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O que não reluz muitas vezes também é ouro: a versátil carreira de Daniel Brühl estampa o brilhantismo do ator

A indústria do cinema, apesar de ter seus queridinhos e nomes já bastante aclamados, constantemente se renova, solidificando o nome de artistas que antes não eram tão conhecidos ou incorporando novos talentos às grandes produções. Tanto os ramos de direção e roteiro quanto os de produção e, especialmente, de atuação, são revigorados com a chegada de novos rostos.

Entretanto, “caras novas” nem sempre são sinônimo de inexperiência e tampouco se referem a pessoas que acabaram de entrar na área. Na indústria do cinema, muitas vezes os “novatos” são artistas originais que já vinham desenvolvendo um trabalho consistente e de qualidade, mas que ainda não haviam criado nome. Quando aparecem aos olhos do grande público e da mídia mais mainstream, estão apenas tendo sua relevância reconhecida e colhendo os frutos que sem alarde vinham plantando. Parece ser esse o caso de Daniel Brühl, ator com currículo pleno de atuações impecáveis e que vem conseguindo maior visibilidade nos últimos tempos.


Cosmopolita, Brühl nasceu na Espanha e cresceu na Alemanha, onde iniciou sua carreira de ator


Nascido em Barcelona em 1978, Daniel cresceu em Colônia, na Alemanha, e sua relação com o cinema vem de casa, visto que seu pai, Hanno Brühl – brasileiro de ascendência alemã –, era diretor de TV. O cosmopolita ator, que é também poliglota – Daniel fala inglês, alemão, espanhol, francês e ainda entende português e catalão –, iniciou sua carreira em 1995, atuando em uma novela alemã. Foi apenas em 2003, entretanto, que Brühl começou a receber um pouco mais de atenção da crítica especializada. Ainda que antes disso já tivesse trabalhado em filmes como Deeply: O Segredo, em que contracenou com Kirsten Dunst, foi seu papel no extraordinário Adeus, Lênin!, dirigido por Wolfgang Becker, que deu início à sua jornada rumo a Hollywood. A trama que conta a história de uma família que vive na Alemanha Oriental aos fins dos anos 1980 e cujas vivências se entrelaçam à história mundial, culminando com a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, rendeu prêmios ao ator e foi um ponto alto na sua carreira, que, a partir de então, deslanchou – ainda que não necessariamente para o mainstream.

Em 2004 foi lançado The Edukators (Os Edukadores, em português), em que Brühl interpretou o papel de um ativista anticapitalismo envolvido em um triângulo amoroso. O longa, aclamado tanto pela crítica quanto pela audiência, tem como ponto central um grupo de três amigos que invadem casas de pessoas da classe alta da sociedade, rearranjam a mobília e deixam uma nota se identificando como “Edukators”. Além de ter angariado prêmios e nomeações, o filme arrecadou cerca de US$ 8 milhões em bilheteria e recebeu o status de cult, chegando, inclusive, a ser adaptado para os palcos brasileiros, como lembra o portal G1. Poucos anos depois, Daniel estrelou também filmes como Salvador, em que interpretou um anarquista espanhol vivendo na Espanha Franquista, e 2 Dias em Paris, produção franco-alemã com roteiro e direção de Julie Delpy, a eterna Céline da trilogia de Antes do Amanhecer.



Após atuação em filme de Tarantino, a estrada se abriu ainda mais


No entanto, o ano de virada definitiva na carreira do ator foi 2009, quando sua apresentação ao grande público se deu por meio das mãos de ninguém menos do que Quentin Tarantino, que o escalou para fazer parte do elenco de Bastardos Inglórios. Atuando ao lado de Brad Pitt, que também foi dirigido por Tarantino em seu último longa, Era uma Vez em... Hollywood, Brühl interpretou um fuzileiro de elite alemão que funciona como o ponto de virada da trama. Daí para frente se seguiram diversas outras produções envolvendo Daniel no elenco, com destaque para Capitão América: Guerra Civil, uma produção da Marvel Studios que foi dirigida pelos irmãos Russo e lançada em 2016. Contracenando ao lado de atores como Robert Downey Jr. e Scarlett Johansson, Brühl interpretou o vilão Helmut Zemo. O longa arrecadou mais de US$ 1,1 bilhão em bilheteria mundial.

Dentre outros títulos lançados de 2009 até hoje, destacam-se também Rush – No Limite da Emoção, em que Daniel levou às telas, nas palavras do portal Omelete, uma intensa interpretação do piloto de Fórmula 1 Niki Lauda, e Tirando a Sorte Grande (lançado em 2019). O enredo deste último é focado na família Pelayo e em sua maestria nas mesas de roleta que, além de ter variadas versões, como a Europeia e a Americana, atrai jogadores diversos por conta de sua simplicidade, como comentado no site de roleta online da Betway. Foi justamente essa simplicidade que permitiu a Gonzalo García-Pelayo, o pai da família Pelayo, a realizar observações profícuas quanto aos jogos de roleta e a concluir que cada roda é única no sentido de que que a bolinha é mais propensa a cair em determinados números do que em outros. Essa probabilidade poderia ser verificada ao se observar por algum tempo como uma roda específica se comporta, e foi isso que Gonzalo e sua família fizeram.

O Zoológico de Varsóvia é outro dos longas-metragens estrelados pelo ator que vale a pena conferir. Lançado em 2017, o enredo tem como base o livro homônimo de Diane Ackerman, que conta a história real do casal Jan e Antonia Żabińska. Responsáveis pelo Zoológico de Varsóvia, eles passam a abrigar no local famílias judias que estão fugindo dos nazistas. Daniel Brühl interpreta o zoólogo Lutz Heck, membro do Partido Nazista. Bons comentários a respeito do filme foram tecidos tanto pela crítica especializada quanto pelos espectadores. Este ano, teremos a chance de ver Daniel atuar em duas outras produções: Kingsman: O Grande Jogo e Falcão e o Soldado Invernal, série que, de acordo com o portal Observatório de Séries, tem a canadense Kari Skogland na direção.



Como se vê, a carreira de Brühl é bastante versátil tanto em termos de estilos de personagens já interpretados quanto em relação à nacionalidade dos filmes que já estrelou e aos idiomas em que já atuou. Com uma história de vida interessante e multicultural, o ator parece transpor para as telonas os sentimentos que suas experiências como ser humano já lhe trouxeram. E o faz com grande maestria e brilhantismo, provando que, mais do que atingir grande fama, o importante é desempenhar seu trabalho com amor e dedicação.

Versão de Zack Snyder para “Liga da Justiça” ganha teaser focado na Mulher-Maravilha

Após ser anunciado no final de maio, a versão de Zack Snyder para "Liga da Justiça" ganhou nesta quinta-feira (18) o seu primeiro teaser, focado na Mulher-Maravilha (Gal Gadot). A produção está prevista pela 2021 no HBO Max, o serviço de streaming da Warner.


Conforme o teaser aponta, Mulher-Maravilha deve ser peça fundamental para esta versão, visto que ela está investigando sobre o Darkseid, que inclusive aparece no final. Rumores antigos apontavam para uma maior importância da heroína na versão que nunca foi lançada. Snyder, aliás, revelou no ano passado que era ela quem matava o Lobo da Estepe, vilão do filme.

A versão vendo sendo pedida desde o lançamento de "Liga da Justiça", em 2017. Snyder, é claro, contribuiu para que os fãs ficassem com mais vontade de assistir sua versão ao publicar nas redes ideias que foram descartas da produção. Membros do elenco também haviam confirmado a existência do "Snyder Cut".

A produção de "Liga da Justiça" foi totalmente conturbada. Em meio as gravações, Joss Whedon foi chamado para reescrever algumas cenas pois o estúdio as achava sombria demais. Tudo piorou quando Snyder se afastou após a morte de sua filha, o que resultou com que Whedon assumisse a direção. O resultado foi um filme com dois tons totalmente diferentes e uma sensação de que muita coisa estava faltando.

