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Crítica: a glória de “Infiltrado na Klan” é não querer educar brancos, mas sim empoderar negros

Indicado a 06 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Ator Coadjuvante (Adam Driver)
- Melhor Roteiro Adaptado
- Melhor Montagem
- Melhor Trilha Sonora

Spike Lee é - e sempre foi, desde a década de 80 - um dos grandes nomes do cinema afro-americano. E, mesmo assim, é um diretor bastante subestimado. É certo que em sua filmografia há algumas escolhas duvidosas - se meter com o remake de "Oldboy" (2013) foi uma mácula -, porém, Lee merecia muito mais apreço do que recebe - ele é o diretor do icônico vídeo de Michael Jackson, "They Don't Care About Us", aquele mesmo filmado no Brasil.

Sua carreira é marcada com inúmeros expoentes negros - "Malcon X" (1992) e "Chi-Raq" (2015), por exemplo -, mas há dois grandes pilares que comprovam a expertise do diretor: "Faça a Coisa Certa" (1989) e seu novo filme, "Infiltrado na Klan" (BlacKkKlansman). Desde a estreia no Festival de Cannes 2018, "Infiltrado" era chamado de "o retorno à boa forma" de Lee, recebendo na premiação o Grand Prix, segunda maior honra do festival.

"Infiltrado" segue Ron Stallworth (interpretado por John David Washington), o primeiro policial negro do Colorado. Em plena ascensão da Ku Klux Klan nos anos 70, ele, juntamente com Flip Zimmerman (Adam Driver), arma um plano para se infiltrar na organização e desmantelá-la de dentro para fora. Apesar de uma cinebiografia, e de levantar assuntos pra lá de sérios, o tom usado por Lee na película é a de humor negro (sem trocadilhos): a cena em que Ron liga para a KKK e, imitando a "voz" de um homem branco, fala como odeia negros, é hilária.


Fica ainda mais absurdo quando sabemos que essa é uma história real: Ron é um policial de verdade e (quase) todos os acontecimentos são verídicos. O primeiro passo do protagonista, entrando na polícia mesmo sendo negro, já é uma vitória. É claro, todos os policiais o olham com desconfiança, um corpo estranho que destoa dentro do todo. Isso quando não é sumariamente rebaixado pelos colegas de trabalho, que tentam intimidá-lo pela hierarquia profissional.

As funções de Ron são irrisórias; ele cuida da papelada, ficando escondido no arquivo. Sua maior vontade é ir para as ruas, enfrentar os dilemas do cotidiano, função negada pelos superiores, até que surge uma oportunidade de ouro: ele infiltra-se na reunião de um ativista negro, a fim de ver se há perigos dentro do evento. Para os outros policiais, um policial negro era perfeito para o tal trabalho, mas mal esperavam eles que Ron acabaria não apenas vigiando, mas também acordando para a questão racial.

Naquele oceano de black-powers, os discursos evocam a valorização da beleza, história e dignidade da pessoa negra. Lee usa o filme como palco para reivindicações que burlam a cerca da ficção e atingem a plateia diretamente - ele está quase que quebrando a quarta-parede narrativamente, propulsionando emoções quando seus personagens gritam "Nós somos negros e nós somos lindos" atrás de um palanque escrito "PODER". Há descrições do fenótipo negro e construções preciosas, como os métodos que a supremacia branca usa para o negro odiar o próprio corpo.


E esses tapas na cara são em menos de 20 minutos da fita. Não posso falar em nome de ninguém além de mim mesmo, mas eu, enquanto pessoa branca, transbordei de uma sensação de realização enquanto ser humano logo nesse primeiro ato. Lee não palestra, não dá uma aula, contudo, gera desconstruções efetivas no plano social real. O sucesso é ainda maior quando não existe a sensação de que a narrativa é não interrompida para subir a bandeira da igualdade racial; tudo é diegeticamente fluido.

O encontro transforma as ambições de Ron, e ele tem a ideia de se infiltrar na KKK - maior ameaça existente aos negros. Tudo parece uma loucura descabida - a instituição demandava muita influência através de seus líderes, a polícia não queria mexer com algo tão grande e, óbvio, um policial negro batendo de frente seria preza fácil demais. Ron se esgueira através dos canais de informação da KKK e, quando percebe, está idealizadamente dentro. "Idealizadamente" porque seu nome foi aceito no clã, porém, seu corpo era uma história muito mais complexa.

A saída foi: Ron é a cabeça do falso "Ron", enquanto Flip, que é branco, é o corpo, aquele que vai ao encontro da KKK. De início o plano dá mais que certo, e Flip volta ao quartel recheado de informações sobre os propósitos da seita, porém, ele levanta desconfiança em alguns membros, principalmente de Felix (Jasper Pääkkönen). Flip é judeu, e Felix, não satisfeito em ser um psicopata racista, é antissemita. As relações vão se tornando cada vez mais instáveis - e sabemos que a bomba vai explodir em breve.


Os momentos mais interessantes de "Infiltrado na Klan" são aqueles em que estamos dentro da KKK. A áurea de supremacia é venenosa, e produz asco notar como aquelas pessoas se alimentam do ódio, da intolerância e da ignorância. Os encontros não se resumem a discussões sobre como deus fez o homem branco em sua perfeição, mas chegam a níveis em que os membros armam atentados para matar negros, tudo com um tom leve e jocoso. É de revoltar qualquer um.

Mas a sequência que me fez comprovar a excelência do longa foi quando Lee escancara a nocividade de "O Nascimento de Uma Nação" (1915). O épico de D. W. Griffith, um dos maiores diretores da história e revolucionário em termos de linguagem cinematográfica, tem mais de 3h puras de racismo. É inegável o talento de produção da película, que é sempre referenciada nesse quesito, mas Lee sabe que não há técnica irretocável que justifique o conteúdo deplorável. Os associados da KKK e suas esposas assistem ao filme como na Sessão da Tarde: pipoca, aplausos e gargalhadas, enquanto negros são postos em posição de lixo.

100 anos depois de "O Nascimento de Uma Nação", o Cinema pode já ter adquirido uma consciência de classe, mas a realidade do negro continua precária. Não por acaso, o trecho final de "Infiltrado na Klan" traz imagens reais de manifestações contra a população negra, e não há misericórdia para a plateia, que leva para casa cenas assustadoras de ódio e violência. Lee tem consciência da urgência de gritar seus discursos quando ainda temos movimentações racistas e genocídio negro - ele próprio, dentro de sua pele, não pode transitar em paz pela bandeira que levanta.

Se seu filme é afiado, é resposta da mesma espada que corta a pele negra diariamente, e o maior acerto de "Infiltrado na Klan" é não estar preocupado em educar brancos, mas sim lembrar que a luta é diária. Sua glória é ver que, apesar de estar dentro de uma zona de conforto enquanto temática, a fonte de Spike Lee parece inesgotável, e, além disso, cinematograficamente magistral com "Infiltrado na Klan".

