Crítica: “O Homem do Norte” é tudo o que um filme de guerra viking feito pelo diretor de "A Bruxa" poderia ser


Era 2015 quando caía como uma bomba nos cinemas um filme que revolucionaria o gênero terror: "A Bruxa". Longa de estreia do até então designer de produção Robert Eggers, "A Bruxa" deu um twist em uma época em que os blockbusters recheados com jump-scares dominavam as salas, reabrindo as portas de um estilo cinematográfico que parecia renegado dos grandes olhos do público: o drama conduzindo o terror, não o oposto.

Eggers já surgiu recebendo a alcunha de genial, um título pesado demais para ser carregado sem algum percalço: ele teria que provar que o título era válido, e não um caso de acontecimento único. Daí veio "O Farol" (2019). Ali, Eggers deu o adendo de que sim, ele é um talento inigualável, conseguindo ver seu primeiro filme a ser indicado ao Oscar - de "Melhor Fotografia", mas deveria ter recebido várias outras.

É claro que seu próximo trabalho seria afogado em ansiedade e hype, todavia, existe uma diferença seminal entre os dois primeiros filmes e "O Homem do Norte" (The Northman): "A Bruxa" e "O Farol" são produções independentes, da melhor produtora do planeta, A24, enquanto "O Homem do Norte" é da gigante Universal.

Há um êxodo gritante de novos autores fílmicos que fizeram o mesmo caminho de Eggers: sair de uma pequena produtora para os braços dos conglomerados hollywoodianos. Isso significa que esses talentos estão sendo reconhecidos (e bem pagos) pelo maquinário da Sétima Arte, porém, há também um revés que particularmente lamento: esses cineastas perdem seu controle criativo e assinatura para cederem às vontades dos milionários produtores. O que isso significa? Que a magia que fez aquele diretor ganhar renome acaba se dissipando a fim de encaixar-se nas "regras" do mercado atual (que saudades do meu ex Denis Villeneuve).


Esse era um temor sobre como "O Homem do Norte" terminaria. As notícias, no entanto, eram promissoras, revelando que os produtores e Eggers sempre mantiveram um acordo sobre o corte final do filme, o que ainda manteve nas mãos do realizador como seu trabalho seria exibido na tela. E já afirmo: "O Homem do Norte" é uma fita 100% "eggeriana".

Alexander Skarsgård vive Amleth, um príncipe que tem sua vida e família roubadas quando seu pai, o então Rei Corvo (Ethan Hawke), é assassinado e o trono usurpado. Enquanto foge ainda criança, ele promete que irá vingar o pai, salvar a mãe, Rainha Gudrún (Nicole Kidman), e matar o regicida. Ele espera anos para ficar frente a frente com a oportunidade da profetizada vingança, apaixonando-se por Olga (Anya Taylor-Joy), uma feiticeira pagã.

Era de se esperar pelos nomes envolvidos, mas é sempre um deleite ver um roteiro que se passa em outra época se preocupar em imergir seus personagens (e, consequentemente, o espectador) com um estudo apurado na maneira que aquelas pessoas agiam, falavam e vivam. Nas mãos de Eggers e Sjón, poeta islandês que também co-escreveu o maravilhoso "Ovelha" (2021) - e que foi apresentado ao diretor pela Björk, que faz uma ótima ponta aqui -, um portal no tempo é aberto no ecrã, e os diálogos, inspirados em várias lendas medievais da Escandinávia, são compostos com inglês, nórdico e eslavo arcaico - nada mais triste que um filme no século passado com os atores falando como se estivessem no Instagram, não é mesmo, "A Freira" (2018)?


Inclusive, toda essa composição lembrou os também fantásticos "O Cavaleiro Verde" (2021) e "A Tragédia de Macbeth" (2021), que possuem o mesmo intuito: como seria um filme feito na mesma época pelas mesmas pessoas que criaram a história original. Das falas até o irretocável design de produção e figurinos, há um afinco gritante (e com cara de premiações) já característico no cinema de Eggers, que possui uma queda em histórias passadas em épocas antigas - "A Bruxa" se passa em 1630, "O Farol" em 1890 e "O Homem do Norte" vai ainda mais longe, para 895 d.C.

Enquanto tanto "A Bruxa" quanto "O Farol" são, apesar de ambiciosos, bastante restritos em sua geografia - o primeiro se passa na sua maioria em uma casa e o segundo dentro de um farol cravado em uma ilhota -, "O Homem do Norte" roda a Europa antiga em uma epopeia que catapulta a visão de Eggers para patamares ainda mais grandiosos, o que explica a mudança de produtora - só uma marca como a Universal teria poder financeiro para arcar com a dimensão pretendida pelo roteiro.

Aliás, é deveras importante explorar esse ponto. O orçamento inicial de "O Homem do Norte" era de $65 milhões, mais do que o montante gasto para a realização de "A Bruxa" e "O Farol" combinados - a Universal ainda liberou mais uma nota a fim de deixar a película ainda mais perfeita, com o orçamento batendo $90 milhões. Estamos (infelizmente) habitando a era dos blockbusters de super-heróis, com os Homens-Aranhas da vida vendo os maiores orçamentos (e bilheterias) da atualidade, então é muito bom ver que um estúdio do alto escalão escolheu investir quase $100 milhões em um filme de época viking com inglês arcaico e lançá-lo próximo a um dos mais aguardados longas do ano, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022) - que teve mais do dobro de orçamento.


