Os 40 melhores filmes de 2018: Parte 1

Depois de tantas listas - esse ano eu estava inspirado -, finalmente revelo os meus filmes favoritos de 2018. Começando com uma das melhores temporadas do Oscar na década, até lançamentos comerciais e filmes cults de algum país europeu, neste ano decidi listar 40 nomes, cinco a mais que na lista do ano passado. Então o sistema será diferente.

Para não fazer um só post com 40 textos, algo grande demais, optei por dividir a lista em duas, então você está diante da primeira leva, do 40º ao 21º colocado. O critério de inclusão é o mesmo de todos os anos: filmes com estreias em solo brasileiro em 2018 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 40, meus parabéns, me adiciona no Filmow.

Sem mais delongas, eis os maiores filmes do ano - e todas as listas publicadas estão no fim da postagem.


40. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place)

Direção de: John Krasinski, EUA.
Num mundo onde aliens assassinos estão no topo da cadeia alimentar, os humanos forçadamente aprenderam a viver no silêncio, afinal, as criaturas se direcionam por meio da audição aguçadíssima que possuem. "Um Lugar Silencioso" é uma pérola a integrar o panteão dos bons nomes do terror moderno (e deixar a plateia respirando com o menor ruído possível), possuindo personalidade, autenticidade e várias cenas icônicas no tempo do terror fastfood. Sua composição não é original, de fato, mas sua realização encontra demasiado sucesso pela expertise das partes, desde a direção corretíssima de John Krasinski até a atmosfera, tão única ao termos um horror sem personagens berrando. Terror pipoca de primeira qualidade para agradar gregos e troianos e revelar o quão barulhento é viver.

39. Custódia (Jusqu'à la Garde)

Direção de: Xavier Legrand, França.
Você já viu essa história nos noticiários: um marido ataca a esposa em um surto de ciúmes, muitas vezes com desfechos fúnebres. "Custódia" engole com ousadia o suspense pela boca do drama familiar, se tornando uma obra necessária e socialmente afiada para o nosso tempo, arremessando violências sofridas por mulheres pelas mãos do patriarcado, do machismo e da misoginia. Mesmo se passando num país mais desenvolvido, impossível não ver a história pelas nossas janelas, nessa produção que serve de comprovação: em briga de marido e mulher, a gente mete a colher sim. Talvez vários finais trágicos pudessem ser evitados se colocássemos uma colher ou duas.

38. Foxtrot (idem)

Direção de: Samuel Maoz, Israel.
É curiosa a maneira como "Foxtrot" não tem tempo para rodeios: a primeira cena, assim quando as luzes se apagam, é o pontapé do enredo: Michael é informado pelo exército que seu filho morreu em serviço. Em estado de choque, o pai é rodeado por burocracias militares e fúnebres enquanto a esposa é dopada por não aguentar a situação. Tudo pode soar deprimente, mas o filme de Maoz é inteligente o suficiente para entregar um segundo ato irretocável em imagens e narrativa, transformando a fita em um filme cômico e espirituoso - sem esquecer de suas facadas sociais sobre as tensões israelenses. Todas as cenas no posto militar são perfeitas.

37. Pororoca (idem)

Direção de: Constantin Popescu, Romênia.
A vida de conto de fadas de um casal bem sucedido no amor e no trabalho é irreversivelmente destruída quando a filha desaparece sem deixar rastros numa manhã. Com foco óptico em Tudor, o pai, "Pororoca" é um doloroso filme sobre uma história tão infelizmente comum, o desaparecimento. Com ambiciosos longos planos-sequências, há muito zelo pelo momento derradeiro, e a câmera faz questão de deixar claro que a menina evapora, mesmo com o espectador seguindo seus passos. Daí para frente é ladeira abaixo, e a crueldade da situação leva o pai à loucura. Mesmo lento e com meia-hora a mais, "Pororoca" é Cinema de primeira.

36. Benzinho (idem)

Direção de: Gustavo Pizzi, Brasil.
O que seria o melhor selecionado para nos representar no Oscar 2019 de "Melhor Filme Estrangeiro", "Benzinho" encontra seu primeiro sucesso pelo apelo universal: Irene vê uma ruptura definitiva quando o filho mais velho é aprovado para uma bolsa internacional. Com pouco tempo para digerir a mudança, o filme dedica seus esforços para seguir a monta-russa da mãe buscando se desapegar do filho. Com um coração gigante, a produção não se deixa diminuir e passeia por tramas importantes no desenvolvimento psicológico da protagonista, uma mulher batalhadora e mãe de inúmeros filhos, cada um insubstituível. Todos sabemos, mas dói enfrentar a realidade de que a prole foi feita para o mundo, e "Benzinho" é uma carta aberta de dor e amor para o ato de ser mãe.

35. O Que as Pessoas Vão Dizer (Hva Vil Folk Si)

Direção de: Iram Haq, Noruega.
Após flagrar a filha com o namorado, um pai decide enviar a garota à Índia forçadamente. O motivo? Está no título. Há certas culturas que colocam as mulheres em realidades ainda mais aprisionadoras que a nossa, e "O Que as Pessoas Vão Dizer" explora uma delas. Com um pai que prefere renegar a filha para salvar a reputação da família - erguida em pilares absurdos e patriarcais -, a película estuda como a globalização afeta nossa noção de tradições - Nisha só quer viver plenamente sua juventude, porém é obrigada a se esconder por trás do véu. Com cenas para ferver o sangue (a viagem é para desejar a morte dos personagens), a protagonista é uma heroína por sustentar todo o abuso emocional em nome da liberdade - direito incondicional de sua existência.

34. A Bela e os Cães (Aala Kaf Ifrit)

Direção de: Kaouther Ben Hania, Tunísia.
O longa definitivo sobre estupro de 2018 é da Tunísia e baseado em um caso real do país. "A Bela e os Cães" é uma viagem grotesca sobre uma noite na vida de sua protagonista, estuprada por policiais ao sair de uma festa. Dividido em segmentos, todos em fenomenais planos-sequência, o poder nas imagens da obra de Kaouther Hania é intoxicante e leva o crime à situações extremas. Se você está no alto do seu privilégio masculino, "A Bela e os Cães" te convida a enfrentar o que as mulheres vivenciam diariamente: o medo do assédio, a maneira ignorante por parte das autoridades diante do crime e como a voz feminina é sempre posta em dúvida diante do machismo esmagador. Uma tortura cinematográfica que todos devemos vivenciar.

33. Domando o Destino (The Rider)

Direção de: Chloé Zhao, EUA.
O faroeste contemporâneo "Domando o Destino" (que título nacional pavoroso) da chinesa Chloé Zhao é uma das produções independentes mais refinadas da temporada. Usando atores não profissionais, alguns interpretando versões fictícias de si mesmos, a fita segue Brady, um pobre vaqueiro que é impedido de continuar nos rodeiros após um grave acidente que quase tirou sua vida. Apesar dos níveis vastos de crueza que o roteiro cavalga - desde a qualidade de vida dos animais usados em vaquejadas às vidas de peões acidentados -, a mensagem central é bem direta: o que fazer quando a atividade que você mais ama é agora um problema? Como seguir adiante após o roubo daquilo que produz a sua maior felicidade? Imagens belíssimas, atuações gigantes e uma direção digna de premiações são exemplos da expertise de "Domando o Destino".

