Está oficialmente aberta a temporada de anúncios da CCXP 2019

É inegável. A Comic-Con Experience (CCXP) se tornou um dos principais eventos de cultura nerd e hollywoodiana do mundo, além de ser pioneira no Brasil por apostar em um mercado que outrora era deixado de lado aqui. Com cinco anos de história, a convenção cresceu de forma meteórica, trazendo convidados ilustres (e surpresas, né, Tom Holland?) e conteúdos que deixam qualquer San Diego no chinelo.

A edição de 2018, em particular, veio para estabelecer a CCXP de vez como "o maior festival de cultura pop de todos os mundos". Não é para menos, com 262 mil visitantes, a feira trouxe tudo o que o público nerd clama, e isto incluiu um leque variadíssimo de estrelas: Brie Larson, Tom Holland, Zachary Levi, Sandra Bullock, Noah Schnapp, Tessa Thompson e por aí vai.

Não só de estrelas vive uma CCXP, é claro, por isso que os inúmeros conteúdos exclusivos rolaram em peso durante os quatro dias de feira. Teve pré-estreia de "Aquaman", exibição do primeiro trailer de "Homem-Aranha: Longe de Casa", cenas de "Capitã Marvel" e outras tantas coisas que se fossemos listar aqui este texto se tornaria um livro de tão extenso.

Ainda falta muito para a CCXP 2019 - faltam nove meses!, mas podemos dizer que está oficialmente aberta a temporada de surtos com os anúncios desta edição. Sabe por quê? Os ingressos começam a ser vendidos no dia 9 de abril, às 20h (horário de Brasília), seguindo com os modelos já conhecidos pelo público - diário, Full, Epic, Unlock e combo dos 4 dias. Você poderá comprar os ingressos aqui.

A CCXP 2019 acontece entre os dias 5 e 9 de dezembro.

Luísa Sonza mostra que é uma boa (e má) menina no clipe de "Pior Que Possa Imaginar"

Luísa Sonza chegou com tudo em seu novo single, "Pior Que Possa Imaginar", pontapé inicial de seu disco de estreia, que deve estar entre nós ainda no primeiro semestre desse ano. Sem perder tempo, a cantora liberou também nessa sexta-feira (22) o clipe da canção, no qual brinca bastante com a imagem de boa (e má) menina. 

Se a letra da música já vem cheia de duplo sentido, deixando a interpretação pra quem escuta, Luísa aproveitou o videoclipe também pra brincar com a dualidade de sua personalidade, ora aparecendo como princesa em referência ao rótulo que ela recebeu lá no início de sua carreira, ora sensualizando bastante.

Fada empoderada e sensata, Luísa contou que o vídeo foi feito com o objetivo de enaltecer a liberdade feminina: "nesse clipe, eu quis mostrar que qualquer mulher pode ser o que ela quiser ser, sem rótulos, sem ter que ser nada que não queira".

O resultado, com direção do Jacques Dequeker, também por trás de "Boa Menina", você confere abaixo:



"Pior Que Possa Imaginar" sucede os hits "Devagarinho" e "Boa Menina", que ainda não sabemos se estarão no primeiro disco de Luísa, finalizado durante o carnaval. 

Primeira gravadora focada em artistas trans no mundo, Trava Bizness se apresenta neste mês em SP

No próximo dia 30 de março, em São Paulo, o projeto Movimento Diversa ocupa o Z Largo da Batata, em Pinheiros, para uma noite de música com diversos nomes que marcam a nova cena brasileira, como As Bahias e a Cozinha Mineira, MC Delacroix e a rapper Rosa da Luz.

Além dos shows, o evento será palco também para uma apresentação do projeto “Trava Bizness”: a primeira gravadora focada em artistas trans em todo o mundo.

Com um catálogo que passeia do rap a MPB, o selo levará ao palco do evento, além de Rosa da Luz, nomes como Marina Matheus, Albert Magno, Natt Maat, Alice Guel e Malka.