Crítica: “Vice”, cópia ruim de “House of Cards”, e o espetáculo de homens brancos no poder

Indicado a 08 Oscars:
- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Ator (Christian Bale)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams)
- Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Montagem
- Melhor Cabelo & Maquiagem

Eu devo começar esse texto com uma confissão: só assisti a “Vice” graças à sua indicação ao Oscar de “Melhor Filme”. “Vice” é um molde cinematográfico que particularmente não me atrai: drama político norte-americano. Para a Academia, no entanto, a opinião é oposta: não pode ver um longa do tipo que já saem distribuindo indicações. Duvida? "The Post: A Guerra Secreta" em 2018, "Ponte dos Espiões" em 2016, "Lincoln" em 2013, e estou apontando apenas nessa década e apenas os que focam nos EUA - se abrir para outros países e colocar guerra no meio, a lista só aumenta.

“Vice” saiu com os bolsos cheios na 91ª edição: foram oito indicações, incluindo “Melhor Direção” e "Roteiro Original" para Adam McKay, “Ator” para Christian Bale e “Atriz Coadjuvante” para Amy Adams. Não foi uma surpresa, e você nem precisa assistir ao filme para entender os motivos do apreço da Academia.

A obra é mais uma cinebiografia indicada ao maior prêmio da indústria, e segue Dick Cheney (Bale), vice-presidente dos Estados Unidos. Ao lado de sua esposa, Lynne (Adams), vemos o desenrolar que levou o homem até a segunda maior cadeira do país. Oscar bait sim senhor.


Além do motivo citado anteriormente, minha falta de animação para a sessão foi devido ao próprio McKay, diretor que não gosto. “Vice” é uma repetição de estilo do filme anterior, “A Grande Jogada” (2015), que também se viu afogado em honrarias, vencendo um contestável Oscar de “Melhor Roteiro Adaptado”. Se não funcionou na primeira vez, não podia esperar um sucesso com o mesmo esquema.

“Vice” começa – e é conduzindo inteiramente – por narração, o problema número #1 da narrativa: ela fala o que está acontecendo ao invés de mostrar. Uma imagem vale mais que mil palavras, já dizem, e McKay tenta comprovar essa afirmação soltando mil palavras para compensar cada imagem. A narração, num saldo geral, serve para basicamente nada, já que nem sua função principal, dar ritmo ao longa, é realizada.

Com o empecilho de carregar um bilhão de diálogos, a montagem busca meios de contornar a verborragia, com cortes rápidos, metáforas visuais e letreiros gigantes. Mas a impressão de estarmos diante de um documentário acadêmico não consegue ser espantada. Essa é a deficiência clássica de cinebiografias do gênero: mais parecem aulas de História do que filmes.


Como comentei na crítica de “Bohemian Rhapsody”, quando o personagem central da cinebiografia não é tão conhecido, ela tende a atingir maior sucesso. Dick Cheney se enquadra aqui muito mais que Freddie Mercury, e “Vice” tem o cuidado de entrar na intimidade do protagonista e abordar lados que não estejam diretamente ligados à Casa Branca, afinal e inevitavelmente, a fita é uma abertura das portas do Olimpo político. Enquanto no mundo real comentamos como o filho da vizinha acabou de entrar na faculdade de Odontologia, lá, o comentário é como o filho do amigo já está concorrendo à presidência.

Não demora muito para notarmos que esses convites para estarmos nos corredores da casa de Cheney são ferramentas políticas de qualquer forma. Quando a trama de sua filha homossexual é introduzida, respirei de alívio; estava ali uma mina de ouro narrativa, todavia, a sexualidade da garota é moeda de troca dos jogos de influência do pai.

Isso soou familiar? “Vice” é uma emulação fracassada de “House of Cards”: seguimos o marido manipulando e se esgueirando entre o corpo político a fim de atingir o maior poder possível – até mesmo Lynne se assemelha com a representação de Claire Underwood. O personagem quebrando a quarta-parede e falando diretamente com o espectador? Sim, temos. O que separa as duas produções – em uma distância esmagadora – é que as ações e acontecimentos de Dick são chatíssimos.


Bale, indicado a mais um Oscar de “Melhor Ator”, está dentro do mesmo padrão do vencedor de 2018, Gary Oldman por “O Destino de Uma Nação”: performance sobre um político embaixo de quilos de maquiagem e enchimentos corporais. Seu trabalho é bem feito, entretanto, a persona de seu papel é monótona, apática e rasteira. Há muito mais interesse no papel de Amy Adams, mas nem mesmo ela é capaz de salvar o filme. Sam Rockwell, recém oscarizado pelo brilhante papel em “Três Anúncios Para um Crime” (2017), só entrou no bolo de indicados mais uma vez por dar vida a George Bush.

“Vice” é aquele filme majoritariamente masculino que tenta ser “cool” para os “parças”, com uma latente tentativa de humor – no meio do filme, os créditos finais começam a subir. Há diversas jogadas que se perdem em meio a tanto blá blá blá – quando aparece na tela que os protagonistas criam cachorros premiados, pensei que tudo estaria perdido; e a “culpa” é do roteiro e direção de McKay. Martin Scorsese usou o mesmo estilo com brilhantismo no divertido “O Lobo de Wall Street” (2013), que tem uma duração ainda maior que a de “Vice”. Há tantos acontecimentos, soterrados pela incessante narrativa, que acompanhar se torna uma tortura.

Nos inúmeros momentos em que meu cérebro se recusava a assimilar o que estava sendo dito, não conseguia imaginar alguém envolvido na produção se divertindo enquanto o filme era feito. E, se do lado de lá todo mundo parece aborrecido com a película, pedir algo diferente do lado de cá soa absurdo. Contudo, abrirei mão: a cena pós crédito, com um cara anti-Donald Trump caindo na porrada com um eleitor enquanto duas garotas falam calmamente o quanto estão empolgadas para o novo “Velores & Furiosos”, é genial.

“Vice” nem tenta ser algo além de uma exibição de homens brancos brincando com o poder e fortalecendo o status quo, que revolução. É assustador, ao término da fita, chegar à conclusão que basicamente nada pode ser retirado de um roteiro que não cala a boca um segundo. Se Hollywood acha essa perda de tempo uma história fundamental para ser contada na telona, alguns produtores teriam ataques cardíacos se soubessem a novela que é a política brasileira atual. Jamais pensei que diria isso, mas o filme sobre um vice-presidente que eu queria assistir seria o de Michel Temer. Poderia até usar o mesmo slogan de "Vice": "Alguns vices são mais perigosos do que outros".

Crítica: “Bohemian Rhapsody” é ótimo enquanto greatest hits (como filme, beira o desastre)

Indicado a 05 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Ator (Rami Malek)
- Melhor Montagem
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som

Cinebiografias são uma vertente da Sétima Arte predestinadas ao fracasso. É um trabalho hercúleo fugir do molde formulaico, que se resume em ascensão, queda e redenção, principalmente quando o personagem central é de largo conhecimento do público; quanto mais famoso, mais óbvia a cinebiografia. A batalha de "Bohemian Rhapsody" foi árdua.

Freddie Mercury é uma das figuras mais icônicas da cultura pop, e, juntamente com o Queen, mudaram a música para sempre. Envolto de muita mídia enquanto vivo, a vida de Freddie é, em grande parte, tão conhecida quanto os clássicos da banda. O que falar em um filme que não seja uma repetição?

