Mostrando postagens com marcador listas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador listas. Mostrar todas as postagens

Os 10 melhores filmes de 2023 (até agora)


Você piscou e metade de 2023 já passou, acredita? Agora que estamos descontando tudo o que perdemos no mundinho da Sétima Arte nos tenebrosos anos de pandemia, estamos recheados de filmes fantásticos chegando nos cinemas, então é claro que eu teria que vir aqui com meus filmes favoritos de 2023 (até agora).

Caso você já conheça o Cinematofagia, o foco aqui sempre foi e sempre será a busca por filmes que não necessariamente estejam no radar na grande indústria - principalmente quando olhamos para a distribuição brasileira, que ainda sofre com atrasos de meses em comparação com estreias internacionais, inclusive de países minúsculos. Vários longas já aclamados lá fora só chegarão aqui no segundo semestre, mas tudo bem, a lista de fim de ano virá aí.

De vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2023 - seja cinema, streaming e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 10, meu amor por você é real.

Sem mais delongas, meus 10 filmes favoritos do primeiro semestre de 2023:


10. A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise)

Direção de Lee Cronin, EUA.

Em 2013, o remake de "A Morte do Demônio" prometeu ser uma das mais assustadoras obras que o Cinema já pôs os olhos. Um sabor como terror, gore e insanidade que é característica da franquia, tivemos que esperar 10 anos para uma continuação, e a espera valeu a pena. "A Morte do Demônio: A Ascensão" consegue ir além e superar o filme de 2013 quando segue uma família arruinada que encontra o último prego no caixão quando o Livro dos Mortos cai em suas mãos. São 97 minutos de puro horror e com personagens fantásticos e uma das melhores atuações do ano: Lily Sullivan como a maestrina do gore.


09. Sem Ursos (No Bears)

Direção de Jafar Panahi, Irã.

O iraniano Jafar Panahi ficou famoso com seu estilo de misturar realidade com ficção, se inserindo em seus próprios filmes como um personagem central. Em "Sem Ursos", ele usa sua própria condição política - de ser impedido de deixar o Irã - como condutor do enredo: enquanto tenta dirigir um filme ao lado da fronteira, se mete numa confusão quando vira testemunha de uma briga familiar cunhada à base de religião e tradições conservadoras. "Sem Ursos" é mais um grito contra um país repressor que fez o diretor ir parar atrás das grades por sua "propaganda contra o regime". Cinema político em seu auge. 


08. Raquel 1:1 (idem)

Direção de Mariana Bastos, Brasil.

Mais um elemento do Novíssimo Cinema Brasileiro ao colocar suas mãos em discussões sociais embaladas em premissas extremamente criativas: Raquel é uma adolescente que, após uma tragédia, se curva à religião. A questão é que, quanto mais Raquel fortalece sua fé, mais ela discorda dos preceitos escritos na Bíblia, principalmente sobre a visão submissa da mulher. Então ela decide fazer algo que chocará toda a cidade: reescrever as escrituras sagradas. "Raquel 1:1" se deita sobre "Carrie: A Estranha" (1976) e "Santa Maud" (2020) nesse conto sacro, feminista e disruptivo que une folclore, cultura e elementos de terror para colocar a plateia para pensar nos símbolos que deixam dúbio o papel de Raquel como messias de uma nova crença.


07. Tori & Lokita (idem)

Direção Luc & Jean-Pierre Dardenne, Bélgica/França.

Os irmãos Dardenne estão desde 1987 explanando diversos cosmos sociais da Bélgica, que inesperadamente são universais. Indicados NOVE vezes à Palma de Ouro no Festival de Cannes - com duas vitórias -, os belgas são aclamados pela crueza e coragem de seus filmes, e com "Tori & Lokita" não poderia ser diferente: dois imigrantes africanos tentam sobreviver na Bélgica em meio a racismo, misoginia e um sistema que está empenhado em separá-los. Com um tom documental, o longa é uma jornada dolorosa que discute a crise imigratória na Europa e como esses imigrantes são corpos sujeitos à marginalização - até serem descartáveis.


06. A Piedade (La Piedad)

Direção de Eduardo Casanova, Espanha/Argentina.

Eduardo Casanova ficou famoso mundialmente logo no seu filme de estreia, "Peles" (2017), que com toda a certeza será uma das obras mais bizarras que você verá na vida (está disponível na Netflix, aproveite). Sua segunda película, "A Piedade", estava envolta de muita curiosidade por parecer seguir os moldes que formavam o cinema "casanovadiano": personagens estranhos, cenas desconcertantes e um design de produção cor-de-rosa. Aqui, uma mãe chamada Piedade é obcecada pelo seu filho, e a relação disfuncional dos dois vai sofrer um baque com o diagnóstico de câncer do filho. É verdade que "A Piedade" não vai até aonde "Peles" vai no quesito "o que diabos é isso", porém, é um capítulo fabuloso na filmografia do espanhol, um pilar chiquérrimo (e excêntrico) do cinema queer.


05. Beau Tem Medo (Beau is Afraid)

Direção de Ari Aster, EUA.

Um dos melhores diretores da atualidade, Ari Aster tinha um problemão em mãos: conseguir manter o nível dos seus dois primeiros filmes, "Hereditário" (2018) e "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" (2019). O mais curioso é que, se nos dois citados, o diretor teve que entrar no maquinário da indústria e moldá-los de acordo com o gosto da A24, sua distribuidora parceira, "Beau Tem Medo" recebeu carta branca para Ari despirocar e fazer o que diabos quisesse. O resultado? Um pesadelo satírico como nenhum outro. Sob o comando do vencedor do Oscar Joaquin Phoenix, "Beau Tem Medo" são 3h de insanidade que segue Beau em uma epopeia para chegar na casa da mãe após um acidente. Com sequências alucinógenas, cenas sem o menor sentido aparente e plot-twists incalculáveis, você passará dias tentando montar o quebra-cabeças do "mommy issues" do ano - e olha que acabamos de falar de "A Piedade". 

