Análise: porquê as quase 3h do corte do diretor marcam “Midsommar” como uma obra-prima

Atenção: o texto contém spoilers.

Se por algum acaso você não seja um desses cinéfilos que acompanham as notícias do mundinho do Cinema, talvez tenha perdido a versão do diretor de "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" (2019) - segundo filme de Ari Aster, badalado diretor do maior terror da década, "Hereditário" (2018). Do que se trata? Originalmente conhecida como "director's cut", é a versão idealizada pelo diretor, que diverge da versão lançada em cinemas. Isso acontece porque, quando a distribuidora garante os direitos de vender o filme para as salas, ela tem poder em decidir o corte que vai ser exibido - e inúmeros longas ganharam uma edição especial contendo o filme projetado originalmente.

Quando Ari Aster chegou com o corte final de "Midsommar", a A24, distribuidora da obra, falou com toda educação: "então, dá pra cortar mais?". O filme finalizado pelo diretor tinha 171 minutos, quase 3h, e era uma versão grande demais, o que seria menos vendável.

Há uma lógica mercadológica por trás da decisão da A24: quanto maior a duração de um filme, menos sessões diárias ele pode ter; enquanto um filme de 1:30h tem, digamos, seis sessões, o de 3h obviamente só caberá na metade delas, o que corta pela metade o montante a ser arrecadado. Além disso, o público se assusta com 3h de filme, escolhendo, muitas vezes, um mais curto entre as opções em cartaz - nem vou entrar no mérito dos filmes de super-herói com 3h (ou mais), afinal, é um filão à parte e exceção à regra.

Aster então voltou para a sala de edição e, sofridamente, reduziu seu filme à duras penas, o que foi aprovado para ser distribuído. A versão de cinema, com 147 minutos, ainda assim era robusta, mas o suficiente de acordo com a A24. Foi essa a versão que eu – e todo mundo – assistiu primeiramente (deixo aqui meu descontentamento com a demora do lançamento da película em solo brasileiro, mais de dois meses depois da estreia internacional e uma semana antes do lançamento digital).

Felizmente, o diretor conseguiu, também, lançar sua versão idealizada – nos cinemas foi apenas nos EUA, no entanto, o arquivo digital chegou no final de setembro, facilitando o acesso ao que seria o corte ideal segundo seu realizador. Antes de entrarmos na versão estendida de “Midsommar”, uma rápida passada pela sinopse: após uma tremenda tragédia pessoal, Dani (Florence Pugh) vai com o namorado Christian (Jack Reynor) para a Suécia, a fim de presenciar as comemorações do solstício de versão de uma comunidade isolada. Lá, ela se divide entre os bizarros ritos e o relacionamento à beira do desastre.

Seria um exagero dizer que nova versão é um “filme diferente” do que vimos no cinema; mesmo 20 minutos (a duração retirada) bastando para mudar completamente um filme, vários momentos que Aster retirou são cortes de aceleração de ritmo. Eles são diminuídos e, comparando com o corte de 147 minutos, não fazem tanta diferença assim – como a sequência dentro do carro, quando o pessoal está dirigindo até o local das comemorações. No entanto, existem cenas vitais para unir o todo e que foram ou descartadas completamente ou severamente decepadas. Vamos a cada uma delas.

1: Christian convida Dani a ir até a Suécia

Há um atrito latente quando Dani descobre que Christian vai até a Suécia – sem informa-la. Na versão de cinema, há um grande corte entre esta cena e o momento que Christian avisa aos amigos que Dani vai acompanha-los (para o desgosto quase geral). Já na versão completa, a cena se desenrola mais, acrescentando detalhes sobre o estado emocional da protagonista – ainda de luto pela morte da família – e como o namorado é, sem rodeios, um completo covarde. A cena vista da maneira que Aster intencionou é um grande bloco que ilustra a precária união dos dois.