“A importância de projetos que deem visibilidade aos processos criativos e caminhos das ditas minorias no Brasil se mostram de extrema urgência para o momento em que sobrevivemos a tantas campanhas contra nossas vidas, artes e saberes. A ideia é podermos debater por meio da demonstração desses corpos e vozes nosso movimento em prol da diversidade e respeito a nossas lutas diárias pela sobrevivência”, explica uma das produtoras do projeto, Marta Carvalho.


Os ingressos estão disponíveis por R$30 e podem ser adquiridos na bilheteria do Z Largo da Batata. Mais informações no site.

Tem pra todo mundo! Sandy e Junior param a internet e anunciam shows extras

Tem Sandy e Junior pra todo mundo, gente!

Os irmãos, que anunciaram a turnê de retorno Nossa História há algumas semanas, abriram a venda de ingressos na última quinta-feira (21) e, em questão de horas, esgotaram as entradas pra praticamente todos os shows, mostrando que essa volta era beeeem mais aguardada do que parecia.

Pra ninguém perder a chance de viver esse momento, os donos de “A Lenda” foram bem generosos e, voltando atrás no plano de fazer apenas 10 shows, acrescentaram duas paradas extras na tour: dia 2 de agosto, no Rio de Janeiro, e outra dia 26 do mesmo mês, em São Paulo. 

Repetindo a estratégia dos primeiros shows, a pré-venda começará exclusivamente para os clientes da Elo nos dias 27 e 28 de março, com abertura para público geral logo em seguida, no dia 29. Todos os detalhes e datas estão disponíveis no site oficial deles.


Nossa História marca a volta da dupla aos palcos após 12 anos separados e dedicados aos seus projetos solos. Na coletiva de anúncio da turnê, os dois prometeram shows grandiosos, com a nostalgia acompanhada de muita estrutura tecnológica, coreografias e os hits que os consagraram pra toda uma geração.

Março, certeza! Semana que vem tem música nova da Sky Ferreira, “Downhill Lullaby”

É música nova da Sky Ferreira que você queria? Então vem, que a cantora vai mesmo acabar com a lenda urbana que envolveu todo o seu novo disco, até então chamado “Masochism”, e no final de março deste ano revelará seu novo single.

Anunciado em suas redes sociais, o novo trabalho de Sky se chama “Downhill Lullaby” e, com estreia marcada para o dia 27 de março, quebra oficialmente o seu jejum de lançamentos desde o disco “Night Time, My Time”, de 2013.


No que depender das informações antecipadas pela mãe da cantora há algumas semanas, as novidades envolvendo seu nome não pararão por aqui. Até o final do ano, Sky quer lançar seu novo disco, relançar em vinil seu primeiro CD e entregar de forma avulsa um dos singles prometidos e, até então, engavetado nos últimos anos, “Guardian”.

A torcida segue firme.

“Pior Que Possa Imaginar” é o melhor single de Luísa Sonza até aqui

Ela rebolou, chegou devagarin’ e mostrou como faz uma boa menina. Mas agora volta pra te lembrar que pode ser ainda mais do que você esperava: “Pior que possa imaginar”.

Com apenas 20 anos, Luísa Sonza se tornou uma das principais revelações do pop nacional do último ano e, nesta sexta (22), deu o pontapé inicial pra chegada do seu disco de estreia com seu novo single, que sucede a boa fase marcada pelas faixas “Devagarinho” e “Boa Menina”.

Ao lado dos mesmos produtores de seus singles anteriores, o coletivo Hitmaker, a música nova soa como um ponto de equilíbrio entre seus outros trabalhos: o beat dançante e conciso remete ao sucesso de “Devagarinho”, enquanto os vocais, explorados em cada vez mais camadas, ultrapassam o amadurecimento mostrado em “Boa Menina”.

