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Album Review: a música precisava de The Weeknd e a foda reflexiva do seu ‘Beauty Behind The Madness’

Quando somos pequenos, acreditamos que o futuro está muito distante e, por isso, ficamos muito apegados aos trabalhos de ídolos que também podem sofrer mudanças ao longo dos anos. Crescendo na década de 90/00 é impossível não lembrar do rock do Linkin Park, Blink 182 e Good Charlotte, ou de uma das eras mais aclamadas do pop, com nossas rainhas Britney, Christina e Pink nas suas melhores fases. No entanto...e o R&B, galerinha? O R&B tinha um nome: Usher Raymond!

Album Review: em 'I Cry When I Laugh', Jess Glynne justifica todo o hype e mostra que veio pra ficar!

Há mais de um ano, nós apresentamos a, então desconhecida, Jess Glynne, cantora e compositora britânica, de 24 anos, buscando ascensão, com seu som predominantemente deep house, voz forte e sensual, nas músicas "Home" e "Right Here". Mas, infelizmente, foram poucos que deram bola à época. Como a roda gigante do pop roda numa velocidade absurdamente rápida, agora estamos aqui para soltar aquele famoso "Nós avisamos!".

Album Review: a fábula explícita de Melanie Martinez com seu 'Cry Baby' é feita com muito açúcar e veneno

"A garota mais triste ela tinha que ser. Lágrimas salgadas rolam pelas suas bochechas. Seu coração é maior que seu corpo. O nome dela é Cry Baby". Assim começa Melanie Martinez no encarte do seu álbum de estreia, "Cry Baby". O conceito de garota melancólica é há tempos usada na arte, e a música não foge disso, com Lana Del Rey sendo a rainha desse grande bloco do Queria Estar Morta, porém a abordagem de Melanie é bem diferente.

Enquanto Lana usa da imagem de femme fatale para criar uma áurea misteriosa e perigosa, nossa boneca se utiliza de artefatos infantis. Começando pelo alter ego, a Cry Baby, uma personagem psicologicamente destruída que acaba destruindo tudo a sua volta, mesmo por baixo de muitos babados cor de rosa. Esse paradoxo do mundo infantil com as letras do material formam um todo bastante complexo e que merece ser ouvido com cuidado. 

O álbum é aberto pela faixa-título, "Cry Baby", que logo de cara possui choros e risadas de bebês reais fundidos ao instrumental. A canção é a apresentação da personagem que será seguida por nós a partir de agora. Logo no primeiro verso já somos introduzidos à personalidade da Cry Baby: "Você parece que trocou seu cérebro com seu coração. Você leva as coisas a sério demais, e por isso desmorona. Você tenta se explicar, mas antes de começar essas lágrimas de bebê saem no escuro".

Notamos logo que a personagem é uma pessoa extremamente emocional, mas que possui personalidade forte acima de tudo quando Melanie canta "Eles te chamam de bebê chorão, mas você está pouco se f*dendo". A prova de que a Cry Baby se confunde com a própria intérprete vem nos versos "Eu olho para você e vejo eu mesma. Eu te conheço melhor do que ninguém. Eu tenho a mesma torneira nos meus olhos, então suas lágrimas são minhas. Eles me chama de bebê chorão". Segundo Melanie, a personagem foi criada baseada em situações vividas por ela própria (o que assustará com o decorrer do álbum).

Na próxima canção, "Dollhouse", single extraído do "Doullhouse EP", conhecemos então a família da personagem. Numa metáfora com uma casa de bonecas, a cantora nos convida para adentrarmos pelos corredores da residência, e vemos coisas nada agradáveis. "Você não me ouve quando eu digo 'Mãe, por favor, acorde, papai está com uma puta e seu filho está fumando maconha'. Ninguém nunca escuta. Não deixe eles verem o que se passa na cozinha". A situação fica ainda mais crítica quando ela é obrigada a posar ao lado dos parentes como uma falsa família perfeita:  "Sorria para a foto, pose com o seu irmão, você não vai ser uma boa irmã? Todo mundo pensa que nós somos perfeitos. Por favor, não deixe eles olharem através das cortinas". No final ainda fala "Eu vejo coisas que ninguém mais vê".


Continuamos o tour pela casa e vamos conhecemos mais dos seus segredos. Em "Sippy Cup" a Cry Baby revela um forte motivo para a desestruturação familiar: seu irmão, ainda bebê, morreu: "Ele continua morto quando você termina de tomar a garrafa. Claro que é um cadáver que você mantém no berço. Crianças continuam deprimidas mesmo que bem vestidas e xarope continua sendo xarope dentro de uma mamadeira". Entre barulhos de copos sendo enchidos, ela discorre a rotina da mãe, que vai desde uma alienação midiática ("Se eles lhe oferecerem uma nova pílula, então você vai comprar"), até um descaso com a própria saúde ("Você coloca pesos nos bolsos quando visita o médico") e, uma das frases mais compartilhadas do álbum, "Toda a maquiagem do mundo não vai te deixar menos insegura".



Saindo dos problemas familiar, Cry Baby começa a contar seus próprios dilemas internos. Em "Carousel" (que foi música-tema de "American Horror Story: Freaky Show" - para se ter ideia do nível), a personagem conta como teve seu coração quebrado por um falso amor. "Correndo atrás de você é como um conto de fadas, mas eu sinto que estou colada firmemente nesse carrossel. Por que você roubou meu coração de algodão doce? Você o jogou nesse maldito buraco de moedas e agora estou presa. Cavalgando, cavalgando, cavalgando...". A faixa, cheia de sons de circo, é menor comparada às outras do álbum, mas prepara o terreno para a continuação do amor enfermo da Cry Baby na próxima canção.

