Editorial: "Desventuras em Série", da Netflix, e a prova de que adaptações representativas importam

Sempre que uma obra literária vai ser adaptada para o audiovisual, seja ele TV ou Cinema, há todas as preocupações na hora de transpor as páginas em matéria viva. Se a tal obra for famosa então, essas preocupações triplicam. Fãs de todo o mundo, principalmente os extremistas, estão a postos para apontar cada micro diferença entre o livro e a/o série/filme. Até hoje lembramos de fãs "revoltados" porque mudaram a cor do vestido do baile da Hermione em "Harry Potter e o Cálice de Fogo". Nada escapa.

Falando em "Harry Potter", o maior fenômeno literário da nossa geração, esses fãs xiitas atacaram ano passado: quando o casting da peça "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada" foi anunciado, o oitavo pecado capital foi cometido pela produção: a atriz que faz a Hermione, Noma Dumezweni, é negra, ao contrário do filme (interpretado pela Emma Watson) e de ilustrações do livro. Tá, mas e daí?
Noma Dumezweni e Emma Watson: duas gerações e duas cores de Hermione
Segundo os comentários fervorosos, a atriz (negra) jamais poderia ser uma "personagem já consolidada" (como branca), pois, aparentemente, a transposição racial "descaracterizaria" a personagem. Aquela reação com raiva do Facebook era quase sempre uma das mais usadas em qualquer post relacionado com o anúncio do casting.

Agora voltemos ao presente: a grande adaptação do momento é com o seriado "Desventuras em Série", da Netflix. Baseada na saga literária de mesmo nome, que já vendeu mais de 65 milhões de cópias em mais de 40 línguas, o seriado é a segunda adaptação dos livros: a primeira foi o filme de 2004, estreado por Jim Carrey. Com a Netlifx sendo um dos maiores nomes em termos de produção cultural em escala global da atualidade, os meandros de construção da série encontraram altos requintes de qualidade, assim como o filme, ganhador de um Oscar, porém, logo nas notícias de escalações, esbarramos com uma vital diferença. Alguns atores são negros. Numa rápida repescagem nos personagens do filme (e do livro também), não conseguimos lembrar de algum que seja explicitamente negro. Então pra quê mudar um detalhe tão importante assim?

Esse pensamento deve ter passado pela cabeça do Tim Burton ano passado: o diretor foi questionado sobre a falta de diversidade racial em seu mais novo filme, "O Lar das Crianças Peculiares". Por quê, além do vilão, outros personagens não fora à tela sendo negros? Sua resposta foi, basicamente, pedindo que não procurem atores negros em seus filmes porque ele não procurava atores brancos nos Blaxploitations (filmes de ação dos anos 70 com diretores e atores negros, voltados para o público negro). É cada macaco no seu galho.


Esse apartheid cultural ainda existe? No nosso mundo globalizado, com uma gama de corpos e identidades, segregar raças da forma que Burton pensa é, além de retrógrado, racista. Ainda bem que em "Desventuras em Série" a coisa é diferente. Três personagens com grande destaque na trama deixaram de serem brancos para, no seriado, serem negros. Vamos aos nomes.


Sr. Poe, o banqueiro encarregado pela fortuna dos Baudelaires após a morte dos pais, é um senhorzinho branco nas ilustrações do livro e, no filme, interpretado pelo também branco Timothy Spall. Na série, o personagem será interpretado por K. Todd Freeman, que é negro.


Tio Monty, o amável segundo guardião dos órfãos, nos livros é ruivo. Billy Connolly dá vida ao personagem no filme e, no seriado, é o indiano Aasif Mandvi que viverá o amado herpetólogo. E, por fim, Tia Josephine, a assustada terceira guardiã das três crianças, saiu das mãos de Meryl Streep para Alfre Woodard.


Os três personagens desempenham papéis fundamentais na história (para o bem ou não). Quando a série troca algo tão simples, há imediatamente uma adaptação representativa. Mas o que é isso? É quando uma adaptação escala atores vindouros de minorias sociais. Essas escalações são baseadas apenas nisso? "Cotas"? Claro que não, o talento dos atores é de vital importância, porém, ao escolher um ator negro ao invés dum branco, a mídia em questão dá espaço por muitas vezes silenciado para aquela minoria.