32. Ferrugem (idem)

Direção de: Aly Muritiba, Brasil.
"Ferrugem" convida a plateia a ponderar sobre temas urgentes, como o cyberbullying e porn revenge, ações que conseguem tirar a vida de pessoas. Sem maquiagem e de maneira crua, a fita exclui a catarse para por nossos pés no chão, caminhando ao lado dos personagens com uma veia naturalista imprescindível a fim de assimilarmos o tamanho do problema: precisamos abolir a cultura do machismo, que coloca mulheres em posições de demérito por serem tão sexuais quanto qualquer homem. Outro exemplar do poder que o cinema nacional produz ao fazer com que o espectador coloque a mão na consciência, observando com uma lupa essa trama de difícil digestão. Nós somos igual ao metal: uma vez enferrujados, não dá para voltar atrás - e precisamos assumir as responsabilidades dessa degradação.

31. Animais Americanos (American Animals)

Direção de: Bart Layton, EUA.
Montado como um documentário, "Animais Americanos" caminha pela veracidade e o mockumentary quando expõe uma história verídica e traz o depoimento dos reais envolvidos - e mostra de maneira hilária o ponto de vista de cada um sobre um crime. Quatro amigos se unem para roubar o livro "Os Pássaros da América", uma relíquia valiosíssima. Armando um plano insano, os rapazes abraçam a "porraloucagem" e conseguem levar o livro, apenas o primeiro de seus problemas. Divertidíssimo, com uma montagem icônica e performances inspiradas, o longa é um filme de roubo feito para a atual geração, que demanda agilidade, estilo e, claro, uma boa história. Aqui tem tudo isso e muito mais.

30. Culpa (Den Skyldige)

Direção de: Gustav Möller, Dinamarca.
Filmes que se passam inteiramente em um só local não são novidade, então o estilo de "Culpa" não possui ineditismo - todo contado na sala de ligações da polícia -, todavia, a condução da fita é brilhante. Com a câmera fixa do começo ao fim no rosto de Asger, um plantonista no atendimento da linha de emergência, somos apresentados à história somente por meio do que ele fala e ouve. Ao atender uma mulher sendo sequestrada, a plateia gruda na cadeira para tentar resolver o complicado caso, que não dispensa curvas acidentadas e reviravoltas. Muito mais que mero suspense pronto para o Super Cine, "Culpa" tem camadas profundas de motivação, descascando os sentimentos de seu protagonista lentamente. Tão bom que o remake hollywoodiano já está em produção.

29. Um Homem Íntegro (Lerd)

Direção de: Mohammad Rasoulof, Irã.
Farto da política suja de sua cidade, Reza leva toda sua família para o campo, preferindo migrar léguas até a cidade do que conviver com o sistema. Só que a corrupção vai afetar sua vida de qualquer forma. "Um Homem Íntegro" traz um dos personagens mais perseverantes do Cinema quando Reza enfrenta tudo e todos para manter sua integridade, destinada ao fracasso. O roteiro não perdoa e vai afundando a família cada vez mais na lama, com a única corda de salvação sendo o sistema que ele tanto renega. Vale a pena lutar contra a "corporação" em nome do que é certo ou o melhor é não jogar um jogo que você sabe que vai perder? Há discussões valiosas dentro de "Um Homem Íntegro" e momentos de arrepiar - o ataque dos corvos é tesouro em audiovisual.

28. O Nome da Morte (idem)

Direção de: Henrique Goldman, Brasil.
"O Nome da Morte" dribla expectativas, indo além das barreiras da cinebiografia e do estudo psicológico de um matador de aluguel ao saber onde se encontram suas forças cinematográficas, sejam elas de narrativa ou condução. Um retrato surpreendente de uma faceta brasileira, dando tarefa de casa para a plateia ao chamá-la para discutir sobre os complexos dilemas, sem os binarismos da luta do bem contra o mal. Somos criaturas dúbias e complicadas demais para sermos resumidas assim, encapsuladas pela moral final do filme: as mentiras e hipocrisias que contamos a nós mesmos para justificarmos nossos atos e deitarmos nossas cabeças tranquilamente no travesseiro. 

27. Os Famintos (Les Affamés)

Direção de: Robin Aubert, Canadá.
Zumbis estão presentes na cultura pop há gerações, tendo seu ápice na modernidade com a série “The Walking Dead”. Seja com abordagens voltadas ao gore – como em “Madrugada dos Mortos” – ou à comédia – vide “Zumbilândia” –, nenhum vence “Os Famintos” na categoria que basicamente não é explorada em gêneros fantásticos: o realismo. Como seria o mundo se, de fato, zumbis tomassem conta? Esse é o pontapé da produção, que, apesar de inevitavelmente carregar traços de terror, é, acima de tudo, uma produção dramática. Narcotizante, tenso e climático, “Os Famintos” é conquista notável como trabalho de gênero – e aqui você pode, sem medo, falar “olha essa fotografia fa-bu-lo-sa!”.

26. O Confeiteiro (The Cakemaker)

Direção de: Ofir Raul Graizer, Israel.
Thomas, um confeiteiro alemão, tem um romance secreto com Oren. O sigilo não se deve à sua sexualidade, e sim porque Oren é casado com Anat. Quando o namorado morre ao voltar para Israel, Thomas decide ir até a casa do falecido a fim de descobrir o que aconteceu. Só que, ao conhecer Anat, ele não revela a verdade, e vai se tornando cada vez mais íntimo da viúva. "O Confeiteiro" não enche apenas os olhos - e faz o estômago roncar com a destreza de Thomas na cozinha -, compondo também uma história difícil quando duas pessoas tão diferentes estão unidas por uma pessoa já morta. Recheado de ternura, humanismo e chocolate, a produção consegue exalar tensões quando o segredo de Thomas vai se tornando cada vez mais insustentável.

25. As Boas Maneiras (idem)

Direção de Juliana Rojas & Marco Dutra, Brasil.
O cinema nacional infelizmente tende a cair na repetição, então "As Boas Maneiras" joga todos os arquétipos dos nossos clichês pela janela para dar lugar a uma trama incomum e com muito frescor ao juntar terror com fantasia. Essa fábula urbana é um trabalho de gênero notório que demonstra sem titubear o quanto possuímos criatividade para sairmos da mesmice, entregando mercadorias cinematográficas aquém de nenhum lugar. Mesmo indo longe demais para uma plateia mais comercial, "As Boas Maneiras" é um louvor em concepção e realização, com um gore pontual que mostra que o sangue é verde e amarelo nesse bizarro filme sobre uma mulher lésbica que tem a vida mudada por um bebê lobisomem.

24. Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird)

Direção de: Greta Gerwig, EUA.
Sendo a quinta mulher na história a ser indicada ao Oscar de “Melhor Direção”, Greta faz seu manifesto de amor à sua cidade e as dores e delícias de crescer. É inevitável a sensação de familiaridade com toda a trama, todavia, além de esperarmos histórias novas, o cinema é fonte de renovação constante das histórias já contadas. O que Gerwig faz é tão difícil quanto bolar algo inédito: transformar em interessante, genuíno e sincero um produto repetido, sem cair no artificialismo. "Lady Bird " pode não ser original, mas consegue ter força pela linda união das partes, numa obra aconchegante sobre seres humanos reais que estão constantemente à procura de si mesmos - árdua tarefa que todos nós enfrentamos.

