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As 20 melhores atuações do Cinema em 2023

Barry Keoghan em "Saltburn", Mia Goth em "Piscina Infinita", Cate Blanchett em "Tár" e as performances mais incríveis do ano


Mais um ano se encerrando e, claro, o Cinematofagia não abre mão do seu solene compromisso de listar as melhores performances no Cinema de 2023.

De indicados ao Oscar a estreias inacreditáveis, a lista segue as seguintes regras: não há separação entre papéis protagonistas e coadjuvantes e nem de gênero, tendo como critério de inclusão a estreia do filme em solo tupiniquim dentro do ano ou com o filme chegando à internet sem distribuição no país até o fechamento da lista.

Não assistiu a algum dos longas aqui listado? Não se preocupe, pode ler todos os textos que são sem spoilers - e em seguida correr para aclamar essas performances maravilhosas. Quem são os indicados ao Oscar Cinematofagia de "Melhor Atuação" do ano? Você pode conferir abaixo.


20. Guslagie Malanda, Saint Omer

A francesa Guslagie Malanda estudou para ser historiadora da arte, mas seu amor pelo Cinema e Teatro, algo cultivado desde a infância, a fez tentar a carreira de atriz. "Saint Omer" é apenas o segundo filme de Malanda, que teve a tarefa de transpor para as telas a vida de uma mulher real acusada de assassinar o próprio bebê de um ano. Não só os meandros do papel demandariam talento, mas a persona da personagem, uma mulher soterrada em uma angustiante indiferença, faz com que Malanda seja dona da posição sem que consigamos ver outra pessoa ali.


19. Zelda Samson, Amor Segundo Dalva

"O Amor Segundo Dalva" é um filme complexo por si só. Dalva é uma menina de 12 anos que se enxerga como mulher adulta graças aos anos de abusos infligindos por seu pai. E sim, Dalva é interpretada por uma criança, Zelda Samson. O cuidado da diretora Emmanuelle Nicot faz com que a pequena atriz nunca atravesse o limiar do explícito, mas Samson brilhantemente entrega tanto a inocência de Dalva infantil como a dureza de Dalva "adulta", em um papel que seria difícil até para atrizes com anos de carreira.


18. Joely Mbundu, Tori & Lokita

Os irmãos Dardennes, diretores belgas aclamados com quase 40 anos de carreira, são especialistas em dramas humanos com tom documental. Suas protagonistas, em sua maioria mulheres, são extraídas ao máximo pelos caminhos tortuosos dos roteiros, e com Joely Mbundu não seria diferente. A francesa com descendência africada é Lokita, uma adolescente imigrante na Bélgica que tenta não apenas sobreviver como não se separar do irmão de 11 anos, Tori. Mbundu atua como se não estivesse atuando e tudo aquilo fosse um real documentário, o que é assombroso para alguém em seu primeiro papel, e logo um que aponta o dedo para o racismo, xenofobia e injustiça de um continente que se pinta como perfeito.


17. Leonardo DiCaprio, Assassinos da Lua das Flores

DiCaprio já se consolidou com um grande ator há décadas, sendo indicado e vencendo todos os maiores prêmios da indústria pelo mundo. Em sua melhor performance desde "O Regresso" (2015), que lhe rendeu seu primeiro Oscar, o ator vive também uma pessoa real, Ernest Burkhart, um ex-soldado que, ao voltar para os EUA, é preso em uma teia de ambição contra os povos originários do local, donos de terras enxarcados com petróleo. Ele se apaixona por uma das mais ricas indígenas, porém, por influência do tio (e da própria arrogância), é o responsável pela queda da família da esposa em busca da sua fortuna. "Assassinos da Lua das Flores" não é um filme fácil (são TRÊS HORAS E MEIA), mas DiCaprio renova sua carteira de um dos maiores atores da nossa época sem demonstrar dificuldades.