Ainda há outro fator que também demonstra o interesse genuíno pelo filme: ele possui indicação classificativa para maiores de 18 anos, a maior existente, ou seja, o público é limitado já na hora de comprar o ingresso. E a classificação é mais que justificada: a violência e brutalidade de uma história de guerra não é amenizada, e Eggers não perdoa no gore em cenas capazes de arrepiar a plateia. Se você (como eu) é calejado em filmes mais, digamos, extremos, talvez "O Homem do Norte" não soe tão forte graficamente - quem sobrevive a um "A Casa Que Jack Construiu" (2018), sobrevive a qualquer outra exposição de violência -, contudo, é indiscutível a coragem da produção em não maquiar ou esconder a crueza da carne entre uma luta de espadas. Tudo é posto na tela porque tem que estar ali, não há gratuidade na edificação daquele universo.

Em sua terceira excursão para contos do séculos passados, Robert Eggers entrega mais uma obra-prima que amplia a mitologia de seu cinema, sempre dançando entre o fantástico e o terror com uma assinatura própria espetacular para um autor tão jovem. Pegando a plateia pelo pescoço e forçando-a a embarcar em um barco que está fadado ao sangue, todas as profecias ditas através da boca de bruxas conduzem histórias em que a natureza (seja a do planeta ou a nossa própria) está presa a grossas cordas do destino. Resta a você acompanhar o degringolar dos personagens "eggerianos", pobres vítimas de forças sobrenaturais que turvam as suas missões de descobrirem quem são. "O Homem do Norte" é tudo que você poderia esperar de uma saga viking milionária assinada por Robert Eggers.

Primavera Sound deve contar com shows de Lorde e Pabllo Vittar

Depois do retorno bem-sucedido do Lollapalooza e a volta do Rock in Rio, o sinal já está mais do que aberto para a realização de outros festivais em solo brasileiro e, no radar dos fãs de música pop, a próxima grande escalação ficará a cargo do estreante no país Primavera Sound.

Dono de line-ups invejáveis em suas edições internacionais, o festival acontece pela primeira vez no Brasil entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro em São Paulo, no Distrito Anhembi, e apesar de ainda não ter a sua lista de atrações oficialmente anunciada, já tem dois nomes dados como certos, sendo eles da cantora neozelandesa Lorde e a brasileira Pabllo Vittar.

Lorde, que veio pela última vez ao Brasil com a turnê do álbum “Melodrama”, deve retornar ao som de seu mais recente trabalho, “Solar Power”, de singles como sua faixa-título e “Mood Ring”. A artista sempre foi muito querida pelo público brasileiro e já cantou no palco do Lollapalooza na época do hit “Royals” e seu álbum de estreia, “Pure Heroine”.

Recém-aclamada no palco do americano Coachella, Pabllo Vittar também foi atração da última edição do Lollapalooza e, no Primavera Sound, embala seu repertório repleto de hits que passeiam por toda a sua carreira, de “KO”, do seu álbum de estreia “Vai passar mal”, às releituras pop de bregas como “A Lua” e o hit “Zap Zum”.

Apesar dos pedidos para uma possível vinda de Rosalía, que já tem apresentação única marcada para agosto em São Paulo, um dos nomes internacionais cotados para representar a música em espanhol no festival é da cantora e produtora Arca, mas ainda não se trata de um nome confirmado.

Com realização pela Eventim, o Primavera Sound terá o seu line-up completo revelado no dia 27 de abril. Até lá, só nos resta ficar na torcida.

Crítica: “Medida Provisória” tritura sua importância quando tem um roteiro à la Quebrando o Tabu

Na minha crítica para o fabuloso "Divino Amor" (2020), apontei como o cinema nacional, apesar da resseção cultural, está emergindo com nomes que unem críticas sociais com ineditismos criativos. Com as pressões de um país em crise, esse seria um efeito colateral benigno, o de usar a arte como meio de reflexão das nossas mazelas, e no chamado "Novíssimo Cinema Brasileiro", estamos cada vez mais recheados de exemplares do gênero: "Trabalhar Cansa" (2011), "As Boas Maneiras" (2018), "Morto Não Fala" (2018), "Bacurau" (2018), "Casa de Antiguidades" (2020) e "A Nuvem Rosa" (2020) são exemplos, e "Medida Provisória" acaba de entrar para o mesmo panteão.

"Medida Provisória" é o filme de estreia de Lázaro Ramos na cadeira de direção de ficção. Baseado na peça "Naníbia, Não!" (2009) de Aldri Anunciação, o enredo se passa em um futuro brasileiro próximo. O governo capengamente tenta criar uma reparação - seja social, seja econômica - pelos anos de escravidão, e, após várias tentativas falhas, a solução foi feita por meio de uma medida provisória que obriga todas as pessoas pretas do país a serem imediatamente levadas de volta para a África. Pretas não, todos com "melanina acentuada", como a nova denominação para pessoas retintas.

O longa de Lázaro vai de mãos dadas com "Divino Amor" para um futuro assustadoramente próximo que eleva à máxima potência uma pequena fagulha opressora que já se instalou em nosso país. É claro que o projeto entregue com a boca cheia de dentes de políticos passa longe de uma reparação, e sim um projeto mais do que direto de higienização social, a fim de deixar o Brasil um país de brancos - o mesmo país que era originalmente povoado por índios e não por brancos, mas tá bom.


A premissa do roteiro é mais do que instigante - é difícil ler a sinopse e não querer sentar pelos 103 minutos a fim de saber como essa distopia se desenrolará, principalmente quando é comparada com fenômenos midiáticos como a série "Black Mirror" (2011-) e o vencedor do Oscar "Parasita" (2019). E é aqui que se inicia o grande "porém" de "Medida Provisória". Confesso que não tinha total certeza se este era ou não o primeiro filme de Lázaro, afinal, sua carreira na tevê e cinema é vasta e o convite para sentar do outro lado da câmera já deveria ter acontecido mais cedo, mas sim, é a estreia do ator como diretor, e isso fica claríssimo durante quase todos os segundos de projeção.

