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Os 20 melhores filmes de terror de 2022

2022 já está marcado nos livros de história da Sétima Arte como o grande ano para o Terror na presente década - e talvez em todo o séc. XXI até agora. Tivemos um montante grandioso de lançamentos do gênero, e melhor ainda, um montante de ÓTIMOS lançamentos, pois aqui trabalhamos com qualidade, não com quantidade.

Então, sendo o entusiasta que sou Do Terror, tive que listar não os 10, não os 15, mas os VINTE melhores terrores do ano, pois sim, tivemos esse tanto de maravilhas - até mais, tive que tirar alguns nomes, senão ficaríamos aqui até 2024. Na real, como um aperitivo extra, são 21 filmes, com a vigésima colocação sendo um empate - quanto mais, melhor.

Assim como toda lista do Cinematofagia, a lista consta com filmes com lançamento no circuito nacional em 2022 ou que chegaram na internet sem lançamento marcado até o fechamento da lista - além de, claro, serem todos dentro do grande espectro do Terror e seus subgêneros para ampliarmos nossa noção do que é Terror. E textos livres de spoiler para não estragar a sua experiência, como sempre, pode ler sem medo (guarda o medo pros filmes).

Prepara sua maratona e vamos lá?

 

20. Sem Saída (No Exit)

Direção de Damien Power, EUA.

Uma problemática estudante fica presa em um prédio com várias pessoas que se refugiavam de uma tempestade de neve. O tédio da estadia é quebrado quando a garota descobre uma criança sequestrada em um dos carros. Quem ali seria o criminoso? "Sem Saída" é um terror que logo na premissa já arrebata nosso interesse, quase um live-action de "Detetive" que brinca inteligentemente com a percepção do público sobre quem é mocinho e vilão ali.

 

20. O Telefone Preto (The Black Phone)

Direção de Scott Derrickson, EUA.

Do diretor do saboroso "A Entidade" (2012), Scott Derrickson, "O Telefone Preto" é um dos grandes sucessos de bilheteria para o terror em 2022, arrecadando DEZ vezes o valor de produção. Nesse coming-of-age medonho, um psicopata assola uma pequena cidade quando crianças começam a desaparecer - e é claro que nosso protagonista será a próxima vítima. "O Telefone Preto" traz nada de novo, mas encontra êxito na forma que desenvolve seu drama sobrenatural de maneira raramente vista entre os lançamentos blockbusters do gênero.


19. Noites Brutais (Barbarian)

Direção de Zach Cregger, EUA.

Filmes de estreia são difíceis em qualquer gênero, porém, no terror há uma responsabilidade ainda maior - responsabilidade esta cumprida por Zach Cregger com "Noites Brutais". Este é um daqueles filmes que possuem uma sessão ainda melhor quando você sabe quase nada sobre sua premissa, pois em um determinado momento há uma mudança de narrativa tão brusca que diferencia os andares (wink wink) de seu roteiro, que vai de um suspense intrigante para o terror absoluto. A escalação de Bill Skarsgård, nosso amado Pennywise, foi genial - assista para saber o motivo.


18. Pearl (idem)

Direção de Ti West, EUA/Canadá.

Um dos maiores fenômenos que marcou 2022, a franquia "X", nova empreitada de Ti West no Terror, já ganhou o segundo filme meses após o lançamento do primeiro, com "Pearl" vindo como um prequel que explica a vida e o passado da vilã de "X". Durante 1918, vemos a juventude de Pearl e sua ambição em ser uma estrela enquanto deve cuidar de sua fria família, ancorada por uma atuação fenomenal de Mia Goth, a nova queridinha do gênero. Tão sangrento e divertido quanto "X", "Pearl" pode não expandir sua própria história da mesma maneira, todavia, é um bloco sólido de uma (agora) franquia que já possui o amor do público.

 

17. A Avó (La Abuela)

Direção de Paco Plaza, Espanha/França.

O nome de Paco Plaza já está marcada na história do Terror, sendo ele o codiretor da obra-prima "Rec" (2007), um dos maiores filmes do gênero de todos os tempos. Desde então, o espanhol passeia por vários subgêneros do Terror, encontrando novo sucesso com "A Avó". Escrito por Carlos Vermut - diretor de um dos meus filmes favoritos da década passada, "A Garota de Fogo" (2014) -, "A Avó" segue uma modelo que volta para Madrid a fim de cuidar de sua avó, em precária saúde. Fica bem evidente as referências e inspirações no filme de Plaza, no entanto, os subtextos presentes aqui são eficientes a ponto de fazer com que "A Avó" não seja apenas mais um.