 

04. Até Amanhã (Until Tomorrow)

Direção de Ali Asgari, Irã/Catar.

Fereshteh é uma mãe solteira no coração do Irã, um escândalo por si só. Ela esconde a criança de todo mundo, com apenas duas pessoas sabendo da existência da filha: Atefeh, sua melhor amiga; e Yaser, o pai da criança que não tem o menor interesse em assumir o papel. Fereshteh segue bem com a vida, mediante a situação, mas tudo parece que está por um fio quando sua família informa que fará uma visita surpresa. Ela então corre pela cidade, à procura de alguém que poderá ficar com a menina por apenas uma noite. "Até Amanhã" é um drama impecável que estuda a vulnerabilidade da mulher num país que pinta um filho "ilegítimo" como desonra absoluta. Cada minuto que passa, mais o público se aflige com a situação de Fereshteh, que entrega uma das mais fantásticas cenas do ano - a do táxi. 

 

03. Tár (idem)

Direção de Todd Field, EUA/Alemanha.

Lydia Tár é uma maestrina de absurdo sucesso e conduz uma das melhores orquestras do mundo. Por trás de todo o glamour de sua abarrotada agenda, Lydia deve lidar com o casamento ameaçado, sua carreira em corda bamba e fake news sobre seu caráter. "Tár" tem quase 3h, em um robusto filme que está para a música clássica como "Cisne Negro" (2010) está para o balé e "Demônio de Neon" (2016) está para a moda, estudando as percepções de estrelas na mídia e a ascensão e queda de ídolos. Se o texto consegue carregar tantos temas complexos com maestria (bah dum tss), é a atuação lendária de Cate Blanchett que eleva a sessão a um patamar de obra-prima e que fará "Tár" ser lembrado por toda a história.


02. Morte Infinita (Infinity Pool)

Direção de Brandon Cronenberg, Canadá/Croácia.

Em 2022, David Cronenberg - um dos pais do horror norte-americano - voltou à velha forma com o incrível "Crimes do Futuro"; em 2023, é a vez do seu filho. Brandon Cronenberg prova que é um pupilo exemplar do Cinema de seu pai ao lançar "Morte Infinita": um rico casal está em luxuoso resort e verá suas férias (e suas vidas) pegarem um caminho monstruoso ao conhecer outro casal veterano. Ao causarem um acidente, os ricaços descobrem uma das leis do país: assassinato é pago com a morte do culpado pelas mãos da família da vítima, todavia, quem tem dinheiro tem uma saída, e no universo fílmico de "Morte Infinita" há um segredo macabro. Alexander Skarsgård e Mia Goth (que diz "SIM!" para qualquer roteiro que a descreve como "personagem psicótica") dão vida (e morte) para um roteiro narcotizante que possui cada vez mais camadas quanto mais você reflete sobre. O último pilar da "Santíssima Trindade do Transhumanismo Contemporâneo", ao lado de "Crimes do Futuro" e "Titânio" (2021). Amém.

 

01. A Baleia (The Whale) 

Direção de Darren Aronofsky, EUA.

Um dos longos mais polêmicos de 2023 - o que não é raridade dentro da carreira de Aronofsky, "A Baleia" conseguiu abocanhar dois Oscars e marcar o retorno triunfal de Brendan Fraser, que levou o careca de "Melhor Ator" ao viver um professor obeso em seus últimos dias de vida. A carga dramática de "A Baleia" engalfinha por um peso emocional raro - curiosamente, mesmo com toda a dor do texto, o filme possui o final mais esperançoso de toda a filmografia de Aronofsky, no entanto, chegar até lá é uma tortuosa viagem que com certeza não agradará a todos. A cereja do bolo que refletiu o status de obra-prima para "A Baleia" veio quando, na cena final, em uma revelação que amarra toda a história, uma pessoa sentada ao meu lado na sessão levou as duas mãos ao rosto em completo frenesi. É a beleza da tristeza e a feiura da alegria em um dos mais arrebatadores finais da década, que arrancaram minhas lágrimas como nunca antes diante da Sétima Arte.

Os 25 melhores filmes de 2022



Provavelmente 2022 foi um dos anos mais rápidos do século? Talvez por finalmente estarmos (quase) 100% de volta à realidade normal depois dos anos tenebrosos de quarentena, então decidimos viver tudo o que fomos impedidos. Em um ano da retomada com tudo na Sétima Arte, finalmente estamos podendo, em grande escala, apreciar o Cinema novamente. Então é claro que eu teria que vir com meus filmes favoritos de 2022.

Caso você já conheça o Cinematofagia, o foco aqui sempre foi e sempre será a busca por filmes que não necessariamente estejam no radar na grande indústria - principalmente quando olhamos para a distribuição brasileira, que nesse ano está bastante aquém, com atrasos de meses em comparação com estreias internacionais, inclusive de países minúsculos. Mas no fim deu tudo certo, e essa lista visa celebrar o melhor do Cinema.

De indicados ao Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2022 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 25, meu amor por você é real - e aqui a lista no Letterboxd para você marcar quais já viu.

Sem mais delongas, meus 25 filmes favoritos de 2022:

 

 


25. Athena (idem) 

Direção de Romain Gavras, França.

