Crítica: mesmo parecendo mais adulto, o balão de “It: Capítulo 2” está murcho

Atenção: a crítica contém spoilers.

Após 27 anos do primeiro encontro com Pennywise (Bill Skarsgård), ou A Coisa, o Clube dos Perdedores é obrigado a voltar para a cidade de Derry e confortar de uma vez por todas o palhaço demoníaco que está disposto a continuar com sua matança. "It: Capítulo 2" (It Chapter Two) continua a saga iniciada em "It: A Coisa" (2017) dois anos após o lançamento deste que é a maior bilheteria de um terror em toda a história (sem o ajuste inflacionário) - foram $700 milhões ao redor do globo.

Desde o início da produção da sequência, um fato me chamava muita atenção: como os atores escolhidos para interpretarem as versões adultas eram bizarramente parecidos com as crianças do primeiro filme. Não vou nem citar a lista dos nomes, porém eles parecem ter sido escolhidos a dedo - e até coadjuvantes são iguais aos atores mirins. Mais sorte ainda quando nomes tão grandes como Jessica Chastain, James McAvoy e Bill Harder aparecem no casting.

O filme é aberto, assim como o anterior, com um assassinato pelas mãos do Pennywise, para avisar que o palhaço já está na ativa. Contudo, o caso do "Capítulo 2" já chegou envolto de controversas: um casal gay é brutalmente espancado por um grupo homofóbico, e um deles é morto pelo Pennywise. Já adianto: não li ao livro de Stephen King. Lendo comentários acerca, soube que a passagem em específica contém no material original, porém, na tela, a cena é preocupantemente descontextualizada.

A ideia, imagino, era fomentar a áurea de violência da cidade, quase exalada a partir da presença de Pennywise - um dos criminosos inclusive fala "Bem-vindo à Derry" quando espanca um dos gays. Todavia, é muito diferente da morte de Charlie no primeiro filme, já que foi inteiramente feita a partir de um monstro sanguinário e não-humano. Ver corpos homossexuais sendo violentados por puro ódio e que não acrescentam na narrativa só tem um nome: gratuidade.


Quando os pedaços do cadáver deste personagem - interpretado pelo reizinho Xavier Dolan, já acostumado a sofrer quando atua em filmes - são encontrados, é o alerta de que os Losers devem voltar e impedir que as mortes continuem se espalhando. O primeiro ato começa com Mike (Isaiah Mustafa), o único do grupo original a nunca ter saído de Derry, ligando para todos os outros amigos de infância e informando para eles correrem até a cidade.

Pois bem, esse início é deveras confuso. Não fica muito claro qual a dinâmica que está acontecendo entre os personagens que foram embora: eles parecem não se lembrar dos eventos da infância. Após a sessão, fui ler sobre e descobri que sim, no livro é isso que acontece, no entanto, o filme presume esse conhecimento prévio (e indevido) e não se preocupa em desenvolver o que é a base para o pontapé inteiro da trama. Ora parece que os personagens lembram de nada, ora que lembram de alguma coisa, é uma desordem sem tamanho.

O único que lembra de tudo é Mike, exatamente por não ter saído da cidade. Essa dinâmica é tão contraditória que, fundamentalmente, quem saiu da cidade se recorda de nada, entretanto, Ben (Jay Ryan), o ex-gordinho e agora malhadíssimo que eventualmente vai mostrar sua nova barriga de tanque, ainda nutre um amor por Bervely (Chastain) vinte e sete anos depois. Supera.

Mesmo sendo os mesmos personagens do primeiro longa, os protagonistas são pessoas diferentes, afinal, quase três décadas se passaram. O roteiro é corrido demais ao abordar suas vidas presentes, o que apresentaria ao espectador quem eles são no agora - há pontuações interessantes, principalmente no caso de Bervely, presa em uma repetição da relação extremamente abusiva com seu pai; seu atual marido é um psicopata que a trata como objeto. Um deles até comete suicídio e nem aparece por dois minutos inteiros, um peso narrativo irrisório.

Aí começa o segundo passo do plot. Mike explica os acontecimentos e diz já ter um plano para matar A Coisa, um ritual indígena que também ilustra como o palhaço chegou em Derry: pegando carona em um meteorito. Sim, Pennywise é um alienígena. Enquanto essa mitologia é muito boa, o lado do ritual é apresentado de maneira incongruentemente pronta. É como uma receita que magicamente brotou do chão, sem preparação ou background algum para o público.


