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Kéfera se esforça para convencer como atriz no desastroso "É Fada"


Irritada com o ensurdecedor barulho das vuvuzelas durante a Copa de 2010, uma adolescente de 17 anos posta no YouTube um vídeo para desabafar sobre. Na época, essa profissão chamada "youtuber" nem era algo tão forte como é hoje, e garota mal tinha ideia do barulho que iria fazer no decorrer dos anos. Hoje, Kéfera Buchmann é uma das maiores youtubers do Brasil.

O sucesso é contraditório. A atriz tem uma gama gigante de haters que até mesmo quem sequer se importa com sua existência não consegue entender tanto ódio. Na verdade, ela tem N motivos para ganhar tanta recepção negativa de alguns, de determinados vídeos postados à polêmicas que envolvem blackface. "É Fada", baseado no livro "Uma Fada Veio Me Visitar" de Thalita Rebouças, é mais um motivo que contribuirá para tal recepção.

O elenco de apoio está totalmente ofuscado. Até mesmo Klara Castanho, a protagonista, quase se perde ao lado de Kéfera tentando ganhar algum espaço, mas consegue ir tão bem quanto. Aliás, a moça até que se esforça para tirar toda aquela imagem de youtuber conquistada. Não é para menos, ela fez teatro e seu sonho sempre foi ser atriz. Ela manda relativamente bem, e os cameos trazidos por ela são um prato cheio para quem a acompanha. De uma fala que remete alguns vídeos à própria mãe, querida pelos fãs.

Os efeitos visuais, montagem e trilha sonora rendem uma mistura duvidosa. O uso de CGI para a criação de fumaça é supérfluo e o chroma key é um insulto aos olhos. A montagem é mais atropelada que o próprio roteiro. Por fim, a trilha entra em momentos errados e a escolha de músicas parece ter sido feita no aleatório do Spotify.

A trama é simples, ordinária e não procura em momento algum se aprofundar. Kéfera é Geraldina, uma fada que perdeu as asas após dar conselhos errados ao Felipão durante a Copa de 2014, e para recuperá-las ela deve cumprir uma missão. Tal feito consiste em ajudar Julia, uma adolescente de pais separados que acabou de entrar em uma nova escola. Geraldina interpreta errado a missão dada à ela, e é aí as "trapalhadas" começam.

Tudo para Geraldina se resume em bens superficiais e soluções grotescas. Para tudo correr bem no colégio, Julia tem que adaptar ao grupo da sala, não o contrário. É cabelo que passa por chapinha, amigos verdadeiros que são esquecidos, roupas que serão bem aceitas na sociedade e incentivo à pegar o namorado da amiga. Se todo esse mix — que é superficialmente justificado no longa — rendesse um bom plot final, com ela se libertando e sendo quem ela realmente quer ser, teríamos algo bem legal para entregar ao público infanto-juvenil. Porém ficamos com um rap esquecível que tenta se opor às soluções dadas por Geraldina. É frustante.

"É Fada" pode ser mais um elemento que contribuirá para a onda de ódio que Kéfera ganhou com a fama. Entretanto, o grande problema da produção não chega ser a youtuber — ela se esforça. São as soluções grotescas e problemáticas do roteiro que transformam "É Fada" em algo esquecível e desastroso. Não foi dessa vez, Kéfera.

De mulher para mulher: uma conversa sobre a paródia de “Work”, da Kéfera

Kéfera, senta aqui. Vamos conversar! De mulher para mulher, como diz aquela cartilha da sororidade que mulheres brancas sempre tentam usar contra nós quando falamos sobre racismo – aquele papo chato de situações que elas não vivenciam e insistem em minimizar e nos silenciar. Afinal, somos todas mulheres, não? Mas quando são as pretas que sentem, elas não querem estender a mão e dividir conosco a nossa dor.

Ser vlogueira não deve ser fácil. Todo mundo se sente no direito de opinar sobre a sua vida, sobre sua aparência, sobre o que você faz ou deixa de fazer. Mas deixa eu te contar um segredo? Assim, como uma daquelas "confidências femininas": se no seu lugar, fosse uma mulher negra, dificilmente ela teria esse lugar ao sol que você tanto desfruta. Ela não teria as mesmas oportunidades, por mais que continuem a insistir nessa ideia errônea de igualdade racial – já que somos o país da miscigenação. Por aqui, também existe um mito de que somos mulheres livres e fogosas, cheias de desejo. Mas vamos voltar a falar sobre oportunidades: você já teve tantas! Além do vlog, escreve livros, dá pinta de atriz e comediante. Sem esquecer de mencionar as tantas oportunidades de errar e ser perdoada, que você parece não fazer a mínima questão. E claro, nessa postura de quem não está nem aí, vai lá e ataca outra vez.

