Maiores cristais do pop nacional dão show de diversidade no Marshmallow Festival

 

Ontem que esteve no Village Barra Funda, em São Paulo, pode acompanhar um bailão cheio de diversidade, alegria e diversão. É que aconteceu por lá o Marshmallow Festival, autodenominado "o festival mais doce de todos os tempos". E só pela descrição do evento já dava pra ver que eles não estavam longe disso, não.

O Marshmallow Festival serviu 12 horas bem servidas de um suco puro da cena pop nacional dos nossos tempos. Entre as principais atrações, vimos Lia Clark, Danny Bond, Lexa, Pocah, Pepita e Gloria Groove brilharem no palco cantando alguns dos maiores hits de suas carreiras. 

Além de toda diversão proporcionada pelos shows e pelas atrações, o festival também passou uma mensagem super importante e empoderadora para o público LGBTQIA+. Isso de acordo com a hitmaker de Chifrudo, Lia Clark: "Tudo o que acontece nesse mundo que é pró LGBTQIA+ é de extrema importância para mostrarmos que não somos minoria, que temos o nosso espaço e que estamos muito unidos em todas as nossas lutas”.

Gloria Groove foi uma das atrações mais esperadas da noite. E não era pra menos, né? Impossível você ter vivido 2021 sem ter ouvido o nome da "Bonequinha". Ela brilhou nas telas da maior emissora do país ao ganhar o Show dos Famosos - depois de apresentar performances icônicas interpretando Justin Timberlake, Marília Mendonça e J-Lo. Mas não para por aí. GG está morando até hoje no Top 50 do Spotify Brasil por conta de seu superhit "A Queda", que entre outubro e novembro chegou a passar umas boas semanas no top 10 de músicas mais ouvidas da plataforma aqui no país.

Se ela sentiu o peso da responsa de se apresentar num palco desses? Segundo a própria, “o público pede um setlist 'brabo', até porque já sabemos que essa ‘bonequinha’ não sabe brincar". A cantora diz também achar que o evento marcou "não só um momento de muita curtição, como também do pop nacional”.

Quem viveu, viveu! Quem não marcou presença... Bom, a gente só espera que tenha uma nova edição logo, né? 

Os 20 melhores filmes de 2021


A melhor época do ano para o escritor que cá se encontra é a época de fazer as listas de melhores do mundinho cinematográfico no ano. Gasto horas catalogando tudo o que assisti ao longo do ano a fim de trazer a você, leitor, o que considero o suprassumo dos lançamentos (dentro da enorme cerquinha da subjetividade, é claro).


Com a pandemia que afetou 2020, a indústria cinematográfica teve sua retomada (mesmo que gradual) em 2021. No entanto, mesmo com o fluxo de obras ainda reduzido, conseguimos assistir a filmes imperdíveis que salvaram nosso ano e nos levaram de volta às salas escuras (quem também estava com saudades?). Aqui estão meus 20 longas favoritos de 2021.


De indicados e vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2021 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 20, meu amor por você é real.

Uma curiosidade que só percebi ao escrever sobre cada um dos escolhidos, é o montante de filmes vindouros de diretores estreantes. Muito grato em receber tantos nomes novos já colocando banca e demonstrando como a década pode ser um berço de vieses inéditos para a Sétima Arte. Preparado para uma maratona do que há de melhor no cinema mundial de 2021?
 

20. Zola (idem)

Direção de Janicza Bravo, EUA.

Se você também é, assim como eu, um veterano no Twitter, deve se lembrar da saga de Zola, uma stripper que em 2015 fez um thread de 148 tweets sobre uma viagem que terminou com prostituição, assassinato e tentativa de suicídio. Eis o enredo de "Zola", a adaptação dessa thread. Embalado em uma estética ácida e colorida, o filme é uma diversão caótica sobre o fim de semana de Zola (belamente interpretada por Taylour Paige) que ultrapassa o apelo da chamativa premissa e da nossa obsessão por redes socais com uma trilha-sonora elétrica e quebras da quarta parede hilárias, dessa que é a maior saga de uma stripper já contada. "P*ssy is worth thousands, bitch!".


19. Colmeia (Zgjoi)

Direção de Blerta Basholli, Kosovo/Albânia.

O primeiro filme do Kosovo, pequeno país europeu da região dos Balcãs, a conseguir figurar na lista de semifinalistas do Oscar de "Melhor Filme Internacional" na edição de 2022, "Colmeia" realiza um trabalho que particularmente amo: vai a fundo em uma pequena cultura que é influenciada por preconceitos estruturais. Fahrije é uma mulher que, com o desaparecimento do marido graças à guerra, deve assumir a liderança da família em uma cultura sufocantemente misógina. Ela monta um grupo de mulheres, todas viúvas da guerra, para montarem o próprio negócio, um ato de traição contra os costumes e morais do local, e, sem surpresas, enfrentará uma coleção de violências. "Colmeia" venceu o prêmio de "Melhor Filme Internacional" no Festival de Sundance 2021 e é apenas uma fagulha do grande incêndio que é a luta da libertação feminina por autonomia, e um lembrete do quão ainda precisamos avançar nos lugares mais remotos do planeta.


18. Meu Coração Só Vai Bater Se Você Pedir (My Heart Can't Beat Unless You Tell It To)

Direção de Jonathan Cuartas, EUA.

Com a explosão do fenômeno "Crepúsculo" em 2008, vampiros sofreram uma saturação absurda na Sétima Arte, todavia, o tema demandou reinvenção para continuar vivo (mesmo se tratando de criaturas mortas, uau) com nomes como "Amantes Eternos" (2013) e "A Transfiguração" (2016), e "Meu Coração Só Vai Bater Se Você Pedir" senta na mesa dos heróis de vampiros. Dois irmãos devem tomar de conta do irmão mais novo, um vampiro severamente debilitado pela escassez de sangue, afinal, como conseguir sangue humano no mundo que possui uma câmera a cada esquina? Distante da fantasia que a maioria das produções na temática abraçam, "Meu Coração Só Vai Bater Se Você Pedir" decide colocar os pés no drama e fazer um filme que se aproxima da realidade de um vampiro caso a criatura existisse - e a palavra "vampiro" é menciona nenhuma vez. Até onde vale abdicar da sua vida para cuidar da família? 


17. Casa Gucci (House of Gucci)

Direção de Ridley Scott, EUA.