Em primeiro lugar é importante frisar que "Alphabet Boy" é uma das melhores faixas de todo o álbum. A simbologia aqui é com aqueles bloquinhos de brinquedo com o alfabeto. O dono? O ex amado da Cry Baby. O garoto, letrado, adora jogar sua verborragia em cima da nossa pobre protagonista, que cansou da bagunça e decide jogar tudo de volta:  "Eu sei os meus A-B-C's e ainda assim você continua me ensinando. Eu digo 'FODA-SE O SEU DIPLOMA, GAROTO ALFABETO'". Numa perfeita composição feita com aliteração (perceba que os quatro primeiros versos foram compostos com as quatro primeiras letras do alfabeto) que nada pelos sininhos de ninar até a superioridade intelectual, "Alphabeat Boy" é o hino do "chega!". Melhor frase de toda a (genial) letra: "Se você exibir esse diploma e eu matar você, não fique surpreso". Gritos.

Aí que em "Soap" a Cry Baby notou que deixou a torneira aberta e falou coisas que não devia, mesmo estando farta de aguentar tudo calada: "Estou cansada de andar cuidadosamente na ponta dos pés tentando manter a água quente. Eu falei tanto que transbordou. Por que eu sempre derramo?". O que resta então? Como toda criança malcriada, lavar a boca com sabão. Enquanto a ponte é uma melodia crescente que nos carrega sem sabermos exatamente aonde vamos, o refrão é um trap absurdamente incrível feito com o barulho de bolhas (!!11!1!11!). Pois é, a ponte nos jogou dentro da banheira. A produção de "Soap" é tão genialmente óbvia que é impossível não deixá-la no repeat por um tempo só para ouvirmos mais uma vez o refrão com efeitos sonoros de bolhas. Gente?!



"Training Wheels" é o mais próximo de uma balada que o álbum chegará. Produzida sob toques de brinquedos infantis e barulhos de rodas, Cry Baby está amando novamente, e dessa vez parece que é pra valer. "Eu amo tudo o que faz, quando você me chama de burra pra caralho pelas merdas que eu faço. Eu quero pedalar em minha bicicleta com você, completamente despida e sem rodinhas de trás. Eu vou tirá-las para você". A canção, tão fofa que dá azia, trata exatamente da entrega do relacionamento, e como abdicamos de coisas em prol da relação, o que inevitavelmente nos deixa vulneráveis - como a Cry Baby andando na bicicleta sem as rodinhas de apoio.

Chega então o aniversário da personagem, que, toda feliz, decora a casa inteira com laços em tons de pastel em "Pity Party". Só que ninguém aparece - nem o menino que a fez tirar as rodinhas.  "Meus convites desapareceram? Por que eu coloquei meu coração em cada letra cursiva? Me diga porquê diabos ninguém está aqui. Talvez seja uma piada cruel para mim". Usando de forma certeira um sample da composição do clássico "It's My Party" de Lesley Gore ("É minha festa e eu choro se quiser"), lançada em 1963, a festa dos sonhos se torna um pesadelo nesse legítimo hino pop que é "A" melhor faixa do "Cry Baby". Mesmo sendo algo devastador para a personagem, que destrói o recinto num ataque de raiva, é mais doce que o bolo de aniversário assistirmos a toda essa loucura pop que deve em nada aos melhores exemplares do gênero vindo das grandes divas.



Cry Baby revoltada sai para dar uma volta e encontra o homem do sorvete. Ela não está muito interessada em provar nada doce depois de sua amarga festa, mas o homem continua a segui-la em "Tag, You're It". "Me observando através da sua janela, seus olhos pularam para fora um pouco. 'Eu vou te cortar e fazer pra você um jantar'. Abaixando sua janela matizada e dirigindo perto de mim bem devagar ele disse: 'Deixe-me te levar para um passeio. Eu tenho um pouco de doce para você aqui dentro'". A faixa, com sons de carro do sorvete, é uma assustadora canção sobre abuso e pedofilia (note como ela coloca vocais modificados na hora que canta as falas do seu lobo mal, para criar a imagem de medo que ele transmite). A produção com cheiro de açúcar deixa tudo estranho quando ela canta de forma quase transtornada no final "Correndo pelo estacionamento ele me perseguiu e não queria parar. Agarrou minha mão, me puxou para baixo, pegou as palavras direto da minha boca". Pesada.

Presa pelo homem do sorvete é hora de Cry Baby se vingar. Usando toda sua delicadeza, ela conquista a confiança do lobo mal em "Milk And Cookies" e vira o jogo ao conseguir envenená-lo: "Silêncio, queridinho, beba seu leite estragado. Eu sou louca para caralho. Você gosta dos meus biscoitos? Eles foram feitos só para você. Um pouco de açúcar, mas muito veneno também". O desconforto continua enquanto Melanie canta cheia de doçura como matou o cara, em versos líricos e cheios de toxina.  "Preciso colocar você na cama. Cantar para você uma canção de ninar onde você morre no final". O refrão é nada menos que avassalador, principalmente quando caímos no instrumental com Melanie apenas ninando o agora morto homem do sorvete.

Como uma clássica figura feminina destruída que retorna por meio da vingança, Cry Baby sai das garras do lobo mal pronta pra mais um abate. "Pacify Her" conta como ela rouba o namorado de uma garota que ela odeia. A matança continua com "Garoto cansado anda pelo meu caminho segurando a mão de uma garota. Aquela vadia básica finalmente vai embora, agora eu posso tomar o homem dela. Alguém me disse para ficar longe de coisas que não são suas, mas como ele era seu se ele me queria tanto?". Quando ela consegue o que quer, a garota saqueada chora até irritar a Cry Baby, que pede pro cara acalmá-la. É tudo tão absurdinho, dos suaves toques até a letra onde a protagonista desiste do amor e se transforma numa destruidora de lares, que funciona.

