Análise: poderia “Parasita” repetir “Moonlight” e levar o Oscar de “Melhor Filme”?

Na minha crítica para "La La Land: Cantando Estações", começo o texto falando que ele será o vencedor do Oscar de "Melhor Filme" mais previsível da década. Bem, sabemos que a Academia não terminou aquela noite como prevíamos (e nem estou reclamando, "Moonlight" é o melhor vencedor do século até agora). É claro que previsões e apostas sempre podem render surpresas, porém, mesmo "Moonlight" sendo o maior entre os concorrentes daquele ano, a temporada apontava para um caminho diferente.

Curiosamente, estamos vendo bastante similaridades entre a temporada de 2017 e a de 2020, com "Parasita" sendo o "Moonlight" do ano. Em primeiro lugar, os dois filmes foram os mais aclamados nos seus respectivos anos - só para dar uma ideia do tamanho da aclamação, a nota de "Moonlight" no Metacritic é 99 e a de "Parasita" é 96. Mas prêmios da crítica (que ambos ganharam aos montes) são bem diferentes dos prêmios da indústria - os televisionados e prêmios das associações. Vamos voltar para 2017.

"Moonlight" abriu a temporada com um ótimo Globo de Ouro de "Melhor Filme: Drama", contudo, ele não competia com "La La Land", que levou "Melhor Filme: Comédia". Para diminuir ainda mais o troféu de "Moonlight", "La La Land" ganhou todas as sete categorias que foi indicado, um recorde jamais visto - ainda permanece como o filme mais premiado da história do Globo. Foi a noite que abriu as portas para uma campanha perfeita, com uma diferença esmagadora de 7 X 1 (doeu aí?).

Depois, veio o Critics' Choice Awards, e, novamente, "La La Land" fez a limpa, arrematando oito prêmios, incluindo "Melhor Filme" - "Moonlight" saiu com dois. Em seguida, o BAFTA, e, surpresa, lá estava "La La Land" com mais sete prêmios no bolso; "Moonlight", no entanto, perdeu todas as categorias que foi indicado. Não tinha como "La La Land" sair sem o Oscar. Risos.


Os últimos pregos no caixão de "Moonlight" vieram com as Associações de Diretores (DGA) e Produtores (PGA), os termômetros principais para os Oscars de "Melhor Direção" e "Filme", respectivamente, as duas maiores categorias da noite. Claro, "La La Land" levou ambos. Àquela altura, estava conformado e, sim, bem contente, pois, por mais que "Moonlight" fosse meu favorito, "La La Land" é uma obra-prima (aquela temporada foi cheia de longas que mereciam o posto mais alto, não é mesmo, "A Chegada"?). Aí veio a noite do Oscar, "La La Land" já tinha seis estatuetas e.......... "Moonlight" deu uma rasteira e agarrou "Melhor Filme" (não sem antes termos o lendário erro no anúncio, dando o careca dourado pra "La La Land" por dois minutos). A reviravolta da geração, o erro deixou ainda mais impressionante a vitória.

Voltemos para 2020. "1917" está sendo o "La La Land" da temporada. Já ganhou o Globo de Ouro, o BAFTA, a Associação de Produtores e a de Diretores - o único que "1917" perdeu, ao contrário de "La La Land", foi o Critics' Choice, vencido por "Era Uma Vez em Hollywood" (felizmente, Tarantino parece estar sem força na reta final da temporada, saindo da briga principal). "Parasita", assim como "Moonlight", venceu a Associação de Roteiristas (WGA), todavia, há uma diferença fundamental aqui: "Parasita" é um filme estrangeiro.

E por não ser em inglês, diversas limitações surgem pela frente. Ele não pode concorrer ao Globo de Ouro de "Melhor Filme: Drama" junto com "1917", e perdeu "Melhor Roteiro" no Globo e no Critics' (provavelmente por esse exato motivo). No entanto, venceu cada um dos prêmios de "Filme Estrangeiro" que viu pela frente - não existe concorrência nessa categoria específica - e empatou em "Melhor Direção" com "1917" no Critics' Choice. Para deixar mais fácil a absorção desses dados todos, a tabela abaixo:

Como podemos ver, os caminhos de "Parasita" X "1917" são bem similares aos de "Moonlight" X "La La Land". A Academia jamais deu o careca dourado mais cobiçado da noite para um filme em língua estrangeira - e apenas 11 foram indicados nos 92 anos (com "Roma" perdendo no ano passado mesmo com o favoritismo) -, mas também, até "Moonlight", nunca havia premiado um filme LGBT e/ou com um elenco 100% negro, e aconteceu. Respondendo a pergunta do título: sim, "Parasita" tem chances de repetir o caminho de "Moonlight" e levar "Melhor Filme", mesmo com "1917" derrubando todo mundo temporada adentro.

Assim como a vitória de "Moonlight" foi um marco histórico, uma vitória de "Parasita" também seria. O Oscar é uma premiação norte-americana, e costuma celebrar o cinema do eixo EUA-Reino Unido, então, dando "Melhor Filme" para "Parasita", seria uma valorização para a arte de outros mercados, restrita na categoria de "Filme Internacional" e, ainda mais raro, a alguma categoria técnica.

Bem verdade que o favoritismo de "Parasita" a "Melhor Roteiro Original" já é um feito - apenas "Fale Com Ela" venceu a categoria com um texto não-inglês. Vencendo ou não algum Oscar além de "Filme Internacional", "Parasita" já deu um chacoalho nos pilares da Academia, ainda muito limitados às obras além do seu meio - alguns votantes confessaram que não viram "Parasita" porque não curtem legendas (?). De qualquer forma, na abertura do envelope de "Melhor Filme", caso "1917" (que é espetacular, não se engane) seja anunciado, vou esperar alguns minutos para ver se não houve outro erro e o real vencedor é o filme do Bong Joon-ho. Vai que...

Dua Lipa chega ao Top 10 da Hot 100 americana com “Don’t Start Now”

Ninguém pode parar a Dua Lipa! Pouco mais de três meses após seu lançamento, “Don’t Start Now” se consolida como o primeiro hit da era “Future Nostalgia” nos Estados Unidos ao chegar ao Top 10 da Hot 100 do país.