Ultimamente ando com um debate interno (sem ainda grandes resoluções) sobre o papel do Cinema como arte social. Esse debate se inflamou após assistir a "Red Rocket" (2021), uma película que segue um personagem principal completamente asqueroso, todavia, sem um julgamento escancarado por parte da obra. Seria obrigação do Cinema uma exposição claríssima e sem resquícios de dúvidas sobre o bem e o mal? É dever do cineasta julgar atitudes problemáticas de seus próprios personagens, com o intuito de não fomentar na vida real pessoas como as da tela? Enquanto acho que deve haver responsabilidade na arte, também não vejo o Cinema como uma escola audiovisual. Onde então reside esse limiar? Qual a medida dessa balança? Sinceramente não sei.

Em "Medida Provisória", o efeito é o extremo oposto: é tudo tão exposto que se torna didático. Depois de um confuso primeiro ato, com milhares de informações jogadas de maneira desconexa, um eixo é encontrado quando a medida provisória do título é instaurada. A partir de então, a falta de maturidade na linguagem cinematográfica dos envolvidos fica latente quando essa linguagem é utilizada da forma mais básica possível.

Vamos voltar lá nos fundamentos do Cinema. O Cinema é chamado de "Sétima Arte" desde 1923 quando Ricciotto Canudo escreveu o "Manifesto da Sétima Arte", e isso se deu pelo Cinema unir todas as outras seis em uma só mídia: Pintura, Escultura, Música, Literatura, Dança e Arquitetura. E se formos entrar em cada elemento de cada uma dessas artes, o cinema tem uma infinidade de recursos para transmitir suas mensagens: são imagens, sons, cores, formas e transições que, juntas, criam sensações. Para resumir, o Cinema mostra, não diz.


Isso não quer dizer que os diálogos são supérfluos no Cinema, não é esse dizer - todos os filmes não precisam ser como "A Gangue" (2014), que não há um só diálogo ou legenda na tela, cunhado unicamente em imagens. O grande problema de "Medida Provisória" é a histriônica falta de sutileza: absolutamente tudo precisa ser dito detalhadamente ao invés de mostrado. Enquanto a duração corria pelo ecrã, pensava em "Bacurau" e como o brilhante roteiro falava tanta coisa sem deixar muitos pontos explícitos, como a valorização da história e da cultura em detrimento da religião para o povo "gente" (denominação dada para quem nasce em Bacurau). O filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles encontra o balanceamento entre o que precisa ser dito e o que deve ser mostrado, e isso é conseguido a partir da maturidade semiótica da arte que é o Cinema, algo que falta em "Medida Provisória".

Talvez o exemplo mais cristalino dessa falta de domínio cinematográfico está na sequência em que um personagem branco e um personagem negro são assassinados ao mesmo tempo. Quando se utiliza de um dos elementos mais poderosos da linguagem fílmica, a montagem, o filme cai em uma ambiguidade que não soa muito certeira: enquanto uma das mortes é uma reação, a outra é puro ódio, então como colocar ambas em um mesmo patamar?

A principal trama da fita está no fato de que os policiais não podem entrar nas casas das pessoas pretas, tendo que capturá-las para o exílio somente nas ruas. O protagonismo do filme se divide entre três personagens: o advogado Antônio (Alfred Enoch, sim, o Dean Thomas da franquia "Harry Potter", 2001-11) e seu primo André (Seu Jorge) estão escondidos em casa enquanto Capitú (Taís Araújo), esposa de Antônio, foge do hospital em que trabalha e para em um "afrobunker", esconderijo de pessoas pretas que criam um movimento contra a "devolução". A separação da família, que não sabe do paradeiro um do outro, é o cerne da trama, enquanto o país entra no caos da caça de pessoas pretas.


Tirando esses três personagens, todos os outros sofrem de uma pobreza de desenvolvimento terrível, como a Isabel de Adriana Esteves, uma Dolores Umbridge que tem receio de falar que gosta de café preto. E claro que não poderia faltar a vizinha branca que diz que já sofreu """racismo""" pelo seu cabelo e que adora pessoas pretas, a empregada dela é até uma; e o diálogo de "nossa como eu queria ter a pele negra", já que é muito legal """querer""" ser preto até sofrer tudo o que eles passam, não é mesmo?

No entanto, é inegável a importância de toda a mensagem, por mais mastigada que ela seja. Me pergunto (com uma leve certeza) se essa mensagem vai atingir quem deveria atingir, afinal, a massa reacionária vai evitar ferrenhamente qualquer aproximação com a obra. Indiferentemente, por mais cansativo que ainda seja para pessoas pretas falarem de racismo (2022, pelo amor de deus), enquanto houver a necessidade, a mensagem deve ser dita para todos os lados.

A importância de uma obra como "Medida Provisória" não dá para ser contestada, principalmente no Brasil atual, afogado com conservadorismo, fascismo e opressões. Contudo, o Cinema como arte não sobrevive de boas intenções, e o roteiro aqui tritura sua mensagem de forma tão forte, a fim de facilitar ao máximo a assimilação das massas, que enfraquece o impacto de algo que poderia ser enorme. São frases de efeito e poemas que anulam a naturalidade e que amainam o que poderia ser um dos melhores filmes do ano. De qualquer forma, é lindo ver salas de cinema lotadas com um longa tupiniquim que discute o racismo, porém, quando há uma cena em que o Emicida tira das mãos de um personagem uma arma e entrega pra ele um livro, foi a confirmação da imensa falta de sutileza de um roteiro digno do Quebrando o Tabu.