 

16. Deadstream (idem)

Direção de Vanessa Winter & Joseph Winter, EUA.

Realizado pelo casal da vida real Vanessa e Joseph, "Deadstream" é uma verdadeira palhaçada que deu muito certo, mesmo sendo do filão de found footage digital. Um youtuber problemático - daqueles com o já velho vídeo de desculpas pelas m*rdas que já falou - faz uma parceria com a única marca que ainda o atura: ele deve passar a noite na Casa da Morte, uma suposta casa assombrada que coleciona cadáveres. Se ele conseguir a façanha, a marca voltará a patrociná-lo, e a estadia deve ser inteiramente transmitida ao vivo. Com a difícil mistura entre Comédia e Terror, "Deadstream" causa tensão e diverte em uma medida cada vez mais rara, sem deixar de ser a pataquada que explicitamente é.


15. Marcas da Maldição (Zhou)

Direção de Kevin Ko, Taiwan.

Uma desesperada mãe tenta proteger a filha de uma maldição causada por ela mesmo ao quebrar um tabu religioso anos atrás. Com distribuição internacional pela Netflix, "Marcas da Maldição" foi inspirado em um bizarro evento real e já mostra seu ineditismo pela linguagem adotada: o espectador é um dos personagens. A mãe conversa com quem assiste e acabamos virando elemento importante para o andar da narrativa, que é recheada de momentos macabros e cenas incríveis - a façanha do símbolo e do mantra dito pela mãe é genial.


14. X (idem)

Direção de Ti West, EUA/Canadá.

O triunfal retorno de Ti West para o Terror - desculpa, mas "O Último Sacramento" (2013) é terrível -, "X" não marca apenas o retorno de um bom diretor, mas também um marco para o slasher contemporâneo. Uma equipe de filmagens vai até uma fazenda no interior do Texas para gravar um filme pornográfico, sem saber que a dona do local é uma psicopata cheia de tesão (sim). Com uma atuação dupla de Mia Goth, que vive Maxine (a final girl do ano) e Pearl (debaixo de quilos de maquiagem), "X" é uma epopeia que tanto homenageia clássicos quanto põe o pé na porta como obra única.

 

13. A Autópsia (The Autopsy)

Direção de David Prior, Canadá/EUA.

Um dos filmes presentes na antologia "Gabinete de Curiosidades", série do mestre Guilhermo del Toro para a Netflix, "A Autópsia" foi escrito David S. Goyer, um dos responsáveis pela história de "O Cavaleiro das Trevas" (2008) e do novo "Hellraiser" (2022), e acompanha um legista que deve performar autópsias em vários mineradores mortos em um acidente. É claro que um dos cadáveres ganha vida, levando o filme para caminhos pra lá de assustadores e instigantes, e "A Autópsia" pode ser resumido exatamente assim: tão inteligente quanto obscuro.


12. Dual (idem)

Direção de Riley Stearns, EUA.

Em um futuro próximo, uma empresa lança clones que são comprados para substituir sua presença após sua morte, a fim de acalantar os corações de seus familiares. Uma mulher com uma doença terminal decide comprar um dos clones, porém, ao descobrir que seu diagnóstico foi errado, deve enfrentar a política do clone: caso ele não aceite ser "morto", dono e criatura devem lutar até a morte para decidirem quem ficará permanentemente no lugar. É, a história de "Dual" é caótica e deliciosa. A obra de Riley Stearns tem camadas profundas que elevam seu terror, como por exemplo: e se sua família preferir o clone à você?  O que você faria?


11. Sorria (Smile)

Direção de Parker Finn, EUA.

O maior sucesso em bilheteria do Terror em 2022, arrecadando a bagatela de 200 MILHÕES de dólares a mais que seu custo de produção, "Sorria" é o terror comercial definitivo do ano. Uma terapeuta vê uma paciente se suicidar diante dos seus olhos, mas a parte mais estranha era o imenso sorriso em seu rosto enquanto dilacerava sua garganta. Ali não era um sorriso convidativo, era uma assustadora careta. A partir de então, vários desses sorrisos começam a arruinar a vida da terapeuta, perseguida por uma entidade que deseja sua morte. "Sorria" une tudo o que uma sala de cinema lotada quer: história bem costurada, momentos assustadores e sustos para pularmos na cadeira. O ato final é particularmente bem sucedido, com reviravoltas que unem o "pipoca" com o "cult".


10. Fresh (idem)

Direção de Mimi Cave, EUA.

