Crítica: “El Camino” tem tudo o que há de bom em “Breaking Bad” (mas não o que há de melhor)

Atenção: a crítica contém spoilers.

Caso você esteja chegando agora a esse mundo, um aviso: "Breaking Bad" é a melhor série de todos os tempos. E não é apenas eu afirmando - o seriado de Vince Gilligan está no Guinness Book com o recorde de "mais bem avaliada série da história" - e os vários Emmys são só uma pontinha do sucesso absurdo das cinco temporadas da saga de Walter White no império da metanfetamina.

"Breaking Bad" terminou em 2013 no auge de sua criatividade, e desde então os fãs estão ansiosos para mais um capítulo da insana história (que terminou tão bem), por isso, foi uma grata surpresa o anúncio de "El Camino", filme que dá mais um passo da trama. O filme, lançado pela Netflix, segue o único protagonista ainda existente: Jesse Pinkman (Aaron Paul) - todos os outros ou estão mortos ou já tiveram seus arcos finalizados. No final de "Felina", o último episódio da série, vemos Jesse fugindo e finalmente encontrando a liberdade depois de meses preso, e o resto ficava a cargo da imaginação da plateia.

Agora não mais. "El Camino" vai mostrar o que rolou com o personagem, e começa segundos depois do fim de "Felina". Gilligan sabe o poder que tem em mãos, e já abre seu filme com um flashback com uma das melhores figuras do seriado, Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks). Isso demonstra o óbvio: "El Camino" é um filme para os fãs da série.

Então, caso você nunca tenha visto "Breaking Bad" ou tenha acompanhado de modo esporádico, o filme não fará sentido para você. Ele resgata - propositalmente - diversos personagens e acontecimentos das temporadas passadas a fim de costurar as motivações de Jesse e como ele chegou aonde está. Então a narrativa vai e vem entre períodos distintos da trama, intercalando flashbacks com o presente de Jesse.


Após a fuga, Jesse vai até a casa de seus fiéis escudeiros, Skinny Pete (Charles Baker) e Badger (Matt Jones), buscando abrigo. Só que o carro que Jesse levou - um El Camino - possui rastreador, o que já está na mira da polícia. Novamente em fuga, Jesse divide uma cena absolutamente calorosa com Pete, que abre mão de todo o dinheiro que possui para ajudar o amigo a fugir. Questionado o motivo de tamanha ajuda, ele responde: "Porque você é meu herói".

O plot principal de "El Camino" é a corrida de Jesse atrás de dinheiro para poder sumir do mapa. Sua ideia é ir até o apartamento de Todd (Jesse Plemons), o único da gangue de neonazistas (presumo que você saiba o contexto aqui) que demonstrava apreço (ou pena) por ele durante o cárcere forçado. Como revela um flashback, Todd guardava seu dinheiro no local, porém, como tudo em "Breaking Bad", a busca pelo dinheiro não será uma ida ao caixa eletrônico. De longe, a melhor cena do filme, toda a sequência, que se desdobra com plot-twists, lembra os auges passados da série, exemplos da genialidade de seu criador.

Todavia, é para assustar que está em "El Camino" o pior momento de todo o universo "Breaking Bad": a cena do duelo. Após muitas idas e vindas, Jesse ainda precisa de dinheiro e vai até a casa de um gangster pedir caridosamente a quantia necessária para sua fuga. O plano já começa não fazendo o menor sentido, no entanto, o roteiro vai ainda mais longe e se joga no limite da imbecilidade quando o líder da gangue desafia Jessie a um duelo - exatamente, um duelo de armas como nos filmes de faroeste. Quem atirasse primeiro, e matasse o oponente, ficava com o dinheiro. Pois é, isso saiu de "Breaking Bad".

Lógico que a sequência é ridícula - o fato de o líder não verificar que Jesse possui mais de uma arma, ou de CINCO pessoas não conseguirem matar Jesse, ou o protagonista sair sem um mísero arranhão, tudo é vergonhoso. É bem verdade que alguns deus ex machinas já passaram pelos 62 episódios, mas era sempre muito bem fundamentado e desenvolvido, servindo como desenrolar para outros acontecimentos importantes. Aqui, o duelo é só triste mesmo.