Tudo o que sabemos sobre “Versions of Me”, o novo álbum internacional de Anitta

Anitta está pronta para revelar e explorar todas as suas versões para públicos de diferentes partes do mundo conhecê-la. Seu tão prometido álbum internacional, até então chamado “Girl from Rio”, está com lançamento marcado para o dia 12 de abril e, pra surpresa de seus fãs, com um novo nome e conceito: agora “Versions of Me”, quer introduzir a cantora em todas as suas facetas para o novo e velho público.

Faz sentido. Desde o início da empreitada internacional, foram muitas e distintas as investidas de Anitta, teve funk com a Saweetie em “Faking Love”, pagodão baiano ao lado de Cardi B em “Me Gusta” e até pop com influência do rock emo em “Boys Don’t Cry”, mas foi o reggaeton “Envolver” que a colocou no topo do mundo, alcançando o 1º lugar da parada global do Spotify - e todas se encontrarão juntas dentro do novo trabalho.

Para explorar essas tantas versões, foram muitos os nomes com quem a brasileira dividiu estúdio: “Versions of Me” é produzido executivamente pelo hitmaker Ryan Tedder, líder da banda OneRepublic e, entre outras coisas, produtor de hits para Beyoncé, Adele e Ariana Grande. Além dele, são esperadas parcerias com Max Martin e Stargate, para citar alguns nomes, fora o brasileiro RDD, que assinou o feat com a Cardi B em “Me Gusta”.

Em suas redes sociais, Anitta explicou que a mudança do nome “fazia mais sentido”:

“Mesmo depois de milhões de cirurgias plásticas e intervenções... meu interior continua o mesmo. Eu pude ver através de todas as fotos que todos estão postando me desejando feliz aniversário que minha alma guardou todas as coisas importantes que eu tinha desde criança.”

Na capa, a cantora aparece em bustos que representam diferentes momentos de sua vida e da sua aparência ao longo dos últimos anos, com mudanças de cabelo e intervenções cirúrgicas até chegar a Anitta que conhecemos hoje:

“Versions of Me” será lançado mundialmente no dia 12 de abril.


Pabllo Vittar e Rina Sawayama vão do funk ao dance na superpop “Follow Me”

Segue as duas, que é sucesso! Repetindo a parceria do remix de “Comme des Garçons (Like the Boys)”, a cantora nipo-britânica Rina Sawayama e a brasileira Pabllo Vittar voltaram a se unir, dessa vez para a inédita e superpop “Follow Me”.

Prometida para antes da performance de Vittar no Lollapalooza, onde preferiu dar ao público apenas um gostinho da faixa, “Follow Me” reforça a estratégia da cantora brasileira de mesclar elementos da música nacional com as influências de seus parceiros nesses feats internacionais, flertando com funk e afrobeats sob camadas de um dance pop eletrônico. A produção é do Lostboy com os brasileiros da Brabo Music.

Com clipe programado para a próxima sexta-feira (01) a faixa é a aposta de Pabllo Vittar para a chegada da turnê “I Am Pabllo”, inicialmente promovida por um especial de mesmo nome, exibido na TV e pelo Youtube.

Ouça abaixo a música nova:

Ai, que delícia o verão! Marina Sena se une ao Hitmaker em música nova, “Foi match”


O Brasil e o mundo deitaram para o sorriso de Marina Sena e seu smash hit solo, “Por Supuesto”, mas a brasileira quer mais e, nesta semana, estrelou ao lado dos produtores da Hitmaker uma ação de verão do aplicativo Tinder, na qual lançaram a parceria super chiclete “Foi match”.

Mais pop do que propôs no álbum “De primeira”, a parceria chega em clima de verão e com a pegada comercial que já é assinatura dos produtores, que têm nomes como Luisa Sonza, Anitta e Lexa em seu repertório.

“Foi match” já foi lançada com videoclipe, diretamente pelo Kondzilla:

Day retorna aos palcos com show esgotado e anuncia livro inspirado no disco “Bem Vindo ao Clube”


Bem vinda de volta aos palcos, Day! A cantora de “Clube dos Sonhos Frustrados” retornará aos palcos no próximo domingo, dia 13, com a estreia da turnê homônima ao seu último álbum, Bem Vindo ao Clube, no qual explorou suas influências do emo ao pop, investindo no rock que cresceu admirando ao som de artistas como Pitty e Avril Lavigne.

O show, com ingressos esgotados, acontecerá no Hangar 110: palco histórico para a cena emo e hardcore brasileira, que abrigou algumas das maiores bandas dos gêneros na cena nacional, e contará, além da artista, com uma banda formada por Gee Rocha (Nx Zero), Johny Bonafe (ex-Glória) e Vitor Pereceta (Bad Luv), fora as participações especiais de Di Ferrero, atualmente em carreira solo, da revelação Clarissa e o cantor Konai, com quem já colaborou na faixa “Pesadelo”.

Para além dos palcos, o álbum “Bem Vindo ao Clube” também virou livro: “Esta não é apenas uma carta de amor” vem acompanhado de textos que nasceram em paralelo ao trabalho musical, se aprofundando nas letras do disco que falam sobre suas experiências com o amor e, como canta no refrão da sua faixa-título, sonhos frustrados. O romance está em pré-venda na Amazon.

Giulia Be entra em estúdio com Diplo e Jessie Reyez: “nascimento de novas canções”

Giulia Be tá investindo pesado nas conexões internacionais e depois de curtir um show do grupo de k-pop ATEEZ, usou suas redes sociais para compartilhar momentos em estúdio ao lado de ninguém menos que o produtor Diplo, do Major Lazer, responsável por hits como “Lean On” e “Sua Cara”, e da cantora Jessie Reyez - todos são da mesma gravadora.

Em suas redes, a cantora de “pessoa certa hora errada” descreveu o momento como o “nascimento de novas canções”. Alguém duvida que vem parceria por aí?