O "Bohemian" que conhecemos é uma das inúmeras versões produzidas do longa, que desde 2010 passa de mão em mão. Se houve um filme que comeu o pão que o diabo passou, foi ele: vários atores e diretores foram entrando e saindo, na maior parte das vezes por "diferenças criativas". Nem mesmo o trato final ficou livre de caos por trás das câmeras, quando o diretor Bryan Singer foi demitido no meio das filmagens por simplesmente não aparecer (?) no set, além de constantes brigas com Rami Malek, o protagonista. Pelo menos o sucesso comercial de "Bohemian" foi estrondoso, com uma bilheteria passando os 800 milhões de dólares e recordes quebrados para todos os lados - o longa é a maior cinebiografia em termos de arrecadação na história, o que reflete o legado do Queen.

"Bohemian Rhapsody" é aberto pelos preparativos do Live Aid, a mais famosa apresentação da banda. A narrativa usa enquadramentos fechados para criar uma áurea de mistério, sem revelar a caracterização de Malek, enquanto joga "Somebody To Love" nas alturas, para colocar a plateia no mood. É rápido esse prelúdio, mas entrega tudo o que podemos esperar pela frente, para o bem e o mal.


A duração total da fita é de 135 minutos, um filme robusto. Por isso me assustou como o primeiro ato é uma correria desenfreada. Em meia hora, Farrokh Bulsara já é Freddie Mercury e o Queen já está em turnê nos Estados Unidos. Todo o desenvolvimento necessário para dar continuidade aos atos seguintes são deixados de lado, como se o principal da obra fosse jogar a persona de Mercury o mais rápido possível na tela.

As três primeiras cenas são pontuações narrativas fundamentais, que não recebem zelo. Farrokh é um descendente persa que não quer seguir os passos do pai, um homem rígido e nada compatível com a personalidade efervescente do protagonista. Ele rasga as expectativas, as regras e o próprio nome, na ânsia de possuir uma identidade que sirva para ele mesmo. Soa familiar? É a mesma história do filho rebelde que sofre com as amarras familiares e deve se libertar a fim de seguir seus sonhos.

Próxima sequência é Freddie no show da banda Smile em um pub britânico. O vocalista pede demissão e, adivinhem, lá está Freddie pronto para assumir o microfone. Claro, ele é rejeitado pela aparência, convencendo rapidamente Brian May (chega a chocar como Gwilym Lee está igual ao real Brian) e Roger Taylor (Ben Hardy) quando solta a voz. A introdução de Freddie abusa da casualidade para se transformar em algo que foi feito só para colocá-lo ali dentro. Não há cuidado, não há construção. Mal piscamos e já temos Mercury mudando o nome da banda para Queen, já com a logo desenhada. 


Há um oco gigante nas sequências que fincam personagens e acontecimentos. O filme começa com Mercury já sendo o Mercury que todos conhecemos: o roteiro de Anthony McCarten não possui a sensibilidade de crescer o protagonista; não sabemos quais as influências do cantor, seus gostos, sua história. Freddie Mercury em "Bohemian" nasceu exatamente no primeiro minuto do filme. Não consegui me surpreender com esse fato, já que McCarten é especialista em escrever cinebiografias básicas: é dele o roteiro de "O Destino de uma Nação" (2017) e "A Teoria de Tudo" (2014).

Em uma das entrevistas pós desistência, Baron Cohen afirmou que queria um filme proibido para menores de 18, com exibição da realidade de Freddie sem censura, enquanto a banda, consultora criativa da obra, queria um produto para a família. Essa escolha tem impacto fundamental para o desenrolar da película. "Bohemian" é concretamente um filme comercial e, pior, redutivo. A existência de Mercury é diminuída a fim de não chocar, e até mesmo seu lado homossexual é posto na tela com todo o cuidado para não "ofender" a plateia - premissa desrespeitosa por si só. 

O nível vai mais abaixo e diversos alívios cômicos são metralhados, geralmente ao redor do personagem de Ben Hardy, o "palhaço" da turma. Sem nunca receberem o foco com dignidade, os membros restantes do Queen são coadjuvantes de apoio para Rami Malek, em uma performance que entrega competência. Mas, particularmente, o ator não conseguiu me convencer por completo, sempre atrás de uma camada de artificialidade, assim como sua prótese dentária. É inegável que existem momentos em que ele está fisicamente a reencarnação de Mercury, todavia, não há uma demonstração de real estudo além do "vamos copiar cada movimento de Freddie".


A necessidade de facilitação da película também passa pela parte técnica. É involuntariamente cômico como os personagens são introduzidos na tela: com uma construção climática e enquadramentos misteriosos, os atores são exibidos como numa novela mexicana, desesperados em causar impacto. E "Bohemian" teve o azar de competir na temporada com outro longa musical: as sequências no palco de "Nasce Uma Estrela" são realizadas por um diretor, um fotógrafo e um editor que sabem extrair potência do que foi feito, coisa que "Bohemian" não chega perto.

Se diversos aspectos da fita beiram o desastre, não dá para fugir do prazer que são duas sequências, capazes de valer toda a sessão: o Live Aid e a gravação da música-título. O Live Aid foi, sem dúvidas, a cena-chave das filmagens, e o esforço valeu a pena; é o encerramento perfeito e arrepiante para a obra e basicamente coloca o público no meio do show. Contudo, tenho grande apreço pela gravação de "Bohemian Rhapsody", feita no ecrã de maneira inteligente: vamos recebendo pequenos fragmentos da canção antes do tiro final com a versão completa. A batalha da banda com a gravadora, que se recusa a lançar a faixa como single, é deliciosa.

Essa é a moral: a grandeza de "Bohemian Rhapsody" mora exatamente naquilo que ele não fez, as músicas, enquanto suas qualidades cinematográficas são escassas. O filme foi arquitetado pelas pessoas erradas: há mais incompetências do que expertises. Se tirarmos o nome de Freddie Mercury, a produção poderia ser sobre qualquer cantor na montanha-russa da fama, o que demonstra a abissal falta de personalidade da fita. Como celebração da obra do Queen, "Bohemian Rhapsody" atinge a plateia com precisão - correr no fim da sessão para ouvir um greatest hits é caminho sem volta. Como Cinema, no entanto, a história é outra.

E não dá para fugir da esmagadora impressão de que, caso estivesse vivo, Freddie odiaria esse higienizado filme, que passa longe do espírito transgressor que ele era dentro e, especialmente, fora dos palcos.

Crítica: ”O Guia” é um pobre manual sobre racismo para novos habitantes do planeta Terra

Indicado a 05 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Ator (Viggo Mortensen)
- Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Montagem

Saudações, novo habitante do terceiro planeta do Sistema Solar! É um prazer recebê-lo aqui. Não importa se você é um alienígena ou um terráqueo que acaba de vir ao mundo, sua presença é bem-vinda. Nosso planeta é um lugarzinho curioso de se viver, porém, há algumas noções que você precisa ter em mente para desenvolver uma habilidade social mais fácil.

