Crítica: "A Qualquer Custo" usa o faroeste para fazer sua elétrica crítica às mazelas do capitalismo

Indicado ao Oscar de:

- Melhor Filme
- Melhor Ator Coadjuvante (Jeff Bridges)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Montagem

Assim como “La La Land: Cantando Estações”, “A Qualquer Custo” enfrenta certo preconceito em relação ao seu formato. Um neo-western, ou “faroeste moderno”, o longa faz com que o espectador coloque os dois pés atrás e até desista de vê-lo. É interessante que, também como “La La Land”, que é um musical, o formato de “A Qualquer Custo” já foi um dos mais celebrados do cinema. 

Imagem: Divulgação/Internet
Os “filmes de cowboy” fizeram sucesso na década de 30 em Hollywood, com John Wayne sendo um dos principais e mais famosos nomes do gênero. Mas, ao contrário dos musicais, que já levaram 11 estatuetas de “Melhor Filme”, o faroeste só alcançou o topo do Oscar quatro vezes: em 1931 com “Cimarron”, 1991 com “Dança Com Lobos”, 1992 com “Os Imperdoáveis” e em 2008 com “Onde os Fracos Não Têm Vez”, o que é até estranho, já que o gênero é tão típico e amado nos EUA.

Assim como todos os gêneros cinematográficos, o faroeste foi mudando com o passar do tempo, adaptando-se às novas tendências e, claro, refletindo a realidade atual. Então acalme-se e não espere um “Três Homens em Conflito” aqui – em “A Qualquer Custo”, o “novo-faroeste” é só a forma de bolo da obra.

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Dirigido por David Mackenzie, o filme conta a epopeia de dois irmãos para salvar a terra da família, atolada em dívidas e prestes a ser perdida para o banco, através de vários roubos de bancos. Tanner (Ben Foster) é ex-presidiário alucinado, enquanto Toby (Chris Pine), molde do “bom moço”, tenta apaziguar toda a loucura do irmão, mesmo entrando no crime. No encalço dos dois estão Marcus Hamilton (Jeff Bridges), um xerife racista e seu parceiro indígena Alberto Parker (Gil Birmingham), saco de pancadas verbal que aguenta inúmeras piadas infames sobre sua ancestralidade.

O filme alterna os pontos de vista, ora sobre os irmãos, ora sobre os policiais. Há um balanceamento bastante esperto por parte do roteiro de Taylor Sheridan. Os irmãos são claramente “vilões” no sentido mais elementar da palavra, já que ambos cometem os crimes que movem a história, porém é muito difícil não sentir empatia pelos dois, principalmente Toby. A cumplicidade entre eles e, principalmente, o contexto que os levou a roubar, consegue moldar um sentimento positivo na plateia, principalmente contra do outro “time”, liderado por um babaca preconceituoso que diminui o colega de trabalho em prol do próprio prazer.

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Pouco a pouco o passado dos irmãos vai sendo revelado e os dramas familiares desenterrados, o que dá ainda mais peso ao arco narrativo motivacional dos irmãos. Haveria uma desconexão e até repulsa por parte do público caso as razões para que eles façam os crimes não ficassem tão claras e fortes. É tipo torcer pelo Walter White em “Breaking Bad”, mesmo sabendo que o que ele faz é errado e passível de culpa em qualquer situação externa.

Outro elemento bastante criativo é a inclusão de placas e outdoors durante todo o filme, mais exatamente quando os irmãos vão até os bancos assaltar, com propagandas sobre empréstimos e saldo de dívidas. Os personagens – e nós, aqui desse lado da tela – somos constantemente lembrados como o dinheiro é importante e como a falta dele é a ruína absoluta. Enquanto passam por essas placas, um combustível a mais é injetado nas veias de Toby e Tanner.