Em atualização divulgada nessa segunda-feira (03), a canção com ares disco subiu seis posições e chegou ao 9° lugar da parada. A subida aconteceu porque a música continua estável nos streamings e tem ganhado bastante audiência nas rádios. O bem venceu!

Vale lembrar que, enquanto no Reino Unido a artista chega ao Top 10 com facilidade – Dua tem, inclusive, dois #1s por lá – nos EUA não é tão fácil assim, muito por ela ser britânica. “Don’t Start Now” é apenas seu segundo Top 10 no chart americano, sucedendo “New Rules”, que chegou ao 6° lugar na parada.

Depois de muita divulgação e váaaarias performances, ela conseguiu! E agora que venha o Top 10 de "Physical" também.



Tanto "Don't Start Now" quanto "Physical" estarão no disco "Future Nostalgia", com lançamento marcado para dia 3 de abril. 

Crítica: “1917” é um exemplo concreto do quão única é a arte do Cinema

Indicado a 10 Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Direção
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Fotografia
- Melhor Design de Produção
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som
- Melhores Efeitos Visuais
- Melhor Trilha Sonora

Atenção: a crítica contém spoilers.

É divertido acompanhar como uma temporada do Oscar pode ser imprevisível. Se na abertura da janela do Oscar nós tínhamos "O Irlandês" (2019) e "História de um Casamento" (2019) na crista da onda, foi só começarem as premiações da indústria que o quadro virou. Nem mesmo Sam Mendes  (diretor de "Beleza Americana", 1999, e "007: Operação Skyfall", 2012) acreditou quando "1917" venceu "Melhor Filme: Drama" e "Melhor Direção" no Globo de Ouro 2020, o pontapé de uma campanha que, pelo visto, está destinada a terminar com o Oscar de "Melhor Filme" na estante.

"1917" segue dois soldados no meio da Primeira Guerra Mundial, Blake (Dean-Charles Chapman, o único rei decente que vimos em "Game of Thrones") e Schofield (George MacKay, cristal de "Capitão Fantástico", 2016). Blake é escolhido para uma missão quase impossível: ele deve, com a ajuda de Schofield, entregar uma carta que vai impedir um ataque das tropas britânicas e evitar a morte de todos. O destino? O campo de batalha do outro lado do campo alemão.

Não é a premissa mais empolgante do universo. Filmes bélicos chegando no Oscar já estão cansados, e não precisávamos de mais um - principalmente possuindo o favoritismo. Não estava empolgado para 2h de filme histórico nas trincheiras da WWI, porém, vi um vídeo promocional com o making of de uma das cenas e meu queixo caiu. A fita foi filmada como um grande plano-sequência - o que "Birdman" (2015) fez recentemente -, mas indo ainda mais longe. Os cortes de "1917" são bem cuidadosos para não ficarem explícitos, precisando de um olho mais atento para ver onde uma cena começa e termina - com exceção de um momento na metade da duração -, e é por isso que o filme não foi indicado ao prêmio de "Melhor Montagem". Para completar, a narrativa busca precisão na passagem do tempo, começando no fim da tarde e terminando no começo da manhã seguinte.


Um dos problemas que tenho com muitos filmes de guerra habita na motivação dos personagens. Sabemos os fatos históricos, sabemos quem está do lado de quem, mas muitas vezes falta um combustível humano e particular, afinal, a história em questão tem que ser única de alguma maneira. Blake e Schofield possuem a obrigação de levar a carta, contudo, há o fator emocional: o irmão de Blake está na linha de frente do grupo que vai atacar os alemães, então ele fará de tudo para chegar a tempo de salvar a vida de todos aqueles homens.

Não dá para não falar o óbvio: a forma como o filme é filmado é espetacular. A fotografia de Roger Deakins - vencedor do Oscar por "Blade Runner 2049 (2017) - faz um preciso balé coreografado enquanto segue os protagonistas. Dentro das apertadas trincheiras, há um jogo brilhante que reveza entre fotografá-los de frente e de costas, gerando uma fluidez fundamental para tirar a narrativa da morosidade. A mise en scène é explorada lindamente, sempre dando destaque aos vários ambientes que Blake e Schofield encontram pela frente. O design de produção então, de tirar o fôlego. Dos casebres abandonados às planícies destruídas pela guerra, todo o aparato visual de "1917" é impecável e um grande sucesso para o realismo da obra.

"1917" é bastante feliz em solidificar o viés humano de uma situação que esquece disso. Bem verdade que, às vezes, o roteiro dá uma pendida para o emocionalismo, chegando perto de ultrapassar a linha do apelativo, mas até mesmo algumas escolhas - como a cena com a mulher francesa - ajudam a retirar o filme da crueldade que é a guerra. Schofield claramente não queria estar ali - ele demonstra raiva por Blake tê-lo escolhido para partir com ele -, entretanto, seus desejos particulares são irrelevantes quando a vida de tantos estão em jogo. Felizmente, o roteiro abdica da jornada do herói e não santifica seus personagens - talvez por não se tratar de uma cinebiografia (ninguém aguenta mais!!!1); o texto foi inspirado em uma história contada pelo avô de Sam Mendes.


Alfred Hitchcock dizia que o cinema é "a vida sem as partes chatas", e o roteiro de "1917" sabe disso. Por ser uma narrativa ininterrupta, não teria como todas as cenas serem recheadas com ação, então há cuidado nas passagens entre os pontos altos da sessão. Claro que a narrativa dá uma leve estancada, principalmente porque estamos viciados na adrenalina, porém, tudo é muito compensado quando o caos cai em cima dos dois soldados. Inclusive, são nessas "pausas" que a produção encontra vários momentos de extrema delicadeza, como a cena do soldado cantando enquanto toda a tropa espera o momento de avançar na batalha.