Aqui existem cadeiras, e colheres, e caminhões, e lençóis, e cercas, e almofadas e, além de tudo isso, também existe o racismo. O que difere o racismo de todos os itens dispostos anteriormente? Ele é ruim e, apesar de você ter se instalado no nosso mundo com ele já existindo, é algo a ser repudiado. É verdade que alguém pode achar, assim como o racismo, que cercas são ruins por ter um amigo que prendeu um braço em uma, saindo machucado, mas isso é outra história.

Eu sei, é complicado entender, como vou criticar algo que já estava aqui quando surgi? Mas saiba, meu bom companheiro, independentemente da sua cor - aliens podem ser roxos? -, o racismo está impregnado e pode moldar como você é visto perante os outros. Bem louco, não? Contudo, não há motivo para desespero caso tudo isso pareça complicado demais. Existem manuais para que te faça compreender como identificar o racismo e quais mecanismos usar para driblá-lo.


Um deles é um filme recém lançado, "O Guia" (Green Book), que conta a real história de Tony Lip (Viggo Mortensen), um segurança italiano que aceita o emprego de motorista do Dr. Don Shirley (o oscarizado Mahershala Ali). A grande questão habita no fato de Don ser um musicista negro em meio aos EUA segregado, e precisa de segurança para viajar pelo sul do país, terrivelmente racista.

Pois bem, caríssimo novato terrestre, o longa tem uma mensagem muito simples: mostrar o quão ruim é o racismo. Você pode tranquilamente sentar e acompanhar as mais de 2h para ter um tutorial completo, com exemplos e discussões acerca do tema. Garanto que, após a exibição, você sairá com uma bagagem competente do tema. De nada.

Mas se você, assim como eu, já reside na Terra há mais tempo, sabe como as garras do racismo atuam. Curiosamente, mesmo com vários anos de carreira no nosso globo, eu não conhecia a história do "The Negro Motorist Green Book" (que dá o nome original da fita), um guia da década de 60 que instruía a população negra sobre quais os locais e cidades que sua presença era permitida, por mais assombroso que isso seja. Talvez seja um conhecimento corriqueiro para quem nasce nos EUA, porém, o filme faz um trabalho digno de reaver esse acontecimento e revelar o quão absurdo já fomos em termos de apartheid.


"O Guia" caminha sobre os dois pólos, Tony e Don. Entre eles, há uma inversão do arquétipo convencional: Tony é branco, mas pobre, sem estudo e vivendo de bicos, enquanto Don, negro, é culto, pianista, letrado e refinado. Quando o motorista entra no apartamento de Don pela primeira vez, o impacto entre as realidades é sem igual, resumidos pela disposição dos móveis - Tony senta numa cadeira enquanto Don senta, literalmente, num trono. A dinâmica entre o "inteligente" e o "boboca" pode ser aos avessos, contudo, é óbvia, só uma pequenina fatia da torta que é o filme como um todo.

Para nós, que contamos com vivências sobre a segregação racial, nada que a fita discorre é novidade. Mesmo se tratando de uma história real, "O Guia" tem nada para falar que nós não já saibamos - se você acabou de chegar à Terra, não me refiro a você. E o racismo, hein, nossa, que barra né, o que os negros têm que passar, acho muito errado isso aí, e acabou o filme.

Com um abuso de didatismo, a película joga váaaarias sequências para, repetidamente, martelar na cabeça de quem vê a frase que destaquei no parágrafo anterior. Os dois protagonistas passam por uma loja de ternos, entrando ao verem um modelo na vitrine. Don deseja provar um, mas é impedido pelo atendente, e por qual motivo? Pois é. Uma chatiação sem tamanho, claro.

Corta a cena. Don está no intervalo de uma apresentação e anseia usar o banheiro. O mordomo prontamente aponta o caminho para o recinto, um casebre de madeira do lado de fora, já que Don não é permitido no banheiro da casa. A pergunta que vale um milhão de reais: por que Don preferiu voltar ao hotel ao invés de usar o banheiro da criadagem? Tempo na tela.


Próxima sequência. É o último concerto da turnê, e toda a equipe janta no restaurante do local. Don é o último a chegar, e adivinhe o que acontece? Eu nem ao menos preciso continuar. Essa é a estrutura de "O Guia", uma sucessão de momentos constrangedores para Don graças ao montante de melanina em seu tecido epitelial.

E isso é algo ruim? Sim, é ruim, mas não pelo motivo mais elementar. Não é defeito um filme - ou qualquer trabalho - reforçar que o racismo é uma praga (pelo contrário), todavia, é ruim para um filme ser uma repetição de si mesmo. Com meia hora de duração já foi transmitida a mensagem inteira dos 130 minutos, com o resto se desdobrando para encontrar mais e mais momentos que gritam VEJA QUE HORROR É O RACISMO, GENTE!

Visando o Oscar, "O Guia" é mais um exemplar a discutir as diferenças sociorraciais e chegar na maior premiação do planeta, o que é sempre bom. Entretanto, é um dos nomes mais rasteiros a trazer essa discussão. Apontando somente longas a serem indicados ao prêmio de "Melhor Filme" nos últimos tempos com a mesma temática, vemos o quão pouca é a contribuição de "O Guia" ao lado deles: "12 Anos de Escravidão", "Estrelas Além do Tempo", "Um Limite Entre Nós", "Corra!", "Selma: Uma Luta Pela Igualdade" e, claro, "Moonlight: Sob a Luz do Luar". Comparar gera até pena.

O problema principal de "O Guia" é a falta de inventividade para pôr na mesa um tema que, querendo ou não, já foi discutido à exaustão e que AINDA precisa ser levantado. Toda a roupagem do filme o coloca num âmbito digno da Sessão da Tarde: importante debate, mas sem a menor ousadia, a fim de não cercear o apelo comercial - e a artimanha funciona, visto o número de honrarias que esse panfleto já conseguiu, como o Globo de Ouro, o National Board of Review e a Guilda de Produtores, o maior peso para o Oscar de "Melhor Filme". É necessário criatividade para sair da caixinha do ordinário e acrescentar, não apenas existir, e nem preciso ir longe para mostrar um exemplo.


"Infiltrado na Klan", que concorre ao lado de "O Guia", também transcorre sobre o racismo, porém, além da sagacidade incrível de Spike Lee, possui uma diferença crucial: está interessado em conversar com os negros ao invés de educar brancos, o oposto de "O Guia" - note o trajeto de Tony, que começa jogando fora os copos usados por negros em sua casa para defender Don. Que herói.

É inegável que existem momentos e diálogos acima da média no filme de Peter Farrelly - conhecido por dirigir, eeeerrrr, "Debi & Lóide" (sim), como "Inteligência não é o suficiente, é preciso coragem para mudar a cabeça das pessoas". Há uma rápida montagem com closes num presépio, mostrando o menino Jesus em toda sua branquitude e olhos azuis, a maior mentira da cultura ocidental. Além do diálogo após a delegacia, quando Don grita que não é aceito pelos brancos por ser negro, nem pelos negros por ter estudo, nem pelos homens por ser gay.

