Old que tá vindo! Produtor diz que parceria de Lady Gaga e Ariana, “Rain On Me”, chega em breve

Ao contrário do presidente do Brasil, Lady Gaga está bem preocupada com os avanços do coronavírus e, para evitar a exposição de sua equipe e fãs, optou por adiar o lançamento do seu novo álbum, “Chromatica”, o que não impede, entretanto, que os fãs e artistas envolvidos no trabalho sigam falando sobre o que está por vir, como é o caso da tão especulada parceria com Ariana Grande.

Numa entrevista para a Paper Magazine, a cantora de “Stupid Love” afirmou que poderíamos esperar a participação de uma artista feminina no disco e que esta seria uma “celebração de todas as lágrimas”. Os rumores sobre o feat em questão ser a dona de “No Tears Left to Cry” começaram e, agora, ganhou um novo capítulo com a confirmação de Tommy Brown, produtor e amigo de Ariana.

O cara recebeu um comentário sobre a música, supostamente chamada “Rain On Me”, durante uma live no Instagram, e afirmou: “Vai ser lançada em breve! Será algo bom.”


Será que podemos confiar? O que esperar de uma parceria com as duas?

“Chromatica”, até aqui, conta apenas com o single “Stupid Love”, que teve seu clipe totalmente filmado com um iPhone. Inicialmente, o álbum seria lançado no dia 10 de abril.

Baco Exu do Blues anuncia disco gravado em 3 dias, “Não tem bacanal na quarentena”

Autointitulado o ‘Kanye West da Bahia’, como canta em seu último disco, “Bluesman”, o rapper baiano Baco Exu do Blues está pronto pra virar a trilha sonora da nossa quarentena com seu novo álbum extraoficial: “Não tem bacanal na quarentena”.

O título, além da ironia sobre nosso estado de isolamento, é também um aviso sobre seu terceiro disco prometido para este ano, “Bacanal”, que deverá contar com a participação de nomes como Duda Beat, Urias e BK’ e, por enquanto, não tem previsão de lançamento.



Neste novo trabalho, Exu do Blues se desafiou enquanto artista e liricista, se unindo a um time de produtores e compositores para, em três dias, finalizarem o registro que conheceremos na próxima segunda, dia 30. Já nos vocais, o rapper divide espaço com nomes como 1LUM3, com quem colaborou no hit “Me Desculpa Jay-Z”, e Aísha, que o acompanhou como backing vocal da turnê “Bluesman”. As produções são assinadas por DKVPZ, JLZ, Nansy Silvz e PG.

A tracklist será a seguinte:

1. Jovem Preto Rico 
2. Tudo Vai Dar Certo (part. 1LUM3)
3. Ela É Gostosa Pra Caralho (part. Maya)
4. Preso Em Casa Cheio de Tesão (part. Lelle)
5. Humanos Não Machucam Deuses
6. O Sol Mais Quente (part. Aisha)
7. Dedo No Cu e Gritaria (part. Celo Dut, Piva e Vírus)
8. Tropa do Babu (part. Dactes)
9. Amo Cardi B e Odeio Bozo

Baco Exu do Blues se consagrou como um dos grandes novos nomes do rap há cerca de três anos, com o disco “Esú”. Em seu trabalho seguinte, “Bluesman”, emplacou hits como “Me Desculpa Jay-Z”, “Kanye West da Bahia” e “Flamingos”, se tornando figurinha carimbada em alguns dos principais festivais do país.

Desconstruindo o "Future Nostalgia": Dua Lipa visita o passado para moldar o pop do futuro

Hoje é dia 27 de março e temos entre nós o álbum do ano. Se você ainda não escutou o "Future Nostalgia", segundo disco da Dua Lipa, pode até ter achado essa afirmação um pouco exagerada, mas a gente garante que não basta mais do que uma ouvida para ter certeza de que esse é mesmo o trabalho definitivo de 2020. 

