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Review: Clarice Falcão, um violão e a amável obsessão em "Monomania"


Nunca estivemos tão satisfeitos com o cenário musical nacional e, pra nossa surpresa, estamos num desses raros momentos em que tem coisa boa para todos os gostos. Aos interessados, tem os experts no sertanejo universitário, as rádios também têm lugar para os grupos de pagode e samba, mas chegando na parte em que realmente nos interessamos, ainda temos das mais variadas vertentes do pop. Tem dance com auto-tune e dubstep nos trabalhos de Jullie, Cine, Volk, entre outros, Naldo e Anitta no flerte com o funk, Banda Uó e seu eletrobrega e agora Clarice Falcão e seu toque indie e jovem pra MPB.


Lançado nesse ano, “Monomania” é o disco de estreia da cantora conhecida pela atuação nas esquetes humorísticas do grupo Porta dos Fundos, e já garante em seus primeiros segundos um lugar não só os nossos corações, como também nas comentadas listas de fim-de-ano. Composto por 14 faixas, o primeiro CD de Clarice não é lá uma extensa obra de artes e possui, inclusive, um limitado cardápio de variedades, mas nos ganha pela simplicidade e objetividade de suas letras, até mesmo nos momentos em que duvidamos sobre realmente ter entendido a mensagem da cantora.

Logo em suas três primeiras músicas, já temos uma boa base do que se trata o álbum, em “Eu Esqueci Você” ela mente pra si mesma, dizendo que já deixou seu amado no passado, mas nem espera que ele chegue até “Macaé” pra se contradizer e começar então sua declaração, na faixa-título. Ao contrário de nomes como Taylor Swift, Clarice Falcão tem só um muso inspirador e também canta sobre isso em versos como “eu vou ter que me controlar se um dia quero enriquecer, quem vai comprar esse cd sobre uma pessoa só?” ou “se juntar cada verso meu e comparar, vai dar pra ver, tem mais você que nota dó” — trechos da canção “Monomania”.


Ao decorrer do álbum, ela segue com suas declarações amorosas e em momentos seu jeito de amar chega a ser um tanto sufocante, mas dando uma atenção especial aos instrumentais, notamos a forma com que ele “evolui” ao passar das canções, indo dos simples violões e ukeleles à percussões, pianos e ápices quase orquestrados. Depois de tantas palavras sobre seu amado, ficamos um tanto curiosos pra saber porque ele se sobressaiu entre todos os loucos do mundo, então chegamos em “Eu Me Lembro”, onde o próprio, interpretado pelo cantor Silva, divide com Clarice alguns versos sobre os momentos memoráveis do primeiro encontro do casal. O legal é que os dois trazem lembranças totalmente diferentes, mas garantem se lembrar de exatamente tudo o que aconteceu no tal dia — alguém bebeu, sim ou claro?


Entre os destaques do álbum, temos ainda a comicamente bélica “A Gente Voltou”, onde Clarice anuncia que voltou com o namorado como se isso fosse curar o câncer ao redor do mundo, a engraçada confissão de “Oitavo Andar”, com ela revelando seu plano doentio para cair literalmente nos braços do amado, além da exagerada e exigente no quesito fôlego “Capitão Gancho”, em que ela cita tudo como um detalhe que marque sua personalidade — “se não fosse a fome e essas crianças e esse cachorro e o Sancho Pança, se não fosse o Koni e o Capitão Gancho, não seria eu”.

Resumindo: a proposta de Clarice não é necessariamente nova, há uns anos atrás gostávamos de uma garota que acreditava resolver todos nossos problemas com a palavra “tchubaruba”, mas funciona muito bem pra melhorar a imagem da música nacional que, em tempos de “tchererê”, estava cada vez mais decadente e sem identidade. É MPB sem algumas chatices que por muito tempo marcaram o gênero, nos prende com a fórmula em que temos uma história sendo contada e ainda vem acompanhada do bom e velho humor. Só pra garantir, nos ajudem a manter qualquer Los Hermano bem longe dela!
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