Se você, como qualquer fã do seriado, espera ver Walter White: sim, Bryan Cranston está de volta - claro, na forma de flashback (ele não ressurgiu dos mortos). Um dos mais icônicos personagens da história da televisão, é um júbilo ver a brilhante atuação de Cranston na tela depois de tantos anos, mas a cena é bem pequena e totalmente focada em Jesse. Difícil pedir mais de um personagem que já morreu além de cenas como a mostrada, contudo, fica lá no fundo a vontade de quero mais, de que não supriu a necessidade da volta de Walt.

Para ser bem sincero, essa impressão é generalizada: parece que "El Camino" não entrega tudo o que poderia - ou tudo o que a espera pedia. O filme é basicamente um episódio, o que é bom: toda a estrutura clássica de "Breaking Bad", desde a montagem até a fotografia, volta igualzinha; só que soa como um daqueles episódios de meados da temporada, que estão desenvolvendo situações que acarretarão no ápice. Não há nada de impressionante no filme, um clímax, um estouro que é clássico da série. Existem cenas de ação, de tensão, de emoção, mas nada à altura dos picos que entraram na história.

Em termos de produto derivado de "Breaking Bad", o seriado "Better Call Saul" dá conta de seguir o legado - até porque a inteligência é emulada na série que mostra como Saul Goodman (Bob Odenkirk) virou o advogado que conhecemos. Outro fato essencial é que vários personagens importantes de "Breaking Bad" ainda estão vivos em "Saul", que se passa anos antes do império de Walt ser construído. Não havia como ter toda essa fórmula em "El Camino".

"El Camino" é um epílogo, e se limita em exercer sua função de "capítulo final". Pouca coisa é acrescentada na linha temporal da história além do encerramento da jornada de Jesse Pinkman, que finalmente encontra um derradeiro final para a trama. Qualquer fã vai se sentir feliz com esse mimo pelos aspectos emocionais reascendidos pela nostalgia, porém, mesas não são viradas com os 122 minutos do filme. "El Camino" faz tudo o que há de bom em "Breaking Bad", mas não o que há de melhor.

Reizinho mesmo! Harry Styles estreia "Lights Up" no Top 3 do Spotify Global

Harry Styles domina a arte de lançar single de surpresa, divulgar pouco e, ainda assim, conquistar bons resultados. Duvida? Então é só dar uma passada nos principais charts dos Spotify. No Top 50 Global, por exemplo, ele se encontra em 3º lugar com "Lights Up".


Provando seu poder, Harry também se saiu muito bem, obrigado, em paradas importantes do mundo: no chart dos Estados Unidos no Spotify, seu novo single estreou em 2º, enquanto no do UK, sua terra natal, "Lights Up" aparece em 4º.

Aqui pelo Brasil, nossa parada de sucessos no Spotify valoriza bastante as músicas nacionais, e é bem difícil vermos canções em inglês figurarem entre as 50+. Mas isso não é problema para Harry, que estreou sua nova faixa em #43. 

Mundialmente, "Lights Up" acumulou mais de 4.66 milhões de streams, fazendo desta a canção de um ex-1D mais bem sucedida em suas primeiras 24 horas. "I Don't Wanna Love Forever", de ZAYN, ocupava a primeira posição nesse ranking, com mais de 4.58 milhões de plays em seu primeiro dia.

Nesse ritmo, quem sabe não veremos a canção no Top 10 da Hot 100, tal como "Sign Of The Times", que estreou em #4? 

Camila Cabello, “Easy” e a busca incessante pelo lead single perfeito do “Romance”

A divulgação da nova era da Camila Cabello tá um pouco confusa - muito porque ela está lançando uma novidade atrás da outra e dando pouco tempo de respiro entre elas - e com o lançamento de “Easy” nessa sexta-feira (10) o que já tava estranho, piorou. 

Vamos recapitular? 

No início de setembro, Camila, que então já estava hitando bastante com “Señorita”, sua parceria com Shawn Mendes, deu o pontapé inicial em seu segundo disco, “Romance”, e prometeu o lançamento de muitas músicas com o objetivo de “construir o mundo” do álbum. É o conceitinho, né? 

