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#AmarNãoÉDoença | A tal cura gay e uma reflexão sobre como deixamos isso acontecer

Na série vencedora do Emmy, “The Handmaid’s Tale”, Ofglen (interpretada por Alexis Bledel) é uma aia, classe de mulheres férteis que são obrigadas a engravidar de seus patrões. Certo dia, o governo, autoritário, descobre que ela é uma “traidora de gênero”, como chamam os homossexuais, porque tinha um caso com a esposa do seu chefe.

Culpada por cometer um dos maiores crimes existentes nesta sociedade, Ofglen foi obrigada a assistir sua amante ser enforcada, enquanto recebia uma pena mais “branda” por ser fértil: teve seu clitóris arrancado cirurgicamente.


Caso você ainda não tenha assistido à série, perdão pelo spoiler. Mas não, esse texto não é sobre "The Handmaid's Tale", é sobre algo real e que está acontecendo no nosso quintal: a decisão liminar do juiz federal heterossexual Waldemar Cláudio de Carvalho, favorável aos psicólogos estudarem e oferecerem tratamento de "reorientação sexual" - o que popularmente foi chamado de "cura gay".

O que tem a ver, então, a saga de Ofglen com essa decisão? Basicamente, tudo. A série se passa após um golpe de estado, onde um grupo fundamentalista ultra radical assume o poder e dita suas próprias leis. Conservadores e direitistas, a nova cúpula do poder aniquila quaisquer direitos das minorias sociais - até mesmo as mulheres de elites são absolutamente privadas. A protagonista da série, Offred (interpretada brilhantemente por Elisabeth Moss), se pergunta a todo momento "Como deixamos isso acontecer?".

Todo aquele caos é só um dos assustadores finais da onda conservadora que estamos vivenciando, não só no Brasil como no globo inteiro - a maior potência mundial, os EUA, tem como líder Donald Trump, que dispensa apresentações. E a pergunta que a protagonista tanto se faz demonstra como nós, infelizmente, ainda somos passivos diante a retirada de direitos.



E essa retirada nem sempre é abrupta como em Gilead, novo nome do país em que "The Handmaid's Tale" se passa. Vamos, pouco a pouco, perdendo pequenos direitos, sendo silenciados aqui e acolá, como um sapo dentro de uma panela com água fervendo. A intenção é justamente não nos fazer notar o quanto estamos caminhando rumo à total falta de liberdade - quando notamos, já estamos estamos como Offred, nos questionando como chegamos até ali.

Desde março de 1999, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) determina que "os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados" - nós somos um dos poucos países a conquistarmos uma determinação parecida. A liminar do juiz, heterossexual, não vai contra diretamente à determinação do CFP, porém abre um vasto leque para a volta do estigma de doença na homossexualidade, que até 1973 era considerada um "transtorno antissocial da personalidade".

A base argumentativa do liminar do juiz heterossexual diz que a determinação do CFP é uma censura ao livre estudo da psicologia, afinal, se um psicólogo quiser estudar sobre reorientação sexual, por que não? Esse argumento tem o mesmo fundamento daqueles que pregam a liberdade absoluta de opinião, ou, sendo mais claro, a liberdade de opressão. Mas como eu não posso gostar de gays?, é a minha opinião, você tem que respeitar! A partir do momento em que sua "opinião" oprime uma pessoa ou um grupo, ela deixa de ser "opinião" para virar "opressão".

Se antes a escola era a instituição fomentadora de conhecimento na nossa sociedade, a mídia hoje é quem senta nesse trono. Muito mais que livros e aulas, o imaginário popular dita valores e molda nossos gostos, e são os meios de comunicação que constroem esse imaginário. A liminar do senhor Waldemar de Carvalho, heterossexual, é mais uma peça para colar o rótulo de "doente" na testa de gays, lésbicas e bissexuais, rótulo esse que tanto lutamos para ser extinguido, afinal, de doentes nós temos nada.


"Não há cura para algo que não é uma doença. Não seria uma ideia revolucionária apoiar, celebrar e AMAR pessoas pelo o que elas são ao invés de envergonhá-las e tentar mudá-las? Essa legislação é uma vergonha, e eu mando todo o meu apoio para lutar contra essa decisão medieval e repulsiva", disse Kesha.

Felizmente, há progressos. Diversos artistas, tanto nacionais como internacionais, se pronunciaram sobre a absurda medida. Nomes como Anitta, Pabllo Vittar, Demi Lovato, Tove Lo e Kesha foram às redes sociais manifestarem contra a decisão da justiça. E aqui mesmo, em solo tupiniquim, estamos vivenciando a acensão massiva de artistas LGBT no meio musical: encabeçados por Pabllo, temos drags, gays e trans conseguindo bastante espaço e solidificando seus nomes, como Rico Dalasam, Gloria Groove, Liniker, Aretuza Lovi, Jaloo, Banda Uó e Linn da Quebrada.