Crítica: “A Assistente” traz uma ótica importante para o assédio no trabalho

Julia Garner tem apenas 26 anos, mas já se encontra no caminho perfeito para cair nas graças de Hollywood. A garota já possui um Emmy - de "Melhor Atriz Coadjuvante" pela série "Ozark" (2017-) - começou a carreira liderando dramas indies - como "Everything Beautiful Is Far Away" (2017) e o delicioso "A Fita Azul" (2012), além da ponta no clássico adolescente "As Vantagens de Ser Invisível" (2012). Ela agora retorna em mais um protagonismo que mostra todo o seu talento.

Ela é Jane em "A Assistente" (The Assistant"), estreia da diretora, roteirista e produtora Kitty Green no cinema de ficção. A australiana é conhecida pelos seus documentários, e o estilo jamais foge da tela do seu novo longa. Jane é a assistente do título, trabalhando em uma produtora de filmes. Ela é a primeira a chegar - quando o sol ainda nem apareceu - e a última a sair. Com sua mesa exatamente ao lado do escritório principal, ela é incumbida de fazer absolutamente tudo o que aparecer por lá.

A película segue exatamente um dia na vida de Jane. De tirar xérox de documentos a pegar comida e lavar a louça, Jane faz o que ninguém mais quer fazer. Em um local majoritariamente ocupado por homens, ela pode até ser chamada de "empregada" do lugar pelo leque sem coesão de atividades. O que mandarem, ela faz.


Enquanto limpava o escritório do chefe - um personagem que em momento nenhum aparece na tela -, ela encontra um brinco, e fica claro para o espectador que o ocorrido não é surpresa para a protagonista. Ela sabe que o chefe leva mulheres até lá para encontros sexuais, e sobra para Jane ter que lidar com a esposa do patrão, afinal, ninguém mais quer segurar esse abacaxi. A obra encontra muito sucesso ao ser capaz de falar apenas com imagens, com gestos e olhares de seus personagens.

Os encontros privados do chefe são de conhecimento geral. Até mesmo piadas são feitas sobre isso, como no momento em que um personagem se senta no sofá da sala presidencial e alguém fala, com gracejo, "Não sente jamais nesse sofá". Todos ao redor caem na gargalhada, menos Jane. Mesmo estando lá por apenas cinco semanas, ela já está ciente da conivência de todos com o que se passa por trás daquelas portas.

Apesar de que, sim, isso seria um embaraço, de início não fica muito explícito o motivo pelo qual Jane se demonstra tão desconcertada pelas traições do chefe. A resposta não demora: uma jovem (e bela) garçonete chega do interior para trabalhar como secretária no piso principal. Como alguém tão nova e sem a menor experiência já foi escalada para um trabalho tão importante? Na ida até o hotel - reservado pelo chefe para a garota -, ela revela a Jane que conheceu o patrão no restaurante que trabalhava, e aí estava a chave para todo o mistério. Ela foi contratada para ser aliciada, e parecia não ter a menor noção do que aconteceria.

O chefe não estava meramente pulando a cerca, ele usava seu status para conseguir sexo de jovens e vulneráveis mulheres que aspiravam subir na carreira. E Jane, que não queria perder o emprego, era conivente de maneira obrigada. Ela abaixava a cabeça para não ser demitida, mesmo com os telefonemas agressivos do patrão - que resultavam em humilhantes pedidos de desculpas da assistente.


Querendo por um fim na situação, Jane vai até o Recursos Humanos da empresa. Ela, completamente envergonhada, mal consegue formular frases com sentido, todavia, a mensagem é bem clara para o gestor. A opressão de todo o sistema grita ainda mais quando o gestor passa a impressão de que já sabia de tudo e que fará nada para ajudar, ameaçando o emprego de Jane. Ela vai embora da sala sem prestar a queixa, só para ser mais uma vez repreendida aos berros pelo patrão, que foi informado pelo RH.

A câmera da fita quase nunca deixa o rosto de Jane, e Julia Garner acrescenta mais uma performance incrível em seu currículo. O roteiro de Green auxilia e muito na sensação de que a protagonista é engolida pelo trabalho, seja nas cenas em que ela abdica de sua vida pessoal ou nas sequências em que vemos outras pessoas passando ao lado de Jane sem nem ao menos notá-la. Ali, ela era invisível, e deveria ser. O gestor de RH até solta: ela não deveria se preocupar porque não fazia o tipo do patrão. Grande alívio.

Possuindo apenas 85 minutos, uma obra relativamente curta, o ritmo do filme deveria ser mais dinâmico, porém, Green derrama seu estilo anterior e filma aquele dia de Jane de forma documental, indo nos mais irrisórios momentos da sua jornada. É quase hercúleo fugir da morosidade da narrativa em alguns momentos, que acaba caindo na chatice e na impressão de que o filme poderia ser muito mais, não nego, no entanto, tudo é trabalhado para que sintamos da maneira mais cristalina o que Jane sente convivendo com aquelas pessoas e aqueles desafios.

As engrenagens que fazem "A Assistente" andar são bem claras: o longa é mais um reforço da arte na solidificação da importância do movimento "Me Too", que denuncia o assédio na indústria do entretenimento - outro exemplo é o vencedor do Oscar "O Escândalo" (2019). Vemos por meio de Jane, carregada por uma atuação sensacional de Julia Garner, como já existe uma roda bastante delimitava e preparada para silenciar toda e qualquer mulher envolvida nas artimanhas que evocam os comportamentos predatórios dos homens em posição de poder. Mesmo não conseguindo parar essa roda, a protagonista é a ponta de um iceberg de sororidade que precisa vir à superfície assim como as portas que escondem assédios precisam ser abertas. Mas o que esperar de uma empresa que não contrata sequer uma pessoa preta?


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Bastidores: há três anos, Mulher-Maravilha chegava pela primeira vez aos cinemas com um filme solo

Parece que foi ontem que Gal Gadot protagonizou uma das cenas mais poderosas do cinema de heróis quando apareceu pela primeira vez como Mulher-Maravilha em "Batman VS Superman: A Origem da Justiça". Lançada em 2016, a produção pode não ter dito a melhor das recepções, mas se tem uma coisa que todo mundo aclamou foi justamente a participação da heroína.

No ano seguinte, foi a vez da personagem ganhar pela primeira vez um longa-metragem para chamar de seu nos cinemas. Com Patty Jenkins na direção, a produção simboliza também a primeira vez em que a DC Comics teve um grande acerto desde o início de seu universo compartilhado nos cinemas ao lado da Warner Bros.


A princesa de Themyscira, entretanto, levou 76 anos para chegar com uma produção própria nos cinemas. O primeiro quadrinho solo da personagem surgiu em 1942 e a proposta era clara: promover a igualdade entre gêneros e empoderamento feminino. Todavia, a personagem acabou se tornando uma secretária da liga e com a morte de seu criador, William Moulton Marston, suas roupas passaram a ficar cada vez mais curtas.

Na década de 60, foi quando a personagem surgiu nas telinhas sendo interpretada Ellie Wood Walker e Cathy Lee Crosby, em uma versão da personagem que não possuía poderes. Só foi em 1975 que Lynda Carter eternizou a personagem em uma série que fez um baita sucesso na época. Houve também uma nova tentativa de levar Diana para as telinhas em 2011, mas a ideia não foi para frente.

O projeto de um filme para a heroína existe desde 1990 e passou pela mão de várias pessoas, inclusive Joss Whedon, que teve o seu roteiro recusado. Em consequência a longevidade do projeto, várias atrizes foram cogitadas para o papel principal: Eva Green, Jessica Biel, Sarah Michelle Gellar e até mesmo Sandra Bullock.