Giulia Be despontou como uma das apostas da Warner no Brasil após o sucesso de “Menina Solta”, em 2019, e não tardou em mirar também no mercado gringo com uma versão em espanhol da mesma música. Na sequência, teve bom desempenho nacional com faixas como “Não era amor” e “Se essa vida fosse um filme”, já tendo colaborado com artistas como Luan Santana e Luísa Sonza.

Maiores cristais do pop nacional dão show de diversidade no Marshmallow Festival

 

Ontem que esteve no Village Barra Funda, em São Paulo, pode acompanhar um bailão cheio de diversidade, alegria e diversão. É que aconteceu por lá o Marshmallow Festival, autodenominado "o festival mais doce de todos os tempos". E só pela descrição do evento já dava pra ver que eles não estavam longe disso, não.

O Marshmallow Festival serviu 12 horas bem servidas de um suco puro da cena pop nacional dos nossos tempos. Entre as principais atrações, vimos Lia Clark, Danny Bond, Lexa, Pocah, Pepita e Gloria Groove brilharem no palco cantando alguns dos maiores hits de suas carreiras. 

Além de toda diversão proporcionada pelos shows e pelas atrações, o festival também passou uma mensagem super importante e empoderadora para o público LGBTQIA+. Isso de acordo com a hitmaker de Chifrudo, Lia Clark: "Tudo o que acontece nesse mundo que é pró LGBTQIA+ é de extrema importância para mostrarmos que não somos minoria, que temos o nosso espaço e que estamos muito unidos em todas as nossas lutas”.

Gloria Groove foi uma das atrações mais esperadas da noite. E não era pra menos, né? Impossível você ter vivido 2021 sem ter ouvido o nome da "Bonequinha". Ela brilhou nas telas da maior emissora do país ao ganhar o Show dos Famosos - depois de apresentar performances icônicas interpretando Justin Timberlake, Marília Mendonça e J-Lo. Mas não para por aí. GG está morando até hoje no Top 50 do Spotify Brasil por conta de seu superhit "A Queda", que entre outubro e novembro chegou a passar umas boas semanas no top 10 de músicas mais ouvidas da plataforma aqui no país.

Se ela sentiu o peso da responsa de se apresentar num palco desses? Segundo a própria, “o público pede um setlist 'brabo', até porque já sabemos que essa ‘bonequinha’ não sabe brincar". A cantora diz também achar que o evento marcou "não só um momento de muita curtição, como também do pop nacional”.

Quem viveu, viveu! Quem não marcou presença... Bom, a gente só espera que tenha uma nova edição logo, né? 

Os 20 melhores filmes de 2021


A melhor época do ano para o escritor que cá se encontra é a época de fazer as listas de melhores do mundinho cinematográfico no ano. Gasto horas catalogando tudo o que assisti ao longo do ano a fim de trazer a você, leitor, o que considero o suprassumo dos lançamentos (dentro da enorme cerquinha da subjetividade, é claro).


Com a pandemia que afetou 2020, a indústria cinematográfica teve sua retomada (mesmo que gradual) em 2021. No entanto, mesmo com o fluxo de obras ainda reduzido, conseguimos assistir a filmes imperdíveis que salvaram nosso ano e nos levaram de volta às salas escuras (quem também estava com saudades?). Aqui estão meus 20 longas favoritos de 2021.


De indicados e vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2021 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 20, meu amor por você é real.

Uma curiosidade que só percebi ao escrever sobre cada um dos escolhidos, é o montante de filmes vindouros de diretores estreantes. Muito grato em receber tantos nomes novos já colocando banca e demonstrando como a década pode ser um berço de vieses inéditos para a Sétima Arte. Preparado para uma maratona do que há de melhor no cinema mundial de 2021?
 

20. Zola (idem)

Direção de Janicza Bravo, EUA.

Se você também é, assim como eu, um veterano no Twitter, deve se lembrar da saga de Zola, uma stripper que em 2015 fez um thread de 148 tweets sobre uma viagem que terminou com prostituição, assassinato e tentativa de suicídio. Eis o enredo de "Zola", a adaptação dessa thread. Embalado em uma estética ácida e colorida, o filme é uma diversão caótica sobre o fim de semana de Zola (belamente interpretada por Taylour Paige) que ultrapassa o apelo da chamativa premissa e da nossa obsessão por redes socais com uma trilha-sonora elétrica e quebras da quarta parede hilárias, dessa que é a maior saga de uma stripper já contada. "P*ssy is worth thousands, bitch!".


19. Colmeia (Zgjoi)

Direção de Blerta Basholli, Kosovo/Albânia.

O primeiro filme do Kosovo, pequeno país europeu da região dos Balcãs, a conseguir figurar na lista de semifinalistas do Oscar de "Melhor Filme Internacional" na edição de 2022, "Colmeia" realiza um trabalho que particularmente amo: vai a fundo em uma pequena cultura que é influenciada por preconceitos estruturais. Fahrije é uma mulher que, com o desaparecimento do marido graças à guerra, deve assumir a liderança da família em uma cultura sufocantemente misógina. Ela monta um grupo de mulheres, todas viúvas da guerra, para montarem o próprio negócio, um ato de traição contra os costumes e morais do local, e, sem surpresas, enfrentará uma coleção de violências. "Colmeia" venceu o prêmio de "Melhor Filme Internacional" no Festival de Sundance 2021 e é apenas uma fagulha do grande incêndio que é a luta da libertação feminina por autonomia, e um lembrete do quão ainda precisamos avançar nos lugares mais remotos do planeta.


18. Meu Coração Só Vai Bater Se Você Pedir (My Heart Can't Beat Unless You Tell It To)

Direção de Jonathan Cuartas, EUA.