Mimi Cave saiu da carreira de diretora de videoclipes para esse terror apetitoso. Uma jovem é refém dos aplicativos de relacionamento e todos os boys lixos que encontra, até conhecer um cara no supermercado que parece enfim ser alguém que valha a pena. Mas só parece. É difícil comentar sobre "Fresh" sem entregar suas surpresas, todavia, esse survival movie tem taxas acima da média do bizarro que capturam o espectador em uma trama fenomenal que cada minuto envolve mais vítimas. Sente-se, assista e esteja servido. De dar água na boca.

 

9. Observador (Watcher)

Direção de Chloe Okuno, Romênia/EUA.

Mais um filme de estreia sensacional? Temos. Em "Observador", um casal se muda para a Romênia quando o namorado consegue um emprego no país; a grande questão é: a mulher não fala romeno, e se sente completamente isolada em seu apartamento. Mas há alguém muito interessado na situação. A mulher jura que há alguém no prédio da frente que está fixamente observando tudo o que ela faz, enquanto há um serial killer a solto na cidade. Seria isso obsessão que só existe na cabeça dela?  Os crimes acontecendo ali perto estão turvando a noção de realidade da moça? "Observador" periga cair em obviedades em vários momentos, mas sai vitorioso ao equilibrar tudo em uma trama verdadeiramente tensa e envolvente sobre dúvida, medo e perseguição.


8. Dashcam (idem)

Direção de Rob Savage, Reino Unido/EUA.

As viúvas dos tempos áureos de "Atividade Paranormal" (2007), alegrem-se! "Dashcam" está aqui para suprir sua perda - porque a franquia está morta, por mais que ainda tentem revivê-la. Não é de se estranhar que "Darshcam" é do mesmo diretor de "Cuidado Com Quem Chama" (2020), hit da pandemia: uma das personagens mais insuportáveis do ano, Annie dirige pela noite transmitindo seus encontros, que desencadeará num caos por completo ao esbarrar no sobrenatural. Divertidíssimo, atmosférico e o melhor dos found footage de 2022, "Por que você tem uma tatuagem da Ariana Grande?" já é o diálogo mais assustador da década. 


7. O Exterior (The Outside)

Direção de Ana Lily Amirpour, Canadá/Reino Unido.

Ana Lily Amirpour ficou famosa em 2014 com o terror indie "Garota Sombria Caminha pela Noite", e desde então foi convidada para diversas séries icônicas, surgindo agora como um dos filmes dentro do "Gabinete de Curiosidades" da Netflix. "O Exterior" é um fidedigno filme B dos anos 80, com uma protagonista que luta para se encaixar com as belas e glamourosas colegas de trabalho, falhando piamente - até que surge um creme milagroso que promete a beleza absoluta. Com a beleza exterior sendo o mais importante, "O Exterior" vai até o body horror com sua protagonista destruindo seu corpo em nome da beleza, em um exercício potente em mensagem e execução do horror.

 

6. Crimes do Futuro (Crimes of the Future)

Direção de David Cronenberg, Canadá/Reino Unido.

David Cronenberg voltou para a Ficção-científica/Terror, podemos dormir em paz. 23 anos após seu último sci-fi, Cronenberg retorna com "Crimes do Futuro" ao lado de três enormes nomes: Viggo Mortensen, Léa Seydoux e Kristen Stewart. Um futuro não definido possui humanos com mutações genéticas que afetam dois pilares fundamentais de suas existências: eles não sentem mais dor e infecções deixaram de existir. Soa incrível, não? Só soa. Essa distopia cronenberguiana é tudo o que diretor serviu com "Videodrome" (1983) e "A Mosca" (1986): uma bizarrice estética que tenta apontar o dedo para a forma com que nos relacionamos. De fato, o começo da fita é bastante hermético, sem espaços para grandes aproximações, no entanto, quando a chave do sentido é girada, todo aquele estranho universo onde a cirurgia é o novo sexo encontra lógicas espetaculares.

 

5. Calmo & Silencioso (Soft & Quiet)

Direção de Beth de Araújo, EUA.

O nome da diretora já entrega: sim, ela tem os pés no Brasil. Nascida nos EUA, mas com cidadania tupiniquim, Beth de Araújo dirige a fita mais revoltante de 2022, de longe. É verdade que o próximo da lista tem cenas bem mais chocantes, porém, o que assombra no filme de Araújo é a proximidade com o real e o atual. Minha sessão foi ainda mais forte quando sentei diante do filme sabendo NADA acerca, e nunca pensei como uma simples torta, símbolo das iguarias norte-americanas, poderia derrubar meu queixo. Filmado inteiramente sem cortes - a câmera só desliga no último segundo após ligada -, "Calmo & Silencioso" é o terror do ódio moderno com violento poder em texto e imagens.