E falando em receita, "Capítulo 2" é uma cópia da estrutura do filme antecessor. Podemos pensar, "bem, é uma decisão lógica, afinal, é a continuação", mas não, não é. No "Capítulo 1", nós acompanhamos cada um dos personagens enfrentando Pennywise particularmente, e a mesma coisa acontece aqui. Uma enorme parte da duração - que é bem robusta, quase 3h - é dedicada à separação de seus peões e cada um deles esbarrando com os terrores d'A Coisa.

Mesmo havendo momentos inspirados - a sequência da Bervely com a idosa é ótima -, é uma repetição gigantesca e previsível. Sabemos cada passo, cada susto, cada desdobramento, o que não engrossa uma atmosfera, afinal, uma das premissas básicas do terror é o medo do inesperado. Andando passo a passo atrás do molde original, surpresas quase não estão à vista.

Algo que me chamou atenção é como a película não é.........adulta. Não esperava algo cerebral ou cult, mas "Capítulo 2" não amadurece sua narrativa em momento algum, além de empalidecer quando posto lado a lado com o elenco infantil. Soa estranho quando temos atores consagrados não dando conta de superarem um bando de crianças, e fica cristalino quando o filme embarca em flashbacks e coloca protagonistas originais na tela. Eles possuem muito mais química e um tom mais correto.

Se o primeiro é uma aventura macabra, o segundo não alcança uma coesão de estilo, afinal, aquele grupo de quarentões caindo em trapalhadas é desconcertante. O que deveria ser mais sério e atmosférico é apenas uma emulação do que deu certo antes - e que, obviamente, não funciona de modo igual. "Capítulo 2" é, sim, mais "assustador" - não chega a dar medo, todavia, possui uma gama bem legal de ideias de terror (a cabeça com pernas de aranha é uma delícia) - só que são tantos tiros para todos os lados que se torna uma bagunça com supérfluos - subtramas, como a do garotinho na sala de espelhos, podiam ser descartadas.

Depois de horas de sustos (alguns bem baratos), chegamos no "vamo-vê", o embate com Pennywise. O clímax já começa errado quando o tal ritual que caiu dos céus serve para coisa nenhuma e é esquecido rapidamente - o que também joga fora a relevância narrativa do momento em que os personagens se separam. Quando cara a cara com A Coisa, agora em forma de uma aranha enorme, a montagem ruim vai derrubando o que já estava fraco.


A solução do problema é a última pá de terra no enterro do filme: os Losers começam a xingar e menosprezar Pennywise, que vai (fisicamente) diminuindo até chegar a um ponto que seu coração fica exposto, a peça chave de sua existência. Em um primeiro estalo, achei curioso o conceito da derrocada do vilão: Pennywise é a personificação do bullying - ele ataca as inseguranças e medos de suas vítimas, como qualquer "valentão" -, e só é derrotado quando o bullying se volta contra ele. No campo das ideias, o gosto desta solução é doce, porém, na tela, é cinematograficamente preguiçosa.

E de preguiça o terror comercial e hollywoodiano entende. Forças sobrenaturais, demônios imbatíveis, entidades sanguinárias são, geralmente dentro desse nicho, derrotados por uma artimanha patética. Quer exemplos? A maior franquia de terror moderna é "Invocação do Mal", que já rendeu vários spin-offs e dinheiro aos baldes, e os dois filmes principais da saga possuem a mesma preguiça: em "Invocação do Mal" (2013), o satanás vai embora com pensamentos felizes; e Valak, o demônio em forma de freira em "Invocação do Mal 2" (2016), cai por terra ao ouvir seu nome. Simples assim.

Vendo por um lado positivo, além de ser uma sessão que não cansa tanto para a longa duração, "Capítulo 2" abraça uma metanarrativa criativa quando coloca o Stephen King em pessoa falando mal dos finais de suas próprias histórias - uma ideia pra lá de disseminada entre os leitores -, além de gerar referências bem divertidas do universo kinguiano, como para "O Iluminado" (1980) - tem um "Heeere's Johnny!" - e "Carrie: A Estranha" (1976) com a inundação de sangue.