A letra, por sua vez, dá margem pra todos os sentidos possíveis, com a cantora te convidando para entrar no seu mundo até ficar sem ar, porque ela tem a língua afiada, é mais quente que o Saara, não liga pra o que você fala e de santa não tem nada.

O resultado, com o perdão do inevitável trocadilho, é muito melhor do que você possa imaginar, nos entregando um dos melhores resultados da artista até aqui. Escuta só:


Finalizado durante o carnaval, é esperado que o disco de estreia de Luísa Sonza chegue ao público ainda no primeiro semestre deste ano, não sabemos se com alguma das músicas reveladas pela cantora antes desse novo single. O clipe da faixa nova, por sua vez, estreia pelas próximas horas no Youtube.

Aquecimento Lollapalooza 2019: 10 discos pra ouvir antes do festival

Estamos a pouco mais de duas semanas do Lollapalooza Brasil 2019, que acontece entre os dias 5 e 7 de abril, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, e se você é daqueles que, com a proximidade do festival, já começa a pensar no tanto de show que vai encontrar por lá e no que é essencial conhecer para aproveitar ao máximo essa experiência, não tema: nós temos a lista perfeita. 

Pera, pera, pera... ainda não garantiu seu ingresso? Corre lá no site oficial e depois e volte aqui pra pegar as nossas dicas pra curtir direitinho esse Lolla.

Pronto? Então segue nossa lista com os 10 discos que você precisa ouvir antes do festival:

"Sinto Muito", Duda Beat

Dos beats carregados de brasilidades às letras ora tristes, ora românticas, ora tristes e românticas, mas também instigantes, envolventes e precisas para a sua próxima legenda no Instagram, “Sinto Muito”, da Duda Beat, é uma ótima pedida pra quem vinha sentindo falta de novos sons e sotaques no pop nacional.




"Dona de Mim", IZA

Em seu primeiro álbum, IZA mistura as mais diversas influências da músicas negra nacional e internacional, do reggae ao R&B, do axé ao jazz, pra criar um pop do qual sentíamos falta aqui no Brasil: um pop com alma.



"Lost & Found", Jorja Smith

Com vocais suaves e cheios de camadas, um som R&B experimental e envolvente e letras que nos fazem imergir em histórias, o disco de estreia da Jorja Smith é daqueles tão bons que a gente não vê nem o tempo passar. 



"DAMN.", Kendrick Lamar

A gente se recusa a acreditar que a essa altura tenha alguém que não tenha entrado de cabeça no mundo do "DAMN.", mas se esse é o seu caso, ainda dá tempo de apreciar um dos principais discos dos últimos anos, capaz de transcender as barreiras sonoras do hip-hop e fruto da mente do maior rockstar que temos em atividade.



"The Thrill Of It All", Sam Smith

Em seu segundo álbum, encontramos Sam ainda melancólico, mas mais positivo do que em seu antecessor. O artista agora parece ter aprendido algumas lições, como aproveitar os bons momentos antes do fim e todo o autoconhecimento que as dificuldades podem lhe proporcionar. Um álbum pra dar um quentinho no coração. 



"MASSEDUCTION", St. Vincent

Criado em parceria com o Jack Antonoff, responsável também pelo "Melodrama", o "MASSEDUCTION" é o próprio caos: tanto em sua sonoridade, que mistura de tudo um pouco para criar algo original, e em suas letras, as mais pessoais da discografia da St. Vincent. Uma obra-prima. 



"A Brief Inquiry Into Online Relationships", The 1975

Pra quem curte uma Crítica Social Foda™, o novo disco do The 1975 fala sobre modernidade, o efeito Black Mirror em nossas vidas e os tais ~amores líquidos que tanto ouvimos falar por aí. Pra quem só quer curtir um bom som, o álbum é o mais pop e coeso do grupo, daqueles que vai te fazer dançar e cantar à plenos pulmões até o fim.