É só lembrarmos do Oscar 2015 e sua polêmica de indicações: nenhum dos 20 atores indicados nas quatro categorias de atuação eram negros. Tal acontecimento é um pequenino reflexo de uma opressão que gera efeitos gigantescos - porque o que é a falta de uma indicação quando um jovem negro é morto a cada 23 minutos só no Brasil (dados do relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens)?

E é bastante interessante quando a tal mudança é inversa: não há reação negativa do grande público. E a lista de exemplos é enorme: Katniss Evergreen, de "Jogos Vorazes", possui a pele "cor de oliva" nos livros, mas é interpretada nos filmes por Jennifer Lawrence (que é branca). Tonto, protagonista de "O Cavaleiro Solitário", é nativo-americano na série original; no filme é interpretado por Johnny Depp (que é branco). Cleópatra, a última faraó independente do Egito, tem descendência macedônica e africana; no filme de mesmo nome é interpretada por Elizabeth Taylor (que é branca). Noé, figura bíblica, é do Oriente Médio; no filme homônimo é interpretado por Russell Crowe (que é branco). Etc, etc, etc.

Tais mudanças são proibidas e tais obras devem ser repudiadas? Não precisamos de tal extremismo, todavia, por que retirar a representatividade de personagens minoritários para colocar atores brancos, fartamente representados, no lugar?

Mas afinal, a cor da pele do Sr. Poe muda em alguma coisa? O fato dele ser branco ou negro, para a realidade e discussões inseridas no personagem, diferem em cada cor? Não. Absolutamente nada. Porém, para a representatividade, essa mudança faz toda a diferença.

Então, é com exemplos como os de "Desventuras em Série" que percebemos como tantas reivindicações por mais espaço da cor negra em produções, principalmente as de grande alcance, estão sendo ouvidas. E tais mudanças pulam a cerquinha da questão social para entrar em questões de gênero e sexualidade: Buck Vu, da badalada série "The OA", também da Netflix, é interpretado por um ator trans-asiático, Ian Alexander. Segundo levantamento da GLAAD, apenas 16 personagens regulares na temporada de séries americana são interpretados por atores trans. Um número significativo, mas minúsculo perto do todo.

Mesmo que não seja uma mudança com os protagonistas de "Desventuras em Série", todos brancos (e nem estamos pedindo por isso), são com esses passos que vamos, um dia, chegar a um momento onde essa discussão não importa, pois estaremos inseridos numa realidade igualitária. É bem curioso notarmos que, diferente da reação dos fãs de "Harry Potter", não vemos grandes debates sobre as mudanças raciais dos personagens citados em "Desventuras em Série". Claro, o número de fãs da saga do bruxinho é muito maior que o número de seguidores das tragédias dos Baudelaires. Sendo o motivo que for, estamos satisfeitos pelas boas recepções dessas importantes e significativas mudanças.

"Desventuras em Série" estreia na Netflix na próxima sexta-feira, 13. Se uma série de desgraças está prestes a começar na vida dos protagonistas, um novo capítulo da representação social é preenchido com louvor.

Todo dia um hino diferente da Dua Lipa: ouça mais uma inédita da cantora, “Bad Together”

A essa altura você deve estar se perguntando "mas vai ter texto da Dua Lipa todo dia?". Bom, quase isso. É que estamos perto do lançamento do primeiro disco da moça e a expectativa está cada vez maior. Depois de lançar um single promocional, a acústica "Thinking 'Bout You", temos mais uma música da inglesa para ouvirmos até cansar: a maravilhosa "Bad Together". 

É bem verdade que tudo que ela lançou até agora tem sido ótimo, mas não é que "Bad Together" conseguiu ser uma das melhores coisas? Dramática, cheia de sussurros e toda explosiva no refrão, a faixa nos prova mais uma vez (como se precisasse) porque Dua é mesmo a maior aposta do pop em 2017.

Ouça:



Bem que podia ser o próximo single, hein?