Cry Baby agora está no topo do mundo, completamente dona de si própria e amando cada vez mais o caos. "Mrs. Potato Head"  é uma análise crítica sobre o mundo das cirurgias plásticas e a busca pela beleza e perfeição, representados pelo brinquedo Cabeça de Batata (aquele onde podíamos montar o rosto dele inteiro). "Oh, Senhora Cabeça de Batata, me diga: é verdade que a dor é bonita? Um novo rosto vem com garantia? Um rosto bonito vai tornar isso melhor? Oh, Senhor Cabeça de Batata, me diga: como você pagou a cirurgia dela? Você promete que vai ficar para sempre mesmo que o rosto dela não fique junto?". Aqui Melanie traça um processo de "adultização" da infância, com crianças cada vez mais cedo se preocupando com estética e deixando de ser o que realmente são: crianças. A canção é belíssima, possui uma das melhores letras do álbum e tem um refrão glorioso.



Então Cry Baby chega ao fim da sua saga e aceita seu eu interior da forma que é em "Mad Hatter". Caindo na toca do coelho e parando no País das Maravilhas, Cry Baby é uma Alice mais consciente por abraçar sua loucura ao invés de questioná-la. "Os normais, eles me fazem sentir medo. Os malucos, eles me fazem sentir sã. Sou doida, querido, sou maluca. Você acha que sou psicopata, você acha que estou acabada. Diga ao psiquiatra que algo está errado. Te digo um segredo, não estou assustada. E daí se sou louca? As melhores pessoas são". Com uma pegada mais forte, flertando com o hip-hop, o álbum encerra-se com um tom elevado, bem diferente do que poderíamos prever. Cry Baby enfim encontrou a paz interior (através do caos exterior).

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RESUMINDO: Vários comentários e críticas caíram em cima do "Cry Baby" por ele "repetir temas", ou "fazer músicas similares". Melanie, antes de tudo, criou um conceito. Ao invés de utilizá-lo de forma acessória, como a gigantesca maioria dos álbuns fazem, ela manteve o eixo central firme para costurar ao redor dele. Quantos álbuns que você conhece fizeram isso? Ao invés de usar a faixa-título para hastear da bandeira, com as outras unindo-se sem grandes eixos, o "Cry Baby" possui TODAS as canções interligadas, contando uma história com início, meio e fim. Os temas se repetem, claro, mas isso é o desenvolvimento do próprio conceito. É só notar com as canções suplantam umas às outras e como suas abordagens interferem diretamente no andar da carruagem. "Pity Party" e "Milk And Cookies" são as duas faixas que controlam as mudanças da personagem, e passear por um álbum onde suas músicas não são apenas enfeite é apoteótico.

"Cry Baby" é uma evocação pop brilhante por todos os elementos, e estamos falando de uma artista com apenas 20 anos de idade. Mas, acima de tudo, trata-se de um álbum perigoso. Os temas nele tratados são macabros - assédio, morte, violência, auto-destruição, pedofilia, insanidade -, e tudo feito dentro duma embalagem atraente, colorida, doce e infantil. A linha entre abordar e fazer apologia e/ou banalização é tênue, porém, o "Cry Baby" não é um álbum infantil e em hipótese alguma destinado para esse público. Como o selo de "Conteúdo explícito" já avisa, é um álbum para adultos.

Nos colocando em posição privilegiada, Melanie Martinez conseguiu tanto nos encantar por sua doçura e proeza nas composições como nos deixar estarrecidos pelo peso de seus versos. Como um paradoxo perfeito e raro dentro do cenário pop, o "Cry Baby" é um híbrido de açúcar e veneno que não conseguimos deixar de consumir. Direto nas nossas veias.

Album Review: dos anos 80 aos 2000, o ‘Veneno’ da Banda Uó brinca com as décadas passadas, mas os garante para o futuro

Faz 4 anos desde que um trio de Goiânia, formado pelos amigos Mateus Carrilho, Davi Sabbag e Candy Mel, quebrou a internet com uma versão de “Whip My Hair”, da Willow Smith, com muita inspiração vinda do eletrobrega brasileiro e, o principal, uma letra pra lá de escrachada, baseada na história ~de amor~ da Luciana Gimenez com o roqueiro Mick Jagger.

“Shake de Amor” parou a internet por inúmeros motivos. Em primeiro lugar, estávamos diante de uma das produções pop mais divertidas dos últimos anos no Brasil, com uma proposta lírica e sonoramente 101% menos engessada do que qualquer outro artista do gênero no Brasil; em seguida, vínhamos também com uma surpresa pela qualidade do seu clipe, naquele tempo produzido e lançado de forma independente, também deixando no chão qualquer artista com grandes orçamentos por aqui, além de mandarmos de vez para o espaço aquela história de que “clipes nacionais não devem ser comparados com os gringos, porque a gente não tem as mesmas estruturas, né?” e logo depois tínhamos ainda todo o contexto em que eles chegaram até nós, por trazer esse pop escrachado, descarado, e com um grupo formado por dois gays e uma mulher trans negra lindíssima e extremamente confiante do que representava.



Album Review: na igreja do Years & Years, nós de joelhos veneramos o 'Communion'

Quando conhecemos o trio Years & Years ano passado com o hino "Take Shelter", já sabíamos que ali havia algo a ser acompanhado. Liderado por Olly Alexander e apoiado por  Mikey Goldsworthy e Emre Türkmen, o grupo britânico foi logo recebendo indicação à célebre lista "Sound of 2015" da BBC, que lista quais são as apostas musicas do ano. E não é que eles venceram?

Album Review: os anos 80 estão oficialmente de volta em ‘E•MO•TION’, terceiro álbum de Carly Rae Jepsen

Demorou, mas agora podemos dizer com a maior certeza do mundo: a música pop está numa ótima fase. Foi difícil aguentar tantas artistas se desdobrando entre mil e um flertes com mil e um gêneros, na esperança de que pelo menos um dos seus tiros atingissem um nicho e, desta forma, a consagrasse como a próxima grande coisa, e ainda presenciamos as principais cantoras da nossa geração, Katy Perry, Rihanna e Lady Gaga, encontrando dificuldades para vender seus trabalhos e foi quando aceitamos que realmente estávamos em crise, mas o momento da ressurreição começou.