Dua Lipa não tinha uma tarefa fácil. Depois de um primeiro álbum muito bem sucedido e que lhe rendeu um de seus maiores hits, a faixa "New Rules", e dos incríveis singles, "Don't Start Now" e "Physical", nossa expectativa estava lá no alto. Mas, com uma infusão de disco que vai da nostalgia das pistas de dança dos anos 70 e 80 ao que vai ditar a tendência do futuro, Dua conseguiu nos entregar um trabalho coeso, autêntico e que supera tudo o que a gente esperava. 

A faixa-título abre o material de forma extremamente convidativa, nos trazendo uma mistura de Daft Punk com Prince que jamais imaginaríamos ver Dua Lipa interpretando, mas que combina muito bem com ela. Daí em diante, entramos em uma grande festa: "Don't Start Now" é o hino disco que essa geração precisava, "Cool" nos traz o mesmo sentimento delicioso de "Teenage Dream" e "Physical" se consolida como uma das melhores músicas da discografia da artista.


Mas nada nos prepara para o que vem depois: a sequência de "Levitating", que nos evoca as melhores músicas da banda Chic, do Nile Rodgers, a sensual "Pretty Please", co-escrita por Julia Michaels, e a poderosa "Hallucinate", que faz justiça a canções atemporais como "Hung Up" da Madonna e "All The Lovers" da Kylie Minogue, é capaz de nos deixar sem ar. 

Quando conseguimos recuperar o fôlego, Dua nos entrega a que pode ser a melhor faixa do material: "Love Again". Iniciada por violinos, a canção é uma ode ao disco que nos transmite perfeitamente a sensação de ser tomado por um amor, sem escapatória. "Break My Heart", com seu sample de "Need You Tonight", da banda INXS, é o complemento perfeito.

O álbum termina com "Good In Bed", uma música que nos lembra bastante os trabalhos iniciais da Lily Allen e até um pouquinho de Amy Winehouse e seu "Frank", e "Boys Will Be Boys", uma canção feminista e necessária. É até justo dizer que elas são as mais fracas do disco, mas, mesmo ficando abaixo das anteriores, continuam sendo muito boas. Esse é o poder do "Future Nostalgia". 

Pensando em todas as referências desse álbum que tem tudo para moldar o pop que vem aí, desconstruímos o disco em uma playlist especial. Viva a nostalgia do futuro!

Chuva da vitória! Pabllo Vittar chega ao Top 3 do Spotify Brasil com "Rajadão"

Pabllo Vittar continua indo longe demais. Mesmo com o vazamento do "111", o que levou o lançamento a ser adiantando para terça-feira (24), a artista teve ótimos números em suas primeiras 24 horas. 

A melhor colocação ficou com a inédita "Rajadão", um tecno gospel que rendeu diversos memes pela internet e conquistou nosso coração de primeira. A faixa estreou direto no #3 do Top 50 do Spotify Brasil. 

Outra canção que também se destacou bastante e chegou ao Top 10 da parada foi a já conhecida "Amor de Que", que alcançou a décima posição. Confira as colocações de toda as músicas do "111":

3. Rajadão
10. Amor de Que
20. Tímida (feat. Thalia)
21. Lovezinho (feat. Ivete Sangalo)
25. Selvaje
30. Parabéns
39. Clima Quente (feat. Jerry Smith)
56. Flash Pose (feat. Charli XCX)
66. Ponte Perra

Pabllo Vittar, você foi perspicaz!

Dua Lipa segue fazendo tudo e entrega um dos melhores clipes do ano com "Break My Heart"

Dua Lipa deve estar com dor nas costas de carregar a música pop, né? Depois do lançamento da música e clipe de “Physical”, ambos incríveis, ela agora vem com mais uma pop e visual perfection: “Break My Heart”.

Lançada nessa quarta-feira (25), a canção utiliza sample da música “Need You Tonight”, da banda INXS, e é mais uma infusão de disco, que nos leva à décadas passadas, mas ainda soa atual e refrescante. 