Entre todas, Megan Gale foi a mais próxima a viver a Mulher-Maravilha nos cinemas antes de Gal Gadot. Ela estaria em "Liga da Justiça: Mortal", o filme do George Miller ("Mad Max: Estrada da Fúria") que nunca viu a luz do dia. Com orçamento de US$ 220 milhões, a ideia da produção era iniciar um universo cinematográfico, mas devido ao Batman de Christopher Nolan o estúdio optou por arquivar o filme.

Quando Gadot foi anunciada, ainda em 2015, a atriz sofreu diversas críticas de fãs porque ela não tinha o corpo ideal que eles desejavam. Na época, ela rebateu as críticas: "não levo nada disso em consideração". Hoje, entretanto, é difícil imaginar qualquer outra atriz para a personagem. Ela é a Mulher-Maravilha.

A consolidação de Gal como a personagem se dá também por conta da parceria com Patty Jenkins. Podemos dizer, inclusive, que ela foi a primeira diretora do estúdio a ter uma maior liberdade quanto as suas escolhas artísticas desde "Batman VS Superman", o divisor quanto ao momento em que os acionistas passaram a pesar muito em relação a construção das tramas. "Esquadrão Suicida" se tornou todo coloridão e um verdadeiro videoclipe desconexo, enquanto "Liga da Justiça" virou um verdadeiro misto de retalhos.

Obviamente, "Mulher-Maravilha" ainda possui momentos em que é fácil supor que tenha sido uma decisão dos acionistas. O ato final cheio de raio azul e megalomaníaco muito provavelmente nunca foi o plano inicial de Jenkins, mas isso é uma suposição e provavelmente nunca teremos uma confirmação.


O que importa, na verdade, é que Jenkins mostrou que sabe fazer um verdeiro blockbuster. A Warner, aliás, a chamou para dirigir um filme da Liga da Justiça - não se sabe se o convite foi para o já lançado ou para uma sequência, mas recusou por não se conectar com a trama e por ter "muitos personagens".

A união de Jenkins e Gadot se reflete em sua bilheteria. Faltou pouco para que "Mulher-Maravilha" chegasse a casa do bilhão. Segundo o Box Office, a produção arrecadou US$ 821,8 milhões. É claro que a Warner sabia a nova mina de ouro que tinha nas mãos, tanto que não demorou muito para que uma sequência fosse anunciada. "Mulher-Maravilha: 1984" está previsto para estrear em agosto de 2020.

Crítica: “Queen & Slim” e a brutalidade policial em tempos de #VidasNegrasImportam

No dia 25 de maio de 2020, em Minneapolis, Minnesota, EUA, morria George Floyd, um homem negro de 46 anos. Sua morte ocorreu quando um policial branco, Derek Chauvin, se ajoelhou por nove minutos no pescoço de Floyd, asfixiando-o. Floyd foi detido por tentar trocar uma nota falsa de 20 dólares, e, mesmo sem oferecer resistência, foi morto pelo policial. O caso rendeu uma onda massiva de protestos ao redor do mundo que reflete sobre como vidas negras são tratadas pelas autoridades.

Bastante próximo a isso, temos o filme "Queen & Slim", longa de estreia de Melina Matsoukas no Cinema. Seu currículo é bastante extenso no mundo dos videoclipes - é dela o vídeo de "Just Dance" da Lady Gaga, "We Found Love" da Rihanna e, o mais famoso, "Formation" da Beyoncé. E, mais uma vez, Matsoukas tratava no vídeo ganhador do Video Music Award de "Clipe do Ano" a maneira como a polícia trata o corpo negro.

"Queen & Slim" segue o primeiro encontro do casal título. Queen (Jodie Turner-Smith) é uma advogada negra que não parece tão entusiasmada para estar com Slim (Daniel Kaluuya, indicado ao Oscar por "Corra!", 2017). Os dois se conheceram por meio do Tinder, e Queen, que acabara de perder um processo e ver seu cliente sendo condenado à morte, precisava de uma distração.

Após o desconfortável jantar, Slim dirige até a casa de Queen, mas no trajeto é parado por um policial branco. Não há grandes motivos para a abordagem - o rapaz realmente fez uma leve derrapagem na pista vazia -, e, mesmo sem um mandato, exige vasculhar o porta-malas do carro. Os protagonistas sabem que têm nada de comprometedor ali, porém, está estampado em seus rostos a preocupação. Por quê? Eles são negros.

No comunicado à central de polícia, a cor dos dois é repassada com ênfase. A situação rapidamente foge do controle quando o policial desnecessariamente aponta a arma para Slim e atira na perna de Queen, terminando morto quando Slim o alveja. A mulher, advogada, sabe que o destino dos dois está selado a partir de então. Dois negros matam policial branco em abordagem, a condenação é certa, não importando todos os meios que chegaram até aquele fim. Os dois fogem e deixam tudo para trás a fim de não serem presos.


A fita inteligentemente guarda os créditos iniciais todos esses primeiros minutos, só aparecendo quando a dupla decide fugir. Com a tela preta, ouvimos os dois nervosamente discutindo o que fazer enquanto os créditos rolam, como se suas vidas começassem a partir de agora. E a impressão não poderia ser mais verdadeira. Queen é incisiva ao dizer que, caso eles sejam pegos, virariam propriedade do Estado, e a escolha de palavras não poderia ser mais correta. Ela, pelos anos de experiência jurídica, sabe bem o quão diferente é o rumo entre um branco e um negro na mão da polícia.

A partir de então, a película se torna um road movie enquanto os dois fogem estradas afora. Horas depois, parando em uma lanchonete, eles descobrem que a viatura policial possuía uma câmera e o vídeo do caso está em todas as redes sociais. Enquanto a trama principal se desenrola, há uma paralela: manifestações em favor de Slim e Queen quando o noticiário informa que o policial morto já esteve envolvido na morte de um homem negro, que resultou em punição nenhuma. Sem querer, os protagonistas desencadearam um tsunami de revolta, exatamente como George Floyd no mundo real.

Tendo que abandonar todo o passado, os dois acabam tendo somente um ao outro. "Queen & Slim" é, também, um romance, e no decorrer da fuga vemos o casal conhecendo detalhes da vida um do outro, principalmente por parte de Queen, bastante reservada. É verdade que há certo clichê quando começamos o filme com o arquétipo "casal-que-não-se-gosta-mas-eventualmente-irão-se-apaixonar", todavia, a construção desse relacionamento é feita de maneira tão sensível que é capaz de superar qualquer adversidade narrativa. A forma como Queen se abre, camada por camada, é de uma beleza raramente alcançada em um filme.

Escrito por Lena Waithe - a primeira mulher negra a vencer um Emmy de "Melhor Roteiro de Comédia" -, o texto da fita é, na maior parte, bastante correto. Há, inclusive, claras indiretas para "Green Book: O Guia" (2018), o malfadado vencedor do Oscar de "Melhor Filme"; algumas sequências são bem similares (como a dos trabalhadores no campo, "emblemática" em "Green Book"), e o carro em que o casal passa a maior parte do longa é gritantemente parecido com o carro do protagonista do filme de Peter Farrelly. Gera revolta lembrar que o filmequinho de Farrelly saiu premiado com o Globo de Ouro de "Melhor Filme" quando, segundo Melina, a Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood (que promove o Globo) se negou a assistir "Queen & Slim" - e, de fato, recebeu zero indicações.


No entanto, com 132 minutos de duração, a obra escorrega na artificialidade em alguns momentos. Com o ar de "nada a perder", os protagonistas fazem algumas decisões bem puxadas, como na cena em que eles param a fuga para entrar em um bar. Para ser justo, o momento ajuda a solidificar a sensação de que a população negra está do lado dos dois, entretanto, é inegavelmente imprudente. Outras, por fim, são totalmente descartáveis, como a cena do cavalo. Queen para o carro ao lado de um grande campo cheio de cavalos e conta uma história que em nada acrescenta, mas nem é esse o problema do momento. Slim diz que quer montar em um dos cavalos, mas Queen urge para que eles continuem na fuga - mas foi ela quem decidiu parar.