Um grande erro em filmes de guerra é a suspensão da atmosfera de perigo. Nem por um segundo duvidamos que a missão dos protagonistas será cumprida no final das duas horas, mas a fita não descansa em tornar o trajeto num inferno. Um grande momento é a cena do avião sendo abatido. Primeiro, ele deliciosamente despenca dos céus diretamente de encontro com Blake e Schofield, e Blake acaba morto pelo piloto. É uma quebra de expectativa bem grande, e o lembrete do filme de que, na guerra, todos os lados perdem. Uma sequência bem triste, foi genial ver que o melhor estava ainda por vir. Uma tropa inglesa aparece no local e dá uma carona para Schofield. Ele, dentro de um caminhão com vários soldados, é focado no extremo centro da tela; os outros conversam aleatoriedades, contudo, a câmera não foge do rosto do protagonista, completamente aquém do que está acontecendo ao redor. Ele não consegue estar presente tamanha a dor pela morte de Blake. É um momento precioso.

Filmes de guerra são um mote que nunca guardei no coração. Claro que há exemplos que coloco minha estante de filmes favoritos, entretanto, abraçando os indicados ao Oscar na última década, a maioria é pura decepção - "Sniper Americano" (2014), "Até o Último Homem" (2016), "Dunkirk" (2017). Jamais pensei que "1917" poderia ser tão arrebatador a ponto de, em várias cenas, ter que me segurar para não chorar. Seja em sequências de apelo sentimental ou por puro milagre visual (o momento dos mísseis é avassalador), o longa é um sucesso por não ser pura perfumaria, uma exibição de poder técnico vazio - cof cof, "O Rei Leão" (2019), cof. Claro que todo o aparato técnico da película chama bem mais atenção que a história em si (pela técnica ser tão perfeita e a trama ser simples e direta), contudo, Sam Mendes usa muito bem seus arsenais para potencializar o drama, o que garante o tamanho apreço da indústria pelo filme. Se não fosse tudo tão bem feito, talvez o enredo não tivesse tanta força.

"1917" é uma excelente produção para nos lembrar da grandiosidade do Cinema - que mídia poderia nos dar uma sessão como a de "1917"? Qual outro formato conseguiria fomentar o mesmo impacto? Indo muito adiante da necessária pretensão de filmes de guerra (que estão cada vez mais ambiciosos), a fita possui a consciência de que toda a fotografia, som, direção de arte e qualquer elemento técnico não sustenta uma arte que é, primordialmente, o ato de contar uma história. Os pequenos tropeços são ínfimos em meio à experiência visual e sensorial que imerge o espectador nos horrores e nas glórias desse período. E quanto maior a qualidade do formato que você esse gigante videogame cheio de fases, obstáculos e objetivos, melhor ele será.

Sim, você deveria ouvir a nova música da Meghan Trainor com a Nicki Minaj, "Nice To Meet Ya"

Só a Meghan Trainor sabe o quanto ela lutou para o seu terceiro disco sair, né? O "Treat Myself" foi adiado várias vezes e refeito do zero, mas chegou ao mundo nessa sexta-feira (31) contendo uma parceria surpresa com a Nicki Minaj.

A faixa em questão se chama “Nice To Meet Ya” e traz a Meghan apostando no que faz de melhor: músicas divertidas e chicletes. Pra quem costuma ter o pé atrás com a garota e acha que as últimas músicas dela ainda soam como os hits de 2014 (o que não necessariamente é verdade), podemos dizer que a canção soa bem atual e é uma farofinha de qualidade. A presença da Nicki foi uma grata surpresa e  ajudou a música a ficar ainda mais refrescante. Quem diria que elas combinariam tão bem?

Junto com o disco e seu novo single, Meghan liberou também o clipe, no qual aparece dançando bastante em um escritório. O videoclipe também se inspira um pouquinho em “O Diabo Veste Prada”.

Vale dar uma chance:



Além da Nicki, o novo disco da Meghan, “Treat Myself”, também tem parcerias com Mike Sabath e o The Pussycat Dolls.

It Pop apresenta: 20 artistas para ficarmos de olho em 2020

A gente sabe que a chegada de 2020 fez com que muitos se dividissem entre a ideia de que entramos sim em uma nova década e a de que a década acaba apenas em 2021. Nós resolvemos ignorar a matemática e decidimos que sim, 2020 é o início de uma nova contagem, afinal, o que pode ser mais animador do que a chegada de uma nova década - especialmente quando pensamos em música?

Imaginar o que vai acontecer nos próximos dez anos é algo bem difícil. A indústria tem mudado muito e muito rápido, como podemos fazer previsões tão importantes assim? Por isso, vamos nos concentrar em apostar nos novos artistas que vão brilhar esse ano, que merecem nossa atenção pelos próximos dias e que tem muito potencial para, quem sabe, deixarem seus nomes marcados nessa nova década.

Falando em listas anuais de artistas para ficarmos de olho, temos feito apostas certeiras: em 2014 colocamos nossas fichas em nomes como MØ e Sam Smith, enquanto em 2015 acreditamos em Years & Years, Troye Sivan e Bebe Rexha. No ano seguinte, confiamos em Alessia Cara e Dua Lipa e em 2017 foi a vez de apostarmos em artistas como Anne-Marie e Mabel. Nos últimos dois anos, acertamos também: falamos de Billie Eilish, Kim Petras e Kali Uchis em 2018 e Lizzo e Rosalía em 2019.

O que podemos esperar para os próximos 366 dias? Em ordem alfabética, essas são as nossas 20 apostas para 2020:


OS 20 NOMES QUE DEVEMOS FICAR DE OLHO EM 2020


Alice Chater

Se você gosta de um pop farofa, a Alice Chater é a artista pra você. A britânica é daquelas cantoras bem performáticas, que aposta em músicas dançantes com refrões chicletes e bem marcantes, numa vibe Rita Ora e Ariana Grande na época do “My Everything”. Talvez você conheça a Alice pela sua participação em “Lola”, da Iggy Azalea, ou pelo seus mais recentes singles “Thief” e “Tonight”.



Bad Gyal

Reggaeton, hip-hop, dancehall... a Bad Gyal mistura tudo pra criar um som único, levemente futurista e muito interessante. Natural de Barcelona, a artista é bem versátil e canta em espanhol, inglês e catalão, além de investir em ótimos visuais em seus clipes. Quem curte Rosalía, com certeza vai amar o trabalho da garota. 



beabadoobee

Não deixe o nome grande e diferente te intimidar: a beabadoobee é uma artista que merece muito seu play. Britânica e filha de filipinos, a cantora - cujo nome real é Beatrice - é contratada da gravadora do The 1975 e faz um som pop-indie com carinha de anos 90 que vai agradar aos fãs da banda e de artistas como Maggie Rogers e Declan McKenna. No ano passado ela lançou três (!) novos EPs e terminou 2019 sendo indicada ao Rising Star do Brit Awards e ao Sound Of 2020 da BBC.