"Bloom", Troye Sivan

Para Troye, o "Bloom" é o disco que ele sempre quis fazer, e não precisamos ouvir mais de uma vez para entender o porquê. Contagiante e efervescente, o mais recente material do artista usa de muito synthpop para nos levar em uma montanha-russa de emoções que nos prende e faz com que a gente se sinta parte de cada pedacinho de letra.



"Trench", Twenty One Pilots

O quinto disco da dupla traz a história de um homem que tenta fugir de uma cidade fictícia enquanto canta suas dores diretamente das trincheiras que o separam do mundo real. Complexo? De longe, sim, mas não demora muito pra entendermos que tudo isso é uma grande metáfora para que Tyler, vocalista da banda, faça um retrato sincero, necessário e sem glorificações sobre saúde mental.



"Palo Santo", Years & Years

Somente o Years & Years é capaz de falar sobre amor, relacionamentos e sexo de forma sagrada e pura, e é esse dom particular da banda que eles exploram à fundo no "Palo Santo". Com muito eletro-pop britânico, Olly e companhia nos colocam pra dançar do início ao fim, provando que sabem muito bem como criar uma verdadeira bíblia do pop. 



***

Se você acha 10 discos pouca coisa para o seu Intensivão Lollapalooza™ e está no pique de ouvir mais alguns, corre lá pra escutar o "WALLS" do Kings Of Leon, "Tranquility Bass Hotel + Casino" do Arctic Monkeys, e o "Beerbongs & Bentleys" do Post Malone, além da nossa playlist de aquecimento para o Lolla 2019:

Lizzo lança a ótima “Tempo”, com a Missy Elliott, e se você ainda não a conhece, esse é o momento

Se tem uma artista em que estamos apostando forte, essa artista é a Lizzo. A americana tem trilhado um caminho bastante promissor, com músicas versáteis, empoderadoras e de muita atitude, e tem tudo para se tornar uma revelação do pop esse ano.

Lizzo começou lá em 2014 com o aclamado “Lizzobangers”, seguido pelo "Big GRRRL Small World", de 2015, explorando uma vertente mais hip-hop em ambos. Sendo uma mulher negra e gorda que sofreu bastante para se aceitar, ela acabou fazendo de sua missão usar seu trabalho para promover o amor próprio e a diversidade, sempre com muito bom humor e acidez. 



Nos anos seguintes, a cantora passou a explorar seu lado mais pop, misturando o ritmo com uma série de influências, do próprio rap ao gospel, seja no EP "Coconut Oil", de 2016, ou em singles como a honesta "Truth Hearts" e dançante "Boys"

Seu novo disco, "Cuz I Love You", está com o lançamento marcado para o dia 19 de abril, e já nos trouxe duas ótimas canções: a oitentista “Juice”, que a essa altura, se o mundo fosse justo (e se a música fosse cantada pelo Bruno Mars, por exemplo), já seria um grande hit mundial, e a poderosa faixa-título, na qual a artista dá todo o destaque para seus vocais. 



Pop perfection!

Nesta quarta-feira (20), a americana liberou seu mais novo single, "Tempo", parceria com ninguém menos do que Missy Elliott. E aproveitando a participação da rapper, Lizzo fez um revival de sua fase mais voltada para o hip-hop e mostrou que não perdeu o flow.



A Lizzo é tudo que o pop precisa nesse momento, sonoramente, liricamente e no quesito representatividade também, e mal podemos esperar pra vê-la receber todo o reconhecimento que merece. Pra ficar de olho MESMO! 👀👀

Crítica: se 11 pessoas não tivessem sido mortas, “O Anjo”, baseado em fatos, não existiria

Atenção: o texto contém detalhes da trama e se trata bem mais de uma discussão sobre o papel da cinebiografia do que uma crítica pura e simples.