A impressão que "It: Capítulo 2" desenha à plateia é que parece ser um filme andando com muletas: está preste a cair a qualquer momento, mesmo não indo ao chão de fato. A vivacidade que residia na obra anterior abre espaço para uma irregularidade colateral - o roteiro formulaico e efeitos visuais ruins explicam. Sempre será um prazer ver Bill Skarsgård encarnando um dos vilões mais icônicos da contemporaneidade cinematográfica, mas nosso retorno à Derry não é o prazer que foi a primeira vez que chegamos nessa cidadezinha infernal. Talvez, na próxima, o balão vermelho não estará tão murcho (Skarsgård já afirmou que voltaria para um terceiro).

E taca stream nesses anjos! O clipe de "Don't Call Me Angel", de Ariana, Miley e Lana, está entre nós

Finalmente! "Don't Call Me Angel", a tão aguardada parceria entre Ariana Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey para o novo "As Panteras", foi lançada nessa sexta-feira (13) e, da música ao clipe, podemos comprovar: valeu toda a espera. 

A canção, produzida pelo trio Max Martin Ilya, conhecidos por serem colaboradores de longa data da própria Ariana, é um hit certo e tem grandes chances de chegar ao #1 na Hot 100, fazendo de 2019 o ano com mais canções femininas em nº 1 na década. Tem nossa torcida!


No vídeo da música, com direção de Hannah Lux Davis, Ariana, Miley e Lana se transformam nas panteras, ou nos "anjos do Charlie", como o título do filme ficaria em uma tradução literal. Elas treinam para missões, mostram suas habilidades de espiãs e ainda aproveitam pra se divertir muito em um casarão. 



Anjos que nunca erraram!

"Don't Call Me Angel" fará parte da trilha completa de "As Panteras" que terá curadoria de Ariana, assim como a soundtrack oficial de "Pantera Negra", que ficou nas mãos de Kendrick Lamar, e a de "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1", que teve curadoria da Lorde. De acordo com a Billboard, o álbum completo chegará no dia 1º de novembro. 

Já o filme, estrelando Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska, e com direção de Elizabeth Banks, chega no dia 15 desse mesmo mês. 

Bate panela, coesão e aclamação! Charli XCX lança seu novo disco, "Charli"

Era aclamação que você queria? Pois você vai ter!

Depois de anos desde o lançamento de seu último disco - pra quem na se lembra, foi o "Sucker", lá de 2014 -, um EP e duas mixtapes experimentais no caminho, Charli XCX lançou nessa sexta-feira (13) seu terceiro álbum, chamado apenas de "Charli".

Se o nome é simples, o mesmo não podemos dizer da sonoridade. Fazendo valer o uso de seu próprio nome como título do disco, Charli traz a síntese de tudo o que explorou nos seus trabalhos passados, com o "Vroom Vroom", "Number 1 Angel" e "Pop2": ela está mais pop, mas sem abandonar o bate panela de PC Music que a gente tanto ama e que virou uma marca registrada da artista. 

Com produção executiva da própria com o produtor e parceiro de longa data A.G. Cook, o "Charli" tem 15 faixas, sendo 8 delas parcerias, e é um disco coeso, daqueles que você nem sente o tempo passar. Entre os destaques, estão as já lançadas "Cross You Out", com a Sky Ferrera, e "Gone", com a Christine & The Queens, além de, claro, "Shake It", a super-esperada parceria da britânica com Big Freedia, CupcakKe, Brooke Candy e Pabllo Vittar.

Já mostrei que eu sou queen, falo sério pra vocês, a coroa é pesada, mas eu me acostumei!

Vem, era disco! Dua Lipa lançará primeiro single de seu novo álbum nos próximos meses

Agora vai!

Presa em cativeiro durante meses para focar na criação de seu segundo disco, Dua Lipa vai finalmente dar o pontapé inicial em sua nova era, que promete ser dançante ao explorar uma sonoridade disco. Em entrevista liberada pela revista NME nessa terça-feira (10), ela confirmou que seu novo single chega nos próximos meses. 

Seu novo projeto, segundo a artista, traz um som "mais maduro" e fez com que ela corresse mais riscos. Para o sucessor do "Dua Lipa", a cantora fez cinquenta a sessenta faixas numa pegada que, quem já ouviu, descreve como "disco-heavy"

Ao falar sobre o material, que vai ter muita "instrumentalização ao vivo", como a presença de Nile Rodgers já indica, Dua o descreveu como "apenas uma festa" com "muitos elementos nostálgicos". "Eu sinto que você poderia dançar durante todo esse disco", ela disse. 

