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As 10 melhores atuações do cinema em 2021


O Cinematofagia está cada vez mais próximo de publicar a lista com os melhores filmes de 2021, mas antes vamos celebrar as 10 melhores atuações do ano (todas as listas de melhores de 2021 aqui).

De vencedoras da temporada a estreias inacreditáveis, a lista segue as seguintes regras: não há separação entre papéis protagonistas e coadjuvantes e nem de gênero, tendo como critério de inclusão a estreia do filme em solo tupiniquim dentro do ano ou com o filme chegando à internet sem distribuição no país até o fechamento da lista. Importante pontuar também que, quando são duas performances no mesmo filme, foram colocadas na mesma posição.

Não assistiu a algum dos longas aqui listado? Não se preocupe, pode ler todos os textos que são sem spoilers - e em seguida correr para aclamar essas performances maravilhosas. Quem são os indicados ao Oscar Cinematofagia de "Melhor Atuação" do ano? Você pode conferir abaixo.


#10 Morfydd Clark em "Santa Maud"

A galesa Morfydd Clark ainda está no começo de sua carreira, conseguindo papéis coadjuvantes em "Orgulho e Preconceito e Zumbis" (2016) e "Predadores Assassinos" (2019), finalmente conseguindo o merecido destaque em "Santa Maud". Vivendo uma enfermeira que, após um colapso, se converte para o (ultra) cristianismo, Clark é brilhante em compor a psicótica Maud e sua insana missão de salvar a alma de sua paciente, indo do céu ao inferno num piscar de olhos.

#9 Riley Keough & Taylour Paige em "Zola"

Enquanto Riley Keough já possui uma carreira solidificada - inclusive aparecendo na minha lista de melhores atuações de 2020 com "O Chalé", parabéns pela dobradinha -, Taylour Paige só havia conseguido pequenas pontas na tevê, cinema e videoclipes, e é difícil imaginar alguém melhor para ser Zola, a stripper que quebrou a internet com sua saga de 148 tweets em 2015. A dupla, um yin-yang perfeito, se completa na condução desse épico disfuncional e feminista.

#8 Nicolas Cage em "Pig: A Vingança"

Uma das trends da Hollywood moderna é a ressureição de carreiras que eram dadas como mortas ou nunca levadas à sério. Quer exemplos? Michael Keaton com "Birdman" (2014), Steve Carell com "Foxcatcher" (2014) e Adam Sandler com "Joias Brutas" (2019). Cada um desses filmes catapultaram os respectivos atores para o panteão de nomes a serem seguidos, e "Pig" é a redenção de Nicolas Cage. A diferença é que Cage já viveu o apogeu, vencendo o Oscar por "Despedida em Las Vegas" (1995) e destruindo sua imagem com péssimos filmes e atuações medíocres. Engraçado como ele entrega uma das melhores atuações de sua vida como um homem que só quer resgatar sua porca a todo custo.

#7 Frances McDormand em "Nomadland"

Meryl Streep é sempre consagrada como a melhor atriz da geração, mas Frances McDormand está nada atrás. Ambas, inclusive, venceram a mesma quantidade de Oscars nas categorias de atuação, com McDormand dominando o coração da Academia nos últimos anos. Apesar de não ter sido minha favorita na categoria de "Melhor Atriz" em 2021 (ela aparecerá mais à frente), McDormand continua impecável como Fern, uma nômade que vive em uma van e tenta sobreviver aos EUA em época de recessão. Servindo, também, como produtora do longa (que lhe deu um quarto Oscar), Frances demonstra sua versatilidade e esperteza em escolher mulheres complexas para representar na tela.

#6 Benedict Cumberbatch em "Ataque dos Cães"

Um ator que sempre figura nas listas de queridinhos do público é Benedict Cumberbatch. Alguns, inclusive, acham que ele deveria ter vencido o Oscar em 2014 por "O Jogo da Imitação" (coragem). Ao contrário da maioria, Cumberbatch nunca foi um ato do meu agrado, mas "Ataque dos Cães" me fez entrar no hype. O melhor elemento de todo o filme, Cumberbatch (que é inglês) mastiga um sotaque perfeito norte-americano caipira como um macho-alfa desprezível que esconde segredos para a fachada que emprega.

#5 Lady Gaga & Jared Leto em "Casa Gucci"

Dois Oscars winners juntos fazem magia. Aliás, quase todo o cast principal de "Casa Gucci" é vencedor do careca dourado e não decepciona, porém, Lady Gaga e Jared Leto roubam a cena. "Casa Gucci" é como aqueles filmes hollywoodianos na Era de Ouro que se passam em "terras estrangeiras": caricato e melodramático da melhor forma, com Gaga e Leto encabeçando o exagero. Podem, para alguns, ultrapassar o limite, mas os dois estão imperdíveis nesse universo camp que reúne remixes de clássicos e roupas de luxo, tornando-se um "O Poderoso Chefão" gay.

#4 Olivia Colman em "A Filha Perdida"

Junto com Meryl e McDormand, Olivia Colman também faz parte da elite de atuação moderna. Já tendo vencido o Oscar pela genial (e louca) rainha de "A Favorita" (2018), Colman mira em mais uma performance para arrebatar louvores com "A Filha Perdida". É difícil falar sobre sua personagem sem revelar as inúmeras camadas obscuras que a constroem, todavia, Colman traz uma das mães mais complexas do cinema nos últimos anos sem perder um mísero momento no filme de estreia de Maggie Gyllenhaal, que desglamouriza a maternidade de maneira sincera (até demais).