Album Review: a música pop precisava de Hilary Duff e seu ‘Breathe In. Breathe Out.’

Hoje em dia, ser uma grande estrela da Disney não significa lá tanta coisa, principalmente porque, na maioria das vezes, o que essas estrelas mais querem é ter alguma relevância quando DEIXAREM de ser uma grande estrela da Disney, mas há uma década, as coisas não eram bem assim e, certo, um título como “princesinha da Disney” era o equivalente à artista referência para toda uma geração de adolescentes que tivessem acesso aos programas da emissora.

Album Review: Adam Lambert faz de 'The Original High' o limite da perfeição em sua melhor forma!

Em "For Your Entertainment" (2009), Adam Lambert trouxe seu lado mais pop à tona, de forma teatral e impecavelmente deliciosa. Com o "Trespassing" (2012), ele trouxe uma evolução notável, inspirada na disco e no funky, porém, um ano antes da tendência que viralizaria no mercado sonoro mundial. Agora, em 2015, "The Original High" talvez dite outra tendência, mas, de coração, esperamos que esteja no tempo certo.

Album Review: Giorgio Moroder e a sensação de que já ouvimos isso antes em ‘Déjà Vu’, seu fantástico novo álbum cheio de participações


Todo mundo reconhece o valor da Disco Music, principalmente no que diz respeito a minorias, afinal este ritmo se difundiu com o suporte dos gays, negros e latinos, na década de 70. Numa época onde não se falava em outra coisa além do Rock’n Roll, estes grupos sociais se viam preteridos e necessitavam de espaços voltados para suas culturas e gostos. Muito importante como movimento de contracultura e libertação, o conceito de “diva” toma sua forma final aqui. Obrigado por tudo, Donna Summer!

Donna Summer foi a Madonna das discotecas. Suas músicas dançantes eram envolventes e seus vocais incríveis. Sabe aquela parte de “Naughty Girl” da Beyoncé: “I love to love you baby”, pois então...Sample de um dos maiores hits de Donna, “Love To Love You Baby”, que assim como outros (“Hot Stuff”, “On The Radio”, “I Fell Love”, etc), transformaram ela na Queen of Disco. Uma verdadeira diva!

Entretanto, ninguém ascende sozinho e, grande parte do trabalho de Donna Summer foi feito em parceria com um certo escritor e produtor, só que a coisa mais rara é vermos esses profissionais receberem o crédito merecido da mídia. No entanto, este foi um dos casos raros e muita gente conhece e fala sobre a importância do trabalho de Giorgio Moroder para a música. Depois de 30 anos desde seu último lançamento, “Innovisions”, Moroder nos entregou a obra “Déjà Vu” e ela está recheada de coisa boa para comentarmos.

É aqui a Década de 70 Tour?

“4 U With Love”: O álbum é iniciado com uma EDM nervosinha. Esta faixa é aquele momento no qual Giorgio mostra suas habilidades como produtor. A junção de sintetizadores e a influência do house na EDM, fazem de “4 U With Love” uma espécie de intro. Não nos entrega muito do álbum, mas vá se levantando.

“Déjà Vu (feat. Sia): É o segundo single que realmente abre os trabalhos e aonde tem Sia, tem samba, e aqui não foi diferente. Os vocais da australiana casam perfeitamente com os sintetizadores de Moroder, e ele cria um verdadeiro hino, que poderia muito bem fazer sucesso hoje e ter feito também na época em que nossas mães iam para as discotecas. Um arraso de faixa, com uma marcação de guitarra, para ninguém ficar parado. Em sua letra, o tema é amor, e isso é mais  uma característica da disco music, cuja idéia é falar de amor, alegria, festa e dança. Pra que melhor do que isso? “I’ve fallen for you, I’m feeling a déjà vu...Déjà Vu”.



“Diamonds (feat Charli XCX)”: Mostrando que está antenado nas tendências, Giorgio utiliza muito bem a sonoridade de Charli XCX e mistura um synthpop com disco, que atinge um ápice em um refrão de batidas frenéticas. Mais um destaque para o disco. Em uma sonoridade intergaláctica, Charli canta sobre um amor que mais parece um Cartier. E a voz de Moroder, cheia de autotune, falando “Diamonds” entre cada estrofe deu um charme a mais a música. Vários pontos para a produção.



“Don’t Let Go (feat Mikky Ekko)”: Destruindo carreiras, “Don’t Let Go” é algo que esperamos da Robyn, mas não ficou menos sensacional com o Mikky, que entregou vocais belíssimos, em meio a sintetizadores, violinos e um refrão grandioso. “Don't let go, it's time for us to finally see, we can't stop 'til our minds are free. We are hangin' by a thread of hope”. O jeitinho disco de falar sobre a sociedade. Com certeza um dos maiores pontos do álbum.



“Right Here, Right Now (feat. Kylie Minogue)”: Completamente dentro da sua zona de conforto, Kylie entrega seus incríveis vocais nesta faixa que mistura disco com europop. “Starring in your eyes, I see the sun rise. There’s nowhere else but right here, right now”, um hino para as baladas gay de qualquer lugar. Deliciosa, dançante e aquele “oooooooh ooohh” no meio do refrão é super catchy. Ótima escolha para first single!



“Tempted (feat. Matthew Koma)”: Os elementos de funk fazem desta a faixa mais a cara da década de 70. E isto é delicioso! Em alguns momentos (“ Will you burn for me, burn for me”) ela pode nos lembrar de um hino setentista, “Disco Inferno”. Isso também é delicioso! Apesar de não ser tão forte quanto suas antecessoras, “Tempted” e a performance do Koma não passam despercebidas.


“74 Is The New 24”: Giorgio solta a franga e vem frenético na bateção de cabelo. Sabe aquela faixa em que seu tio de 65 anos ouve numa festa de família e não consegue se segurar e começa a dançar? “74 Is The New 24” é o tipo de faixa que dançaremos quando nós formos esse tio. E isso já quer dizer muita coisa. Next!