Baseado em um dos casos mais chocantes do mundo da moda - o assassinato de Maurizio Gucci a mando de sua ex-esposa, Patrizia Reggiani Signora Gucci -, "Casa Gucci" é um resgate transloucado da Hollywood de Ouro e seus filmes """estrangeiros""". É até estranho colocar tais palavras juntas, mas "Casa Gucci" é um "O Poderoso Chefão" (1972) gay. Intrigas familiares com carregados sotaques italianos, mas adicionando roupas de luxo, remix de "I Feel Love", e, claro, Lady Gaga em cima de saltos agulha e casacos de pele se vingando do marido infiel? Mais queer impossível. O impacto cultural do longa é comprovado no momento em que quase toda a sala do cinema fez o sinal da cruz durante a já icônica fala "Em nome do pai, do filho e da Casa Gucci", e isso vale muito mais do que qualquer prêmio por aí.


16. Depois do Amor (After Love)

Direção de Aleem Khan, Reino Unido/França.

Mary é uma mulher que se converteu ao islamismo quando se casou com seu marido anos atrás. Vivendo inteiramente dentro da cultura islã, ela é inesperadamente surpreendida com a morte do esposo e o surgimento de um segredo: ele possui outra família a menos de 35km de distância. Sem haver o responsável para confrontar, ela decide ir pessoalmente até a casa da outra família e, fingindo ser uma empregada doméstica, entra na casa da amante e do filho. "Depois do Amor" é conduzido por uma ótima performance de Joanna Scanlan e toca em temas complexos sem julgamentos: o que fazer com a descoberta desse segredo e com a outra família, que não sabe o que aconteceu com o marido? Vencedor de seis prêmios no British Independent Film Awards, incluindo "Melhor Filme", esse é um drama tocante que merece ser descoberto.


15. Reze pelas Mulheres Roubadas (Noche de Fuego)

Direção de Tatiana Huezo, México.

Mais um representante ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", dessa vez do México, "Reze pelas Mulheres Roubadas" vai até uma vila no interior do país para contar como é a vida das famílias aprisionadas entre o tráfico de drogas e de pessoas. Assim como "Projeto Flórida" (2017), a narrativa se passa pelos olhos das crianças, ou seja, todo o horror é fantasiado pelos adultos para que os pequenos não sofram o baque daquela terrível realidade. Meninas têm os cabelos cortados para parecerem homens e os pais devem se tornar escravos para tem a mínima proteção antes que suas filhas sejam roubadas. Um filme duro e corajoso de Tatiana Hueza baseado em uma história triste e real.


14. A Nuvem (La Nuée)

Direção de Just Philippot, França.

No interior da França, uma família tenta sobreviver à morte do pai com o trabalho que ele deixou: eles cultivam gafanhotos, vendendo-os em forma de pó rico em proteína. A situação vai piorando quando os gafanhotos começam a morrer, até que a mãe descobre que eles não estão conseguindo o que querem comer: sangue. "A Nuvem" é inspirado no movimento "New French Extremity": obras de terror francesas que focam em elementos extremos, principalmente o body horror (subgênero que vislumbra a destruição do corpo humano), e coloca o corpo de sua protagonista como banquete para executar um simbolismo doentio: aquilo que você precisa para sobreviver é o que vai te matar. Bon appétit, baby.


13. A Morte de Dois Amantes (The Killing of Two Lovers)

Direção de Robert Machoian, EUA.

De "História de um Casamento" (2019) a "La La Land" (2016), a representação do fim de um relacionamento gerará filmes para o resto dos tempos - é incrível como a morte de um amor consegue produzir tanto conteúdo que, em boas mãos, terminará em uma história a ser vista. "A Morte de Dois Amantes" é um desses casos: um casal decide dar "um tempo" e conhecer pessoas novas; para a mulher, o acordo funciona perfeitamente, mas o homem não consegue respirar com a ideia da esposa com outra pessoa. Caminhando perigosamente na linha do extremo, a fita é crua e sem maquiagens na exibição de sentimentos que constantemente queremos esconder: o ciúmes, a inveja, o egoísmo, a posse. Um verdadeiro nocaute.


12. O Cavaleiro Verde (The Green Knight)

Direção de David Lowery, EUA/Canadá.

David Lowery já nos presenteou com a obra-prima "Sombras da Vida" (2017), e não decepciona em seu novo projeto. "O Cavaleiro Verde" fortalece a veia de narrativas não convencionais de Lowery ao dar luz um conto medieval do séc. XIV. Gawain, sobrinho do Rei Arthur, aceita o desafio do Cavaleiro Verde: se ele conseguir atingi-lo com um golpe, ganhará o poder de possuir o machado mágico; porém, deverá ir até a Capela Verde, local onde o Cavaleiro mora, para receber também um golpe um ano depois. A obra de Lowery se questiona: como seria um filme se fosse feito na mesma época que esse conto? Como as pessoas na antiguidade contariam esse filme? O resultado é uma fábula fantástica sobre nobreza, orgulho e honestidade, com imagens deliciosas e uma originalidade inigualável. "Off with your head!".


11. Playground (Un Monde)

Direção de Laura Wandel, Bélgica. O representante da Bélgica ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", "Playground" é um pequeno e íntimo filme que decide embarcar em uma empreitada que não é a das mais fáceis: ser inteiramente conduzido por crianças. Mas Laura Wandel escolheu a dedo seus protagonistas, gerando uma película imperdível. Dois pequenos irmãos estão sofrendo uma das maiores dificuldades da vida escolar, o bullying. Filmes sobre o tema estão por aí aos baldes, entretanto, poucas vezes vimos a temática receber um aparato tão sincero e cru. Enquadrado em closes, enclausurando os personagens em um mundo sem escapatória, "Playrground" demonstra a inabilidade dos adultos em cuidar de crianças e como a violência é um ciclo vicioso que pode não ter fim. 


10. A Nuvem Rosa (idem)

Direção de Iuli Gerbase, Brasil.

"A Nuvem Rosa" é um daqueles raros caos de filme certo na hora certa. Escrito em 2017, o longa acompanha um casal que se conhece em uma noite. Indo para a casa da mulher, eles acordam no dia seguinte com a notícia de uma nuvem rosa que mata quem entra em contato com ela, devendo permanecer em quarentena imediatamente. "A Nuvem Rosa" previu nossa pandemia do Covid-19? As similaridades são surpreendentes, nesse estudo que fortalece uma veia grossa do novíssimo cinema nacional, a extrapolação criativa de enredos que hiperbolizam nossa realidade a fim de estudá-la e criticá-la. Essa veia contraposta o estilo mais clássico da nossa indústria, o "cinema verdade", e não quer fincar as unhas no crível, pelo contrário, almejando desenvolvimentos mais fantasiosos que (absurdamente) soam mais do que reais - e a explanação de "A Nuvem Rosa" sobre o "novo normal" é um espelho desconfortável de ser encarado.