#3 Carey Mulligan em "Bela Vingança"

Carey Mulligan já habitava no meu radar há uma década, desde seu fantástico 2011 com "Drive" e "Shame", e finalmente teve o reconhecimento que merece com "Bela Vingança". Certo, ela não levou o Oscar (mas deveria), no entanto, sua garçonete que abandona tudo em busca de vingança pela amiga morta é uma viagem sensacional que reflete com maestria as desgraças que toda mulher está suscetível em uma sociedade afogada na cultura do estupro. Nada fácil de ser engolido, mesmo com tanta cor, Mulligan eleva "Bela Vingança" para patamares de excepcional.

#2 Anthony Hopkins em "Meu Pai"

Anthony Hopkins tem seu nome cravado na história do Cinema como um monstro, porém, entregar uma das melhores atuações de todos os tempos com mais de 80 anos é um feito sem precedentes. Levando seu segundo Oscar quase 30 anos depois do primeiro - com "O Silêncio dos Inocentes" (1991) - e se tornando o ator mais velho a receber a estátua de "Melhor Ator", a maior conquista de Hopkins com "Meu Pai" é entregar a melhor performance de uma pessoa que sofre com doenças mentais já feita na Sétima Arte. Tão impressionante quanto dolorido.

#1 Agathe Rousselle & Vincent Lindon em "Titânio"

Se houvesse justiça nesse mundo, Agathe Rousselle e Vincent Lindon estariam sendo celebrados como merecem. "Titânio" é o filme mais complexo e desafiador de 2021, e seus personagens são partes fundamentais da construção daquele mundo tão estranho, carregado por ambos como se não estivesse fazendo esforço. Duas das mais magistrais entregas de todos os tempos, Rousselle e Lindon entregam seus corpos nesse body horror bizarro e são as âncoras que não deixam todo o carnaval de loucuras sair do chão do verossímil. Absurdamente irretocáveis.

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As 10 melhores fotografias do cinema em 2021


Para abrir as listas de "Melhores de 2021" aqui no Cinematogafia (ainda teremos as melhores atuações e, claro, os melhores filmes), aqui estão as 10 melhores fotografias do ano, aquelas que nos fizeram falar "dá o Oscar para esse enquadramento". Mas antes de tudo, o que é fotografia?

A fotografia - ou cinematografia, no jargão técnico mais apropriado - é o termo que mais sofre quando alguém elogia o "visual" do filme. Ao contrário do que se pode presumir, a fotografia não é necessariamente tudo o que está na tela, tudo o que podemos ver; ela é a "impressão" do roteiro, ou seja, os enquadramentos, movimento de câmera, uso de filtros, manipulação de cores, exposição de luz e afins.

Quando alguém solta um "olha a paleta de cores maravilhosa desse filme!", muitas vezes ele não está falando da fotografia, e sim do design de produção - a chamada "direção de arte", que compõe todo o aparato físico que está no ecrã. As cores, parte visual mais emblemática, entra tanto na fotografia - pelo trabalho do colorista - como na direção de arte - no trabalho do cenógrafo - e nos figurinos - no trabalho do figurinista. São departamentos distintos e realizados por profissionais diferentes; é a união de todos que fazem um filme ser "bonito" (ou não, caso propositalmente).

Então, o que a lista está julgando, basicamente, é o trabalho de câmera juntamente com a colorização das películas. O critério de inclusão dos citados é o de sempre: ter estreado nacionalmente (em salas comercias, festivais ou plataformas de stream) em 2021 ou ter chegado à internet sem data de lançamento previsto. Preparado para fazer a linha cult na próxima roda de amigos e falar das fotografias mais estonteantes do cinema em 2021? Aqui as 10 melhores pelo Cinematofagia (sem ordem de preferência):


Ovelha (Lamb)

Cinematofragia por: Eli Arenson. Coloração por: Eggert Baldvinsson.

O selecionado da Islândia para o Oscar 2022, "Ovelha" é uma fantasia com toques de terror que necessitava de uma atmosfera ideal para o desenvolvimento de sua estranha história, e a cinematografia da fita é elemento fundamental para seu sucesso. Não é tão difícil assim conseguir um filme visualmente incrível na Islândia - é só apontar a câmera para qualquer lugar do país que é garantia de imagens belíssimas -, mas "Ovelha" sabe utilizar a natureza como elemento dramático, afinal, como bem informa o roteiro, a natureza é maior mãe que existe.

Spencer (idem)

Cinematografia por: Claire Mathon. Coloração por: Peter Bernaers.

De maneira inesperada, "Spencer" é um dos filmes mais "divisivos" de 2021: enquanto o consenso da crítica é de puro deleite, o público em geral não gostou tanto assim da obra. Um elemento, no entanto, é regra: a forma como a história de aprisionamento de Lady Di é filmada com maestria. Com cores escolhidas a dedo e enquadramentos que evidenciam o estado mental da protagonista, somos catapultados para uma década de 90 cheia de glamour e solidão, como se o que está passando diante dos nossos olhos fosse uma memória que, por mais afeto injetemos, não consegue esconder sua melancolia.


O Cavaleiro Verde (The Green Knight)

Cinematografia por: Andrew Droz Palermo. Coloração por: Alastor Arnold.

Dirigido por David Lowery, mesma cabeça pro trás de "Sombras da Vida" - uma das melhores cinematografias do século -, "O Cavaleiro Verde" não tinha como decepcionar. Lowery gosta de utilizar a lente para desenvolver um universo quase paralelo, como se suas histórias não se passassem na nossa realidade, e a epopeia de "O Cavaleiro Verde" busca ser um filme feito como se fosse uma obra fidedigna dos contos fantásticos medievais, abusando de enquadramentos que evocam magia e encantamento. Todos os momentos em que o personagem do título está na tela é um show.


If I Can't Have Love I Want Power (idem)

Cinematografia por: Petra Diensbirova. Coloração por: Bryan Smaller.

O filme que acompanhou o lançamento do quarto álbum de estúdio da norte-americana Halsey, "If I Can't Have Love I Want Power" é uma extravagância imagética que não economiza na grandiosidade de suas imagens. Seguindo uma rainha que abdica de tudo em busca de poder, Halsey foi caprichosa em extrapolar a narrativa do disco com cenas encharcadas de simbolismos que vão muito além de composições visualmente bonitas - são poderosíssimas.


