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Os 40 melhores filmes de 2018: Parte 1

"Um Lugar Silencioso", "Benzinho", "Lady Bird" e muito mais na primeira parte dos maiores filmes do ano
Depois de tantas listas - esse ano eu estava inspirado -, finalmente revelo os meus filmes favoritos de 2018. Começando com uma das melhores temporadas do Oscar na década, até lançamentos comerciais e filmes cults de algum país europeu, neste ano decidi listar 40 nomes, cinco a mais que na lista do ano passado. Então o sistema será diferente.

Para não fazer um só post com 40 textos, algo grande demais, optei por dividir a lista em duas, então você está diante da primeira leva, do 40º ao 21º colocado. O critério de inclusão é o mesmo de todos os anos: filmes com estreias em solo brasileiro em 2018 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 40, meus parabéns, me adiciona no Filmow.

Sem mais delongas, eis os maiores filmes do ano - e todas as listas publicadas estão no fim da postagem.


40. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place)

Direção de: John Krasinski, EUA.
Num mundo onde aliens assassinos estão no topo da cadeia alimentar, os humanos forçadamente aprenderam a viver no silêncio, afinal, as criaturas se direcionam por meio da audição aguçadíssima que possuem. "Um Lugar Silencioso" é uma pérola a integrar o panteão dos bons nomes do terror moderno (e deixar a plateia respirando com o menor ruído possível), possuindo personalidade, autenticidade e várias cenas icônicas no tempo do terror fastfood. Sua composição não é original, de fato, mas sua realização encontra demasiado sucesso pela expertise das partes, desde a direção corretíssima de John Krasinski até a atmosfera, tão única ao termos um horror sem personagens berrando. Terror pipoca de primeira qualidade para agradar gregos e troianos e revelar o quão barulhento é viver.

39. Custódia (Jusqu'à la Garde)

Direção de: Xavier Legrand, França.
Você já viu essa história nos noticiários: um marido ataca a esposa em um surto de ciúmes, muitas vezes com desfechos fúnebres. "Custódia" engole com ousadia o suspense pela boca do drama familiar, se tornando uma obra necessária e socialmente afiada para o nosso tempo, arremessando violências sofridas por mulheres pelas mãos do patriarcado, do machismo e da misoginia. Mesmo se passando num país mais desenvolvido, impossível não ver a história pelas nossas janelas, nessa produção que serve de comprovação: em briga de marido e mulher, a gente mete a colher sim. Talvez vários finais trágicos pudessem ser evitados se colocássemos uma colher ou duas.

38. Foxtrot (idem)

Direção de: Samuel Maoz, Israel.
É curiosa a maneira como "Foxtrot" não tem tempo para rodeios: a primeira cena, assim quando as luzes se apagam, é o pontapé do enredo: Michael é informado pelo exército que seu filho morreu em serviço. Em estado de choque, o pai é rodeado por burocracias militares e fúnebres enquanto a esposa é dopada por não aguentar a situação. Tudo pode soar deprimente, mas o filme de Maoz é inteligente o suficiente para entregar um segundo ato irretocável em imagens e narrativa, transformando a fita em um filme cômico e espirituoso - sem esquecer de suas facadas sociais sobre as tensões israelenses. Todas as cenas no posto militar são perfeitas.

37. Pororoca (idem)

Direção de: Constantin Popescu, Romênia.
A vida de conto de fadas de um casal bem sucedido no amor e no trabalho é irreversivelmente destruída quando a filha desaparece sem deixar rastros numa manhã. Com foco óptico em Tudor, o pai, "Pororoca" é um doloroso filme sobre uma história tão infelizmente comum, o desaparecimento. Com ambiciosos longos planos-sequências, há muito zelo pelo momento derradeiro, e a câmera faz questão de deixar claro que a menina evapora, mesmo com o espectador seguindo seus passos. Daí para frente é ladeira abaixo, e a crueldade da situação leva o pai à loucura. Mesmo lento e com meia-hora a mais, "Pororoca" é Cinema de primeira.