2: Christian esquece do aniversário de Dani

Como um lixo de namorado que é, Christian esquece do aniversário da amada – mesmo a viagem sendo exatamente no dia. Esse corte foi bem pequeno, porém, Aster agora deixa explícito do esquecimento quando Pelle, um dos amigos, avisa Christian sobre a data – antes só vemos Christian preocupado com algo e perguntando se Dani falou sobre alguma coisa. Deixar abertamente expositivo projeta ainda mais como o namorado não coloca Dani como prioridade.

3: A cena do lago

Após o primeiro estágio das comemorações – a fatídica cena do penhasco –, há outro passo cultural que é totalmente excluído no corte de cinema. Acontece um ritual que mostra um garotinho decidido a se suicidar em nome da Mãe Natureza, para o desespero de Dani (inclusive, tal ritual vai explicar como um dos personagens morre no final, uma dúvida que não é claramente respondida pelo corte de cinema). Ela diz a Christian que vai embora, enquanto o namorado fala um belo “então pode ir, porque eu não vou”.

Há uma briga de extrema importância aqui, e não consigo ver motivos que convenceram Aster a tirar toda a sequência – ela poderia vir imediatamente após a cena anterior sem o ritual do lago. Talvez o motivo da exclusão seja porque essa é a única cena noturna depois que os personagens chegam no vilarejo – no corte de cinema, a luz do dia não vai embora momento algum, um efeito brilhante.

4: Christian planeja roubar a tese de Josh

A motivação fundamental da viagem é que Josh, um dos amigos, está fazendo sua tese de doutorado em Antropologia, e usará a comunidade como objeto de estudo. Só que Christian, até então perdido sobre o tema de sua tese, decide roubar a ideia do colega. Enquanto assistia ao filme, achava muito deslocado o estopim para essa decisão, que não havia recebido tratamento devido – tudo surgia do nada.

E o motivo para esta impressão é graças ao corte feito na cena em que Christian agradece Pelle pelas informações sobre a comunidade, sendo que foi Josh quem fez a pergunta. Ali está a semente do que viria a florescer no roubo da ideia, um acontecimento muito sutil, mas que fundamenta uma motivação que recebe muito peso no roteiro, afinal, é mais um bloco de construção da persona de Christian.

5: Christian se aproxima de Maja

Uma das cenas mais desconcertantes de “Midsommar” é o ritual sexual que faz Christian engravidar Maja, uma das meninas do vilarejo. Há diversas trocas de olhares entre os dois, todavia, a primeira interação entre eles, no que vimos no cinema, é na derradeira cena da cópula. Isso porque foi retirado um momento em que ele deliberadamente vai até Maja com o pretexto de investigar sobre a cultura do local. Isso acontece logo após a briga do lago, como se Christian já não estivesse dando a mínima para a relação e dando abertura para a garota que estava jogando sinais de interesse.


Como podemos ver, Aster priorizou manter as cenas que colocam Dani em primeiro plano em detrimento do desenvolvimento de Christian, limado com a redução de 20 minutos, então, assistir à versão completa é uma experiência muito mais rica. Os cinco pontos citados são peças-chaves na costura do roteiro sobre como Christian é enquanto pessoa e, principalmente, enquanto namorado de Dani.

Muito peso psicológico foi retirado, e todo ele é fundamental para entendermos com ainda mais afinco a decisão do clímax, quando Dani escolhe sacrificar o (ex) namorado. Nem o público consegue ficar do lado do rapaz quando ele se mostra egoísta, egocêntrico e totalmente preocupado unicamente em si próprio, passando por cima de quem seja necessário.

E é inegável como esse lado ainda mais reprovável de Christian impacta diretamente em Dani, explicando sua instabilidade emocional e destruição psicológica. Pelle pergunta para ela: “Você se sente acolhida por ele?”. Com todas as cenas completas, a resposta é um “Não” ainda mais definitivo.

Curioso, também, perceber como os minutos a mais tornam “Midsommar” mais fluido – já que as peças se unem de maneira correta –, e as quase 3h correm sem que percebamos. É verdade que, querendo ou não, estamos revendo o filme e revisando alguns pontos e simbologias que antes não percebemos – como o painel que abre o filme e possui o roteiro do começo ao fim. Seguir por esse caminho – primeiro ver a versão de cinema e depois o corte do diretor – é a experiência mais interessante enquanto filme e enquanto entendimento da indústria. Com 20 minutos a mais, “Midsommar” se consagra como obra-prima.