Nomadland (idem)

Cinematografia por: Joshua James Richards. Coloração por: Élodie Ichter.

Aquele que deveria ter vencido o Oscar de "Melhor Fotografia" (desculpa, "Mank"), "Nomadland" arrebatou a todos (e o careca dourado de "Melhor Filme") com a simplicidade em que escancarou as mazelas do capitalismo norte-americano na contemporaneidade. Fotografado pelo parceiro da diretora e oscariada Chloé Zhao, Joshua James Richards, essa mistura de road movie com cinema de denúncia contrasta suas temáticas com cenas de tirar o fôlego, capturadas com uma falsa calmaria: tua soa muito simplista, mas carrega camadas que exprimem a luta de seus personagens ao tentarem sobreviverem àqueles ambientes.


Santa Maud (Saint Maud)

Cinematografia por: Ben Fordesman.

Filmes de terror com viés religioso são um dos meus fracos, principalmente quando fotografados da maneira correta (dá vontade, "A Freira"?). "Santa Maud" é um dos exemplos de louvor. Uma enfermeira, após um acidente fatal, se converte para o cristianismo com certo... radicalismo. Sua missão na terra é salvar a vida (e a alma) de sua nova paciente, custe o que custar. Ben Fordesman (fotógrafo do maravilhoso curta musical "M3LL155X" de FKA Twigs) vai a fundo na "decreptação" do mundo de Maud, extinguindo qualquer tom de cor alegre e afundando a história em imagens lúgubres que estão mais perto do inferno do que qualquer paraíso.


O Santo Desconhecido (The Unknown Saint)

Cinematografia por: Amine Berrada. Coloração por: Laurent Navarri.

Essa pequena joia do cinema marroquino não teve o apreço que merece aqui em terras brasileiras, e espero agora mudar essa realidade. "O Santo Desconhecido" narra o conto de um ladrão que enterra seu roubo no alto de uma colina. Ao sair da prisão tempos depois, ele volta para finalmente resgatar seu tesouro, só para descobrir que o local virou santuário intocável de um santo criado por um vilarejo. Recheado de planos abertos lindos de morrer, o árido norte da África é filmado com paixão e traduz imageticamente o misticismo (e pura comédia) de um povo apegado às tradições.


Duna: Parte 1 (Dune: Part One)

Cinematografia por: Greig Fraser. Coloração por: David Cole.

Um dos projetos mais ambiciosos do século, "Duna" comprova que Denis Villeneuve entrou na ficção-científica (depois de "A Chegada" e "Blade Runner 2049") e não sairá mais dela. Elogiar os aspectos visuais do filme é chover no molhado: efeitos especiais incríveis, figurinos irretocáveis e uma fotografia perfeita compensam qualquer defeito que podemos encontrar no filme como um todo. Villeneuve e Greig Fraser foram assertivos na criação desse mundo distópico que se consolida como um épico (ao menos no trato do ecrã). Oscars virão.


A Morte de Dois Amantes (The Killing of Two Lovers)

Cinematografia por: Oscar Ignacio Jiménez. Coloração por: Drew Tekulve.

Fincando no interior dos EUA, "A Morte de Dois Amantes" é o suprassumo do cinema indie. Um casal em crise decide dar um tempo. A regra é: cada um pode se envolver com outras pessoas, sem ressentimento. A regra é bem seguida pela esposa; já para o marido, ver a amada conseguindo seguir a vida sem ele é uma tortura. O longa se passa através do ponto de vista do marido, que vê seu relacionamento ruir impotentemente, e as imagens da fita são a combinação ideal para a destruição psicológica do fim de um romance - aqui, levado para extremos perigosos demais.


Luz Eterna (Lux Æterna)

Cinematografia por: Benoît Debie. Coloração por: Marc Boucrot.

Parceiro de cinematografia de Gaspar Noé, Benoît Debie sabe, desde "Irreversível", como o diretor é quase um ditador ao tratar suas imagens com o maior choque possível. Depois da festa mais caótica de todos os tempos com "Clímax", Debie vai ainda mais longe no média-metragem "Luz Eterna": são múltiplos trabalhos de câmera, que muitas vezes são colocados lado a lado na tela mostrando pontos de vistas diferentes do inferno que é a filmagem de uma obra. Um filme dentro do filme, "Luz Eterna" é ousado e desconcertante ao querer provar que o pandemônio não é sua história de bruxas high-fashions prestes a serem queimadas na fogueira, são os bastidores.

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Os 20 melhores filmes de 2020

A melhor época do ano para o escritor que cá se encontra é a época de fazer as listas de melhores do mundinho cinematográfico no ano. Gasto horas catalogando tudo o que assisti até a marca temporal que quero fechar (seja a de metade do ano, ano inteiro ou da década), a fim de trazer a você, leitor, o que considero o suprassumo dos lançamentos (dentro da enorme cerquinha da subjetividade, é claro). Mas 2020 foi um ano diferente.


Com a pandemia, a indústria cinematográfica parou. A produção de muitos filmes foram interrompidas, e os já finalizados foram adiados até que as salas de cinemas possam ser reabertas. O mercado brasileiro - ironicamente - acabou sofrendo menos com isso por receber filmes que já rodaram em outros países meses antes - vários do Oscar 2020, por exemplo, que estrearam internacionalmente em novembro e dezembro, só chegaram aqui após a virada da década. No entanto, mesmo com o fluxo de obras sendo drasticamente reduzido, ainda conseguimos assistir a filmes imperdíveis que salvaram nosso ano (e nossa quarentena). Aqui estão meus 20 longas favoritos de 2020.