Já comentei em alguma crítica que a Argentina é a galinha dos ovos de ouro da América do Sul no Oscar. Até o ano passado, era o único país daqui a vencer o prêmio de "Melhor Filme Estrangeiro" na Academia - em 2018 o Chile se uniu aos hermanos com a vitória de "Uma Mulher Fantástica" (2017) -, mas ainda detém o recorde de vitórias e indicações: dois prêmios e outras cinco indicações.

E falando em "Melhor Filme Estrangeiro", sempre deixei claro que essa é a minha categoria favorita em todas as premiações. Procuro assistir não só aos cinco finalistas, mas o maior número de selecionados pelos países mundo afora, e, claro, a Argentina está sempre na minha lista. O selecionado para a edição de 2019 foi "O Anjo" (El Ángel), de Luis Ortega. O filme ganhou respaldo internacional por ser produzida pelo mestre Pedro Almodóvar e sua produtora El Deseo - que já possuem em casa o Oscar da categoria estrangeira.

Selecionado pela Argentina e produzido por Almodóvar? Vou assistir sim. "O Anjo" relata a história real de Carlos Robledo Puch, um serial killer conhecido como "o anjo da morte" que aterrorizou o país na década de 70. Vemos a juventude do protagonista e o que o levou até a prisão - ele está preso até o presente dia, o encarcerado mais longo do país. Interpretado pelo novato Lorenzo Ferro, a estrutura do filme não dá espaço para surpresas.


Por ser uma história verídica, sabemos basicamente tudo o que vai acontecer na tela. Porém, há um atrativo instantâneo: a fotografia e design de produção são estonteantes. Com um filtro carregadíssimo, as cores de "O Anjo" saltam na tela, em uma reprodução fidedigna da época em que se passa. Se tratando de uma produção de Almodóvar, não é de se espantar - os filmes dele são tão visualmente arrebatadores quanto.

Carlitos - como ele gosta de ser chamado - é um jovem rebelde, que fugiu da escola sem os pais saberem e sempre chega com objetos roubados em casa, apesar de afirmar serem empréstimos dos amigos. É um caso nitidamente perdido. A construção ao redor do personagem é bem feita e o transforma em alguém insuportável, que vive numa realidade à parte e dita as próprias regras. Esse tanque de gasolina encontra então Ramón (Chino Darín, filho do rei do cinema argentino, Ricardo Darín), uma chama acesa. Ele é acolhido na família de Ramón, basicamente uma gangue: o pai comete diversos crimes, tudo sob a supervisão da mãe. Esse detalhe me lembrou "O Clã" (2015), fantástico filme argentino sobre uma família de sequestradores - que também foi, no seu ano, o selecionado pelo país ao Oscar.

Com uma trupe, Carlitos aumenta a amplitude de seus crimes, cada vez maiores e mais ambiciosos; ele chega a perder a noção do perigo que corre - e, consequentemente, coloca os outros. A única pessoa que consegue domar um pouco a insanidade crescente do protagonista é Ramón. Há uma forte tensão sexual entre os dois, que viram um Bonnie & Clyde - ou "Eva & Perón", como eles mesmo dizem. Chega a ser bizarro como a relação entre os membros da postiça família de Carlitos, um quadro em que todo mundo é de todo mundo, e até a mãe de Ramón investe sexualmente no amigo do filho.


Na ficha criminal de Carlitos, há 11 homicídios. Quando o primeiro surge na tela, uma linearidade narrativa é rompida: ao atirar (quase acidentalmente) num senhor após arrombar a casa, todas as reações humanamente esperadas são jogadas no lixo. A sequência, totalmente anti-climática, chega a ser uma esquete cômica: a vítima baleada sai andando pela casa sem rumo, sem dar uma palavra, enquanto Carlitos e Ramón o seguem, pegam o que querem e saem tranquilamente, como se uma pessoa não estivesse acabado de receber um tiro.