O primeiro álbum da cantora, o autointitulado "Dua Lipa", chega no dia 10 de fevereiro e do jeito que as coisas andam não ficaremos nem um pouco surpresos se esse for um dos melhores CDs do ano. 

Não ouça “We A Family”, do Flaming Lips com a Miley Cyrus, se você não estiver chapado

Depois de colaborarem no álbum "Miley Cyrus & the Dead Petz", Miley Cyrus e os caras do The Flaming Lips se juntam novamente para uma parceria mais interessante ainda. "We A Family" é uma ode psicodélica à união e à família, que aparentemente eles encontram no espaço sideral.
Tem sido um inverno longo e frio / Parece que já faz uma eternidade / Nós dois viajamos / Eu estou em algum lugar ao sul de Wichita / Você está em algum lugar na Lua
Não muito diferente dos trabalhos anteriores da banda, a música é bastante trippy, mesclando guitarra acústica e synths borbulhantes. Tudo lembrando BASTANTE não só a sonoridade do "& the Dead Petz" (para quem não conhece o trabalho do The Flaming Lips), como também seu visual no lyric vídeo.



Engajada em fazer o bem com sua "Happy Hippie Foundation", Miley Cyrus ainda não deu previsão alguma sobre novos projetos em sua carreira musical, mas alguns rumores estão circulando sobre a vontade dela e de seu noivo Liam Hemsworth adotarem uma criança ainda este ano. Já o duo The Flaming Lips lança seu novo álbum, "Oczy Mlody", na próxima sexta-feira (13), contendo a faixa "We A Family".

Ray BLK é a primeira cantora negra independente a vencer o ‘Sound of...’ da BBC

Todo início de ano a BBC libera sua tradicional lista de apostas. O "BBC Sound Of..." foi responsável por revelar grandes talentos ao público, como Adele, vencedora de 2008, e Sam Smith, ganhador de 2014, para citarmos alguns. Certeira nas apostas, a rede britânica costuma, se não colocar em seu top 5, ao menos indicar revelações que, ao longo ano, provam merecer o destaque. E, para 2017, ela surpreendeu ao dar o primeiro lugar a Ray BLK, cantora negra de R&B.

Dona de um som inspirador e de letras que falam de temas importantes, Ray desbancou o favorito Rag'n'Bone Man, que acabou ficando com o segundo lugar mesmo fazendo bastante sucesso pela Terra da Rainha com o hit "Human". E ela conseguiu tudo isso sem nem ao menos ser contratada por uma gravadora, sendo a primeira artista a vencer o BBC Sound Of sem pertencer a nenhum selo fonográfico.



Ray BLK, a gente te conhece a pouco tempo, mas já te consideramos pacas, viu?

Completando o top 5 da lista, temos RAYE, cantora de eletro-pop, Jorja Smith, que faz soul com um pouco de R&B, e a rapper Nadia Rose, em terceiro, quarto e quinto lugar respectivamente. Com isso temos quatro dos cinco melhores artistas colocados sendo mulheres negras. Em tempos onde vemos o mundo retroceder tanto, olhar para as apostas desse ano da rede britânica e ver tanta diversidade assim consegue nos trazer um pouco de esperança. 

Além dos já citados, a lista também conta com outras revelações que vale a pena dar uma chance. Você pode conferir todos os indicados aqui.  

No seu próprio cativeiro da compositora, Halsey confirma novo disco para 2017

Estamos apenas no primeiro mês, mas 2017 já tem sido muito bom conosco. Com álbuns de Ed Sheeran, Lorde e Zara Larsson, para citar alguns, sendo esperados para esse ano, podemos colocar mais um na lista: o novo disco da cantora Halsey.

Quem revelou a novidade foi a própria em seu Twitter. Na rede social, ela contou que anda um pouco afastada, pois está trabalhando em composições. Quando questionada se veríamos o CD ainda esse ano ou só em 2018, a americana confirmou o lançamento para 2017.

Tradução: Eu estou com tempo. Só não tenho conversado de verdade com ninguém ultimamente. No meu cativeiro da compositora escrevendo. Precisava desse silêncio.

