Após perder processo contra o The Sun, Johnny Depp deixa franquia “Animais Fantásticos”

Após perder o processo contra o jornal britânico The Sun, o ator Johnny Depp anunciou sua saída da franquia "Animais Fantásticos e Onde Habitam", em uma carta publicada no Instagram, nesta sexta-feira (6). Na carta, ele agradece os fãs que deram apoio durante todo esse período e alega estar saindo a pedido da Warner. O ator estava processando o jornal por tê-lo chamado de "espancador de mulheres", após um texto publicado por Amber Heard sobre violência doméstica em 2018.


"Em razão dos últimos eventos, eu gostaria de fazer esse breve anúncio. (...) Eu gostaria que vocês soubessem que a Warner Bros pediu para que eu deixasse o meu papel como Grindelwald em 'Animais Fantásticos' e eu respeitei e concordei com a decisão. Finalmente, gostaria de dizer [também] que o julgamento da corte do Reino Unido não irá mudar minhas motivações de contar a verdade e confirmo que entrarei com uma apelação", declarou.


A saída de Johnny Depp tem sido discutida por acionistas da Warner desde as primeiras acusações de agressão contra a atriz de "Aquaman". O anúncio de demissão nada mais é do que um reflexo da decisão do juiz britânico Andrew Nicol, referente ao processo contra o The Sun. O julgamento aconteceu em julho de 2020, mas só teve sua sentença divulgada nesta semana.


O casal está separado desde 2017. Posteriormente, no ano seguinte, Amber publicou um texto no jornal Washington Post, onde afirmava ter sofrido violência doméstica, mas sem citar o nome de Depp. Na época, o colunista Dan Wootton, do The Sun, chamou o ator de "Piratas do Caribe" de "espancador de mulheres" e questionou a escolha de J. K. Rowling, que o defendeu, para viver Grindelwald em "Animais Fantásticos e Onde Habitam 2".


Diante dos acontecimentos, Depp moveu dois processos, um contra o The Sun e outro contra Amber Heard, afirmando que as informações do texto eram falsas. O processo que chegou ao fim no começo desta semana foi contra o jornal britânico. Na decisão, o juiz afirmou acreditar em pelo menos 12 das 14 acusações de violência doméstica feitas por Heard.

É tudo o que a gente precisava: “Queer Eye” vai ganhar uma versão brasileira na Netflix

Sim! "Queer Eye", o reality show da Netflix que é muito mais que um makeover, irá ganhar uma versão brasileira em 2021! A novidade foi revelada com um vídeo bem divertido com o elenco original dizendo gírias do Brasil, na noite desta quinta-feira (5), durante o terceiro dia do Tudum, o festival da Netflix.  



Jonathan Van Ness, Antoni Porowski, Bobby Berk, Karamo Brown e Tan France apresentam o novo elenco com frases em português como "tudo para mim". Fred será o responsável por bem-estar, Guto ficará com design, Rica com estilo, Luca ficará com cultura e, por fim, Yohan ficará a cargo de beleza.


Os rumores da produção de uma versão brasileira do reality show são antigos. Inclusive, em fevereiro, foi confirmado que a nova versão iria acontecer por meio do podcast "Episódio", do jornal O Estado de S. Paulo. "Queer Eye Brasil" está previsto para chegar a plataforma de streaming em algum momento de 2021.

Crítica: “Suor” e os bastidores da vida nada colorida de uma blogueira fitness

 

Um dos campos mais férteis de estudo na arte atual é uma das revoluções do tempo moderno: as redes sociais. Elas estão presentes nas nossas vidas há relativamente pouco tempo, mas já mudaram nossa forma de viver de maneira drástica. Já temos vários artefatos do audiovisual que discorrem sobre esse impacto - da série "Black Mirror" aos filmes "Ingrid Vai Para o Oeste" (2017) e "Rede de Ódio" (2019), por exemplo -, e temos mais uma obra para agregar na discussão: o sueco "Suor" (2020), do diretor Magnus von Horn, um dos escolhidos na Mostra de Cinema de São Paulo 2020.


