultura em um patamar de menor importância. Qualquer tentativa é bem-sucedida só por conseguir existir. Apesar de ser um seriado distante de uma mercadoria de qualidade – com exceção da ótima maquiagem dos zumbis – e não funcionar como entretenimento trash por se levar a sério demais para ser classificada como tal, “Reality Z” deve ser assistida para fortalecer as produções de gênero no nosso mercado, carente de exemplares do terror.

P.S.: caso exista em segunda temporada, produtores, um apelo: não façam mais cenas de ação com câmera de mão + slow motion. Obrigado.


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Drag maranhense, Frimes, soa como uma Britney Spears desbocada em seu novo single, “XOXO”

De Slayyyter a Rina Sawayama, o hyperpop nunca escondeu sua influência vinda dos anos 2000 e, invocando o melhor e mais sensual de artistas como Britney Spears, Paris Hilton, Lindsay Lohan e outras dessa geração, a drag maranhense Frimes eleva o formato com seu novo single, “XOXO”.

Desta vez distante das batidas estouradas e desconstruídas de suas músicas anteriores, inspiradas pela pc music, “XOXO” traz uma Frimes muito mais pop e radiofônica, mas sem perder a essência ousada e, literalmente, sexual, também presente em singles como “Fadinha” e “Big Fat Dick”.

No ano em que Rina Sawayama fez acontecer faixas como “XS” e “Comme Des Garçons”, Frimes chega pra servir o que tanto consumimos do mercado gringo e prova, mais uma vez, o quanto está a frente do nosso cenário atual, soando como um nome que tem tudo pra fazer história.

Atração da festa virtual Trophy desta sexta (19), Luanna Exner vem do futuro com a distópica “Pandêmico 2020”

O ano é 2050 e três seres de outra dimensão aterrissam na nossa realidade para passar uma importante mensagem. O que eles encontram, porém, é o mundo lidando com um colapso pandêmico, que poderá se tornar um obstáculo pra conclusão da sua missão. 

É mais ou menos nesse cenário que se passa “Pandêmico 2020”, música nova da cantora Luanna Exner, que revelou a faixa nesta sexta-feira (19) e, daqui algumas horas, fará a primeira performance do single na festa virtual Trophy, pelo ZOOM.



Antes desse projeto distópico, Luanna já se antecipava como um dos grandes nomes da nova música brasileira, com destaque para a cena da trap music, que é onde seu nome tem se tornado cada vez maior. No Spotify, seus principais feitos são “Love Drink”, “Hello Kitty” e “Me Molho Sozinha”, além do feat “Drillz”, com Naio, Derek e Menestrel.

Pelo Youtube, outro trabalho que chama a atenção é o remix de “Arebunda”, no qual manda suas rimas ao lado de Naio, NOX e, claro, MC Lan.



Tradicionalmente realizada em São Paulo, com foco no hyperpop, pc music e outras fritações, a festa Trophy têm acontecido gratuitamente através da plataforma ZOOM desde o início da quarentena e, dadas as atuais circunstâncias, ter Luanna Exner como uma de suas atrações ao som de “Pandêmico 2020” não poderia fazer mais sentido. Retire seu ingresso gratuito pelo Sympla.

Jup do Bairro, Linn da Quebrada e Dalasam são divindades da putaria na grandiosa “All You Need Is Love”

“All you need is love, tenho tanto pra te dar”, versa Jup do Bairro e seus parceiros de música, Linn da Quebrada e Rico Dalasam, nesta canção que abre oficialmente os trabalhos do seu álbum de estreia, o projeto audiovisual “Corpo sem juízo”.

Sob a produção de Badsista,  que neste ano também trabalhou com Linn no álbum de remixes do “Pajubá” e produziu a volta de Deize Tigrona em “Vagabundo”, “All You Need Is Love” leva esses três corpos para a antiguidade, enquanto mescla sintetizadores com a batida pulsante do funk, criando a mesma atmosfera dúbia de sua letra, ora romântica, sobre amor, ora putaria, afinal, os dois temas não só podem, como devem estar de mãos dadas.

No clipe, com direção do Rodrigo de Carvalho, a dificuldade de se produzir parcerias em meio ao isolamento é driblada com muita criatividade e tecnologia, apresentando-os através de hologramas no rosto de estátuas que mais parecem divindades no meio do deserto, ali sedentas por amor e para amar.

Da junção de três artistas tão plurais, “All You Need Is Love” consegue compartilhar o melhor de cada um deles e delas, e seu resultado não poderia ter sido mais caótico e grandioso.

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