4. Não Fale o Mal (Speak No Evil)

Direção de Christian Tafdrup, Dinamarca/Holanda

O nome de Christian Tafdrup ainda não é tão difundido nas rodas de Cinema, e isso deve ser mudado pra já com "Não Fale o Mal". Uma família dinamarquesa está de férias e conhece uma simpática família holandesa. Com a barreira linguística não existindo, os adultos formam uma amistosa ligação, que recebe o convite para um estreitamento ainda maior quando os dinamarqueses são convidados para um fim de semana na casa dos holandeses. É aí que a amizade vai por água abaixo. "Não Fale o Mal" é perverso, não tendo piedade com seus personagens e, consequentemente, com a plateia, ao atirar a todos em situações desconcertantes que escondem um segredo repugnante, tudo baseado em uma fuga de conflitos que, apesar de soarem forçadas vistas de fora, são plausíveis em sentidos amplos. E desolam.

 

3. Não! Não Olhe! (Nope)

Direção de Jordan Peele, EUA.

Existem filmes e existem experiências, e o foco principal de "Não! Não Olhe!" é o espetáculo. O terceiro terror de um dos mestres da atualidade, Jordan Peele - vencedor do Oscar pelo já clássico "Corra!" (2017) - continua seu mais-que-necessário cinema negro com uma família que é perseguida por um e.t. que decidiu transformar em casa o céu da fazenda dos protagonistas. Com performances ímpares de Keke Palmar e Daniel Kaluuya, "Não! Não Olhe!" é uma fita para ser degustada na tela gigante, com um som poderosíssimo que emoldura a maior sessão pipoca de Terror do ano e que eleva à uma nova potência o Terror alienígena - e que design belíssimo o do bichinho.


2. Até os Ossos (Bones And All)

Direção de Luca Guadagnino, Itália/EUA.

Luca Guadagnino é célebre por "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017), mas seu melhor filme é, sem a menor dúvida, "Suspíria: A Dança da Morte" (2018), remake do clássico de 1977. Então o italiano sabe fazer um terror, e prova mais uma vez com "Até os Ossos". Uma menina é abandonada pelo pai aos 18 anos por não conseguir lidar com a natureza dela: ela é canibal. No universo do filme, canibais são uma espécie diferente de seres humanos, que nascem com a necessidade de ingerirem carne humana e com a capacidade de identificarem outros canibais pelo olfato. Ao ser abandonada, ela parte para descobrir o mundo e a si própria ao lado de outros canibais, se apaixonado por um que tem mais experiência na caçada. "Até os Ossos" passeia pelo drama, romance e terror com cenas que misturam ternura e gore na mesma medida. O significado final do título é arrasador.


1. Faces do Medo (Men)

Direção de Alex Garland, Reino Unido.

"Faces do Medo" segue uma mulher que, após o suicídio do marido, se isola em uma vila no meio do nada para superar o luto. A grande questão é: todos os homens da vila são exatamente iguais (e criativamente performados pelo mesmo ator, Rory Kinnear). O título do maior terror de 2022 pode ser muito óbvio ("Os Homens", na tradução literal), mas "Faces do Medo" é uma odisseia bizarra e claustrofóbica que desfila uma infinidade de agressões que as mulheres encontram todos os dias, sem cair em execuções óbvias - são simbolismos que exigem uma pesquisada ao fim da sessão, principalmente com os 10 minutos finais, uma das sequências mais bizarras do século. Mais um perfeito exemplar do panteão da A24 que faz a gente falar "entendi nada, mas amei".


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Os 10 melhores filmes de 2022 (até agora)

 
Absurdo perceber que 2022 já foi pela metade, mas cá estamos. Em um ano de retomada com tudo na Sétima Arte depois de dois anos de pandemia (ainda se cuidem, hein?), finalmente estamos podendo, em grande escala, apreciar o Cinema novamente. Então é claro que eu teria que vir com meus filmes favoritos de 2022 (até agora).

Caso você já conheça o Cinematofagia, o foco aqui sempre foi e sempre será a busca por filmes que não necessariamente estejam no radar na grande indústria - principalmente quando olhamos para a distribuição brasileira, que nesse ano está bastante aquém, com atrasos de meses em comparação com estreias internacionais, inclusive de países minúsculos. Vários longas já aclamados lá fora só chegarão aqui no segundo semestre, mas tudo bem, a lista de fim de ano virá aí.

De indicados ao Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2022 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 10, meu amor por você é real.

Sem mais delongas, meus 10 filmes favoritos do primeiro semestre de 2022:


10. Quanto Mais Cru Melhor (Barbaque)

Direção de Fabrice Eboué, França.