9. Ovelha (Dýrið)

Direção de Valdimar Jóhannsson, Islândia/Suécia.

Valdimar Jóhannsson estreou no Cinema com um calibre fenomenal em "Ovelha". Um casal sem filhos é dono de uma fazenda no meio do nada na Islândia, tendo sua vida mudada com o nascimento de uma criatura metade ovelha e metade humana. É bem claro que o longa não será de largo apelo popular por inúmeros motivos - o ritmo lento, a ambientação contemplativa, as alegorias complexas, a falta de explicações diretas e até mesmo a língua acabam afastando -, sendo um daqueles filmes que precisam ser digeridos para não ficarem na superfície do "o que diabos foi isso?". Mais um pilar na nova onda de horrores que focam no drama ao invés da gratuidade que muitos exemplares do gênero acabam caindo, "Ovelha" é um retrato declaradamente estranho sobre a morte, a culpa e como encontramos nas mais diferentes coisas um motivo para nos trazer a felicidade. No fim das contas, a moral é que a natureza é a maior mãe de todas, e com ela é olho por olho e dente por dente.


8. Nomadland (idem)

Direção de Chloé Zhao, EUA.

Desde sua estreia no Festival de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro - o equivalente a "Melhor Filme" do festival italiano -, "Nomadland" basicamente vinha com uma nota de rodapé: o Oscar é dele. Dito e feito. Apesar de ser o terceiro longa da chinesa Chloé Zhao, "Nomadland" a transformou em uma cineasta espetacular, sendo apenas a segunda mulher e abocanhar a estatueta de "Melhor Direção" em sua viagem nos interiores dos Estados Unidos e a vida de nômades que moram em casas com quatro rodas. Repleto de cenas que apertam o coração e o pescoço pelas imagens arrebatadoras e diálogos delicadíssimos, esse road movie encanta e denuncia uma enorme mazela da modernidade com um poder cinematográfico único. "Eu não sou sem teto, sou sem casa. Não é a mesma coisa".


7. Meu Pai (The Father)

Direção de Florian Zeller, Reino Unido/França.

Baseado na peça de mesmo nome de Florian Zeller, "Meu Pai" foi a transição do diretor francês dos palcos para as telas, e chegou com imensa competência. "Meu Pai" já fisga a curiosidade com um elenco estrelar - Anthony Hopkins e Olivia Colman encabeçam como pai e filha: Anne vai mudar de cidade e deve deixar alguém a cargo dos cuidados de Anthony, que se recusa a receber ajuda. Já vimos inúmeros filmes que pincelam em diversos graus os problemas mentais que somos acometidos, muitas vezes sendo completos desserviços, no entanto, não é exagero afirmar que "Meu Pai" seja uma das melhores fitas sobre o tema já feitos na história do Cinema. A atuação do monstro Anthony Hopkins talvez seja a melhor de sua rica carreira, rendendo a cena mais triste e tocante de 2021: "Eu sinto que estou perdendo todas as minhas folhas". Não foi de se espantar que o Oscar de "Melhor Ator" e "Melhor Roteiro Adaptado" tiveram "Meu Pai" como dono.


6. A Filha Perdida (The Lost Daughter)

Direção de Maggie Gyllenhaal, EUA/Grécia.

Estreia de Maggie Gyllenhaal na cadeira de direção, "A Filha Perdida" é o melhor filme já lançado com o selo "Original Netflix", deixo aqui claro. Olivia Colman, dona de um Oscar por "A Favorita" (2018), é Leda, uma professora de meia-idade de férias na Grécia; por lá, ela encontra uma família com uma jovem (e agonizante) mãe (interpretada por uma ótima Dakota Johnson). A partir de então, Leda começa a recordar como foi seu próprio papel de mãe - e como ela falhou miseravelmente. "A Filha Perdida" tem inúmeras glórias - a direção e a adaptação certeira de Gyllenhaal e as atuações magistrais de Colman e Johnson -, entretanto, o que há de mais devastador aqui é a desglamourização da maternidade. O que é considerada a melhor "profissão" que uma mulher pode ter, o filme despe todos os filtros cores-de-rosa para recordar o público do quão passíveis a erros somos. O momento em que Leda diz que "Foi incrível" (você que viu o filme sabe do que estou falando) é de chocar e admirar.


5. Bela Vingança (Promising Young Woman)

Direção de Emerald Fennell, Reino Unido/EUA.

O atual (e merecidíssimo) detentor do Oscar de "Melhor Roteiro Original", "Bela Vingança" tem uma embalagem de filme mainstream norte-americano, contudo, é apenas uma fachada que esconde uma história sombria: Cassie tem 30 anos e abandonou o promissor futuro quando a melhor amiga foi estuprada, resultando em sua morte. Ela dedica suas noites a fingir ser uma garota bêbada na balada, e vê a quantidade de homens se aproveitariam da situação para estuprá-la. A fita é colorida e energética, apenas um contraponto para toda a dor do seu conteúdo, e Cassie se torna uma entidade mística em busca de justiça - tanto dentro quanto fora da tela. Todas as cenas em que ela se vinga das pessoas envolvidas com o caso da amiga são violentamente brilhantes.


4. Aonde Vai, Aida? (Quo Vadis, Aida?)

Direção de Jasmila Žbanić, Bósnia e Herzegovina.

O selecionado (e indicado) da Bósnia para o Oscar 2022, "Aonde Vai, Aida?" tem uma superfície que pode soar enfadonha para uns: Aida é uma tradutora da ONU que intermedia os eventos da Guerra da Bósnia de 1993 - e que historicamente terminou no Massacre de Srebrenica. Não se preocupe, esse não é um daqueles filmes que parecem aula de História na tela: muito mais um drama de suspense, a direção de Jasmila Žbanić é perfeita ao conduzir o dilema avassalador de Aida, que usa seus privilégios dentro da ONU para resgatar sua família, a um ponto em que terá que fazer escolhas que podem ser o ponto final entre a vida e a morte. Todo o amor para "Mais Uma Rodada" (2020), que levou o Oscar de "Melhor Filme Internacional", mas esse era de "Aonde Vai, Ainda?", uma das mais doloridas exibições da guerra.


3. Benedetta (idem)

Direção de Paul Verhoeven, França/Holanda.

De longe, o filme mais polêmico de 2021, o que podemos falar de "Benedetta"? Sucessor do também controverso "Elle" (2016), Paul Verhoeven adapta o livro "Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy" de Judith C. Brown, que narra a história real de Benedetta, uma freira do séc. XVII que foi presa e condenada por ser lésbica. O tema já é complexo por si só, todavia, Verhoeven não vai poupar a plateia nessa viagem desconcertante de descoberta da sexualidade de Benedetta. Tão corajoso quanto blasfemo (é aqui que estão as cena mais desafiadoras de 2021, como a da estátua de Virgem Maria e a visão de Cristo na cruz), "Benedetta" empurra limites para escancarar os meios tortos da Igreja Católica em condenar mulheres por seus corpos e perseguir minorias, em uma enxurrada de hipocrisia e falso moralismo que ainda assombra nossos tempos, 400 anos depois.