Mas a gente já cansou, sabe Kéfera? Vou te contar por que: você chega se apropriando da música de uma mulher negra para fazer uma paródia. Inclusive, falando sobre apropriação, sugiro uma leitura atenciosa sobre algo que estamos pontuando há um tempo: apropriação cultural. Aquela velha história de "amamos a cultura negra, mas não os negros"? Então... Mas isso é assunto para outro momento. Vamos focar nessa linha de raciocínio: você decide fazer uma paródia de "Work", da Rihanna, que está no topo das paradas de sucesso há semanas. Afinal, quando brancos não quiseram fazer fama em cima de artistas negros? Clarice Falcão também já errou nessa, quando tentou fazer sua versão água-com-açúcar-ukulele-feminismo-branco de "Survivor", obra das negras do Destiny Child. Nada de novo sob o sol. Em cima da letra dançante de "Work", você tenta emplacar a ideia de que, quando um homem pisa na bola em um relacionamento, deve se redimir com flores e joias. Mas é claro que é só isso que mulheres querem, não é mesmo? Um relacionamento sadio, baseado em diálogo maduro e sinceridade não passa de balela. Sem deixar de mencionar o quanto é incentivada a postura de que, numa relação, o casal deve monitorar tudo o que o outro faz nas redes sociais. Respeito à individualidade pra quê? Em um relacionamento sério e monogâmico – que significa um acordo mútuo feito entre as duas partes da relação – se esse acordo não é respeitado, a culpa não é da "biscate" que mandou mensagem para o seu namorado; a culpa é dele em corresponder. Passamos a vida toda aprendendo a enxergar outras mulheres como inimigas, que representam perigo aos nossos relacionamentos. Sabe qual é a cura para isso? Feminismo!

"Recebeu no snap um nude com teta. Acho melhor responder minha mensagem, ou então te aviso, a coisa vai ficar preta." Deixa eu te dizer uma coisa, Kéfera? O termo "a coisa tá preta" tem cunho racista. Por que o que é preto sempre é visto como algo ruim? Saiba de uma coisa, monamú: quando uma coisa "tá preta", ela tem tudo para ser maravilhosa! E falando em racismo, existe outro conceito que você deveria se atentar: blackface. Essa prática teatral, que surgiu no século 19, consistia em atores se pintarem com carvão para representar personagens negros de forma caricata e estereotipada. Muito próxima à imitação que seu namorado, Gusta, fez da representação do Drake em sua paródia. Aliás, vamos falar sobre a paródia feita no trecho do Drake? "Vamos conversar um pouco? Não quero virar o jogo, mas você exagerou (...) Confia em mim e não dá piti á toa". Engraçado como as mulheres sempre estão exagerando e dando piti, não? Não. Não mesmo! Isso se chama gaslighting: uma forma de manipulação e abuso psicológico/emocional no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. Que mulher já não se pegou pensando que estivesse exagerando ou inventando motivos para brigar durante uma discussão com o namorado? O gaslighting é mais uma das formas com as quais as mulheres são massacradas com o machismo todos os dias e, sendo algo tão naturalizado nessa sociedade patriarcal, termina sendo reproduzido até mesmo por nós, como neste caso.


É, Kéfera... Nessa tentativa em te explicar por a + b, como 2 e 2 são 4, numa aulinha de alfabetização de primário, a sucessão de erros que é essa sua paródia nada engraçada, mais uma vez é apontado a forma com que a internet tem sido palco para vários idiotas. Machismo e racismo, mesmo que indiretamente, não são pautas para serem feitas de paródia ou piada de stand up comedy. Reconhecer o erro é o primeiro passo, mas insistir nele é burrice.

Sobre a Kéfera, as tragédias em Paris e a forma com que a internet tem sido palco para vários idiotas

A França está passando por um momento extremamente delicado. Ainda por motivos desconhecidos, essa sexta-feira (13) foi marcada por tiroteios e explosões que, pelas informações reveladas até aqui, deixaram pelo menos 140 mortos, fora os seriamente feridos, e de acordo com a imprensa local, há brasileiros entre as vítimas.

As redes sociais começaram mais uma daquelas campanhas em que mostram solidariedade aos familiares e, poxa, isso é mais que legal, afinal, pode até ser que seu tweet não salve uma vida, igual aquele compartilhamento do Facebook que não convenceu Jesus a curar nenhum câncer, mas dar apoio, ainda que apenas moral, já é um auxílio e tanto, só que nem tudo na internet é esse mar de rosas e, assim como pode dar voz às pessoas e causas bem intencionadas, ela também se torna palco para diversos idiotas, como foi o caso de um dos assuntos mais comentados após essa sexta-feira 13 que, definitivamente, assustou toda Paris.

Kéfera Buchmann é tipo a mulher mais famosa dessa nova geração de ídolos da internet, dona do titulo de brasileira com o maior número de assinantes no Youtube. Foi com esse canal que ela conquistou uma verdadeira legião de fãs e, atualmente aliada a aplicativos como Snapchat, continua erguendo um verdadeiro império de seguidores que parecem estar dispostos a consumir qualquer merda coisa que ela pensar em reproduzir.