Um casal dono de um açougue enfrenta a recessão e vê seu negócio afundar sem controle - assim como seu casamento. Quando um crime acontece - o assassinato de um homem vegano -, a carne do falecido vai parar na prateleira do açougue, virando sem querer a mais nova iguaria para a clientela que forma filas. É aí que o casal vira caçadores de veganos. Sim, é isso aí. "Quanto Mais Cru Melhor" não tem papas na língua no politicamente incorreto ao abordar discussões hilárias em que rimos com a mão na consciência, numa contraposição de veganos absurdamente insuportáveis e seus protagonistas desprezíveis. O banquete visual é servido com cenas gráficas explícitas que evocam toda a bizarrice de sua premissa.


09. Crimes do Futuro (Crimes of the Future)

Direção de David Cronenberg, Canadá/Reino Unido.

David Cronenberg voltou para a ficção-científica, podemos dormir em paz. 23 anos após seu último sci-fi, Cronenberg retorna com "Crimes do Futuro" ao lado de três enormes nomes: Viggo Mortensen, Léa Seydoux e Kristen Stewart. Um futuro não definido possui humanos com mutações genéticas que afetam dois pilares fundamentais de suas existências: eles não sentem mais dor e infecções deixaram de existir. Soa incrível, não? Só soa. Essa distopia cronenberguiana é tudo o que diretor serviu com "Videodrome" (1983) e "A Mosca" (1986): uma bizarrice estética que tenta apontar o dedo para a forma com que nos relacionamos. De fato, o começo da fita é bastante hermético, sem espaços para grandes aproximações, no entanto, quando a chave do sentido é girada, todo aquele estranho universo onde a cirurgia é o novo sexo encontra lógicas espetaculares.


08. Ao Cair do Sol (Sundown)

Direção de Michel Franco, México/França.

Michel Franco está entre os meus cinco diretores favoritos da atual geração em seu cinema pessimista e misantropo - é dele três dos melhores filmes dos últimos anos: "Depois de Lúcia" (2012), "As Filhas de Abril" (2017), e meu filme #1 de 2020, "Nova Ordem". "Ao Cair do Sol" não fica atrás: uma família passa férias no México, porém, todos devem voltar ao saber que a matriarca morreu. A questão é que Neil (Tim Roth) faz todo e qualquer malabarismo para não sair dali, o que perturba sua irmã, Alice (Charlotte Gainsbourg). O cerne do texto é esse, por que diabos Neil inventa qualquer desculpa para não voltar para casa? Com uma apatia destoante, "Ao Cair do Sol" é um afiado estudo de personagem que não abre mão do seu segredo até os últimos minutos, quando toda a viagem desgraçada de Neil faz sentido.


07. A Morte de Um Cachorro (La Muerte de un Perro)

Direção de Matías Ganz, Uruguai/Argentina.

Há um sub-sub-gênero (vou chamar assim) no Cinema que tenho particular deleite: histórias que possuem um pequeno acontecimento se tornando o caos, uma Lei de Murphy cinematográfica. "A Morte de um Cachorro" se enquadra nesse hall: Mario é um veterinário em Montevideo que, após um descuido no trabalho, acaba matando um cachorro; a partir de então, sua vida tranquila e burguês vira de cabeça para baixo. A cada segundo há mais pessoas envolvidas na bagunça que Mario conduz sem freio, que gera brigas, roubos e mortes, até desbocar em um final genialmente cara de pau. Não dá para acreditar no quão cretinos conseguem ser os personagens para limpar a própria pele, e cabe à plateia se divertir com o desespero de todos os presentes - incluindo o cachorro da família. Ninguém escapa.


06. A Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth)

Direção de Joel Coen, EUA.

Devo confessar que minha animação para "A Tragédia de Macbeth" não era das maiores. Apesar de ser dirigido por Joel Coen (a metade da dupla Joel & Ethan, donos da obra-prima "Onde os Fracos Não Têm Vez", 2007) e com um elenco estrelar, a adaptação do conto de William Shakespeare não soava tão interessante, todavia, o espetáculo que é a película derruba qualquer dúvida. Quando um trio de bruxas proclama o trono para Macbeth, sua saga para a glória e a queda afeta a vida de todos a sua volta. Com um dos melhores designs de produção e cinematografia já feitos na história do Cinema, Denzel Washington e Frances McDormand carregam a história com um poder avassalador, sem jamais tornar desinteressante um roteiro que é falado em inglês arcaico (!).


05. Deserto Particular (idem)

Direção de Aly Muritiba, Brasil.