23. No Coração da Escuridão (First Reformed)

Direção de: Paul Schrader, EUA.
O que começa parecendo uma obra que atira para todos os lados é justificada por uma sutileza avassaladora ao pôr na mesa temas complexos, extraídos por atuações potentes de Ethan Hawke e Amanda Seyfried. Engana-se quem acha que "No Coração da Escuridão" se trata de um filme religioso. A fé teísta é mero pontapé para catapultar a profundidade niilista e misantropa do roteiro de Schrader, em seu ápice criativo como cineasta. O filme mostra como somos criaturas que nos alimentamos, antes de mais nada, de razões, de motivos, de sentidos para levantarmos pela manhã e enfrentarmos o difícil ato que é viver, e estamos na eterna caça por algo ou alguém que nos garanta essas certezas.

22. Sangue Puro (Thoroughbreds)

Direção de: Cory Finley, EUA.
Duas distantes colegas de escola se reencontram anos depois. Uma é rica e vive sob a redoma da mulher perfeita – mesmo ainda sendo uma adolescente; a outra é uma sociopata, mas não no sentido de ser uma assassina, e sim de não possuir sentimentos. Ela não consegue sentir tristeza ou alegria, empatia ou saudade, e essa união vai acabar desencadeando as mais insanas situações. “Sangue Puro” tinha tudo para dar errado – a cara de filme teen que quer ser polêmico é a primeira impressão –, entretanto, de uma maneira muito absurda, é um sucesso sem precedentes. Com atuações geniais de Olivia Cooke e Anya Taylor-Joy, o longa é a fusão imprevisível de “Garotas Malvadas” com “Psicopata Americano”, e possui um dos roteiros mais anárquicos e hilários do ano. Estudo de personagens como poucos em 2018.

21. Eu, Tonya (I, Tonya)

Direção de: Craig Gillespie, EUA.
Cinebiografia de Tonya Harding, patinadora envolvida num dos maiores escândalos esportivos dos EUA. O grande acerto de “Eu, Tonya” é jamais se limitar a dar o básico, nadando em um mar de criatividade nos aspectos que possuam flexibilidade para fugir do óbvio e entregar um produto que se destaque. Com uma montagem alucinante, trilha sonora energética e sequências de patinação de tirar o fôlego – mesmo com o fraco CGI. “Eu, Tonya” nada mais é do que uma épica luta de braço entre Margot Robbie e Allison Janney (merecidíssima vencedora do Oscar pelo papel), nesse retrato irônico e violentamente emocionante sobre a criação de ídolos e como a verdade é um volátil porto-seguro que pode significar nada para você.


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Os 50 melhores singles internacionais de 2018


Estamos chegando ao fim da década de ‘10 e dá pra dizer que, em 2018, muito do que acompanhamos serão mudanças e acontecimentos que irão marcá-la de maneira significativa. Foi neste ano, por exemplo, que assistimos o rap retornar às paradas, num contraste gigante com o que acompanhamos entre 2010 e 2014, e comemoramos a tendência da globalização musical, que nos permitiu ouvir e dançar do inglês ao espanhol ao coreano. Sempre cabe mais um.

Retornos não aconteceram como esperávamos, as músicas e videoclipes ganharam cada vez mais significado e, em meio a tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, ficou cada vez mais difícil de se destacar ao longo dos últimos doze meses. Como disse Ciara, seria preciso subir de nível. E, com tanta oferta e urgência por conteúdo, ainda teve quem conseguisse fazer história.

Esses são os melhores singles do ano:

50. BTS, “FAKE LOVE”




Se você passou por 2018 sem escutar ao menos um hit do boygroup sul-coreano, você esteve no ano errado. - GT

49. Backstreet Boys, “Don't Go Breaking My Heart”




Nada diz mais sobre o que foi 2018 do que a volta completamente inesperada e aleatória do Backstreet Boys com uma música atual e boa pra caramba, que até rendeu ao grupo uma indicação ao Grammy. Que ano, meus amigos. Que ano! - NA


48. Post Malone, “Better Now”




Apesar de ser famoso como um dos expoentes brancos do rap americano, Post Malone nos convence mesmo é quando resolve cantar. E foi assim que ele manteve o hype pós-“rockstar” com o hit “Better Now”, que acerta tanto em seu arranjo trap-minimalista quanto na letra, que poderia facilmente ser alguma composição perdida da fase emo de rádio entre 2006 e 2008. - GT


47. Zedd, Maren Morris & Grey, “The Middle”




Todo mundo sabe a novela que foi a escolha da vocalista de "The Middle": passou na mão de várias ex-integrantes do Fifth Harmony e das maiores revelações do pop nesses últimos dois anos, mas acabou sendo na voz da cantora country (!) Maren Morris que a música tomou vida de verdade e se tornou esse hit. E a verdade é: bastam apenas alguns segundos para entendermos porque ela foi a escolhida. - NA

46. Zara Larsson, “Ruin My Life”




Pra que fingir e se iludir com alguém quando a gente pode simplesmente assumir que quer que a pessoa destrua nossa vida toda mesmo e é isso? Honestidade é tudo. - NA

45. Hayley Kiyoko, “Curious”




Hayley Kiyoko começou 2018 apelidando o ano de "20GAYTEEN". Ao ser perguntada sobre qual seria o apelido de 2019, ela respondeu que "20gayteen nunca acaba. É um estado de espírito". Se pararmos pra pensar que o hino dançante "Curious" representa apenas o início da carreira da garota, pode ter certeza: 20gayteen será eterno - NA

44. Camila Cabello, “Never Be The Same”




Viciou mais do que nicotina, heroína e morfina. De repente, estávamos dependentes e tudo o que precisávamos era de mais Camila Cabello! - NA

43. Shawn Mendes & Zedd, “Lost In Japan (Remix)”




Talvez um dos nomes masculinos mais simpáticos do pop desde Bieber, Shawn Mendes se esforça também para manter o posto no quesito qualidade e, neste ano, teve “Lost in Japan” como um desses acertos. Lançada numa versão remixada por Zedd, a faixa é precisa em seu papel de boa música pop e, carregada de synths, até nos lembra do clássico “Into You”, da Ariana Grande, o que sempre contará muitos pontos para todo artista. - GT

42. Calvin Harris & Dua Lipa, “One Kiss”




Pare pra pensar: quem, além da Dua Lipa, poderia ter feito dessa música algo tão memorável? Na nossa cabeça, só conseguimos pensar na Rihanna. Isso diz MUITO sobre o star quality da novata. - NA

41. Kim Petras, “Heart To Break”




Lembra quando a Paris Hilton tentou atacar de cantora? "Heart To Break" é tipo o que a gente esperaria dela se ela realmente tivesse talento pra isso. - NA

40. Charlie Puth, “Done For Me (feat. Kehlani)”




Tá certo que o primeiro disco do Charlie Puth não foi lá essas coisas, mas o garoto parece ter crescido a partir dessa experiência e está disposto a nos compensar com muita música pop redondinha. "Done For Me" é um ótimo começo. - NA

39. Marshmello & Anne-Marie, “FRIENDS”




Marshmello e Anne-Marie atenderam aos desejos dos saudosos pelas farofas do início dos anos 2010 quando ninguém ao menos tentou. - NA


38. Florence + The Machine, “Hunger”




Grandiosa por seus detalhes, “Hunger” abriu majestosamente bem os trabalhos de Florence + The Machine com o disco “High As Hope”, num arranjo simples e preciso, que se apoia na letra humana e confessional cantada pela artista que, de forma até mesmo irônica, hoje é uma figura praticamente canonizada por seus fãs. - GT