Uma grata adição para o catálogo da Netflix, "Athena" tem menos de 100 minutos, mas é um verdadeiro épico. Com a morte de um garoto pela polícia, uma rebelião que atinge toda a França gera um impacto sem volta. Tendo como foco principal o conjunto residencial Athena, local onde a família do garoto assassinado mora, a fita é uma eletrizante epopeia sobre a sede de justiça que nos relembra a glória do Cinema pelas cenas de explodir a mente: desde a impressionante sequência inicial até os travellings sobre o Athena, a obra é um portfólio espetacular de uma arte inigualável. Não foi uma surpresa quando os créditos informam que Ladj Ly - diretor do maravilhoso "Os Miseráveis" (2019), foi um dos roteiristas de "Athena".


24. Vórtex (Vortex) 

Direção de Gaspar Noé, França/Bélgica.

Gaspar Noé já marcou seu nome (para o bem ou para o mal) na história do Cinema com seus filmes extremos - destaque para "Irreversível" (2002), "Viagem Alucinante" (2009) e "Clímax" (2018) -, então foi uma surpresa a abordagem adotada em "Vórtex". Seguindo a vida de uma casal de idosos, "Vórtex" vislumbra com bastante proximidade como a relação dos dois vai sucumbindo a partir da evolução da demência da esposa. Com uma sutileza anormal para o diretor, a obra é a versão noédiana de "Amor" (2012), mas não se engane: mesmo com toda a calmaria de ritmo há uma latente tragédia humana quando o filme olha sem piscar diante da irrelevância que temos sobre esse planeta e como estamos fadados para o esquecimento. Poderia, sim, ter meia hora a menos, todavia, é uma experiência dolorosa e necessária.


23. Argentina, 1985 (idem) 

Direção de Santiago Mitre, Argentina.

Ao ler a sinopse de "Argentina, 1985", você pode ficar com preguiça: o filme retrata os acontecimentos que levaram ao julgamento dos militares responsáveis pela ditadura argentina - entretanto, o que poderia ser só uma aula de história se torna um suspense político nas mãos de Santiago Mitre. Mesmo com 140 minutos, "Argentina, 1985", que está prestes a ser indicado ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", é um filme fundamental sobre o uso da esfera jurídica para a reparação história - ainda mais impactante quando a Argentina foi o ÚNICO país da América Latina que julgou e condenou os responsáveis pelas atrocidades da ditadura - aprende, Brasil. A cena do argumento final durante o tribunal é de arrancar lágrimas para qualquer sociedade que já esteve presa na mão de ditadores. Nunca mais.


22. A Menina Silenciosa (An Cailín Ciúin) 

Direção de Colm Bairéad, Irlanda.

Mais um semifinalistas ao Oscar 2023 de "Melhor Filme Internacional", "A Menina Silenciosa" é sobre uma menininha em um lar construído com base na negligência que vai viver com parentes distantes quando sua mãe está prestes a ter mais um filho. O filme irlandês não possui um molde que me agrada: é uma pequena história contada com bastante realismo, contudo, a força de sua narrativa está na belíssima emoção desencadeada pelos personagens, pessoas solitárias em busca de afeto. No fim das contas, todos nós estamos em busca de um espaço que nos acolha verdadeiramente - e "A Menina Silenciosa" prova que pequenas histórias rendem enormes filmes quando contados com muito amor.

 

21. Quanto Mais Cru Melhor (Barbaque)

Direção de Fabrice Eboué, França.

Um casal dono de um açougue enfrenta a recessão e vê seu negócio afundar sem controle - assim como seu casamento. Quando um crime acontece - o assassinato de um homem vegano -, a carne do falecido vai parar na prateleira do açougue, virando sem querer a mais nova iguaria para a clientela que forma filas. É aí que o casal vira caçadores de veganos. Sim, é isso aí. "Quanto Mais Cru Melhor" não tem papas na língua no politicamente incorreto ao abordar discussões hilárias em que rimos com a mão na consciência, numa contraposição de veganos absurdamente insuportáveis e seus protagonistas desprezíveis. O banquete visual é servido com cenas gráficas explícitas que evocam toda a bizarrice de sua premissa.

 


20. O Acontecimento (L'événement)

Direção de Audrey Diwan, França

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, "O Acontecimento" vai até a França da década de 60 quando uma universitária descobre que está grávida. O desespero da menina está à flor da pele, mas não o suficiente para impedi-la de buscar meios fora da lei para conseguir um aborto. Com um dos temas mais polêmicos da atualidade, "O Acontecimento" estuda um tempo quando o aborto era um tabu ainda mais forte - apesar de não termos evoluído tanto assim 60 anos depois. A menina é abandonada por todo mundo e se vê obrigada a buscar meios brutais que rendem cenas desconcertantes - mas importantes - sobre como a criminalização do aborto é uma violência. De fato, "O Acontecimento" é um dos melhores filmes já feitos sobre a temática.


19. Crimes do Futuro (Crimes of the Future)

Direção de David Cronenberg, Canadá/Reino Unido.

David Cronenberg voltou para a ficção-científica, podemos dormir em paz. 23 anos após seu último sci-fi, Cronenberg retorna com "Crimes do Futuro" ao lado de três enormes nomes: Viggo Mortensen, Léa Seydoux e Kristen Stewart. Um futuro não definido possui humanos com mutações genéticas que afetam dois pilares fundamentais de suas existências: eles não sentem mais dor e infecções deixaram de existir. Soa incrível, não? Só soa. Essa distopia cronenberguiana é tudo o que diretor serviu com "Videodrome" (1983) e "A Mosca" (1986): uma bizarrice estética que tenta apontar o dedo para a forma com que nos relacionamos. De fato, o começo da fita é bastante hermético, sem espaços para grandes aproximações, no entanto, quando a chave do sentido é girada, todo aquele estranho universo onde a cirurgia é o novo sexo encontra lógicas espetaculares.

 

18. Ao Cair do Sol (Sundown)

Direção de Michel Franco, México/França.