As faltas de sutileza da fita são provenientes de uma ação de revolta da produção, que quer deixar de forma bem didática (até demais) como as autoridades estão enraizadas com o racismo - partindo do ponto que a polícia é cunhada na defesa de pessoas brancas contra os escravos revoltosos após a abolição. Isso pode até afastar um pouco o filme de um estado mais polido e maior, mas "Queen & Slim" é deveras humano e urgente para que detalhes o atrapalhem no grito de justiça e direitos para a população negra. Gera um vazio perceber que a plateia só descobre os nomes reais dos protagonistas depois de uma sucessão de tragédias, desencadeadas por um policial racista.

É bastante intrigante - e também triste - que "Queen & Slim" tenha sido lançado nos cinemas norte-americanos poucos meses antes de George Floyd perder a vida - o filme estreou no final de 2019 por lá. Floyd não foi o primeiro (e, infelizmente, não deve ser o último) a passar pelo o que passou sob o poder de um sistema que não encontrou falhas ao longo do caminho, e sim foi construído para ser assim, o que faz de "Queen & Slim" um quadro e um aviso de uma sociedade claramente doente.


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Lista: 11 filmes que ilustram como vidas negras importam

Sempre busquei, na minha posição de crítico, dar luz a filmes e temáticas que não chegam no grande público - por inúmeros motivos. Papel obrigatório do cargo, temos que disseminar como pudemos obras que saiam no modelo mais comercial e de fácil acesso - a roda do mercado já faz esse tipo de filme chegar em todos os cantos -, e uma dessas buscas particulares são por filmes negros.

Como questionar o privilégio branco que possuo de uma forma que não ajude somente a mim? Esse é o objetivo da presente lista. Escolhi 11 filmes com protagonismo negro que fortalecem a onda do #BlackLivesMatter - que, espero, seja uma luta diária, não um modismo que nos faz colocar hashtags em rede social. O Cinema é uma das maiores armas para a quebra de paradigmas e conscientização de pautas em prol do bom funcionamento social.

A lista em questão possui 11 fitas de todos os cantos do mundo, que, em algum grau, debatem como a vida negra existe dentro do contexto escolhido. Todos os textos são livres de spoilers e escolhi filmes dirigidos por homens e mulheres, brancos e negros, que se unem para nos lembrar o óbvio:

VIDAS NEGRAS IMPORTAM



Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight), 2016

Direção de Barry Jenkins, EUA.
O que ainda resta para falar do maior vencedor do Oscar de "Melhor Filme" do século? É inegável que "Moonlight" seja um filme triste, todavia, ao mesmo tempo, é uma obra genialmente bela, tocante e verdadeira. Aqui temos um olhar brilhante de Barry Jenkins sobre temas muitas vezes esquecidos no cinema, mas urgentes, necessários e representativos como o ser gay, o ser negro, o ser periférico, o que solidifica sua inestimável importância social. Porém, você não precisa se enquadrar em algum desses três “seres” para sentir a delicadeza devastadora que “Moonlight” provoca – mas caso se encaixe, essa é uma história para toda uma vida. A de Chiron e a sua.

As Boas Maneiras (idem), 2017

Direção de: Juliana Rojas & Marco Dutra, Brasil.
Uma empregada negra é contrata para trabalhar na casa de uma rica mulher branca. A patroa está grávida, e a empregada cuida de tudo enquanto percebe que a situação está mais estranha do que à princípio parecia. "As Boas Maneiras", mais uma dádiva da dupla Rojas & Dutra, é uma fábula urbana que trabalha os gêneros terror e fantasia de maneira notória, demonstrando, sem titubear, o quanto nosso Cinema é rico ao unir criatividade com crítica social. O abismo entre os mundos daquelas duas mulheres é escancarado de maneira bizarra.

Pária (Pariah), 2011

Direção de Dee Rees, EUA.
De uma das maiores expoentes do cinema negro norte-americano - Dee Rees -, "Pária" coloca no palco Alike, uma garota de 17 anos que passa por uma batalha interna para se aceitar como lésbica. Chamado de "semiautobiográfico" por Rees (que também é lésbica), a obra é o "Moonlight" feminino: explora as dores específicas que uma pessoa negra sofre por ser gay. Alike ainda tem o peso de ser mulher e estar fincada numa família religiosa, mais um prego na cruz que deve carregar. Visual e socialmente estonteante, "Pária" é uma pérola do Cinema em todos os quesitos, mesmo percorrendo caminhos familiares. É a sinceridade da película que arrebata.

Os Iniciados (Inxeba), 2017

Direção de John Trengove, África do Sul.
Boicotado por manifestações homofóbicas, "Os Iniciados" caiu nos braços da crítica tanto pela repressão escancarada que sofreu quanto pela qualidade ao retratar um amor gay batendo de frente com tradições africanas. Um dos melhores e mais relevantes retratos da masculinidade tóxica que o cinema já viu, "Os Iniciados" é película primordial para citarmos nossos próprios privilégios ao passo que os notamos: vivemos num corpo social que permite liberdade das amarras do patriarcado em vários níveis, enquanto naquele meio do filme não há escapatória. Esse "Moonlight" versão africana, que foi semifinalista ao Oscar 2018, se diferencia da fatia gay no cinema ao trazer grande e valioso reforço cultural para compor suas situações, encurralando seus personagens, encarcerados em tradições tóxicas que oprimem e rendem discussões fortes, cruas e urgentes no ecrã.

Eu Não Sou Uma Bruxa (I Am Not A Witch), 2017

Direção de Rungano Nyoni, Zâmbia/Inglaterra.
Se “Os Iniciados” é a exposição de tradições masculinas africanas, “Eu Não Sou Uma Bruxa” é sobre ritos femininos no continente, mais precisamente a cultura da bruxaria. Obra fundamentalmente sobre mais uma exploração feminina sob gananciosas mãos do homem, dessa vez temos um contexto inédito no cinema, o que a faz ainda mais relevante. O plano de fundo da produção pode extrapolar as tradições africanas e se encaixar em diversos modos de tratamento rebaixador e degradante que a figura da mulher passa em diversas sociedades até presente momento. Documento cultural necessário e visualmente espetacular, "Eu Não Sou Uma Feiticeira" é realização cinematográfica que se apropria do status de "obra-prima".

Corra! (Get Out), 2017

Direção de Jordan Peele, EUA.
O último terror a chegar no Oscar de "Melhor Filme", "Corra!" é um evento cultural e marco no gênero. Um jovem negro finalmente vai à casa dos pais da namorada branca. Há toda uma tensão velada, que parte do próprio protagonista, mas todos não param de falar o quanto estão de braços abertos para a diversidade do casal, o que, não surpreendentemente, é faxada para um plano maquiavélico. O longa não está preocupado em esconder seus clichês e óbvias referências; o que “Corra!” está preocupado é em compor momentos que elevam o seu gênero, carregado por cenas geniais e discussões sobre racismo postas de maneira lúdica, esperta e incisiva pelas lentes do diretor/roteirista Jordan Peele - que levou o Oscar de "Melhor Roteiro Original". Nunca um filme foi tão inteligente ao expor como a cultura negra é apropriada.