De indicados e vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2020 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 20, meu amor por você é real. Preparado para uma maratona do que há de melhor no cinema mundial de 2020?

 

20. O Que Ficou Para Trás (His House)

Direção de Remi Weekes, Reino Unido/EUA.

Um casal de refugiados chega na Inglaterra fugindo da guerra no Sudão. Lá, eles são realocados em uma casa e devem aprender a conviver naquela sociedade abertamente racista, porém, o que há de pior não está do lado de fora, e sim dentro da própria casa. "O Que Ficou Para Trás" é o primeiro filme de terror com qualidade a receber o selo Netflix, e isso se deve graças ao diretor e roteirista Weekes que se utiliza de uma situação bastante específica e contemporânea para orquestrar seu horror com competência. Com referências a várias correntes do gênero, de terror coreano a James Wan, o longa acerta (e muito) ao priorizar o drama familiar e introduzir veia cultural e folclórica para gerar autenticidade. "O Que Ficou Para Trás" consegue ter relevância social e cenas visualmente assustadoras na mesma medida.

19. Os Lobos (El Lobos)

Direção de Samuel Kishi, México.

Uma mãe solteira migra do México para os EUA com dois filhos pequenos. O cenário é um que já conhecemos bem: a ida para o utópico sonho americano, e a familiarização com os personagens e suas histórias é instantânea. O longa se passa majoritariamente por meio da ótica dos dois filhos - e remete bastante a "Projeto Flórida" (2017) e "Nós Os Animais" (2018), todos cinemas de denúncia das mazelas do capitalismo com uma narrativa construída ao redor das crianças e como elas enxergam a pobreza. Quando as economias da família são roubadas, o tom do filme de Kishi é imposto, demonstrando perfeitamente qual é a sua visão (fundamental) de nós enquanto sociedade.

18. Rede de Ódio (Hejter)

Direção de Jan Komasa, Polônia.

Um estudante de Direito é expulso por plágio. Sem expectativas, ele tem como único objetivo entrar no coração de uma família rica enquanto possui uma vida dupla em uma agência de relações públicas especializada em difamações online. "Rede de Ódio" - disponível na Netflix - é um terror da contemporaneidade. Entramos no fundo do poço de mentiras, manipulações e narrativas de ódio que permeiam a política, empurrando o roteiro para medidas extremistas. Uma sessão desoladora por refletir tão bem nossa realidade que se utiliza da tecnologia para promover a intolerância e o fascismo. Pode se passar na Polônia, porém, consegue refletir bem o que passamos no aterrador Brasil atual.

17. Os Perseguidos (Queen & Slim)

Direção de Melina Matsoukas, EUA.

"Queen & Slim" é um daqueles filmes corretos lançados no momento correto. Seguindo o casal protagonista, a vida dos dois é permanentemente afetada quando são parados com um policial branco, que - por basicamente nada - quase os mata. Em legítima defesa, Slim atira no policial, desencadeando uma fuga nacional enquanto protestos contra abusos raciais rolam pelo país. Estreia no Cinema de Melina Matsoukas, diretora de vários videoclipes, como "Formation" da Beyoncé, é bastante intrigante - e também triste - que "Queen & Slim" tenha sido lançado poucos meses antes de George Floyd perder a vida. Floyd não foi o primeiro (e, infelizmente, não deve ser o último) a passar pelo o que passou sob o poder de um sistema que não encontrou falhas ao longo do caminho, e sim foi construído para ser assim, o que faz de "Queen & Slim" um quadro e um aviso de uma sociedade claramente doente.

16. A Primeira Vaca (First Cow)

Direção de Kelly Reichardt, EUA.

Jogando o espectador para o séc. XIX, no interior dos Estados Unidos, "A Primeira Vaca" é um filme que exala simplicidade à primeira vista, mas é muito mais complexa do que aparenta. A amizade improvável de dois homens, que mudará os rumos de toda a cidadezinha em que vivem, é transformada com a chegada da primeira vaca de toda a região, propriedade do homem mais rico de lá. Eles então começam a roubar o leite da vaca para ganhar dinheiro, o que trará uma ruína já exposta na primeira cena. É realmente impressionante como Kelly Reichardt é capaz de extrair tanta pureza, conflitos e divertimentos em cima de uma trama tão básica. Nunca na história do Cinema uma vaca causou tantos problemas.

15. Lindinhas (Mignonnes)

Direção de Maïmouna Doucouré, França.

A Netflix deve se culpar até hoje pela maneira como (quase) destruiu "Lindinhas": inicialmente com uma identidade visual completamente inadequada, a própria diretora da obra, Maïmouna Doucouré, revelou que que se chocou com as escolhas da plataforma e com o número de ameaças de morte que recebeu com a explosão do filme pós-Netflix. Ela não foi consultada sobre as estratégias de marketing adotadas e recebeu um telefonema do próprio CEO da plataforma, desculpando-se pelo ocorrido. No entanto, era tarde demais. O fenômeno ao redor de "Lindinhas" é um afinco estudo sobre a cultura do cancelamento e como as pessoas estão ávidas para eleger o anticristo da semana e derramar ódio sem total embasamento. Se a Netflix errou ao criar a arte inadequada para a obra, é um erro pequeno perto da narrativa criada contra o filme, que culpabiliza (e ameaça) não apenas uma indústria, mas pessoas reais como eu e você. "Lindinhas" encontra precisão enquanto complexa e desafiadora arte contra a sexualização de crianças e um bom objeto de estudo (apesar de involuntário) sobre a criação de percepções na internet em tempos de redes sociais.

14. Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Never)

Direção de Eliza Hittman, EUA/Reino Unido.