Solta o batidão disco! Dua Lipa libera teaser de seu novo single, "Don't Start Now"

Esse final de ano vai ser animado, hein? Entre tantos lançamentos já confirmados, temos agora mais um single pra ficar de olho: "Don't Start Now", da Dua Lipa, que deve chegar em algumas semanas. 

Depois de fazer um blackout em suas redes sociais, Dua voltou nessa terça-feira (22) com um teaser de sua mais nova música, e o pouco que escutamos já serviu pra nos deixarmos com bastante expectativa para essa nova era. Tá disco, tá dançante, tá uma delícia! 


Em entrevista para a revista NME, Dua Lipa contou que seu novo disco será mais maduro e "disco-heavy", com bastante "instrumentalização ao vivo". Pra isso, ela recrutou ninguém menos do que a lenda Nile Rodgers, além de ter feito algumas sessões de estúdio com a Tove Lo

Animados para essa dance perfection?

Kesha anuncia o disco "High Road", que vai reconectá-la ao pop do início de sua carreira

Prontos para as farofas?

Kesha vai nos deixar muito bem alimentados no final desse 2019. A artista anunciou nessa segunda-feira (21) o álbum "High Road", que vai explorar uma sonoridade bem pop, como a do início de sua carreira, e que chegará ainda esse ano. 

Para nos apresentar ao projeto, Kesha liberou um trailer maravilhoso do material, em que mostra o que pode ser a capa do disco e prévias de várias músicas, entre elas "Raising Hell", que será o primeiro single do "High Road". E, pelo que vimos, achamos que vem álbum visual por aí. Olha só:


No trailer, Kesha falou um pouquinho também sobre o processo criativo de "High Road" e as diferenças desse projeto para o anterior, o aclamadíssimo "Rainbow"

"Quando eu escrevi o 'Rainbow', eu estava em um momento bem diferente. Eu tive que falar sobre tópicos bem sérios. Mas agora, em meu novo álbum, eu revisitei minhas raízes de pura e absoluta alegria debochada”


Segundo rumores, o single "Raising Hell", cuja uma prévia do clipe já foi divulgada, deve chegar ainda esse mês.




Se tudo isso já não fosse suficiente para nos deixar bem animados para o "High Road", se liga só na lista de colaborações presentes no projeto: teremos co-composições de Dan Reynols, vocalista do Imagine Dragons, Nate Ruess, da banda fun., Tayla Parx, mais conhecida por suas músicas com a Ariana Grande, e Justin Tranter, conhecido por trabalhos com Selena Gomez e Britney Spears. Já na produção, Kesha contou com nomes como Jeff Bhasker, que trabalhou recentemente com Harry Styles, e Ryan Lewis, produtor de "Praying". 

Miley Cyrus deixa escapar possível tracklist de seu novo disco em live no Instagram

Miley Cyrus teve um ano cheio de “vai, não vai” na música. Após lançar o “SHE IS COMING”, e engavetar dois EPs que sairiam depois, parece que talvez a artista venha mesmo. Pelo menos é o que ela deu a entender em uma live nesse domingo (20).



Ao entrar ao vivo em seu Instagram, Miley “deixou escapar” (finge, gente) uma possível tracklist para seu novo material. A lista de faixas conta com algumas já conhecidas, como “Mother’s Daughter” e “Slide Away”, além de novidades animadoras, como “Bad Karma”, que chegou a ter um trechinho revelado no Stories no início do ano e muitos acharam que seria engavetada, e “Naked”, uma suposta parceria com a Cardi B.

Olha só:



Pelo que conseguimos identificar, a tracklist ficou assim:

1. Sagitarius
2. Mother's Daugther
3. Slide Away
4. Party Up The Street
5. American Dream
6. Naked
7. Golden G String
8. Mary Jane
9. Victoria
10. Cattitude
11. Bad Karma
12. I Play --
13. Coldblood

E escuta só esse acapella de "Bad Karma" que ela fez na live, só pra nos deixar com mais vontade de ouvir a versão de estúdio do hino:


Por falar em cantar trecho de música, ela aproveitou pra soltar a voz e mostrar um pedacinho de uma canção que, segundo a própria, vai estar no álbum. Não sabemos o nome, mas soa promissora, hein?