Já o clipe da canção, dirigido pelo Henry Schofield, que trabalhou com ela no icônico “New Rules”, e lançado nessa quinta-feira (26) também não fica pra traz. Nos levando diretamente aos anos 90 com cenários e figurinos elaborados que ultimamente só temos visto em vídeos de artistas do Kpop, “Break My Heart” usa de muitos efeitos especiais pra contar uma história que acelera no ritmo da música. Perfeição.



Vale lembrar que o “Future Nostalgia”, também conhecido como o álbum pop mais esperado de 2020, chega hoje. Prepare-se para tacar stream!

Crítica: “O Poço” vai de “O Cubo” a Foucault em seu estudo da desumanidade do Capitalismo

Atenção: a crítica contém detalhes da trama.

Dentre as várias instituições que formam a sociedade como conhecemos, uma das mais desafiadoras, que já passou por drásticas mudanças e, segundos alguns estudiosos, até presente data ainda não encontrou um modelo que seja ideal, é a prisão. Ou, para ser mais abrangente, o mecanismo de punição do Estado.

Na Europa, antes da Revolução Francesa em 1789, os crimes eram punidos com a tortura e a morte. A figura do rei, detentor absoluto de todas as leis, sentenciava criminosos baseado na ideia de que, se um crime é um ato contra o Estado, e ele é o Estado, um crime é um atentado ao rei. A punição brutal servia tanto para garantir que o acusado não voltasse a cometer o mesmo erro quanto para servir de exemplo para todas as outras pessoas, afinal, tais sentenças eram proferidas de maneira pública. Sabe a clássica cena em que Cersei, em “Game of Thrones”, tem que caminhar nua pelas ruas da cidade enquanto todos os súditos a assistem, como um espetáculo? Pois é. Só que muitos terminavam como em “A Paixão de Joana D’arc” (1928).

A saída da monarquia para a república também mudou o modo de punição, abandonando as execuções públicas para o projeto de encarceramento que conhecemos. Pode parecer que a mudança seja um avanço incrível – o que de certa forma é até verdade (paramos de matar pessoas no meio da rua) –, todavia, ainda estamos bem longe de uma instituição que funcione como deveria. Pode soar, também, que as prisões como conhecemos sejam uma diminuição do poder do Estado sobre seus cidadãos, mas esse poder só é exercido de maneira diferente.

Em “O Poço” (El Hoyo), vamos a alguns anos no futuro – jamais sabemos exatamente quando – em que um novo modelo prisional está em vigor. Ainda baseado no encarceramento, as grades são trocadas por andares: a construção é vertical, como um prédio, e cada andar comporta dois presos. A característica principal – e que rege a ideologia do sistema – é a maneira como quem está lá dentro se alimenta: há um poço bem no meio dos andares, por onde uma plataforma desce todos os dias, como um elevador, levando comida aos presos. No andar nº 0, os cozinheiros estritamente vigiados preparam as melhores refeições possíveis, depositando tudo para que a plataforma desça ao andar nº 1. Então, após alguns minutos, a plataforma desce para o andar seguinte, ou seja, o nº 2 vai comer o que restou do nº 1, o nº 3 vai comer o que restou do nº 2, e assim por diante.

O ponto focal do filme está com Goreng (Ivan Massagué), que acorda no 48º andar. Ao seu lado está Trimagasi (Zorion Eguileor), um senhor já de idade que foi preso por acidental e irresponsavelmente matar um homem. Ele, estando ali há quase um ano, explica como funciona o sistema, e se espanta ao saber que Goreng está ali por vontade própria: o protagonista trocou sua liberdade por um diploma.

Logo de cara já recebemos uma enxurrada de informações, com alguns pontos de destaque: é possível se voluntariar para entrar na prisão, porém, ninguém do lado de fora sabe o que acontece lá dentro – caso contrário, não aceitaria. Mesmo sendo possível conversar com os presos dos andares próximos através do poço, a única pessoa que cada um tem contato é com o companheiro de andar, excluindo a figura do agente prisional. Mas isso não abre brechas para maiores liberdades, pelo contrário: de alguma maneira, a construção é violentamente inteligente, alguma forma de tecnologia pra lá de avançada que sabe se algum dos detentos quebrou a regra básica de lá: você só pode comer enquanto a plataforma estiver no seu andar. Guardar comida é punido com a morte pelo frio ou calor – algo que Goreng descobre rapidamente ao separar uma maçã.