É um sutil tapa na cara do espectador que abre camadas daquela personalidade - mas ainda assim a produção não perde a oportunidade de dar um "climão" e colocar os personagens debaixo de chuva. Não dá para dar uma medalha nem mesmo às atuações: Viggo Mortensen e Mahershala Ali fazem um trabalho digno, mas nada fora de série. Ali, em principal, que parece caminhar ao segundo Oscar de "Ator Coadjuvante", parece deslocado e sob uma direção que em momento nenhum conseguiu retirar o que ele tem de melhor.

É cristalino que o racismo é um horror, todos sabemos - ou deveríamos saber -, e é esta pontuação que faz a existência de "O Guia" ser ainda necessária. A produção, contudo, não tira vantagem dessa necessidade para desenvolver um filme que discuta algo de uma forma além do que já foi posta no ecrã centenas de vezes. Assim como não era preciso reinventar a roda, não cabia aceitar tanta passividade diante do que é óbvio e rasteiro, deixando a fita no âmbito do lugar-comum, apesar de toda boa intenção. Caso você tenha o menor contato com outros seres humanos, esse manual sobre discrepâncias raciais que emula repetições acrescentará nada.

Crítica: lésbicas, bolos, coelhos e o nada discreto charme da burguesia em “A Favorita”

Indicado a 10 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Atriz (Olivia Colman)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone & Rachel Weisz)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Design de Produção
- Melhor Fotografia
- Melhor Montagem
- Melhor Figurino
* Crítica editada após as indicações ao 91º Oscar

Olá. Meu nome é Gustavo Hackaq. Se você não me conhece, deve, a partir de agora, saber um dos principais fatos acerca da minha pessoa: Yorgos Lanthimos é meu diretor favorito da atualidade. Em todas as críticas que já publiquei no Cinematofagia para filmes do cineasta - "O Lagosta" e "O Sacrifício do Cervo Sagrado" -, eu não perco a oportunidade de aclamá-lo. Mas com "A Favorita" (The Favourite), um medo permaneceu ao meu lado até começar a sessão.

O motivo é direto: essa foi a primeira obra lanthimaniana a não ter o roteiro feito pelo grego, e seus roteiros eram o principal atrativo de sua filmografia. Sua criatividade fora de série, que criou universos riquíssimos, foi o que o levou ao Oscar, que o fez acumular prêmios em Cannes e ser cada vez mais aclamado - "A Favorita" é o 12º filme mais ovacionado de 2018 no Metacritic e a maior nota da carreira do diretor.

"A Favorita" foca nos bastidores políticos da Inglaterra do séc. XVIII, quando duas primas - Sarah (Rachel Weisz) e Abigail (Emma Stone) - lutam entre si pelo favoritismo da Rainha Anne (Olivia Colman). Baseado na disputa real, o roteiro não está preocupado com apuração histórica e solta os cachorros na briga familiar. Esse aspecto é um ponto correto dentro da trama, que passa longe de uma aula de história - você não precisa saber o que está acontecendo politicamente no período além de que a Grã-Bretanha está em guerra com a França.


O enredo é aberto com Sarah sendo o braço-direito de Anne enquanto tesoureira da corte - é ela que mantém maior proximidade com a Rainha. O lugar privilegiado permite que ela tenha controle direto nos rumos políticos do país, já que Anne possui uma saúde muito debilitada e não consegue manter o foco nas estratégias de guerra. Há verdadeira cumplicidade entre as duas, e o sistema funciona mesmo com a personalidade explosiva da Rainha.

Depois do roteiro, a característica mais marcante de Lanthimos é sua direção de atores. Ele cunhou um estilo que joga fora a naturalidade, engessando seus atores em moldes estranhos e até propositalmente artificiais - o ápice desse estilo habita em "Cervo Sagrado". "A Favorita" é o que foge mais da estranheza, todavia, é uma explosão com suas atrizes, principalmente com Olivia Colman.

Colman é uma das melhores atrizes da atualidade, no entanto, ainda não possui o reconhecimento que merece - ela tem um papel bem pequeno em "O Lagosta" e rouba todas as cenas em que põe o pé. Por "A Favorita", venceu o prêmio de "Melhor Atriz" no Festival de Veneza 2018, o abre-alas de uma campanha gigante, à altura de sua performance. Rainha Anne é hilariamente instável, gritando por coisas irrisórias e se afogando em todo o seu poder. É curioso como ela lembra bastante a Rainha Vermelha de "Alice no País das Maravilhas" (2010), já que ambas berram ordem sem propósito por mero prazer.


Porém, Anne não é uma caricatura ambulante. O roteiro a constrói de forma cuidadosa, costurando suas nuances de personalidade: ela perdeu 17 filhos (o número é real), e, para cada um deles, há um coelho como "substituto". A excentricidade não é perfumaria; Anne é infantil e imatura, alguém que foi colocada num trono e que não entende o que realmente representa. É como se Sarah fosse a adulta que impõe ordem, enquanto Anne é a criança que destrói tudo. Ela brinca com o país e a guerra da mesma maneira que uma menina joga bonecas de um lado ao outro.

Abigail chega na corte com a cara na lama, vindo após perder tudo pela irresponsabilidade do pai. Antes uma lady, agora vira empregada no palácio, até ajudar a sanar as dores na perna da Rainha, amarrando sua atenção. Devido à fraqueza física da regente, Abigail vê ali uma oportunidade única de deixar de ser plebe para voltar à burguesia.

Com diversas manipulações, ela vai se metendo dentro do quarto da Rainha, até que descobre que ela e Sarah têm um romance secreto, escândalo que poderia arruinar o reino. A oportunidade faz o bandido, e Abigail não pensa duas vezes antes de agarrá-la. No entanto, não se engane: o binarismo de mocinhos e vilões não existe tão gritantemente em "A Favorita"; apesar dos jogos de Abigail, ela foi empurrada até o fundo do poço pelas mãos do pai. Há motivações sólidas para sua ambição, mesmo que os caminhos escolhidos sejam moralmente duvidosos.


Sarah rapidamente percebe que a chegada de Abigail é uma cilada. Ela realmente ama e se importa com Anne, e ver sua amada escorrendo pelas suas mãos devido à manipulação da prima é um alerta de que ela precisa se livrar da rival e "fura-olho". O que começa como uma guerra-fria, com cada uma lentamente expondo seu descontentamento com a outra, passa para o âmbito físico, com agressão e tentativa de assassinato. Anne nem ao menos percebe o que está de fato acontecendo, e adora ver as duas se digladiando por sua atenção.

É claro que é aqui que reside o âmago de "A Favorita": tudo é solidificado para a batalha das primas - e não dá para esconder o quão bizarramente engraçada é essa briga, principalmente com a estética sarcástica de Yorgos e diálogos anacrônicos do roteiro. Mas é importante pontuar como a situação é exemplo perfeito das loucuras do período monárquico.

Com a concentração de poder em duas mãos, as insanidades correm soltas, com Anne servindo como símbolo absoluto de uma época. Até mesmo sua saúde é simbólica, uma rainha doente que reflete um sistema enfermo e cunhado sob interesses particulares. O contraste entre o quarto de Anne e o quarto dos empregados é dantesco, a ponta do icebergue de uma elite ocupada demais com o próprio bolso.