Será que, depois de tudo, a Miley vem mesmo?

Pabllo Vittar tá de "Parabéns" no clipe de sua parceria com o Psirico

Te dou parabéns quando para a bunda!

Faltam alguns meses para o Carnaval, mas esse é o momento em que os artistas começaram a lançar suas apostas de hits para essa época do ano. E depois de escutarmos "Parabéns", novo single da Pabllo Vittar com o Psirico, parece que a artista tem em mãos um grande sucesso dessa temporada. 

Um arrocha pop do jeitinho que a gente gosta, a nova música de trabalho de Pabllo, que fará parte do álbum "111", reúne tudo que a fez a gente se apaixonar pela drag queen, sendo um pop perfection com muita cara de Brasil, e claro, de Nordeste.

Junto com a canção, Pabllo liberou o clipe de "Parabéns", com direito a muita coreografia e takes seus saindo de um bolo de aniversário. Não poderia faltar, né?


Tá ou não tá de parabéns?

O "111" chega no dia 1º de novembro e trará parcerias e músicas solo, além de faixas em português, inglês e espanhol. 

Sim, parece que o comeback da Selena Gomez está realmente próximo

Nesse vai, não vai do comeback da Selena Gomez, já, já a gente morre do coração. É que a cantora fez algumas postagens misteriosas em suas redes sociais nessa quinta-feira (17) que nos fazem acreditar que agora realmente vai rolar. 

Primeiro, Selena divulgou uma foto enigmática, em preto e branco, com uma legenda que parece ser a letra de uma música inédita:


Apenas uma imagem já foi suficiente para fazer todo mundo surtar e especular sobre o que vem por aí. É o poder, né? Mas o que realmente nos fez acreditar que a nova era está mais perto do que imaginávamos foi a postagem seguinte. 

Em suas redes, Selena compartilhou também uma foto de uma aparição sua em um outdoor na Times Square, em Nova York. Marcando o perfil da Amazon Music, a artista deixou avisado que é melhor a seguirmos logo no serviço de streaming para ficarmos ligados nas novidades. 


E tem mais, viu! Dessa vez marcado o Spotify, a artista postou mais um vídeo e um treco do que nos parece a letra dessa canção misteriosa.


Ok, já podemos acreditar que o comeback é uma realidade, ou ainda tá cedo?

Recentemente, um insider que costuma acertar bastante sobre o que vem por aí no mundo pop andou dizendo que Selena estaria de volta ainda em outubro. E como o disco dela aparenta estar finalizado, chutaríamos que chegou a hora. É... tarde demais, já estamos esperançosos. 

Vale lembrar que o último disco de Selena Gomez foi o ótimo "Revival", de 2015. De lá pra cá, a cantora tem investido em muitas parcerias, seja na música latina ou eletrônica, e em alguns singles próprios, como as elogiadas "Bad Liar" e "Fetish"

Tudo indica que Lizzo lançará um remix de "Good As Hell" com a Ariana Grande

Pode encomendar mais um #1 na Hot 100 pra Lizzo? Pode sim! Após acampar durante seis semanas no topo da principal parada de singles dos Estados Unidos com "Truth Hurts", a rapper e cantora está pronta para conquistar seu segundo hit com a canção "Good As Hell".

Depois de fazer sucesso com uma música de 2017, provando que seu som está muito à frente de nós, meros mortais, as pessoas foram atrás das músicas antigas de Lizzo e descobriram "Good As Hell", lançada lá em 2016 (!). Aproveitando o momento, a americana performou a canção no Video Music Awards desse ano e, desde então, a faixa só tem subido na Hot 100.


