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Lista: as 10 melhores fotografias do cinema em 2018

Seguindo o esquenta para minha anual lista de melhores filmes de 2018, é hora de escolher as 10 melhores fotografias do ano - no mesmo critério de inclusão de sempre: ter estreado nacionalmente em 2018 ou ter chegado à internet sem data de lançamento -, aquelas que nos fizeram falar "dá o Oscar para esse enquadramento". Mas antes de tudo, O QUE É FOTOGRAFIA?

A fotografia - ou cinematografia, no jargão técnico mais apropriado - é o termo que mais sofre quando alguém elogia o "visual" do filme. Ao contrário do que se pode presumir, a fotografia não é necessariamente tudo o que está na tela, tudo o que podemos ver; ela é a "impressão" do roteiro, ou seja, os enquadramentos, movimento de câmera, uso de filtros, manipulação de cores, exposição de luz e afins.


Quando alguém solta um "olha a paleta de cores maravilhosa desse filme!", muitas vezes ele não está falando da fotografia, e sim do design de produção - a chamada "direção de arte", que compõe todo o aparato físico que está no ecrã. As cores, parte visual mais emblemática, entra tanto na fotografia - pelo trabalho do colorista - como na direção de arte - no trabalho do cenógrafo - e nos figurinos - no trabalho do figurinista. São departamentos distintos e realizados por profissionais diferentes; é a união de todos que fazem um filme ser "bonito" (ou não, caso propositalmente).

Então, o que a lista está julgando é o trabalho de câmera juntamente com a colorização das películas. Preparado para fazer a linha cult na próxima roda de amigos e falar das fotografias mais estonteantes do cinema em 2018? Aqui as 10 melhores pelo Cinematofagia:


10. Faca no Coração

Direção de: Yann Gonzalez. Fotografia de: Simon Beaufils. Colorização de: Jerome Brechet.
A melhor definição visual do francês "Faca no Coração" é: uma louca mistura de Pedro Almodóvar com Dario Argento. Como se "Prelúdio Para Matar" (1975) e "Ata-me" (1989) tivessem um filho, o novo filme de Yann Gonzalez segue com seu cinema psicodélico, e usa e abusa das cores para homenagear a arte que é a Sétima Arte, expondo à plateia a realização de um filme. Camp e LGBT,  a atmosfera da película é belíssima, tanto nos momentos em estúdio com suas luzes artificiais quanto nas locações externas.

9. Terrorismo na Noruega

Direção de: Erik Poppe. Fotografia de: Martin Otterbeck. Colorização de: Cem Ozkilicci.
"Terrorismo na Noruega" não está na lista por ser visualmente bonito, pelo contrário. O filme segue os 70 minutos que aterrorizam um grupo de jovens na Noruega em 22 de julho de 2011, quando um atirador matou vários em uma ilha. A fotografia filma os acontecimentos sem cortes, do momento em que o atirador chega até o final, e a imersão é fantástica. Se o roteiro peca por não conseguir manter o ritmo, a câmera incansável, real protagonista da obra, segue os desesperados passos dos personagens (versões ficcionais das pessoas reais) e mostra que o Cinema não conhece fronteiras.

8. Grão

Direção de: Semih Kaplanoglu. Fotografia de: Giles Nuttgens. Colorização de: Cem Ozkilicci.
Filmes em preto & branco na atualidade são raros, e os exemplares abdicam das cores em prol de uma determinada estética. No turco "Grão", o P&B não soa gratuito ao esbarrarmos na premissa: no futuro, quando as cidades são protegidas contra imigrantes, a agricultura sofre uma crise genética, deixando o planeta árido. A distopia biológica encontra um estranho esplendor a partir da fotografia de tirar o fôlego, capturando as planícies decrépitas e as cidades em ruínas de maneira brilhante.