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E é exatamente aqui que reside uma das maiores belezas de “A Qualquer Custo”: o estilo neo-western é apenas o esqueleto da obra – sua carne é formada por uma crítica às mazelas do capitalismo. O “american dream” já se encontra num ponto distante em plena segunda década do século XXI, restando as rachaduras desse utópico mundo perfeito. Obviamente o crime não é a solução para esse sistema que apresenta muitos problemas, mas as ações do filme rendem ótimas e relevantes críticas sociais.

Se o formato faroeste está no espaço geográfico, na noção de justiça e, claro, no jogo de gato e rato entre o xerife e os bandidos, a outra totalidade da obra abraça o suspense e a ação – as cenas dos roubos são deliciosamente bem construídas pela dinâmica dos irmãos, enquanto suas fugas são elétricas e energizantes. A fotografia – linda de doer –, que dá foco nas cores daquele mundo decrépito, é potencializada pela montagem ágil e ditadora do ritmo. Não há composição técnica fora do lugar em “A Qualquer Custo”.

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Há, como é de esperar, clichês dentro do roteiro, principalmente por parte de Hamilton, o xerife de meia idade, prestes a se aposentar, se agarrando ao seu último caso – e interpretado com louvor por Bridges. No entanto, bastante inteligência é empregada no personagem, o único ali a entender o método de roubo dos irmãos. Com o decorrer do longa, cria-se o palco para que os dois núcleos finalmente se encontrem para a derradeira batalha do binarismo “bem X mal” – felizmente bem composto pelos subtextos de cada núcleo.

“A Qualquer Custo” é um filme econômico e simples, mas corretíssimo e contemporâneo. Há um belo acréscimo ao gênero e principalmente relevantes discussões sociais sobre a ganância dos bancos, a concentração de dinheiro e poder, os corredores sujos do sistema e como as pessoas se vêm forçadas a burlá-lo quando são postas em posição de aceitação da própria pobreza. No fim das contas, todos ali são vítimas das mãos de ferro do capitalismo e o binarismo deixa de existir. Um filme que encontra beleza no confronto do lado mais feio do sistema e prova que nem sempre o maior acerto é uma história totalmente nova, mas sim a forma como você conta uma história já conhecida.

Fica, vai ter hit! A parceria do Zedd com a Alessia Cara, "Stay", é inesperadamente boa

No comecinho do ano Zedd e Alessia Cara confirmaram que tinham uma parceria chegando, o que nos pegou de surpresa por ser algo extremamente inusitado, já que os dois pertencem a estilos musicais muito diferentes. E agora que "Stay" foi lançada, não é que a colaboração é muito boa? 

Soando como uma mistura de electro house com R&B e um pouquinho de tropical house, a música funciona principalmente para a Alessia, que consegue sair da sua zona de conforto e experimentar algo diferente sem necessariamente deixar seu estilo, que já é tão característico, de lado. É refrescante vê-la se jogar sem medo no eletrônico, e serve também para segurarmos a ansiedade enquanto seu segundo disco não vem.



O DJ contou na descrição do vídeo que a ideia de colaborar com a canadense surgiu nos ensaios do HALO Awards, onde ambos e a cantora Daya performaram juntos. Ele disse que sempre amou as músicas dela (quem não, né?), mas só percebeu o quão talentosa ela era nos bastidores, e aí a chamou para participar da faixa. E ainda bem que chamou!

Como a canção está creditada aos dois, ainda não sabemos se ela será o carro-chefe de um possível novo álbum do Zedd ou apenas um single avulso. 


Um nova imagem do live-action de "Fullmetal Alchemist" está entre nós, e estamos surtando


Otaquinhos, vocês acharam mesmo que iríamos esquecer da adaptação em live-action do maior anime que respeitamos? No ano passados fomos pegos de surpresa com o incrível teaser de "Fullmetal Alchemist", principalmente pelo CGI que estava maravilhoso. Agora temos, finalmente, o visual de Alphonse Elric e tá lindo pra caralho.


