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Quando a periferia chega: vamos dar um rolezinho?


Seja rolezinho ou rolezão, quem é que nunca foi ao shopping, ou qualquer outro tipo de estabelecimento, em grupo? Quando se é mais novo, ao chegar num shopping, a primeira coisa que muitos tem vontade de fazer e fazem (me incluam aqui, prfvr) é subir escada rolante que desce ou descer escada rolante que sobe, por exemplo. Ou seja, causar, fazer baderna, vulgo diversão. Isso acontece sem interceptação da Polícia Militar (!!!), mas então qual é o grande problema com o fenômeno dos rolezinhos?

Robin Sparkles, de How I Met Your Mother, já havia anunciado o fenômeno

Sim, definitivamente os rolezinhos causaram problemas, afinal, no meio da multidão os mal intencionados são só mais um e fica muito, muito fácil de camuflar. Alguns clientes e lojistas de alguns dos shoppings-palco dos eventos, falaram em arrastões, o que foi negado pela administração do Shopping Metrô Itaquera, após o rolezinho do dia 8  de dezembro. Outro local pelo qual uma multidão de jovens passou foi o Internacional Shopping Guarulhos, onde, apesar de reclamações dos que não participavam do rolezinho, não foram registrados sequer nem UM roubo, mas mesmo assim 22 pessoas foram ~aleatoriamente~ levadas para uma delegacia próxima  para averiguação. As 22 foram liberadas logo em seguida. Ainda no ano de 2013, o Shopping Interlagos, na cidade de São Paulo também "recebeu" um rolezinho e, não uma, mas 10 equipes da PM foram mobilizadas. Dez. Registros de furtos ou roubos são inexistentes, mas quatro pessoas foram detidas.

Me parece que, de longe, um dos maiores problemas do rolezinho não é o rolezinho e sim a mobilização da polícia (com o agravante da base militar da polícia dos casos) sem o registro de roubos, furtos e outros atos  que vão contra a lei. Isso em cidades como São Paulo, onde índices de roubos e mortes por arma de fogo crescem, crescem e crescem.Claro, um crime não anula o outro, sem dúvidas, mas é justificável mobilizar tantas unidades da polícia, não para organizar um evento, mas sim para fiscalizar costumes de jovens da periferia e coagir  todo um passeio?


"O mundo é seu, o mundo é meu também (...) Deixa ele correr, deixa ele correr!"

Não é difícil ler por aí os argumentos dos incomodados com os rolezinhos e a grande maioria se baseia em estereótipos visuais e comportamentais para rejeitar o evento. Ao dizer isso, não é difícil vermos uma relação de classes sendo explicitada. Afinal, se shopping é lugar para que um comportamento específico seja exercido, um comportamento que não é costume de quem é marginalizado por diversos fatores sociais, significa nada mais nada menos que o shopping não é lugar de marginal, de funkeiro, de pobre, de preto.

A majoritariamente branca classe média consome com relativa facilidade há anos e é isso que nosso sistema valoriza, uma vez que é capitalista. Mas nos últimos anos o consumo vem aumentando no Brasil e muitos subiram de classe. Com esse acontecimento, quem é ou era pobre, passa a frequentar os mesmos ambientes antes economicamente higienizados, a ocupar os mesmos espaços. Isso traz uma sensação de igualdade aos oprimidos,que agora podem consumir e desejar os mesmos produtos que os mais ricos. No entanto, do lado dos opressores (nem sempre se oprime conscientemente, gente), a sensação de igualdade não é vista como positiva, afinal num mundo capitalista a exclusividade é uma das coisas mais valorizadas. Sempre acompanhando a exclusividade, vem o sentimento de superioridade e quando se ocupa um espaço que antes não era seu, você quebra isso.

Muitos resolveram taxar os "rolezeiros" de desocupados, mas é, pra dizer o mínimo, curioso, que os demais clientes do shopping são apenas coitados que queriam aproveitar um dia de lazer e consumo. A ideia, claramente, vem da absurda certeza de que só é pobre hoje em dia, quem quer.


"Todas essas pessoas no planeta, trabalhando das 9 às 5, só pra se manterem vivas. Como pode?"

Por fim, o medo dos pobres, pretos e favelados ficou extremamente mais explícito depois de uma "invasão" do pessoal da USP ao shopping Eldorado. Desde 2007, os calouros e veteranos da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP) se juntam nos pátios do citado shopping para cantar gritos de guerra, sem nenhum acordo firmado com a organização do shopping, apesar das parcerias com algumas lanchonetes da praça de alimentação. Segundo a assessoria do shopping, os  estudantes da FEA não promovem tumulto e desordem (mesmo chegando a subir nas mesas de onde nós, coitados que não passamos na USP, comemos).


É visível a falta de clareza em relação ao que serve o espaço de centros de compras, nos mostrando uma subjetividade absurda e explicitando como se dão as relações sociais. M.I.A. em seu último álbum cantou sobre sua relação com a América e, fazendo uma analogia, seus versos se encaixam perfeitamente nesse  nosso Brasil onde ~preconceito não existe~.

 "Brown girl, brown girl, turn your shit down. You know America don't wanna hear your sound"

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