Um policial afastado do cargo por má conduta mantém um relacionamento virtual com uma misteriosa mulher que desaparece sem deixar rastros. Ele sai do sul do Brasil até o Nordeste a fim de encontrar a amada, só para descobrir que ela não é uma mulher cis, e sim uma pessoa não binária. Aly Muritiba ficou conhecido pelos seus pesados e obscuros filmes - assista a "Ferrugem" (2018) - e decidiu mudar seus ares com "Deserto Particular", um drama com toques de romance que mergulha de cabeça em discussões de gênero e sexualidade com uma delicadeza perspicaz.  Não apenas um dos melhores filmes do Novíssimo Cinema Nacional, uma das mais certeiras escolhas de representantes para o Oscar, como também um exemplar fabuloso do cinema LGBTQIA+.

P.S.: "Deserto Particular" estreou no Brasil no finzinho de 2021 em circuito limitado, chegando na HBO Max em 2022, então vai entrar na lista de 2022 sim, a lista é minha e é isso.


04. O Homem do Norte (The Northman)

Direção de Robert Eggers, EUA.

Em sua terceira excursão para contos do séculos passados (depois das obras-primas "A Bruxa", 2015, e "O Farol", 2019), Robert Eggers entrega mais uma obra-prima que amplia a mitologia de seu cinema, sempre dançando entre o fantástico e o terror com uma assinatura própria espetacular para um autor tão jovem. Pegando a plateia pelo pescoço e forçando-a a embarcar em um barco que está fadado ao sangue, todas as profecias ditas através da boca de bruxas conduzem histórias em que a natureza (seja a do planeta ou a nossa própria) está presa a grossas cordas do destino. Resta a você acompanhar o degringolar dos personagens "eggerianos", pobres vítimas de forças sobrenaturais que turvam as suas missões de descobrirem quem são. "O Homem do Norte" é tudo que você poderia esperar de uma saga viking milionária assinada por Robert Eggers.


03. Red Rocket (idem)

Direção de Sean Baker, EUA.

Na minha casa, nós louvamos Sean Baker. O coração da sua filmografia gira em torno da observação de grupos que, por motivos que sejam, caem no trabalho sexual - as travestis de "Tangerina" (2015), a mãe da protagonista de "Projeto Flórida" (2017), etc. Em "Red Rocket" temos Simon Rex como Saber, um ex-ator pornô cujo sucesso é apenas uma memória. Tendo que retornar para a cidade que prometeu nunca mais por os pés, ele conhece e se apaixona por Raylee (Suzanna Son), uma atendente menor de idade. O trunfo de "Red Rocket" é ver até onde conseguimos detestar o carismático Saber, um poço aparentemente sem fundo de trambicagens, roubos e sim, pedofilia. O questionamento principal é: o Cinema deve ter uma moral intocável e sem espaço para dúvidas? Ou ele pode analisar personagens odiosos sem precisar transformá-lo em exemplo? É uma discussão complexa, e Baker assume o risco de não poupar o caráter tenebroso de seu protagonista em prol de uma punição explícita na ficção.


02. Os Homens (Men)

Direção de Alex Garland, Reino Unido.

Alex Garland já surgiu na indústria com o pé na porta ao lançar "Ex Machina: Instinto Artificial" (2014), e cunhou ao longo dos anos um cinema que mistura ficção científica com discussões sobre nossas vidas e regras. "Os Homens" segue a mesma ideia, com uma mulher que, após o suicídio do marido, se isola em uma vila no meio do nada para superar o luto. A grande questão é: todos os homens da vila são exatamente iguais (e criativamente performados pelo mesmo ator, Rory Kinnear). O título pode ser muito óbvio, mas "Os Homens" é uma odisseia bizarra e claustrofóbica que desfila uma infinidade de agressões que as mulheres encontram todos os dias, sem cair em execuções óbvias - são simbolismos que exigem uma pesquisada ao fim da sessão, principalmente com os 10 minutos finais, uma das sequências mais bizarras do século. E Jessie Buckley está fantástica.


01. Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once)

Direção de Daniel Scheinert & Daniel Kwan, EUA.

A maior bilheteria na história da A24, "Tudo em Todo Lugar" virou um fenômeno sem precedentes; até mesmo a produtora deve ter ficado surpresa. Seguindo uma imigrante coreana em um EUA falido que deve salvar o mundo (ou os mundos), o filme parece pegar carona na temática do momento, os multiversos, porém, com um roteiro concebido em 2010, a fita dos Daniels - que sabem fazer uma obra insanamente contemplativa - é uma aula de qualquer aspecto da Sétima Arte pelo domínio absurdo do material em mãos. Um filme para rir, chorar e contemplar a absurda falta de sentido em nossas pequenas em inúteis vidas, no mais delicioso niilismo cinematográfico possível. Mas é orgânico, viu?