“Tom’s Diner (feat. Britney Spears)”: Aqui temos uma regravação de Suzanne Vega, lançada em 1987. É uma música sobre o cotidiano, e como as pessoas observam coisas apenas sentadas em um pequeno restaurante, tomando um café. Quem melhor para cantar isso do que nossa diva viciada em Starbucks? Cheia de camadas de autotune em sua voz, Britoca recita os versos, outrora acapela, hoje, bem cheios de EDM em uma vibe um pouco dark. Os “tu tu turu tu tururu” adicionados foram um bom toque da produção assertiva de Giorgio.



“Wildstar (feat. Foxes)”: Tem coisa mais disco music do que “when the glitter falls into the light I'll be dancing like a wildstar”? Resposta: Não. Esse é o espírito do movimento e essa letra se aplica direitinho. Foxes é mais uma novidade do cenário alternativo, assim com Charli, e mais uma amostra de que Giorgio não estava para brincadeiras. “Wildstar” é uma faixa mais simples do que as outras, despretensiosa, como as produções da década de 70 e ótima por conta disso.



“Back and Forth (feat Kelis)”: Kelis é uma artista estranhamente fantástica. Suas produções são sempre aclamadas, seus vocais são espetaculares, mas ela por algum motivo (ou estratégia) não chegou ao mainstream, com a exceção de “my milkshake brings all the boy to the yard”. E aqui ela prova mais uma vez ser fantástica, sua voz brilha na produção disco/EDM e temos mais um ponto positivo para o disco. Tem uma levada gostosa que casa bem com a proposta lírica de “idas e vindas”.


“I Do This For You (feat. Marlene Strand)”: O Giorgio estava com a proposta de trazer a música disco para os holofotes mais uma vez, no entanto a mistura com EDM pesou um pouco aqui. “I Do This For You” não é ruim, mas não combina muito com o resto do álbum e se torna uma filler por isso. Os elementos de trap foram usados de forma clichê e parece apenas uma produção descartada do David Gueta ou do Zedd. Mas essa Marlene tem belos vocais.

“La Disco”: Da mesma forma que abriu, Giorgio fecha o disco com uma faixa para mostrar que ele ainda pode discotecar sim. Mais simples que “74 is The New 24” e “4 U With Love”, ela é aquela faixa que não acrescenta nada para a proposta do álbum, mas vamos deixar o velho discotecar, até porque ele fez um ótimo disco. Numa hipótese melhor, a gente acaba o álbum em “Back and Forth”, and call it a day.         
      
Se manter relevante na indústria musical é algo extremamente complicado. Sem ter o título de cantor ou banda, fica ainda pior. No entanto, Giorgio se destacou muito no seu trabalho lá em 70 e 80 e conseguiu entregar um projeto muito sólido 30 anos depois. Seu medo de passar despercebido é visto quando os elementos da discoteca são mais sutis, dando espaço ao EDM que tem tornado tudo clichê, mas ainda assim ele consegue explorar muito bem suas parcerias, entregando uma proposta muito boa de dance music.

“Déjà Vu” é um prova concreta de que precisamos valorizar mais nossos produtores e compositores. Mark Ronson já vinha provando isso com seu “Uptown Funk” e “Uptown Especial” e, hoje, quem não conhecia, pode ter um déjá vu, pois viveu um pouquinho da década de 70. E naquele tempo de séria opressão e segregação, era importante estar inserido em um movimento que pregava amor, dança e fervo. Palmas para Disco Music. Palmas para Giorgio Moroder.

Album Review: a missão pode ser de paz, mas ‘Peace Is The Mission’ traz Major Lazer em sua melhor forma e armado até os dentes



Major Lazer vem em missão de paz. Liderado pelo Diplo, que depois de tantos anos na indústria, finalmente se encontrou no mainstream, trabalhando com artistas como Sia, Madonna, Britney Spears, Katy Perry, Beyoncé, entre outras, o trio também formado por Walshy Fire e Jillionaire vem quebrando barreiras musicais desde 2009, quando, em sua formação original, lançaram o disco “Guns Don’t Kill People... Lazers Do”, detentor de “Pon De Floor”, aquela música que só depois de Beyoncé se tornou uma referência mundo afora, também influenciando essa onda do “funk pop” de Anitta e outras no Brasil.

Ainda que hoje herde bastante das influências e inspirações individuais de Diplo, Major é um dos artistas mais ousados da música eletrônica atual e, enquanto meio mundo busca por seu lugar ao sol se inspirando nas batidas parecidinhas de David Guetta, Zedd e Calvin Harris, o trio sai à procura de experiências sonoras realmente diferentes para as rádios, mesclando da música jamaicana ao trap americano, do dancehall ao hip-hop, e o resultado não poderia ser mais animador.

O terceiro disco de inéditas do Major Lazer, “Peace Is The Mission”, pega o grupo em sua melhor fase, agora reconhecidos pelos fãs da música pop mainstream e conquistando bastante do público que Diplo angariou enquanto trabalhava com algumas cantoras, o que inclui sua parceria com Ariana Grande em “All My Love”, que até integrou a trilha sonora de “Jogos Vorazes: Em Chamas”, graças à amizade do produtor com a curadora da trilha, a neozelandesa Lorde.

“Lean On”, carro-chefe do disco, é a denúncia que todos precisávamos para o principal fato em relação aos próximos passos do trio: eles estão mais pop do que nunca. Mas não há com o que se preocupar, até porque todas as outras coisas, do interesse em descobrir e catapultar novos talentos ao misto de influências que rodam o globo, estão por lá também. Nessa faixa, por exemplo, as parcerias são da dinamarquesa , nome em ascensão desde o lançamento do CD “No Mythologies To Follow”, que já havia colaborado com Diplo em “XXX 88”, do seu próprio álbum, e do DJ Snake, que se apresentou ao mundo com o explosivo sucesso de “Turn Down For What”, um dos maiores hits da EDM no ano passado. Deu pra sentir o contraste?