Bree Runway

A britânica Bree Runway chamou nossa atenção lá em 2017 com o hino “What Do I Tell My Friends?”, uma co-composição do Olly Alexander, vocalista do Years & Years. Por aí a gente já sabia que viria coisa boa, mas não estávamos prontos pro delicioso EP “Be Runway”, que vai do pop ao trap, de um som mais acústico à pc music, e soa exatamente como a música do futuro deve ser.



Caroline Polachek

Dona de uma voz angelical, Caroline Polachek faz aquele indie-pop cheio de synths bem dançante, por vezes reflexivo, mas que sempre mexe com a gente, numa mistura que pega um pouquinho de Carly Rae Jepsen, Charli XCX e até FKA Twigs. Não sabemos o que vamos ouvir quando chegarmos no céu, mas imaginamos - ou, ao menos, esperamos - que seja algo como o “PANG”, o disco de estreia da artista.



Celeste

Vencedora do prêmio Rising Star do Brit Awards de 2019 e do Sound Of 2020 da BBC, Celeste é uma das maiores apostas da Terra da Rainha para os próximos anos. Dona de um vozeirão que nos transposta diretamente para os anos 50 e letras que pegam no nosso ponto fraco, feitas pra gente derramar algumas lágrimas (não dá pra ouvir “Strange” sem sentir o impacto), a cantora investe num som que mistura um pouco de Adele, Amy Winehouse e muito, muito soul.



Charlotte Lawrence

Se você curte as músicas de Selena Gomez e Julia Michaels, então com certeza vai adorar a Charlotte Lawrence. A britânica tem lançado ótimas canções nos últimos anos, como a maravilhosa “Why Do You Love Me”, que lembra bastante “Bad Liar”, da própria Selena, e mais recentemente “Joke’s On You”, faixa para a trilha de Aves de Rapina e na qual aposta menos em sussurros e mais em vocais poderosos. Seu disco de estreia ainda não tem data, mas promete!



Conan Gray

Não tem nada mais a cara dessa geração do que artistas que começam como youtubers e o Conan Gray é mais um desses nomes que provam que devemos sim dar chances para estrelas do mundo digital. Seguindo os passos de Troye Sivan, tanto na trajetória quanto na sonoridade, o artista tem lançado músicas pop deliciosas, como a viciante "Maniac" e a melancólica "Comfort Crowd". Seu primeiro disco, "Kid Krow", chega no dia 20 de março.



Doja Cat

Com uma sonoridade que mistura hip-hop, urban e R&B, como um mix de Lizzo, Nicki Minaj e SZA, Doja Cat tem se destacado no cenário do rap e elevado a participação feminina neste gênero. A artista entrou na Hot 100 americana com as faixas "Candy", "Juice", que chegou ao 45º lugar da parada, e "Say So", sucesso do aplicativo Tik Tok e que está no caminho de se tornar um hit. As duas últimas músicas citadas estão no ótimo disco “Hot Pink”, lançado no ano passado.



Joji

Prestes a entrar no Top 50 do Spotify US com o single "SLOW DANCING IN THE DARK", presente no disco "BALLADS 1", o Joji nos parece ser um daqueles artistas alternativos que nós não sabemos de onde vieram, mas, do nada, começam a aparecer em todos os lugares (alô, Billie Eilish!). O cara faz um som melancólico que nos lembra um pouco a sonoridade da própria Billie e soa como uma mistura da sofrência emo do Post Malone com as batidas sintetizadas das baladas do The 1975. 



Kiana Ledé

A Kiana Ledé começou atuando na série "Scream", mas agora está se dedicado bastante a música. No ano passado, ela liberou o EP "Myself", que aposta em uma sonoridade R&B por vezes puxadas para o pop e para o trap, algo como o que temos visto em trabalhos de Kehlani e Sabrina Claudio. Mais recentemente, ela deixou sua marca na música “Eyes Off You”, presente na trilha do filme “As Panteras”, que contou com a produção executiva de Ariana Grande, com quem Ledé tem uma certa similaridade sonora. Ficamos no aguardo do disco de estreia!



Koffee

Uma das grandes revelações do reggae nos últimos tempos, a Koffee já tem muito o que comemorar. Ela foi indicada ao Grammy de Melhor Disco de Reggae pelo EP “Rapture” e, segundo rumores, está trabalhando com a Rihanna no R9, que será inspirado no ritmo. A gente bem sabe o poder que a Riri tem de trazer para o holofote gêneros musicais que não são tão mainstream, e se o reggae fizer seu comeback em 2020, apostamos que a Koffee estará na linha de frente. 



Mariah The Scientist

Para os amantes de um R&B mais conceitual, em um estilo parecido com Frank Ocean e SZA, a Mariah The Scientist é uma ótima pedida. Em suas músicas, a cantora aposta sempre em letras bem pessoais, seja em canções mais intimistas, como "Beetlejuice", ou em faixas mais experimentais, como "Reminders", que flerta com batidas de synth. Ambas as músicas estão disponíveis em seu disco de estreia, "MASTER", lançado no ano passado.



Megan Thee Stallion

Talvez a aposta mais consolidada da nossa lista, Megan Thee Stallion é abençoada por nomes como Nicki Minaj e Lizzo. E não é pra menos: ela é a cara do novo rap, ousado e divertido, mas que também traz uma nostalgia, apostando na sonoridade que fez as mulheres se destacarem nesse gênero nos anos 90. Podemos conferir essa mistura no “Fever”, sua mais recente (e ótima!) mixtape, e em "Diamonds", música lançada com Normani para a trilha de "Aves de Rapina". Seu disco de estreia esta previsto para esse ano.