Isso, então, nos remete a quem? Michel Foucault. Se você não for familiarizado com o livro “Vigiar e Punir”, o filósofo resgata um conceito do séc. XVIII primordial para o entendimento de “O Poço”: o Pan-óptico. Do grego “o que tudo vê”, o Pan-óptico é uma construção arquitetônica disposta de maneira em que todas as celas e todos os presos fossem vistos por um só vigilante. É a ideia utópica da cadeia, a vigilância absoluta. Em “O Poço”, essa utopia é real. Há uma força onipresente, capaz de punir qualquer um que quebre a lei fundamental de lá – e não engrossa apenas o caráter físico, mas também o psicológico: uma figura divina que sabe de tudo aumenta a claustrofobia e força seus presos a jogarem o jogo.

Outra característica da prisão é que, todo mês, os presos acordam em um andar diferente. Trimagasi diz que o 48º é ótimo pois a comida ainda chega até lá, afirmando que já esteve em níveis bem mais baixos onde a fome era a única companhia. “O Poço” é um filme de terror, e as imagens criadas pela forma de distribuição da comida são efetivamentes repulsiva: Trimagasi imediatamente devora as sobras tocadas, mastigadas e cuspidas por – atualmente – 94 pessoas sem pensar duas vezes. O design de produção é um dos maiores aliados na geração da atmosfera, criando um banquete capaz de causar ânsia no espectador quando os personagens comem os frangos em pedaços e bolos com cobertura de saliva em pratos imundos. É um contraste enorme entre o que chega no andar dos personagens e o que é feito no andar nº 0, uma cozinha cinco estrelas.

Os únicos poderes que os presos possuem são: eles podem matar o companheiro; eles podem se matar, pulando pelo poço, por exemplo; e eles podem controlar como a comida chegará no andar de baixo. Um dos atos mais grotescos de todo o roteiro parte de Trimagasi, que cospe e urina na comida antes de a plataforma descer. É uma atitude atroz, que condena sem volta todo mundo dali para baixo. Quando questionado por um revoltado Goreng o motivo da atitude, Trimagasi responde: “os de cima provavelmente fizeram o mesmo”.

Essa suposição, que está longe de ser absurda, é baseada no viés misantropo da película: somos seres terrivelmente egoístas. Contanto que nossas necessidades sejam atendidas, os outros não importam mais. Goreng compartilha do sentimento altruísta, e encontra um reforço quando uma mulher tenta conscientizar os presos de outros andares a dividir a comida de maneira igualitária, mas é tudo em vão. O sistema tem uma maneira bem suja de corromper quem está dentro: com a mudança de andares todos os meses, você pode sair de um nível “confortável” e parar em algum onde passará fome. Se eu estou em um andar que chega comida, eu comerei o máximo possível, pois próximo mês posso não ter mais essa regalia. Difícil argumentar contra essa ideia, e basta uma pessoa para arruinar toda a conscientização das outras na divisão do alimento – uma comendo mais o que deve, alguém não terá.

Na metade da exibição descobrimos que os pratos feitos no andar nº 0 são baseados nas escolhas de cada um dos presos, e que haveria comida o suficiente para alcançar todos os andares – que são exatamente 333. Quando acorda no andar nº 122, Goreng vê que a comida há muito tempo acabou, e ali nem é a metade da estrutura – exatamente como no mundo real, que produz alimentos o suficiente para toda a população mundial, e mesmo assim a fome é um problema sólido. Engraçado notar que, no andar 122, Trimagasi amaldiçoa a todos os de cima por comerem tudo o que a plataforma carrega, no entanto, quando está em cima, não pensa duas vezes antes de fazer exatamente o mesmo que viria a condenar. É um círculo vicioso e asqueroso de hipocrisia. O que resta para as centenas de pessoas dali para baixo? Definhar de fome o resto do mês, suicídio ou canibalismo. É claro que a obra não é discreta em abordar essas opções, em cenas que arrepiam.