Pra dar um gás na divulgação da música e revitalizar esse single que já tem mais de três anos de idade, parece que Lizzo convocou ninguém menos do que Ariana Grande para um remix. Pelo menos é o que indica essa suposta prévia da nova versão de "Good As Hell" que chegou na internet nesta quinta-feira (17). Escuta só: 


Perfeitas, né? Segundo rumores, o remix chegará no dia 25 de outubro, na sexta-feira da semana que vem. Enquanto a gente ainda não tem a confirmação e o lançamento da faixa, bora tacar stream na versão solo da canção!
 

Bom dia Brasil, boa noite Hawaii! Katy Perry tá curtindo o clima praiano no clipe da deliciosa "Harleys In Hawaii"

Depois de muita expectativa pelo lançamento do mais novo single de Katy Perry, "Harleys In Hwaii", a faixa está entre nós! Lançada nessa quarta-feira (16), a música, produzida por Charlie Puth, é tudo que a gente esperava e um pouco mais. 

Diferente da sonoridade eletrônica explorada em "Never Really Over" e "Small Talk", essa última também produzida por Puth, "Harleys" explora um pop com R&B e com algumas camadas acústicas bem sensual. Não é algo que estamos acostumados a ver Katy fazendo, e por isso, justamente, a canção nos caiu tão bem. 

  

Junto com a faixa, Katy liberou também seu clipe. No vídeo, a cantora deixa de lado as grandes produções que está acostumada a fazer, com muito humor e cenários espalhafatosos, e aposta em algo mais contido, mas que combina perfeitamente com o clima íntimo da música.

Ela aparece curtindo a vida no Havaí, local que serviu de inspiração para a canção: anda de moto (é claro!), pega uma praia, canta no karaokê e sensualiza muito ao lado de seu amor tropical. 



Tá aprovadíssimo e já pode servir de lead single do novo álbum, viu? 

Por falar em disco, não temos nenhuma informação concreta sobre o sucessor do "Witness", além de uma entrevista recente de Katy Perry, onde ela disse que, "se houvesse demanda", entregaria um material novo pra gente. Olha, não sabemos vocês, mas aqui a gente demanda um disco novo sim!

Crítica: “El Camino” tem tudo o que há de bom em “Breaking Bad” (mas não o que há de melhor)

Atenção: a crítica contém spoilers.

Caso você esteja chegando agora a esse mundo, um aviso: "Breaking Bad" é a melhor série de todos os tempos. E não é apenas eu afirmando - o seriado de Vince Gilligan está no Guinness Book com o recorde de "mais bem avaliada série da história" - e os vários Emmys são só uma pontinha do sucesso absurdo das cinco temporadas da saga de Walter White no império da metanfetamina.

"Breaking Bad" terminou em 2013 no auge de sua criatividade, e desde então os fãs estão ansiosos para mais um capítulo da insana história (que terminou tão bem), por isso, foi uma grata surpresa o anúncio de "El Camino", filme que dá mais um passo da trama. O filme, lançado pela Netflix, segue o único protagonista ainda existente: Jesse Pinkman (Aaron Paul) - todos os outros ou estão mortos ou já tiveram seus arcos finalizados. No final de "Felina", o último episódio da série, vemos Jesse fugindo e finalmente encontrando a liberdade depois de meses preso, e o resto ficava a cargo da imaginação da plateia.

Agora não mais. "El Camino" vai mostrar o que rolou com o personagem, e começa segundos depois do fim de "Felina". Gilligan sabe o poder que tem em mãos, e já abre seu filme com um flashback com uma das melhores figuras do seriado, Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks). Isso demonstra o óbvio: "El Camino" é um filme para os fãs da série.

Então, caso você nunca tenha visto "Breaking Bad" ou tenha acompanhado de modo esporádico, o filme não fará sentido para você. Ele resgata - propositalmente - diversos personagens e acontecimentos das temporadas passadas a fim de costurar as motivações de Jesse e como ele chegou aonde está. Então a narrativa vai e vem entre períodos distintos da trama, intercalando flashbacks com o presente de Jesse.


Após a fuga, Jesse vai até a casa de seus fiéis escudeiros, Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones), buscando abrigo. Só que o carro que Jesse levou - um El Camino - possui rastreador, o que já está na mira da polícia. Novamente em fuga, Jesse divide uma cena absolutamente calorosa com Pete, que abre mão de todo o dinheiro que possui para ajudar o amigo a fugir. Questionado o motivo de tamanha ajuda, ele responde: "Porque você é meu herói".