Nasty Cherry

Falar que a Charli XCX faz tudo não é exagero, afinal até banda ela ajudou a criar (é isso mesmo). O quarteto Nasty Cherry foi formado pela britânica em um reality show da Netflix. Inspiradas no duo Yeah Yeah Yeahs, na banda de rock feminina The Runaways e, claro, na própria mentora, as garotas fazem um som pop alternativo delicioso e divertido, como podemos ouvir no “Season 1”, um dos nossos EPs favoritos de 2019.



NIKI

Uma das melhores coisas da era dos streamings é a possibilidade de conhecer artistas de todas as partes do mundo, como a NIKI, que é da Indonésia. A cantora faz um pop bem delicado e fofo, que soa como uma mistura do R&B que ouvimos com Tinashe e Justine Skye com o pop do início da carreira da Ariana Grande. Seu trabalho mais recente é o EP "wanna take this downtown?" e o single "Indigo", ótimo pra quem sente falta daquele pop com R&B do "Yours Truly" da Ari.



Paloma Mami

A Paloma Mami faz um reggaeton delicioso, pra quem curte Karol G e Becky G, mas um pouco mais intimista e por vezes até sussurrado, que mistura R&B contemporâneo e até trap. Além do som, uma das marcas da artista são suas letras. Americana e filha de imigrantes chilenos, Paloma lança músicas em inglês e espanhol e às vezes até mistura as línguas numa mesma faixa, como é o caso de “Mami”, seu atual e ótimo single.



Saweetie

Quanto mais rappers femininas, melhor! Por isso, te apresentamos mais uma. Com um som e uma personalidade que vai agradar bastante os fãs da Cardi B, a Saweetie já tem um hit nos Estados Unidos pra chamar de seu - a divertida "My Type", que chegou ao top 30 na Hot 100 - e alguns EPs ótimos, como o "ICY", lançado no ano passado. Além disso, a artista também fez uma música para a trilha de "Aves de Rapina" e, atualmente, está trabalhando no seu aguardado disco de estreia.



Summer Walker

Não tem nada melhor do que aquele R&B cheio de soul e super sensual, né? A sonoridade da Summer Walker segue bem esse estilo. Aprovada por nomes consolidados como Drake e Usher, a garota chegou chegando com seu disco de estreia, o "Over It", apostando em um som delicioso que nos lembra bastante o que SZA e H.E.R. tem feito. Foi assim que ela dominou o chart da Apple Music norte-americana, conhecido por não dar espaço a muitas mulheres. Pra ficar de olho mesmo!




YUNGBLUD

Pra quem tá sentindo falta de um novo representante do pop-rock, temos a solução: conheça o YUNGBLUD. O britânico de nome Dominic Harrison tem conquistado uma grande fanbase ao falar sobre saúde mental, assédio sexual e até capitalismo em suas músicas. Com uma sonoridade que flerta com o emo e até com o rap, o artista é perfeito pra quem curte bandas como Panic! At The Disco e Twenty One Pilots.



***

Essa é a parte em que colocamos uma playlist do Spotify com todos os artistas citados:



Dua Lipa faz tudo e entrega a melhor música do ano (até aqui) com seu novo single, "Physical"

Dua Lipa está empenhada em mostrar que não apenas veio pra ficar, mas pra ser uma das maiores artistas dessa geração. A gente já tinha ficado impressionado com a evolução dela em “Don’t Start Now”, mas nada pôde nos preparar para seu segundo single, “Physical”, liberado nesta quinta-feira (30). 

A música segue bem o conceito do título do novo álbum de Dua, “Future Nostalgia”: enquanto mistura elementos oitentistas, como batidas de synth, traz também um certo ar futurista, num estilo parecido com o que vimos em “Blinding Lights”, o atual single do The Weeknd. 

“Physical” soa como uma poderosa injeção de adrenalina. É enérgica, te convida a cantar junto - a ponte, uma versão do refrão entoada quase como uma música de torcida, é um perfeito exemplo disso - e letras como “luzes apagadas, siga o barulho. Baby, continue a dançar como se você não tivesse escolha” tem tudo para se tornar memoráveis no catálogo da Dua Lipa.



Definitivamente é a melhor música do ano, pelo menos até aqui, e algo nos diz que continuará competindo pelo topo das listas de melhores de 2020 até dezembro.

O clipe de “Physical”, que parece ser uma super produção, tem lançamento marcado para essa sexta-feira (31). Já o “Future Nostalgia”, álbum que promete ser um dos melhores do ano, chega no dia 3 de abril.

A capa do "Future Nostalgia", o novo álbum da Dua Lipa, é tudo que a gente pediu e um pouco mais

Conceito, coesão e aclamação. Em sua nova era, Dua Lipa tá mostrando que veio pra ficar e nos entregando canções e visuais incríveis e refrescante. A mais nova prova é a capa de seu segundo álbum, "Future Nostalgia", liberada pela artista nessa quarta-feira (29). 

Em suas redes sociais, a cantora revelou que o projeto chegará só no dia 3 de abril. Por quê tão longe, Dua? Assim a gente não aguenta!

Dá uma olhada na capa lindíssima:


De acordo com o que tem circulado pela internet, já temos também a tracklist do material que, à princípio, não contará com nenhuma parceria. Segue a lista:

1. Future Nostalgia
2. Don't Start Now
3. Cool
4. Physical 
5. Levitating
6. Pretty Please
7. Hallucinate
8. Love Again
9. Break My Heart
10. Good In Bed
11. Boys Will Be Boys

Se a gente vai ter que esperar alguns meses para escutar o novo álbum da artista, pelo menos nessa quinta-feira (30) teremos um gostinho do material. Dua Lipa lançará seu segundo single oficial, "Physical", que vai suceder o hit "Don't Start Now". A música ganhará um clipe bem produzido no dia seguinte. Confira o trailer do vídeo:



E provando que faz tudo mesmo, Dua Lipa aparentemente já gravou o clipe pra mais uma canção. A faixa seria "Break My Heart", descrita como uma "Baby One More Time" disco.

Vem aí o álbum do anos nós não poderíamos estar mais ansiosos. Dua, 2020 é seu!