Com a explosão do fenômeno "Crepúsculo" em 2008, vampiros sofreram uma saturação absurda na Sétima Arte, todavia, o tema demandou reinvenção para continuar vivo (mesmo se tratando de criaturas mortas, uau) com nomes como "Amantes Eternos" (2013) e "A Transfiguração" (2016), e "Meu Coração Só Vai Bater Se Você Pedir" senta na mesa dos heróis de vampiros. Dois irmãos devem tomar de conta do irmão mais novo, um vampiro severamente debilitado pela escassez de sangue, afinal, como conseguir sangue humano no mundo que possui uma câmera a cada esquina? Distante da fantasia que a maioria das produções na temática abraçam, "Meu Coração Só Vai Bater Se Você Pedir" decide colocar os pés no drama e fazer um filme que se aproxima da realidade de um vampiro caso a criatura existisse - e a palavra "vampiro" é menciona nenhuma vez. Até onde vale abdicar da sua vida para cuidar da família? 


17. Casa Gucci (House of Gucci)

Direção de Ridley Scott, EUA.

Baseado em um dos casos mais chocantes do mundo da moda - o assassinato de Maurizio Gucci a mando de sua ex-esposa, Patrizia Reggiani Signora Gucci -, "Casa Gucci" é um resgate transloucado da Hollywood de Ouro e seus filmes """estrangeiros""". É até estranho colocar tais palavras juntas, mas "Casa Gucci" é um "O Poderoso Chefão" (1972) gay. Intrigas familiares com carregados sotaques italianos, mas adicionando roupas de luxo, remix de "I Feel Love", e, claro, Lady Gaga em cima de saltos agulha e casacos de pele se vingando do marido infiel? Mais queer impossível. O impacto cultural do longa é comprovado no momento em que quase toda a sala do cinema fez o sinal da cruz durante a já icônica fala "Em nome do pai, do filho e da Casa Gucci", e isso vale muito mais do que qualquer prêmio por aí.


16. Depois do Amor (After Love)

Direção de Aleem Khan, Reino Unido/França.

Mary é uma mulher que se converteu ao islamismo quando se casou com seu marido anos atrás. Vivendo inteiramente dentro da cultura islã, ela é inesperadamente surpreendida com a morte do esposo e o surgimento de um segredo: ele possui outra família a menos de 35km de distância. Sem haver o responsável para confrontar, ela decide ir pessoalmente até a casa da outra família e, fingindo ser uma empregada doméstica, entra na casa da amante e do filho. "Depois do Amor" é conduzido por uma ótima performance de Joanna Scanlan e toca em temas complexos sem julgamentos: o que fazer com a descoberta desse segredo e com a outra família, que não sabe o que aconteceu com o marido? Vencedor de seis prêmios no British Independent Film Awards, incluindo "Melhor Filme", esse é um drama tocante que merece ser descoberto.


15. Reze pelas Mulheres Roubadas (Noche de Fuego)

Direção de Tatiana Huezo, México.

Mais um representante ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", dessa vez do México, "Reze pelas Mulheres Roubadas" vai até uma vila no interior do país para contar como é a vida das famílias aprisionadas entre o tráfico de drogas e de pessoas. Assim como "Projeto Flórida" (2017), a narrativa se passa pelos olhos das crianças, ou seja, todo o horror é fantasiado pelos adultos para que os pequenos não sofram o baque daquela terrível realidade. Meninas têm os cabelos cortados para parecerem homens e os pais devem se tornar escravos para tem a mínima proteção antes que suas filhas sejam roubadas. Um filme duro e corajoso de Tatiana Hueza baseado em uma história triste e real.


14. A Nuvem (La Nuée)

Direção de Just Philippot, França.

No interior da França, uma família tenta sobreviver à morte do pai com o trabalho que ele deixou: eles cultivam gafanhotos, vendendo-os em forma de pó rico em proteína. A situação vai piorando quando os gafanhotos começam a morrer, até que a mãe descobre que eles não estão conseguindo o que querem comer: sangue. "A Nuvem" é inspirado no movimento "New French Extremity": obras de terror francesas que focam em elementos extremos, principalmente o body horror (subgênero que vislumbra a destruição do corpo humano), e coloca o corpo de sua protagonista como banquete para executar um simbolismo doentio: aquilo que você precisa para sobreviver é o que vai te matar. Bon appétit, baby.


13. A Morte de Dois Amantes (The Killing of Two Lovers)

Direção de Robert Machoian, EUA.

De "História de um Casamento" (2019) a "La La Land" (2016), a representação do fim de um relacionamento gerará filmes para o resto dos tempos - é incrível como a morte de um amor consegue produzir tanto conteúdo que, em boas mãos, terminará em uma história a ser vista. "A Morte de Dois Amantes" é um desses casos: um casal decide dar "um tempo" e conhecer pessoas novas; para a mulher, o acordo funciona perfeitamente, mas o homem não consegue respirar com a ideia da esposa com outra pessoa. Caminhando perigosamente na linha do extremo, a fita é crua e sem maquiagens na exibição de sentimentos que constantemente queremos esconder: o ciúmes, a inveja, o egoísmo, a posse. Um verdadeiro nocaute.


12. O Cavaleiro Verde (The Green Knight)

Direção de David Lowery, EUA/Canadá.