16. Alina Khan, Joyland

Mais uma estreia histórica, Alina Khan é uma atriz paquistanesa que começou em comerciais e clipes musicais em seu país. Com "Joyland", ela se tornou a primeira mulher trans a ser protagonista em um filme no Paquistão, o que por si só foi um escândalo. O longa foi banido no país não só por Khan, mas pela temática da obra: um pai de família rompe as barreiras do conservadorismo ao se apaixonar por uma dançarina trans. Khan, essa dançarina, enfrenta com doçura e poder diversas temáticas da vivência trans engalfinhada em um país preconceituoso, quando nem mesmos os membros da classe LGBTQIAPN+ têm repertório para se relacionarem entre si.


15. Barry Keoghan, Saltburn

O ator irlandês vê um roteiro sobre um cara que fica obcecado por um homem e, ao entrar em sua família, corrói as paredes de todos até o caos se instaurar. Sua resposta é "EU FAÇO!" antes mesmo de chegar ao final. Seu personagem em "Saltburn" divide várias similaridades com seu papel em "O Sacrifício do Cervo Sagrado" (2017), porém, sem os ares fantásticos do filme de Yorgos Lanthimos, e Barry Keoghan é especialista em insanidades na tela. Seu personagem não vê limitações para conseguir o que quer e vai do perturbador ao nojento num piscar de olhos. Será se um dia Keoghan vai interpretar alguém "normal"? Veremos.


14. Kristine Kujath Thorp, Doente de Mim Mesma

Norueguesa e com farto currículo, Kristine Kujath Thorp desponta internacionalmente com "Doente de Mim Mesma", uma comédia absurda sobre uma garota que é patologicamente viciada em atenção, e vai aos limites para ser o centro das atenções não só de sua vida particular, mas de todo mundo ao redor. Thorp balanceia a loucura e tristeza do seu papel, fazendo com que sintamos pena e raiva de uma personagem hilariamente perdida. Não se surpreenda se ela for chamada por Hollywood nos próximos anos.


13. Mia Goth, Piscina Infinita

A neta mais famosa da atriz brasileira Maria Gladys está, ano após ano, demonstrando que é uma das maiores atrizes da nova geração - ela estava presente na lista de melhores atuações de 2022 e cá está novamente. Com apenas 10 anos dentro da indústria cinematográfica, ela coleciona papéis geniais, e "Piscina Infinita" é mais um acréscimo irretocável em seu currículo. No novo filme de Brandon Cronenberg, ela é uma turista que apresenta ao protagonista (vivido por Alexander Skarsgård) o submundo do exótico país em que estão passando férias, regado com crimes, mortes, luxúria e sexo. Assim como Barry Keoghan, Goth se recusa a interpretar alguém que fosse aprovado num teste psicotécnico, e a arte ganha atuações dementes e incríveis como essa de "Piscina Infinita".


12. Joaquin Phoenix, Beau Tem Medo

O recém portador de um careca dourado, Phoenix, também em 2023, interpretou Napoleon Bonaparte na nova película de Ridley Scott, mas alguém ainda aguenta cinebiografias (filmes que giram em torna da vida e história de um personagem)? Só Lydia Tár, é claro. A glória de Phoenix no ano foi ao lado de Ari Aster em "Beau Tem Medo". O épico onírico pavimenta a viagem de seu protagonista de volta para a casa da mãe após um acidente, e como esse trajeto é infestado de percalços. O Beau de Phoenix rende análises psicológicas infinitas, principalmente no âmbito do mommy issues, e o oscariado foi a escolha seminal para o sucesso do filme, o maior "amei, mas não entendi" de 2023.


11. Sophie Wilde, Fale Comigo

A australiana de apenas 25 anos é mais uma estreia com o pé na porta nesta lista. Wilde ainda iniciou sua carreira num gênero tão difícil como o terror, sendo a orquestradora de todo o pandemônio em "Fale Comigo". Como Mia, a menina que tenta superar a morte da mãe, encontra em uma mão sobrenatural a oportunidade de falar com os mortos, porém, eles nem sempre vão embora. Tudo em "Fale Comigo" é orquestrado por exímia competência, e Wilde pega na nossa mão e nos leva direto para o inferno.