Halsey já tem um álbum lançado, o ótimo e pop-alternativo "Badlands". De lá pra cá, a garota cresceu, apareceu em "The Feeling", canção do Justin Bieber, e até emplacou "Castle", uma de suas próprias músicas, na trilha-sonora do filme "O Caçador e a Rainha de Gelo".

O sucesso, entretanto, chegou recentemente com a participação em "Closer", hit do duo The Chainsmokers. E é justamente por conta do hype da canção que o novo trabalho da cantora virá cercado de expectativas, podendo até funcionar como uma re-apresentação ao grande público e seguir uma linha mais pop do que o "Badlands".

Seja como for, VEM #H2!

A gente conversou com a Anne-Marie, do hit “Rockabye”: “Mal posso esperar para ir ao Brasil”


Anne-Marie é uma das grandes revelações no cenário musical britânico. A cantora está com o single "Rockabye" em #1 na principal parada do Reino Unido, uma parceria incrível com Clean Bandit e Sean Paul. Com indicações e performances nas premiações MOBO e EMA, a dona do EP "Karate" já conseguiu também dois certificados de platina e um de ouro para o hit "Alarm", que já conta com mais de 100 milhões de streams no Spotify.

Numa breve entrevista, conversamos com Anne sobre vários assuntos, desde sua rápida ascensão até uma possível vinda ao Brasil, e as respostas dela você confere logo abaixo.


It Pop: Oi Anne, eu sou o Vitor, escrevo para o site It Pop no Brasil e vou te fazer algumas perguntas.
Anne-Marie: Ei Vitor, prazer em te conhecer. Você está bem?

It Pop: O prazer é meu! Estou bem sim e você?
Anne-Marie: Também estou, obrigada.

It Pop: Você se apresentou com a Jessie J no musical "Whistle Down the Wind" quando você tinha apenas doze anos de idade. Isso te inspirou a continuar sua carreira de cantora?
Anne-Marie: Foi muito inspirador! Ver alguém que cresceu no mesmo lugar que você conquistar algo tão grande realmente me fez pensar que eu poderia conseguir o mesmo. 

It Pop: Você já conhecia o trabalho do Rudimental antes de vocês colaborarem?
Anne-Marie: Sim! Eu amei o primeiro álbum deles; algumas das minhas músicas preferidas estão nele. Trabalhar com eles foi muito natural, principalmente quando estávamos em tour. Eu me orgulho muito de ter sido chamada para participar do segundo álbum deles, porque eu amo o que eles fazem.

It Pop: Apesar de pouco tempo de carreira, você já se aventurou do R&B alternativo até o dancehall. Existe algum limite quando se trata de fazer música?
Anne-Marie: Na verdade, não. Sempre que escrevo uma música é primordial que ela tenha uma história, me preocupo com o que eu estou dizendo na letra. E em termos de produção, eu deixo o que precisa estar na música apenas estar na música.

It Pop: E você pode me dizer suas principais influências, tanto musicalmente quanto para escrever canções?
Anne-Marie: Musicalmente, quase tudo. Rock, jazz, soul, pop, rap, hip hop... Mas minhas influências para escrever vieram de Alanis [Morissette] e Lauren Hill. Mulheres fortes, mensagens fortes, sabe?

It Pop: A letra de "Alarm" conta uma história real?
Anne-Marie: Infelizmente sim... Eu tive essa experiência horrível com um ex-namorado, mas pelo menos eu escrevi essa música!

It Pop: Você também foi campeã mundial de karatê! Você consegue me dizer se existe alguma semelhança entre cantar e lutar?
Anne-Marie: Com certeza! Você precisa ter uma mente forte, foco e estar preparado para qualquer coisa.

It Pop: Sua performance no EMA, sem dúvidas, foi um momento importante para sua carreira. Como foi estar entre tantos artistas legais?
Anne-Marie: Me apresentar junto com grandes artistas internacionais foi uma experiência maravilhosa. Foi uma noite incrível em um lugar lotado de talento.

It Pop: Quando seu álbum sai? Estamos muito ansiosos!
Anne-Marie: Vai sair logo, em 2017!

It Pop: E você pode me contar algo sobre ele que você não contou pra ninguém?
Anne-Marie: Eu trabalhei muito nesse álbum, mais do que em qualquer outra coisa.