2. Titânio (Titane)

Direção de Julia Ducournau, França/Bélgica.

A francesa Julia Ducournau estreou no cinema em 2016 com o apetitoso "Grave", uma fábula pitoresca sobre uma família de canibais. O body horror, característica seminal do cinema ducournauniano (mais um inspirado no "New French Extremity"), é elevado a patamares absurdos com "Titânio", que começa com sua estranha premissa: uma garota, após sofrer um acidente, tem que colocar placas de titânio em seu crânio, o que a faz sexualmente atraída por.........carros. É isso aí. O longa é uma jornada insana que, por trás de sua imagem bizarra, carrega infinitas camadas de reflexão sobre gênero, sexualidade, humanidade e amor, liderado pelas atuações lendárias de Agathe Rousselle e Vincent Lindon. Vencedor de uma das melhores Palmas de Ouro que o Festival de Cannes já viu, "Titânio" é recheado de ousadia, genialidade e sim, pretensão. Os melhores filmes possuem esses três elementos.


1. Santa Maud (Saint Maud)

Direção de Rose Glass, Reino Unido.

A A24 (a melhor distribuidora do planeta em atividade, não me canso de falar) está especialista em terrores com viés religiosos e mitológicos, e "Santa Maud" é mais uma adição à lista. Seguindo a personagem título, uma enfermeira que não almeja apenas salvar o corpo de sua paciente, mas também sua alma, os horrores orquestrados ao seu arredor são castigos da condição humana: a de estarmos constantemente em busca de algo que nos dê sentido, e Maud achou esse sentido, no entanto, era o sentido errado. Um espetáculo fadado ao insucesso, "Santa Maud" é uma estreia irretocável que estuda o impacto do fanatismo religioso na percepção da realidade e questiona o conceito de divindade e a megalomania crente de maneira jamais vista. O corte abrupto de dois segundos na última cena é um daqueles raros casos em que você tem a mais absoluta certeza de estar diante de uma obra-prima.

As 10 melhores atuações do cinema em 2021


O Cinematofagia está cada vez mais próximo de publicar a lista com os melhores filmes de 2021, mas antes vamos celebrar as 10 melhores atuações do ano (todas as listas de melhores de 2021 aqui).

De vencedoras da temporada a estreias inacreditáveis, a lista segue as seguintes regras: não há separação entre papéis protagonistas e coadjuvantes e nem de gênero, tendo como critério de inclusão a estreia do filme em solo tupiniquim dentro do ano ou com o filme chegando à internet sem distribuição no país até o fechamento da lista. Importante pontuar também que, quando são duas performances no mesmo filme, foram colocadas na mesma posição.

Não assistiu a algum dos longas aqui listado? Não se preocupe, pode ler todos os textos que são sem spoilers - e em seguida correr para aclamar essas performances maravilhosas. Quem são os indicados ao Oscar Cinematofagia de "Melhor Atuação" do ano? Você pode conferir abaixo.


#10 Morfydd Clark em "Santa Maud"

A galesa Morfydd Clark ainda está no começo de sua carreira, conseguindo papéis coadjuvantes em "Orgulho e Preconceito e Zumbis" (2016) e "Predadores Assassinos" (2019), finalmente conseguindo o merecido destaque em "Santa Maud". Vivendo uma enfermeira que, após um colapso, se converte para o (ultra) cristianismo, Clark é brilhante em compor a psicótica Maud e sua insana missão de salvar a alma de sua paciente, indo do céu ao inferno num piscar de olhos.

#9 Riley Keough & Taylour Paige em "Zola"

Enquanto Riley Keough já possui uma carreira solidificada - inclusive aparecendo na minha lista de melhores atuações de 2020 com "O Chalé", parabéns pela dobradinha -, Taylour Paige só havia conseguido pequenas pontas na tevê, cinema e videoclipes, e é difícil imaginar alguém melhor para ser Zola, a stripper que quebrou a internet com sua saga de 148 tweets em 2015. A dupla, um yin-yang perfeito, se completa na condução desse épico disfuncional e feminista.

#8 Nicolas Cage em "Pig: A Vingança"

Uma das trends da Hollywood moderna é a ressureição de carreiras que eram dadas como mortas ou nunca levadas à sério. Quer exemplos? Michael Keaton com "Birdman" (2014), Steve Carell com "Foxcatcher" (2014) e Adam Sandler com "Joias Brutas" (2019). Cada um desses filmes catapultaram os respectivos atores para o panteão de nomes a serem seguidos, e "Pig" é a redenção de Nicolas Cage. A diferença é que Cage já viveu o apogeu, vencendo o Oscar por "Despedida em Las Vegas" (1995) e destruindo sua imagem com péssimos filmes e atuações medíocres. Engraçado como ele entrega uma das melhores atuações de sua vida como um homem que só quer resgatar sua porca a todo custo.

#7 Frances McDormand em "Nomadland"

Meryl Streep é sempre consagrada como a melhor atriz da geração, mas Frances McDormand está nada atrás. Ambas, inclusive, venceram a mesma quantidade de Oscars nas categorias de atuação, com McDormand dominando o coração da Academia nos últimos anos. Apesar de não ter sido minha favorita na categoria de "Melhor Atriz" em 2021 (ela aparecerá mais à frente), McDormand continua impecável como Fern, uma nômade que vive em uma van e tenta sobreviver aos EUA em época de recessão. Servindo, também, como produtora do longa (que lhe deu um quarto Oscar), Frances demonstra sua versatilidade e esperteza em escolher mulheres complexas para representar na tela.

#6 Benedict Cumberbatch em "Ataque dos Cães"

Um ator que sempre figura nas listas de queridinhos do público é Benedict Cumberbatch. Alguns, inclusive, acham que ele deveria ter vencido o Oscar em 2014 por "O Jogo da Imitação" (coragem). Ao contrário da maioria, Cumberbatch nunca foi um ato do meu agrado, mas "Ataque dos Cães" me fez entrar no hype. O melhor elemento de todo o filme, Cumberbatch (que é inglês) mastiga um sotaque perfeito norte-americano caipira como um macho-alfa desprezível que esconde segredos para a fachada que emprega.