Pode vir, Dua, que nós estamos prontos pra dançar!

Lucas Santtana e Duda Beat só querem amar ao som de um forrozinho em “Meu Primeiro Amor”.

Não é segredo pra ninguém que a música nordestina é extremamente rica, cheia de grandes nomes que marcaram a história e um pedaço caloroso do Brasil que não cansa de nos presentear talentos. E uma das artistas em maior ascensão de lá, sem dúvidas, é a pernambucana Duda Beat

A “Rainha da Sofrência Pop”, como é carinhosamente apelidada por seus fãs, não cansa e já engatou sua terceira parceria em 2019, agora ao lado do baiano Lucas Santtana no forrozinho apaixonado de “Meu Primeiro Amor”.


Mas não se engane se você acha que música de amor não pode fazer uma crítica social também. Entre um verso e outro a letra fala sabre xenofobia, diferença de classes e, claro, política. É ou não é uma bela mensagem de que o amor vence as barreiras do preconceito?

Em tempo, “Meu Primeiro Amor” é o primeiro single do novo álbum de estúdio de Lucas Santtana, o “O Céu é Velho Há Muito Tempo”, que chega em outubro de 2019. Enquanto não sai o álbum, arrasta os moveis e começa a treinar o dois pra lá dois pra cá.

Jesy Nelson, do Little Mix, fala sobre suicídio e cyberbullying em trailer de seu documentário

Atenção: deixamos aqui um Trigger Warning, aviso de conteúdo sensível. Só leia se você se sente estável mentalmente para falar sobre esses assuntos. :) 

A integrante do Little Mix, Jesy Nelson, publicou em seu instagram o primeiro trailer de “Odd One Out”, seu documentário. O longa contará sua trajetória, bastidores da carreira e abordará assuntos como suicídio e cyberbullying, e conta também com depoimentos das outras integrantes da girlband sobre a situação vivida pela amiga.




“Então é isso, gente! Aqui está o trailer oficial do meu documentário ‘Odd One Out’, que vai estrear na BBC na quinta-feira (12). Eu passei por uma jornada e tanto desde que as filmagens dele começaram e encontrei algumas das pessoas mais inspiradoras. Mal posso esperar para finalmente compartilhá-lo com o mundo e espero que isso ajude outras pessoas que podem estar passando por isso”.

Desde o início do Little Mix, lá no The X Factor UK, a cantora bateu de frente com o que há de pior nas redes: cyberbullying, comentários ofensivos e até desejos de morte. Chamada de "gorda" e a "feia do grupo", Jesy entrou em depressão e chegou até a tentar suicídio. Com muita terapia e após deletar sua conta no Twitter, ela conseguiu passar por cima dessas problemas e, hoje, está bem consigo mesma, sendo um grande exemplo para todos nós. Rainha! <3

“Odd One Out” foi produzido pela BBC e  tem data de estreia prevista para o dia 12 de setembro.

O #1 vem? Parceria de Ariana Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey ganha data de lançamento e teaser

O hino da trindade do pop, Ariana Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey, já tem data de lançamento. “Don’t Call Me Angel” será trilha sonora do filme “As Panteras” e sairá na próxima sexta-feira (13/9). O anúncio especial foi feito pelas artistas em suas redes sociais. 

Ariana Grande está responsável pela curadoria da soundtrack completa do filme em parceria comMax Martin, Ilya e Savan Kotecha. Foi ela que convidou Miley e Lana para participarem de "Don't Call Me Angel". Em recente entrevista, Lana contou  detalhes sobre a gravação dá faixa: “Eles queriam que eu escrevesse algo, então cortei um verso da Ariana em uma ponte e depois a Miley entrou. É [uma música] realmente bem apimentada”.

Para nos deixar ainda mais ansiosos (como se isso fosse possível!), Ariana postou uma prévia do videoclipe da canção, que chega também na sexta e foi dirigido pela Hannah Lux Davis. Dá uma olhada:

Já estamos em contagem regressiva para ouvir a combinação das vozes das nossas divas. 

Crítica: a viagem surrealista (e por vezes assustadora) de Melanie Martinez com o “K-12”

Quando Melanie Martinez anunciou que tinha planos de transformar seu segundo álbum de estúdio em um filme, achei que seria uma empreitada quase impossível. Uma gravadora apostar suas fichas (e seu dinheiro) em um longa é algo para poucas Beyoncés, mas a menina conseguiu. Quatro anos após o lançamento de sua estreia, Melanie lança o filme "K-12" (de graça no YouTube!).