37. Tove Styrke, “Changed My Mind”




Em "Changed My Mind" você vai encontrar letra com duplo sentido, synths perfeitos que só a galera da Escandinávia sabe nos entregar, um refrão que não vai sair da sua cabeça tão cedo e até o uso perfeito de voz computadorizada na ponte da canção. O que você não vai encontrar é defeito. - NA

36. Diplo, “Worry No More (feat. Lil Yachty & Santigold)”



Pra quem sente falta do Major Lazer pré-“Lean On”, o som solo do Diplo com o EP “California” é uma boa pedida. Prova disso é a faixa “Worry No More”, parceria do produtor com a Santigold (que colaborou com o Major Lazer na essencial “Hold The Line”) e o rapper Lil Yachty, que soa como um necessário respiro em meio às suas tantas tentativas de hits desde que ascendeu ao mainstream. - GT

35. Superorganism, “Everybody Wants To Be Famous”




Um superorganismo composto por integrantes de diferentes partes do mundo acerta numa sonoridade que não soa exatamente como nada. “Everybody Wants to Be Famous” é um pop com pé no rock, ou rock com pé no pop, que parece uma mistura de Lorde (pensar em “Royals” e “The Love Club”) e MIA (“Paper Planes”) com os brasileiros da saudosa CSS (jogar no Google “Hits Me Like a Rock”), o que é surpreendentemente bom. - GT

34. Panic! At The Disco, “High Hopes”




É quase como se Brendon Urie pensasse nos adolescentes que choraram com Panic! At The Disco em 2006 e sentisse que tudo o que precisávamos era de uma mensagem otimista ao som de uma fanfarra com o próprio repetindo que devemos continuar pensando alto. Funcionou. - GT

33. Sigrid, “Sucker Punch”




Neste momento das nossas vidas nós estamos bem certos de que a Sigrid nunca não vai nos decepcionar. O que é bem reconfortante considerando que já tem muita decepção acontecendo por aí - na música e na vida mesmo. - NA

32. Ava Max, “Sweet But Psycho”




É cedo demais para depositarmos nossas esperanças de salvação do pop na Ava Max? Porque é exatamente isso que estamos fazendo depois de "Sweet But Psycho". - NA

31. benny blanco, Halsey & Khalid, “Eastside”




 Ela fica muito melhor se a gente ignorar que foi composta pelo Ed Sheeran. - GT

30. LSD (Labrinth, Sia & Diplo), “Genius”




Três artistas pop incríveis se unem para um som diferente de tudo o que já fizeram, mas que ainda entrega a mesma qualidade pop que seus nomes são reconhecidos por. Tudo isso enquanto vão na contramão das rádios e fazem a música pop como conhecíamos com todas as suas pontes e refrãos. Mas de uma forma nada óbvia. E, ainda assim, chiclete. Genial. - GT

29. Becky G & Natti Natasha, “Sin Pijama”




"Sin Pijama" é um reflexo direto das melhores transformações que a música sofreu nos anos 2010: a globalização dos streamings, que fez com que bons artistas que não encontravam espaço nos EUA pudessem fazer tanto sucesso quanto em outros mercados, como é o caso de Becky e Natti, abraçadas pela comunidade latina, e a união de grandes mulheres, que cada vez mais tem deixado de lado a competição, muitas vezes criada pela mídia, pra se juntar em músicas de sucesso. - NA

28. Lily Allen, “Trigger Bang (feat. Giggs)”




 Algumas pessoas olharão pra essa posição da lista pensando “eu nem sabia que a Lily Allen lançou algo neste ano”. Outras provavelmente estarão desapontadas por conta do primeiro grupo. Seja como for, “Trigger Bang” traz a cantora em sua melhor forma e ainda faz uma referência ao hit “22”. - GT

27. Empress Of, “I Don't Even Smoke Weed”




Não queremos viver em um mundo onde as pessoas ainda não conhecem e enaltecem um hino desses, com uma batida extremamente viciante, e essa cantora, responsável por co-compor e co-produzir todo esse álbum. 2019, faça sua parte! - NA

26. Bruno Mars, “Finesse (Remix) [feat. Cardi B]”




Bons remix são aqueles em que os artistas convidados estão lá não (apenas) para ajudar a música hitar, mas sim para imprimir sua identidade na canção, dando a ela uma nova vida. É exatamente isso que Cardi B faz em "Finesse". - NA

25. Christina Aguilera & Demi Lovato, “Fall In Line”




O meme "tiro, dedo no c* e gritaria" nunca foi tão real. - NA

24. Silk City & Dua Lipa, “Electricity”




Os últimos quinze segundos desta música provavelmente foram os últimos quinze segundos mais interessantes de uma música em 2018. Obrigado pelos mimos, Mark Ronson. - GT

23. Khalid & Normani, “Love Lies”




Tem algo de muito mágico em ouvir a Normani fora do Fifth Harmony pela primeira vez, mas não sozinha, e sim acompanhada de uma das maiores revelações dos últimos anos, o Khalid. É quase como se, por trás de camadas de batidas que vão do R&B ao trap, os artistas mandassem o recado de que a nova geração tá pronta pra fazer coisas inesperadamente incríveis. Pode confiar. Ps: a apresentação dos dois no Billboard Music Awards continua sendo uma das melhores performances de 2018. - NA

22. Years & Years, “Sanctify”




É sempre maravilhoso refletir sobre como essa música (e a grande maioria das faixas da discografia da banda) fala sobre homens "héteros" se relacionando com homens gays, tudo de uma forma sagrada e pura e em meio à uma batida completamente pop e viciante. Coisas que apenas o Years & Years é capaz de fazer. - NA


21. Troye Sivan, “My My My!”




Em 2018 muito foi dito sobre os artistas tomarem pra si suas narrativas e contaram suas próprias histórias com verdade. Isso fica visível quando observamos a quantidade de ícones LGBTs surgindo e fazendo o pop dançante que fez muitos gays baterem cabelo por anos, mas que sempre existiu na voz de cantoras heterossexuais. "My My My!" é um synthpop delicioso no qual Troye afirma seu lugar como um ícone para a nova geração, que agora pode se ver representada, com todo o seu amor, excesso e efervescência, em seus artistas favoritos. - NA

20. MØ & Diplo, “Sun In Our Eyes”




Deixando de lado a proposta repetitiva que vinha se metendo nas tentativas de emplacar outro hit com Diplo, MØ chega mais despretensiosa na ensolarada “Sun In Our Eyes”, que, apesar de mal ter chamado atenção numericamente falando, arriscamos dizer ser um dos maiores acertos do cabeça do Major Lazer desde “Sua Cara”. - GT

19. Charli XCX & Troye Sivan, “1999”




Com exceção do fato de que, em 1999, Charli XCX e Troye Sivan tinham, respectivamente, sete e quatro anos, e essa dificilmente foram as fases mais interessantes de suas vidas, toda a vibe nostálgica de “1999” é contagiante o suficiente pra que dancemos esquecendo nossos problemas e torcendo por uma realidade em que Britney é devidamente reconhecida por sua contribuição à cultura pop e o fascismo ainda socialmente visto como algo realmente inaceitável. - GT

18. Carly Rae Jepsen, “Party For One”




Depois de três marcos na cultura pop millenial: o hit “Call Me Maybe” e os criticamente aclamados “Emotion” e “Emotion: Side B”, Carly Rae Jepsen passou rápido pela música deste ano, mas sem fazer feio com “Party For One”, uma poética, dançante e necessária canção sobre independência, amor próprio e, sim, masturbação. - GT