#5 Lady Gaga & Jared Leto em "Casa Gucci"

Dois Oscars winners juntos fazem magia. Aliás, quase todo o cast principal de "Casa Gucci" é vencedor do careca dourado e não decepciona, porém, Lady Gaga e Jared Leto roubam a cena. "Casa Gucci" é como aqueles filmes hollywoodianos na Era de Ouro que se passam em "terras estrangeiras": caricato e melodramático da melhor forma, com Gaga e Leto encabeçando o exagero. Podem, para alguns, ultrapassar o limite, mas os dois estão imperdíveis nesse universo camp que reúne remixes de clássicos e roupas de luxo, tornando-se um "O Poderoso Chefão" gay.

#4 Olivia Colman em "A Filha Perdida"

Junto com Meryl e McDormand, Olivia Colman também faz parte da elite de atuação moderna. Já tendo vencido o Oscar pela genial (e louca) rainha de "A Favorita" (2018), Colman mira em mais uma performance para arrebatar louvores com "A Filha Perdida". É difícil falar sobre sua personagem sem revelar as inúmeras camadas obscuras que a constroem, todavia, Colman traz uma das mães mais complexas do cinema nos últimos anos sem perder um mísero momento no filme de estreia de Maggie Gyllenhaal, que desglamouriza a maternidade de maneira sincera (até demais).

#3 Carey Mulligan em "Bela Vingança"

Carey Mulligan já habitava no meu radar há uma década, desde seu fantástico 2011 com "Drive" e "Shame", e finalmente teve o reconhecimento que merece com "Bela Vingança". Certo, ela não levou o Oscar (mas deveria), no entanto, sua garçonete que abandona tudo em busca de vingança pela amiga morta é uma viagem sensacional que reflete com maestria as desgraças que toda mulher está suscetível em uma sociedade afogada na cultura do estupro. Nada fácil de ser engolido, mesmo com tanta cor, Mulligan eleva "Bela Vingança" para patamares de excepcional.

#2 Anthony Hopkins em "Meu Pai"

Anthony Hopkins tem seu nome cravado na história do Cinema como um monstro, porém, entregar uma das melhores atuações de todos os tempos com mais de 80 anos é um feito sem precedentes. Levando seu segundo Oscar quase 30 anos depois do primeiro - com "O Silêncio dos Inocentes" (1991) - e se tornando o ator mais velho a receber a estátua de "Melhor Ator", a maior conquista de Hopkins com "Meu Pai" é entregar a melhor performance de uma pessoa que sofre com doenças mentais já feita na Sétima Arte. Tão impressionante quanto dolorido.

#1 Agathe Rousselle & Vincent Lindon em "Titânio"

Se houvesse justiça nesse mundo, Agathe Rousselle e Vincent Lindon estariam sendo celebrados como merecem. "Titânio" é o filme mais complexo e desafiador de 2021, e seus personagens são partes fundamentais da construção daquele mundo tão estranho, carregado por ambos como se não estivesse fazendo esforço. Duas das mais magistrais entregas de todos os tempos, Rousselle e Lindon entregam seus corpos nesse body horror bizarro e são as âncoras que não deixam todo o carnaval de loucuras sair do chão do verossímil. Absurdamente irretocáveis.

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As 10 melhores fotografias do cinema em 2021


Para abrir as listas de "Melhores de 2021" aqui no Cinematogafia (ainda teremos as melhores atuações e, claro, os melhores filmes), aqui estão as 10 melhores fotografias do ano, aquelas que nos fizeram falar "dá o Oscar para esse enquadramento". Mas antes de tudo, o que é fotografia?

A fotografia - ou cinematografia, no jargão técnico mais apropriado - é o termo que mais sofre quando alguém elogia o "visual" do filme. Ao contrário do que se pode presumir, a fotografia não é necessariamente tudo o que está na tela, tudo o que podemos ver; ela é a "impressão" do roteiro, ou seja, os enquadramentos, movimento de câmera, uso de filtros, manipulação de cores, exposição de luz e afins.

Quando alguém solta um "olha a paleta de cores maravilhosa desse filme!", muitas vezes ele não está falando da fotografia, e sim do design de produção - a chamada "direção de arte", que compõe todo o aparato físico que está no ecrã. As cores, parte visual mais emblemática, entra tanto na fotografia - pelo trabalho do colorista - como na direção de arte - no trabalho do cenógrafo - e nos figurinos - no trabalho do figurinista. São departamentos distintos e realizados por profissionais diferentes; é a união de todos que fazem um filme ser "bonito" (ou não, caso propositalmente).

Então, o que a lista está julgando, basicamente, é o trabalho de câmera juntamente com a colorização das películas. O critério de inclusão dos citados é o de sempre: ter estreado nacionalmente (em salas comercias, festivais ou plataformas de stream) em 2021 ou ter chegado à internet sem data de lançamento previsto. Preparado para fazer a linha cult na próxima roda de amigos e falar das fotografias mais estonteantes do cinema em 2021? Aqui as 10 melhores pelo Cinematofagia (sem ordem de preferência):


Ovelha (Lamb)

Cinematofragia por: Eli Arenson. Coloração por: Eggert Baldvinsson.

O selecionado da Islândia para o Oscar 2022, "Ovelha" é uma fantasia com toques de terror que necessitava de uma atmosfera ideal para o desenvolvimento de sua estranha história, e a cinematografia da fita é elemento fundamental para seu sucesso. Não é tão difícil assim conseguir um filme visualmente incrível na Islândia - é só apontar a câmera para qualquer lugar do país que é garantia de imagens belíssimas -, mas "Ovelha" sabe utilizar a natureza como elemento dramático, afinal, como bem informa o roteiro, a natureza é maior mãe que existe.

Spencer (idem)

Cinematografia por: Claire Mathon. Coloração por: Peter Bernaers.

De maneira inesperada, "Spencer" é um dos filmes mais "divisivos" de 2021: enquanto o consenso da crítica é de puro deleite, o público em geral não gostou tanto assim da obra. Um elemento, no entanto, é regra: a forma como a história de aprisionamento de Lady Di é filmada com maestria. Com cores escolhidas a dedo e enquadramentos que evidenciam o estado mental da protagonista, somos catapultados para uma década de 90 cheia de glamour e solidão, como se o que está passando diante dos nossos olhos fosse uma memória que, por mais afeto injetemos, não consegue esconder sua melancolia.


O Cavaleiro Verde (The Green Knight)

Cinematografia por: Andrew Droz Palermo. Coloração por: Alastor Arnold.