O filme segue Sylvia (Magdalena Kolesnik), uma influencer fitness com mais de 600 mil seguidores. A sequência de abertura é o resumo ideal de como ela construiu sua imagem perante o público: em um aulão no meio de um shopping com várias pessoas. A câmera inquieta passeia pela cachoeira de endorfina impulsionada pela blogueira, que é idolatrada pelos seguidores. Após uma aula, uma das alunas diz que Sylvia mudou sua vida ao dar um novo sentido a ela.


Sylvia vai para os bastidores e, ainda afogada em adrenalina, mostra os corredores de sua vida, cheia de frases motivacionais sobre como o corpo almejado só depende de você! Porém, quando a câmera é desligada, a vida da guru fit não é tão colorida assim.



A fama acaba isolando a protagonista, sempre ao redor de pessoas que a amam pela imagem mostrada nas lives do Instagram, ou seja, ninguém a conhece de verdade. Esse mote, a velha desglamourização de atividades atreladas a prestígio, é um dos estudos que mais gosto no Cinema - temos "Cisne Negro" (2010) com o balé, "Demônio de Neon" (2016) com a moda e "Bingo: O Rei das Manhãs" (2017) com a televisão, por exemplo -, então "Suor" era um dos meus mais desejados da seleção da Mostra.


Sylvia faz uma live deixando um pouco de lado sua versão positive vibes e chora ao desabafar o quanto se sente sozinha. O resultado é um puxão de orelha de seu empresário, pois os patrocinadores não ficaram felizes com o vídeo e não acham uma boa ideia atrelar o produto àquilo.


Aqui, já caí em um buraco negro. Eu, formado em Comunicação, claramente já estudei muito sobre redes sociais, mas nunca tinha parado para pensar no absurdismo que é o fenômeno dos influencers. Vamos destrinchá-los. Um influencer é uma pessoa cujo trabalho é ser uma vitrine - como sabiamente já disse Nicole Bahls, "eu sou uma embalagem". Eles não exatamente trabalham com algum talento ou vocação, e sim com suas imagens (no aspecto geral, claro). Quando uma empresa vai escolher um blogueiro para atrelar seu produto, dois são os fatores que mais pesam: como aquela pessoa tem ligação com o produto e quantos seguidores ele possui.


A partir de então, um influencer deve se tornar em uma máquina perfeita. Não há espaço para erros, para fraquezas, para problematizações, caso contrário, o que lhe dá dinheiro – seus patrocinadores – cairão fora. É claro que nem vou entrar nos méritos de pessoas (reais) claramente erradas – e até criminosas – que não perdem dinheiro mesmo com a exposição do caso: o número de jogadores de futebol acusados dos mais diversos e delitos e continuam com o contrato em mãos está aí para provar. Mas voltando, Sylvia carrega o peso dos seus 600 mil seguidores com a responsabilidade de ser intocável em sua conduta.



É bem óbvio que ser uma pessoa de caráter é (ou deveria) ser requisito básico para viver em sociedade, contudo, somos humanos, logo, iremos errar. A cobrança em cima de quem tem milhares de olhos acompanhando cada passo é multiplicada caso comparada com a mesma cobrança de alguém anônimo – e o vídeo de Sylvia está longe de ser um erro, todavia, é motivo o suficiente para o puxão de orelha. Ela segue com sua vida perfeita entre lives com Q&A e recebimentos de mimos para serem divulgados a seus seguidores.


Há uma cena bastante intrigante na metade da sessão: Sylvia está em um shopping e é parada por uma fã altamente entusiasmada. Ela claramente não reconhece a mulher, porém, pelo interesse da fã em simplesmente estar na sua presença, aceitar sentar para tomar um suco. Na mesa, a mulher desata a contar sobre sua vida, no entanto, no momento em que Sylvia também se abre, a fã ignora e pede por uma selfie. É a comprovação de que as pessoas estão interessadas apenas na blogueira, não na pessoa. Elas querem apenas poder dizer que estão com aquela que tem 600 mil seguidores no currículo.


Enquanto sua vida profissional decola, conseguindo marcar uma entrevista no maior programa matinal do momento, Sylvia acompanha quase impotente sua vida pessoal estagnar. A coisa piora quando ela vê que sua mãe está de namorado novo. Não fica explícito, mas lá uma áurea ao redor da protagonista, como ela se indagasse como a mãe consegue um par, mas ela, jovem, bonita e poderosa, segue na solidão.