17. Ariana Grande, “thank u, next”




Lançamento surpresa, como os rappers fazem, para não se conformar com a "agenda de uma pop star"? Icônico. Tomar de volta uma narrativa que é sua, mas estava sendo contada por aí das piores formas possíveis pela mídia, tal como Birtney e Taylor fizeram, mas com o twist de se mostrar grata pra c*ralho por tudo? Icônico. O refrão "thank u, next. I'm so fucking grateful for my ex"? I-CÔ-NI-CO. - NA

16. Azealia Banks, “Anna Wintour”




Entre seus muitos desabafos pelas redes sociais, Azealia Banks já contou que sempre gostou mais de cantar do que fazer rap, e que só se manteve no hip-hop porque foi onde conquistou algum espaço com maior facilidade. Pra infelicidade dos que não gostam do seu trabalho, entretanto, ambas são coisas que ela faz muito bem. E é isto o que torna “Anna Wintour” tão grande e interessante. Num mundo justo – e sem redes sociais, talvez – essa música seria tão famosa quanto qualquer outra coisa que Calvin Harris tenha levado às paradas desde 2012. - GT

15. Ciara, “Level Up”




No passo dos funkeiros cariocas e os acelerados 150BPM, Ciara chegou frenética demais para um ano em que a música ainda não sabia para onde ir. “Level Up”, numa tradução livre do seu nome, está muitos níveis acima do que as rádios –ou streamings, pra sermos mais atuais – andaram tocando e, mais uma vez, fez com que deixássemos passar outro passo de uma das maiores artistas da nossa geração. Um dia a justiça será feita, Ciara. Ah, será. - GT

14. BLACKPINK, “DDU-DU DDU-DU”




Foi-se o tempo que falar em k-pop fora da Coréia do Sul se resumia ao sucesso viral de PSY e a sua “Gangnam Style”. No ano em que um dos artistas pop mais rentáveis do mundo foi o boygroup BTS, as moças do BLACKPINK chegaram pelas beiradas com um dos hits mais empolgantes do pop por todo o globo. Quem ainda espera que o próximo grande ato da música pop venha dos EUA, provavelmente não ouviu que elas fizeram em canções como “DDU-DU DDU-DU”. - GT

13. Kali Uchis, “After The Storm (feat. Tyler, The Creator & Bootsy Collins)”




Em seu primeiro disco, Kali propõe uma reflexão dela com ela mesma, mas que muitas vezes parece uma reflexão entre a artista e a gente. "After The Storm" é o exemplo perfeito de seu poder de conversação: é impossível terminar o R&B suave com toque latino sobre os momentos de luta da cantora pelo seu lugar ao sol sem se sentir abraçado, motivado e compreendido por ela. Se você precisa de um herói, olhe nos espelho! - NA

12. Rosalía, “MALAMENTE”




 Quando falamos em revelações com potencial para transformar a cultura pop, dificilmente pensamos em artistas que não sejam americanos ou, no mínimo, cantem em inglês. A espanhola Rosalía, por sua vez, vai contra qualquer uma dessas previsões, emplacando, inclusive, um hit latino que vai na contramão do manjado reggaeton. Novo em todos os sentidos, muito bem produzido e nos instiga a seguir ouvindo-a pra saber o que mais tem a mostrar. - GT

11. Kendrick Lamar & SZA, “All The Stars”




Kendrick Lama e SZA juntos numa música que literalmente se chama "All The Stars" para a trilha-sonora de "Pantera Negra" é o tipo de coisa que não tem como dar errado. - NA

10. Kanye West, “Ghost Town”




O ano de Kanye West foi caótico, mas não podemos falar o mesmo sobre sua música. Em seu disco “ye”, West discorre sobre seus sentimentos, estado de espírito e saúde mental. E é na faixa “Ghost Town”, com participações de PARTYNEXTDOOR e da novata 070 Shake, que ele melhor canaliza toda a confusão que carrega na sua cabeça –e eventuais tweets –, resultando numa canção solitária e triste, ao mesmo tempo em que também se mostra aliviada e esperançosa quanto ao futuro. - GT

09. Lady Gaga & Bradley Cooper, “Shallow”




Lady Gaga precisou fazer um filme, ser indicada às principais premiações da música e do cinema,  ser aclamada por crítica e público, fazer o Bradley Cooper cantar junto com ela e co-compor e co-produzir uma trilha-sonora inteira para que as pessoas aprendessem a nunca, jamais subestimá-la. Ficou entendido? Porque o recado tá dado. - NA

08. Cardi B, Bad Bunny & J Balvin, “I Like It”




É incrível perceber que a Cardi fala sobre "gostar de provar que as pessoas estavam erradas" "de fazer aquilo que dizem que ela não é capaz" em uma faixa em que ela faz EXATAMENTE ISSO. Quem diria que uma stripper do Bronx tomaria a indústria como um furacão e, com muito orgulho de sua bagagem e raízes latinas, conquistaria um dos maiores sucessos de crítica e público em 2018? Ela disse e ela fez. - NA 

07. The Carters, “APESHIT”




A união de Beyoncé e Jay-Z em pleno 2018 e pós-"Lemonade" e "4:44" é ainda melhor do que tudo que imaginávamos. Bônus: OLHA. ESSE. FLOW. DA. BEYONCÉ! - NA

06. Childish Gambino, “This Is America”




A música mais importante do ano e uma das mais importantes da década, "This Is America" é mais do que uma faixa: é um acontecimento. Junto de seu clipe, a canção é daquelas que vai ressoar em nossas mentes por muito tempo, e que nós vamos lembrar, em 10, 20, 30 anos, como um dos maiores momentos que presenciamos na cultura pop.  - NA

05. Drake, “Nice For What”




Se algum artista poderia trazer Lauryn Hill de volta às paradas em pleno 2018, seu nome é Drake. “Nice For What”, apesar da antipatia pelos fãs de música pop que tanto viram cantoras ficarem para trás pelo sucesso do rapper, é uma sequência de acertos, do flow do rapper, que aqui está melhor do que nunca, à introdução a chamada “bounce music”, mais tarde revisitada pelo mesmo artista na também impecável “In My Feelings”. - GT

04. Jannele Monáe, “Make Me Feel”




Janelle Monáe cantando uma co-composição de Julia Michaels com uma batida feita pelo maravilhoso Prince. Se a gente te dissesse que uma música dessas seria lançada, você provavelmente não acreditaria. Se acreditasse, ficaria um pouco duvidoso, além de curioso. Mas não é que rolou e que é uma das melhores coisas do ano, sem sombra de dúvidas? - NA

03. Mark Ronson, “Nothing Breaks Like a Heart (feat. Miley Cyrus)”




Artista de verdade, Miley Cyrus pode ter tido alguns anos confusos desde que saiu se redescobrindo com discos como “Dead Petz” e “Younger Now”, mas nesta parceria com Mark Ronson, ela retorna sóbria e, aparentemente, muito ciente quanto ao solo que está pisando. Ronson, que tem um invejável histórico de parcerias com cantoras que vão da Amy Winehouse a Lady Gaga, não fica atrás e faz de “Nothing Breaks Like a Heart” um dos maiores e mais interessantes acontecimentos da música neste ano. - GT

02. Robyn, “Honey”




Quando Robyn retornou após quase dez anos desde o seu último disco– que segue também como um dos melhores discos pop dos últimos dez anos – cantando “querido, eu tenho o que você precisa. Venha pegar o seu mel”, 2018 até pareceu começar a fazer algum sentido. - GT

01. Ariana Grande, "No Tears Left To Cry"




O maior acontecimento pop do ano. - NA

***

E, sim, temos uma playlist:


Textos por Gui Tintel e Nathalia Accioly.