7. Zama

Direção de: Lucrecia Martel. Fotografia de: Rui Poças. Colorização de: Wouter Suyderhoud.
Numa colônia na Argentina, o corregedor Zama não vê a hora de receber a carta da corte espanhola para voltar para casa. Enquanto espera, passeia por esse drama escravocrata que arranca suspiros com suas imagens. Bem barroco, o ecrã de "Zama" demonstra requinte estético afiado ao contrastar o luxo da monarquia com a pobreza dos escravos, sempre colocando o aspecto natural das terras tropicais como primeiro plano.

6. Eu Não Sou Uma Feiticeira

Direção de: Rungano Nyoni. Fotografia de: David Gallego. Colorização de: Matt Troughton.
Co-produção entre a Zâmbia e o Reino Unido, "Eu Não Sou Uma Feiticeira" nos leva até o interior africano a fim de explorar a cultura da bruxaria no continente. Usando uma garotinha como eixo central, o longa vai à fundo na composição visual e inclui aspectos ficcionais para alavancar suas imagens, como uma gigantesca fita branca que prende as bruxas. Além de criatividade plástica, a fotografia emprega suas imagens com o intuito de transformá-las em porta-voz de críticas e exposição da cultura africana.

5. No Coração da Escuridão

Direção de: Paul Schrader. Fotografia de: Alexander Dynan. Colorização de: Tim Masick.
"No Coração da Escuridão" é um célebre exemplo de como usar a fotografia como artefato narrativo. Voltando à aurora do cinema, o ratio (o "tamanho" da tela) da película é quase quadrado, e não é por acaso: ela engole os personagens, aprisionando-os visualmente. Reflexo da situação claustrofóbica que ocorre, a fotografia é pincelada em tons frios, como marrom, azul e preto, já que não há sinal de esperança ou felicidade à vista. Cada enquadramento daria um quadro para ser pendurado em qualquer museu.

4. O Gigante

Direção de: Aitor Arregi & Jon Garaño. Fotografia de: Javier Agirre.
"O Gigante" mal estreou e já foi considerado o melhor filme basco já feito, tecnicamente falando. E dá para entendermos logo de cara: um drama de época, a produção não mede esforços para extrair o que há de mais belo das paisagens espanholas. E, uma sacada muito engenhosa, é brincar com os enquadramentos quando seu protagonista - o tal gigante - está na tela, criando efeitos lindos de proporção. Merecidamente venceu DEZ Goyas (o Oscar espanhol), incluindo o de "Melhor Fotografia", é óbvio.

3. A Balada de Buster Scruggs

Direção de: Ethan Coen & Joel Coen. Fotografia de: Bruno Delbonnel. Colorização de: Peter Doyle.
Dizer que um filme dos irmãos Coen não possui defeitos técnicos é até clichê - do faroeste "Bravura Indômita" (2010) ao hollywoodiano "Ave, César!" (2016), não há o que reclamar dos atributos técnicos. Talvez seja prematuro afirmar, mas "A Balada de Buster Scruggs" é o trabalho visual mais irretocável da carreira da dupla. Dessa vez, junto com as lentes de primeiro mundo, eles orquestraram saturações e manipulações de cores gritantes, colocando filtros artificiais que casam com o tom jocoso do roteiro. A transição visual do fim da tarde ao anoitecer do último segmento, quase inteiramente filmado dentro de uma charrete, não é desse mundo.

2. A Forma da Água

Direção de: Guillermo del Toro. Fotografia de: Dan Laustsen. Colorização de: Chris Wallace.
É engraçado como "A Forma da Água" transparece um sentido errado: parece ser uma obra simples. O ápice criativo de Del Toro é uma fofa história de amor que mistura fantasia com drama, divertida para toda a família, entretanto, para orquestrar o tom perfeito do roteiro, a fotografia - junto com o design de produção - tiveram que suar a camisa para nos transportar ao período clássico da Hollywood de Ouro. Com um filtro verde, seja na terra ou na água, a fotografia de "A Forma da Água" é uma dádiva visual - que se mostra ainda mais divina na tela grande.

