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Album Review: "The New Classic" e a tentativa de Iggy Azalea em emplacar um clássico moderno


Enquanto o mercado pop está sempre disposto a alavancar algum nome feminino, o hip-hop faz de tudo pra que elas estejam sempre abaixo, mas foi depois do sucesso de Nicki Minaj, que reascendeu as mulheres neste meio, que várias outras rappers correram para tentar seu lugar ao sol. Nessa história, conhecemos Azealia Banks (que descanse em paz!), Angel Haze, Brooke Candy, Kreayshawn e várias outras rappers, incluindo a australiana Iggy Azalea.

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Linda, loira, alta e branca, a postura de Iggy Azalea, de certo, já desperta alguns preconceitos entre os fãs do hip-hop, somado ao fato dela ser mulher, mas foi assim e até usando essas características ao seu favor, que ela se ergueu, sentindo a primeira sensação de sucesso depois do smash hit "Work", que viabilizou a sua parceria com a Hustle Gang do rapper T.I. 



Demorou para que "The New Classic", o primeiro álbum de Iggy-Iggy começasse a ganhar forma depois de "Work", mas sem tempo para perder gerando buzz com discussões desnecessárias pelo Twitter, a australiana seguiu nos mostrando o que fazia de melhor, suas músicas, e conquistou então mais um bom público com seus singles seguintes, "Bounce" e "Change Your Life", além do mais recente e hit em potencial "Fancy", uma colaboração com a cantora e compositora Charli XCX.

Obviamente, todo o quê comercial dessas canções despertaram ainda mais interesse do público na rapper, além de animar também a gravadora, que tentou não perder mais tempo antes de colocá-la ao lado de nomes como o rapper Nas e a cantora Beyoncé, com quem colaborou como atração de abertura em suas respectivas turnês. Mas chegou então a hora da verdade e, com o disco já lançado, nos demos ao trabalho de julgá-lo digno ou não do título de clássico.


Aberto por "Walk The Line", o novo clássico é introduzido ao mesmo modo de "Work", só que de forma um pouco mais dramática e até apoteótica. Na canção, Iggy Azalea nos conta que custou pra chegar até aqui, mas que foi um caminho que percorreu sozinha. No smash "Work", um dos versos marcantes é quando ela diz que continuou "sem dinheiro ou família", caindo na estrada com apenas 16 anos. Em "Don't Need Y'all" ela alimenta um pouco do ego conquistado nesta jornada, ganhando até um tom mais prepotente, enquanto rima sobre não precisar de todas as novas oportunidades de amizades que surgiram após o sucesso. Uma das menos radiofônicas do disco, a música vem numa proposta mais introspectiva, com tímidos samples e synths do início ao fim.

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No geral, "The New Classic" é composto por diversos ótimos refrões, o que faz com que acreditemos que, se não for um clássico, ao menos renderá muitos sucessos para Iggy e "100", a primeira colaboração da sua tracklist, com o cantor Watch The Duck, é uma evidência disso. Levada por riffs de guitarra, a música tem como principal fator o grudento refrão na voz do cantor, que fala sobre ela não ser dessas que saem por aí ~perdendo tempo~ com vários homens, focando então nos seus planos e, consequentemente, dinheiro. Em seus versos, Iggy também não se deixa ofuscar, fazendo o que chamaríamos de rap ostentação. Rs. "Change Your Life" mantém a fórmula radiofônica e com Iggy-Iggy no comando, agora prometendo mudar nossas vidas. A colaboração com o T.I. não soou como um smash na primeira vez que ouvimos, mas agora julgamos bem injusto não ter feito sucesso. Ela melhora toda vez que ouvimos e esse arranjo mais eletrônico é simplesmente um dos mais atraentes de todo o disco. Transforma nossa vida, Azalea!



Sem deixar o clima cair, na sequência encontramos "Fancy", o smash hit em parceria com a Charli XCX. Assim como "Change Your Life", a música também não soou como um sucesso pronto, ainda que tenha um refrão bem grudento, mas bastou o clipe, com uma referência esperta às "Patricinhas de Beverly Hills", para cair no gosto de meio mundo. Ostentando mais do que conquistou, em "Fancy" ela canta sobre suas glória$, sem medo de nos lembrar o quão caras essas foram. Aprendendo rápido a brincadeira, Charli XCX deixa claro que seu nome deve ser guardado, pois logo vai estourar. Parece que ouvimos um amém.


"New Bitch" vem com mais ostentação, num instrumental tão eletrônico quanto "Change Your Life", só que menos agressivo. Na faixa, AZ fala sobre ser a nova vadia do cara, enquanto faz uma inteligente analogia entre ele e o cenário musical. Ressaltando a forma com que essa relação, ora dela com o cara, ora dela com a música, incomoda terceiros, além de afirmar também que ela é uma novidade, enquanto as outras já estão batidas. Tem um bom refrão (e, inimigas, o choro é livre). Agora pode afastar os móveis pra começar o twerk, porque o hino trap que a trouxe aqui, "Work", tá pedindo licença pra arrombar. Numa proposta semelhante a "Walk The Line", ela nos lembra que precisou trabalhar muito para conquistar suas coisas e como prova de que seus planos funcionaram, nós temos o disco. Que canção.