Michel Franco está entre os meus cinco diretores favoritos da atual geração em seu cinema pessimista e misantropo - é dele três dos melhores filmes dos últimos anos: "Depois de Lúcia" (2012), "As Filhas de Abril" (2017), e meu filme #1 de 2020, "Nova Ordem". "Ao Cair do Sol" não fica atrás: uma família passa férias no México, porém, todos devem voltar ao saber que a matriarca morreu. A questão é que Neil (Tim Roth) faz todo e qualquer malabarismo para não sair dali, o que perturba sua irmã, Alice (Charlotte Gainsbourg). O cerne do texto é esse, por que diabos Neil inventa qualquer desculpa para não voltar para casa? Com uma apatia destoante, "Ao Cair do Sol" é um afiado estudo de personagem que não abre mão do seu segredo até os últimos minutos, quando toda a viagem desgraçada de Neil faz sentido.

 

17. As Bestas (idem)  

Direção de Rodrigo Sorogoyen, Espanha/França.

Um casal francês se muda para um vilarejo nos confins da Galiza - comunidade autônoma no norte da Espanha - para viver sua vida eco-friendly e restaurar casas abandonadas. O problema é que uma grande empresa quer comprar as terras do local, e, ao contrário de todos os outros moradores, o casal não quer vender a propriedade. Isso cria uma animosidade entre os nativos e os estrangeiros, afogando a situação em xenofobia e violência. "As Bestas" possui atuações brutais, uma fotografia estonteante e um roteiro que escalona a situação até alcançar medidas extremas e impiedosas que balanceiam um jogo de interesses que, apesar de opostos, fazem completamente sentido para suas partes.


16. A Morte de um Cachorro (La Muerte de un Perro)

Direção de Matías Ganz, Uruguai/Argentina.

Há um sub-sub-gênero (vou chamar assim) no Cinema que tenho particular deleite: histórias que possuem um pequeno acontecimento se tornando o caos, uma Lei de Murphy cinematográfica. "A Morte de um Cachorro" se enquadra nesse hall: Mario é um veterinário em Montevidéu que, após um descuido no trabalho, acaba matando um cachorro; a partir de então, sua vida tranquila e burguês vira de cabeça para baixo. A cada segundo há mais pessoas envolvidas na bagunça que Mario conduz sem freio, que gera brigas, roubos e mortes, até desbocar em um final genialmente cara de pau. Não dá para acreditar no quão cretinos conseguem ser os personagens para limpar a própria pele, e cabe à plateia se divertir com o desespero de todos os presentes - incluindo o cachorro da família. Ninguém escapa.

 


15. Suave & Silencioso (Soft & Quiet)

Direção de Beth de Araújo, EUA.

O nome da diretora já entrega: sim, ela tem os pés no Brasil. Nascida nos EUA, mas com cidadania tupiniquim, Beth de Araújo dirige a fita mais revoltante de 2022, de longe. É verdade que o próximo da lista tem cenas bem mais chocantes, porém, o que assombra no filme de Araújo é a proximidade com o real e o atual. Minha sessão foi ainda mais forte quando sentei diante do filme sabendo NADA acerca, e nunca pensei como uma simples torta, símbolo das iguarias norte-americanas, poderia derrubar meu queixo. Filmado inteiramente sem cortes - a câmera só desliga no último segundo após ligada -, "Calmo & Silencioso" é o terror do ódio moderno com violento poder em texto e imagens.


14. Não Fale o Mal (Speak No Evil)

Direção de Christian Tafdrup, Dinamarca/Holanda

O nome de Christian Tafdrup ainda não é tão difundido nas rodas de Cinema, e isso deve ser mudado pra já com "Não Fale o Mal". Uma família dinamarquesa está de férias e conhece uma simpática família holandesa. Com a barreira linguística não existindo, os adultos formam uma amistosa ligação, que recebe o convite para um estreitamento ainda maior quando os dinamarqueses são convidados para um fim de semana na casa dos holandeses. É aí que a amizade vai por água abaixo. "Não Fale o Mal" é perverso, não tendo piedade com seus personagens e, consequentemente, com a plateia, ao atirar a todos em situações desconcertantes que escondem um segredo repugnante, tudo baseado em uma fuga de conflitos que, apesar de soarem forçadas vistas de fora, são plausíveis em sentidos amplos. E desolam.

 

13. Não! Não Olhe! (Nope)

Direção de Jordan Peele, EUA.

Existem filmes e existem experiências, e o foco principal de "Não! Não Olhe!" é o espetáculo. O terceiro terror de um dos mestres da atualidade, Jordan Peele - vencedor do Oscar pelo já clássico "Corra!" (2017) - continua seu mais-que-necessário cinema negro com uma família que é perseguida por um e.t. que decidiu transformar em casa o céu da fazenda dos protagonistas. Com performances ímpares de Keke Palmar e Daniel Kaluuya, "Não! Não Olhe!" é uma fita para ser degustada na tela gigante, com um som poderosíssimo que emoldura a maior sessão pipoca de Terror do ano e que eleva à uma nova potência o Terror alienígena - e que design belíssimo o do bichinho.

 

12. Até os Ossos (Bones And All)

Direção de Luca Guadagnino, Itália/EUA.

Luca Guadagnino é célebre por "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017), mas seu melhor filme é, sem a menor dúvida, "Suspíria: A Dança da Morte" (2018), remake do clássico de 1977. Então o italiano sabe fazer um terror, e prova mais uma vez com "Até os Ossos". Uma menina é abandonada pelo pai aos 18 anos por não conseguir lidar com a natureza dela: ela é canibal. No universo do filme, canibais são uma espécie diferente de seres humanos, que nascem com a necessidade de ingerirem carne humana e com a capacidade de identificarem outros canibais pelo olfato. Ao ser abandonada, ela parte para descobrir o mundo e a si própria ao lado de outros canibais, se apaixonado por um que tem mais experiência na caçada. "Até os Ossos" passeia pelo drama, romance e terror com cenas que misturam ternura e gore na mesma medida. O significado final do título é arrasador.