Crítica: “Ford Vs. Ferrari” não é ouro, mas sobe no pódio por não ser um filme de nicho

Indicado a quatro Oscars:
- Melhor Filme
- Melhor Montagem
- Melhor Edição de Som
- Melhor Mixagem de Som

Domingos eram, na minha juventude (o peso dos 30 está batendo), o pior dia da semana. Já que não possuía o poder de decidir que horas acordaria, sempre estava pela manhã, no auge do tédio, de frente à televisão. E o que estava passando? Fórmula 1. Meu pai nunca foi o maior fã do esporte, mas sempre assistia naquelas manhãs, e eu era obrigado a acompanhar a chatice, o que só me fazia detestar ainda mais. Felizmente, hoje me mantenho dormindo enquanto está passando (isso se ainda existe F1 na tevê aberta, algo que não assisto há anos).

Foi por isso que, desde novembro, venho enrolando para assistir "Ford Vs. Ferrari". Do mesmo diretor de "Garota, Interrompida" (1999) e "Logan" (2017) - o cardápio é bem variado -, o filme vai até a década de 60, quando a Ferrari liderava a corrida na F1. A Ford, líder do mercado automobilístico doméstico, queria também ser a rainha das pistas, e decide construir um carro que possa acabar com a hegemonia da Ferrari. Oh, uau, que premissa.

Orei para todas as divindades cujas existências eu não acredito para que o filme não fosse indicado ao Oscar de "Melhor Filme", já que eu teria que assisti-lo - todavia, como já provado, todas essas divindades decidiram ignorar meus apelos. Quando descobri que a fita tinha 2:30h de duração, vi ali o último prego do meu caixão; 152 minutos de cinebiografia histórica sobre F1, fica com deus. Decidi encontrar um momento que estaria de coração aberto para o que viria, principalmente porque essa temporada, para mim, está sendo um horror - se você leu minhas críticas para os indicados a "Melhor Filme" deve estar me achando um porre, mas juro que isso não é o padrão rs. Saudades da temporada de "Moonlight" (2017).

A trama é conduzida por Carroll Shelby (Matt Damon), um ex-piloto campeão que teve que se aposentar por problemas de saúde. Ele é contratado pela Ford para desenvolver o carro que destronará a Ferrari - vencedora há anos da Le Mans, a mais antiga e prestigiada pista de corrida do mundo. Shelby, por sua vez, precisa da ajuda de Ken Miles (Christian Bale), piloto de menor categoria e mecânico. O problema é que Miles é instável e desbocado, o que fará com que a Ford não o aceite tão facilmente.


E esse é um dos vários moldes familiares dentro do corpo da produção. Quanto mais você assiste ao filme, mais pensará "já assisti a isso antes". Grande parte do charme aqui habita na diferença entre os polidos, profissionais e sérios homens da Ford contra o furação que é Miles, uma dicotomia pra lá de abusada. O que mantém esse charme é como Bale está tão divertido na pele do protagonista, e, mesmo não tendo sido indicado ao Oscar de "Melhor Ator" - essa é a categoria mais concorrida da atual edição -, entrega uma performance bem melhor que a de "Vice" (2018), que lhe rendeu uma indicação em 2019. Fazem bastante falta os momentos em que ele não está na tela.

"Ford Vs. Ferrari" é a opção de entretenimento escolhido pelo Oscar. Não que todo filme não seja de alguma forma entretenimento, mas o em questão visa gerar a catarse por meio de toda a agilidade de sua narrativa. É tão verdade que - um dos motivos que me fez ter apreço pelo filme - não é necessário acompanhar toda a baboseira técnica sobre velocidade, peso, curvatura e blá blá blá para ser entendido o que tem que ser entendido, os dilemas pessoais e as rivalidades que fomentam o plot. E, muitas vezes, obras que se aprofundam em áreas muito específicas jogam informações demais na plateia, que se perde no meio de termos técnicos, linguajar físico e afins. Isso não é uma aula, é um filme, então quando explicações de fórmulas ofuscam o entretenimento básico da arte, algo deu errado.

É curioso notar que "Ford Vs. Ferrari" é um daqueles filmes que podemos chamar de "para homens". Elenco absolutamente masculino sobre um esporte predominantemente masculino (existe liga feminina de F1?). Geralmente, o tipo de longa que não tenho interesse em assistir. Mesmo conseguindo me deixar levar pela história, não dá para ignorar como essa é uma película que aflora a masculinidade normativa: chega a ser cômica a cena em que o CEO da Ford associa a corrida contra a Ferrari com a guerra que acabou de ser encerrada. A velocidade, a disputa, o perigo e, claro, a vitória, são elementos vistos como intrínsecos do universo do macho, e os ter é sinal de soberania. Todos estão ali brigando para saber quem é superior em algo que não diz lá tanta coisa - assista ao grego "Chevalier" (2015) para entender do que eu estou falando.

A única personagem feminina é a esposa de Miles, interpretada por Caitriona Balfe. Ela está ali basicamente porque seria de mal tom não colocá-la, afinal, como em inúmeros filmes norte-americanos sobre homens em posição de poder - "Vice", "O Primeiro Homem" (2018), "Ad Astra: Rumo às Estrelas" (2019) -, a esposa é totalmente subutilizada, servindo de mero apoio para alavancar a trajetória do protagonista - ela ainda estrela uma cena quase vergonhosa (salva pelo contexto) quando decide transformar a estrada em uma pista de corrida. Miles tem um filho tão louco por F1 quanto ele, e só pensava o quão legal seria se o roteiro tivesse posto uma menina no lugar - porque parece que ser mulher e gostar de F1 ali era impossível. Fica para a próxima.


Filmes esportivos são bem difíceis de serem feitos por vários motivos. O que angaria a emoção do esporte não é a mesma que emana em uma obra audiovisual. Além disso, como não ser somente uma partida/corrida/o que for na tela grande? E como cativar alguém que não seja fã daquele esporte? Longas com esse sub-gênero estão espalhados pela história - pode pensar em qualquer esporte que vai ter pelo menos um filme sobre -, e muitos deles acabam sendo voltados apenas para os já apreciadores. A conquista mais incrível de "Ford Vs. Ferrari", que me assombrou, é a capacidade da fita de ser um filme sobre F1 para quem não gosta de F1. Claro, se você já adorar o tema vai se deliciar, entretanto, mesmo alguém que detesta o esporte (eu!) vai conseguir gostar da sessão.