O aborto é um dos temas mais controversos da nossa sociedade atual, encontrando discussões muito calorosas sobre os dois extremos do debate. "Nunca Raramente Às Vezes Sempre" é a carta-aberta de Eliza Hittman sobre a temática. Uma garota de 17 anos está grávida e, com a ajuda da melhor amiga, vai até Nova Iorque para realizar um aborto. A superfície do longa carrega características que, de maneira previsível, nos dará a ideia de irresponsabilidade por parte da garota, contudo, o roteiro nos empurra para um mergulho muito complexo que explica tudo o que ocasionou a protagonista estar ali. A cena que dá título ao filme já é uma das mais incríveis do ano pela veracidade e dor que o corpo feminino está sujeito nas mãos do patriarcado.

13. Outra Rodada (Druk)

Direção de Thomas Vinterberg, Holanda.

Thomas Vinterberg teve uma carreria de altos e baixos: de criador do movimento Dogma 95 com Lars Von Trier a filmes rechaçados pela crítica, o holandês viu na década passada a estabilização de sua arte. "Outra Rodada", sua segunda parceria com Mads Mikkelsen, é mais um capítulo de sucesso em sua filmografia. Vinterberd e Mikkelsen se uniram em 2012 com "A Caça", obra-prima indicada ao Oscar e que verá o mesmo feito com "Outra Rodada"; um grupo de amigos de meia-idade abraçam uma teoria de mantimento do nível alcóolico no sangue para salvar o marasmo de suas vidas, o que não demorará a se mostrar um plano ruim. Unindo em doses sábias de humor e drama, o longa é um estudo esperto da nossa relação com o vício e uma carta de Vinterberg ao amor pelo Cinema: sua filha iria estrelar a fita, porém, morreu com três semanas de filmagens.

12. O Poço (El Hoyo)

Direção de Galder Gaztelu-Urrutia, Espanha.

"O Poço" talvez seja o filme mais badalado de 2020. Não por ser o mais assistido ou o melhor, mas por ter sido lançado em um terreno absurdamente fértil para fomentar suas discussões - e foram inúmeras ao longo das semanas após a Netflix jogar a obra em seu catálogo. Conhecemos uma prisão vertical que tem uma curiosa (e cruel) forma de alimentar seus detentos: através de um poço, onde o andar de baixo comerá o que sobrou do andar de cima. As discussões de “O Poço” soam óbvias – é só você ler a sinopse que a fundamentação central da fita estará presente. Sim, esse é um filme que quer mostrar como a estruturação do Capitalismo é falha, desumana e cruel – e provavelmente você, proletariado, já sabe disso. “O Poço” é uma alegoria brilhantemente terrível da natureza humana que gera indagações ao mesmo tempo que executa um trabalho de gênero delicioso.

11. E Então Nós Dançamos (And Then We Danced)

Direção de Levan Akin, Geórgia/Suíça.

A melhor fita LGBT do ano até o momento, "E Então Nós Dançamos" vem de um país que você talvez nem saiba onde se encontra: a Geórgia, um pequeno país na divisa entre a Europa e a Ásia. Com um cinema ainda proporcional ao tamanho do país, não se engane, a Geórgia é dona de filmes fantásticos, e "E Então Nós Dançamos" foi o selecionado ao Oscar 2020. Um dançarino vai ter que escolher entre aceitar sua sexualidade em um país sufocantemente homofóbico ou viver uma mentira assim que outro dançarino chega em sua escola. A dança georgiana, presente em todo o filme, é usada como catalizador desse amor proibido que termina, também, como um belíssimo documento cultural - e, sem surpresa, foi recebido com protestos pedindo o cancelamento das sessões. No entanto, o filme foi lançado, uma vitória para a resistência LGBT.

10. Devorar (Swallow)

Direção de Carlo Mirabella-Davis, EUA.

Esse pequeno horror indie causou desde a estreia no Festival de Tribeca ano passado, e, ainda bem, não ficou apenas no shock value: uma jovem e recém-casada mulher tem dificuldade em manter o casamento e a vida doméstica. Afogada em tédio e distanciamento emocional, ela descobre que está grávida, fato que desencadeia um transtorno que a faz engolir os mais diferentes objetos. "Devorar" recebeu uma embalagem colorida, harmônica e deliciosa, um contraste perfeito para toda a carga obscura de sua trama. Carregado pela atuação exemplar de Haley Bennett, o filme é uma mistura de "Grave" (2016) com "O Bebê de Rosemary" (1968), transformando o drama de sua protagonista em potência do horror. Bon appétit, baby.

09. Viveiro (Vivarium)

Direção de Lorcan Finnegan, Irlanda.

Todo ano precisamos de pelo menos um longa que seja a definição de "amei, mas não entendi", e "Viveiro" é o nome perfeito para isso. Quando um casal visita um conjunto habitacional em busca de um imóvel e fica preso nas ruas com casas totalmente iguais, rapidamente percebem que foi sua última decisão na vida. Estamos vivenciando uma fase interessante na mistura de horror e ficção científica, casando criatividade com as colunas dos dois gêneros: atmosfera e reflexão. "Viveiro" sem dúvidas não é um longa para qualquer paladar: é uma fita lenta, estranha, sufocante e que não vai entregar seus segredos de mão beijada. Sua beleza imagética esconde toda sua bizarrice com uma estética que passeia por "Edward Mãos de Tesoura" (1990) e "O Show de Truman" (1998), e transforma a casa própria, uma das mais desejadas paisagens, em um verdadeiro labirinto em que cada esquina é um pesadelo.

08. Nós Duas (Deux)

Direção de Filippo Meneghetti, França.

O cinema LGBT viu um apogeu na década passada, e tivemos inúmeras fitas que já entraram para a história, no entanto, ao mesmo tempo, estamos em uma era de saturação na exploração dessa temática, apesar de ser uma comunidade tão plural. A premissa de "Nós Duas", representante francês ao Oscar 2021 de "Melhor Filme Internacional", parecia sobrevoar essa mesma saturação: duas mulheres guardam seu romance há décadas, até que uma tragédia fará com que o segredo saia do andar em que as duas vivem. Lésbicas sofrendo as opressões da sociedade para poderem se amar, groundbreaking. Contudo, "Nós Duas" atinge insano sucesso por trazer um casal idoso, algo por si só negligenciado nas telas, e pelas construções afiadas para justificar sua existência. Esse é um romance lésbico violentamente apaixonante que faz com que esqueçamos os clichês para abraçar uma veracidade rara.