Mas se nós "LGB" estamos numa saia justa, acredite, o "T" está ainda pior. Travestis e transexuais ainda enfrentam diversas burocracias para o acesso de direitos básicos: para a mudança do nome social e gênero é preciso um longo processo judicial, que, no fim das contas, nada mais é que uma pessoa cis reconhecendo (ou não) a transexualidade de alguém. A pessoa trans ainda precisa que alguém comprove o que ela própria é.

E o processo em si é massacrante. No Brasil, é necessário apresentar pelo menos dois laudos médicos atentando a transexualidade e que o indivíduo vive "como homem" ou "como mulher" há anos. Se os "LGB" estão retrocedendo para o rótulo de doença, a transexualidade é, até hoje, vista como uma, mais especificamente um "transtorno de identidade". Além dessa papelada, ainda pede-se cartas e fotos de amigos que comprovem o reconhecimento do indivíduo como trans. Ou seja, a voz menos ouvida é a da pessoa trans, que não tem autonomia sobre o próprio corpo.

Muita coisa ainda precisa mudar, mas, ainda mais imperativo, é não permitirmos que o que já conquistamos seja perdido. Nas redes sociais, o barulho dos contrários à regulamentação é alto, porém não podemos deixar que esse eco fique só no mundo digital, e se algo nos é ensinado com "The Handmaid's Tale" é como nossa liberdade é o bem mais precioso que existe. E a liberdade, inclusive, de amarmos quem quisermos.

Que não nos deixemos mais cair no conformismo, nem na esperança de que pior não pode ficar, que não deixemos que eles nos coloquem mais nenhum passo para trás e, o principal, que nos unamos para lutarmos com tudo o que estiver ao nosso alcance.

O nosso amor não é doença. 

***

Sempre estivemos dispostos a usar nossa plataforma como algo além do tradicional “noticiar” e aproveitarmos nosso alcance em prol do que merece a máxima atenção possível.

Desta forma, este artigo será o primeiro de muitos da campanha #AmarNãoÉDoença, também apoiada pelos veículos, páginas e grupos abaixo assinado.

Que hino! Gloria Groove anuncia a pop “Gloriosa” como seu próximo single

Gloria Groove é uma das melhores coisas que aconteceram no pop nacional nos últimos meses e, semanas após a estreia do seu primeiro álbum, “O Proceder”, a drag queen brasileira confirmou qual será a sua próxima música de trabalho, sucessora dos hinos “Dona” e “Império”.



Durante um bate-papo com seus fãs, transmitido pela distribuidora musical ONErpm, Groove anunciou a escolha de “Gloriosa” como seu próximo single, sendo esse seu primeiro single direcionado para o público pop.

A faixa, levada por uma sonoridade noventista, é um dos passos mais comerciais da drag até aqui, e pode ser ouvida na integra pelo Spotify:



Nessa conversa com seu público, Gloria explicou que tem planejado os próximos passos de sua carreira de maneira cuidadosa, levando tudo ao seu tempo, mas que planeja outros singles e videoclipes pela frente, garantindo ainda que, após “Gloriosa”, deve trabalhar a dancehall e abrasileirada “Muleke Brasileiro”.



“O Proceder” marca um dos momentos mais plurais da música pop nacional, que há pouco abraçou o álbum de estreia da Pabllo Vittar e o EP da Lia Clark, que também são drag queens, e a maneira como todas tem trabalhado em parceria, tem contribuído pra que levem suas músicas e discursos para um público cada vez mais amplo. São as donas da porra toda mesmo.

Assista ao vídeo com o bate-papo completo abaixo:

Gloria Groove anuncia seu disco de estreia e revela música nova, “O Proceder”

As drags brasileiras vão dominar a nossa música neste ano e, depois de lançamentos da Pabllo Vittar e Lia Clark, chegou a hora de prepararmos nossos corpos para o álbum de estreia da Gloria Groove, que esteve entre os nossos melhores clipes de 2016 por “Império”.

Da Vila Formosa (zona leste de São Paulo) para o mundo, Groove faz da sua música um rap contestador e, em seu primeiro disco, “O Proceder”, vai de faixas pesadas, como as já reveladas “Dona” e “Império”, às dançantes, como a inédita “Muleke Brasileiro”, passando ainda pela baladinha “Madrugada” e sua faixa título, que é uma das primeiras prévias do álbum e você poderá ouvir abaixo.

A faixa “O Proceder” mantém o tom militante de suas músicas anteriores, com um arranjo todo levado pela trap music, enquanto a letra chega cheeeeia de referências aos memes de cada dia, incluindo o cativeiro da Sia e até o icônico “eu vou expor ela” de “Disk Duny” – aquele episódio com a Kim Kardashian, Kanye e Taylor Swift, lembra?

Ouça:



Foda demais! Pra quem ainda não conhecia o trabalho de Gloria, a hora é essa:



Dona da porra toda mesmo.

O disco “O Proceder” será lançado nesta sexta-feira (03).

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