Lista: as 15 melhores cenas do cinema em 2018

Antes da lista definitiva com os 40 melhores filmes de 2018, tenho que selecionar os maiores momentos da Sétima Arte no ano. Aquelas cenas ou sequências inesquecíveis, impactantes, visualmente belíssimas e que tiraram o fôlego - então atento que vários dos nomes aqui estarão na lista final.


O critério de escolha das cenas não passa por um só ponto, e sim o conjunto de tudo que foi citado no primeiro parágrafo - os textos explicam melhor o motivo da escolha. É importante pontuar que: inevitavelmente, algumas escolhas possuem spoilers. Tentarei ao máximo deixar as revelações de fora com textos mais curtos, todavia, há cenas (principalmente as que estão no final do determinado filme) que não dá para fugir. Então haverá um símbolo de aviso (⚠️) antes dos textos com spoilers para não estragar sua experiência. Bom apetite.


15. A Esposa: a entrega do Nobel ⚠️

Glenn Close teve que decorar muitos diálogos para viver a esposa de um famoso escritor, porém, sua melhor cena é quando não há diálogo algum. No momento em que o marido recebe o Nobel de Literatura e ela finalmente atinge o limite de tolerância ao ver o homem levando o crédito que deveria ser dela, o poder do Cinema é atingido pela montanha-russa de expressões da atriz.

14. As Boas Maneiras: o final ⚠️

O filme mais original a surgir em solo brasileiro há sabe-se lá quanto tempo, "As Boas Maneiras" é um mix de gêneros que sai do suspense e cai na fábula, com gore, musical e romance no meio. O que poderia ser uma bagunça é demonstração da criatividade tupiniquim que orquestra um final fabuloso, quando homem e criatura decidem unir forças em prol da salvação. O close - aqui ilustrado - é fenomenal.

13. Pororoca: o final ⚠️

"Pororoca" é um seco e difícil longa sobre o desaparecimento de uma garota, e como o evento impacta irreversivelmente a vida de seus pais. Com foco no pai, o filme segue sua queda ao abismo da insanidade enquanto procura desesperadamente a filha. Sob uma ótica humanista extrema, vemos o homem escolhendo um culpado e liberando todo seu ódio de forma desenfreada, numa cena assustadora. Os créditos sobem, mas as imagens ainda ecoam.

12. Oitava Série: a fogueira

"Oitava Série" tem inúmeros momentos que comprovam como já nasceu um marco para o coming-of-age e as dificuldades de crescer em meio a tantas pressões sociais. Mas nada supera a doçura da cena da fogueira, quando Kayla pergunta ao pai se ela o envergonha, já que ela se considera uma falha enquanto habitante desse planeta. Há tanta ternura, vulnerabilidade e paixão cinematográfica que você sai aquecido como se estivesse ao redor daquela fogueira.

11. Bohemian Rhapsody: o Live Aid

Se "Bohemian Rhapsody" falha como cinebiografia, a fita acerta enquanto celebração da obra do Queen, e toda a precisa sequência do Live Aid é o resultado disso. E nem me refiro à sincronia por vezes bizarra entre os movimentos dos atores e o momento real, mas sim pelo júbilo sonoro imposto pela reencenação do live de hinos como "We Are The Champions" e a faixa-título. Impossível não se contagiar - mesmo com o claro CGI na plateia.

10. Roma: o abraço na praia ⚠️

Se você leu minha crítica de "Roma", sabe que eu não faço parte do grande time que amou o longa, no entanto, é inegável o quão bela é a cena da praia. Encapsulação de todas as tensões emocionais do roteiro, o momento em que a protagonista enfrenta o medo do mar para salvar os filhos da patroa - já que se recusa a deixar mais alguma criança morrer - é celebração audiovisual.

9. Um Homem Íntegro: o ataque dos corvos ⚠️

A epopeia de um trabalhador lutando contra o sistema corrupto que o engalfinha de "Um Homem Íntegro" sofre diversas reviravoltas para piorar a situação do nosso herói de carne e osso. O ataque dos corvos leva o ouro pela direção fora de série, que gera um terror digno de "Os Pássaros" de Hitchcock ao vermos aquela chuva de penas cimentando a morte do ganha-pão do protagonista.

8. Sem Amor: o filho atrás da porta

Talvez o título mais direto e correto do ano seja o de "Sem Amor", então assistir ao filme é uma experiência bastante indigesta. O momento que consegue resumir tudo o que o árido longa quer falar é quando os pais discutem sem saber que o filho está ouvindo a tudo atrás da porta - revelado com um jogo de câmera majestoso. Enquanto eles estão ocupados demais se odiando, sobra para o garoto, renegado e símbolo de uma relação em ruínas.

7. Custódia: a ligação ⚠️

"Custódia" tem traços parecidos com o pontapé de "Sem Amor", mas o filho aqui é muito amado pela mãe. O pai, em contrapartida, manipula o menino para arrancar informações sobre a vida da ex-mulher. Um daqueles personagens para odiarmos, tudo vai ao máximo quando ele tenta matar a família num surto de ciúmes, um conto de horror da vida real que é espelho perfeito do feminicídio ao redor do mundo.

A paixão de verão mais aclamada dos últimos tempos, todos os problemas de desenvolvimento de "Me Chame Pelo Seu Nome" são sanados quando Elio tem o diálogo mais literário do ano. Sem soar ensaiado, a lição de vida dada pelo pai, que foge da auto-ajuda, é um verdadeiro tapa na cara. "Arrancamos tanta coisa de nós mesmos para nos curarmos mais rapidamente das coisas que aos 30 anos já estamos falidos e temos menos a oferecer cada vez que começamos com uma pessoa nova". Precisa falar mais?

5. Hereditário: o jantar ⚠️

O terror do século possui diversas cenas que poderiam estar aqui - a do poste e o final, por exemplo -, mas escolhi o jantar por ser peça-chave da condução do enredo. Todos os conflitos enterrados explodem como um vulcão quando remorsos e rancores são vomitados ao redor da mesa, uma aula de atuação de Toni Collette, que merecia um Oscar. Mesmo não sendo a primeira sequência ao pensarmos em "Hereditário", é a mais afiada enquanto Cinema.

4. Nasce Uma Estrela: Ally canta "Shallow" pela primeira vez

"Shallow" foi originalmente idealizada para ser a música de encerramento de "Nasce Uma Estrela", entretanto, sabiamente foi movida para o começo do filme. Parte fundamental no relacionamento de Jack e Ally, é aqui que todo o impacto visual e sonoro desse musical delicioso atinge seu clímax. Desde a sequência em que a câmera gruda no rosto de Lady Gaga tomando coragem para ir ao palco pela primeira vez até os vocais imaculados da cantora, "Shallow" vai receber um Oscar em 2019 sem resquício de contestações.

Que "Projeto Flórida" é uma obra necessária, já sabemos - a esnobada no Oscar foi um crime. O curioso é como a duração mantém um estilo quase documental e joga tudo pela janela no final, quando Moonee decide fugir para não ir a um orfanato. Abrindo uma metáfora cinematográfica, entramos na fantasia da menininha e aonde ela deseja parar, um sonho na tela tão desolador e puro que sacode a plateia.