O que a gente não esperava era que realmente viriam tantas faixas assim. Primeiro, Camila liberou “Shameless” e “Liar” juntinhas. A estratégia de lançamento duplo não é nova em sua carreira. “Havana”, por exemplo, foi lançada junto com “OMG”. Nesses casos, o que rola é que uma acaba hitando enquanto a outra fica esquecida no churrasco. No caso atual, parece que ambas estão ficando pra trás.


É cedo pra dizer, e a vibe música latina + Clean Bandit de “Liar” ainda pode render bastante, mas parece certo que o lançamento duplo não foi uma boa escolha pra esse momento, dado que a artista mal tem feito performances e comparecido em entrevistas de rádio, que ainda contam muito na Hot 100, para divulgar os trabalhos. 

Seguindo o fraco desemprenho das canções, que, por enquanto, só aparecem na metade de baixo da tabela da Hot 100, Camila liberou “Cry For Me”. A faixa é ótima, soa como algo que Kelly Clarkson faria em seus tempos áureos, e seria uma ótima ideia... se já não tivéssemos duas músicas lançadas e se rolasse um respiro de 2 meses. 


Aí, como nenhuma das três parece ter dado o resultado que a equipe dela queria, lá vem mais um single. Lançado nessa sexta-feira (10), “Easy” é um midtempo fofo, com cara de jóia que encontramos em meio a um álbum, e que poderia muito bem ter sido guardada para o lançamento do “Romance”. 


É uma graça, né? Mas parece um desperdício tão grande em meio a uma gestão perdida. Será que a galera que trabalha com a Camila esqueceu que “Havana” foi lançada sem pretensões e só um bom tempo depois hitou, e teve ainda que escalar de pouco a pouco a Hot 100 para, então, chegar ao topo?

Nesse sábado, Camila fará sua estreia no Saturday Night Live e, por lá, deverá performar 2 músicas. Ficaremos atentos para entender os direcionamentos do “Romance” até então - e torcendo para que ela opte por trabalhar com o que já tem até aqui, que tá ótimo. Com um pouco de foco e um empurraozinho, da pra fazer alguma dessas canções hitarem.

Pai amado, que obra divina! Harry Styles se joga em um mar de homens e mulheres no clipe de "Lights Up"

Eu digo reizinho do rock, vocês dizem Harry Styles!

Harry finalmente está de volta! Depois de muito mistério com alguns cartazes espalhados por vários lugares do mundo com os dizeres "Do You Know Who You Are?", o artista lançou nessa sexta-feira (11) o primeiro single de seu segundo disco, "Lights Up", e é claro que a qualidade já tava garantida.

Apostando em uma sonoridade que poucas pessoas estão fazendo no momento, "Lights Up" não é tão apoteótica como "Sign Of The Times", mas nem por isso é contida, trazendo vários questionamentos com uma letra poderosa sobre "nunca voltar atrás" e, por vezes, soando como uma música gospel. Harry, pra mim você é Deus e acabou!



Já no clipe da canção, feito ao estilo Lana Del Rey de ~baixo orçamento, Harry aparece deixando a vida o levar enquanto anda na traseira de uma moto de braços abertos, boia no mar rosa da capa de seu primeiro álbum e se joga em meio à homens e mulheres para algumas cenas quentes. É o ditado né? Chega, sou bissexual e acabou!



Da última vez, Harry lançou seu disco um mês depois de liberar o primeiro single. Será que agora vai ser igual? Para o nome do HS2, apostamos em algo que tenha a ver com os cartazes de "Do You Know Who You Are?", ou, quem sabe, esse nome mesmo. Vamos ficar ligados porque com certeza vem mais novidade por aí!

Vai ter Nicki Minaj, Normani, Anitta e, claro, muitas participações de Ariana na trilha do novo "As Panteras"

Ariana Grande reuniu um time de mulheres poderosas para a trilha sonora do novo filme de "Charli's Angels" (aqui no Brasil, "As Panteras"). A soundtrack completinha chega no dia 1º de novembro, mas a mulher perigosa liberou nessa sexta-feira (11) a lista de participações, que vai de Nicki Minaj e Normani a Anitta.


