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Lista: 10 filmes da década passada que você talvez não tenha visto (mas deveria)

No mercado como o brasileiro, muitos filmes impressionantes jamais verão a luz do sol, então aqui estão 10 que você deve ter deixado passar
Caso você não saiba, tenho uma parede inteira no meu quarto coberta com mais de 300 pôsteres de filmes. Sempre que alguém passa por aqui, sai listando quais já assistiu, e alguns deles nunca foram apontados por alguém. Se você não for cinéfilo ou habite na roda do Cinema, é normal que inúmeros longas incríveis passem batido todos os anos, e estou aqui para tentar amenizar essa dor.

Por isso - e para aproveitar que estamos todos em casa nesse momento de pandemia -, escolhi 10 filmes dos anos 2010 que você talvez não tenha visto (mas deveria). Para selecionar as obras, tracei dois parâmetros. 1, o filme não pode ter saído na minha lista com os 100 melhores da década (você já pode ver todos - e escolher quais colocar na maratona - aqui) e 2, o filme não pode ter mais de 1000 votos no Filmow (alguns aqui não passaram de 100).

Tentei, também, trazer uma lista bem diversificada, com filmes de todos os cantos do mundo,  com diferentes línguas e dirigidos por homens e mulheres. Comento sobre cada um deles e o porquê de valerem a pena, mas não se preocupe, todos os textos estão sem spoilers. Sua quarentena está salva (eu espero).


Rainha de Copas (Dronningen), 2019

Direção de May el-Toukhy, Dinamarca.
Uma advogada de sucesso no ramo da proteção infantil acolhe o enteado em sua casa para não contrariar o marido. O problema é que ela vê seu castelo perfeito começar a ruir quando inicia um relacionamento com o garoto. O que começa como uma brincadeira sedutora é levada por "Rainha de Copas" a jogos de poder que terão consequências devastadoras. Liderado por uma atuação perfeita de Trine Dyrholm, o longa é um estudo poderoso sobre o outro lado da pedofilia, quando a mulher é o "predador". Cheio de cenas desconcertantes, a metáfora do título já mostra como o filme anda no campo do ambíguo: rainha de copas é a carta que representa o altruísmo, o que é no mínimo irônico dentro da obra.

Apostasia (Apostasy), 2017

Direção de Daniel Kokotajlo, Reino Unido.
A base de uma família é a religião. Testemunhas de Jeová, a filha mais nova se encontra doente, tendo que se submeter a uma transfusão de sangue para se curar, algo que é proibido pelos preceitos religiosos. A menina escolhe a ciência, e deve ser retirada do seio familiar por isso, mas o que é mais importante para a mãe? O filme de Daniel Kokotajlo é um dos vários na atualidade a questionarem como a fé - de diferentes culturas - pode ser um atraso ao invés de um alívio. A doença que envolve a trama, no fim das contas, não é a da filha.

Borgman (idem), 2013

Direção de Alex Van Warmerdam, Holanda.
Uma rica família mora em sua linda e segura casa. As barreiras dessa fortaleza de arrogância são perturbadas com a chegada do Diabo (ou do Bicho Papão, que seja), mascarado na pele de um sem teto. Sem usar artifícios visuais ou sonoros para construir a tensão, só na base da narrativa, "Borgman" é um filme niilista sobre as mirabolantes formas de agir do mal, que nos seduz de forma tão patética quanto às três crianças com a história da Menina Branca. Uma mistura desconcertante de Yorgos Lanthimos com Michael Haneke, o que garante imagens impactantes que não vão deixar sua cabeça tão fácil.

Irrepreensível (Irréprochable), 2016

Direção de Sébastien Marnier, França.
Com seus 40 anos, Constance não consegue mais emprego em Paris. Voltando para sua cidade no interior, tenta a vaga que tinha antes de ir embora, todavia, o seu ex-chefe prefere contratar uma freelancer que fará o mesmo trabalho ganhando bem menos. Constance então vai dedicar seus dias para fazer a rival sumir do mapa e, então, ter seu emprego. Um estudo de personagem fenomenal, "Irrepreensível" não apenas aponta o dedo para o Capitalismo, que gera rivalidades absurdas, mas também à protagonista, que vai da noite jantando milho em lata à perseguição digna de uma sociopata.