2. A Casa que Jack Construiu: o Inferno ⚠️

Vaiado e ovacionado em sua estreia, "A Casa que Jack Construiu" segue a lógico do cinema de Lars Von Trier: o choque pela reflexão. Realmente há cenas pavorosas de violência, todavia, a beleza plástica da produção está resumida no último momento, quando o protagonista vai para o Inferno. Reproduzindo o quadro "A Barca de Dante" de Eugène Delacroix, Trier nos leva ao submundo à la "Inferno de Dante" e entrega sequências visuais irretocáveis. 

De todos os deleites visuais de 2018 - felizmente foram vários -, o final de "A Forma da Água" é tudo o que a Sétima Arte poderia pedir. Com uma mistura de efeitos visuais e práticos, a sutileza do ápice da paixão entre uma mulher muda e um anfíbio consegue arrancar lágrimas - e o poema recitado durante é a catarse absoluta: "Incapaz de distinguir sua forma, eu te encontrei todo ao meu redor".

***

Viciado em listas? Confira os melhores do ano no Cinematofagia:


http://bit.ly/2QymIlj


Sessão nostalgia: JoJo regrava e finalmente disponibiliza seus dois primeiros discos no Spotify

JoJo marcou seu nome na indústria da música já muito nova, lá em 2004 quando, aos 13 anos, se tornou a pessoa mais jovem a conseguir uma música em #1 nos EUA com “Leave (Get Out)”. Depois de hits como esse e “Too Little To Late”, e dois álbuns, ela entrou em uma briga com a gravadora, com quem fechou um contrato de sete discos, e foi impedida de lançar novas canções.

Em 2015, JoJo conseguiu se libertar das amarras do selo, lançando no ano seguinte seu terceiro álbum, o ótimo “Mad Love.”. Mas ainda havia um pequeno problema: sua antiga gravadora continuava sem disponibilizar seus dois primeiros discos, “JoJo” e “The High Road”, no Spotify. 

Pensando nisso, o ícone que fez parte da infância e adolescência de muitos de nós resolveu fechar o ano com chave de ouro, e no seu aniversário quem ganhou o presente foi a gente. Ela regravou todas as faixas de ambos os materiais para liberá-las em todas as plataformas digitais!

A sessão nostalgia começa com o “JoJo”, que tá completinho, incluindo os hits “Leave” e “Baby It’s You”. Dá pra acreditar que com 13 anos a cantora já fazia hinários assim? 



Para o “The High Road”, JoJo conseguiu até o sample de “Africa”, do Toto, usado em “Anything”. E, claro, tem “Too Little Too Late”, aquela música que nos ensinou a lidar com uma decepção amorosa quando ninguém ao menos tentou.



Rainha caridosa, JoJo regravou e disponibilizou também os singles “Demonstrate” e “Disaster”, descartados por sua antiga gravadora:



Conte com a gente pra tudo, JoJo!

Sem defeitos! O clipe de Cardi B para "Money" já é o melhor de sua carreira

Cardi B chegou como um furacão na indústria musical: em menos de 2 anos a rapper conquistou inúmeros hits, incluindo três nº 1 nos Estados Unidos, lançou um disco aclamado pela crítica e pelo público e fecha o ano concorrendo em várias categorias do Grammy, entre elas Álbum do Ano. Nada mal, hein? 

Mas se estamos listando tudo que Cardi já conseguiu, faltava um vídeo tão bom quanto suas músicas, com figurinos interessantes, que fosse mais do que apenas um material visual para divulgar uma canção, mas que desse nova vida a faixa. E é exatamente isso que o clipe de "Money", lançado nessa sexta-feira (21), faz. 

A música fala sobre o maior ensinamento adquirido pela rapper em seus anos de stripper, o de que uma mulher não precisa de homem algum, mas sim de dinheiro e de sua independência. Por isso, o videoclipe da faixa é uma homenagem aos seus anos em boates, com muito pole dance, e uma celebração de onde Cardi chegou, sendo rica, poderosa, tendo as melhores roupas que o dinheiro pode comprar (rola até exposição de seus já icônicos figurinos nesse vídeo, gente!), e agora, sendo mãe da pequena Kulture.  



Por falar em Cardi, no ano que vem a artista finalmente vai lançar a versão física de seu disco de estreia, o "Invasion Of Privacy", e além das faixas que estão na versão digital, o CD terá também a adição de "Money" e uma inédita chamada "Press", cuja prévia foi postada por ela em seu Instagram.




Uma publicação compartilhada por CARDIVENOM (@iamcardib) em

Por lá, a americana falou que está bem feliz de ver toda essa repercussão do seu primeiro trabalho, mas também está com medo do que vem por aí, porque sabe que as expectativas estão altas. "Eu estou tãoooo pressionada e ansiosa porque sei que preciso arrasar no segundo (disco)", ela disse. A gente confia em você, Cardi!

Travis Scott topa cantar com Maroon 5 no Super Bowl e se torna o 100º problema de Jay-Z

A gente contou por aqui que o Maroon 5 estava custando a encontrar alguém que topasse cantar com eles no halftime do Super Bowl e, depois de ouvir o “não” de nomes como Nicki Minaj, Cardi B e Mary J. Blige, parece que eles encontraram quem topasse: o rapper por trás de um dos maiores discos do ano, Travis Scott.

Mas se os caras imaginaram estarem garantidos com este convidado, ele se engana. Isso porque, segundo a Variety, outro rapper de peso, Jay-Z, está disposto a fazer com que Travis desista da sua participação, insistindo pra que o dono de “ASTROWORLD” se una ao boicote em prol do jogador Colin Kaepernick, banido dos campos pela NFL após um protesto contra o racismo e brutalidade policial dos EUA.

Uma das últimas opções para o maior evento esportivo americano, o Maroon 5 só teve a oportunidade de cantar no Super Bowl depois que estrelas como Rihanna e P!nk recusaram o convite por conta do mesmo boicote.

Pela internet, uma petição com mais de 70 mil assinaturas pede pra que a banda reveja sua posição e cancele a participação no evento. Por motivos bem menores, a banda já boicotou outros eventos de grande porte, como é o caso de premiações tipo o MTV Video Music Awards, anualmente criticado pelo vocalista Adam Levine.

Crítica: eleito melhor filme do ano, “Roma” é pequeno e particular demais para tal título

Indicado a 10 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Atriz (Yalitza Aparicio)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Marina de Tavira)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Filme Estrangeiro
- Melhor Design de Produção
- Melhor Fotografia
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som
* Crítica editada após as indicações ao 91º Oscar

Atenção: a crítica contém spoilers.

Ah, a aclamação universal... A "comprovação incontestável" da qualidade de uma obra. Tanto um parâmetro como uma ilusão, o consenso sobre a qualidade de um filme diz tudo e nada ao mesmo tempo, afinal, o gosto da maioria nem sempre pode estar certo - nosso novo presidente está aí para comprovar. O que quero dizer com esse discurso? Nada além do óbvio: sua subjetividade está acima de qualquer consenso.

E se há algo com que já me acostumei na minha trajetória enquanto crítico de cinema é nadar contra a maré; vários dos eleitos "melhores filmes do ano" são, para mim, nada de mais: "Boyhood: Da Infância à Juventude" em 2014, "Mad Max: Estrada da Fúria" em 2015, "Dunkirk" em 2017 e "Roma", em 2018, são exemplos. Já virou uma piada interna entre alguns amigos, como se eu quisesse ser o "diferente", o que não é verdade. Eu queria bastante estar em concordância com tais aclamações, meu trabalho seria mais fácil.