Dentro do disco, o trio segue passeando entre parcerias inusitadas à misturas tão inesperadas quanto “Lean On”, acertando em cheio quando a ideia é adaptar suas mil e uma influências para as rádios atuais. Uma boa pedida é “Powerful”, baladinha poderosa, com o perdão do trocadilho, que empresta os vocais da britânica Ellie Goulding e os colocam frente à frente com o vozeirão do jamaicano Tarrus Riley.

A parceria com o duo Wild Belle em “Be Together” é uma das maiores surpresas do álbum, sendo uma música levemente dançante e que retoma o trap tímido de “Lean On”, somado à synths que soam em perfeita sintonia com a doce voz de Natalie Bergman, que entoa “talvez se as estrelas se alinhassem ou nossos mundos colidissem, quem sabe no lado escuro nós pudéssemos ficar juntos, ficar juntos”.

“Blaze Up The Fire” e “Roll The Bass” são as responsáveis por ascender o hip-hop no disco, mas eles só atingem o ápice dessa vertente no fim da tracklist, quando encontram Travi$ Scott, 2 Chainz e Pusha T em “Night Riders”, faixa foderosa e com um refrão majestosamente conduzido pelo cantor Mad Cobra — mais um expoente da música jamaicana.

“Too Original”, com Elliphant e Jovi Rockwell, mantém em alta o frenesi característico do duo, e tinha tudo pra ser outro destaque do álbum, se os próprios já não tivessem feito algo bem parecido com a canção em “Push and Shove”, do disco de mesmo nome da banda da Gwen Stefani, No Doubt. “Light It Up”, da Nyla, é uma das poucas vezes em que a tracklist nos dá um tempo para respirar, até que fiquemos prontos pra começar a twerkagem outra vez, e nessa até “All My Love”, com Ariana Grande, tem vez, mas ganha o reforço de Machel Montano, em mais uma mistura pra lá de inesperada, afinal, quando imaginaríamos ter a princesinha desse novo R&B americano acompanhada da trupe de Diplo e o cantor jamaicano que sequer fazíamos conta da existência?

“Peace Is The Mission” é uma pílula de efeito instantâneo, até rápida demais devido a ter apenas nove músicas, mas resultado de um trabalho que cumpre com sua proposta inicial, essa mistura de sonoridades e influências, somada à ideia de colaboração com nomes emergentes, assim como os próprios são, e provando que, em suas mãos, não tem música que não soe como um hit pronto, ainda que não se resumam a farofa. Prontos pra brigar como gente grande, Major Lazer invade as fronteiras mainstream sem aviso prévio, dispostos a trazer algo diferente para o de sempre das rádios atuais e armados até os dentes, mas sua intenção é boa, então a missão é de paz.

Album Review: Jason Derulo está tentando conquistar sua relevância com o ótimo ‘Everything is 4’

Em 2010, a música pop e o R&B ganharam um novo representante. Um pouco de Usher aqui, um pouco de Chris Brown ali, um toque de Ne-Yo acolá e nasceu Jason Derulo, com seu auto-intitulado álbum. Seu primeiro single, “Watcha Say”, alcançou o famigerado primeiro lugar da Billboard e, logo em seguida, Derulo conseguiu uma enxurrada de hits como “In My Head”, “Ridin’s Solo” e “Don’t Wanna Go Home”.

Seus dois primeiros álbuns tiveram recepções (comercial e crítica) mornas, mas seus indiscutíveis sucessos do terceiro álbum “Tattos/Talk Dirty” - “Talk Dirty” e “Wiggle” - deram a Jason uma visibilidade maior. Assim sendo, o que faltava para ele ser uma grande estrela musical, como os 3 citados mais acima? Identidade! Pode soar clichê, mas os primeiros álbuns de Jason Joel Desrouleaux reuniam várias faixas que gritavam o desespero para se tornarem mais um hit, porém ele finalmente entendeu que poderia entregar mais que isso. E entregou!

Sem mais delongas, vamos passear pelo “Everything is 4”.

“Want To Want Me”: é numa vibe oitentista e com sintetizadores que Jason inicia seu álbum. E aqui entra o toque de Usher, pois mesmo não tendo um timbre de voz tão marcante, Derulo canta muito bem, com transições incríveis entre seu falsete e sua voz de peito. Além disso, ele explora sua sensualidade cantando versos como “You open the door, wearing nothing but a smile. Fell to the floor. And you whisper in my ear: ‘Baby I'm yours’”. Sexy sem ser vulgar e a melhor opção para first single, sem dúvidas.



“Cheyenne”: mostrando que amadureceu bastante sua sonoridade, Jason nos apresenta seu segundo single, “Cheyenne”, uma mid-tempo onde o ouvimos sofrer por uma one night stand que ele acabou se apaixonando. Quem ousou recusar um convite para jantar com o Jason é meio maluca, mas inspirou o moço para compor essa faixa. “Cheyenne, got the table set for two, guess you couldn't make it. Thought I kissed your lips again, I was dreaming”, com certeza um dos pontos mais altos do álbum.



“Get Ugly”: Novamente, mais certo do seu som, temos aqui uma versão melhorada de “Wiggle”. Em “Get Ugly”, Jason consegue nos fazer dançar com uma letra festeira onde vamos perder o controle e ficar mais feios. Liricamente não fala nada de muito interessante, mas sua batida é muito convidativa, e aquele final mais acelerado mostra que a produção sabia o que estava fazendo.  Nesta faixa, um feat. com Nicki Minaj cairia muito bem, mas quem sabe no próximo álbum. "Let’s get ugly, disfunctional".