It Pop: Com a internet, os artistas vêm ganhando fama cada vez mais rápido. Você está preparada para isso?
Anne-Marie: Eu acho que sim, mas eu não gosto de criar muita expectativa.

It Pop: Queremos te parabenizar pela sua música "Rockabye", que está em #1 nas paradas do Reino Unido! Eu estou viciado na música. Como foi colaborar com o Clean Bandit e Sean Paul?
Anne-Marie: Foi muito divertido, eu já conhecia Clean Bandit há algum tempo e acho que por isso foi ótimo trabalhar com eles, e Sean Paul é uma lenda viva!

It Pop: Qual seu álbum favorito de 2016?
Anne-Marie: Definitivamente, "A Seat At The Table", da Solange, mas eu venho ouvindo muito Anderson Paak.

It Pop: Você já tem muitos fãs brasileiros, que com certeza te esperam aqui! Você já planeja vir conhecê-los?
Anne-Marie: Sim, eu mal posso esperar!

It Pop: E, finalmente, gostaria que você deixasse uma mensagem para aqueles que estão conhecendo seu trabalho pela primeira vez com esta entrevista.
Anne-Marie: Eu coloco muito amor no meu trabalho e espero que as pessoas consigam perceber isso quando ouvirem. Quero agradecer aos fãs que me apoiaram durante esse tempo e deixar um "oi" para aqueles que estão me conhecendo agora!
***
Sem novos detalhes sobre seu álbum de estreia, nos contentamos com o que Anne já nos deu: um EP incrível, singles deliciosos e parcerias certeiras, como "Rockabye", que você pode ouvir abaixo.

Crítica: "A Atração" é o melhor musical sobre sereias assassinas que você verá na vida

Gerando burburinho na internet essa semana, "A Atração" (Córki Dancingu/The Lure) é um longa metragem polonês de 2015 que chamou atenção pela premissa e estética. O delay é, sim, grande, porém o filme só estreia nos Estados Unidos esse ano (ainda sem data marcada), ganhando trailer americano recentemente, o que fez crescer o hype em torno da obra. Em terras tupiniquins, o longa veio para a 40ª Mostra de Cinema de São Paulo, no ano passado; no circuito comercial, ainda não encontrou distribuidora.

Formalidades comerciais de lado, do que se trata a obra? Durante uma Polônia comunista dos anos 80, Dourada (Michalina Olszańska) e Prateada (Marta Mazurek) são duas irmãs sereias que encontram uma banda à beira do mar. Numa suntuosa sequência, onde as duas cantam para os humanos (garantindo não que vão come-los), as criaturas ganham a chance de performarem (como cantoras e strippers) num bar, sob os cuidados da vocalista, Wokalistka (Kinga Preis). Só que, no local, Prateada se apaixona por Mietek (Jakub Gierszał), guitarrista da banda, o que gerará a revolta de Dourada.

Imagem: Divulgação/Internet
Toda a premissa soa bastante como um conto de fadas à la Disney, porém, aqui temos uma torção de expectativa: as sereias se alimentam de seres humanos. O fato de Prateada se apaixonar por Mietek vai contra as regras da sua própria espécie, o que colocará as irmãs uma contra a outra. Além disso, ambas estão de passagem pelo local, já que o objetivo é chegar até os Estados Unidos, então o amor de Prateada é motivo para elas ficarem presa à Polônia. 

O arco principal da história é bastante simples, no entrando, "A Atração" diferencia-se por diversos motivos. Em primeiro lugar, o filme é um musical - o primeiro vindouro da Polônia, país com cinema político marcante. Como as sereias hipnotizam pelo canto, elas fazem imediato sucesso no clube, criando uma áurea mágica para os clientes, cada vez mais libidinosos. Numa inspirada sequência, as sereias vão até um shopping comprar roupas, deliciando-se naquele mundo tão absurdo onde podem usar seus dotes humanos: as pernas. Outra diferenciação encontra-se no fato que, mesmo possuindo bastante cores e sons, "A Atração" é um filme sombrio e melancólico.