A partir de então, o texto muda totalmente de foco. Todo o viés da existência digital de Sylvia é deixado de lado para focar na guerra fria entre ela e a mãe apaixonada. Concomitantemente, um stalker aparece na vida dela, estacionando o carro na porta do seu prédio e mandando vídeos através das redes.


Fica inegável a maneira como a sessão sofre uma perda de interesse quando o foco principal é mudado; as personas das pessoas ao redor de Sylvia não são ricas o suficiente para que o espectador se sinta compensado pelo desvio na roda. A subtrama do stalker é bastante promissora, principalmente por ser uma protagonista mulher (cultura do estupro está aí na ativa), mas nem isso recebe um tratamento à altura. A maneira como o tema é encerrado mostra que Von Horn deixou escapar uma película que refletisse a grandiosidade do primeiro ato.


Carregado por uma atuação competente de Magdalena Kolesnik, a blogueira fit que trocaria os 600 mil seguidores por um amor de verdade, “Suor” acompanha discussões pertinentes e composições cinematográficas que mostram como a produção sabia por onde começar – perceba como quase todo figurino de Sylvia perante as câmeras é cor de rosa, uma tentativa visual de impor uma alegria não tão presente ali –, entretanto, acaba deixando inúmeras discussões sobre o fenômeno dos influencers de lado, fomentando debates que não estão necessariamente na tela.



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Ainda que divida opiniões, o “Positions”, novo álbum da Ariana Grande, tem sim seus ótimos momentos

Saiu (agora oficialmente)! O novo álbum da Ariana Grande, o sexto de sua carreira, chegou nessa sexta-feira (30). Chamado de “Positions”, o material fala bastante de sexualidade, prazer e amor, traz participações especiais de The Weeknd, Doja Cat e Ty Dolla $ign e já chega dividindo opiniões dos fãs. 


Em um total de 14 faixas, Ariana explora um pop com toques de R&B, sem deixar as batidas de trap, que já viraram parte característica de seu som em seus últimos trabalhos, completamente de lado. Nas letras, nossa mulher perigosa traz a versão 2.0 do “Dangerous Woman” ao falar explicitamente sobre posições sexuais, masturbação e sexo oral. Bem posicionada mesmo!


Ainda assim, há quem diga que o “Positions” peca em sua sonoridade. Alguns vão dizer que o material foi R&B demais para o seu gosto e que sentem falta da Ariana das farofinhas do início da carreira. Outros, que o disco se assemelha muito ao “Thank U, Next”, funcionando ainda como uma parte dois. De qualquer forma, parece que a recepção do álbum tem sido como a do “Sweetener”: não é amor a primeira ouvida, mas vai crescendo com o tempo. 



Por aqui, nos gostamos do disco, mas reconhecemos que seus melhores momentos acontecem quando a artista realmente se desafia e sai totalmente de sua zona de conforto. “Safety Net”, com Ty Dolla $ign, é um bom exemplo disso. A melhor colaboração do álbum traz Ari realmente entrando de cabeça num R&B delicioso e autorreflexivo. Queremos mais disso. 


Outros destaques ficam para a grata surpresa de “My Hair”, que traz uma letra delicada e toques de jazz em sua sonoridade; “Nasty”, a música que melhor representa o tema do álbum e que traz a melhor batida do material; “Motive”, parceria com Doja Cat em que Ariana mistura R&B com elementos dançantes, levemente semelhantes à sonoridade disco; “Love Language”, música cheia de metáforas e que traz um som com carinha de Broadway e “O Grande Gatsby” que nos lembrou bastante o “Yours, Truly”; e “POV”, a perfeita faixa de encerramento para o “Positions”. 


E aí: a posição foi boa ou deixou a desejar? 


No lugar da antiga MTV Brasil, estreia em dezembro na TV aberta nova emissora de cultura pop: Loading


Sete anos desde o fim da “velha” MTV Brasil na TV aberta, seguidos da estreia do novo formato da marca, atualmente mantido pelo grupo Viacom nos serviços de assinatura, ainda não houve emissora que sequer chegasse perto de oferecer um conteúdo semelhante ao que a emissora apresentou com maestria desde os anos 90.