Se fidelidade é algo que os fãs tanto clamam, parece que "FM" será a produção certa. O visual do garoto preso numa armadura já dava indícios de ser bem fiel ao original logo no primeiro teaser, e é com esta imagem que temos certeza. É como se o Al dos mangás tivesse saltado para as telonas.

O anime/mangá gira em torno de dois irmãos, Edward e Alphonse Elric, que após tentarem ressuscitarem a mãe morta sofrem consequências graves. Ed, o mais velho, perde o braço direito e perna esquerda, enquanto Al perde seu corpo inteiro, tendo então sua alma fixada em uma armadura. Daí em diante, caminhamos com os dois numa jornada para reverter os problemas.


A produção chega aos cinemas em dezembro lá no Japão. Como é esperado, o filme está longe de chegar aos cinemas ocidentais.

Dua Lipa não consegue parar de pensar naquela pessoa especial no clipe de "Thinking 'Bout You"

Dua Lipa finalmente está acontecendo e fazendo o sucesso que merece (pelo menos no Reino Unido) com "Be The One" ocupando atualmente a nona posição na parada britânica e se tornando seu primeiro hit solo a entrar no Top 10. Agora, ela quer mais, e vem apostando com força na romântica "Thinking 'Bout You", que ganhou seu clipe ontem (22).

No vídeo, que é bem simples e combina bastante com o esse estilo R&B acústico da música, vemos Dua na cama, só conseguindo pensar naquele alguém especial e sofrendo, tudo isso em diversos ângulos. Só faltou um pouquinho de expressão facial por parte da cantora, né?



Apesar de ter ganhando um vídeo, "Thinking 'Bout You" deve funcionar apenas como um single promocional, já que Lipa continua divulgando bastante "Be The One".

Além de estar bombando sozinha, Dua Lipa também tem feito sucesso acompanhada. No Top 15 do chart do UK ela ainda tem "No Lie", parceria com o Sean Paul, e "Scared To Be Lonely", com o Martin Garrix, provando que está mais do que bem encaminhada e que seu nome está ganhando muita força.

O primeiro disco da cantora chega no dia 3 de junho e contará com "Thinking 'Bout You", "Be The One", "Blow Your Mind (Mwah)" e muitas outras, e todas já tem registros visuais. Se ela continuar nesse ritmo já dá até pra lançar um álbum visual, hein? 

Que hino! Gloria Groove anuncia a pop “Gloriosa” como seu próximo single

Gloria Groove é uma das melhores coisas que aconteceram no pop nacional nos últimos meses e, semanas após a estreia do seu primeiro álbum, “O Proceder”, a drag queen brasileira confirmou qual será a sua próxima música de trabalho, sucessora dos hinos “Dona” e “Império”.



Durante um bate-papo com seus fãs, transmitido pela distribuidora musical ONErpm, Groove anunciou a escolha de “Gloriosa” como seu próximo single, sendo esse seu primeiro single direcionado para o público pop.

A faixa, levada por uma sonoridade noventista, é um dos passos mais comerciais da drag até aqui, e pode ser ouvida na integra pelo Spotify:



Nessa conversa com seu público, Gloria explicou que tem planejado os próximos passos de sua carreira de maneira cuidadosa, levando tudo ao seu tempo, mas que planeja outros singles e videoclipes pela frente, garantindo ainda que, após “Gloriosa”, deve trabalhar a dancehall e abrasileirada “Muleke Brasileiro”.



“O Proceder” marca um dos momentos mais plurais da música pop nacional, que há pouco abraçou o álbum de estreia da Pabllo Vittar e o EP da Lia Clark, que também são drag queens, e a maneira como todas tem trabalhado em parceria, tem contribuído pra que levem suas músicas e discursos para um público cada vez mais amplo. São as donas da porra toda mesmo.

Assista ao vídeo com o bate-papo completo abaixo:

Katy Perry: “Como eu poderia fazer uma música dançante enquanto o mundo pega fogo?”