O conceito artístico de Melanie gira em torno de Cry Baby, que foi apresentada através dos 13 clipes retirados do seu álbum de estreia. Em "K-12", a garota vai até a escola, onde encontrará dificuldades em um meio absolutamente repressor. Caso você não tenha assistido aos clipes anteriores, a história do "K-12" se transcorrerá sem grandes problemas - porém é claro, ter a bagagem da história da personagem só acrescentará.

"K-12" é um musical, com todas as treze músicas do álbum de mesmo nome inseridas dentro da narrativa. Desde o primeiro quadro, o que há de mais forte da produção é vigente: seu visual. O universo criado por Melanie - que dirige e roteiriza o filme - é expandido ao máximo imageticamente. Tudo extremamente colorido, com babados e lacinhos, o mundo de Cry Baby é uma mistura perfeita de Wes Anderson com "Desventuras em Série" (2017-19). Há uma clara preocupação na construção de todas as cenas e suas locações faraônicas, figurinos exagerados e até perucas cada vez mais insanas, tudo primordial para fomentar a atmosfera do longa, uma fantasia com ares vitorianos e barrocos. 


A K-12, escola de Cry Baby, é um sistema refletor bem exagerado - e crível - da nossa própria realidade: controlada por um tirado diretor, os alunos são oprimidos das mais bizarras formas. Essa história conhecemos de perto. Inclusive a faixa que fala diretamente com o diretor é um hino contra diversos líderes políticos mundiais, ascendidos pela crista do conservadorismo - os Trumps e Bolson*ros da vida. E como esperado, a protagonista é a voz da resistência: "Você não sabe a dor que está causando /  Sim, suas ações machucam, assim como suas palavras / Quanto mais você tenta nos ferrar / Mais estaremos lá gritando na sua porta".

Aliás, as músicas são elementos fundamentais na narrativa; elas não estão ali só para animar uma cena. As letras são partes integrais do roteiro, e você precisa estar atento à elas para poder entender o que está rolando, afinal, a maior parte do texto é cantado. Quando o filme se distancia das músicas, sua força é empalecida - fica evidente que o processo de criação começou pelas músicas, para depois o roteiro surgir e conectar tudo.

E isto é uma faca de dois gumes: enquanto potencializa o que há de melhor ali - porque, querendo ou não, Melanie é uma cantora, não uma cineasta -, também mostra as fraquezas do seu lado puramente cinematográfico. Há momentos que a história não alcança grandes passos apenas pelo seu roteiro, precisando das músicas para poder sair do lugar - além de sequências que subutilizam as canções, como o caso de "Recess". Contudo, quando o trabalho ao redor das músicas acertam, são fenomenais - a sequência de "Orange Juice" é belíssima.


É curioso ver como o público consumidor de Melanie tem uma enorme parcela de adolescentes (e até crianças), o que é assustador: sua arte, definitivamente, não é destinada para plateias tão novas. Em 15 minutos de filme já tinha rolado maconha, cocaína e bunda de fora. Todavia, concomitantemente, a artista está ciente de que precisa ser porta-voz de temas necessários dentro do contexto em que habita, e o "K-12" é deveras feminista. Até a divindade suprema do filme não é o Deus convencional, e sim Lilith, a primeira mulher de Adão que se rebelou contra a submissão (e interpretada por uma mulher negra).

Melanie declama (e canta) sobre diversas inseguranças de tantas garotas: seus corpos, bombardeados de pressões para um modelo perfeito ("Eles querem uma bunda grande em um jeans novo / Essa não é a vida para mim / Eu não quero parecer com a merda de uma Barbie", ela afirma em "Lunchbox Friends"); a cultura do estupro, que objetifica e ainda culpabiliza a figura da mulher ("Os garotos agem como se nunca tivesse visto pele antes / Tenho que ir para casa me trocar porque minha saia é muito curta / A culpa é minha, eu coloquei cobertura por cima / E agora os garotos querem provar desse bolo", em "Strawberry Shortcake"); e o tabu (ultrapassadíssimo) da menstruação. Destaco a cena em que Cry Baby (literalmente) troca de olhos com uma amiga, para que ela se veja com olhos menos condenatórios. Sororidade em seu estado bruto.