Imagem: Divulgação/Internet
Quando falamos de sereias, imediatamente pensamos naquela calda de peixe belíssima, porém, as sereias aqui não a possuem: suas caldas são mais parecidas com uma enguia - em determinada parte do filme descobrimos que se trata de uma biologia reptiliana. O impacto imagético criado pela composição visual das sereias é imediato - não dá para fugir da iconicidade que elas são imageticamente. E os efeitos especiais/maquiagem para a transformação de humanas para sereias é poderosíssimo, feito com bastante esmero e deixando o espectador de queixo caído pelo realismo. A direção de Agnieszka Smoczynska, em sua estreia nos cinemas, com certeza está longe dos bolsos multimilionários de Hollywood, entretanto domina toda a cena de forma lenta e nada sóbria. Dá para sentir um leve asco pela textura das caldas das sereias, tamanha realidade.

Outro artefato visual inusitado é o fato de ambas não possuírem órgãos genitais na forma humana, apenas na forma sereiana. Descobrimos isso por meio de uma desconfortável cena, quando um dos funcionários do bar exibe as meninas (podemos chamar assim?) para o dono do estabelecimento: elas são postas numa situação de animais, tendo os corpos nus expostos sem pudores. Aqui já temos o alerta: estamos diante de uma metáfora. As garotas, provenientes dum mundo à parte dos nosso, são forasteiras exploradas pelos humanos. Suas aparências doces são vitrine para a exploração sexual, com clientes cada vez mais surgindo e lotando o bar, um contraste perfeito para suas naturezas sanguinárias. O sonho de chegar à América só dá força à ideia exploratória, com as duas sendo estrangeiras em busca de melhores oportunidades (de comer pessoas, no caso).

Imagem: Divulgação/Internet
Essa exploração é também feita por parte de Mietek. O garoto, apesar de gostar de Prateada, fala que jamais ficará com ela porque sempre a verá como um animal - o que abre o leque do preconceito: as sereias sempre estarão um nível abaixo dos humanos, outra sacada da metáfora geral. Mesmo revelando isso, ele não rejeita as investidas de Prateada, usando a garota até onde seu limite humano permite, o que faz a sereia dar uma de Ariel: ela decide tirar a calda para ter pernas humanas (e órgãos genitais). Tudo em nome dum fatalista amor.

No meio dessa confusão está Dourada, cada vez mais raivosa pelas ações da irmã e pela exploração dos humanos - elas nem ao menos recebem salário pelo trabalho no bar. A criatura se joga num mundo obscuro onde pode extravasar sua raiva, comendo (literalmente) um cara que conheceu no bar, o que deixa a polícia da cidade em polvorosa. O tempo das duas no local está se esgotando e Prateada não consegue abandonar a ideia de deixar Mietek para trás.

A maioria dos acontecimentos do longa é pontuada por sequências musicais. Numa pegada bem glam-rock, a obra tanto apresenta músicas originais em polonês como repaginas músicas estadunidense (a versão de "I Feel Love" da Donna Summer é ótima), algo que "Moulin Rouge: Amor em Vermelho" também fez (e bem melhor, inclusive). Como o formato musical aqui e bastante presente, não só nas performances no bar como em algumas falas cantadas, é necessário, antes de mais nada, que você goste de musicais. No entanto, seria levianidade não dizer que, caso não fosse um musical, o filme ganharia bem mais. Algumas apresentações, deixadas de lado em prol de uma narrativa mais enxuta, melhoraria o ritmo da exibição.

Imagem: Divulgação/Internet
Além de músicas não tão inspiradas, a obra não abre mão de diversas abstrações narrativas que acabam por vezes soterrando o ótimo enredo, exibindo momentos que fazem ou pouco sentido e acrescentam de forma rasa à narrativa ou possuem sentido nenhum, o que vai diminuindo o apreço pelo todo. É preciso comprar a loucura narrativa sob luzes neon que fariam Nicolas Winding Ref, diretor de "Demônio de Neon", bater palmas.