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Quais dos 10 aqui listados você já viu? Faz sua lista também!

As 10 melhores fotografias do cinema em 2021


Para abrir as listas de "Melhores de 2021" aqui no Cinematogafia (ainda teremos as melhores atuações e, claro, os melhores filmes), aqui estão as 10 melhores fotografias do ano, aquelas que nos fizeram falar "dá o Oscar para esse enquadramento". Mas antes de tudo, o que é fotografia?

A fotografia - ou cinematografia, no jargão técnico mais apropriado - é o termo que mais sofre quando alguém elogia o "visual" do filme. Ao contrário do que se pode presumir, a fotografia não é necessariamente tudo o que está na tela, tudo o que podemos ver; ela é a "impressão" do roteiro, ou seja, os enquadramentos, movimento de câmera, uso de filtros, manipulação de cores, exposição de luz e afins.

Quando alguém solta um "olha a paleta de cores maravilhosa desse filme!", muitas vezes ele não está falando da fotografia, e sim do design de produção - a chamada "direção de arte", que compõe todo o aparato físico que está no ecrã. As cores, parte visual mais emblemática, entra tanto na fotografia - pelo trabalho do colorista - como na direção de arte - no trabalho do cenógrafo - e nos figurinos - no trabalho do figurinista. São departamentos distintos e realizados por profissionais diferentes; é a união de todos que fazem um filme ser "bonito" (ou não, caso propositalmente).

Então, o que a lista está julgando, basicamente, é o trabalho de câmera juntamente com a colorização das películas. O critério de inclusão dos citados é o de sempre: ter estreado nacionalmente (em salas comercias, festivais ou plataformas de stream) em 2021 ou ter chegado à internet sem data de lançamento previsto. Preparado para fazer a linha cult na próxima roda de amigos e falar das fotografias mais estonteantes do cinema em 2021? Aqui as 10 melhores pelo Cinematofagia (sem ordem de preferência):


Ovelha (Lamb)

Cinematofragia por: Eli Arenson. Coloração por: Eggert Baldvinsson.

O selecionado da Islândia para o Oscar 2022, "Ovelha" é uma fantasia com toques de terror que necessitava de uma atmosfera ideal para o desenvolvimento de sua estranha história, e a cinematografia da fita é elemento fundamental para seu sucesso. Não é tão difícil assim conseguir um filme visualmente incrível na Islândia - é só apontar a câmera para qualquer lugar do país que é garantia de imagens belíssimas -, mas "Ovelha" sabe utilizar a natureza como elemento dramático, afinal, como bem informa o roteiro, a natureza é maior mãe que existe.

Spencer (idem)

Cinematografia por: Claire Mathon. Coloração por: Peter Bernaers.

De maneira inesperada, "Spencer" é um dos filmes mais "divisivos" de 2021: enquanto o consenso da crítica é de puro deleite, o público em geral não gostou tanto assim da obra. Um elemento, no entanto, é regra: a forma como a história de aprisionamento de Lady Di é filmada com maestria. Com cores escolhidas a dedo e enquadramentos que evidenciam o estado mental da protagonista, somos catapultados para uma década de 90 cheia de glamour e solidão, como se o que está passando diante dos nossos olhos fosse uma memória que, por mais afeto injetemos, não consegue esconder sua melancolia.


O Cavaleiro Verde (The Green Knight)

Cinematografia por: Andrew Droz Palermo. Coloração por: Alastor Arnold.

Dirigido por David Lowery, mesma cabeça pro trás de "Sombras da Vida" - uma das melhores cinematografias do século -, "O Cavaleiro Verde" não tinha como decepcionar. Lowery gosta de utilizar a lente para desenvolver um universo quase paralelo, como se suas histórias não se passassem na nossa realidade, e a epopeia de "O Cavaleiro Verde" busca ser um filme feito como se fosse uma obra fidedigna dos contos fantásticos medievais, abusando de enquadramentos que evocam magia e encantamento. Todos os momentos em que o personagem do título está na tela é um show.


If I Can't Have Love I Want Power (idem)

Cinematografia por: Petra Diensbirova. Coloração por: Bryan Smaller.

O filme que acompanhou o lançamento do quarto álbum de estúdio da norte-americana Halsey, "If I Can't Have Love I Want Power" é uma extravagância imagética que não economiza na grandiosidade de suas imagens. Seguindo uma rainha que abdica de tudo em busca de poder, Halsey foi caprichosa em extrapolar a narrativa do disco com cenas encharcadas de simbolismos que vão muito além de composições visualmente bonitas - são poderosíssimas.