Dos clássicos programas que revolucionaram a forma de se noticiar e discutir sobre música aos passos muitíssimo à frente do seu tempo no que tange às questões sociais, política e diversidade, a antiga MTV foi uma passagem mais do que disruptiva na história da televisão brasileira e, quase uma década após a sua extinção, parece que finalmente ousarão repetir esse efeito para as próximas gerações.


Sediada no mesmo prédio em que a MTV fez história na Sumaré, em São Paulo, estreia em dezembro na TV aberta, paga e internet a emissora Loading: canal que almeja ir além de ser apenas um novo player, visando a convergência direta e em tempo-real do seu conteúdo televisivo com a imersão possibilitada pelas redes sociais, além de pautas que abranjam a cultura pop em sua íntegra, da música aos games, da cultura oriental, incluindo de animes aos hits de k-pop, às tendências do ocidente. Em comum com a emissora do clássico “desligue a TV e vá ler um livro”, a Loading tem ainda seus representantes comerciais, além do canal em que poderá ser encontrada: número 32 da frequência UHF.


Parece promissor.


Pelas conversas prévias, o formato não será familiar apenas aos antigos telespectadores da MTV: principal concorrente da emissora na tevê aberta, a extinta Mix TV já explorava, além dos conteúdos musicais, programas sobre esportes e games; já a Play TV, na tv aberta até meados de 2008, ficou famosa por dividir o espaço da sua programação entre animes, games e videoclipes.


Apesar da lacuna deixada por essas emissoras no imaginário dos que cresceram consumindo esse tipo de conteúdo, fica para a Loading o desafio de torná-lo atraente o suficiente para uma geração que, ao contrário das anteriores, consome cultura pop em um ritmo e quantidade muito diferentes do que o proposto pela televisão, principalmente pela velocidade como todos eles são disseminados pela internet, ao alcance de apenas alguns cliques por um smartphone qualquer.


Fica ainda a dúvida sobre como irão explorar essa convergência entre a tv e o virtual de forma criativa, não utilizando apenas hashtags e comentários de redes sociais no formato já empregados exaustivamente por inúmeras outras emissoras ao longo dos últimos anos. E, mais do que isso, a responsabilidade de fazer isso no mesmo endereço físico e televisivo que deu lugar para uma das maiores e mais revolucionárias programações da televisão brasileira. Nós desejamos boa sorte.

Crítica: “Casa de Antiguidades” frustra quando não atinge seu potencial de resistência


Atenção: a crítica contém detalhes da trama.

O principal nome brasileiro na Mostra de Cinema de São Paulo é "Casa de Antiguidades", estreia do diretor João Paulo Miranda Maria. O longa foi escolhido para a seleção do Festival de Cannes 2020 - que veio a ser cancelado por conta da pandemia -, angariando ainda mais atenção ao redor da obra, um dos fortes nomes nacionais para a representação do país na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2021.

A obra é estrelada por Antônio Pitanga no papel de Cristóvão, um idoso trabalhador que saiu do Goiás para uma fábrica de leite em uma colônia alemã do sul. A escolha do ator, por si só, é emblemática. Pai da também atriz Camila Pitanga, Antônio é um dos maiores nomes no Cinema Novo brasileiro, internacionalmente conhecido pelos trabalhos ao lado de Glauber Rocha, Anselmo Duarte e Cacá Diegues. Cristóvão é o primeiro papel do ator em quase uma década, e sua retomada é um acerto não apenas em termos de técnica performática, mas também como misticismo ao redor de sua pessoa.


Uma das primeiras cenas é o personagem conversando com seu chefe. O patrão, dono da fábrica, fala majoritariamente em alemão e diz como, mesmo estando há anos no local, Cristóvão terá o salário reduzido graças à "crise". "Ele é preto e velho, onde acharia algo melhor que isso?", diz o presidente do local para a secretária, que não traduz a fala. Só o público é cúmplice do que real está acontecendo ali.

A vida de Cristóvão do lado de fora da fábrica é bastante solitária. Ele não pega o ônibus para voltar para casa, preferindo ir a pé (os motivos ficam na mente do público). Em casa, sua única companhia é um cachorro com três patas, que é torturado por um grupo de crianças empenhado em infernizar a vida do homem. Em meio a tanta turbulência, uma casa abandonada próxima à sua começa a manifestar objetos que não estavam previamente ali, e acaba se tornando uma segunda casa para Cristóvão.