O drama - a guerra fria entre a Ford e a Ferrari e a posição de Miles dentro desse jogo - é efetivo o suficiente para manter o interesse e as cenas de corrida chegam a arrepiar. A direção de James Mangold se esbalda nas pistas, construindo a tensão de maneira muito eficaz por meio da união de seu aparato técnico primoroso. A fotografia - que inteligentemente evidencia o azul e o vermelho, as cores das concorrentes -, a montagem elétrica e o fantástico trabalho sonoro colocam o público no banco do carona dos potentes carros.

É bem verdade que a produção não tem vergonha em assumir um lado - ela é totalmente pró-Ford, transformando o lado da Ferrari (marca italiana) em estereótipos unidimensionais -, o que não vai longe de um patriotismo que Hollywood não cansa de produzir. Encontrou uma oportunidade para dizer que os EUA é melhor? Faz um filme que é sucesso. Mas é possível não ficar a duração toda em uma guerra de braço com o filme quando o lado puramente catártico está tão aflorado. É sentar e curtir a viagem.

Caso você tenha algumas horinhas livres para um bom divertimento, "Ford Vs. Ferrari" é o filme para essa tarefa. Sem grandes pretensões na parte narrativa - até mesmo pelos moldes que se enfia e, consequentemente, se limita -, a parte técnica vai para o campo oposto, com elementos visuais e sonoros de primeira categoria. Não é uma obra memorável ou que mereça o apreço dado pela Academia ao indicá-la a "Melhor Filme", no entanto, cumpre seu papel de entretenimento quando seus carros tunados ultrapassam a linha de chegada sem transformar o filme em uma produção de nicho, mesmo não conquistando o primeiro lugar.

Crítica: “Adoráveis Mulheres” tem ótimos vestidos, lindos vestidos

Indicado a seis Oscars:

- Melhor Filme
- Melhor Atriz (Saoirse Ronan)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Florence Pugh)
- Melhor Roteiro Adaptado
- Melhor Figurino
- Melhor Trilha Sonora

Eu faço desde 2013 o especial para o Oscar, dedicando-me a escrever sobre todos os indicados ao prêmio de "Melhor Filme" antes da noite da premiação. Na maior parte do tempo, essa é uma tarefa bem agradável: mesmo em anos bem questionáveis (como o atual), é um prazer escrever sobre os longas, analisá-los enquanto arte e enquanto escolhido - dentro de milhares - para representar o melhor que a Sétima Arte nos entregou no período. Na maior parte do tempo.

Sempre houve, em todas as edições, pelo menos um filme que, caso estivesse fora da categoria principal, eu não me daria ao trabalho de escrever sobre. O primeiro argumento para isso é que a escrita é algo que pode parecer uma atividade fácil, mas não é. Vejo críticos lançando seus pensamentos em formato de vídeo e, em três minutos, está feito - algo impossível para a linguagem que você está diante nesse momento. Não que a escrita seja "maior" que qualquer outro formato, é apenas o apontamento de um fato: a escrita é mais complexa que a fala.

Então, ter que me dedicar tanto para escrever 12 parágrafos sobre um filme que me instiga em nada é uma coisa que eu preferiria não fazer, dedicando esse tempo a falar de alguma fita que consiga me entregar mais durantes seus 100-e-lá-vai minutos. Em todos esses anos, o único dos indicados que deliberadamente não escrevi sobre foi "Pantera Negra" (2018), pois, como já deve ter ficado claro caso você acompanhe essa coluna, não tenho tanta paciência com filmes de super-heróis, o oposto da imensa massa ávida para massacrar na internet qualquer pessoa que ouse falar mal dos seus sagrados filmes - e não estava com paciência para ser xingado gratuitamente ou receber ameaça de morte (como críticos receberam por não aprovar o filme) por exercer meu direito de livre expressão e meu trabalho enquanto crítico. É pior quando o texto vai contra um filme largamente amado pela "maioria", que, em pleno 2020, ainda não aprendeu que sua opinião não é sagrada a ponto de ser intolerável alguém pensar o oposto.

Esse texto provavelmente terminará sendo mais um desabafo do que uma crítica convencional porque eu não sei aonde chegarei no final dela - o que é uma exceção dentro do meu trabalho, sempre sei o que quero falar sobre cada filme. Mas "Adoráveis Mulheres" (Little Women) foi um caso bastante complicado para mim. Baseado no livro de mesmo nome lançado em 1868 pela autora Louisa May Alcott, o romance é um dos mais lidos da história norte-americana, vendo sucesso imediato. Por isso, não é de se espantar que já foi adaptado para o cinema sete vezes. Sim, há sete filmes com a mesma história.


O primeiro deles foi lançado em 1917, no engatinhar da arte, e está perdido desde então. Quase 100 anos após, a mais nova versão foi lançada com a assinatura de Greta Gerwig, uma das mais sensacionais cineastas em atividade - é dela o maravilhoso "Lady Bird" (2017), um dos 100 melhores filmes da década aqui no Cinematofagia. E se Greta faz algum projeto, a gente assiste. O filme conta a história de quatro irmãs: Jo (Saoirse Ronan, indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" pelo papel), Amy (Florence Pugh, dona da minha vida e indicada a "Melhor Atriz Coadjuvante"), Meg (Emma Watson, a proprietária da franquia "Harry Potter") e Beth (Eliza Scanlen, em um dos seus primeiros trabalhos em um longa).

A trama gira em torno das diferenças entre elas enquanto, unidas, sobrevivem à Guerra Civil e à cultura da época. A primeira cena é Jo tentando vender uma de suas histórias para um jornal, que aceita mediante edições. O editor fala que a próxima histórias devem ver suas protagonistas casadas ou mortas - esses são os únicos finais esperados para uma mulher na época. Sim, esse é um filme feminista, amém. Alcott, a autora, era ativista e usa suas personagens para falar suas ideias em prol da igualdade de gênero - o que Greta também faz com seus filmes.