A fotografia abocanha os luxos do palácio sem vergonha, com takes irretocáveis do design de produção e figurinos estonteantes da película, um sucessor natural de "Barry Lyndon" (1975) e novo integrante de clássicos da Sétima Arte a passearem pela época - como "Amadeus" (1984) e "A Morte de Luís XIV" (2016). Com a câmera fincada sobre um eixo fixo, ela gira com rapidez a fim de exprimir visualmente a narrativa recheada de ironia e sagacidade.

Não só dentro do filme, Weisz e Stone estão numa quebra de braço nas premiações quando as duas estão estupendas na tela. Vencedoras do Oscar, ambas não se deixam serem tragadas por Anne e seus gritos, segurando as pontas e comandando atenções. Não se trata de uma rivalidade feminina gratuita pelo zelo do texto ao montar suas personas e status sociais - e Stone merece atenção não só por ser o foco óptico principal da narrativa, mas também por ter conseguido fazer um sotaque britânico autêntico.

"A Favorita" é, em primeiro lugar, um filme sobre mulheres difíceis em uma época difícil e em posições difíceis. A obra encanta na riqueza de detalhes narrativos e visuais, e quando suas protagonistas - três monstros na tela - não dão a mínima para a guerra do lado de fora de seu palácio, mais preocupadas com a batalha que acontece ali dentro - o destino da nação pouco importa quando é seu status que está em jogo. Mesmo não tendo o roteiro assinado por Yorgos Lanthimos, o longa é mais uma prova da genialidade do cineasta enquanto contador de histórias. "A Favorita" é uma luta real pelo favoritismo de uma insana rainha que escancara o nada discreto charme da burguesia.

Crítica: eleito melhor filme do ano, “Roma” é pequeno e particular demais para tal título

Indicado a 10 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Atriz (Yalitza Aparicio)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Marina de Tavira)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Filme Estrangeiro
- Melhor Design de Produção
- Melhor Fotografia
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som
* Crítica editada após as indicações ao 91º Oscar

Atenção: a crítica contém spoilers.

Ah, a aclamação universal... A "comprovação incontestável" da qualidade de uma obra. Tanto um parâmetro como uma ilusão, o consenso sobre a qualidade de um filme diz tudo e nada ao mesmo tempo, afinal, o gosto da maioria nem sempre pode estar certo - nosso novo presidente está aí para comprovar. O que quero dizer com esse discurso? Nada além do óbvio: sua subjetividade está acima de qualquer consenso.

E se há algo com que já me acostumei na minha trajetória enquanto crítico de cinema é nadar contra a maré; vários dos eleitos "melhores filmes do ano" são, para mim, nada de mais: "Boyhood: Da Infância à Juventude" em 2014, "Mad Max: Estrada da Fúria" em 2015, "Dunkirk" em 2017 e "Roma", em 2018, são exemplos. Já virou uma piada interna entre alguns amigos, como se eu quisesse ser o "diferente", o que não é verdade. Eu queria bastante estar em concordância com tais aclamações, meu trabalho seria mais fácil.

Mas não, e o que você e eu podemos fazer, não é mesmo? Já antecipei o final do presente texto, mas, indo na ordem correta, essa é a história de "Roma": Cleo (Yalitza Aparicio), uma empregada doméstica, vive na casa da família de classe média em que trabalha. Durante um ano, vários acontecimentos com todos da casa vão mudar os rumos daquela família. "Roma" é um trabalho semi-biográfico sobre a infância de Alfonso Cuarón no México da década de 70, e, de longe, o filme mais pessoal do diretor, ganhador do Oscar por "Gravidade" (2013).


Foi curioso ver como a Netflix colocou as mãos no filme tão rapidamente - não é um longa que pareça ter a cara da plataforma. Enquanto leva a fita a um número enorme de pessoas, a distribuição é um dos principais fatores que pode tirar o Oscar de "Roma": a Netflix ainda não conseguiu quebrar a barreira da Academia, que não vê com bons olhos a Sétima Arte indo para a tela do computador. É uma faca de dois gumes: é melhor ter um careca dourado na estante ou ver seu filme indo parar no maior número possível de lugares (tendo em vista que um nome como "Roma" não possui apelo comercial para lutar contra blockbusters nas salas de cinema)?

Desde a estreia no Festival de Veneza, saindo vencedor do prêmio máximo, o Leão de Ouro, as honrarias do longa têm se amontoado por onde passa, sendo escolhido para representar o México no Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" - e já chegando como favorito da categoria. O primeiro aspecto de "Roma" a chamar a atenção é sua fotografia em preto e branco. Cuarón, que além de dirigir roteirizou, co-produziu, co-editou e fotografou a película, decide abrir mão das cores para gerar o aspecto de memória sobre o filme, uma homenagem à mulher que o criou.


Não dá para negar: a fotografia de "Roma" é estonteante. Filmando os ambientes de maneira aberta, os planos-sequências giratórios da obra são belíssimos, seguindo Cleo como se a protagonista possuísse um magnetismo irresistível para a câmera, que a persegue incansavelmente. Tímida e retraída, ela sofre um baque ao engravidar do primeiro namorado, que a abandona imediatamente em uma cena icônica: Cleo conta da gravidez dentro do cinema, e, quando o namorado pede para ir ao banheiro, a plateia já sabe que ele não voltará. A plateia do lado de lá, imersa no filme que passa, não vê a certeza crescente da mulher de que foi abandonada.

Cleo tem o apoio de Sofia (Marina de Tavira), a dona de casa, que marca as consultas para garantir a saúde do bebê. Só que a relação da empregada e a empregadora é mais complexa, com Sofia descontando a raiva do casamento fadado à ruína sobre Cleo, que aceita tudo de boca fechada. Quando estamos no seio doméstico, é impossível não lembrar do nacional "Que Horas Ela Volta?" (2015). Ambos possuem algumas tramas iguais: a simples doméstica que se sujeita aos desmandos da patroa e nutre um amor maternal pelos filhos que não são delas. Só que é latente a maneira que "Roma" não chega aonde "Que Horas Ela Volta?" chega.

"Roma" vai ao quartinho dos fundos das empregadas, que devem apagar as luzes cedo para não gastar energia, e mostra a mesa de jantar minúscula na cozinha, para que empregados e patrões não se sentem no mesmo ambiente. Tudo o que "Que Horas Ela Volta?" também faz. No entanto, as críticas à hierarquia são iguais à fotografia: giram, giram, giram e não saem do lugar. Ao fim da sessão, não fica claro o que a fita quer falar sobre a vida de Cleo, as mazelas da servidão e status sociais. Não há uma "moral" para todo o discurso, o que o torna vazio. Quando os créditos subiram, não conseguia definir o que a obra quis me transmitir, como se tivesse passado mais de 2h ouvindo nada.