É isso mesmo! A brasileira foi escalada para a trilha do filme e vai aparecer com uma música em português, pra combinar com o título do longa por aqui: "Pantera". Já Nicki e Normani aparecem em uma parceria com a própria Ariana, chamada "Bad To You". A colaboração que a gente não sabia que precisava até descobrir que será lançada. 

A novata Kiana Ledé e a lenda Chaka Khan também garantiram uma participação nessa soundtrack. A primeira vai participar de "Eyes Off You", com M-22 e Arlissa, enquanto a segunda fará um dueto com a Ariana em "Nobody".

Quem também estará presente nessa soundtrack é Kash Doll, Kim Petras, ALMA  e Stefflon Don com o hino dançante e cheio de saxofones "How It's Done", já liberado nessa sexta. 



Confira a tracklist completa do álbum de "Charli's Angel", com curadoria de Ariana Grande e produções de Max Martin, Ilya e Savan Kotecha

O funk chegou: sem parodiar favelas, Lollapalooza faz a lição de casa com Ludmilla e Kevin o Chris

Na contramão do Rock in Rio, que foi duramente criticado pela criação de um “espaço favela” que suprisse a inclusão do funk na programação do festival, o anúncio das atrações do Lollapalooza Brasil 2020 os coloca à frente de uma decisão que há muito já deveria ter sido tomada: o reconhecimento do gênero como um dos grandes pilares da música nacional. Confira a line-up completa.

Do MC Bin Laden com Jack Ü ao inusitado dueto de Kevin o Chris com Post Malone, o funk passou anos chegando ao palco do festival pelas portas do fundo, atraindo a atenção de boa parte dos gringos que chegavam ao país para cantar no evento, até que, finalmente, conquistou o seu espaço como os artistas principais que merecem ser.


Numa apresentação conjunta, que ainda não teve sua dinâmica explicada, o line-up do Lollapalooza promete a parceria de Ludmilla, Kevin o Chris (Ela é do Tipo, Vamos pra Gaiola) e PK (Quando a Vontade Bater), ao lado do produtor WC no Beat e dos rappers Filipe Ret, Felp 22 e Haikaiss.


Também alvo de críticas pela predominância branca entre as atrações de rap de suas edições anteriores, o festival de 2020 não falha em reconhecer os artistas de destaque da cena de hoje e antigamente, incluindo nomes como 509-E, Emicida e Djonga, além do headliner americano Travis Scott. Já no funk, a surpresa positiva fica ainda para a estreia de MC Tha, que lançou nesse ano seu primeiro disco, “Rito de Passá”, e já chegou com o pé na porta.

Como bem canta Ludmilla em “Favela Chegou”: respeita, caralho!

Com Lana Del Rey, Gwen Stefani, Charli XCX e Pabllo Vittar, confira o line up do Lollapalooza Brasil 2020

Vai começar mais uma temporada de Lollapalooza Brasil! O tão aguardado line up da edição de 2020 foi liberado nesta quinta-feira (10) trazendo nomes esperadíssimos, novidades e gratas surpresas. 

Para headliners teremos Guns N' Roses, The Strokes e o rapper Travis Scott, seguidos por Lana Del Rey, o DJ Martin Garrix e Gwen Stefani (!!!!). Não entendemos nada, mas amamos.



Teremos também Cage The Elephant, Vampire Weekend e James Blake, além de muito pop: Rita Ora, Charli XCX, Kacey Musgraves e Kali Uchis são alguns dos nomes escalados para 2020.

Novatos da música? Temos! O Lollapalooza é conhecido por trazer revelações ao nosso país, e na edição do ano que vem não vai ser diferente. Foram confirmados os shows de King Princess, BROCKHAMPTON, Hayley Kiyoko e YUNGBLUD, pra citarmos alguns.



Entre as atrações brasileiras, o Lolla vai entregar tudo o que pedimos e muito mais, com shows de Emicida, Pabllo Vittar (que também está confirmada como atração das edições argentinas e chilenas), MC Tha e um blocão de funk que vai contar com a presença de Ludmilla e Kevin O Chris. Agora sim!