Katy Perry lançou no começo dessa semana o clipe do seu novo single “Chained To The Rhythm”, e, assim como a canção, vem cheio de críticas sociais e ao governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, mas se ainda esperavam vê-la falar mais sobre o assunto, esse momento aconteceu.

A californiana passou ontem (21) pela Capital FM, para conversar sobre seus novos trabalhos, e falou sobre o processo de composição da música nova, ao lado de Sia e do produtor Max Martin.

Isso aconteceu depois da eleição e eu estava um pouco deprimida. Definitivamente, eu não queria escrever uma música animada. Eu estava tipo, ‘Como nós podemos compor músicas dançantes enquanto o mundo está pegando fogo?’, e esse foi um bom exercício sobre como escrever uma música que parece realmente divertida no começo, mas que quanto mais você se aprofunda, ganha um diferente subtexto.



Sia e Katy Perry já haviam trabalhado anteriormente no disco “Prism”, do qual a australiana compôs a canção “Double Rainbow”, mas a dupla ainda não havia se unido ao Max Martin.

Nós escrevemos para o ‘Prism’ antes e meio que sempre estivemos trabalhando juntas”, disse Katy sobre Sia. “Eu estava escrevendo com meu co-compositor, com quem eu sempre compus, Max Martin, e ela nunca havia feito nada com ele. Foi uma das minhas últimas sessões e eu estava realmente cansada, porque já tinha composto mais de 40 faixas para o álbum.

E nós teremos outras faixas antes do disco sair completo, Katy?

Eu quero mostrar mais algumas músicas antes de entregá-los o prato principal. Eu creio que temos digerido as coisas em pedaços nos dias atuais e é com isso que precisamos lidar. Não estou jogando shade, nem nada disso, mas quando alguém lança um álbum com 17 ou 19 músicas, você pensa tipo ‘vou ter que viajar para Marte pra ouvir seu CD completo!’. Digo, eu te amo, você é meu artista favorito, mas meio que precisamos disso aos pedaços.

Ontem (21), nos estúdios da rádio BBC, a cantora também conheceu o britânico Ed Sheeran, atualmente no topo das paradas por conta de “Shape of You”, e brincou: “Muito obrigada por me manter longe do primeiro lugar das paradas, more! Obrigado!”. Olha esse momento maravilhoso:



Critica a sociedade, repensa a indústria e nossa forma de consumo, amigavelmente reclama do Ed Sheeran. Realmente tem sido uma era para gerar muitas reflexões. 

Já pode espernear: Shawn Mendes confirmou que vem MESMO para o Rock in Rio

A gente avisou. E o cantor Shawn Mendes usou suas redes socais para, na tarde dessa quarta-feira (22), confirmar que virá ao Brasil no dia 15 de setembro, para se apresentar no palco do Rock in Rio.



Além do parceiro de Camila Cabello em “I Know What You Did In Last Summer”, o Rock in Rio desse ano contará com shows de Lady Gaga, Maroon 5, Fergie, Justin Timberlake, Aerosmith, Bon Jovi, Billy Idol, CeeLo Green, Nile Rodgers, 5 Seconds of Summer, Alice Cooper e Red Hot Chili Peppers, além dos brasileiros Ivete Sangalo, Skank, Frejat, Ney Matogrosso e Nação Zumbi.

O Rock in Rio 2017 acontece entre os dias 15 a 24 de setembro e, até o dia 5 de abril, deve anunciar sua escalação completa. No dia seguinte, o festival liberará também sua venda geral de ingressos, como anunciou em seu Twitter:


Isso é tudo.

Jennifer Lopez mandou avisar que “seria incrível” se a convidassem pra cantar no Super Bowl

Onde a gente precisa apertar pra isso acontecer? Já faz algum tempo que especulam a possibilidade de Jennifer Lopez ser a atração musical do Super Bowl e, se em algum momento a NFL questionou as chances dessa performance rolar, não tem mais o que se perguntar: é só pegar o telefone e chamá-la.