“Pull Up”: essa é mais uma uptempo muito bem produzida, sem uma letra muito interessante. Jason canta sobre uma garota que ele precisa puxar pra si. “Pull Up” não se destaca demais, pois “Get Ugly” chama um pouco mais de atenção. No entanto, a batida do seu refrão vai fazer qualquer um remexer nas baladas. Os toques de trap e hip hop deram o que a faixa precisava para não passar despercebida. E assim como sua antecessora, a mudança de velocidade na bridge, aqui desacelerada, também engrandece a produção. "Skrrrrrrrr, PULL UP!".

“Love Like That (feat. K. Michelle): acreditamos que essa foi a faixa mais R&B que Jason fez na sua carreira. Desde a letra, sobre ele estar dando uns pega com a mulher de um dos seus amigos, até a melodia minimalista, deixando seus vocais brilharem em conjunto com a incrível K. Michelle. Nos remete a trabalhos memoráveis de Usher, Chris Brown, Ne-Yo, R. Kelly e outros. Mais um highlight do álbum. “We ain’t supposed to f**k like that. We ain’t supposed to touch like that. Damn it’s too much, it might crack”. Complicado, mas não tem emoção de outro jeito, né mesmo?



“Painkiller (feat. Meghan Trainor): essa é uma daquelas faixas alto astral do álbum, para cantar alto, faxinando o quarto. Derulo e Meghan cantam sobre eles serem analgésicos um para o outro. É uma faixa que não chama tanto atenção quanto as primeiras, já que sua letra é mais simples e seu instrumental mais clichê, lembrando até um pouco de Ricky Martin no auge da sua carreira.

“Broke (feat. Stevie Wonder e Keith Urban): aqui temos Jason Derulo, Keith Urban e Stevie Wonder. Algo nos diz que isso não tem como dar errado, certo? Os três cantam sem a esperança de arranjarem uma namorada se não tiverem muita grana té parece. No entanto, o que chama atenção mesmo não é a letra, e sim a ótima fusão de trap com country. Também não se destaca tanto quanto o início do álbum, mas a combinação de gaita, violão e bumbos no refrão fica fantástica.



“Try Me” (feat. Jennifer Lopez e Matoma): clima de verão, teria um clipe com J.Lo de biquíni e Jason sem camisa, em algum clube de Miami, cantando letras sensuais como “Try me in the morning when the sun comes rising up. Try me in the afternoon, bet you just can't get enough. Try me in the evening, satisfaction guaranteed". Clichê? Sim. Esperávamos um pouco mais de um feat. de dois dançarinos incríveis que podem dar conta de vocais grandiosos, mas foi que rolou para hoje. A produção do Matoma foi bem preguiçosa aqui. Antes outro feat. com o Pitbull, J.Lo -n.

“Love Me Down”: novamente numa vibe oitentista, a melodia de “Love Me Down” traz uma sonoridade que víamos em Michael Jackson, e isso é sempre bom. Sua letra não tem nada demais, só Jason falando sobre uma moça muito bonita que nem tsunami. Uma daquelas fillers bem na zona de conforto dele.

“Trade Hearts” (feat. Julia Michaels): inegavelmente uma belíssima música. No entanto, demonstra que Jason deve tomar mais cuidado ao tentar mostrar versatilidade, pois mesmo sendo pouco conhecida, é Julia Michaels quem realmente brilha na música. Eles cantam sobre uma mulher apaixonada que não está tendo a reciprocidade esperada de seu homem. Talvez se tivéssemos uma melodia com menos elementos graves, a faixa soaria mais bela. Bom pra mostrar ao público mainstream o excelente trabalho de Michaels, que já compôs para Demi Lovato, Fifth Harmony, Nicole Scherzinger e muitos outros.

“X2CU”: música gostosinha, onde temos Jason fazendo o que faz de melhor dentro da sua zona de conforto. “Started as a sexy rebound, but you sleeping next to me now. I just want my ex to see you”, coitadas das ex's deles.

ENFIM, em “Everything Is 4” vemos Jason Derulo entregando um trabalho mais consistente, mostrando versatilidade e brincando com melodias completamente fora do que outrora fazia. Finalmente podemos ver um passo que pode dar a ele um respeito e aceitação maior do que o de hitmaker por “Wiggle” e “Talk Dirty”. Por incrível que pareça, Derulo funciona muito melhor sozinho, pois com sete featurings no álbum, só um realmente se destaca. E isso diz muito sobre sua capacidade! Flertando com country, latin pop, indie e explorando sua essência pop e R&B, Jason entrega um disco delicioso de se ouvir.

Album Review: Florence + The Machine e sua ode ao amor nu, cru e vulnerável em 'How Big, How Blue, How Beautiful'

Já não era sem tempo de termos algum trabalho próprio - que não envolvesse trilha-sonora de algum filme - do Florence + The Machine em mãos. O último disco deles, datado de 2011, é o apoteótico "Ceremonials", que sucede "Lungs", lá de 2009. Estávamos há quatro anos sem nenhum álbum novo da trupe, até que num dia qualquer, as redes sociais da banda tiveram suas fotos de perfil atualizadas e, logo em seguida, foi revelado o trailer de seu terceiro álbum de inéditas, "How Big, How Blue, How Beautiful". Após isso, o clipe de seu primeiro single, "What Kind Of Man" já estava entre nós.

Não esperávamos algo como esse carro-chefe, na verdade, não esperávamos nem um título como esse. Após nomes como "Seven Devils", "Cosmic Love" e "Remain Nameless", é difícil achar que uma música seria nomeada como "Que Tipo de Homem", mas, ainda sim, a surpresa foi muito agradável.

A título de curiosidade, no que dependesse da Florence, esse novo disco teria saído completamente diferente do que temos em mãos. Em entrevista, a vocalista havia comentando que estava construindo "um álbum conceitual que contava a história de uma bruxa que vai a julgamento por homicídio em Hollywood", contudo, ao voltar para o estúdio em Londres, ela se encontrou com o produtor Markus Dravs, que a convenceu a mudar os rumos do álbum e focar em sua relação com o ex-namorado, da mesma forma que fez com Björk e seu "Homogenic".