 

11. Os Banshees de Inisherin (The Banshees of Inisherin)  

Direção de Martin McDonagh, Irlanda/Reino Unido.

Martin McDonagh havia uma tarefa difícil: fazer um filme tão bom quanto "Três Anúncios Para Um Crime" (2017), um dos melhores da década passada. Parabéns, McDonagh, você conseguiu. "Os Banshees de Inisherin" volta 100 anos no tempo, em uma Irlanda assolada pela guerra civil. Se de um lado as bombas ecoam pelo país, do outro, em uma pequena ilha, a guerra é entre dois amigos: do dia para noite, um dos homens para de parar com o outro, o que destrói a vida de todo mundo. Com atuações perfeitas de Colin Farrell e Brendan Gleeson, "Os Banshees" é uma tragicomédia irretocável que alcança níveis cada vez mais absurdos no conflito dos (até ontem) amigos e como o desprezo é pior do que o ódio.



10. A Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth)

Direção de Joel Coen, EUA.

Devo confessar que minha animação para "A Tragédia de Macbeth" não era das maiores. Apesar de ser dirigido por Joel Coen (a metade da dupla Joel & Ethan, donos da obra-prima "Onde os Fracos Não Têm Vez", 2007) e com um elenco estrelar, a adaptação do conto de William Shakespeare não soava tão interessante, todavia, o espetáculo que é a película derruba qualquer dúvida. Quando um trio de bruxas proclama o trono para Macbeth, sua saga para a glória e a queda afeta a vida de todos a sua volta. Com um dos melhores designs de produção e cinematografia já feitos na história do Cinema, Denzel Washington e Frances McDormand carregam a história com um poder avassalador, sem jamais tornar desinteressante um roteiro que é falado em inglês arcaico (!).

 

09. A Caixa (La Caja) 

Direção de Lorenzo Vigas, Venezuela/México.

O representante venezuelano para o Oscar 2023 - e que infelizmente não figurou entre os semifinalistas -, "A Caixa" é uma curiosa história de um garoto que é mandado pela avó para resgatar os restos mortais do pai, que foi encontrado em uma vala clandestina. Após recuperar a caixa com a ossada do pai, ele, no ônibus de volta, avista um homem que ele jura ser o pai. A partir de então, a vida do garoto e do homem muda pra sempre. "A Caixa" é um estudo de situação com potência incrível ao analisar como funciona a paternidade - seja real ou "emprestada" - e a maneira como elementos machistas são transpostos de pai para filho. O menino faz de tudo para poder receber um amor que nunca teve, porém, vale mesmo a pena?


08. Deserto Particular (idem)

Direção de Aly Muritiba, Brasil.

Um policial afastado do cargo por má conduta mantém um relacionamento virtual com uma misteriosa mulher que desaparece sem deixar rastros. Ele sai do sul do Brasil até o Nordeste a fim de encontrar a amada, só para descobrir que ela não é uma mulher cis, e sim uma pessoa não binária. Aly Muritiba ficou conhecido pelos seus pesados e obscuros filmes - assista a "Ferrugem" (2018) - e decidiu mudar seus ares com "Deserto Particular", um drama com toques de romance que mergulha de cabeça em discussões de gênero e sexualidade com uma delicadeza perspicaz.  Não apenas um dos melhores filmes do Novíssimo Cinema Nacional, uma das mais certeiras escolhas de representantes para o Oscar, como também um exemplar fabuloso do cinema LGBTQIA+.

P.S.: "Deserto Particular" estreou no Brasil no finzinho de 2021 em circuito limitado, chegando na HBO Max em 2022, então vai entrar na lista de 2022 sim, a lista é minha e é isso.


07. Red Rocket (idem)

Direção de Sean Baker, EUA.

Na minha casa, nós louvamos Sean Baker. O coração da sua filmografia gira em torno da observação de grupos que, por motivos que sejam, caem no trabalho sexual - as travestis de "Tangerina" (2015), a mãe da protagonista de "Projeto Flórida" (2017), etc. Em "Red Rocket" temos Simon Rex como Saber, um ex-ator pornô cujo sucesso é apenas uma memória. Tendo que retornar para a cidade que prometeu nunca mais por os pés, ele conhece e se apaixona por Raylee (Suzanna Son), uma atendente menor de idade. O trunfo de "Red Rocket" é ver até onde conseguimos detestar o carismático Saber, um poço aparentemente sem fundo de trambicagens, roubos e sim, pedofilia. O questionamento principal é: o Cinema deve ter uma moral intocável e sem espaço para dúvidas? Ou ele pode analisar personagens odiosos sem precisar transformá-lo em exemplo? É uma discussão complexa, e Baker assume o risco de não poupar o caráter tenebroso de seu protagonista em prol de uma punição explícita na ficção.

 

06. O Bom Patrão (El Buen Patrón) 

Direção de Fernando León de Aranoa, Espanha.

"O Bom Patrão" foi um fenômeno sem precedentes na Espanha. O filme de Aranoa recebeu absurdas 20 indicações no Goya (o Oscar da Espanha), vencendo seis, incluindo "Melhor Filme", "Direção" e "Roteiro Original". E cada um foi merecidíssimo. O longa é sobre o dono de uma fábrica de balanças que está de olho em um prestigioso prêmio, cujo qual vê sua empresa como finalista. Faltando uma semana para o comitê da premiação vistoriar a fábrica a fim de fecharem a votação, o patrão está disposto a resolver todo e qualquer problema que possa interferir na fachada perfeita do lugar. Com uma atuação brilhante de Javier Bardem como o presidente da empresa, "O Bom Patrão" é um malabarismo insanamente divertido de um homem ambicioso e manipulador que passa por cima de qualquer limite em busca de uma placa para por em sua parede.