36. Benzinho (idem)

Direção de: Gustavo Pizzi, Brasil.
O que seria o melhor selecionado para nos representar no Oscar 2019 de "Melhor Filme Estrangeiro", "Benzinho" encontra seu primeiro sucesso pelo apelo universal: Irene vê uma ruptura definitiva quando o filho mais velho é aprovado para uma bolsa internacional. Com pouco tempo para digerir a mudança, o filme dedica seus esforços para seguir a monta-russa da mãe buscando se desapegar do filho. Com um coração gigante, a produção não se deixa diminuir e passeia por tramas importantes no desenvolvimento psicológico da protagonista, uma mulher batalhadora e mãe de inúmeros filhos, cada um insubstituível. Todos sabemos, mas dói enfrentar a realidade de que a prole foi feita para o mundo, e "Benzinho" é uma carta aberta de dor e amor para o ato de ser mãe.

35. O Que as Pessoas Vão Dizer (Hva Vil Folk Si)

Direção de: Iram Haq, Noruega.
Após flagrar a filha com o namorado, um pai decide enviar a garota à Índia forçadamente. O motivo? Está no título. Há certas culturas que colocam as mulheres em realidades ainda mais aprisionadoras que a nossa, e "O Que as Pessoas Vão Dizer" explora uma delas. Com um pai que prefere renegar a filha para salvar a reputação da família - erguida em pilares absurdos e patriarcais -, a película estuda como a globalização afeta nossa noção de tradições - Nisha só quer viver plenamente sua juventude, porém é obrigada a se esconder por trás do véu. Com cenas para ferver o sangue (a viagem é para desejar a morte dos personagens), a protagonista é uma heroína por sustentar todo o abuso emocional em nome da liberdade - direito incondicional de sua existência.

34. A Bela e os Cães (Aala Kaf Ifrit)

Direção de: Kaouther Ben Hania, Tunísia.
O longa definitivo sobre estupro de 2018 é da Tunísia e baseado em um caso real do país. "A Bela e os Cães" é uma viagem grotesca sobre uma noite na vida de sua protagonista, estuprada por policiais ao sair de uma festa. Dividido em segmentos, todos em fenomenais planos-sequência, o poder nas imagens da obra de Kaouther Hania é intoxicante e leva o crime à situações extremas. Se você está no alto do seu privilégio masculino, "A Bela e os Cães" te convida a enfrentar o que as mulheres vivenciam diariamente: o medo do assédio, a maneira ignorante por parte das autoridades diante do crime e como a voz feminina é sempre posta em dúvida diante do machismo esmagador. Uma tortura cinematográfica que todos devemos vivenciar.

33. Domando o Destino (The Rider)

Direção de: Chloé Zhao, EUA.
O faroeste contemporâneo "Domando o Destino" (que título nacional pavoroso) da chinesa Chloé Zhao é uma das produções independentes mais refinadas da temporada. Usando atores não profissionais, alguns interpretando versões fictícias de si mesmos, a fita segue Brady, um pobre vaqueiro que é impedido de continuar nos rodeiros após um grave acidente que quase tirou sua vida. Apesar dos níveis vastos de crueza que o roteiro cavalga - desde a qualidade de vida dos animais usados em vaquejadas às vidas de peões acidentados -, a mensagem central é bem direta: o que fazer quando a atividade que você mais ama é agora um problema? Como seguir adiante após o roubo daquilo que produz a sua maior felicidade? Imagens belíssimas, atuações gigantes e uma direção digna de premiações são exemplos da expertise de "Domando o Destino".

32. Ferrugem (idem)

Direção de: Aly Muritiba, Brasil.
"Ferrugem" convida a plateia a ponderar sobre temas urgentes, como o cyberbullying e porn revenge, ações que conseguem tirar a vida de pessoas. Sem maquiagem e de maneira crua, a fita exclui a catarse para por nossos pés no chão, caminhando ao lado dos personagens com uma veia naturalista imprescindível a fim de assimilarmos o tamanho do problema: precisamos abolir a cultura do machismo, que coloca mulheres em posições de demérito por serem tão sexuais quanto qualquer homem. Outro exemplar do poder que o cinema nacional produz ao fazer com que o espectador coloque a mão na consciência, observando com uma lupa essa trama de difícil digestão. Nós somos igual ao metal: uma vez enferrujados, não dá para voltar atrás - e precisamos assumir as responsabilidades dessa degradação.