Infiltrado Na Klan (BlacKkKlansman), 2018

Direção de Spike Lee, EUA.
Spike Lee é porta-voz do cinema afro-americano há décadas, e provavelmente ele encontrou seu nirvana em 2018. "Infiltrado na Klan" é fincado sobre uma louca história real de um policial negro que arma um plano para se infiltrar na Ku Klux Klan, a seita de supremacia branca que assola os EUA até hoje. A pertinência temporal do longa consegue assustar quando a KKK começa a mostrar suas garras em pleno séc. XXI, consequentemente, o tapa na cara de "Infiltrado na Klan" é forte. Sem o intuito de educar brancos (e sim de empoderar negros), o filme é um terror da realidade - a última cena é para aniquilar qualquer segurança da época em que vivemos (e estamos, literalmente, vivendo)

Garotas (Bande de Filles), 2014

Direção de: Céline Sciamma, França.
Céline Sciamma é uma das mais fabulosas cineastas em atividade; todo o seu Cinema é baseado na análise de gênero em diversos contextos, épocas e abordagens. Seu ímpeto para fazer "Garotas" surgiu pela falta de filmes franceses que estudem o foco do filme: a adolescência de meninas negras no país. Ao ser questionada porquê produzir o longa sendo uma mulher branca, falou "eu não quis dizer como vivem as pessoas negras, e sim a cara da França e da juventude que eu estava vendo". "Garotas", ao focar na vida de sua protagonista tentando se encaixar, discorre por raça, gênero e classe sem perder a delicadeza. A cena com "Diamonds" da Rihanna vale por tudo.

Tangerina (Tangerine), 2015

Direção de Sean Baker, EUA.
"Tangerina" vai na cola de uma prostituta e sua amiga - ambas interpretadas por atrizes trans -, que, ao descobrirem a traição do cafetão, saem em busca do traidor e sua amante. Qual o cerne do filme? A triste e estreita ligação entre a transsexualidade e a marginalização. É nada confortável encarar de frente os vários tópicos que a obra escancara sem vergonhas, porém, "Tangerina" é um filme sobre como a sororidade é peça indispensável para a sobrevivência de pessoas ainda varridas para debaixo do tapete. Longe de um trato plástico e artificial na tela, "Tangerina" vem como um sopro de ar livre ao dar voz, provocar e abordar uma realidade marginalizadora de forma crível, correta e socialmente relevante. E foi inteiramente filmado com celulares.

Atlantique (idem), 2019

Direção de Mati Diop, Senegal.
Mati Diop fez história ao ser a primeira mulher negra a competir no Festival de Cannes, e "Atlantique" saiu com o segundo maior prêmio de sua edição. Alguns anos no futuro, na capital Dakar, um grupo de trabalhadores embarca para, clandestinamente, chegar na França a fim de uma vida melhor. Ada fica desolada quando descobre que seu namorado faz parte do grupo, e ainda mais devastada quando a notícia da morte de todos chega na cidade. Um drama político, discutindo a crise de imigração na Europa e o atual contexto econômico da África, "Atlantique" criativamente adota temas sobrenaturais para contar essa história de amor além do plano físico. Pode soar muitas vertentes, mas o filme está nas mãos de uma diretora totalmente ciente do poder de seu texto e imagens.

Um Limite Entre Nós (Fences), 2016

Direção de: Denzel Washington, EUA.
"Um Limite Entre Nós" é um filme de atuações e diálogos, com um conjunto que preza pela observação daqueles espelhos de vida, repleto de análises sobre o conceito de família, autoridade e cumplicidade entregues com bastante crueza e honestidade. É um longa complexo e denso, atuado com maestria por Viola Davis e Denzel Washington. Muito mais do que explorar um difícil arranjo familiar, Denzel consegue extrair brilho dos renegados pela sociedade ao entrar pela porta da frente no mundo onde a população negra era designada, revelando suas batalhas, seus dramas e suas dores. A obra se torna um quadro representativo importante a partir do quintal de uma família negra nos anos 50 quando vemos que, 70 anos depois, muitas daquelas situações não mudaram. Assim, a importância do filme grita.

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E não é que vem aí? Versão de Zack Snyder para “Liga da Justiça” estreia em 2021 no HBO Max

E não é que vem aí? Após anos de campanha em redes sociais, a tão sonhada versão de Zack Snyder para "Liga da Justiça" tem estreia marcada para 2021 no HBO Max, o grande serviço de streaming da Warner. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (20) pelo próprio diretor em uma sessão comentada de "Homem de Aço". Posteriormente, o serviço de streaming anunciou no Twitter a novidade.
A versão vendo sendo pedida desde o lançamento de "Liga da Justiça", em 2017. Snyder, é claro, contribuiu para que os fãs ficassem com mais vontade de assistir sua versão ao publicar nas redes ideias que foram descartas da produção. Membros do elenco também haviam confirmado a existência do "Snyder Cut".

A produção de "Liga da Justiça" foi totalmente conturbada. Em meio as gravações, Joss Whedon foi chamado para reescrever algumas cenas pois o estúdio as achava sombria demais. Tudo piorou quando Snyder se afastou após a morte de sua filha, o que resultou com que Whedon assumisse a direção. O resultado foi um filme com dois tons totalmente diferentes e uma sensação de que muita coisa estava faltando.

Bastidores: cinco filmes que tiveram grandes problemas durante sua produção

A produção de um filme envolve muitos imprevistos e problemas que parecem ser impossíveis de resolver. Muitas vezes tais empecilhos sequer chegam ao público, mas às vezes acabamos tendo conhecimento de alguns, principalmente quando o filme é adiado mais de três vezes por motivos diversos. Né, "Novos Mutantes"?

Pensando nisso, a edição deste sábado do Bastidores reúne cinco filmes que tiveram grandes problemas de produção. Alguns, aliás, são perceptíveis até mesmo no produto final pelo público.

007 - Sem Tempo Para Morrer (2020)


Surpreende que o vigésimo quinto filme da franquia "007" irá realmente sair se levarmos em consideração que houve uma explosão no set filmagens e que Daniel Craig (James Bond) se feriu em um acidente. Deu tudo errado.

A explosão foi antes do acidente com Craig e comunicada oficialmente pelo filme por meio do Twitter, em meados de junho de 2019. Segundo a publicação, um funcionário da equipe ficou levemente ferido e o estúdio onde o longa-metragem estava sendo rodado foi danificado.

Já no mês anterior a explosão, Daniel Craig machucou seu tornozelo e ainda precisou passar por uma cirurgia (!!!). Não há informações de como o acidente se deu, mas as filmagens precisaram ser adiadas em duas semanas por conta do ocorrido. A informação também foi divulgada oficialmente pelo Twitter do filme.

Han Solo (2018)


A tragédia de "Han Solo - Uma História Star Wars" foi anunciada muito antes de sua estreia. Em meio a produção, a dupla de diretores Phil Lord e Chris Miller ("Uma Aventura Lego") foi trocada por Ron Howard ("O Código DaVinci"). O motivo: Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm, não estava gostando da abordagem dada pela dupla.

Kennedy buscava algo ao estilo "Guardiões da Galáxia", segundo o The Wall Street Journal, por isso foi feita a troca. No fim, Howard acabou refilmando 70% de um filme que grande parte dos fãs da franquia "Star Wars" fingem não existir. De qualquer modo, a Lucasfilm já estava preparada para o tombo.

Apesar da troca de diretores, talvez o maior problema da produção tenha sido Alden Ehrenreich, o Han Solo dessa nova versão. Um ator envolvido na produção, que na época não se identificou, afirmou que Alden não era bom o suficiente. A declaração foi dada ao site Vulture no começo de 2018, mas ajudou a crescer um rumor de 2017 que afirmava que um professor de atuação teria sido contratado para ajudar Alden.

Liga da Justiça (2017)


A DC Comics ainda estava perdida em como dar início ao seu universo cinematográfico compartilhado e "Liga da Justiça", dirigido por Zack Snyder e Joss Whedon, era a oportunidade perfeita para mostrar ao público que sabia o que estava fazendo. Infelizmente deu tudo errado e só agregou a maré de hate que a quadrinista seguia sofrendo nos cinemas.