07. Mentira Nada Inocente (White Lie)

Direção de Yonah Lewis & Calvin Thomas, Canadá.

A história nem é tão inovadora: uma garota está fingindo ter câncer e sua mentira vai chegando cada vez mais perto de um inevitável fim. As grandes sacadas de "Mentira Nada Inocente" são: o roteiro, que prende a plateia na indagação "onde isso vai parar", e Kacey Rohl, na pele da protagonista. Não apenar um filme LGBT que foge totalmente das pautas clássicas da temática, a película é carregada pela insana atuação de Rohl, que dá literal vida a uma enganação de maneira tão forte que ela mesma acredita. A tensão é construída brilhantemente, e não conseguimos desviar os olhos da tela graças à certeza da ruína eminente de plano na protagonista. Até aonde alguém vai para sustentar uma mentira? A resposta está aqui.

06. Joias Brutas (Uncut Gems)

Direção de Josh Safdie & Benny Safdie, EUA.

Adam Sandler é um ícone do cinema norte-americano, mas pelos motivos errados. Ele já possui nada mais nada menos que NOVE Framboesas de Ouro (que premia o que há de pior no Cinema), inclusive sendo o detentor do recorde de maior número de prêmios em uma noite: "Cada Um Tem a Gêmea Que Merece" (2011) foi indicado a sete Framboesas e ganhou todas. Todavia, Hollywood adora ver um nome falido encontrando o Olimpo com alguma fita, e Sandler encontrou com "Joias Brutas". Os diretores, os irmãos Josh e Benny Safdie, adoram pegar atores considerados ruins e transformarem em donos de prêmios - como Robert Pattinson com "Bom Comportamento" (2017) -, e o Olimpo de Sandler foi fabuloso: dono de uma joalheria, ele é viciado em jogos de azar e vai levar a vida de todo mundo ao redor numa montanha-russa eletrizante, marca dos irmãos Safdie. "Joias Brutas" é um estudo de personagem raro e imperdível que entrega muito mais que um ator ruim conseguindo quebrar o estigma.

05. Os Miseráveis (Les Misérables)

Direção de Ladj Ly, França.

O vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2019 ao lado da obra-prima tupiniquim "Bacurau" (2019), "Os Miseráveis" é mais um filme a analisar a brutalidade da polícia (majoritariamente contra pessoas negras), tendo a França depois da vitória na Copa do Mundo 2018 como palco principal. Indicado ao Oscar 2020 de "Melhor Filme Internacional", o filme possui vários polos que se chocarão da mesma forma como os diferentes contextos culturais do caldeirão que é Paris, tendo um policial que atira em uma criança negra como estopim de uma revolta. É um daqueles filmes enormes, que não terminam com o rolar dos créditos, permanecendo com o espectador por muito tempo ao pôr no ecrã tantos debates pertinentes e atuais.

04. 911 (idem)

Direção de Tarsem Singh, EUA.

Raramente nas listas de melhores do ano incluo curtas-metragens - é meio injusto comparar um trabalho de minutos com outro que percorre horas -, todavia, "911" consegue burlar qualquer duração. O curta musical de Lady Gaga para a faixa de mesmo nome é, de longe, um dos maiores atos audiovisuais do ano ao transformar uma música pop em um ato imagético de profunda simbologia. Tocando em temas como ansiedade, doenças mentais e remédios antipsicóticos, Tarsem Singh deixa jorrar toda sua veia estilística e molda o filme como uma grande odisseia alucinógena em que cada quadro é milimetricamente irretocável - e, não se contentando em ser visualmente espetacular, ainda tem um plot twist de cair o queixo. Seja pelo nível de produção absurdo ou pela extrapolação do conceito da canção, "911" é um daqueles trabalhos que merecem ser chamados de geniais e que devem em nada na corrente do cinema folclórico, simbolista e surrealista.

03. 1917 (idem)

Direção de Sam Mendes, Reino Unido.

Filme de guerra chegando em premiações, alguém ainda aguenta isso? "1917" teve o trabalho inicial de conseguir conquistar um público cansado de um molde bélico feito para arrepiar a epiderme de premiações, e o resultado é (quase) irretocável - não por acaso ganhou três Oscars e sete BAFTAs. Com foco na Primeira Guerra Mundial, o trabalho segue dois soldados que são mandados em uma missão a fim de evitar um combate ainda maior e mais trágico. Filmado com a técnica de plano sequência - como se não houvesse cortes -, "1917" possui a consciência de que toda a fotografia, som, direção de arte e qualquer elemento técnico não sustenta uma arte que é, primordialmente, o ato de contar uma história. Os pequenos tropeços são ínfimos em meio à experiência visual e sensorial que imerge o espectador nos horrores e nas glórias desse período, sendo um daqueles filmes que nos recorda o quão impressionante e indispensável é a Sétima Arte. Nenhuma outra mídia seria capaz de causar o mesmo impacto.

02. O Chalé (The Lodge)

Direção de Veronika Franz & Severin Fiala, Reino Unido/EUA.