Dirigido por David Lowery, mesma cabeça pro trás de "Sombras da Vida" - uma das melhores cinematografias do século -, "O Cavaleiro Verde" não tinha como decepcionar. Lowery gosta de utilizar a lente para desenvolver um universo quase paralelo, como se suas histórias não se passassem na nossa realidade, e a epopeia de "O Cavaleiro Verde" busca ser um filme feito como se fosse uma obra fidedigna dos contos fantásticos medievais, abusando de enquadramentos que evocam magia e encantamento. Todos os momentos em que o personagem do título está na tela é um show.


If I Can't Have Love I Want Power (idem)

Cinematografia por: Petra Diensbirova. Coloração por: Bryan Smaller.

O filme que acompanhou o lançamento do quarto álbum de estúdio da norte-americana Halsey, "If I Can't Have Love I Want Power" é uma extravagância imagética que não economiza na grandiosidade de suas imagens. Seguindo uma rainha que abdica de tudo em busca de poder, Halsey foi caprichosa em extrapolar a narrativa do disco com cenas encharcadas de simbolismos que vão muito além de composições visualmente bonitas - são poderosíssimas.


Nomadland (idem)

Cinematografia por: Joshua James Richards. Coloração por: Élodie Ichter.

Aquele que deveria ter vencido o Oscar de "Melhor Fotografia" (desculpa, "Mank"), "Nomadland" arrebatou a todos (e o careca dourado de "Melhor Filme") com a simplicidade em que escancarou as mazelas do capitalismo norte-americano na contemporaneidade. Fotografado pelo parceiro da diretora e oscariada Chloé Zhao, Joshua James Richards, essa mistura de road movie com cinema de denúncia contrasta suas temáticas com cenas de tirar o fôlego, capturadas com uma falsa calmaria: tua soa muito simplista, mas carrega camadas que exprimem a luta de seus personagens ao tentarem sobreviverem àqueles ambientes.


Santa Maud (Saint Maud)

Cinematografia por: Ben Fordesman.

Filmes de terror com viés religioso são um dos meus fracos, principalmente quando fotografados da maneira correta (dá vontade, "A Freira"?). "Santa Maud" é um dos exemplos de louvor. Uma enfermeira, após um acidente fatal, se converte para o cristianismo com certo... radicalismo. Sua missão na terra é salvar a vida (e a alma) de sua nova paciente, custe o que custar. Ben Fordesman (fotógrafo do maravilhoso curta musical "M3LL155X" de FKA Twigs) vai a fundo na "decreptação" do mundo de Maud, extinguindo qualquer tom de cor alegre e afundando a história em imagens lúgubres que estão mais perto do inferno do que qualquer paraíso.


O Santo Desconhecido (The Unknown Saint)

Cinematografia por: Amine Berrada. Coloração por: Laurent Navarri.

Essa pequena joia do cinema marroquino não teve o apreço que merece aqui em terras brasileiras, e espero agora mudar essa realidade. "O Santo Desconhecido" narra o conto de um ladrão que enterra seu roubo no alto de uma colina. Ao sair da prisão tempos depois, ele volta para finalmente resgatar seu tesouro, só para descobrir que o local virou santuário intocável de um santo criado por um vilarejo. Recheado de planos abertos lindos de morrer, o árido norte da África é filmado com paixão e traduz imageticamente o misticismo (e pura comédia) de um povo apegado às tradições.


Duna: Parte 1 (Dune: Part One)

Cinematografia por: Greig Fraser. Coloração por: David Cole.

Um dos projetos mais ambiciosos do século, "Duna" comprova que Denis Villeneuve entrou na ficção-científica (depois de "A Chegada" e "Blade Runner 2049") e não sairá mais dela. Elogiar os aspectos visuais do filme é chover no molhado: efeitos especiais incríveis, figurinos irretocáveis e uma fotografia perfeita compensam qualquer defeito que podemos encontrar no filme como um todo. Villeneuve e Greig Fraser foram assertivos na criação desse mundo distópico que se consolida como um épico (ao menos no trato do ecrã). Oscars virão.


A Morte de Dois Amantes (The Killing of Two Lovers)

Cinematografia por: Oscar Ignacio Jiménez. Coloração por: Drew Tekulve.

Fincando no interior dos EUA, "A Morte de Dois Amantes" é o suprassumo do cinema indie. Um casal em crise decide dar um tempo. A regra é: cada um pode se envolver com outras pessoas, sem ressentimento. A regra é bem seguida pela esposa; já para o marido, ver a amada conseguindo seguir a vida sem ele é uma tortura. O longa se passa através do ponto de vista do marido, que vê seu relacionamento ruir impotentemente, e as imagens da fita são a combinação ideal para a destruição psicológica do fim de um romance - aqui, levado para extremos perigosos demais.


Luz Eterna (Lux Æterna)

Cinematografia por: Benoît Debie. Coloração por: Marc Boucrot.

Parceiro de cinematografia de Gaspar Noé, Benoît Debie sabe, desde "Irreversível", como o diretor é quase um ditador ao tratar suas imagens com o maior choque possível. Depois da festa mais caótica de todos os tempos com "Clímax", Debie vai ainda mais longe no média-metragem "Luz Eterna": são múltiplos trabalhos de câmera, que muitas vezes são colocados lado a lado na tela mostrando pontos de vistas diferentes do inferno que é a filmagem de uma obra. Um filme dentro do filme, "Luz Eterna" é ousado e desconcertante ao querer provar que o pandemônio não é sua história de bruxas high-fashions prestes a serem queimadas na fogueira, são os bastidores.

***

It Avisa: Britney Spears tá livre, leve e trabalhando em música nova

Linda, Livre, Leve & Solta™, Britney Spears fez uma publicação no Instagram na última quarta-feira (22) para se autocelebrar – com todas as razões para isso – e mandar alguns recados bem diretos para sua família e um recado um tanto... auspicioso para seus seguidores. 

É que no vídeo publicado, a artista apareceu cantando uma música desconhecida em frente a um espelho e os fãs já sugerem ser uma música nova - mas calma que a gente já fala disso.

 

A lenda não tem medo de esculachar nos vocais, servindo o suficiente para passarmos o fim de ano de barriga cheia. Hummm, que sabor heim? 😋 

Em tom de desabafo, a cantora recorda algumas conquistas de sua influente e premiada carreira e não se deixa diminuir pelas circunstâncias que a mantiveram sob tutela do pai, Jamie Spears, por quase quatorze anos. Ela sabe que o mundo é dela e só quer nos lembrar!

“Acabei de perceber isso hoje, pessoal. Depois do que minha família tentou fazer comigo três anos atrás, eu precisava ser minha própria líder de torcida. Deus sabe que eles não eram [pessoas que torciam por mim]. Então acabei de ler sobre mim mesmo e descobri o seguinte: O ícone pop multi-platinado e vencedor do Grammy, Britney Spears é uma das mais bem-sucedidas e celebradas artistas da história do pop, com quase 100 milhões de discos vendidos em todo o mundo.” 