O primeiríssimo diálogo do filme é “O mundo é dividido em três tipos de pessoas: aqueles que estão no topo, os que estão no fundo, e os que caem”. Não apenas uma definição bem literal da prisão, a fala é uma ilustração perfeita do sistema. Os que estão no topo estão confortáveis, afinal, conseguem comida. Os que estão no fundo querem desesperadamente mudanças. E há os que caem. Sejam os que se atiram poço abaixo ou Goreng, que decide descer pela plataforma para chegar até o último andar e subir até o nº 0 quando a plataforma retornar seu trajeto.


Segundo Foucault, o poder é uma força vertical, exercida de cima para baixo, e atravessa todos os espaços existentes na sociedade. "O Poço" é a construção cinematográfica dessa definição – bem ao pé da letra quando abraça a ideia do “vertical”. Então, os que estão em cima dessa estrutura não querem mudanças, pois jamais abdicarão seus poderes; os que estão embaixo não possuem recursos para produzir essa mudança; e os que caem são os que arriscam tudo para tentar quebrar o status quo. É claro que todos esses conceitos geram várias teorias para explicar a mitologia do longa.

Uma das mais interessantes é que ali seria o intermédio entre o Paraíso e o Inferno. O número de andares não pode ser por acaso: se existem 333 pisos, com duas pessoas em cada um, 666 estão ali dentro, o número do Diabo. Quanto mais abaixo, mais próximo do Inferno você está. A perfeição do andar nº 0 remete à glória de deus ao fazer suas criações, irretocáveis em todos os detalhes. Ele provém tudo que todos precisam e todos poderiam desfrutar do Reino do Céu (o prato favorito de cada um, o único luxo disponível), mas o homem em toda sua ganância está pronto para destruir. Os presos estão ali sendo testados, indo do Céu ao Inferno em busca de uma maneira que os una. Porém, como diz Goreng, nenhuma mudança é espontânea.

Era de se esperar que o final da obra não trouxesse algo conclusivo. Deixando o espectador tirar suas próprias conclusões e imaginar o destino dos personagens, há um problema latente da maneira que o filme escolheu amarrar seu desfecho: ele cria uma sensação de que há algo maior do que realmente existe. Há todo um reforço na ideia de uma “mensagem” a ser levada até o andar nº 0, como se fosse algo enviado pelos deuses ou um simbolismo folclórico além da superfície do ecrã, o que é uma perfumaria bem desnecessária. Parece que o roteiro tem medo de assumir a simplicidade do seu final e tenta torna-lo mais grandioso do que realmente ele é.

Por se tratar de uma produção espanhola, “O Poço” impressiona pelo requinte técnico – e é a estreia do diretor Galder Gaztelu-Urrutia, mais um motivo para potencializar a boa realização da película. Longe de estúdios bilionários de Hollywood, a concepção visual da trama é realizada fantasticamente; quase inteiramente filmado em um único cômodo, os efeitos especiais são essenciais para a imersão da plateia diante da estrutura, seja nos momentos em que a plataforma magicamente atravessa os pisos, seja nos takes que mostram o quão grande é o poço. E isso reflete também na própria concepção ideológica do todo.

As discussões de “O Poço” soam óbvias – é só você ler a sinopse que a fundamentação central da fita estará presente. Sim, esse é um filme que quer mostrar como a estruturação do Capitalismo é falha, desumana e cruel – e provavelmente você, proletariado, já sabe disso. Do adestramento do corpo pelas prisões à distribuição desigual de recursos, a metáfora cinematográfica do filme preenche todos os requisitos esperados, todavia, há muito mais a ser percebido ao instigar debates sobre as relações entre diversas cenas e o panorama da sociedade contemporânea, uma das melhores funções da Sétima Arte. Uma mistura de “O Cubo” (1997), “Jogos Mortais” (2004) e “O Anjo Exterminador” (1962), “O Poço” é uma alegoria brilhantemente terrível da natureza humana que gera indagações ao mesmo tempo que executa um trabalho de gênero delicioso.