Elenco fantástico, ótima diretora, filme feminista, era a receita perfeita para eu chamar de "filme do milênio". Todavia, não demorou muito para que eu começasse a perceber que, talvez, "Adoráveis Mulheres" não teria todo o amor que eu separei para ele. Logo no primeiro ato, na segunda cena, se não me engano, há um momento em que Jo fica ao lado de uma lareira. Entra um personagem, olha calmamente para ela, e fala: "You're on fire". Ela agradece o "elogio" ("on fire" em inglês é uma expressão que, metaforicamente, significa "você está arrasando"). Ele replica: "You're really on fire", com seu vestido pegando fogo. Eeeerrrrr.

Esse tipo de diálogo, uma sacada ixperta para possuir apelo cômico, é uma das mais rasteiras estratégias textuais que existem. Já foram usadas à exaustão e são vergonhosas. Ah, mas é apenas uma cena, você pode dizer, só que isso é repetido por todo o filme, que tem tentativas incompetentes de """comédia""" bastante destoantes da seriedade do todo.

Como já disse, o longa de Greta é a sétima versão da mesma história. Curiosamente, assisti a nenhuma das outra seis, e nem li ao livro que deu base para todos, o que me permitiu analisar "Adoráveis Mulheres" sem precisar compará-lo com seus irmãos - para a sua sorte, porém, não é necessário ver tudo o que já foi produzido a partir do texto original para entender seus objetivos e limitações, é uma história contada em diversos outros meios. A cada minuto, uma impressão se tornava mais sólida: a fita parecia bem mais um "Lady Bird" com os personagens usando vestidos de época. Já falei aqui na coluna algumas vezes que uma das falhas mais comuns - e que realmente me fazem desapreciar um filme - é como a história se passa em outra época, mas os atores agem como se fosse uma produção moderna.

"Adoráveis Mulheres" cai no erro fácil de ser totalmente artificial dentro da faixa de tempo que sua história se finca. Isso, é claro, dentro da gigante subjetividade que permeia qualquer arte - li críticas que diziam que o filme triunfa exatamente por parecer fidedigno à época, o extremo oposto do que acho. Uma delícia como o Cinema consegue, com o mesmo filme, fomentar sentimentos tão diferentes em diferentes pessoas, e está tudo certo.


O primeiro ponto que culpo para gerar tal impressão é a direção dos atores. Greta não executa um estudo teatral do séc. XIX a ponto de retirar o expectador da sua própria realidade e compor uma linguagem compatível com os quase 200 anos que separam a história com a atualidade - isso não posso dizer do aparato estético, com o design de produção sendo um sucesso e mostrando bem as discrepâncias entre a riqueza e a pobreza de sua história. A direção dos atores é tão estranha que há momentos quase amadores de atrizes tão assustadoramente incríveis - não sobrou nem para Meryl Streep, em um dos piores papéis da sua filmografia recente. Há uma cena em que Florence Pugh chora do lado de fora de uma janela que me deu vontade de desistir do filme.

E falando em Pugh, desde 2017 afirmo que sua carreira iria decolar quando vi seu sensacional trabalho em "Lady Macbeth" - eu a teria indicado ao Oscar ali mesmo -, então tenho uma ligação mais estreita com a atriz por acompanhá-la (e adorá-la) desde o começo. É um prazer vê-la recebendo tamanho reconhecimento ao ser indicada por "Adoráveis Mulheres", contudo, a distância entre o requinte de qualidade de seu desempenho entre "Lady Macbeth", que também é um filme de época, com o papel de "Adoráveis Mulheres" é gritante. Nem parece ser a mesma atriz. Para apaziguar meu coração, finjo que ela foi indicada por "Midsommar: o Mal Não Espera a Noite" (2019), filme que extrai o que ela tem tanto a oferecer, o que não acontece aqui.

O segundo ponto é quão unidimensionais são as personagens. A dinâmica da produção ocorre quando evidencia as diferenças entre as irmãs, e são essas diferenças específicas que as fazem ser quem são enquanto estudo de personagem. Não há grandes desenvolvimentos, não há preocupação em tirá-las das caixinhas de "Jo é a revolucionária", "Beth é a tímida" etc.

Para burlar as dicotomias e criar uma união, a escolha feita pela fita foi: em todas as cenas que as irmãs interagem entre si, elas falam ininterruptamente, uma por cima da outra. É tão artificial que tentei contar os segundos entre as falas, e eles inexistiam. É quase um monólogo proferido por quatro bocas, e muitas vezes elas proferem detalhes totalmente irrelevantes, apenas para preencher espaço. Achei a escolha tão desastrosa que meus níveis de ansiedade já estavam nas alturas quando, literalmente, não há um segundo de respiro entre cada diálogo. Vou ter que apontar o óbvio para ver se consigo me poupar: você pode achar a mesma estratégia um primor, pode dizer que esse é um dos detalhes que lhe fizeram amar ainda mais o filme, tá? Obrigado.

E olhava no relógio, 1h de sessão, e a trama quase não havia avançado - e o que tinha acontecido até então era, particularmente, muito desinteressante. Bem verdade que algumas discussões são muito boas - a forma como a vida feminina era intrinsecamente ligada ao matrimônio e como o casamento era, antes de tudo, um acordo comercial - no entanto, precisava de mais de 2h para mostrar uma ideia tão elementar? Talvez esse não seja um filme para mim?

Sinceramente, não possuo essa resposta. Até a própria nota do filme, não consegui chegar em um consenso interno - na verdade eu não queria mais pensar sobre a obra e dei um número que considero padrão para o que senti sobre o filme. A indagação central que habitava o imaginário antes da sessão era: será se o estilo narrativo de Greta Gerwig funcionaria com um drama de época? "Adoráveis Mulheres" é a retomada de uma história já exaustivamente contada na tela sem acréscimos ou renovações que justifiquem a sua existência - só lembrar da versão de 2018 de "Nasce Uma Estrela", a quarta filmagem da mesma história que elevou a trama a um patamar jamais visto nas três primeiras; ou até mesmo na renovação de "Suspiria" (2018), que se apropria da obra original para ir além. Esse é o papel de um revival, e, durante a projeção de "Adoráveis Mulheres", a única coisa que conseguia apreciar era resumida pelo lendário quote de Aretha Franklin:



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