Britney continua, listando recordes de vendas e números expressivos de tempo de reprodução nas rádios e downloads de suas canções e deixa claro: 

 “Não, eu não estou tentando me inscrever para nada. Estou lembrando a mim mesma e ao mundo quem eu sou! Sim, eu serei minha própria líder de torcida. Por quê? Estou aqui para lembrar minha família branca “elegante” que não esqueci o que eles fizeram comigo e nunca vou esquecer!” 

A princesa do pop conclui com uma mensagem tão clara quanto misteriosa: 

 “Ps: música nova a caminho. Vou deixar vocês entenderem o que eu quero dizer...” 

 It Pop, avisa pro Jamie Spears pagar os próprios advogados dessa vez por que a Britney tá SOLTÍSSIMA! 🗣️

Alice Glass toma o papel de seu agressor em “Fair Game”; assista o vídeo

Prestes a lançar seu aguardado álbum de estreia, a cantora e compositora Alice Glass – por um tempo conhecida como vocalista do Crystal Castles – compartilhou uma nova faixa e vídeo para divulgação do seu primeiro projeto solo desde o seu EP autointitulado "Alice Glass" de 2017. O álbum PREY//IV deve chegar completo dentro de algumas semanas. 

O single lançado na última quarta (08), Fair Game, nos arremessa de volta para a sonoridade de sintetizadores sombrios e sujos que popularizou a voz distorcida e repleta de emoção da cantora em seus trabalhos anteriores. Na nova faixa, Glass canta da perspectiva de seu agressor nos versos envenenados da canção:

“Você estragou tudo para nós / Todo mundo ri pelas suas costas / Onde você estaria sem mim?”

A cantora confessa que hoje dança e sorri com a música, mas não foi assim no começo:

“’Fair Game’ foi catártico para mim, mas também muito difícil. Eu a escrevi há anos atrás, mas não consegui escutar novamente até recentemente. É uma música feita de frases reais que foram usadas em repetição para me manipular, me manter intencionalmente confusa e enfraquecida. Naqueles momentos, estava completamente convencida de que representavam fatos inegáveis. Olhando para trás, essas palavras agora parecem frágeis e estão obviamente escondendo sentimentos de outra pessoa, alguém cujo único poder está em ferir os outros.”

Alice deseja que outras pessoas possam aprender com ela através de sua música:

“Espero poder ajudar qualquer pessoa que ouça minha música a reconhecer as bandeiras vermelhas de relacionamentos abusivos antes que evoluam para algo pior, que se torna tão profundo que pode transformá-lo.”

Após trabalhar com nossa brasileiríssima Pabllo Vittar, a hyperpopper Dorian Electra, e até com outra Alice, a chinesa Alice Longyu Gao; a talentosa, brutal e electro-pop Alice Glass está pronta para nos servir – ou nós servimos a ela? – seu “PREY//IV”. O disco foi produzido por Jupiter Keys, ex integrante do Health. O trabalho será lançado pela Eating Glass Records, selo da própria artista, em 28 de Janeiro e contará com as já lançadas "Baby Teeth", "Suffer and Swallow" e "I Trusted You". Confira a tracklist e o vídeo para a música "Baby Teeth", onde a artista aparece como personagem de um videogame sangrento e assustador.

PREY//IV:

  1. Prey
  2. Pinned Beneath Limbs
  3. Love Is Violence
  4. Baby Teeth
  5. Everybody Else
  6. The Hunted
  7. Fair Game
  8. Witch Hunt
  9. Suffer and Swallow
  10. Suffer In Peace
  11. Animosity
  12. I Trusted You
  13. Sorrow Ends

Alice Glass incentivou os fãs a fazerem stream de suas músicas solo, por conta de boicote nos pagamentos de royalty das músicas de sua ex-banda Crystal Castles.

"Crystal Castles era. Alice Glass é."

E se ela disse, teje dito! STREAM ALICE GLASS.

Crítica: com Gaga, roupas de luxo e remix de "I Feel Love”, “Casa Gucci” é um "Poderoso Chefão” gay


Vou começar essa crítica apontando algo que já devo ter apontado em algum(ns) texto(s) dessa presente coluna: não aguento mais cinebiografias. O subgênero (vou chamar assim, mesmo não tão correto) está mais do que saturado em Hollywood - felizmente, a Academia está começando a diminuir o montante de premiações para papéis biográficos - se olharmos para as últimas cinco edições nas quatro categorias de atuação, sete atores levaram um Oscar interpretando algum personagem real - fora os inúmeros indicados. Papéis criados do zero deveriam ser mais bem vistos, a meu ver.

Esse rant é, também, devido aos rumos que o Oscar 2022 se encaminha, apontando mais papéis biográficos nos postos mais altos. Por isso que fui assistir "Casa Gucci" (House of Gucci), do lendário Ridley Scott (diretor de ""Alien: o Oitavo Passageiro", 1979, "Blade Runner", 1982, "Thelma & Louise", 1991, "Gladiador", 2000, e tantos outros clássicos), com um pé atrás.

Outro elemento que garantiu esse pé bem fincado no chão foi a maneira que o filme se vendeu desde o início de sua campanha: o foco era pesadíssimo em cima do elenco, pipocando na tela como todos são Oscar winners e nominees. Claro, isso é um chamariz mais do que efetivo, porém, muitas vezes a estratégia é utilizada para dar luz (e esconder) o óbvio: o que há de bom no filme é seus atores, não o filme em si.


E sim, "Casa Gucci" é mais uma cinebiografia hollywoodiana. O longa conta como a vida da família Gucci foi mudada com o casamento de Maurizio (Adam Driver), o herdeiro do império, com Patrizia Reggiani (Lady Gaga). Ele, no alto do mundo da moda, conhece a filha de um caminheiro em uma festa, recebendo imediata reprovação de Rodolfo (Jeremy Irons), pai de Maurizio, no melhor estilo "o princeso e a plebeia". Ela entende nada de arte, um alerta vermelho para quem habita um dos países com maior apreço pela sua carga cultural do planeta. É claro que ela não pertence àquele universo.

Extremamente ambiciosa, Patrizia se desdobra pra conseguir Maurizio - o início do relacionamento pende bastante para o lado econômico, como se ela estivesse mais interessada na fortuna do pretendente do que nele em si, todavia, o desenrolar dos acontecimentos mostram que sim, Patrizia quer a etiqueta "Gucci" em sua vida, mas também ama Maurizio. E falando no primeiro ato, ele talvez seja o mais irregular da película. Há uma falta de polimento na montagem, com alguns acontecimentos sendo cortados mais cedo do que deveriam (e estamos falando de um filme de 157 minutos), o que pode atrapalhar a imersão de alguns espectadores (apesar de notar as falhas, não foi o caso comigo). Soa como se Maurizio tivesse se apaixonado pela mulher fácil demais.