Daí para frente é ladeia abaixo. A direção não tem o tato para manter o ritmo da fita, que se arrasta de uma maneira enfadonha. Tudo cai na extrema obviedade, diversos acontecimentos não possuem influência direta na trama e até mesmo em sequências antecipadas - como o embate da família de Carlitos com seus crimes -, a letargia é peça preponderante. Contudo, devo parar de criticar a obra em si para entrar nos detalhes que me fizeram escrever esse texto.

Enquanto a película expelia meu interesse lá pelas tantas, um estalo me veio. "O Anjo" é uma cinebiografia, como já sabemos. Qual é o fundamento elementar de uma cinebiografia? Dar vida, na tela do cinema, à uma história real, seja ao redor de uma pessoa ou um grupo delas. E, aprofundando ainda mais nessa teoria, o que faz a cinebiografia ser produzida é sua capacidade de fomentar interesse. Por que contar a vida dessa pessoa? Porque sua história é, de alguma forma, importante, curiosa, divertida, emocionante, enfim, gera algum sentimento que é rotulado como seminal. Pois bem. "O Anjo" é a narração cinematográfica da vida de Carlos Puch. O que fez essa história em específico ir parar no ecrã? O que faz Carlos Puch distinto de qualquer outro transeunte? Ele assassinou 11 pessoas - além de vários outros crimes como roubos, assaltos e estupros.


Quando esse fato me ocorreu, toda a percepção que tive do que estava diante de mim mudou. Fui ainda mais longe, pensando em outros filmes que também são cinebiografias de outros criminosos. "O Lobo Atrás da Porta" (2013), obra-prima brasileira, gira ao redor da "Fera da Penha", assassina da década de 60. Fui desconstruindo minha análise ao chocar "O Lobo" com "O Anjo", a fim de ter uma noção mais justa da problemática que levantei.

A diferença fundamental entre os dois é que, em "O Lobo", a "vilã" é tratada como tal. Carlitos é quase um anti-herói, aquele bandido descolado, charmoso e cheio de personalidade. Até mesmo no momento em que vai ser preso, é posto na tela dançando. Como comento na crítica de "A Casa Que Jack Construiu" (2018), Cinema não é uma escola em imagens e não tem a obrigação de sentar e ensinar mastigadamente o que é certo ou errado, entretanto, um senso de justiça deve ser empregado. No filme de Lars Von Trier, Jack vê seus assassinatos como arte e se delicia enquanto mata e tortura, contudo, o roteiro, mesmo de forma sagaz, julga o protagonista. 

"O Anjo" consegue gerar empatia em um personagem que, naturalmente, repudiaríamos. Sim, quando entramos na vida de qualquer personagem, um processo de humanização é quase inevitável. Há uma lista interminável de vilões apaixonantes na história do Cinema, no entanto, ao adorarmos Anton Chigurh em "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007) ou o próprio Jack de "A Casa Que Jack Construiu", estamos adorando um personagem fictício que tem uma moralidade contestada. Sei bem que "O Anjo" não é um documentário, mas sua fundamentação é real. A cultura é ferramenta incisiva na criação do imaginário popular e das noções que temos socialmente, então, a maneira que falamos de temas intricados, como a violência sobre histórias verídicas, deve ser cuidadosa. No rolar dos créditos, a impressão que a produção deixa de Carlitos é positiva.

Com "O Anjo", um assassino é imortalizado pelo Cinema, e foi preocupante quando caiu a ficha de que, caso não tivesse matado onze pessoas, um filme sobre Carlos Puch não existiria. Não se trata de um filme inspirado em um caso policial, é baseado diretamente nos crimes, com o nome e a trajetória de Carlos Puch no palco principal. Não é isso o fator preponderante que define a forma como uma película passa longe da glória, mas é uma problemática relevante dentro dessa complexa arte que é o Cinema. O que pesa no saldo final é a transformação de um serial killer em uma caricatura, com um senso de justiça que não é compatível com seus próprios atos. 

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