Mas não, e o que você e eu podemos fazer, não é mesmo? Já antecipei o final do presente texto, mas, indo na ordem correta, essa é a história de "Roma": Cleo (Yalitza Aparicio), uma empregada doméstica, vive na casa da família de classe média em que trabalha. Durante um ano, vários acontecimentos com todos da casa vão mudar os rumos daquela família. "Roma" é um trabalho semi-biográfico sobre a infância de Alfonso Cuarón no México da década de 70, e, de longe, o filme mais pessoal do diretor, ganhador do Oscar por "Gravidade" (2013).


Foi curioso ver como a Netflix colocou as mãos no filme tão rapidamente - não é um longa que pareça ter a cara da plataforma. Enquanto leva a fita a um número enorme de pessoas, a distribuição é um dos principais fatores que pode tirar o Oscar de "Roma": a Netflix ainda não conseguiu quebrar a barreira da Academia, que não vê com bons olhos a Sétima Arte indo para a tela do computador. É uma faca de dois gumes: é melhor ter um careca dourado na estante ou ver seu filme indo parar no maior número possível de lugares (tendo em vista que um nome como "Roma" não possui apelo comercial para lutar contra blockbusters nas salas de cinema)?

Desde a estreia no Festival de Veneza, saindo vencedor do prêmio máximo, o Leão de Ouro, as honrarias do longa têm se amontoado por onde passa, sendo escolhido para representar o México no Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" - e já chegando como favorito da categoria. O primeiro aspecto de "Roma" a chamar a atenção é sua fotografia em preto e branco. Cuarón, que além de dirigir roteirizou, co-produziu, co-editou e fotografou a película, decide abrir mão das cores para gerar o aspecto de memória sobre o filme, uma homenagem à mulher que o criou.


Não dá para negar: a fotografia de "Roma" é estonteante. Filmando os ambientes de maneira aberta, os planos-sequências giratórios da obra são belíssimos, seguindo Cleo como se a protagonista possuísse um magnetismo irresistível para a câmera, que a persegue incansavelmente. Tímida e retraída, ela sofre um baque ao engravidar do primeiro namorado, que a abandona imediatamente em uma cena icônica: Cleo conta da gravidez dentro do cinema, e, quando o namorado pede para ir ao banheiro, a plateia já sabe que ele não voltará. A plateia do lado de lá, imersa no filme que passa, não vê a certeza crescente da mulher de que foi abandonada.

Cleo tem o apoio de Sofia (Marina de Tavira), a dona de casa, que marca as consultas para garantir a saúde do bebê. Só que a relação da empregada e a empregadora é mais complexa, com Sofia descontando a raiva do casamento fadado à ruína sobre Cleo, que aceita tudo de boca fechada. Quando estamos no seio doméstico, é impossível não lembrar do nacional "Que Horas Ela Volta?" (2015). Ambos possuem algumas tramas iguais: a simples doméstica que se sujeita aos desmandos da patroa e nutre um amor maternal pelos filhos que não são delas. Só que é latente a maneira que "Roma" não chega aonde "Que Horas Ela Volta?" chega.

"Roma" vai ao quartinho dos fundos das empregadas, que devem apagar as luzes cedo para não gastar energia, e mostra a mesa de jantar minúscula na cozinha, para que empregados e patrões não se sentem no mesmo ambiente. Tudo o que "Que Horas Ela Volta?" também faz. No entanto, as críticas à hierarquia são iguais à fotografia: giram, giram, giram e não saem do lugar. Ao fim da sessão, não fica claro o que a fita quer falar sobre a vida de Cleo, as mazelas da servidão e status sociais. Não há uma "moral" para todo o discurso, o que o torna vazio. Quando os créditos subiram, não conseguia definir o que a obra quis me transmitir, como se tivesse passado mais de 2h ouvindo nada.


É preocupante, consequente a tudo isso, perceber um ar de romantização sobre Cleo. A mulher é completamente adestrada, engolindo sapos de uma chefe que, convenhamos, não está realmente preocupada com a empregada quando sua maior dor de cabeça é o homem que nunca está em casa. O arco narrativo sobre Cleo, que termina exatamente no mesmo local que começou, é problemático: soa como se ela devesse amar aquela condição, e ela está sempre com um sorriso no rosto. Então, a protagonista é uma heroína por abraçar a pobreza a que foi predestinada? Por ser uma "guerreira" e aguentar?

Enquanto Cleo carrega o coração - e o interesse - de "Roma", a família para qual trabalha é notoriamente desinteressante. Quando o foco narrativo sai das mãos da empregada, o filme cai vertiginosamente - a trama do marido infiel é insossa e tem influência branda demais para tamanho desenvolvimento. Uma hora o marido desaparece, para reaparecer por menos de um minuto e sumir novamente. Não há uma coesão para diversos acontecimentos, soando soltos.

Se o começo e o fim são melhores desenvolvidos, o meio da obra é uma sucessão de momentos inúteis. Há um bloco de sequência em particular que é literalmente perda de tempo: quando a família e a Cleo viajam e acontece o incêndio. Enquadramentos à parte, se a viagem não tivesse acontecido o filme mudaria em nada, e é essa a impressão que "Roma" transmite: imagens grandiosas que escondem o quão pouco é entregue pelo roteiro.


Há duas cenas em que os níveis emocionais vão às alturas: o parto e o momento na praia, que gerou o pôster irretocável do filme. Sobre o parto, o filme assumidamente entrega o desfecho inúmeras cenas antes, com metáforas visuais que são prelúdios da morte do bebê de Cleo, como o terremoto no hospital, que causa a morte de um recém-nascido. Todavia, nem a previsibilidade retira a dor do momento, com Yalitza Aparicio entregando uma atuação humanamente poderosa, compatível com sua personagem, que enfrenta o medo do mar para salvar a vida das crianças. Ela podia perder mais nenhum de seus filhos, mesmo aqueles não saindo de dentro da sua barriga. O rótulo de "heroína" cabe aqui, mas só aqui - e é gritante a rápida mudança entre "Cleo salvou a minha vida" para "Cleo, me faz uma vitamina".

Com duas cenas possuindo destaque dentro de 135min de filme, percebemos que não há material o suficiente para tornar "Roma" um filme verdadeiramente bom. Enquanto divagava sobre o que não me fez amar o filme, lembrei de "Lady Bird" (2017), que, assim como "Roma", também é um filme feito a partir das memórias de sua diretora, Greta Gerwig. O que faz de "Lady Bird" um sucesso é sua universalidade: você não precisa estar na pele de seus personagens para ser arrebatado pelo carisma do filme, algo que não acontece com "Roma". Mesmo com universalidades pontuais, a obra de Cuarón sofre de um efeito decisivo: é muito particular.

Não dá para questionar o talento de Alfonso Cuarón enquanto diretor, e é uma grata surpresa ver o quão exímio cinematógrafo ele é, porém, "Roma" é mais embalagem do que conteúdo. Nem todo o coração de Cleo consegue compensar os personagens sem apelo e as situações desconexas, o que coloca em questionamento até onde o nome de Cuarón pesa para a recepção do filme. A falta de pretensão da obra gera uma simplicidade fatalista que coloca essa memória filmada num patamar aquém de sua celebração, já que é pequeno e particular demais para ser memorável.

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