Rapidamente os dois se casam e então "Casa Gucci" começa de fato. Patrizia conseguiu. Porém, Maurizio tem interesse nenhum em se associar com a marca, controlada por seu pai e Aldo (Al Pacino) - do outro lado, há Paolo (Jared Leto), o filho "idiota e inútil" (esses adjetivos são repetidos inúmeras vezes) de Aldo que almeja levar a empresa para rumos mais, digamos, excêntricos. A Gucci é rapidamente vista como um tabuleiro em que cada peça toma cuidado para dar a próxima jogada.

O filme transita por dois estilos: o melodrama e a sátira, ou seja, é uma obra muito camp. A decisão de Scott neste determinado aspecto mostra que a produção estava ciente do divisor de opiniões que seria a fita - ao invés de focar em um dramão classudo com cara de Oscar - à la "Spencer" (2021), "Casa Gucci" quer transformar sua história em um espetáculo, uma escolha arriscada, e isso se comprova do consenso dividido por parte da crítica: uns amaram e outros acharam irregular.


O ritmo do filme é uma montanha-russa que não dá aviso prévio de quando vai subir lentamente pelo dramalhão e quando vai despencar na comédia - e há momentos realmente hilários, o que surpreende: como uma história sobre jogos de poder, ganância, poder, traição e assassinato pode ser tão leve? Não consigo negar que há algumas moedas de dois lados enormes dentro da exibição, e a maior delas é, com certeza, o personagem de Jared Leto.

Vi em threads no Twitter algumas análises entre os personagens vs. as pessoas reais, e muito foi falado como o Paolo Gucci de Leto tinha nada a ver com o real herdeiro, o que, pelo menos fisicamente, é um fato. Leto está soterrado em maquiagem (alguém aí quer o Oscar da categoria), e Scott empurra o personagem ao máximo, transformando-o em uma caricatura. Já li muito como alguns acharam Paolo o elemento dissonante do longa, contudo, cada momento em que Leto estava na tela era um frescor para mim. Sim, é demasiado e não há tentativas de esconder o peso das escolhas ao redor do personagem, mas é exatamente aí que habitam os dois lados da mesma moeda.

Paolo pode não ser o destaque do roteiro, mas resume muito bem o que é "Casa Gucci": é como um filme da Era de Ouro de Hollywood que se passa em um país ou com uma cultura ~estrangeira: os filmes de Humphrey Bogart, intrigas internacionais com cenários "exóticos" de Alfred Hitchcock ou homenagens à nouvelle vague. Os sotaques que não existem real motivo para existirem (os personagens são italianos, por que falam em inglês?), o exagero de características, tudo é muito nostálgico e delicioso nesse pacote assumidamente cafona (mesmo vestindo roupas de grife).

E falando nos sotaques, um rápido debate. Com tantos graduados em linguística e fonética que surgiram na internet desde o primeiro trailer da obra, muito foi falado sobre os sotaques utilizados, principalmente o de Lady Gaga: ele já foi chamado de russo, alemão, ucraniano e todas as nacionalidades possíveis para apontar como não soava italiano. É só assistir a qualquer vídeo da real Patrizia falando que vemos que o sotaque está igual, porém, não é esse o debate que quero levantar, e sim o seguinte: qual a necessidade absoluta de um filme de ficção ter que ser violentamente igual ao real? Isso não é um documentário, é uma obra fictícia baseada em acontecimentos reais, ou seja, não há qualquer contrato assinado sobre a veracidade. Se tratando de cinebiografias então, a cobrança é ainda maior. Temos que abrir mão desse apego ao real quando o cinema é uma REPRESENTAÇÃO do real - e muitas vezes nem do real é.


Se não bastasse a diversão que é a sessão, ainda temos uma porrada de atuações antológicas. Todos os cinco que compõe o elenco principal merecem uma chuva de elogios (e prêmios), com destaque, evidentemente, à Lady Gaga. Se ela encontrou sucesso com "Nasce Uma Estrela" (2018), em "Casa Gucci" ela rasga o ecrã e carrega o filme nas costas - até nos momentos em que Patrizia não está na tela desejamos que ela retorne o mais rápido possível. Gaga, que cambaleou no início de sua carreira como atriz (não esqueço o Globo de Ouro comprado por "American Horror Story: Hotel", 2015) está consolidada como uma atriz de alto escalação. Conseguir roubar a cena contracenando com AL PACINO (que está irretocável) é prova mais que resoluta de sua competência.

Algo que ficou pairando no ar foi: qual foi a motivação da existência da personagem de Salma Hayek dentro do texto? O letreiro no final informa que sua personagem foi condenada pelo assassinato de Maurizio, entretanto, fiquei em dúvida se realmente existiu essa pessoa. Existindo ou não, a Pina de Salma é bastante descartável - não em termos de atuação, e sim de peso narrativo. Se ela fosse cortada, nada mudaria no enredo, e soa cômico (no mal sentido da palavra) ver a vidente e feiticeira (?) ajudando a cada vez mais tresloucada Patrizia na sua jornada rumo à loucura. Em algumas passagens, pareceu como se Pina existisse apenas na cabeça de Patrizia, ou seja, não precisava estar ali.

De longe, a maior glória de "Casa Gucci" é um feito raramente conseguido por cinebiografias: tudo o que se passou fora do que está na tela é irrelevante. Você não precisa conhecer os personagens, nem suas histórias, nem seus desfechos antes de sentar diante do filme, uma falha recorrente dentro do subgênero. O desenvolvimento de seus personagens, principalmente se tratando de várias jogadas que mudam os rumos de todos, é inteiramente construído no ato fílmico, e você consegue entender perfeitamente as motivações e impactos de cada um, o que foi um alívio tremendo - receava que a fita fosse um "O Irlandês" (2019)

É até estranho colocar tais palavras juntas, mas "Casa Gucci" é um "O Poderoso Chefão" (1972) gay. Intrigas familiares com carregados sotaques italianos, mas adicionando roupas de luxo, remix de "I Feel Love", e, claro, Lady Gaga em cima de saltos agulha e casacos de pele se vingando do marido infiel? Mais queer impossível. O impacto cultural do longa é comprovado no momento em que quase toda a sala do cinema fez o sinal da cruz durante a já icônica fala "Em nome do pai, do filho e da Casa Gucci", e isso vale muito mais do que qualquer prêmio por aí.

O nome dela é Signora Gucci, obrigado.

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