Numa entrevista no programa da Ellen DeGeneres, a hitmaker de “Starting Over” falou sobre o momento musical do evento esportivo e não deixou dúvidas: “eu ia amar”.

Eu acho que as pessoas querem que eu faça isso”, disse JLO. “Eu não sei, mas sempre rolam uns rumores sobre... Eu acho que eles convidam as pessoas ou algo assim. Se me convidassem, eu ia amar. Eu acho que seria incrível.

Com certeza, seria.


A atriz e cantora já tem oito discos lançados, tendo sido seu primeiro em 1999, “On The 6”, e de lá até aqui o que não faltaram foram hits, que mais tarde integraram as coletâneas “J to tha L-O! The Remixes” (2002) e “Dance Again... The Hits” (2012).

Pelo menos um dos seus convidados, nós já sabemos quem seria.

Crítica: "A Chegada" usa naves e alienígenas para nos dar uma lição sobre os meandros da vida

Indicado ao Oscar de:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Roteiro Adaptado
- Melhor Fotografia
- Melhor Montagem
- Melhor Direção de Arte
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som

Atenção: para melhor explanação do filme, o texto contém spoilers.

Antes de começarmos a entrar na análise de “A Chegada”, uma pergunta: se visse sua vida toda, do começo ao fim, você mudaria alguma coisa? Pode refletir por um momento.

“Estamos tão presos pelo tempo”, começa Dra. Louise Banks (Amy Adams, maravilhosa e injustiçada pelo Oscar), numa das primeiras falas de “A Chegada”, enquanto vemos um trecho de sua vida, desde o nascimento até a morte de sua filha. “A memória é uma coisa estranha, não funciona como eu imaginava”.

A introdução é rápida, mas dolorida e pontual para a instauração do tom que circundará a protagonista. No presente, vemos a casa da linguista, que é reprodução física da solidão de Louise: ampla, transparente, porém oca, fria e melancólica. Enquanto ensina sobre Português numa universidade, os alunos chamam a atenção para que ela ligue a tevê no noticiário: doze naves de origem desconhecida surgem ao mesmo tempo em lugares diferentes do globo. Todos os alunos são mandados para casa.

Imagem: Divulgação/Internet

Dois dias depois da chegada das naves, o coronel do exército norte-americano Weber (Forest Whitaker) vai ao escritório de Louise com uma gravação de soldados falando com os alienígenas. Weber quer que a linguista traduza o que os ETs estão falando, o que é uma tarefa impossível através de um gravador de voz – porque as criaturas, bem, não têm voz, só ruídos. Ela é levada até a nave e, junto com o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner), lideram a equipe de tradução para saber o que os visitantes querem na Terra.

Como reafirma em todos os cartazes, o grande mistério para os personagens é o que os aliens fazem aqui, qual o seu propósito. Ciência? Exploração? Guerra? Ou só turismo? Mas por que então mandar doze deles? Qual a razão dos locais de pouso? Eles se comunicam entre si? Afinal, o que são eles? O filme bombardeia o espectador de questionamentos, a maioria sem respostas, nos forçando a seguir os personagens imersos nas mesmas dúvidas – e ainda com o medo iminente de ter uma nave de 500 m flutuando em seu quintal.

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E um dos grandes acertos da obra são as próprias naves. Anos-luz de distância das naves que as ficções-científicas mais famosas adoram criar, como “Star Wars” e o recente “Passageiros”, o veículo dos ETs é minimalista: uma grande concha negra. O design de produção criado aqui é belíssimo e resguarda um grande mistério visual, longe de pirotecnia em naves cheias de detalhes, lasers e parafernálias. A fotografia, espetacular e uma das melhores de 2016, sem dúvida, até aproveita sua forma e cor para enquadrá-la da mesma maneira que Stanley Kubrick filmou o monólito em “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o maior filme ficção-científica da história e óbvia referência a todos que o seguiram.