Poppalooza sim, e os rockeiros/alternativos que lutem!

O Lollapalooza Brasil 2020 acontece nos dias 3, 4 e 5 de abril, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Corre pra garantir seus ingressos no site do evento. 

Crítica: sem histeria coletiva, “Coringa” não é nem incrível e nem descartável

Atenção: a crítica contém spoilers.

Indicado a 11 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Roteiro Adaptado
- Melhor Ator (Joaquin Phoenix)
- Melhor Fotografia
- Melhor Trilha Sonora
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som
- Melhor Figurino
- Melhor Montagem
- Melhores Maquiagem

* Crítica editada após o anúncio dos indicados ao Oscar 2020

Caso acompanhe o Cinematofagia, já deve ter percebido que eu não escrevo sobre filmes de super-herói. Pelo menos não os mais óbvios, aqueles blockbusters da Marvel e DC - tanto que fiz uma lista de filmes desse subgênero que não caem nos moldes abertamente comerciais que conhecemos. "Coringa" (Joker) nasceu com uma proposta diferente, um comic movie "sério".

A primeira amostra desse discurso veio quando a obra estreou na competição do Festival de Veneza 2019, o que foi uma surpresa. Só que ninguém esperava que o filme não só competiria em um dos maiores festivais do mundo como venceria o Leão de Ouro, o "Melhor Filme" de lá. Nunca antes um filme de super-herói conseguiu isso.

O hype estava instaurado. Desde a vitória, no começo de setembro, a película não saiu da boca do meio, e discussões acerca do prêmio pipocam até hoje - e a discussão ainda vai continuar, afinal, a corrida para o Oscar está só começando e "Coringa" já está na crista da onda. O Leão de Ouro de "Coringa" é controverso e, particularmente, um mal passo para Veneza enquanto vitrine cinematográfica.

Vou explicar: afirmo isso sem pôr na mesa os méritos (e deméritos) da fita, e sim sua produção. "Coringa" é da Warner Bros, uma das maiores produtoras do planeta e conglomerado poderosíssimo, além, é óbvio, de se tratar de um filme baseado em quadrinhos, o mais forte subgênero da cultura contemporânea. A prova? Qual a maior bilheteria de 2019 e uma das maiores de toda a história? "Vingadores: Ultimato". E ainda tem dois outros do mesmo mote no top 5, também com os cofres bilionários. Só nos EUA, "Coringa" teve lançamento simultâneo em mais de 4 mil salas, um número altíssimo, e dá para contar nos dedos quantos conseguem o mesmo luxo - e, não é de se estranhar, mal estreou e já tem $300 milhões em bilheteria.

Como esses fatos conversam com Veneza e o Leão de Ouro? O festival, assim como qualquer outro, é um prêmio da crítica - ao contrário dos Oscars e Globos de Ouro, que são prêmios da indústria. Sendo assim, é para torcer os olhos quando um prêmio da crítica dá a honraria máxima a um filme que não precisa de mais visibilidade e apreço. A produção de "Coringa", por si só, garantiria isso independentemente de qualquer fator, o que só ele, entre os concorrentes, poderia falar o mesmo.


Saber se "Coringa" era realmente o melhor da seleção, só assistindo a todos os indicados, contudo, já pontuei que não é esse o ponto. O ponto é: seria mais interessante festivais darem palco para filmes que nunca estrearão em mais de 4 mil salas, que jamais verão 10% do orçamento milionário de "Coringa" e que não nascerão já com o atestado de sucesso comercial - tendo em vista o número massivo de domínio nas salas de cinema mundo afora. "Coringa" não precisava do Leão de Ouro para ser visto, enquanto vários outros, que podem até ser melhores, serão vistos apenas nos cinemas "de arte" de metrópoles. É para se pensar.

Essa foi apenas a primeira das inúmeras polêmicas que gravitam ao redor de "Coringa" - e toda semana surge uma nova. Do problemático diretor Todd Phillips dando declarações estapafúrdias até o uso de uma música no filme cantada por um pedófilo condenado (e atualmente preso), toda essa publicidade negativa acabou sendo o velho "falem bem ou falem mal, mas falem de mim", e vários recordes de público já foram batidos logo na estreia. Deixei todo esse rolê de lado e sentei na expectativa de finalmente encontrar um longa de super-herói (ou, no caso, de um vilão) tão correto quanto "O Cavaleiro das Trevas" (2008).

Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um palhaço de festas em Gothan City, na década de 80. Com inúmeros problemas mentais, incluindo uma risada involuntária nos momentos mais inoportunos possíveis, Arthur se divide entre as idas à terapia e o trabalho, perdido quando ele leva uma arma a um hospital infantil.

Só pela premissa já dá para ter uma ideia de como "Coringa" é um filme dúbio. Arthur é introspectivo, sem um pingo de noção de sociabilidade e cada dia mais soturno, porém, ainda assim, é um palhaço animador de crianças com câncer. A inserção das risadas involuntárias é ainda mais irônica, surgindo em momentos de tensão ou tristeza profunda do personagem; é a desgraça acontecendo e ele rindo descontroladamente.

A Gothan que virá a ser protegida pelo Batman - que aparece aqui com uns 10 anos de idade - é pintada com frieza e escuridão: há um forte tom decrépito, falido e corrupto nos becos e avenidas da cidade, um reflexo não apenas do estado psicológico de seus habitantes, mas também de um EUA em plena era Trump. Há uma guerra fria do povo que tenta sobreviver em meio à miséria e à poluição, como se tudo estivesse prestes a explodir, e essas pressões são fundamentais para o entendimento da cabeça de seu protagonista.


"Coringa" é uma viagem direto ao precipício que jogou Arthur na insanidade completa que é o Joker. Em termos binários, é bem mais complexo o nascimento de um vilão do que de um herói - aliás, a jornada do herói é tão batida que é um macete narrativo com regras detalhadas e copiadas há tempos. E essa dificuldade reside na questão: o que aconteceu que pode, cinematograficamente, justificar a maldade de um vilão? O que o levou até ali?

Indo contra a história clássica, o Joker de Phoenix não surgiu após cair num tanque de resíduo químico - hoje não, "Esquadrão Suicida" (2016). "Coringa" tira todo e qualquer aspecto fantasioso de seu texto e destrói a mente do protagonista das maneiras mais críveis possíveis: é o meio que o torna quem é. Da infância cheia de abusos à uma atualidade renegada, Arthur sofreu desde antes de se entender como gente - e aqui reside o prisma mais preocupante da fita, o vitimismo de Joker.

No clímax, quando a loucura já tá espalhada por todos os poros de Arthur, ele justifica seus atos pelo desprezo social que cai em cima dele, e isso é um traço fundamental da cultura "incel", a bandeira mais levantada pelos detratores do filme. Entretanto, a coisa não é tão sensacionalista como o circo montado pela crítica (sem trocadilhos).

É sempre bom lembrar que estamos falando sobre um vilão, ou seja, não existe justificativa realmente aceitável para entendermos (e acharmos correto) crimes como assassinato - então, a "solidão social" de Arthur é tão comparável quanto a de Travis de "Taxi Driver" (1976), influença gigantesca para "Coringa", ou a de Alex de "Laranja Mecânica" (1971). E também não existe um extremismo perigoso do lado "incel" que tanto pintaram: Arthur é incapaz de se relacionar com uma mulher - a ideia básica do "incel", que literalmente significa "celibatário involuntário" -, porém, isso, em momento nenhum, é o maior peso na personalidade de Arthur - ele até tem um romance imaginário, que logo é esquecido.


Toda a raiva do protagonista não está engatilhada com misoginia, racismo ou homofobia - os gatilhos comuns envolvendo crimes de "incels" -, e sim engatilhada contra o capitalismo e o abuso de poder. Arthur se rebela contra aqueles que possuem força para estagnar injustamente a sua vida, e se torna um símbolo contra Thomas Wayne, o magnata da cidade e pai do futuro Batman - é, inclusive e indiretamente, graças ao Joker que Bruce perde os pais no assassinato no beco, o que desencadeará no surgimento do herói.