31. Animais Americanos (American Animals)

Direção de: Bart Layton, EUA.
Montado como um documentário, "Animais Americanos" caminha pela veracidade e o mockumentary quando expõe uma história verídica e traz o depoimento dos reais envolvidos - e mostra de maneira hilária o ponto de vista de cada um sobre um crime. Quatro amigos se unem para roubar o livro "Os Pássaros da América", uma relíquia valiosíssima. Armando um plano insano, os rapazes abraçam a "porraloucagem" e conseguem levar o livro, apenas o primeiro de seus problemas. Divertidíssimo, com uma montagem icônica e performances inspiradas, o longa é um filme de roubo feito para a atual geração, que demanda agilidade, estilo e, claro, uma boa história. Aqui tem tudo isso e muito mais.

30. Culpa (Den Skyldige)

Direção de: Gustav Möller, Dinamarca.
Filmes que se passam inteiramente em um só local não são novidade, então o estilo de "Culpa" não possui ineditismo - todo contado na sala de ligações da polícia -, todavia, a condução da fita é brilhante. Com a câmera fixa do começo ao fim no rosto de Asger, um plantonista no atendimento da linha de emergência, somos apresentados à história somente por meio do que ele fala e ouve. Ao atender uma mulher sendo sequestrada, a plateia gruda na cadeira para tentar resolver o complicado caso, que não dispensa curvas acidentadas e reviravoltas. Muito mais que mero suspense pronto para o Super Cine, "Culpa" tem camadas profundas de motivação, descascando os sentimentos de seu protagonista lentamente. Tão bom que o remake hollywoodiano já está em produção.

29. Um Homem Íntegro (Lerd)

Direção de: Mohammad Rasoulof, Irã.
Farto da política suja de sua cidade, Reza leva toda sua família para o campo, preferindo migrar léguas até a cidade do que conviver com o sistema. Só que a corrupção vai afetar sua vida de qualquer forma. "Um Homem Íntegro" traz um dos personagens mais perseverantes do Cinema quando Reza enfrenta tudo e todos para manter sua integridade, destinada ao fracasso. O roteiro não perdoa e vai afundando a família cada vez mais na lama, com a única corda de salvação sendo o sistema que ele tanto renega. Vale a pena lutar contra a "corporação" em nome do que é certo ou o melhor é não jogar um jogo que você sabe que vai perder? Há discussões valiosas dentro de "Um Homem Íntegro" e momentos de arrepiar - o ataque dos corvos é tesouro em audiovisual.

28. O Nome da Morte (idem)

Direção de: Henrique Goldman, Brasil.
"O Nome da Morte" dribla expectativas, indo além das barreiras da cinebiografia e do estudo psicológico de um matador de aluguel ao saber onde se encontram suas forças cinematográficas, sejam elas de narrativa ou condução. Um retrato surpreendente de uma faceta brasileira, dando tarefa de casa para a plateia ao chamá-la para discutir sobre os complexos dilemas, sem os binarismos da luta do bem contra o mal. Somos criaturas dúbias e complicadas demais para sermos resumidas assim, encapsuladas pela moral final do filme: as mentiras e hipocrisias que contamos a nós mesmos para justificarmos nossos atos e deitarmos nossas cabeças tranquilamente no travesseiro. 

27. Os Famintos (Les Affamés)

Direção de: Robin Aubert, Canadá.
Zumbis estão presentes na cultura pop há gerações, tendo seu ápice na modernidade com a série “The Walking Dead”. Seja com abordagens voltadas ao gore – como em “Madrugada dos Mortos” – ou à comédia – vide “Zumbilândia” –, nenhum vence “Os Famintos” na categoria que basicamente não é explorada em gêneros fantásticos: o realismo. Como seria o mundo se, de fato, zumbis tomassem conta? Esse é o pontapé da produção, que, apesar de inevitavelmente carregar traços de terror, é, acima de tudo, uma produção dramática. Narcotizante, tenso e climático, “Os Famintos” é conquista notável como trabalho de gênero – e aqui você pode, sem medo, falar “olha essa fotografia fa-bu-lo-sa!”.

26. O Confeiteiro (The Cakemaker)

Direção de: Ofir Raul Graizer, Israel.
Thomas, um confeiteiro alemão, tem um romance secreto com Oren. O sigilo não se deve à sua sexualidade, e sim porque Oren é casado com Anat. Quando o namorado morre ao voltar para Israel, Thomas decide ir até a casa do falecido a fim de descobrir o que aconteceu. Só que, ao conhecer Anat, ele não revela a verdade, e vai se tornando cada vez mais íntimo da viúva. "O Confeiteiro" não enche apenas os olhos - e faz o estômago roncar com a destreza de Thomas na cozinha -, compondo também uma história difícil quando duas pessoas tão diferentes estão unidas por uma pessoa já morta. Recheado de ternura, humanismo e chocolate, a produção consegue exalar tensões quando o segredo de Thomas vai se tornando cada vez mais insustentável.