Obs.: parabéns para a Netflix pelo timing assustador ao lançar um filme sobre a importância da divisão de mercadorias exatamente no meio de uma pandemia que causou desinformação e panic buying, esgotando produtos que poderiam ser divididos igualmente. Você aí conseguiu encontrar álcool em gel em algum lugar?


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Sente o "Rajadão"! A gente não consegue parar de ouvir o novo disco da Pabllo Vittar

E a Pabllo Vittar continua fazendo absolutamente tudo! Após o vazamento de seu novo disco, o "111", a drag queen adiantou o lançamento do material para esta terça-feira (25) e, como já era esperado, entregou tudo que a gente pediu e um pouco mais. 

Conforme teorizado por um fã e confirmado pela própria Pabllo, o "111" funciona como uma grande playlist de aniversário da artista ao misturar em 9 faixas todos os ritmos que ela escutaria em sua festa. E faz sentido, já que o nome do álbum remete justamente à data de seu nascimento, 1º de novembro. 

E é essa junção de ritmos que faz o "111" ser tão bom. A gente já sabia que a Pabllo era capaz de experimentar com diversos gêneros musicais, abrasileirando-os e dando a eles um toque bem pessoal. O que vemos aqui é a drag indo cada vez mais longe e deixando sua marca no cenário do pop do nosso país.

Tem música brega com o hit "Amor de Que", uma mistura caliente e bem nordestina em "Lovezinho", com a Ivete Sangalo, e reggaeton com a Thalía em "Tímida". Na mistura da Pabllo, cabe até PC Music com letras em espanhol ("Ponte Perra") e gospel tecno ("Rajadão", a nossa faixa favorita do disco). 

São muitas Pabllos, como na própria capa do "111", mas todas elas únicas, originais e icônicas. 

Ela não vem mais! Lady Gaga adia o lançamento do “Chromatica”

E aconteceu, galera. Após muita especulação, Lady Gaga anunciou nesta terça-feira (24) que adiou oficialmente o lançamento de seu novo disco, “Chromatica”. O motivo, é claro, é a pandemia do Coronavírus. 

Em carta publicada aos fãs em suas redes sociais, Gaga conta que uma nova data para o lançamento do álbum ainda será anunciada. A artista tomou essa decisão porque, segundo ela, não se sente confortável lançando música nova em meio a esse clima. 

Quando o álbum sair, eu quero que a gente possa dançar juntos, soar juntos, nos abraças e beijar, e fazer disso a celebração mais bombástica de todos os tempos.

Ela revela ainda que tinha uma divulgação preparada para o disco, inclusive um show surpresa no Coachella, festival que aconteceria em abril e foi adiado para outubro.

Veja a carta completa:




Nesse meio tempo, acreditamos que Gaga deve investir na divulgação de outros singles do “Chromatica”. Quem sabe não ouviremos muito em breve a suposta parceria com a Ariana Grande, que deve se chamar “Rain On Me”?

Lista: 10 filmes da década passada que você talvez não tenha visto (mas deveria)

Caso você não saiba, tenho uma parede inteira no meu quarto coberta com mais de 300 pôsteres de filmes. Sempre que alguém passa por aqui, sai listando quais já assistiu, e alguns deles nunca foram apontados por alguém. Se você não for cinéfilo ou habite na roda do Cinema, é normal que inúmeros longas incríveis passem batido todos os anos, e estou aqui para tentar amenizar essa dor.

Por isso - e para aproveitar que estamos todos em casa nesse momento de pandemia -, escolhi 10 filmes dos anos 2010 que você talvez não tenha visto (mas deveria). Para selecionar as obras, tracei dois parâmetros. 1, o filme não pode ter saído na minha lista com os 100 melhores da década (você já pode ver todos - e escolher quais colocar na maratona - aqui) e 2, o filme não pode ter mais de 1000 votos no Filmow (alguns aqui não passaram de 100).