 


05. Santa Aranha (Holy Spider)

Direção de Ali Abbasi, Dinamarca/Suécia.

O iraniano Ali Abbasi está há pouquíssimo tempo na indústria cinematográfica, mas já nos presenteou com a obra-prima "Fronteira", meu filme favorito de 2018. Agora ele retorna com mais um espetacular filme: "Santa Aranha" remonta a história real de Saeed Hanaei, um serial killer que assassinou 16 garotas de programa no Irã para "limpar as ruas da impureza". A obra se divide entre dois pontos de vista: de Saeed e suas "justificativas" e da jornalista Arezoo, que arrisca sua vida para capturar o psicopata. A dinâmica da película é certeira ao abandonar o velho "quem será que é o culpado?" para desenvolver as motivações contrastantes dos dois protagonistas. E, por ser uma história real, é ainda mais triste como ainda existem culturas completamente misóginas, com o caso tendo apoio da mídia e do povo, afinal, Saeed era um cavaleiro de deus.


04. O Homem do Norte (The Northman)

Direção de Robert Eggers, EUA.

Em sua terceira excursão para contos do séculos passados (depois das obras-primas "A Bruxa", 2015, e "O Farol", 2019), Robert Eggers entrega mais uma obra-prima que amplia a mitologia de seu cinema, sempre dançando entre o fantástico e o terror com uma assinatura própria espetacular para um autor tão jovem. Pegando a plateia pelo pescoço e forçando-a a embarcar em um barco que está fadado ao sangue, todas as profecias ditas através da boca de bruxas conduzem histórias em que a natureza (seja a do planeta ou a nossa própria) está presa a grossas cordas do destino. Resta a você acompanhar o degringolar dos personagens "eggerianos", pobres vítimas de forças sobrenaturais que turvam as suas missões de descobrirem quem são. "O Homem do Norte" é tudo que você poderia esperar de uma saga viking milionária assinada por Robert Eggers.


03. Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness)

Direção de Ruben Östlund, Suécia/França.

Ruben Östlund conseguiu um feito que poucos podem ter no currículo: vencer a Palma de Ouro (o "Melhor Filme" do Festival de Cannes e a maior honraria de um festival cinematográfico do mundo) com dois filmes consecutivos: "A Arte da Discórdia" em 2017 e agora em 2022 com "Triângulo da Tristeza". O core do cinema "ostlundiano" é a crítica de diversas formas culturais e sociais das camadas mais altas da sociedade, e "Triângulo" vai até um luxuoso cruzeiro cheio de milionários e a maneira assustadoramente patética que eles vivem afogados por tanto dinheiro. Com um dos roteiros mais brilhantes da década, "Triângulo" é um exercício magistral


02. Faces do Medo (Men)

Direção de Alex Garland, Reino Unido.

Alex Garland já surgiu na indústria com o pé na porta ao lançar "Ex Machina: Instinto Artificial" (2014), e cunhou ao longo dos anos um cinema que mistura ficção científica com discussões sobre nossas vidas e regras. "Os Homens" segue a mesma ideia, com uma mulher que, após o suicídio do marido, se isola em uma vila no meio do nada para superar o luto. A grande questão é: todos os homens da vila são exatamente iguais (e criativamente performados pelo mesmo ator, Rory Kinnear). O título pode ser muito óbvio, mas "Os Homens" é uma odisseia bizarra e claustrofóbica que desfila uma infinidade de agressões que as mulheres encontram todos os dias, sem cair em execuções óbvias - são simbolismos que exigem uma pesquisada ao fim da sessão, principalmente com os 10 minutos finais, uma das sequências mais bizarras do século. E Jessie Buckley está fantástica.


01. Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once)

Direção de Daniel Scheinert & Daniel Kwan, EUA.

Se você acompanha as listas de "Melhores do Ano" aqui do Cinematofagia, já deve ter notado como amo filmes dos confins do mundo, e adoraria que o melhor filme de 2022 fosse algum muito cult de um país longínquo, mas não teve jeito. 2022 é de "Tudo em Todo o Lugar". A maior bilheteria na história da A24, "Tudo em o Todo Lugar" virou um fenômeno sem precedentes; até mesmo a produtora deve ter ficado surpresa. Seguindo uma imigrante coreana em um EUA falido que deve salvar o mundo (ou os mundos), o filme parece pegar carona na temática do momento, os multiversos, porém, com um roteiro concebido em 2010, a fita dos Daniels - que sabem fazer uma obra insanamente contemplativa - é uma aula de qualquer aspecto da Sétima Arte pelo domínio absurdo do material em mãos. Um filme para rir, chorar e contemplar a absurda falta de sentido em nossas pequenas em inúteis vidas, no mais delicioso niilismo cinematográfico possível. Mas é orgânico, viu?

 ***

As 15 melhores atuações do Cinema em 2022

O Cinematofagia está cada vez mais próximo de publicar a lista com os melhores filmes de 2022, mas antes vamos celebrar as melhores atuações do ano (todas as listas de melhores de 2022 aqui).

De indicados ao Oscar a estreias inacreditáveis, a lista segue as seguintes regras: não há separação entre papéis protagonistas e coadjuvantes e nem de gênero, tendo como critério de inclusão a estreia do filme em solo tupiniquim dentro do ano ou com o filme chegando à internet sem distribuição no país até o fechamento da lista.