"Casa de Antiguidades" remonta algumas características presentes no Cinema Novo, como a fusão entre o cultural e o espacial - lembra do drone em formato de nave em "Bacurau" (2019)?, pois é, mesma coisa. A roupa de trabalho de Cristóvão mais parece um traje de astronauta, e, divertidamente, há referências charmosas ao redor da construção imagética, como no momento em que o protagonista observa uma máquina da fábrica com brilhantes luzes vermelhas que refletem em seu "capacete" como em "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968). Essa dicotomia visual é o primeiro elemento da mistura entre o "real" e a "fantasia" que permeia a atmosfera da sessão. 

E, assim como "Bacurau", "Casa de Antiguidades" tem como base textual um câncer da sociedade brasileira: o racismo. Cristóvão está no seio de um movimento separatista, que deseja retirar a "Região Sul" (entre aspas porque, malandramente, o movimento puxa São Paulo no bolo) do resto do país com o argumento de que o "Norte" atrasa a nação pela sua ignorância e corrupção. A coisa é tão absurda que a reunião que evoca com bravura o amor à pátria sulista é feita em alemão. O palanque que Hitler usava nos anos 40 deve estar orgulhoso.

O protagonista assiste a tudo sem entender uma palavra, claro, e é coagido a assinar um abaixo-assinado defendendo a independência da região. Ele, também, ganha uma camisa com a bandeira do "novo país", que é rasgada para servir de curativo para o pobre cachorro. Cristóvão se sente um verdadeiro alienígena em meio àquelas pessoas - seja pela sua cor ou pela sua língua. Todavia, ele não abaixa a cabeça, mesmo sufocado com a uma pressão cultural da maioria. Durante uma cantoria alemã, ele levanta o berrante e interrompe a celebração. Aqui é Brasil, meu irmão.


"Casa de Antiguidades" é um filme marcado pelo silêncio. Cristóvão se deixa sumir em meio às suas memórias, emoções e solidão, já condicionado a saber que sua existência naquele lugar é daquela forma. A tal casa, com os objetos que magicamente aparecem, acaba sendo uma extensão de sua própria consciência, produzindo artefatos que, de alguma forma, se conectam com a história do protagonista. 

Até aqui, a fita demonstrava bastante poder perante as temáticas escolhidas, principalmente pelo seu aspecto folclórico (o Brasil é rico demais em lendas e mitos, sendo terreno fértil para o Cinema), porém, a partir do momento em que a casa é explorada com mais profundidade, a narrativa começa a se perder. Várias tramas são abertas e esquecidas pelo caminho ou não finalizadas com relevância - como toda a situação da mulher no bar, ou as crianças que atormentam o protagonista, ou a própria fábrica e o movimento separatista. Até mesmo a relação do achado do protagonista com a casa não é tão explicada - ela simplesmente está lá.

Vamos descendo por um buraco onírico cada vez que Cristóvão vai achando algo da casa - como o pôster e a pintura rupestre por baixo de um xingamento pichado na parede. Dá para entender muito bem o que está acontecendo - como na sequência em que ele se transforma em um boi -, no entanto, muitos porquês não existem. Lá pela metade da película, deixei de tentar manter uma linha de raciocínio e simplesmente embarcar na viagem do filme e observar quais caminhos ele me levaria - e o trajeto foi se tornando cada vez menos motivador.

"Casa de Antiguidades" é um dos tipos de filmes mais frustrantes que existem: aqueles que almejam ser desvendados e não produzem uma vontade no espectador de tentar entender. É desapontador uma obra trazer tantos pontos de discussões urgentes e sabermos que eles poderiam ter um impacto muito maior. Por exemplo, há várias pichações com o malfadado número 17 na mesma casa que é usada como ameaça para Cristóvão, um símbolo de resistência contra o fascismo que poderia ter uma voz muito mais incisiva com escolhas mais coesas nesse trabalho que, apesar dos muitos méritos, não é sólido o suficiente para ser memorável. Agrega no Novíssimo Cinema Brasileiro, que põe o dedo nas mazelas contemporâneas (como "Que Horas Ela Volta?", 2015; "As Boas Maneiras", 2017; e "Temporada", 2018), mas não se destaca à altura do potencial.


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