Nomadland (idem)

Cinematografia por: Joshua James Richards. Coloração por: Élodie Ichter.

Aquele que deveria ter vencido o Oscar de "Melhor Fotografia" (desculpa, "Mank"), "Nomadland" arrebatou a todos (e o careca dourado de "Melhor Filme") com a simplicidade em que escancarou as mazelas do capitalismo norte-americano na contemporaneidade. Fotografado pelo parceiro da diretora e oscariada Chloé Zhao, Joshua James Richards, essa mistura de road movie com cinema de denúncia contrasta suas temáticas com cenas de tirar o fôlego, capturadas com uma falsa calmaria: tua soa muito simplista, mas carrega camadas que exprimem a luta de seus personagens ao tentarem sobreviverem àqueles ambientes.


Santa Maud (Saint Maud)

Cinematografia por: Ben Fordesman.

Filmes de terror com viés religioso são um dos meus fracos, principalmente quando fotografados da maneira correta (dá vontade, "A Freira"?). "Santa Maud" é um dos exemplos de louvor. Uma enfermeira, após um acidente fatal, se converte para o cristianismo com certo... radicalismo. Sua missão na terra é salvar a vida (e a alma) de sua nova paciente, custe o que custar. Ben Fordesman (fotógrafo do maravilhoso curta musical "M3LL155X" de FKA Twigs) vai a fundo na "decreptação" do mundo de Maud, extinguindo qualquer tom de cor alegre e afundando a história em imagens lúgubres que estão mais perto do inferno do que qualquer paraíso.


O Santo Desconhecido (The Unknown Saint)

Cinematografia por: Amine Berrada. Coloração por: Laurent Navarri.

Essa pequena joia do cinema marroquino não teve o apreço que merece aqui em terras brasileiras, e espero agora mudar essa realidade. "O Santo Desconhecido" narra o conto de um ladrão que enterra seu roubo no alto de uma colina. Ao sair da prisão tempos depois, ele volta para finalmente resgatar seu tesouro, só para descobrir que o local virou santuário intocável de um santo criado por um vilarejo. Recheado de planos abertos lindos de morrer, o árido norte da África é filmado com paixão e traduz imageticamente o misticismo (e pura comédia) de um povo apegado às tradições.


Duna: Parte 1 (Dune: Part One)

Cinematografia por: Greig Fraser. Coloração por: David Cole.

Um dos projetos mais ambiciosos do século, "Duna" comprova que Denis Villeneuve entrou na ficção-científica (depois de "A Chegada" e "Blade Runner 2049") e não sairá mais dela. Elogiar os aspectos visuais do filme é chover no molhado: efeitos especiais incríveis, figurinos irretocáveis e uma fotografia perfeita compensam qualquer defeito que podemos encontrar no filme como um todo. Villeneuve e Greig Fraser foram assertivos na criação desse mundo distópico que se consolida como um épico (ao menos no trato do ecrã). Oscars virão.


A Morte de Dois Amantes (The Killing of Two Lovers)

Cinematografia por: Oscar Ignacio Jiménez. Coloração por: Drew Tekulve.

Fincando no interior dos EUA, "A Morte de Dois Amantes" é o suprassumo do cinema indie. Um casal em crise decide dar um tempo. A regra é: cada um pode se envolver com outras pessoas, sem ressentimento. A regra é bem seguida pela esposa; já para o marido, ver a amada conseguindo seguir a vida sem ele é uma tortura. O longa se passa através do ponto de vista do marido, que vê seu relacionamento ruir impotentemente, e as imagens da fita são a combinação ideal para a destruição psicológica do fim de um romance - aqui, levado para extremos perigosos demais.


Luz Eterna (Lux Æterna)

Cinematografia por: Benoît Debie. Coloração por: Marc Boucrot.

Parceiro de cinematografia de Gaspar Noé, Benoît Debie sabe, desde "Irreversível", como o diretor é quase um ditador ao tratar suas imagens com o maior choque possível. Depois da festa mais caótica de todos os tempos com "Clímax", Debie vai ainda mais longe no média-metragem "Luz Eterna": são múltiplos trabalhos de câmera, que muitas vezes são colocados lado a lado na tela mostrando pontos de vistas diferentes do inferno que é a filmagem de uma obra. Um filme dentro do filme, "Luz Eterna" é ousado e desconcertante ao querer provar que o pandemônio não é sua história de bruxas high-fashions prestes a serem queimadas na fogueira, são os bastidores.

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