O filme privilegia os primeiros contatos dos protagonistas com a nave. Desde o helicóptero que os levou até lá, Louise e Ian ficam hipnotizados. Ao caminhar até o acampamento militar, a linguista bem tenta não olhar para o monumento, mas é impossível. A nave é um ímã gigantesco. Quando finalmente vão até ela, enquadramentos em close mostram os cientistas tocando a superfície da nave. É a primeira vez que seres humanos tocam algo construído em outro planeta, e o poder simbólico do enquadramento é, com o perdão do trocadilho, fora desse mundo.

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Finalmente dentro do veículo espacial, Louise e Ian conhecem os ETs, ou “heptapodes”, como os militares chamam graças aos sete “pés” que eles possuem. Confinados através de um vidro que separam os cientistas dos aliens, Louise tenta se comunicar – ou fazer com que eles “falem” –, conseguindo sucesso ao escrever a palavra “humano” numa lousa. Um dos ETs “escreve” em resposta um símbolo circular na superfície do vidro, o que comprova que eles possuem uma linguagem.

E é aqui o centro de todo o filme: a linguagem. Weber pressiona Louise constantemente para que ela arranque a resposta que todo o planeta quer saber – qual o propósito dos aliens ali –, no entanto, como bem explica a linguista, até que os visitantes entendam a pergunta, muito trabalho tem que ser feito. Estamos tão imersos dentro das nossas línguas que não percebemos o quão complexo é o ato de se comunicar. Você, que está lendo essa linha nesse momento, está realizando um trabalho mental enorme, pois está assimilando cada palavra e pontuação, designando sentindo para cada um e formulando entendimento. Parece muito simples, assim como Weber colocava as cartas na mesa, mas não é.

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Louise vai, pouco a pouco, quebrando o código que envolve a complicadíssima língua dos visitantes, carinhosamente chamados de Abbott e Costello. Ao contrário da nossa escrita, linear, a deles é cíclica, sem começo e fim delimitado. Além disso, cada “figura”, que representa uma palavra, possui infinitas variações, o que dificulta ainda mais o entendimento. A linguista está ali quase como “a escolhida”, pois é a única, dentro dos 12 países com as naves, a conseguir reais resultados – mas aqui está uma pontuação interessante do filme: em determinado momento é revelado que uma grande contribuição na tradução veio do Paquistão, ao contrário dos filmes óbvios onde são os EUA que resolvem tudo.

A própria barreira linguística entre os ETs e os humanos demonstra cuidado nessa universalização cultural. Ficções-científicas geralmente possuem extraterrestres que já chegam à Terra falando inglês – por serem entidades “superiores” ou seja lá a desculpa. Ao introduzir a barreira mais elementar que existe, a obra gera um desafio além do usual, potencializando-o quando a peça-chave de si própria é a comunicação entre os seres.

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Com as complexidades linguísticas, passeando até por teorias que ligam a forma do pensamento humano com a língua, a tensão entre os homens e os aliens vai crescendo quando 1 a população permanece acuada sobre a própria segurança e 2 as traduções revelam que os visitantes estão ali numa missão que envolve oferecer uma arma. Em passagens telejornalísticas, o longa mostra como a população se apropria da incerteza para expurgar seus próprios demônios, desde a religião apontando o fim dos tempos até fascistas pró-guerra. O cenário, mesmo assustador, é crível – se hoje vemos líderes religiosos alucinados pregando o inferno na terra por causa de minorias (?), quem dirá de alienígenas. São esses os fatos fictícios do filme que refletem nossas próprias realidades.

No fim das contas, contra todas as expectativas, os ETs vieram em paz. Na verdade, propondo uma troca: eles ensinaram sua língua, a tal arma, para que daqui a três mil anos eles possam voltar e, graças a algum acontecimento, pedir ajuda da raça humana. Louise, a única a entender completamente a língua dos heptapodes, é convidada a ficar cara a cara com um dos aliens, que conta toda a missão e revela: ser fluente na língua é aprender a noção de tempo deles, que, assim como a “escrita”, é cíclica. As visões de Louise com sua filha não são do passado, e sim do futuro.