Dentro dessas temáticas, tudo é bem didático, quase expositivo, o que é importante para deixar claras suas mensagens de empoderamento e auto-aceitação, até porque o mote colegial é pra lá de batido quando visto de maneira objetiva. Quando os temas são mais complexos, Melanie decide trabalhar por meio de metáforas e ilustrações, como em "Teacher's Pet", que entra em algo bem obscuro: a pedofilia. A letra e a sequência visual podem causar náuseas quando temos um professor seduzindo uma de suas alunas: "Você tem mulher e filhos, você os vê todo dia / Se eu sou tão especial, por que sou um segredo? / Você se arrepende das coisas que nós fizemos que eu nunca vou esquecer?".


A variedade de temas é tão grande dentro do filme que, inevitavelmente, um ou outro não iria receber o tratamento necessário. "K-12" aborda gênero, transexualidade, racismo, bullying, distúrbios alimentares, desvalorização da arte, etc etc etc. E, sejamos sinceros, Melanie não é uma roteirista, falando em termos técnicos. Ela é, sim, uma exímia contadora de histórias, que consegue transformar um álbum em uma grande peça para ser apreciada em sequência, no entanto, ela não possui um background de linguagem, e isso fica gritante em vários momentos. Há arcos que são abertos e abandonados; outros que encontram desfecho, mas insatisfatoriamente; e alguns que nem sentido fazem.

É importante termos em mente que o filme só pode ser levado a sério até certo ponto - ele é uma fantasia, no fim das contas, então se permite burlar a lógica. Assim como em "Desventuras em Série", tudo é bastante whimsical, lúdico e por vezes macabro, e a mistura surrealista funciona. Cry Baby e suas amigas são basicamente X-Men, possuindo poderes sobrenaturais que as farão sobreviver àquela tortura - e só me recordava de "Inferno no Colégio Interno", o quinto livro da saga literária "Desventuras". Felizmente, os efeitos visuais dão conta de nos transpor até o universo que, assim como em "Peles" (2015), é enganosamente colorido - há muita sujeira escondida em cada canto da K-12.

Para alguém sem embasamento teórico de linguagem cinematográfica (e feito de forma quase independente), Melanie Martinez realiza um competente filme. Se o roteiro por vezes falha - e as atuações, majoritariamente feita por não-profissionais, não sustentam como deveriam -, o "K-12" compensa em composições imagéticas fantásticas e músicas teatrais e socialmente engajadas - chegam até a soarem misantropas. Aqui temos um estilo - visual e musical - que pode não ser tão saboroso em todos os paladares, porém, Melanie demonstra seu poder em autenticidade, relevância e olhar crítico, qualidades que todo artista busca, mas que nem sempre conseguem.

É um testemunho de rebeldia, raiva, revolução! Camila Cabello taca fogo em tudo no clipe de "Shameless"

É oficial: a era "Romance", nome do segundo disco de Camila Cabello, começou. A "Señorita" deu o pontapé inicial na divulgação do material nessa quinta-feira (05) com o lançamento de dois singles.

A sombria "Shameless", primeiro single oficial do álbum, foi produzida pelo trio The Monsters & Strangerz em parceria com o watt e traz toda uma atmosfera mais sombria, com Camila explorando seu vocal de uma maneira que ainda não tínhamos ouvido. A canção ganhou também um clipe super produzido, no qual a cubana aparece assumindo seus pecados e sendo consumida pela paixão, sem pudor algum, como canta na música. 

Com muita coreografia e fogo, o clipe de "Shameless" traz uma vibe meio caça às bruxas, que não esperávamos ver Camila apostar e que não tem exatamente a ver com a estética que ela tem compartilhado em suas redes sociais para essa era, mas que acabou se tornando uma grata surpresa e fez todo o sentido ao ser combinada com a faixa. 



A segunda amostra do "Romance" é a latina "Liar". Com um saxofone poderoso, a faixa explora um pouco mais das raízes cubanas da cantora, mas em nada se assemelha com "Havana". Nos soa como algo que o Clean Bandit certamente faria. Escuta só:



Camila revelou que deve lançar muitas outras músicas nas próximas semanas: "eu quero fazer com que esse álbum seja mais do que músicas que estou lançando, quero que seja um mundo". Para o "Romance", a artista contou também com a colaboração do FINNEAS, irmão e produtor de Billie Eilish, em algumas composições. 

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