25. As Boas Maneiras (idem)

Direção de Juliana Rojas & Marco Dutra, Brasil.
O cinema nacional infelizmente tende a cair na repetição, então "As Boas Maneiras" joga todos os arquétipos dos nossos clichês pela janela para dar lugar a uma trama incomum e com muito frescor ao juntar terror com fantasia. Essa fábula urbana é um trabalho de gênero notório que demonstra sem titubear o quanto possuímos criatividade para sairmos da mesmice, entregando mercadorias cinematográficas aquém de nenhum lugar. Mesmo indo longe demais para uma plateia mais comercial, "As Boas Maneiras" é um louvor em concepção e realização, com um gore pontual que mostra que o sangue é verde e amarelo nesse bizarro filme sobre uma mulher lésbica que tem a vida mudada por um bebê lobisomem.

24. Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird)

Direção de: Greta Gerwig, EUA.
Sendo a quinta mulher na história a ser indicada ao Oscar de “Melhor Direção”, Greta faz seu manifesto de amor à sua cidade e as dores e delícias de crescer. É inevitável a sensação de familiaridade com toda a trama, todavia, além de esperarmos histórias novas, o cinema é fonte de renovação constante das histórias já contadas. O que Gerwig faz é tão difícil quanto bolar algo inédito: transformar em interessante, genuíno e sincero um produto repetido, sem cair no artificialismo. "Lady Bird " pode não ser original, mas consegue ter força pela linda união das partes, numa obra aconchegante sobre seres humanos reais que estão constantemente à procura de si mesmos - árdua tarefa que todos nós enfrentamos.

23. No Coração da Escuridão (First Reformed)

Direção de: Paul Schrader, EUA.
O que começa parecendo uma obra que atira para todos os lados é justificada por uma sutileza avassaladora ao pôr na mesa temas complexos, extraídos por atuações potentes de Ethan Hawke e Amanda Seyfried. Engana-se quem acha que "No Coração da Escuridão" se trata de um filme religioso. A fé teísta é mero pontapé para catapultar a profundidade niilista e misantropa do roteiro de Schrader, em seu ápice criativo como cineasta. O filme mostra como somos criaturas que nos alimentamos, antes de mais nada, de razões, de motivos, de sentidos para levantarmos pela manhã e enfrentarmos o difícil ato que é viver, e estamos na eterna caça por algo ou alguém que nos garanta essas certezas.

22. Sangue Puro (Thoroughbreds)

Direção de: Cory Finley, EUA.
Duas distantes colegas de escola se reencontram anos depois. Uma é rica e vive sob a redoma da mulher perfeita – mesmo ainda sendo uma adolescente; a outra é uma sociopata, mas não no sentido de ser uma assassina, e sim de não possuir sentimentos. Ela não consegue sentir tristeza ou alegria, empatia ou saudade, e essa união vai acabar desencadeando as mais insanas situações. “Sangue Puro” tinha tudo para dar errado – a cara de filme teen que quer ser polêmico é a primeira impressão –, entretanto, de uma maneira muito absurda, é um sucesso sem precedentes. Com atuações geniais de Olivia Cooke e Anya Taylor-Joy, o longa é a fusão imprevisível de “Garotas Malvadas” com “Psicopata Americano”, e possui um dos roteiros mais anárquicos e hilários do ano. Estudo de personagens como poucos em 2018.

21. Eu, Tonya (I, Tonya)

Direção de: Craig Gillespie, EUA.
Cinebiografia de Tonya Harding, patinadora envolvida num dos maiores escândalos esportivos dos EUA. O grande acerto de “Eu, Tonya” é jamais se limitar a dar o básico, nadando em um mar de criatividade nos aspectos que possuam flexibilidade para fugir do óbvio e entregar um produto que se destaque. Com uma montagem alucinante, trilha sonora energética e sequências de patinação de tirar o fôlego – mesmo com o fraco CGI. “Eu, Tonya” nada mais é do que uma épica luta de braço entre Margot Robbie e Allison Janney (merecidíssima vencedora do Oscar pelo papel), nesse retrato irônico e violentamente emocionante sobre a criação de ídolos e como a verdade é um volátil porto-seguro que pode significar nada para você.


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