O problema é anterior a este longa-metragem, na verdade. "Batman VS Superman: A Origem da Justiça" não teve a melhor das recepções. Arrecadou bem, mas não o suficiente para agradar executivos, o que resultou em uma série de intervenções em produções como "Esquadrão Suicida" e no próprio "Liga da Justiça", um verdadeiro Frankenstein, como o site The Wrap classificou.

A vontade de tirar Zack Snyder, todavia, vem desde "O Homem de Aço", mas o diretor permaneceu até "Liga", saindo apenas após a morte de sua filha. Joss Whedon já havia sido contratado para reescrever algumas cenas, que tornariam o filme mais leve, e com a saída de Snyder assumiu a direção. O resultado foi aquele filme que bem... preferimos esquecer.

Mad Max: Estrada da Fúria (2015)


"Mad Max: Estrada da Fúria" foi um dos poucos resgates de franquias antigas que valeram a pena, mas a produção sofreu para sair. As gravações do filme estavam previstas para começar em 2010, porém só tiveram início no ano seguinte por conta de chuvas na Austrália, onde a produção seria rodada. Devido as chuvas, todo o cenário desértico apocalíptico desejado por George Miller se tornou um campo de flores silvestres e terra vermelha.

O longa-metragem passou a ser gravado no deserto de Namíbia, no sul da África. A gravação tinha tudo para correr certinho, mas Charlize Theron e Tom Hardy, na época, não se deram muito bem nos sets de filmagem. Somente nesta semana que ambos confirmaram as brigas em um artigo especial do The New York Times sobre o filme.

Theron acredita que faltou um pouco de empatia de sua parte, enquanto Hardy contou que a produção foi bem desgastante. "A pressão sobre nós era esmagadora às vezes. O que ela precisava era um parceiro melhor, talvez mais experiente que eu", desabafou o ator.

Novos Mutantes (2020)


Esse aqui a gente está cansado de falar, não é mesmo? Principalmente por conta dos diversos adiamentos. Entretanto, diferente dos anteriores, este aqui envolve muito mais rumores do que confirmações. A começar por uma suposta refilmagem de 75% da produção que aparentemente nunca aconteceu.

As novas filmagens buscavam trazer um novo vilão e a personagem X-23. O produtor Simon Kinberg, diretor de "X-Men: Fênix Negra", em maio de 2019, chegou a afirmar que as gravações iriam acontecer, mas não há qualquer outra notícia confirmando que o filme realmente sofreu novas filmagens, apenas que seria lançado em sua versão original, segundo Josh Boone, diretor do filme.

Voltando um pouco no tempo, lá em 2018, o filme correu o risco ainda de ser totalmente engavetado junto de "Fênix Negra". Segundo o Comic Book News, alguns acionistas da Disney queriam trabalhar com os mutantes já dentro do Universo Cinematográfico Marvel, começando do zero. Na época, o rumor apontava até mesmo para um possível cancelamento da produção.

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Bastidores é uma coluna quinzenal que busca analisar e trazer curiosidades sobre o cinema enquanto arte e industria. Assinada pelo jornalista José Lucas Salvani, formado em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso e redator de cinema há quase sete anos. 

Reese Witherspoon irá produzir e protagonizar duas comédias românticas da Netflix

Reese Witherspoon por muitos anos foi conhecida como a atriz de "Legalmente Loira", mas nos últimos se arriscou em produções diferentes como "Big Little Lies" e "The Morning Show". Agora, entretanto, ela deve retomar as origens com duas comédias românticas na Netflix. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (13) no Deadline.

Ela basicamente vai entregar tudo que a gente precisava e não sabia, né? Além de protagonizar, ela também vai produzir os dois longa-metragens que, aliás, já possuem títulos: "Your Place or Mine" e "The Cactus".

"The Cactus" é baseado em um livro Sarah Haywood e conta a história de uma mulher que passa a repensar sua vida quando engravida aos 45 anos. Já "You Place or Mine", que contará com a direção de Aline Brosh McKenna ("O Diabo Veste Prada"), acompanha dois amigos que têm suas vidas mudadas quando a personagem de Reese resolve realizar um sonho.

Ainda não há previsão de quando estes filmes chegaram ao serviço de streaming, mas as gravações devem ser iniciadas ao fim da pandemia do novo coronavírus.

Será que vem aí? “Novos Mutantes” ganha nova data de estreia nos cinemas

Após diversos adiamentos, pandemia e pré-venda digital na Amazon, "Novos Mutantes" finalmente ganhou uma data para chegar aos cinemas: 28 de agosto. A data é referente ao lançamento em solo norte-americano, mas em breve deve ser divulgado o dia de estreia aqui no Brasil. Será que agora vai?

Dessa vez parece que sim, mas tudo depende de como estará o cenário de pandemia do COVID-19 nos Estados Unidos e mundo. A nova data foi divulgada de forma oficial no Instagram do filme.



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A nova data de lançamento surpreende porque até semana passada os indícios de que o filme seria lançado de forma digital foram enormes. A própria Amazon listou a produção de Josh Boone por US$ 25, mas nada passou de um bug porque o site ainda levava em consideração sua antiga data de lançamento.

"Novos Mutantes" está atrasado em dois anos. O filme estava previsto para abril de 2018, mas foi adiado três vezes. O primeiro adiamento empurrou a produção para fevereiro de 2019 com a desculpa de que a Fox não queria chocar o lançamento com "Deadpool 2" em alguns mercados. A decisão era correta, mas não sabíamos o que estava por vir daí em diante.

O segundo adiamento não teve muita justificativa. Na época, o ComicBook afirmou que o longa-metragem seria refilmado em quase 50% para a adição de uma nova personagem - que mais tarde descobrimos que poderia ser X-23. Já o próximo adiamento levou o filme para sua última data: abril de 2020, dois anos depois da data original.

Indústria do cinema se prepara para retomar filmagens ainda neste ano

Alguns países conseguiram lidar melhor com a pandemia do que o Brasil, e isso nem é tão difícil, basta ver como o governo está lidando com esta tragédia, que já dizimou milhares de brasileiros nos últimos 2 meses. Exemplos disso são a Coréia do Sul, a Austrália, a Nova Zelândia e a própria China, local inicial do problema.

Timidamente, estes países começam a planejar a retomada das produções hollywoodianas e locais, já que grandes estúdios tentam estancar a perda gigantesca de dinheiro que estão sofrendo com a paralisação mundial, tanto da exibição quanto da confecção de novos filmes.

O começo deve ser com as produções que foram interrompidas, vai demorar um pouco mais até que alguém se atreva a filmar algo novo, com orçamento que coloque a película entre os filmes mais caros da história do cinema. Ninguém quer perder ainda mais dinheiro, sob pena de ter que parar tudo outra vez, com o vírus reaparecendo.

A China tentou reabrir as salas de cinema e foi obrigada a fechar novamente. Pequenos focos de Covid reapareceram. A Austrália já está organizando a volta também, mas foi a Nova Zelândia – país que pode ser considerado como o que lidou mais responsavelmente em relação à pandemia – que saiu na frente.

Cenário de filmes muito famosos como King Kong, O Hobbit e outros, ela já liberou o início da retomada dos trabalhos que foram totalmente paradas por causa do Coronavírus. Os produtores da série televisiva baseada no best-seller O Senhor dos Anéis e da continuação do bem sucedido Avatar já recomeçaram a trabalhar.

Percebendo que podem perder menos dinheiro, transferindo a filmagem para o país dos Maoris, outros diretores e grandes estúdios já falam em recomeçar algumas filmagens por lá também. A Nova Zelândia pode acabar se tornando o epicentro cinematográfico mundial nos próximos meses, caso as coisas continuem caminhando dentro da normalidade.