O Monstro de Mil Cabeças (Un Monstruo de Mil Cabezas), 2015

Direção de Rodrigo Plá, México.
Veio do México um dos filmes mais simples e eficientes sobre um dos maiores monstros que habitam nosso mundo: a burocracia. Sonia é uma desesperada esposa que tenta conseguir o tratamento negado pelo plano de saúde para o marido, prestes a morrer. As dificuldades começam logo no hospital, quando várias informações desencontradas são jogadas sobre ela e o médico do marido se recusa a atendê-la. A paciência da mulher vai se esgotando até que ela toma medidas mais drásticas para solucionar a situação. Com um pé em "Relatos Selvagens", porém com muita acidez e sem o humor, "O Monstro de Mil Cabeças" é uma crônica poderosa sobre como o sistema dificulta as nossas vidas e como médicos possuem um desmedido poder de decidir quem vive e quem morre baseado em dinheiro.

Blue My Mind (idem), 2017

Direção de Lisa Ivana Brühlmann, Suíça.
O suíço "Blue My Mind" (belo trocadilho no título) é uma daquelas produções que englobam diversos temas, estéticas e narrativas que arrepiam a epiderme. Uma adolescente entra na puberdade e se choca pelas mudanças físicas após a primeira menstruação - só que, claro, mudanças artisticamente exageradas. Uma mistura de "Cisne Negro" com "Grave", a fita de Lisa Brühlmann une o coming of age com o body horror com o intuito de, fantasiosa e cinematograficamente, embarcar o público nas transformações femininas e a liberdade sem limites da juventude. É usar um clichê ao seu favor e solidificar um longa arrebatador.

Nada de Mau Pode Acontecer (Tore Tanzt), 2013

Direção de Katrin Gebbe, Alemanha.
Um jovem fervorosamente religioso e sem muitos rumos na vida conhece uma família que o adota de maneira postiça. Um acidente ocorre, e o garoto acredita que foi intervenção divina, aceitando de bom grado, sem saber que seria só o primeiro passo do seu bem-vindo inferno. Usando uma justifica plausível para o consentimento do protagonista, "Nada de Mau Pode Acontecer" extrapola o bem-estar do espectador com um festival de cenas grotescas e abusivas, aceitadas por meio da fé cega que cria um mártir injustificado. Pode irritar a passividade do personagem, o que reforça o quão longe o fundamentalismo pode deturpar uma visão. A última frase é chocante.

Anjos Vestem Branco (Jiā Nián Huá), 2017

Direção de Vivian Qu, China.
Em em pequena cidade à beira mar, duas garotas são assediadas por um homem de meia idade em um quarto de hotel. A única testemunha é a recepcionista do hotel, que tem as gravações. Porém, com medo de perder seu emprego caso se envolva com um caso policial, escolhe ficar em silêncio. Um retrato necessário do cinema feminino contemporâneo, "Anjos Vestem Branco" é uma cadeia de eventos que reforçam como a sororidade é fundamental para o fortalecimento da resistência feminina contra a cultura do estupro, ainda melhor quando vindouro de um país com um cinema tão restrito.

A Transfiguração (The Transfiguration), 2016

Direção de Michael O'Shea, EUA.
“A Transfiguração” retrata a vida do maior fã da figura do vampiro que já existiu, que não abre mão de discutir desde cinema cult até literatura pop - um garoto de 14 anos que acredita que, assim como o universo incrível que consome para fugir da dura vida, também é um vampiro. Usando inteligentemente a cultura vampiresca, com viés bem fora-da-caixa deste subgênero já tão saturado, o longa se debruça nessa rica fonte para fugir das obviedades do tema, encontrando espaço para contextualizar o meio e criar personagens intrigantes – é quase como se “Moonlight” não fosse LGBT e colocasse Nosferatu na receita. “‘Crepúsculo’ é péssimo”, diz o protagonista. Então tá.

O Cidadão do Ano (Kraftidioten), 2014

Direção de Hans Petter Moland, Noruega.
Um limpador de neve é escolhido o cidadão do ano. Orgulhoso pelo feito, sua felicidade vai embora quando o filho é assassinado por algo que não fez. Possuído pelo desejo de vingança e justiça, o homem vai desencadear uma guerra entre as facções locais, lideradas pela máfia e um gangster vegano. "O Cidadão do Ano" tem uma premissa que soa bem séria, mas é divertidíssimo pela insanidade. Cheio de gags narrativas e visuais (os anúncios das mortes no ecrã), a película vai agradar os fãs do Quentin Tarantino - aos moldes noruegueses, é claro, mas tão cheio de sangue, humor negro e um roteiro mirabolante e criativo quanto. Porralocagem das boas.

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