O segundo filme da dupla austríaca que nos presenteou o clássico moderno "Boa Noite Mamãe" (2014), "O Chalé" satisfará o paladar de quem gosta do tipo de terror do primeiro. Duas crianças perdem a mãe quando ela se suicida depois de um ex-marido começar a namorar uma mulher nova. O pai tenta (com insistência) aproximar os filhos da namorada, que possui um passado macabro e, segundo a prole, possui algo de muito errado. Eles ficam presos em uma cabana, e situações inexplicáveis desafiam a sanidade de todos. "O Chalé" nada contra a maré do modelo atual de cinema de terror, acomodado em berrar sustos, e edifica sua atmosfera com muito cuidado, trabalhando com sugestões e temáticas geralmente tratadas com pobreza. A religião católica já perdeu as contas de quantos filmes a tomam como ethos de maneira preguiçosa, sem agarrar o quão assustador pode ser quando roteirizada da maneira certa, e "O Chalé" é um desses exemplos de sucesso, ainda mais louvável quando não possui uma trama sobrenatural, bengala batida e saturada dentro do gênero.

01. Nova Ordem (Nuevo Orden)

Direção de Michel Franco, México.

"Nova Ordem" provavelmente é o filme mais controverso do ano. O "ame ou odeie" definitivo da aurora da nova década, a nova empreitada de Michel Franco segue a coerência de sua filmografia ao contar mais uma história polêmica e difícil: durante uma revolta das classes mais pobres, os militares aproveitam para dar um golpe de Estado, que levará ricos e pobres para o mesmo buraco. A película é mais uma enciclopédia de "franciana" sobre a maldade humana, mas dessa vez com fortíssimo viés político. Sua moral é óbvia: em um mundo sem a menor empatia e afogado em egoísmo e corrupção, todos nós perdemos. Em meio a uma onda do conservadorismo, do reacionarismo e do fascismo que vêm assolando inúmeras nações mundo afora, a distopia do longa choca pela gigante proximidade com o real. Assistir a este nascimento de uma ditadura termina tão forte, alarmante e pretensioso graças à escolha do diretor de não dar uma aula de História no ecrã, e sim realizar um verdadeiro filme de terror.


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Lista: as 15 melhores atuações do Cinema em 2020

O Cinematofagia está cada vez mais próximo de publicar a lista com os melhores filmes deste difícil 2020, mas antes vamos celebrar as 15 melhores atuações do ano.

De vencedoras da temporada a estreias inacreditáveis, a lista segue as seguintes regras: não há separação entre papéis protagonistas e coadjuvantes, tendo como critério de inclusão a estreia do filme em solo tupiniquim dentro do ano ou com o filme chegando à internet sem distribuição no país até o fechamento da lista.

Não assistiu a algum dos longas aqui listado? Não se preocupe, pode ler todos os textos que são sem spoilers - e em seguida correr para aclamar essas performances maravilhosas. Quem é indicado ao Oscar Cinematofagia de "Melhor Atuação" do ano? Você pode conferir abaixo.

Adam Sandler em "Joias Brutas"

A missão dos irmãos Josh e Benny Safdie no mundo do Cinema é pegar atores considerados medíocres e transformá-los em apostas no Oscar. Em "Joias Brutas", foi a vez de Adam Sandler. O ator, guilty pleasure e recordista em Framboesas de Ouro (o Oscar dos piores filmes), é há tempos massacrado pela crítica com sua enxurrada de comédias tenebrosas, mas lá no fundo há um bom ator, e aqui está a prova. Sua atuação em "Joias Brutas" - que, apesar de injustamente não ter sido indicada ao Oscar, rendeu o Spirit Award e o National Board of Review de "Melhor Ator" - é um daqueles casos que Hollywood faz renascer a carreira de um nome falido.

Kacey Rohl em "Mentira Nada Inocente"

A história nem é tão inovadora: uma garota está fingindo ter câncer e sua mentira vai chegando cada vez mais perto de um inevitável fim. As grandes sacadas de "Mentira Nada Inocente" são: o roteiro, que prende a plateia na indagação "onde isso vai parar", e Kacey Rohl, na pele da protagonista. Não apenar um filme LGBT que foge totalmente das pautas clássicas da temática, a película é carregada pela insana atuação de Rohl, que dá literal vida a uma enganação de maneira tão forte que ela mesma acredita.

Lady Gaga em "911"

Lady Gaga não surpreende mais no mundo da música, provando há mais de uma década o monstro que é nos palcos, mas foi com "Nasce Uma Estrela" (2018) que ela mostrou seu talento para atuação. É verdade, ela já revelava isso em alguns de seus curtas musicais, e "911" é o ápice: percorrendo toda a narrativa onírica de maneira estrelar, é no plot twist que Gaga libera toda a sua potência e já nos deixa ansiosos para seus próximos passos na Sétima Arte.

Haley Bennett em "Devorar"

Longas que quebram a glamourização da maternidade - e que até a transformam em terror - estão aí há tempos, e "Devorar" é o filhote de "O Bebê de Rosemary" (1968) que estávamos esperando. Uma jovem e recém-casada mulher tem dificuldade em manter o casamento e a vida doméstica. Afogada em tédio e distanciamento emocional, ela descobre que está grávida, fato que desencadeia um transtorno que a faz engolir os mais diferentes objetos. Haley Bennett talvez não havia aceitado um papel tão desafiador quanto esse em sua carreira, e o desafio foi conquistado de forma brilhante.

Sidney Flanigan em "Nunca Às Vezes Raramente Sempre"

Sidney Flanigan fez uma daquelas históricas estreias no Cinema: seu primeiro papel, em "Nunca Raramente Às Vezes Sempre", inundou a atriz de aclamação e prêmios na atual temporada. No filme, ela é uma menina de 17 anos que, ao se ver grávida, embarca em uma viagem pelo país em busca do aborto. É claro que com essa temática a produção está rodeada de polêmicas, contudo, o roteiro empurra as previsibilidades e coloca Flanigan como porta-voz de um tópico que ainda precisa de muito debate.