Até mesmo nos Estados Unidos, grande epicentro atualmente do problema de saúde pública mundial, os donos de conglomerados de salas de cinemas já falam na volta. É muito dinheiro envolvido, o prejuízo do setor ainda é incalculável, tanto localmente quanto em todos os países do globo.

A princípio, o retorno deve acontecer com o lançamento de filmes que atraem grandes bilheterias, já que as salas de cinema não deverão obter autorização para receberem lotação completa. Atraindo uma quantidade razoável de pessoas por sessão, os prejuízos podem ser diminuídos.

A adaptação de Mulan e a continuação do sucesso Mulher Maravilha – o passado em 1984 – encabeçam a lista de primeiros lançamentos pós-Covid. Os produtores apostam que o publico ficará dividido entre os que não agüentam mais ficar em casa e aqueles ainda assustados com a pandemia. Uma média entre eles irá re-estrear as salas escuras. 


Outros produtores, ainda receosos desta volta, preferem apostar no retorno com grandes sucessos do passado e filmes clássicos, para testar a audiência. Harry Potter, De Volta para o Futuro, Star Wars são alguns dos títulos citados para este “teste”. 

No Brasil, pequenos empresários do ramo cinematográfico começam a temer o fechamento de algumas salas de cinema. Está tudo parado há mais de 1 mês. Sem nenhum dinheiro entrando no caixa e quase nenhuma perspectiva de volta nos próximos dias, o que fazer?

Já na Europa, os planos de reabertura de salas têm até data marcada: Junho! A princípio, somente 1 terço das salas poderiam ser preenchidos, e apenas nos cinemas de rua. Os shoppings continuam fechados. Por aqui, quase não há mais salas fora destes estabelecimentos, como prever esta volta?

Tom Cruise vai gravar o primeiro filme no espaço com ajuda de Elon Musk

Tom Cruise é famoso por dispensar dublês em suas cenas de ação - sejam perigosas ou não. O cientólogo já se machucou várias vezes, mas nunca pensou em parar e em breve deve elevar o nível: ele vai gravar o primeiro filme no espaço da história. A informação foi confirmada nesta terça-feira (5), pela própria NASA. O filme ainda contará com a ajuda de Elon Musk, marido da Grimes e CTO da SpaceX.

Até o momento da publicação desta matéria, o filme sequer está vinculado a um estúdio e sua trama também não foi revelada, mas já é possível dizer que não deve fazer parte da franquia "Missão: Impossível". Sabemos apenas da locação do filme: Estação Espacial Internacional (ISS), mas não vamos ficar surpresos se Cruise gravar algumas cenas externas.

O longa-metragem também não tem qualquer previsão de lançamento visto que está em seus estágios iniciais, mas se organizar certinho dá para levar a Lady Gaga, né? A gente sonha com a performance no espaço até hoje. Esperamos que o filme, assim como a prometida apresentação, não morra na praia.

Ainda sem data de lançamento, “Novos Mutantes” entra em pré-venda digital na Amazon

Parece que agora vai, gente. "Novos Mutantes", aquele filme de terror dos X-Men adiado quatro vezes, entrou em pré-venda digital nesta segunda-feira (04) no site da Amazon dos Estados Unidos. O longa-metragem estava previsto para abril deste ano, mas foi adiado devido ao novo coronavírus, assim como boa parte das produções previstas para até julho.


O filme está sendo vendido por US$ 25, mas não possui qualquer data de lançamento. Até o momento da publicação deste texto, Disney e Fox não se pronunciaram sobre a pré-venda, mas o lançamento deve ser oficializado em breve visto que os estúdios retomaram sua divulgação promocional com novas imagens do filme.

"Novos Mutantes" está atrasado em dois anos. O filme estava previsto para abril de 2018, mas foi adiado três vezes. O primeiro adiamento empurrou a produção para fevereiro de 2019 com a desculpa de que a Fox não queria chocar o lançamento com "Deadpool 2" em alguns mercados. A decisão era correta, mas não sabíamos o que estava por vir daí em diante.

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O segundo adiamento não teve muita justificativa. Na época, o ComicBook afirmou que o longa-metragem seria refilmado em quase 50% para a adição de uma nova personagem - que mais tarde descobrimos que poderia ser X-23. Já o próximo adiamento levou o filme para sua última data: abril de 2020, dois anos depois da data original.

Selecionamos quatro filmes que mostram a importância do jornalismo para a sociedade


Na tarde do último domingo (3), coincidentemente Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, uma série de vídeos começou a circular na internet. Nas imagens que tomaram as redes sociais, jornalistas do Estadão são agredidos com chutes, murros e empurrões por apoiadores de Jair Bolsonaro enquanto cobriam mais uma das manifestações a favor do presidente na Esplanada dos Ministérios.

Em meio à crise causada pela pandemia do novo coronavírus que toma o mundo inteiro, não só jornalistas, mas até mesmo profissionais da saúde estão sendo atacados verbal e fisicamente por apoiarem uma medida mais qualificada de isolamento social.

Nesse momento, é importante relembrar que ambos os trabalhos são fundamentais à população e merecem o respeito de todos. Para ressaltar a importância do jornalismo e seu papel para a sociedade, separamos quatro filmes que falam diretamente sobre o tema. Veja:

Spotlight (2015)


Baseado em uma história real e vencedor das categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro Original no Oscar, o longa dirigido por Tom McCarthy conta sobre a editoria “Spotlight”, do jornal Boston, direcionada para trabalhos investigativos. Em 2001, a redação reuniu uma série de documentos para denunciar casos de pedofilia por parte de padres em Massachusetts. O material foi publicado em 2002, e no ano seguinte recebeu o Prêmio Pulitzer de Serviço Público.

Cidadão Kane (1941)


Escrito, dirigido e produzido por Orson Welles, o filme considerado uma obra-prima do mercado cinematográfico é, possivelmente, baseado na vida de William Randolph Hearst, um magnata do jornalismo. A suposição, no entanto, sempre foi negada publicamente por Welles.

Na produção, é contada a história de Charles Foster Kane, que teve uma infância difícil, mas se tornou um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos. Após sua morte, um jornalista recebe a tarefa de investigar a vida de Kane, com a intenção de descobrir o propósito de uma das últimas palavras ditas por ele.


Todos os Homens do Presidente (1976)


Outra produção que é muito importante para conhecer mais sobre o jornalismo é “Todos os Homens do Presidente”. O longa aborda o escândalo Watergate, que causou a renúncia do ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, em agosto de 1974.

O “Caso Watergate”, noticiado em 1972 pelo jornal Washington Post, foi uma investigação criada após a invasão de cinco homens na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate. Com ajuda de fontes, dois repórteres conseguiram fazer uma conexão entre os invasores e funcionários da Casa Branca.

The Post - A Guerra Secreta (2018)


O longa protagonizado por Meryl Streep, no papel de Kat Graham, e Tom Hanks, interpretando Ben Bradlee, também aborda o caso Watergate, aqui narrado por dentro do The Washington Post e do mercado jornalístico. Quando o New York Times é punido pela Lei de Espionagem, o jornal comandado por Graham precisa decidir se publica ou não o material que incrimina o presidente norte-americano. Uma escolha entre possivelmente acabar com a empresa ou proteger a liberdade de imprensa.

Bônus: Holocausto Brasileiro (2013)


O livro de Daniela Arbex relata uma história que por muito tempo foi jogada pra debaixo do tapete. Na reportagem, a jornalista brasileira denuncia um dos grandes genocídios do Brasil, no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena do Brasil, em Minas Gerais.

Mais de 60 mil internos morreram no local, entre eles pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, mães solteiras, alcoólatras, etc.

Além de “Holocausto Brasileiro”, Arbex também é autora de outros dois livros-reportagem: “Cova 312: A Longa Jornada…” e “Todo Dia a Mesma Noite”.