Pensando nesta linha, foi mais ou menos assim que eles decidiram apoiar e rir junto da brincadeira da moça que, pelo Twitter, publicou um pouco mais cedo que, “para a tristeza das inimigas”, havia viajado para Paris e voltado viva. É, você não leu errado, ela viajou pra Paris e, no dia em que os franceses foram vítimas de inúmeros ataques por uma razão desconhecida, dia em que diversas famílias precisaram lidar com perdas totalmente inesperadas e de efeito incalculável, ela quis soltar uma piadinha por não ter sido uma das vítimas do atentado. Porra, Kéfera.

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Publicações em seu Twitter foram apagadas e, mais tarde, houve uma tentativa de explicação pelo Facebook

É claro que toda história tem dois lados e, como dissemos, a mesma internet que hoje viabiliza ações solidárias como das pessoas que se mobilizaram pelas vítimas na internet — assim como também dá espaço para debates que, antes de sua ascensão, não eram colocados em prática com as mesmas proporções, como é o caso do feminismo e racismo, amplamente discutido nas redes sociais atualmente —, também dá palco para muitos babacas e, neste caso, o erro não foi só da Kéfera que, como uma figura pública, deveria estar ciente do alcance que suas palavras possuem, assim como o impacto dela dentro de um cenário tão delicado, mas também dos que incentivaram esse comentário. Mas como você incentiva alguém a dizer que não morreu em Paris? Oras, justamente desejando publicamente o contrário.

Logo que as notícias sobre os atentados ganharam a internet, vários usuários que aparentemente não gostam do trabalho da Kéfera e sabiam que ela estava por lá, começaram a publicar em seus perfis ofensas a brasileira, bem como expressar o desejo de que ela fosse uma das vítimas dos ocorridos. Razão pela qual, ao voltar para o seu país e, bem, de fato, viva, ela decidiu dar o troco.

Por mais imparciais que tentemos ser numa hora dessas, não há como questionar o fato de que ambos os lados falharam e muito. Pra começar, a gente pensa no que se passa na cabeça de uma pessoa que, ao saber sobre os atentados na capital francesa, torce pra que uma pessoa específica seja uma das vítimas (?), em mais um episódio em que a internet banaliza e tenta fazer graça de algo realmente sério.

Do outro lado da história, a gente também questiona a postura dela que, ao se defender, terminou atacando outras pessoas, e nem adianta dizer que ela não sabia do ocorrido, já que estava numa rede social em que o assunto foi comentado incessantemente (continua, inclusive) e, ei, estamos falando de alguém que se diz profissional da internet, né? O mínimo que ela deveria entender é o quanto 140 caracteres podem ser prejudiciais para uma carreira que ela construiu com esquetes de cinco minutos pelo Youtube.

Uma das partes mais lamentáveis, pelo menos em relação a essa discussão específica, é a maneira com que desvirtuam por completo algo extremamente sério, seja resumindo uma tragédia como a vivenciada pelos franceses nesta sexta-feira (13) à mais um dia normal da vida de uma das personalidades mais famosas da internet brasileira ou fazendo brincadeira sobre o assunto apenas para dar o troco aos sabe-se lá quantos desocupados que preferiram ficar torcendo pela morte da moça a fazer qualquer coisa que realmente fosse útil para a vida deles. 

O que nos leva a conclusão de que a internet, a única e imensa rede que interliga tantos e tantos usuários ao redor do globo, imensa de funcionalidades e espaços para as mais variadas utilidades, tem dado palco de sobra para idiotas e, o pior, com plateia de sobra para eles também. O que explica o sucesso dos Gentillis, Rafinhas, Christians e contando. O que explica a repercussão sobre essa declaração da Kéfera, bem como as razões que justificariam essa ação. O que explica esse post, inclusive.

E, sinceramente, com um catálogo tão limitado do que chamam de talento e humor ultimamente, nos preocupa esse cenário em que a falta de ícones passa a fazer com que o público endeuse e se sinta representado por qualquer coisa. E que justifiquem todas essas quaisquer coisas por uma benção chamada liberdade de expressão, vez ou outra confundida como um passe livre para expressar qualquer merda que vier em mente, doa a quem doer.

***

Mas mais importante que discutir sobre o que ela disse ou deixou de falar, bem como o que responderam para ela sobre isso, é voltar nossas atenções ao que realmente interessa nesta história toda. A capital francesa continua em choque e, para a nossa tristeza, com um número crescente de vítimas conforme afunilam as investigações. Se você estiver em Paris, é possível utilizar as redes sociais para contribuir também, tanto alertando seus amigos e familiares sobre o seu estado, com o Centro de Segurança do Facebook, quanto oferecendo moradia para vítimas que estiverem desabrigadas próximas a você, com a hashtag #PorteOuverte no Twitter.

Por fim, a gente só faz valer mais uma leitura: “Não quer ajudar, não atrapalha”. E aproveitamos o espaço para mostrar nosso respeito e sentimento pelas famílias afetadas com os atentados. Sentimos muito mesmo.

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