David Lowery já nos presenteou com a obra-prima "Sombras da Vida" (2017), e não decepciona em seu novo projeto. "O Cavaleiro Verde" fortalece a veia de narrativas não convencionais de Lowery ao dar luz um conto medieval do séc. XIV. Gawain, sobrinho do Rei Arthur, aceita o desafio do Cavaleiro Verde: se ele conseguir atingi-lo com um golpe, ganhará o poder de possuir o machado mágico; porém, deverá ir até a Capela Verde, local onde o Cavaleiro mora, para receber também um golpe um ano depois. A obra de Lowery se questiona: como seria um filme se fosse feito na mesma época que esse conto? Como as pessoas na antiguidade contariam esse filme? O resultado é uma fábula fantástica sobre nobreza, orgulho e honestidade, com imagens deliciosas e uma originalidade inigualável. "Off with your head!".


11. Playground (Un Monde)

Direção de Laura Wandel, Bélgica. O representante da Bélgica ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", "Playground" é um pequeno e íntimo filme que decide embarcar em uma empreitada que não é a das mais fáceis: ser inteiramente conduzido por crianças. Mas Laura Wandel escolheu a dedo seus protagonistas, gerando uma película imperdível. Dois pequenos irmãos estão sofrendo uma das maiores dificuldades da vida escolar, o bullying. Filmes sobre o tema estão por aí aos baldes, entretanto, poucas vezes vimos a temática receber um aparato tão sincero e cru. Enquadrado em closes, enclausurando os personagens em um mundo sem escapatória, "Playrground" demonstra a inabilidade dos adultos em cuidar de crianças e como a violência é um ciclo vicioso que pode não ter fim. 


10. A Nuvem Rosa (idem)

Direção de Iuli Gerbase, Brasil.

"A Nuvem Rosa" é um daqueles raros caos de filme certo na hora certa. Escrito em 2017, o longa acompanha um casal que se conhece em uma noite. Indo para a casa da mulher, eles acordam no dia seguinte com a notícia de uma nuvem rosa que mata quem entra em contato com ela, devendo permanecer em quarentena imediatamente. "A Nuvem Rosa" previu nossa pandemia do Covid-19? As similaridades são surpreendentes, nesse estudo que fortalece uma veia grossa do novíssimo cinema nacional, a extrapolação criativa de enredos que hiperbolizam nossa realidade a fim de estudá-la e criticá-la. Essa veia contraposta o estilo mais clássico da nossa indústria, o "cinema verdade", e não quer fincar as unhas no crível, pelo contrário, almejando desenvolvimentos mais fantasiosos que (absurdamente) soam mais do que reais - e a explanação de "A Nuvem Rosa" sobre o "novo normal" é um espelho desconfortável de ser encarado.


9. Ovelha (Dýrið)

Direção de Valdimar Jóhannsson, Islândia/Suécia.

Valdimar Jóhannsson estreou no Cinema com um calibre fenomenal em "Ovelha". Um casal sem filhos é dono de uma fazenda no meio do nada na Islândia, tendo sua vida mudada com o nascimento de uma criatura metade ovelha e metade humana. É bem claro que o longa não será de largo apelo popular por inúmeros motivos - o ritmo lento, a ambientação contemplativa, as alegorias complexas, a falta de explicações diretas e até mesmo a língua acabam afastando -, sendo um daqueles filmes que precisam ser digeridos para não ficarem na superfície do "o que diabos foi isso?". Mais um pilar na nova onda de horrores que focam no drama ao invés da gratuidade que muitos exemplares do gênero acabam caindo, "Ovelha" é um retrato declaradamente estranho sobre a morte, a culpa e como encontramos nas mais diferentes coisas um motivo para nos trazer a felicidade. No fim das contas, a moral é que a natureza é a maior mãe de todas, e com ela é olho por olho e dente por dente.


8. Nomadland (idem)

Direção de Chloé Zhao, EUA.

Desde sua estreia no Festival de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro - o equivalente a "Melhor Filme" do festival italiano -, "Nomadland" basicamente vinha com uma nota de rodapé: o Oscar é dele. Dito e feito. Apesar de ser o terceiro longa da chinesa Chloé Zhao, "Nomadland" a transformou em uma cineasta espetacular, sendo apenas a segunda mulher e abocanhar a estatueta de "Melhor Direção" em sua viagem nos interiores dos Estados Unidos e a vida de nômades que moram em casas com quatro rodas. Repleto de cenas que apertam o coração e o pescoço pelas imagens arrebatadoras e diálogos delicadíssimos, esse road movie encanta e denuncia uma enorme mazela da modernidade com um poder cinematográfico único. "Eu não sou sem teto, sou sem casa. Não é a mesma coisa".


7. Meu Pai (The Father)

Direção de Florian Zeller, Reino Unido/França.

Baseado na peça de mesmo nome de Florian Zeller, "Meu Pai" foi a transição do diretor francês dos palcos para as telas, e chegou com imensa competência. "Meu Pai" já fisga a curiosidade com um elenco estrelar - Anthony Hopkins e Olivia Colman encabeçam como pai e filha: Anne vai mudar de cidade e deve deixar alguém a cargo dos cuidados de Anthony, que se recusa a receber ajuda. Já vimos inúmeros filmes que pincelam em diversos graus os problemas mentais que somos acometidos, muitas vezes sendo completos desserviços, no entanto, não é exagero afirmar que "Meu Pai" seja uma das melhores fitas sobre o tema já feitos na história do Cinema. A atuação do monstro Anthony Hopkins talvez seja a melhor de sua rica carreira, rendendo a cena mais triste e tocante de 2021: "Eu sinto que estou perdendo todas as minhas folhas". Não foi de se espantar que o Oscar de "Melhor Ator" e "Melhor Roteiro Adaptado" tiveram "Meu Pai" como dono.


6. A Filha Perdida (The Lost Daughter)

Direção de Maggie Gyllenhaal, EUA/Grécia.