10. Sandra Hüller, Anatomia de Uma Queda

Sandra Hüller está nas telonas há bastante tempo, e conseguiu nossa atenção em 2016 com o divertido "Toni Erdmann". Dali em diante, ela estava determinada a conseguir papéis ainda mais desafiadores, e encotrou o filme perfeito com "Anatomia de Uma Queda". No vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023, Hüller é uma mulher que encontra o marido morto ao lado de sua casa. A questão é: aquilo foi um suicídio ou ela foi a culpada. Transitando entre a vida íntima da protagonista e sua posição no tribunal durante o processo, a alemã carrega um dos mais densos roteiros do ano ao entregar uma personagem abstrusa que é difícil de decifrar até mesmo para a plateia. A indicação ao Oscar vem aí.


9. Sadaf Asgari, Até Amanhã

É comum que diretores encontrem suas musas e parceiras de inúmeros trabalhos dentro de sua filmografia, e a musa do iraniano Ali Asgari é Sadaf Asgari. Em "Até Amanhã", vamos aos subúrbios do Irã e conhecemos Fereshteh, uma mãe solteira que deve esconder o filho dos pais que decidem aparecer em sua casa de surpresa. Na sociedade iraniana, um filme "ilegítimo" é motivo de vergonha, e Fereshteh deve encontrar um local para deixar o bebê até o dia seguinte. Asgari desempenha nuances impressionantes na pele da mãe destinada a aguentar um fardo imposto por uma sociedade sexista, resumida divinamente na cena do táxi, quando ela embarca em uma turbilhão de emoções sem soltar uma palavra. Seu rosto, no entanto, grita.


8. Maeve Jinkings, Pedágio

Maeve Jinkings faz parte do panteão do cinema brasileiro contemporâneo, atuando em algumas das maiores fitas da nossa história recente, como "O Som Ao Redor" (2013), "Boi Neon" (2016) e "Aquarius" (2016). Em "Pedágio", a brasiliense repete a parceria com Carolina Markowicz, sua esposa, depois de arrebentar em "Carvão" (2022). Agora, ela vive uma mãe suburbana que decide fazer o que for preciso para juntar dinheiro e levar o filho homossexual em um retiro de "cura gay" evangélico. Jinkings então rasga o ecrã com sua personagem ao mesmo tempo hilária e trágica, um retrato tão piamente fiel da hipocrisia gospel que está em todas as esquinas do nosso país.


7. Tobin Bell, Jogos Mortais X

Mesmo com quase 40 anos de carreira, Tobin Bell entrou para os anais do Cinema como um dos mais icônicos vilões da história do terror, o Jigsaw da franquia "Jogos Mortais". Ela, que havia anunciado seu fim em 2010, viu o potencial financeiro e quebrou sua própria promessa, contudo, ainda não tínhamos testemunhados um filme que desse a luz merecida para John Kramer. "Jogos Mortais X" veio para resolver todos os problemas. A ideia de fincar o décimo filme entre o primeiro e o segundo foi genial, e aqui vemos Kramer sendo enganado por uma equipe médica que promete curá-lo do câncer, e, pela primeira vez, mergulhamos profundamente nas motivações do personagem, que consegue encontrar pessoas piores que ele mesmo. 20 anos depois do primeiro filme, Bell ainda demonstra estar em plena forma.


6. Natalie Portman, Segredos de um Escândalo

Saindo um pouco do mundinho Marvel (tive que pesquisar se era Marvel mesmo), a vencedora do Oscar Natalie Portman retorna para mostrar que é, sim, uma das melhores no drama "Segredos de um Escândalo". Ela é Elizabeth, uma atriz que vai interpretar uma mulher que foi a estrela de um escândalo quando foi pega tendo um caso com um menor de idade - e eles permanecem juntos até hoje. Elizabeth entra na vida da família para entender melhor como performará seu papel no filme, porém, ela vai adentrando demais na rotina da família, misturando o que seria sua ficção com sua realidade. Uma cena chave é quando Portman executa um monólogo quebrando a quarta parede da plateia e de sua própria vida, em busca de uma veracidade que não importa mais a fonte.