Tentei, também, trazer uma lista bem diversificada, com filmes de todos os cantos do mundo,  com diferentes línguas e dirigidos por homens e mulheres. Comento sobre cada um deles e o porquê de valerem a pena, mas não se preocupe, todos os textos estão sem spoilers. Sua quarentena está salva (eu espero).


Rainha de Copas (Dronningen), 2019

Direção de May el-Toukhy, Dinamarca.
Uma advogada de sucesso no ramo da proteção infantil acolhe o enteado em sua casa para não contrariar o marido. O problema é que ela vê seu castelo perfeito começar a ruir quando inicia um relacionamento com o garoto. O que começa como uma brincadeira sedutora é levada por "Rainha de Copas" a jogos de poder que terão consequências devastadoras. Liderado por uma atuação perfeita de Trine Dyrholm, o longa é um estudo poderoso sobre o outro lado da pedofilia, quando a mulher é o "predador". Cheio de cenas desconcertantes, a metáfora do título já mostra como o filme anda no campo do ambíguo: rainha de copas é a carta que representa o altruísmo, o que é no mínimo irônico dentro da obra.

Apostasia (Apostasy), 2017

Direção de Daniel Kokotajlo, Reino Unido.
A base de uma família é a religião. Testemunhas de Jeová, a filha mais nova se encontra doente, tendo que se submeter a uma transfusão de sangue para se curar, algo que é proibido pelos preceitos religiosos. A menina escolhe a ciência, e deve ser retirada do seio familiar por isso, mas o que é mais importante para a mãe? O filme de Daniel Kokotajlo é um dos vários na atualidade a questionarem como a fé - de diferentes culturas - pode ser um atraso ao invés de um alívio. A doença que envolve a trama, no fim das contas, não é a da filha.

Borgman (idem), 2013

Direção de Alex Van Warmerdam, Holanda.
Uma rica família mora em sua linda e segura casa. As barreiras dessa fortaleza de arrogância são perturbadas com a chegada do Diabo (ou do Bicho Papão, que seja), mascarado na pele de um sem teto. Sem usar artifícios visuais ou sonoros para construir a tensão, só na base da narrativa, "Borgman" é um filme niilista sobre as mirabolantes formas de agir do mal, que nos seduz de forma tão patética quanto às três crianças com a história da Menina Branca. Uma mistura desconcertante de Yorgos Lanthimos com Michael Haneke, o que garante imagens impactantes que não vão deixar sua cabeça tão fácil.

Irrepreensível (Irréprochable), 2016

Direção de Sébastien Marnier, França.
Com seus 40 anos, Constance não consegue mais emprego em Paris. Voltando para sua cidade no interior, tenta a vaga que tinha antes de ir embora, todavia, o seu ex-chefe prefere contratar uma freelancer que fará o mesmo trabalho ganhando bem menos. Constance então vai dedicar seus dias para fazer a rival sumir do mapa e, então, ter seu emprego. Um estudo de personagem fenomenal, "Irrepreensível" não apenas aponta o dedo para o Capitalismo, que gera rivalidades absurdas, mas também à protagonista, que vai da noite jantando milho em lata à perseguição digna de uma sociopata.

O Monstro de Mil Cabeças (Un Monstruo de Mil Cabezas), 2015

Direção de Rodrigo Plá, México.
Veio do México um dos filmes mais simples e eficientes sobre um dos maiores monstros que habitam nosso mundo: a burocracia. Sonia é uma desesperada esposa que tenta conseguir o tratamento negado pelo plano de saúde para o marido, prestes a morrer. As dificuldades começam logo no hospital, quando várias informações desencontradas são jogadas sobre ela e o médico do marido se recusa a atendê-la. A paciência da mulher vai se esgotando até que ela toma medidas mais drásticas para solucionar a situação. Com um pé em "Relatos Selvagens", porém com muita acidez e sem o humor, "O Monstro de Mil Cabeças" é uma crônica poderosa sobre como o sistema dificulta as nossas vidas e como médicos possuem um desmedido poder de decidir quem vive e quem morre baseado em dinheiro.