Estreia de Maggie Gyllenhaal na cadeira de direção, "A Filha Perdida" é o melhor filme já lançado com o selo "Original Netflix", deixo aqui claro. Olivia Colman, dona de um Oscar por "A Favorita" (2018), é Leda, uma professora de meia-idade de férias na Grécia; por lá, ela encontra uma família com uma jovem (e agonizante) mãe (interpretada por uma ótima Dakota Johnson). A partir de então, Leda começa a recordar como foi seu próprio papel de mãe - e como ela falhou miseravelmente. "A Filha Perdida" tem inúmeras glórias - a direção e a adaptação certeira de Gyllenhaal e as atuações magistrais de Colman e Johnson -, entretanto, o que há de mais devastador aqui é a desglamourização da maternidade. O que é considerada a melhor "profissão" que uma mulher pode ter, o filme despe todos os filtros cores-de-rosa para recordar o público do quão passíveis a erros somos. O momento em que Leda diz que "Foi incrível" (você que viu o filme sabe do que estou falando) é de chocar e admirar.


5. Bela Vingança (Promising Young Woman)

Direção de Emerald Fennell, Reino Unido/EUA.

O atual (e merecidíssimo) detentor do Oscar de "Melhor Roteiro Original", "Bela Vingança" tem uma embalagem de filme mainstream norte-americano, contudo, é apenas uma fachada que esconde uma história sombria: Cassie tem 30 anos e abandonou o promissor futuro quando a melhor amiga foi estuprada, resultando em sua morte. Ela dedica suas noites a fingir ser uma garota bêbada na balada, e vê a quantidade de homens se aproveitariam da situação para estuprá-la. A fita é colorida e energética, apenas um contraponto para toda a dor do seu conteúdo, e Cassie se torna uma entidade mística em busca de justiça - tanto dentro quanto fora da tela. Todas as cenas em que ela se vinga das pessoas envolvidas com o caso da amiga são violentamente brilhantes.


4. Aonde Vai, Aida? (Quo Vadis, Aida?)

Direção de Jasmila Žbanić, Bósnia e Herzegovina.

O selecionado (e indicado) da Bósnia para o Oscar 2022, "Aonde Vai, Aida?" tem uma superfície que pode soar enfadonha para uns: Aida é uma tradutora da ONU que intermedia os eventos da Guerra da Bósnia de 1993 - e que historicamente terminou no Massacre de Srebrenica. Não se preocupe, esse não é um daqueles filmes que parecem aula de História na tela: muito mais um drama de suspense, a direção de Jasmila Žbanić é perfeita ao conduzir o dilema avassalador de Aida, que usa seus privilégios dentro da ONU para resgatar sua família, a um ponto em que terá que fazer escolhas que podem ser o ponto final entre a vida e a morte. Todo o amor para "Mais Uma Rodada" (2020), que levou o Oscar de "Melhor Filme Internacional", mas esse era de "Aonde Vai, Ainda?", uma das mais doloridas exibições da guerra.


3. Benedetta (idem)

Direção de Paul Verhoeven, França/Holanda.

De longe, o filme mais polêmico de 2021, o que podemos falar de "Benedetta"? Sucessor do também controverso "Elle" (2016), Paul Verhoeven adapta o livro "Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy" de Judith C. Brown, que narra a história real de Benedetta, uma freira do séc. XVII que foi presa e condenada por ser lésbica. O tema já é complexo por si só, todavia, Verhoeven não vai poupar a plateia nessa viagem desconcertante de descoberta da sexualidade de Benedetta. Tão corajoso quanto blasfemo (é aqui que estão as cena mais desafiadoras de 2021, como a da estátua de Virgem Maria e a visão de Cristo na cruz), "Benedetta" empurra limites para escancarar os meios tortos da Igreja Católica em condenar mulheres por seus corpos e perseguir minorias, em uma enxurrada de hipocrisia e falso moralismo que ainda assombra nossos tempos, 400 anos depois.


2. Titânio (Titane)

Direção de Julia Ducournau, França/Bélgica.

A francesa Julia Ducournau estreou no cinema em 2016 com o apetitoso "Grave", uma fábula pitoresca sobre uma família de canibais. O body horror, característica seminal do cinema ducournauniano (mais um inspirado no "New French Extremity"), é elevado a patamares absurdos com "Titânio", que começa com sua estranha premissa: uma garota, após sofrer um acidente, tem que colocar placas de titânio em seu crânio, o que a faz sexualmente atraída por.........carros. É isso aí. O longa é uma jornada insana que, por trás de sua imagem bizarra, carrega infinitas camadas de reflexão sobre gênero, sexualidade, humanidade e amor, liderado pelas atuações lendárias de Agathe Rousselle e Vincent Lindon. Vencedor de uma das melhores Palmas de Ouro que o Festival de Cannes já viu, "Titânio" é recheado de ousadia, genialidade e sim, pretensão. Os melhores filmes possuem esses três elementos.


1. Santa Maud (Saint Maud)

Direção de Rose Glass, Reino Unido.

A A24 (a melhor distribuidora do planeta em atividade, não me canso de falar) está especialista em terrores com viés religiosos e mitológicos, e "Santa Maud" é mais uma adição à lista. Seguindo a personagem título, uma enfermeira que não almeja apenas salvar o corpo de sua paciente, mas também sua alma, os horrores orquestrados ao seu arredor são castigos da condição humana: a de estarmos constantemente em busca de algo que nos dê sentido, e Maud achou esse sentido, no entanto, era o sentido errado. Um espetáculo fadado ao insucesso, "Santa Maud" é uma estreia irretocável que estuda o impacto do fanatismo religioso na percepção da realidade e questiona o conceito de divindade e a megalomania crente de maneira jamais vista. O corte abrupto de dois segundos na última cena é um daqueles raros casos em que você tem a mais absoluta certeza de estar diante de uma obra-prima.

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