Mas não posso fugir da sensação preocupante de glamorizarão ao redor do Joker. Em uma das últimas cenas, ele é ovacionado após dar um tiro na cabeça de um apresentador ao vivo na tevê aberta. Enquanto dialogava internamente sobre o quão controverso é o momento, lembrei de "Relatos Selvagens" (2014); em um dos segmentos, um homem comum explode uma repartição do governo em um surto contra a burocracia do Estado, e, assim como o Joker, vira ícone da resistência. Só que há dois fatores imprescindíveis: em "Relatos", não há vidas tiradas e o ar crítico jamais se distancia da tela, o que não podemos dizer o mesmo de "Coringa".

Joaquin Phoenix, um dos mais interessantes e versáteis atores do nosso tempo, está bem na pele do vilão, mas nem é preciso comparar com Heath Ledger, que fez a mais incrível versão do personagem em "O Cavaleiro das Trevas", para perceber que seu Joker é bom, mas não sensacional. Todd Phillips pesa a mão nas cenas que gritam "vejam como ele atua!" sem necessariamente ter uma atuação tão genial na tela; há cenas que não dosam corretamente a caricaturização natural do personagem, que beira a forçação - fiquei satisfeito, no entanto, em ver que deixaram um ar flamboyant e debochado ali. O próprio Phoenix tem atuações melhores na sua filmografia - em "Ela" (2013) e "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" (2017), por exemplo.

O que há de melhor em "Coringa" é a veia niilista e misantropa de seus caminhos. Dentro de uma sociedade tão enferma, desigual e que retira a dignidade de suas pessoas, é árduo não ceder ao cinismo - e Arthur não apenas cede como graciosamente se afoga na falta absoluta de sentido quando afirma que sua vida não é mais uma tragédia, e sim uma comédia. O que mais choca no filme é como ele é tão próximo da realidade, como tantas cidades são réplicas de Gothan e seu sistema enferrujado, e quanto mais próximo, mais palpável e assustador. Não por acaso, é polêmico e complexo seu conteúdo, condizente com uma realidade à par.

Só que, a partir da segunda metade, o zoológico de exposição da atuação de Joaquin Phoenix rouba o palco em detrimento do aparato sócio-psicológico - o filme o entrega como o melhor na tela, e esse brilho não é proporcional ao espaço dado, com vários desenvolvimentos de contextos (esses sim, os protagonistas da trama) sendo deixados de lado. No momento que ele se torna o Joker, há uma queda na qualidade da fita, que se espetaculariza ao máximo para tentar atingir voos épicos e grandiosos, sem conseguir efetivamente. "Coringa" é como Arthur contando piadas: gargalha o mais alto possível no intuito de fazer a plateia rir junto, e, mesmo sendo divertido, não há tanta graça assim.

Pronta para lançar a próxima tendência do pop, Rihanna confirma álbum inspirado no reggae

Se você é do tipo que adora as músicas da Rihanna mais puxadas para o reggae, como "Man Down" e "You Da One", pode comemorar. É que os rumores de que o novo disco da artista beberá dessa fonte são reais, e ela falou um pouquinho sobre o que podemos esperar do tão aguardado R9 para a Vogue US.


Na entrevista, revelada nessa quarta-feira (09), a caribenha contou que gosta de ver o disco como "inspirado no reggae ou com uma infusão de reggae" e que "não será típico do que você conhece como reggae. Mas você vai sentir todos os elementos em todas as faixas". 

Reggae sempre fez sentido pra mim. Está no meu sangue. Não importa o quão longe ou removida da minha cultura eu esteja, ou do ambiente em que eu cresci; nunca vai embora. Tem sempre a mesma importância. Ainda que eu tenha explorado outros gêneros musicais, estava na hora de voltar para algo que eu ainda não tinha realmente homenageado em um disco completo.

Fofa, né? Vale lembrar que Riri sempre adianta as tendências da música: ela chegou com a onda eletrônica no "Loud" e no "Talk That Talk", visitou o urban no "Unapologetic" e trouxe o dancehall para os holofotes com o "Anti". Seria o reggae a próxima grande tendência do pop?

Além de falar sobre seu novo álbum, Rihanna revelou também que já está trabalhando em seu décimo disco, o que nos faz acreditar que o R9 já estaria prontinho para ser lançado. Estamos na torcida!

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