Não assistiu a algum dos longas aqui listado? Não se preocupe, pode ler todos os textos que são sem spoilers - e em seguida correr para aclamar essas performances maravilhosas. Quem são os indicados ao Oscar Cinematofagia de "Melhor Atuação" do ano? Você pode conferir abaixo.

 

15. Dolly de Leon (Triângulo da Tristeza)

Confesso que, antes de "Triângulo da Tristeza", o mais novo vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, nunca havia conhecido Dolly de Leon. Não é de se espantar, afinal, a atriz nunca havia saído da indústria das Filipinas - ela, inclusive, fez as audições para "Triângulo" sem nem ao menos possuir um agente, conseguindo o papel ainda assim. O caos sarcástico desse filme sobre troca de poderes vê a personagem de Leon como destaque absoluto no último ato, com tanta competência que ela finalmente possui carreira internacional agenciada e sendo a primeira atriz filipina na história a ser indicada ao Globo de Ouro. E deveria levar.


14. Alana Haim (Liquorice Pizza)

Mais conhecida por ser uma das integrantes do grupo Haim - juntamente com suas duas outras irmãs -, Alana Haim fez uma gloriosa estreia no Cinema com "Liquorice Pizza" (curiosidade: sua família no filme é interpretada por sua família na vida real). O diretor Paul Thomas Anderson, que dirigiu vários clipes do Haim, escreveu o papel com Alana em mente, e a cantora (e agora atriz) não decepciona nessa comédia setentista que, problemáticas de lado, é um palco dominado por Alana, que parece atuar a vida inteira.


13. Mehdi Bajestani (Santa Aranha)

Ator iraniano do Teatro, Mehdi Bajestani tem apenas cinco créditos no Cinema, e em "Santa Aranha" ele já revela o incrível ator que é. O representante dinamarquês para o Oscar 2023 de "Melhor Filme Internacional" é baseado em uma história real que ocorreu no começo dos anos 2000 no Irã: um serial killer assolava uma cidade matando prostitutas em nome de deus. Mehdi Bajestani vive esse psicopata e transmite toda sua loucura santificada que é ainda mais assustadora quando se trata de eventos reais - e proibida de ser filmada no Irã; a produção teve que gravar na Jordânia.


12. Claes Bang (O Homem do Norte)

Claes Bang é um experiente ator dinamarquês que ganhou notoriedade com "A Arte da Discórdia" (2018), a primeira das duas Palmas de Ouro recebidas por Ruben Östlund. Mesmo com o sucesso na Europa, Bang só veio até Hollywood em 2018 com "Millennium: A Garota na Teia de Aranha", sendo um dos protagonistas de "O Homem do Norte", novo filme do REI Robert Eggers. Mesmo com um elenco lotado de estrelas -  Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke e Willem Dafoe - o vilão de Bang, que faz toda a história girar, é o catalisador do filme. No meio de tanto talento, Bang não tem recebido o devido reconhecimento, e cá estamos para isso.


11. Denzel Washington (A Tragédia de Macbeth)

Com quase 70 anos, Denzel Washington é há muito tempo sinônimo de qualidade, com dois Oscars na prateleira e aclamações para dar e vender. Como o primeiro Macbeth negro na história do Cinema dentre as incontáveis versões já lançadas (corrija-me se estiver esquecendo de alguma delas), Denzel assume toda a insanidade cinematográfica de Joel Coen como se fosse fácil, atuando em cima de um roteiro que se utiliza dos monólogos rebuscados e complexos do texto de Shakespeare de forma legítima. Dentre as adaptações modernas, o rei destinado ao fracasso nunca foi tão bem interpretado quanto agora. 



10. Michelle Yeoh (Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo)

A atriz malaia Michelle Yeoh começou sua carreira em filmes de ação em Hong Kong, conseguindo destaque por performar suas próximas cenas, sem a necessidade de dublês. Em Hollywood, marcou seu nome com "O Tigre e o Dragão" (2000), "Memórias de um Gueixa" (2005) e o hit "Podres de Rico" (2018). Porém, apesar dos sucessos, Yeoh nunca havia vencido um prêmio de "Melhor Atriz" - até agora. "Tudo em Todo o Lugar" é, sem dúvidas, o auge de Yeoh no cinema, como a mãe que se desdobra entre salvar sua lavanderia falida e o multiverso inteiro. Toda a experiência da atriz é posta à prova nesse pandemônio e ela não falha em nenhuma cena, demonstrando seu talento como nunca havia até então - tanto que, até o fechamento desta lista, já levou DEZESSETE prêmios de "Melhor Atriz".


09. Dario Argento (Vórtex)

Dario Argento é um dos diretores definitivos do terror italiano, entregando clássicos que influenciaram o gênero permanentemente, como "Prelúdio Para Matar" (1975) e "Suspiria" (1977). Ele fez algumas pontas como ator ao longo da vida, na maioria das vezes em papéis sem créditos, então foi uma surpresa quando ele foi anunciado como o protagonista de "Vórtex", novo filme do polêmico Gaspar Noé. Como o marido de uma idosa sucumbindo à demência, Argento não só assombra com seu francês impecável como pela desenvoltura diante das intrusivas câmeras de Noé, em um papel pra lá de difícil sobre a finitude da vida - e como podemos fazer nada diante do fim.


08. Eden Dambrine (Close)

E quem não gosta de uma revelação mirim? O representante da Bélgica para o Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023, "Close" segue dois amigos que, graças à homofobia, têm a amizade arruinada permanentemente. O sucesso de "Close" não seria 10% sem a poderosíssima atuação do pequeno Eden Dambrine. O ator, que conseguiu o papel com 14 anos, suporta a carga emocional elevadíssima do roteiro sem titubear, dando vida à uma história tão sensível e delicada. De cair o queixo.