Lista: 10 filmes sobre as complexidades da maternidade

A relação mais universalmente humana é a de uma mãe com suas crias. De histórias de amor incondicional até as dificuldades desse elo (supostamente) natural e a ruptura de um amor absoluto, a maternidade foi tema de inúmeros filmes que ousam desafiar os meandros do relacionamento. Essa lista é sobre isso.

Selecionei 10 filmes do cinema contemporâneo que abordam a maternidade nos mais diversos contextos. De dramas russos até terrores norte-americanos, são filme que, ou possuem o relacionamento como palco principal, ou que são elementos fundamentais da trama. Bom deixar claro que não se tratam de fitas para se ver no almoço de domingo, e sim películas que estão interessadas em discutir as complexidades da maternidade e o que significa a relação - acho bem mais interessante trazer obras que discorram de maneiras não óbvias uma das bases da nossa sociedade. Todos os textos são, como sempre, livres de spoilers.


Tully (idem), 2018

Direção de: Jason Reitman, EUA.
Marlo, mãe de dois, está esperando o terceiro e não planejado filho. Uma das crianças possui um problema de desenvolvimento que médico nenhum consegue diagnosticar, e a mulher se vê afogada em ansiedade sobre os desafios que já possui e os que ainda estão pela frente, até que surge Tully, a babá. A maternidade é um evento dito como o maior na vida de uma mulher, um período fabuloso que não pode ser definido por nada além de “uma dádiva”, então é muito subversivo ver como “Tully” se preocupa em quebrar essa imagem de glamourização: é claro que a gravidez é um marco, todavia, ninguém tem coragem de contar todos os lados não-tão-agradáveis. 

Mommy (idem), 2014

Direção de: Xavier Dolan, Canadá.
"Mommy", quinto filme de Xavier Dolan, retoma o tema central de seu cinema, retratando o relacionamento conturbado de Steve, o filho, e Die, a mãe. O garoto, cheio de transtornos mentais, toca o terror onde passa, dificultando a vida da mãe. A situação muda quando eles conhecem Kyla, sua vizinha, que passa a integrar a família. O filme usa de uma sacada visual sensacional: a maior parte dele se passa dentro de um quadrado. Não temos a tela cheia, apenas um quadrado, refletindo a situação claustrofóbica e tensa dos personagens. Quando eles conseguem algum momento de paz, a tela literalmente se abre, num efeito belíssimo que consegue deixar uma marca visual sem precedentes.

Hereditário (Hereditary), 2017

Direção de: Ari Aster, EUA.
Um dos mais refinados terrores já feitos, “Hereditário” já é aberto com a morte da matriarca de uma família. Quem assume as rédeas é Annie, que não espera que a ida da avó iria impactar permanentemente a vida dos dois filhos. Um dos maiores sucessos do filme de estreia de Ari Aster é em desenvolver caprichosamente o drama familiar, principalmente o quão tenso se torna o laço entre Annie e o filho mais velho. Annie é a força-motriz de todo o enredo e é muito interessante ver o limiar entre amor e ódio que tragédias podem traçar no seio de uma família.

Projeto Flórida (The Florida Project), 2017

Direção de: Sean Baker, EUA.
Contado através da ótica das crianças, a produção é o retrato agridoce de uma fatia esmagada à margem e varrida para debaixo do tapete: a nova geração de sem tetos. Carregado por uma das melhores performances da década – de Brooklynn Prince, que tinha SEIS anos durante as filmagens –, seguimos os pequenos criando seus contos de fada para burlarem aquela precária condição, culminando num dos finais mais puros e desoladores já colocados na tela do Cinema. Quem liga o público e as crianças é Halley, mãe adolescente que claramente não tem noção da responsabilidade que possui.

Ondas (Waves), 2019

Direção de: Trey Edward Shults, EUA.
Um jovem lutador tem um empecilho na carreira quando sobre uma lesão. Ainda por cima, sua namorada está grávida e sem intenção de abortar, o que o faz entrar em uma espiral de ódio. "Ondas" é um drama muito realístico que se senta no meio de uma família e como os atos do protagonista impactam a todos. Quem tenta sustentar tudo é a mãe adotiva do garoto, que, mesmo sendo atacada por não ser a mãe biológica, permanece de pé para o que é mais importante, sua família, provando que laços vão muito além do sangue.

A Hora de Voar (Lady Bird), 2017

Direção de: Greta Gerwig, EUA.
Christine Lady Bird McPherson está saindo da escola e vê seu universo como um utóptico conto de fadas. Porém a princesa aqui não possui um castelo, nem príncipe encantado, nem sapato de cristal. Fazendo o contraponto perfeito da solar personalidade de Lady Bird temos sua fada madrinha, sua mãe Marion. Sua personagem é deveras complexa: devendo cuidar da casa, ela se vê com a responsabilidade de cuidar do marido desempregado e depressivo, dos filhos nada fáceis e da sua própria vida, dividida entre o papel de dona de casa e enfermeira com jornada dupla. Mesmo totalmente diferentes, as duas devem aprender a colocar o incontestável amor acima de tudo.

Nessa atual e urgente onda feminina de denúncias contra abusos, acompanhar a luta de uma mãe em busca de justiça pela morte da filha é a história que precisávamos ver. Um dos mais originais e bem escritos roteiros da década “Três Anúncios” deixa chover sarcasmo para apontar o dedo na cara da hipocrisia, do ódio e de como caminhamos sob uma estrutura aparentemente sem conserto. Com seus personagens escancaradamente conturbados e situações ácidas, temos em mãos uma produção atemporal - ou você acha que Frances McDormand, vencedora do Oscar pelo papel, querendo honrar a memória da filha e colocando todos os homens ao redor em seus devidos lugares não será um clássico?

Que Horas Ela Volta? (idem), 2015

Direção de: Anna Muylaert, Brasil.
A maior obra-prima do nosso cinema nessa década e pilar central dos novos rumos que viriam a seguir, "Que Horas Ela Volta?" transcende a barreira regional para entrar no panteão internacional ao unir uma história que tanto reflete as rachaduras da nossa sociedade quanto universaliza seus dramas. Carregado por uma louvável atuação de Regina Casé, que não assustaria caso fosse indicada ao Oscar, o próprio título surge a partir da indagação de um filho sobre sua mãe. O longa de Anna Muylarte – que teve o título traduzido para “A Segunda Mãe” no mercado estrangeiro – mostra um lado cultural bem brasileiro, a de empregadas cuidando dos filhos de outras mulheres. Mas e os filhos dessas empregadas?

As Filhas de Abril (Las Hijas de Abril), 2017

Direção de: Michel Franco, México.
As Filhas de Abril" tem uma menina de 17 anos que faz de tudo para que a mãe não descubra sua gravidez. Quando Abril tem a revelação, ela se mostra compreensiva e apta a ajudar no que puder, retrato de uma sororidade lindíssima entre aquelas mulheres. Pobre coitada da plateia que não tem ideia do abismo logo ali do lado. Falar mais que isso é entregar a história, todavia, essa é uma película que demonstra o próprio slogan: "o amor de uma mãe não conhece limites". Prepare-se para ver seu queixo cair.

Sem Amor (Loveless), 2017

Direção de: Andrey Zvyagintsev, Rússia.
Um casal à beira do divórcio nutre ódio mútuo que torna a mera aproximação insustentável. Sobra para o filho deles, esquecido e renegado, já que os pais estão ocupados demais se odiando. Quando o menino foge e desaparece (após uma das cenas mais devastadoras do ano – a da porta), a mãe deverá deixar de lados as diferenças para achar a criança. A situação extrema costura seus personagens de maneira homeopática, construindo uma trama universalmente afiada que consegue tirar a fé do espectador pelos momentos frios e egoístas do homem. “Sem Amor” é nome absoluto do que há de melhor da misantropia na Sétima Arte. Nem todo mundo nasceu para ter filhos.

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