O plot principal de "El Camino" é a corrida de Jesse atrás de dinheiro para poder sumir do mapa. Sua ideia é ir até o apartamento de Todd (Jesse Plemons), o único da gangue de neonazistas (presumo que você saiba o contexto aqui) que demonstrava apreço (ou pena) por ele durante o cárcere forçado. Como revela um flashback, Todd guardava seu dinheiro no local, porém, como tudo em "Breaking Bad", a busca pelo dinheiro não será uma ida ao caixa eletrônico. De longe, a melhor cena do filme, toda a sequência, que se desdobra com plot-twists, lembra os auges passados da série, exemplos da genialidade de seu criador.

Todavia, é para assustar que está em "El Camino" o pior momento de todo o universo "Breaking Bad": a cena do duelo. Após muitas idas e vindas, Jesse ainda precisa de dinheiro e vai até a casa de um gangster pedir caridosamente a quantia necessária para sua fuga. O plano já começa não fazendo o menor sentido, no entanto, o roteiro vai ainda mais longe e se joga no limite da imbecilidade quando o líder da gangue desafia Jessie a um duelo - exatamente, um duelo de armas como nos filmes de faroeste. Quem atirasse primeiro, e matasse o oponente, ficava com o dinheiro. Pois é, isso saiu de "Breaking Bad".

Lógico que a sequência é ridícula - o fato de o líder não verificar que Jesse possui mais de uma arma, ou de CINCO pessoas não conseguirem matar Jesse, ou o protagonista sair sem um mísero arranhão, tudo é vergonhoso. É bem verdade que alguns deus ex machinas já passaram pelos 62 episódios, mas era sempre muito bem fundamentado e desenvolvido, servindo como desenrolar para outros acontecimentos importantes. Aqui, o duelo é só triste mesmo.


Se você, como qualquer fã do seriado, espera ver Walter White: sim, Bryan Cranston está de volta - claro, na forma de flashback (ele não ressurgiu dos mortos). Um dos mais icônicos personagens da história da televisão, é um júbilo ver a brilhante atuação de Cranston na tela depois de tantos anos, mas a cena é bem pequena e totalmente focada em Jesse. Difícil pedir mais de um personagem que já morreu além de cenas como a mostrada, contudo, fica lá no fundo a vontade de quero mais, de que não supriu a necessidade da volta de Walt.

Para ser bem sincero, essa impressão é generalizada: parece que "El Camino" não entrega tudo o que poderia - ou tudo o que a espera pedia. O filme é basicamente um episódio, o que é bom: toda a estrutura clássica de "Breaking Bad", desde a montagem até a fotografia, volta igualzinha; só que soa como um daqueles episódios de meados da temporada, que estão desenvolvendo situações que acarretarão no ápice. Não há nada de impressionante no filme, um clímax, um estouro que é clássico da série. Existem cenas de ação, de tensão, de emoção, mas nada à altura dos picos que entraram na história.

Em termos de produto derivado de "Breaking Bad", o seriado "Better Call Saul" dá conta de seguir o legado - até porque a inteligência é emulada na série que mostra como Saul Goodman (Bob Odenkirk) virou o advogado que conhecemos. Outro fato essencial é que vários personagens importantes de "Breaking Bad" ainda estão vivos em "Saul", que se passa anos antes do império de Walt ser construído. Não havia como ter toda essa fórmula em "El Camino".

"El Camino" é um epílogo, e se limita em exercer sua função de "capítulo final". Pouca coisa é acrescentada na linha temporal da história além do encerramento da jornada de Jesse Pinkman, que finalmente encontra um derradeiro final para a trama. Qualquer fã vai se sentir feliz com esse mimo pelos aspectos emocionais reascendidos pela nostalgia, porém, mesas não são viradas com os 122 minutos do filme. "El Camino" faz tudo o que há de bom em "Breaking Bad", mas não o que há de melhor.

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