É preocupante, consequente a tudo isso, perceber um ar de romantização sobre Cleo. A mulher é completamente adestrada, engolindo sapos de uma chefe que, convenhamos, não está realmente preocupada com a empregada quando sua maior dor de cabeça é o homem que nunca está em casa. O arco narrativo sobre Cleo, que termina exatamente no mesmo local que começou, é problemático: soa como se ela devesse amar aquela condição, e ela está sempre com um sorriso no rosto. Então, a protagonista é uma heroína por abraçar a pobreza a que foi predestinada? Por ser uma "guerreira" e aguentar?

Enquanto Cleo carrega o coração - e o interesse - de "Roma", a família para qual trabalha é notoriamente desinteressante. Quando o foco narrativo sai das mãos da empregada, o filme cai vertiginosamente - a trama do marido infiel é insossa e tem influência branda demais para tamanho desenvolvimento. Uma hora o marido desaparece, para reaparecer por menos de um minuto e sumir novamente. Não há uma coesão para diversos acontecimentos, soando soltos.

Se o começo e o fim são melhores desenvolvidos, o meio da obra é uma sucessão de momentos inúteis. Há um bloco de sequência em particular que é literalmente perda de tempo: quando a família e a Cleo viajam e acontece o incêndio. Enquadramentos à parte, se a viagem não tivesse acontecido o filme mudaria em nada, e é essa a impressão que "Roma" transmite: imagens grandiosas que escondem o quão pouco é entregue pelo roteiro.


Há duas cenas em que os níveis emocionais vão às alturas: o parto e o momento na praia, que gerou o pôster irretocável do filme. Sobre o parto, o filme assumidamente entrega o desfecho inúmeras cenas antes, com metáforas visuais que são prelúdios da morte do bebê de Cleo, como o terremoto no hospital, que causa a morte de um recém-nascido. Todavia, nem a previsibilidade retira a dor do momento, com Yalitza Aparicio entregando uma atuação humanamente poderosa, compatível com sua personagem, que enfrenta o medo do mar para salvar a vida das crianças. Ela podia perder mais nenhum de seus filhos, mesmo aqueles não saindo de dentro da sua barriga. O rótulo de "heroína" cabe aqui, mas só aqui - e é gritante a rápida mudança entre "Cleo salvou a minha vida" para "Cleo, me faz uma vitamina".

Com duas cenas possuindo destaque dentro de 135min de filme, percebemos que não há material o suficiente para tornar "Roma" um filme verdadeiramente bom. Enquanto divagava sobre o que não me fez amar o filme, lembrei de "Lady Bird" (2017), que, assim como "Roma", também é um filme feito a partir das memórias de sua diretora, Greta Gerwig. O que faz de "Lady Bird" um sucesso é sua universalidade: você não precisa estar na pele de seus personagens para ser arrebatado pelo carisma do filme, algo que não acontece com "Roma". Mesmo com universalidades pontuais, a obra de Cuarón sofre de um efeito decisivo: é muito particular.

Não dá para questionar o talento de Alfonso Cuarón enquanto diretor, e é uma grata surpresa ver o quão exímio cinematógrafo ele é, porém, "Roma" é mais embalagem do que conteúdo. Nem todo o coração de Cleo consegue compensar os personagens sem apelo e as situações desconexas, o que coloca em questionamento até onde o nome de Cuarón pesa para a recepção do filme. A falta de pretensão da obra gera uma simplicidade fatalista que coloca essa memória filmada num patamar aquém de sua celebração, já que é pequeno e particular demais para ser memorável.

Crítica: acredite no hype, “Nasce Uma Estrela” é fenomenal na tela (e nos alto-falantes)

Indicado a 08 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Atriz (Lady Gaga)
- Melhor Ator (Bradley Cooper)
- Melhor Ator Coadjuvante (Sam Elliott)
- Melhor Roteiro Adaptado
- Melhor Canção Original
- Melhor Fotografia
- Melhor Mixagem de Som
* Crítica editada após as indicações ao 91º Oscar

Atenção: a crítica contém spoilers para quem assistiu a nenhuma das quatro versões de "Nasce Uma Estrela".

Quando foi anunciada a quarta versão de "Nasce Uma Estrela" (A Star is Born), achei que seria uma bomba, confesso. Remakes, por si só, carregam uma área de desastre pelos inúmeros exemplos malfadados que temos, e, se não bastasse, era Lady Gaga que viria no papel da (nessa versão) aspirante a cantora em busca do estrelato. Caso você me conheça sabe: eu sou muito fã da Gaga cantora. Cantora.

A vencedora do Globo de Ouro mais comprado dos últimos tempos já passeou pelo cinema em pontas - "Machete Kills" e "Sin City 2" - e na tevê, com destaque a "American Horror Story: Hotel" (que a fez assinar o cheque à Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood). Quando as pontas não dispuseram de espaço suficiente para sabermos qual era a da atriz, em "Hotel" consegui perceber o quão rasa era sua atuação: ela posava ao invés de atuar. Em seus clipes, Gaga executava maravilhosamente bem sua louca persona, então onde estava isso?

A soma da equação "remake + Gaga" era um sinal vermelho. O filme foi jogado de um lado para o outro, mudando as datas de lançamento até cair em outubro, quando a corrida para o Oscar começa. Estaria a Warner realmente confiando no potencial do filme? Assim que apareceu no Festival de Veneza, a crítica foi assustadora: todos caíram de amores pela obra, que recebeu aclamação universal. Não era possível sair algo de errado dali, mas ainda assim me mantive cético.


Corri então para a primeira sessão de estreia que pudesse para finalmente comprovar se eu estaria do lado da crítica em geral ou se seria mais um exemplo que me faria nadar contra a maré (já estou acostumado). Felizmente, estou do lado dos que amam "Nasce Uma Estrela". Um breve resumo da obra: Jack Maine (Bradley Cooper, que também dirige o longa na sua estreia na posição) é um consolidado e alcoólatra músico que um dia conhece Ally (Gaga), reclusa em pequenos bares cantando covers. Jack então encoraja a mulher a cantar suas próprias músicas, e dali surge não só uma estrela, mas também um novo amor.

A produção já inicia metendo o pé na porta com Cooper revelando que, além de ótimo ator, canta DEMAIS. "Nasce Uma Estrela" é aberto com "Black Eyes", um rock insano bem Queens of The Stone Age para colocar o público no clima necessário. O rápido corte joga Jack dentro do carro após o show e, com o rosto coberto por sombras, vai direto na garrafa de uísque. Em seguida surge Ally, saindo do trabalho para o bico de cantora em um bar drag (com a Shangela e a Willam de "RuPaul's Drag Race"!), não sem antes ser abusada verbalmente pelo chefe aos gritos. É aí que surge o nome do filme em grandes letras vermelhas, no melhor estilo Hollywood clássica.

O caminho dos dois se esbarra quando Jack entra sem pretensões no bar de Ally, que canta "La Vie en Rose", o suficiente para o cantor querer saber mais sobre aquela estranha mulher, ou melhor, saber mais daquela incrível voz. Ou ambas. A timidez de Ally vai aos poucos derretendo diante do charme de Jack, e ela revela que, apesar dos vocais, nunca conseguiu ir além de covers em bares por causa do seu nariz - "Todos adoram como eu canto, não como eu pareço". Quando o homem conta mais sobre sua infância, ela rapidamente surge com uma letra, provando ser muito mais que uma vocalista, mas uma compositora. Jack sabe que está diante de algo muito grande.