Daniel Kaluuya & Jodie Turner-Smith em "Os Perseguidos"

"Os Perseguidos" - ou como eu prefiro chamar, "Queen & Slim" (o título original) - ganharia o Oscar de "Melhor Timing" caso houvesse a categoria. É uma fita sobre truculência policial contra a população negra lançado em meio ao movimento "Black Lives Matter". Quando um casal negro, em uma abordagem totalmente desproporcional, mata um policial branco, suas vidas estão condenadas para sempre. O road-movie de estreia de Melina Matsoukas (diretora do lendário clipe de "Formation" da Beyoncé) é lindamente conduzido por Jodie Turner-Smith (em seu primeiro protagonismo) e Daniel Kaluuya (protagonista do oscarizado "Corra!", 2017), que choram, suam e sangram em nome das vidas negras que são constantemente dizimadas pelo racismo estrutural.

Delroy Lindo em "Destacamento Blood"

Depois do imenso sucesso com "Infiltrado na Klan", 2018 (que finalmente lhe rendeu um Oscar), Spike Lee apertou as mãos da Netflix e lançou "Destacamento Blood", mais uma empreitada que deve ir direto para o coração da Academia. E o que há de maior apreço aqui é a atuação antológica de Delroy Lindo. O longa se divide bastante em termos de protagonismo, contando até com o recém-falecido e jamais esquecido Chadwick Boseman, no entanto, é Lindo que assalta todos os momentos em sua caída rumo à loucura, potencializada pela caça a um tesouro que custará a vida de muitos. O Oscar de "Melhor Ator" já tem um indicado (atualização pós-temporada: a esnobada de Lindo foi um crime).

Kelvin Harrison Jr. em "As Ondas"

"As Ondas", até metade de sua duração, é uma obra-prima, e isso se deve, e muito, à Kelvin Harrison Jr. Popular aluno, aspirante e brilhante atleta, sua vida é completamente perfeita até que ele descobre uma lesão em seu ombro que o tirará permanentemente do esporte. Com sua vida ruindo rapidamente, ele levará a situação a um ponto extremo que só funciona graças à sua performance de tirar o fôlego que hipnotiza pela veracidade.

Fathia Youssouf Abdillahi em "Lindinhas"

Sem entrar muito no tópico de como a Netflix quase destruiu "Lindinhas" com seu marketing desastroso, esse foi um dos filmes mais falados do ano na plataforma. Há muita discussão acerca de seu posicionamento, mas há um ponto que se destaca: como Fathia Abdillahi, de 11 anos e em seu primeiro trabalho na telona, foi capaz de interpretar uma personagem TÃO complexa. Esmagada entre a cultura tradicional de sua família versus a liberdade por vezes sem freios da modernidade, a garotinha entra para um grupo de dança que replica o que há de pior na sexualização de crianças. É um trabalho difícil e Abdillahi jamais fica aquém da empreitada.

Maria Bakalova em "Borat: Fita de Cinema Seguinte"

Sacha Baron Cohen deu um show de atuação como o tresloucado jornalista cazaque no filme original de 2006. É claro que a história não seria diferente no lançado-de-surpresa "Borat 2". Só que ele nem é a maior revelação do longa, e sim Maria Bakalova, atriz búlgara que interpreta Tutar, a filha do jornalista que é usada como presente para o então vice-presidente dos EUA. Muito mais que um pastelão escatológico, a presença de Bakalova é fundamental para a veia feminista de toda a loucura, e ela definitivamente rouba a cena de Cohen - e isso quer dizer muita coisa.

Helena Zengel em "Transtorno Explosivo"

Outra criança mostrando que talento não tem idade? Sim, temos. Helena Zengel teve, de longe, o trabalho que mais exigiu de um ator em 2020, e ela entregou sem defeitos. Vivendo uma menina com o transtorno do título, sua personagem é corretamente insuportável ao carregar uma doença mental seríssima que dificulta a vida de todo mundo ao seu redor. Ela grita, ataca e esperneia, e fica ainda mais impressionante assistir às entrevistas de Helena, tão doce e contrastante à sua personagem, um poço e ódio nem sempre reprimido.

Imogen Poots em "Viveiro"

Imogen Poots é uma atriz que merece ser descoberta pelo grande público. Apesar de um currículo vasto, a inglesa ainda não caiu nos radazes de grandes performers do momento, todavia, "Viveiro" veio para mudar essa impressão. Na bizarra fita, ela, juntamente com o namorado, está em busca da tão sonhada casa própria, que não tardará a ser um pesadelo. Poots cai em uma espiral de paranoia, isolamento e desespero com uma facilidade sobrenatural, já trazendo uma das melhores atuações do século.

Riley Keough em "O Chalé"

"O Chalé" não poderia ser O terror de 2020 sem uma atuação à altura. Riley Keough não tem medo de personagens que vão exigir o máximo dela - seu currículo filmográfico não mente -, e ela adiciona "O Chalé" ao seu mais-que-capaz portfólio. Uma breve descrição de como é seu papel é capaz de ilustrar o tamanho da responsabilidade: filha de um fanático religioso, ela foi a única a sobreviver de um massacre-suicida que matou todos da sua comunidade; agora, já adulta, ela ainda sobre gatilhos com imagens sacras, tomando remédios para manter sua curta sanidade mental. Keough, como em todo bom filme de terror, vai perdendo o controle da sua mente e calmamente arromba as portas do Inferno na tela.

Julia Garner em "A Assistente"

Julia Garner tem apenas 26 anos, mas já se encontra no caminho perfeito para cair nas graças de Hollywood. A garota, que começou a carreira liderando dramas indies, já possui um Emmy - de "Melhor Atriz Coadjuvante" pela série "Ozark" (2017-). Ela agora retorna em mais um protagonismo que mostra todo o seu talento. Em "A Assistente", Garner é a personagem título de uma empresa cujo chefe impõe um ambiente totalmente tóxico e machista. Com uma câmera que não descola de seu rosto, ela entrega nuances certeiras de um meio sufocante para quem é mulher.

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