5. Mia McKenna-Bruce, Como Fazer Sexo

Mia McKenna-Bruce trilhou sua carreira com destaque para a tevê britânica em séries infantis, o que é um constraste por si só ao assistirmos a "Como Fazer Sexo". Ela é Tara, uma jovem que viaja para a Grécia com duas amigas em busca das férias perfeitas. Lá, ela vai conhecer os prazes e dores de uma fase da vida destinada a ser crucial pelo resto dos seus dias. Com uma destreza invejável, a atriz é absoluta como a porta-voz de uma das discussões mais sérias que o Cinema pode discorrer, o consentimento sexual feminino. McKenna-Bruce é o rosto e o corpo de traumas que desembocam no público em uma obra-prima.


4. Lola Campbell, A Sucata

12 anos. Seu primeiro filme. Lola Campbell nasceu para o Cinema. Em "A Sucata" ela é Georgie, uma criança que vive sozinha após a morte da mãe, enganando o governo para que não seja realocada até um orfanato. Ela vive seus dias em uma fantasia paralela, pondo os pés na realidade quando a ausência da mãe bate à porta, até que seu pai biológico, um jovem que ela nunca viu na vida, decide também bater nessa porta. Campbell é de uma plenitude tão avassaladora como a menininha que teve que esconder sua doçura a fim de sobreviver que parece ter sido criada dentro dos teatros, sendo a maior descoberta da Sétima Arte em 2023.


3. Cate Blanchett, Tár

Lydia Tár. Agora sim, a cinebiografia da década. Sim, "Tár" pode ser chamado de "cinebiografia", mas sobre uma pessoa fictícia. Na verdade, Cate Blanchett a executa tão bem que virou um meme a existência "real" de Lydia, a maestra lésbica que é o maior nome da música clássica no mundo. Blanchett já tem dois Oscars e uma infinidade de prêmios que não cabem mais numa estante, todavia, ela se entrega como se sua vida dependesse de Lydia, não só escancarando a oscilante vida da personagem, mas também colocando os olhos na cultura do cancelamento. O que poderia ser um filme banal sobre a ascensão e a queda de um ícone é uma montanha-russa deliciosa que se deve, e muito, à atuação de Blanchett. 


2. Alyssa Sutherland, A Morte do Demônio: A Ascensão

O terror ainda é um gênero subestimado pela Academia mesmo quase um século depois do seu início - apenas SEIS atores vencendo o Oscar interpretando em um filme de terror, a última sendo Natalie Portman em "Cisne Negro", em 2011. Atuações lendárias no gênero não faltam - Toni Collette não ter sido ao menos indicada por "Hereditário" (2018) foi um crime -, mas o Cinematofagia não comete tais sacrilégios. Além de Tobin Bell e Sophie Wilde, outra gigantesca atuação do terror foi a de Alyssa Sutherland em "A Morte do Demônio: A Ascensão". Como a mãe que é possuída pelo Livro dos Mortos e tem como objetivo comer a alma de todo mundo à sua frente, Sutherland arrebenta em todas as cenas, principalmente as que está sob efeitos do capiroto. É cristalino como a australiana está se divertindo no papel endiabrado, o que torna tudo ainda mais poderoso.


1. Brendan Fraser, A Baleia

Quem não ama uma história de superação? Brendan Fraser era um dos maiores galãs e estrelas de Hollywood no início dos anos 2000, encabeçando a franquia "A Múmia" e marcando seu nome como beleza, prestígio e retorno financeiro. Tudo isso ruiu com uma sucessão de filmes ruins e bilheterias fracassas, tornando Fraser um ator esquecido. Mas, como disse, quem não ama um retorno triunfal? Esse retorno foi com "A Baleia". Todos os filmes de Darren Aronofsky têm em comum o exorcismo cinematográfico de seus protagonistas - não por acaso, vários deles foram indicados ao Oscar (Ellen Burstyn em "Réquiem Para um Sonho", 2000; Mickey Rourke em "O Lutador", 2008; e a vitória de Portman em "Cisne Negro") -, e Fraser passa pelo desafio impecavelmente. Como o um professor obeso e homossexual, Fraser encara uma batalha dificílima em um filme que é "ame ou odeie", encontrando o consenso na atuação consagrada do ator, que voltou ao alto escalação de Hollywood, vencendo seu inédito Oscar de "Melhor Ator".


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