"A Atração" definitivamente não é uma obra universal: a embalagem pode ser pop e comercial, mas você precisa gostar de filmes que fogem do óbvio em suas conduções - não espere soluções fáceis, discussões com morais definidas e leve desfecho. Apesar de haver baixas que poderiam ser deixadas de lado, aqui temos uma fita incrível e curiosa que não tem medo de se jogar de cabeça na mitologia de suas criaturas (elas conversam através de sonares igual baleias, a sacada diegética mais criativa do longa). Há uma cena em particular que poderá gelar a espinha do espectador - a das macas de gelo, a melhor do filme -, prova concreta do impacto visual que é "A Atração". Vale a pena comprar a passagem para embarcar nesse conto de fadas macabro, o melhor musical sobre sereias assassinas já feito.

Soluções preguiçosas do roteiro anulam todo o potencial de "Passageiros"

Quando o primeiro trailer de “Passageiros” saiu, lá por meados de setembro, muitos de nós ficamos um pouco irritados com o possível gigante spoiler que o vídeo de pouco mais de dois minutos trazia. A tela escurece, e antes do trailer acabar ouvimos Chris Pratt dizer, “Há um motivo para termos acordado antes”. BAM! Isso já foi o suficiente para irmos às redes sociais reclamar de que o plot principal do filme havia sido entregue e a surpresa estragada. Mas será que é realmente assim tão catastrófico a revelação do trailer? Passados quatro meses após a liberação do primeiro vídeo, fomos conferir o aguardado filme que estreou essa semana, e podemos afirmar com toda a certeza: Não! O trailer não estraga as surpresas da história.

Demorou, mas finalmente aconteceu. Juntaram a queridinha e o queridinho de Hollywood como protagonistas em um filme. Aliás, o protagonismo dos dois é tão grande (ou o cachê) que não existe mais nenhum outro personagem no filme além dos dois, salvo algumas participações especiais de míseros minutos em tela. J-Law aos 26 anos já tem um currículo invejável. Indicada quatro vezes ao Oscar (2011, 2013, 2014 e 2016), e vencedora de uma estatueta por Melhor Atriz em 2013, protagonista de uma franquia de sucesso, atriz mais bem paga de Hollywood por dois anos consecutivos e claro, não podemos deixar de mencionar o controverso protagonismo na nova trilogia dos mutantes da Fox. É inegável que sozinha a atriz já seria um arrasa quarteirão em bilheteria. Chris Pratt pode até não ter um Oscar, mas já é o protagonista de um dos melhores filmes do universo Marvel, confirmadíssimo em “Vingadores: Guerra Infinita” e protagonista da quarta maior bilheteria da história do cinema. Os dois tem carisma, bom humor, atuam bem além de serem maravilhosos. Só faltava o teste final para saber se teriam química em cena.


O tal teste final se chama “Passageiros” e apesar de todos os pesares, é um filme com um excelente potencial. Uma nave leva cerca de 5.000 pessoas em capsulas para habitarem uma nova colônia em um planeta que fica há cerca de 120 anos de distância da Terra. Tais capsulas programadas para acordarem os passageiros quatro meses antes da chegada ao planeta são a prova de falhas. Porém, algum erro misterioso acontece e Jim (Pratt) e Aurora (Lawrence) são acordados antes do tempo, precisamente 90 anos mais cedo. Sem poder voltar ao estado de hibernação inicial, eles ainda descobrem que a nave está apresentando uma série de comportamentos estranhos, e apenas eles podem fazer algo para salvar a nave e as outras milhares de pessoas. Basicamente, essa é a premissa do filme. Os trailers divulgados ainda nos dão a entender que existe toda uma conspiração e um bom motivo malévolo para os dois terem acordado mais cedo e a nave estar em pane.