Blue My Mind (idem), 2017

Direção de Lisa Ivana Brühlmann, Suíça.
O suíço "Blue My Mind" (belo trocadilho no título) é uma daquelas produções que englobam diversos temas, estéticas e narrativas que arrepiam a epiderme. Uma adolescente entra na puberdade e se choca pelas mudanças físicas após a primeira menstruação - só que, claro, mudanças artisticamente exageradas. Uma mistura de "Cisne Negro" com "Grave", a fita de Lisa Brühlmann une o coming of age com o body horror com o intuito de, fantasiosa e cinematograficamente, embarcar o público nas transformações femininas e a liberdade sem limites da juventude. É usar um clichê ao seu favor e solidificar um longa arrebatador.

Nada de Mau Pode Acontecer (Tore Tanzt), 2013

Direção de Katrin Gebbe, Alemanha.
Um jovem fervorosamente religioso e sem muitos rumos na vida conhece uma família que o adota de maneira postiça. Um acidente ocorre, e o garoto acredita que foi intervenção divina, aceitando de bom grado, sem saber que seria só o primeiro passo do seu bem-vindo inferno. Usando uma justifica plausível para o consentimento do protagonista, "Nada de Mau Pode Acontecer" extrapola o bem-estar do espectador com um festival de cenas grotescas e abusivas, aceitadas por meio da fé cega que cria um mártir injustificado. Pode irritar a passividade do personagem, o que reforça o quão longe o fundamentalismo pode deturpar uma visão. A última frase é chocante.

Anjos Vestem Branco (Jiā Nián Huá), 2017

Direção de Vivian Qu, China.
Em em pequena cidade à beira mar, duas garotas são assediadas por um homem de meia idade em um quarto de hotel. A única testemunha é a recepcionista do hotel, que tem as gravações. Porém, com medo de perder seu emprego caso se envolva com um caso policial, escolhe ficar em silêncio. Um retrato necessário do cinema feminino contemporâneo, "Anjos Vestem Branco" é uma cadeia de eventos que reforçam como a sororidade é fundamental para o fortalecimento da resistência feminina contra a cultura do estupro, ainda melhor quando vindouro de um país com um cinema tão restrito.

A Transfiguração (The Transfiguration), 2016

Direção de Michael O'Shea, EUA.
“A Transfiguração” retrata a vida do maior fã da figura do vampiro que já existiu, que não abre mão de discutir desde cinema cult até literatura pop - um garoto de 14 anos que acredita que, assim como o universo incrível que consome para fugir da dura vida, também é um vampiro. Usando inteligentemente a cultura vampiresca, com viés bem fora-da-caixa deste subgênero já tão saturado, o longa se debruça nessa rica fonte para fugir das obviedades do tema, encontrando espaço para contextualizar o meio e criar personagens intrigantes – é quase como se “Moonlight” não fosse LGBT e colocasse Nosferatu na receita. “‘Crepúsculo’ é péssimo”, diz o protagonista. Então tá.

O Cidadão do Ano (Kraftidioten), 2014

Direção de Hans Petter Moland, Noruega.
Um limpador de neve é escolhido o cidadão do ano. Orgulhoso pelo feito, sua felicidade vai embora quando o filho é assassinado por algo que não fez. Possuído pelo desejo de vingança e justiça, o homem vai desencadear uma guerra entre as facções locais, lideradas pela máfia e um gangster vegano. "O Cidadão do Ano" tem uma premissa que soa bem séria, mas é divertidíssimo pela insanidade. Cheio de gags narrativas e visuais (os anúncios das mortes no ecrã), a película vai agradar os fãs do Quentin Tarantino - aos moldes noruegueses, é claro, mas tão cheio de sangue, humor negro e um roteiro mirabolante e criativo quanto. Porralocagem das boas.

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