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O filme brinca com várias teorias sobre o tempo, vai e volta para costurar o presente diante da tela de forma bastante inteligente, mas, muito além de todo o bê-a-bá físico, cai sobre Louise um “presente” que ela não quis: ela sabe que vai ter uma filha, que ela morrerá e todas as outras tragédias pessoais que ela enfrentará até o último dia da sua vida.  “A Chegada” tem como foco central como seria nossas vidas caso tenhamos consciência do nosso futuro.

Agora pense: saber o futuro é uma “dádiva” que os seres humanos há milênios desejam, utilizando-se até dos astros para dar um rumo em nossas vidas. Mas e se isso se concretizasse e você soubesse todas as pessoas ao seu redor que morrerão, todos os problemas, as dores, os traumas e sua morte? É algo que vai além da maturidade emocional de alguém. Louise é uma “amor fati”, conceito que Friedrich Nietzsche utiliza-se ao designar a aceitação integral, realizada por um espírito superior, da vida e do destino humano mesmo em seus aspectos mais cruéis e dolorosos. Louise fala “Apesar de conhecer a jornada toda e o seu final, eu aceito. E acolho todos os momentos dela”. É a apoteose climática e o verdadeiro coração de “A Chegada”.

O diretor Denis Villeneuve se joga no formato americano de cinemão, o que perde traços mais evidentes da sua personalidade, todavia não soa óbvio ou clichê ao retirar o propósito maior de seu filme das (sete) mãos dos alienígenas para as mãos humanas. "A Chegada" é uma aula de linguística e, acima de tudo, uma reflexiva lição sobre os meandros da vida, com doses generosas de suspense e emoção. Pode parecer supercomplexo num primeiro momento, porém a trama é até simplista, indo de encontro a "Gravidade" e passando longe da megalomania pretensiosa de "Interestelar" (ainda bem). Com “A Chegada”, Villeneuve, que já entregou tantos filmes incríveis ("Incêndios", "Os Suspeitos", "O Homem Duplicado"), entra para os grandes clássicos ao realizar uma obra-prima que demanda a reflexão da plateia. Mas e aí? Se visse sua vida toda, do começo ao fim, você mudaria alguma coisa?

Distopia e realidade se confundem no novo clipe de Katy Perry, “Chained To The Rhythm”

Katy Perry acabou de lançar o clipe do seu novo single, a parceria com Skip Marley em “Chained To The Rhythm”, e o vídeo, dirigido por Mathew Cullen, é tão cheio de referências, que poderíamos passar o dia falando só dele e cada um dos seus detalhes.

Assim como a canção, “Chained To The Rhythm” faz uma crítica não só ao governo dos Estados Unidos, como também ao conformismo da sociedade sobre os problemas que, aparentemente, não a atingem, tratando do sexismo, belicismo, superficialidade das redes sociais, política contra imigrantes, entre tantas outras coisas.

O clipe acontece no parque Oblivia, um convidativo universo paralelo, no qual você esquece dos seus problemas, e o visual colorido pode ser facilmente comparado à Capital de “Jogos Vorazes”, enquanto a intercontextualidade também alcança obras como “1984”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de Huxley, principalmente quando a cantora é despertada por Skip Marley, que sai de uma televisão gigante, tentando se desvencilhar do ciclo vicioso que aliena todos ao seu redor. Todas as histórias são distopias facilmente confundíveis com nossa realidade.

Donald Trump, referenciado de forma implícita nos versos de Marley, que é um imigrante jamaicano, também é lembrado em alguns momentos, como quando um brinquedo lança um casal negro para fora de uma grande cerca.

“Chained To The Rhythm” foi produzida por Max Martin e co-composta pela australiana Sia, embalando dentro de uma proposta pop uma crítica implícita, controversamente divertida e, claro, mais do que necessária para o contexto atual. Estamos bastante orgulhosos, Katy!

Seja muito bem vindo à Oblivia:

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