E aí que começam os problemas de “Passageiros”. As prévias nos vendem um outro filme, que aparentemente funcionaria muito melhor do que o que foi entregue. Uma trama que se fosse bem aproveitada teria resultado ao menos em um excelente filme de ficção cientifica, mas que acabou sendo resumido rapidamente a um mero romance com saídas preguiçosas de roteiro. Antes de falarmos do roteiro, podemos parar aqui para elogiar as qualidades técnicas do filme. Se passando quase que exclusivamente dentro da tal nave, o filme aproveita bastante do conceito de futuro platinado utilizando cenários bem claros e luminosos e tecnologias fantasiosas. O design da própria nave é incrível, mas fica mal aproveitado dentro da história, não temos nenhuma sensação espacial dos ambientes por onde os personagens passam e aonde eles se localizam dentro da embarcação. O bar, onde temos os momentos de maior descontração do filme, e também a sempre excelente participação do Michael Sheen, é um ambiente clássico e sem nada demais. O design do androide Arthur está ótimo, foi criado para o personagem uma figura humana, porém com rodas da cintura para baixo. Apesar de ser curta sua participação podemos afirmar que sim, ela é o suficiente para ser elogiada. A famosa cena em que a personagem de Jennifer Lawrence se vê presa em uma piscina sob gravidade zero, também é digna de nota, e traz um dos momentos mais criativos em filmes do gênero que no final se transforma em um momento curto e de solução simplista. As rápidas cenas em que vemos o espaço foram bem desenhadas, mas não há nada visualmente espetacular.

O filme que começa com uma espécie de “O Naufrago” substituindo Wilson pelo androide Arthur possui bons momentos iniciais. Ironicamente após a entrada de Aurora na história o roteiro degringola para situações de extremos clichés. Sendo o maior e pior clichê do filme a aparição do personagem de Laurence Fishburne, quem para não estragar a história com mais detalhes, podemos dizer que está ali apenas como o deus ex-machina do roteiro. Para piorar, os personagens são absurdamente rasos, os momentos de tensão são raros e muitas vezes interrompidos rapidamente, a trilha sonora é neutra e não ajuda em nada para contar a história.  O final apesar de rápido até foge do convencional, e traz uma bonita mensagem, similar ao que temos no aclamado “A Chegada”. Quando tudo acaba, sentimos que nem todo o carisma e talento dos protagonistas poderiam segurar a bomba de roteiro que lhes foi entregue. Apesar das claras comparações com “Titanic”, “Passageiros” é um filme que será esquecido horas depois dos créditos subirem e que de clássico só possui a pretensão de ser um.

Por enquanto, o melhor single de 2017 é “That’s What I Like”, do Bruno Mars

Se você ainda não sabe que o último álbum do Bruno Mars, “24K Magic”, é um hinário da porra, ele te ajudará a perceber isso com seu próximo single, e a música escolhida foi nada menos que a nossa favorita em todo o disco, “That’s What I Like”.

Sucedendo sua faixa-título e a divulgação promocional de “Versace On The Floor”, Mars enviou o segundo single oficial de “Magic” para as rádios e, se estivermos certos, a música tem um baita potencial para se tornar mais um hit na voz do cantor.

Musicalmente falando, “That’s What I Like” mantém os trabalhos do cantor no funk de “Uptown Funk” e “24K Magic”, mas agora se aproximando também do soul pop de Prince, remetendo vagamente ao que ouvimos com Chance The Rapper em “No Problem”, da mixtape “Coloring Book” (2016).

Agora você já sabe uma das músicas que encontrará nos nossos ‘Melhores Singles de 2017’:

Qual será o hit do verão brasileiro em 2017? Nossas apostas estão nessa playlist!

É verão, e o clima está cada vez mais quente. Ame ou odeie, essa é a época para curtir o calor, o sol e aproveitar para se refrescar muito (vamo beber muito monange1!).

Mas, além disso, não podemos esquecer que essa é a melhor época do ano para renovar aquela playlist sua que, muito provavelmente, ainda tem “Work”, “Cheap Thrills” e, na menos pior das hipóteses, “Hello”.

Se você esteve ocupado demais para pensar em quais músicas vão embalar essa estação por aqui, pode ficar tranquilo, porque temos a solução.

Isso porque o maior blog que você respeita criou uma playlist – no Spotify, como de costume – com as apostas de hits para esse verão da porra. E, para isso, não abrimos mão da diversidade, então tem de TU-DO, do pop europeu de Clean Bandit, Dua Lipa e Zara Larsson ao reggaeton de Shakira e Maluma, passando pelo som do Tropkillaz e, claro, “Deu Onda”, que nos trouxe a paz nacional.

Ouça a playlist abaixo e não vai bobear, hein? Então já aproveita para seguir a gente e a lista por lá também! :)

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