Numa análise superficial, pode-se dizer que "How Big" é um apanhado de tudo o que a banda fez em seus álbuns anteriores, “Ceremonials” e “Lungs”, ainda que, em determinados momentos, consiga soar como se estivéssemos diante de algo nunca ouvido antes e, de fato, rola um pouco disso também. Mas como estamos numa review, estamos dispostos a nos aprofundar bem mais do que isso, não é mesmo? De forma que, para saber mais, é só descer pra prosseguir com a leitura.

"Ship To Wreck": entre um violão, piano e uma embarcação naufragando, é assim que começa a odisseia de "How Big, How Blue, How Beautiful". Em sua primeira canção, Florence canta sobre auto-destruição, coisa presente em todo o disco e, principalmente, em si mesma. Como ela define, é como "você estar em meio a um vendaval e acaba por quebrar - sem querer - a coisa mais importante de todas".

Album Review: Kelly Clarkson faz de 'Piece By Piece' um quebra-cabeça de sua consistência artística!

Desde que se tornou a Original American Idol™ em 2002, ao vencer a primeira temporada do maior revelador de talentos dos EUA, vindo a se tornar uma estrela mundial na sequência, meio que é habitué julgarem os trabalhos de Kelly Clarkson como "sempre perdidos em sua zona de conforto". O que, de certa forma, não deixa de ser um todo errado, mas também não pode (e nem deve) ser encarado como uma verdade absoluta sobre a moça, que, pelamor da deusa da boa voz, gente, é f*** pra caramba como artista e tem milhões de fãs fiéis, conservados há mais de uma década.

Album Review: o nosso veredito sobre ‘The Pinkprint’, a marca que Nicki Minaj quer deixar em sua música

Nicki Minaj é uma das maiores rappers da atualidade e com seu último disco, “Pink Friday: Roman Reloaded: The Re-Up”, comprovou ser uma das poucas que sabem bem como mesclar música pop com o legítimo hip-hop, sem deixar a desejar em nenhum dos polos, mas passados lançamentos como “Starships” e “Pound The Alarm”, tão radiofônicos quanto muitas coisas lançadas por artistas como Rihanna, por exemplo, Minaj se viu num momento em que queria ser reconhecida sem que precisasse apelar para fórmulas prontas e tentou fazer isso acontecer em seu terceiro álbum de inéditas, “The Pinkprint”.

Album Review: Marina & The Diamonds é uma fruta que amadureceu e está pronta para ser colhida com o 'Froot'

Sempre ficamos chocados quando percebemos o quanto a cultura do "hit/flop" ainda persiste em nos controlar. A tabela do chart é uma régua neolítica que mede o quão boa é uma canção dependendo da sua altura lá, ou seja, quanto mais alto, melhor. Se você não entrar na tabela, pior ainda. Além de não ser bom, você é ninguém. É assim que a ideia coletiva assimila o mercado. Não tem como ser mais desanimador.

Album Review: a volta de Madonna ao jogo (que sempre foi dela) com o 'Rebel Heart'

É um tanto que assustador quando notamos que Madonna já está chegando na casa dos 60. Nós, filhotes dos anos 90, já pegamos carona com a carruagem real da cantora em pleno vapor, mas parece que foi ontem que ela chocava o mundo ao rolar no chão vestida de noiva, dançar entre cruzes em chamas, beijar Jesus negro, lançar livro erótico e tudo mais. E cá estamos, 32 anos depois da sua estreia musical, com o 13º álbum. Para entender a áurea que o "Rebel Heart" é concebido é necessário olhar para trás um momento.

Album Review: Em 'Listen', David Guetta une as vozes mais certas com as batidas mais erradas

O DJ David Guetta explorou seu último disco até o último gosto da saturação, numa era que durou cerca de três anos com ele e sua filosofia “Nothing But The Beat”, mas quando chegou o momento de trabalhar em um material totalmente novo, o francês se viu diante do desafio de reinventar a sua fórmula, provavelmente se igualando aos nomes que hoje só alcançaram o mainstream graças aos discos divisores da água da EDM lançado há alguns anos pelo próprio, como “Pop Life” e “One Love”.

Album Review: em ‘American Beauty/American Psycho’, Fall Out Boy quer ser lembrado, mas se mostra genérico e desgastado

Passado um hiato que muitos acreditavam ser o fim da Fall Out Boy, foi em 2013 que a banda retornou com o disco “Save Rock and Roll”, apresentando um trabalho consistente e que, facilmente, passeava do rock ao pop, com leves flertes com o hip-hop e um poder lírico que não conseguiríamos imaginar com outra banda, tanto impressionando nas narrativas quanto se mostrando “chiclete” o suficiente para as rádios.

Album Review: Olly Murs tenta se superar de novo, agora com a arrogância deliciosa de 'Never Been Better'!


Seguindo aquela máxima de que "não é necessário vencer um reality show ao qual se participa para ser bem-sucedido", Olly Murs construiu uma carreira muito sólida no Reino Unido, mesmo tendo terminado a temporada de 2009 do X Factor na segunda posição. De lá pra cá, já lançou 3 álbuns que venderam, juntos, mais de 3 milhões de cópias, quatro singles que foram # 1 no principal chart da Terra da Rainha, além de se tornar o artista masculino mais bem-sucedido da história do programa.

Album Review: Charli XCX quer seu lugar ao sol, mas vestindo jaqueta de couro em ‘Sucker’

A cantora Charli XCX quase passou despercebida quando lançou seu disco de estreia, “True Romance”, em meio a enxurrada de nomes que surgem a todo momento pela internet, mas seu quase não se deu por conta de seu próprio trabalho e sim por trabalhos que fez para outros artistas, como “I Love It”, smash hit que colocou em exposição a dupla sueca Icona Pop, e “Fancy”, o primeiro grande sucesso da rapper australiana Iggy Azalea.

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