Longe de pensar em parar agora, Iggy Azalea ainda quer ir bem longe e em "Impossible Is Nothing" adianta que pra ela não há limites estabelecidos. Ciente de que com os fãs, vem também os odiadores, ela deixa claro que não se abate por eles, pois enquanto estiver viva, não vai parar. A gente não acha que funcionaria como um single e soa tão introspectiva quanto "Don't Need Y'all", mas nada é impossível. *ba dun tss*



Se com "Yeezus", Kanye West se autointitulou Deus, mais ou menos da mesma forma que Eminem fez mais tarde com "Rap God", em "Goddess" Iggy Azalea se proclama uma Deusa e cria toda uma áurea pra que realmente acreditemos nisso. Épica do início ao fim, a música conta com um solo de guitarra, além de uma percussão explosiva e crescente, em momentos soando tão grande quanto as produções do ápice criativo do já citado Yeezus. Por fim, ela ainda reforça essa ideia de competição e disputa com odiadores, dizendo que querem enterrá-la viva, mas lembrando-os que deuses não morrem. Bicha, a senhora é deusa mesmo, hein mulher!? 


Sem perder o ritmo, em "Black Widow" Iggy dá espaço para outra mulher brilhar, ou melhor, ajudar a tornar as coisas bem escuras para o cara, enquanto canta sobre tornar sua vida um inferno, o amando como uma viúva negra. O smash hit em potencial é o quinto single do álbum e conta com produção do Stargate, além da co-composição da Katy Perry, remetendo, inclusive, ao hino trap da hitmaker californiana, "Dark Horse" — cavalo preto, viúva negra, tá tudo em família. Hihihi. Os vocais de Rita Ora, que voltou bem tímida com o primeiro single do seu novo disco, "I Will Never Let You Down", também ressuscitam aquela que ouvimos em "R.I.P.", nos dando bem mais esperança quanto ao seu futuro na música.

Fazendo referência à jamaicana Lady Patra e seu disco de estreia, lançado em 93, "Queen of the Pack", Iggy chama o cantor Mavado para confirmar que, sim, ela é a rainha das rainhas, na dancehall "Lady Patra", e em seguida vamos com a sequência matadora que encerra o disco, "Fuck Love" (!!!), "Bounce", "Rolex" e "Just Askin'". Por partes, O QUE É "FUCK LOVE"? Trazendo mais dessas batidinhas frenéticas à la o segundo single promocional do disco, "Bounce", a música soa como a Nicki Minaj fazendo algo da M.I.A. e julgamos impossível isso dar errado. Com seu feminismo de origem duvidosa, a rapper diz que não precisa de um namorado, então quer apenas seus cheques, e justifica sua obsessão pelo consumismo no verso em que questiona "e o que tem se eu for uma material girl? Não pode me culpar, vivemos em um mundo materialista". Além de nos marcar com o icônico "que se foda o amor, me dê diamantes". Mantendo a bagunça organizada inspirada em M.I.A., "Bounce" faz mais festa, só que agora de forma bem mais leve e despretensiosa, principalmente se considerarmos as outras letras do disco, carregada de sintetizador e batidas dançantes. "Mexa isso, quebra isso, faça-o pular"



Dando uma acalmada no disco, a Drake-ística "Rolex" traz a cantora cobrando o cara por seu tempo perdido e lembrando que tempo é dinheiro, "então eu preciso de um troco pelo tempo desperdiçado". Outra vez mais eletrônica, a música faria um bom trabalho entre os singles finais do disco, assim como cumpre bem seu papel perto de encerrar o material, diminuindo seu clima sem que o deixe cair por completo. Dependendo do ponto de vista, dá até pra julgá-la pesada. Desarmando seu "The New Classic" de vez, é na faixa final, "Just Askin'", que a rapper dá uma relaxada significativa, trazendo ao fundo uma batida com synths divertidinhos e ao fundo o coro com algumas crianças, enquanto entoa, da forma mais radiofônica, que está com ele em um novo lugar. "Olha, isso parece um poema", confessa durante a canção.

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Em suma, um clássico não nasce do dia para a noite e custamos, inclusive, a descobri-los com facilidade. Eles apenas chegam e marcam seu território, de maneira que nenhum outro consegue substituí-lo. Por enquanto, não vemos toda essa grandiosidade no "The New Classic" e, pra falar a verdade, soa até bem distante disso, mas escutando o disco e toda a forma com que Iggy Azalea nos apresenta o ego que cultivou durante sua ascensão, seguida das justificativas que, ainda que não expliquem por completo seus meios usados, deixam claro que está no seu direito de aproveitar tudo o que conquistou até aqui, conseguimos compreender a escolha do título, sendo esse a forma que encontrou para endeusar a sua produção de estreia, que nem precisava disso para realmente ser boa, além de, querendo ou não, terminar atraindo esses que realmente buscavam por clássicos modernos, mas terminaram encontrando apenas alguns ótimos arranjos e refrões.
disqus, portalitpop-1

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