07. Colin Farrell (Os Banshees de Inisherin)

Apesar de uma carreia com décadas nas costas, o irlandês  Colin Farrell só possui um dos principais prêmios da indústria, um Globo de Ouro por "Na Mira do Chefe" (2008). Coincidentemente, "Na Mira" e "Os Banshees de Inisherin" são ambos do mesmo diretor, Martin McDonagh, e em "Banshees", Farrell tem a performance mais aplaudida da carreira. Aqui ele é Pádraic, um pacato e abobalhado homem que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando seu melhor amigo decide cortar relações da noite pro dia. O roteiro de McDonagh abre espaço para Farrell arrebentar, já ganhando "Melhor Ator" no Festival de Veneza, no National Board of Review e em várias outras premiações. Um Oscar seria bem-vindo.


06. Ke Huy Quan (Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo)

O vietnamita Ke Huy Quan começou sua carreira ainda como ator mirim, emplacando dois clássicos consecutivamente: "Indiana Jones e o Templo da Perdição" (1984) e "Os Goonies" (1985). A década de 80 foi a mais expressiva até então, atuando muito esporadicamente depois disso, fazendo com que o ator abandonasse a profissão. Felizmente, as coisas mudaram, e ele encontra nova glória com "Tudo em Todo o Lugar". Como um dos proprietários da lavanderia mais endividada de todo o multiverso,  Quan vai de cenas de ação eletrizantes até a mais pura emoção em momentos que já estão nos livros de história. "I wanted to say, in another life, I would have really liked just doing laundry and taxes with you".

 

 

05. Jessie Buckley (Faces do Medo) 

Jessie Buckley não tem 20 créditos no Cinema, todavia, chamou minha atenção logo no começo, com "Beast" (2017). Foi a partir de 2020 que sua trajetória viu um avanço considerável, conseguindo aclamação em "Estou Pensando em Acabar com Tudo" (2020) e "A Filha Perdida" (2021), com o último lhe garantindo uma indicação ao Oscar. "Faces do Medo", no entanto, mostrou o lado mais brutal da atriz. Sendo perseguida por uma avalanche de homens dispostos a destruir seu psicológico, Buckley sobe aos berros neste laborioso filme capaz de torcer a mente de quem vê - seja na exibição da bizarrice do texto ou nas cenas complexas de violência e abuso.


04. Mia Goth (Pearl)

Ei, você sabia que Mia Goth é neta da atriz brasileira Maria Gladys??? O meme que saturou o Twitter após o boom de Goth em 2022 só mostra como a britânica, que não possui nem 10 anos de carreia, virou um nome do alto escalão. Ela já havia encantando com "Ninfomaníaca" (2013) e "Suspíria" (2018), mas finalmente sobe na cadeira de protagonista na franquia "X". Apesar de possuir dois papéis no primeiro filme, é em "Pearl" que Goth mete o pé na porta. Como a reprimida adolescente com um amor sociopata pela vida (e pelo sexo), Goth dá lágrimas, sangue e saliva na juventude de uma das mais interessantes vilãs do ano. Aquele monólogo no último ato já rende uma indicação ao Oscar. Ela é uma estrela!

 

03. Simon Rex (Red Rocket)

Simon Rex é um caso que Hollywood parece abraçar. Adam Sandler e Steve Carell são, assim como Rex, comediantes conhecidos por suas farofas com péssimas atuações - Sandler mesmo tem a carreia marcada por suas atuações tão ruins que são boas. O que aconteceu com ambos? Encontraram papéis que conseguiram apagar qualquer má fama - Carell com "Foxcatcher" (2014) e Sandler com "Joias Brutas" (2019). Rex entra para esse hall com "Red Rocket". Conhecido pelas suas comédias pastelão - principalmente na franquia "Todo Mundo em Pânico" -, Simon vive um ator pornô decadente que volta para o interior (que prometeu nunca mais por os pés) em busca de dinheiro. Em uma performance brilhante, o ator de despe de qualquer vaidade e desenvolve um personagem revoltante e picareta que amamos odiar.

 

02. Keke Palmer (Não! Não Olhe!)

Keke Palmer tem uma looonga carreia dentro da TV, conseguindo um Emmy e o BET Awards, porém, nunca havia encontrado um filme que desse o devido holofote para seu talento. "Não! Não Olhe" realizou essa tarefa. O terceiro filme de Jordan Peele, assim como "Corra!" (2017) e "Nós" (2019), exige bastante de um ator em específico, e, mesmo sendo coadjuvante, é Keke que carrega "Não!". Seu carisma é perfeito para Esmerald, a heroína definitiva de 2022 que brilha em cada segundo que está na tela. Cinco estrelas, anjo, cinco estrelas.

 

01. Javier Bardem (O Bom Patrão)

O marido de Penélope Cruz provavelmente é o ator espanhol mais aclamado de todos os tempos, tendo em casa - além da esposa mais linda do mundo - todos os principais prêmios da indústria: Oscar, BAFTA, Globo de Ouro, Goya, SAG, Critics' Choice e por aí vai. Virou queridinho do Cinematofagia? Virou, mas é porque ele é bom mesmo. Tanto que ele conseguiu alcançar mais um patamar ao viver o chefe manipulador em "O Bom Patrão". Bardem passeia naturalmente pelo cômico e trágico e consegue o feito de não permitir com que o espectador veja outro ator ali. Não por acaso, sua atuação em "O Bom Patrão" rendeu seu SÉTIMO Goya (o Oscar da Espanha). Ele é e sempre foi o momento.


***

NÃO SAIA ANTES DE LER

música, notícias, cinema
© all rights reserved
made with by templateszoo