Em um grande show, ele diz que vai cantar a tal música composta por ela, e pede para que Ally se junte a ele no palco, desesperando a mulher. Enquanto Jack canta os primeiros versos, a câmera se mantém por uns bons segundos diante do rosto de Ally, sem cortes. As expressões dela se tornam uma verdadeira montanha-russa de emoções, até que ela vai com a cara e a coragem para a frente do palco. A sequência é a comprovação absoluta de toda a força de "Nasce Uma Estrela" como potência audiovisual: não só as performances dos dois atores são fabulosas - o trajeto de total pânico de Gaga até o entendimento da sua própria capacidade é avassalador - como a canção - "Shallow" - é, talvez, a melhor música de qualquer filme lançado no ano.

Após o show, Ally vislumbra o quão fundo é o real problema de Jack: o alcoolismo. O cara desaba quase em coma, sendo carregado pelo empresário-e-irmão-mais-velho Bobby (Sam Elliott, em ótima forma). O roteiro costura a relação entre Jack e Bobby exemplarmente, fomentando densa carga emocional. Os personagens são o que são por um amontoado de situações no passado, e traumas não só moldam como mudam para sempre quem somos.

"Nasce Uma Estrela" também desenvolve a relação entre Jack e Ally da forma como deve ser. Seguimos todos os passos na construção desse amor e fica sempre claro como aquelas duas pessoas tão machucadas pelo tempo estão fortemente se abraçando a fim de juntar seus cacos. Não temos um belo e romântico conto de fadas, e sim uma ligação humana e lotada de falhas. Caso não resolvamos nossos demônios internos, eles vão inevitavelmente emergir e afetar o outro.



Enquanto isso, Ally vira peça fixa nos shows de Maine, acrescentando cada vez mais as músicas escritas por ela na setlist. Não demora até que um empresário surja oferecendo um grande contrato para que Ally grave seu primeiro álbum, o que gerará atritos na relação: ela não poderá mais viajar em turnê com Jack a fim de gravar o cd, fazendo-o afundar ainda mais no álcool e cocaína.

A gravadora então repagina a imagem de Ally: muda a cor dos seus cabelos e a afasta do country/rock de Jack para músicas mais pop, como a deliciosa "Why Did You Do That?", apresentada no Saturday Night Live (!), o que a rende três indicações ao Grammy. O novo cenário de sucesso da mulher torna Jack destrutivo e vingativo, dizendo que tem vergonha do que ela é agora, além de chamá-la de feia. O homem vai no imo de toda a insegurança de Ally como reflexo da própria insegurança: ele não sabe administrar vê-la crescendo enquanto ele só cai.

A noite do Grammy - cena clássica de todas as versões de "Nasce Uma Estrela" (mudando apenas a premiação, sendo o Oscar nas duas primeiras) - é a erupção de toda a ruína de Jack: de uma só vez ele deixa de ser a atração principal de uma performance para virar mero guitarrista, sendo substituído por um cantor mais novo; e, como se não bastasse, Ally vence o Grammy. Durante o discurso de agradecimento, Jack, absolutamente drogado, urina no palco e desmaia, arruinando ao vivo o momento da mulher. Não apenas um dos melhores da película como a melhor sequência entre todas as quatro versões.


Daí para frente é ladeira abaixo. Mesmo passando uma temporada na reabilitação, a culpa pelo peso que exerce sobre Ally é grande demais e Jack se suicida. A fita já deixa anunciada sua morte logo na segunda cena, lá no início, quando o enquadramento pega Jack dentro do carro e, através da janela, vemos um letreiro como várias forcas. A fotografia é deveras respeitosa, e filma a morte do protagonista sem glamorização e fetichização. É tudo captado em closes ou bem distante, sem acompanhar o derradeiro momento.

Por ser a terceira recontagem da mesma história, é impossível não cair na comparação. O que faz a versão de Cooper a melhor das quatro é a mudança de direcionamento do roteiro (co-escrito pelo próprio). Antes era a personagem da estrela em ascensão que dominava a fita - Janet Gaynor, Judy Garland e Barbra Streisand, respectivamente - com o papel do marido falido servindo quase como coadjuvante. Cooper coloca seu personagem no holofote principal, dando um estudo para todo o seu vício gerado pela depressão. O suicídio de Maine nunca recebeu o tratamento devido nos filmes anteriores, finalmente sendo um ato de reação dos problemas psicológicos do homem, e não mera reviravolta para dar peso à protagonista. Maine aqui não é alavanca de condução da história, e sim a própria história.

Se todos os atores que interpretaram Maine eram ofuscados por suas co-protagonistas, Cooper em momento nenhum deixa a cena ser assaltada, entregando a melhor performance de sua carreira com esse decrépito músico com ares de Jeff Bridges. Sua estreia como diretor também é um sucesso, pecando apenas na hora de ditar a montagem, que em alguns momentos soa deslocada e com cortes que não transmitem suavidade.


Mas não se engane: Lady Gaga está brilhante. Fica difícil imaginar outra atriz no lugar dela, que não só exala os pormenores psicológicos de Ally como possui os traços físicos perfeitos para colocar os pés da personagem no chão. Completamente despida de toda a parafernália que a fez famosa, Gaga transborda vulnerabilidade e é uma forte candidata ao Oscar de "Melhor Atriz" não pelas sequências no palco, mas sim pelas pequenas cenas, pelos contatos intimistas que mais parecem espontâneos que fincados sob um roteiro - a cena da banheira vem logo à mente. Todavia, é óbvio que sua performance musical é sem precedentes. De "Always Remember Us This Way" à pop "Heal Me", Gaga só nos recorda que é uma das maiores vocalistas do nosso tempo.

Falando nas músicas, ah, as músicas... A trilha sonora de "Nasce Uma Estrela" é fenomenal em todos os aspectos. Dá absoluto prazer ver uma coleção de músicas que tanto funcionam sozinhas como são imprescindíveis para o plot. Da porrada que é "Shallow" e sua honesta letra sobre manter-se longe do superficial, até o final irretocável com "I'll Never Love Again" (não segure as lágrimas), com Gaga em seu momento Mariah Carey, é impossível não se emocionar com a música do filme, uma sucessão de clássicos - gravados ao vivo. Sair da sessão cantarolando as faixas é caminho sem volta.

Todas as dúvidas ao redor de "Nasce Uma Estrela" são bombardeadas com argumentos audiovisuais do seu esplendor. Um dos raros exemplos de remakes que não são só realizados da maneira correta como superam seus originais, a obra deixa de ser mera viagem aos bastidores da indústria do entretenimento ou mais uma platônica história de amor para realizar um estudo necessário sobre a fragilidade da mente humana e nossa sucessão diária à ruína e ao sucesso. Se sua maior curiosidade é ver Lady Gaga sem maquiagem ou vestido de carne, prepare-se para ser arrebatado pela avalanche de talento que é "Nasce Uma Estela", um espetáculo na tela (e nos alto-falantes).

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