1. Projeto Flórida

Direção de: Sean Baker. Fotografia de: Alexis Zabe. Colorização de: Sam Daley.
"Projeto Flórida" também tem sua fotografia como aliado para a construção do universo psicológico de seus personagens. Protagonizado por crianças, a primeira escolha técnica foi colocar a câmera na altura dos pequenos, ao invés de olhá-los de cima para baixo, como de costume. Essa sutileza os coloca como reis de seus castelos, e é fundamental tal impressão para entendermos como eles se desenvolvem perante suas condições de moradia. O que para nós é mero hotel, paredes de tanta pobreza, para eles é um conto de fadas com uma aventura a cada esquina, e as cores mais lindas do ano estão aqui. Eu queria morar dentro desse filme.

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Lista: as 10 melhores atuações masculinas do cinema em 2018

E olha dezembro aí. Piscamos e o ano já passou, e, muito mais que o Natal, as listas de fim de ano são o melhor acontecimento do último mês. Ainda tem muita coisa para estrear, porém podemos começar apontando o que aconteceu de mais incrível no Cinema, e a primeira lista escolhe as 10 melhores atuações masculinas do período.


É válido apontar que o critério de escolha não difere protagonistas e coadjuvantes, além de encaixar filmes com estreia em solo brasileiro em 2018 ou com a obra disponível sem data de lançamento prevista - ou seja, chegou à internet sem distribuidora no país. E, caso não tenha assistido aos filmes em questão, não se preocupe: os textos são sem spoilers. Dá tempo de correr para marcar como vistos antes de começar 2019.


10. Brady Blackburn (Domando o Destino)

A principal estratégia da diretora Chloé Zhao com "Domando o Destino" foi: escolher atores amadores que estão dentro do contexto em que seu filme se passa - muitos personagens são os atores interpretando a si mesmos. Mas foi Brady Jandreau, em seu primeiro papel, que carregou a alma da película. Vivendo um vaqueiro que vê seu sonho indo embora após um acidente, Jandreau entrega uma naturalidade digna de atores veteranos e domina a cena, auxiliado pelo roteiro que exige o melhor dele.

9. Joaquin Phoenix (Você Nunca Esteve Realmente Aqui)

Uma das maiores forças de Joaquin Phoenix é sua versatilidade. Ao contrário de tantos e tantos atores, em que os papéis são várias versões de si mesmos, Phoenix consegue se transformar totalmente, de "A Vila" (2004) até "Ela" (2013). O mais extremo de sua filmografia talvez seja Joe, o protagonista de "Você Nunca Esteve Realmente Aqui". Arrematando o prêmio de "Melhor Ator" no Festival de Cannes 2017, Joaquin vai do silêncio aos berros com uma capacidade impressionante nesse "Oldboy" (2003) moderno, mais um herói que foge do binarismo de mocinho fantástico.

8. Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)

O vencedor do Oscar 2018 de "Melhor Ator", Gary Oldman, fez um verdadeiro arrastão, levando todos os principais prêmios da temporada pelo desempenho em "O Destino de Uma Nação". Debaixo de quilos de maquiagem, Oldman não deixa as próteses fazerem sua atuação: o filme é inteiramente dele. Toda a produção é palco para o ator berrar e fazer suas caretas, num legítimo Oscar bait - o que não é ruim quando é justificável. Lotado de dualidades, o eterno Sirius Black ganhou a Academia à base do grito.

7. Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)

Eu nunca fui dos entusiastas apaixonados por "Me Chame Pelo Seu Nome": eleito uma obra-prima do cinema LGBT, acho o longa muito bom, todavia longe dos louvores fervorosos. O que é inegável é Timothée Chalamet, numa das melhores atuações revelações da década. Com apenas 22 anos, o "menino pêssego" (como carinhosamente é chamado) transborda seu desempenho tela afora e dá veracidade a um amor de verão fadado ao fracasso, dando seu corpo e sua alma em um papel em que a pele é o palco principal.

6. Nakhane Touré (Os Iniciados)

Papéis LGBTs no Cinema carecem de um cuidado de composição maior, já que geralmente tais papéis possuem as discussões de sexualidade/gênero como diferencial. E o que Nakhane Touré faz no africano "Os Iniciados" é fenomenal: vivendo a pele de um gay aprisionado pela cultura e tradições, o desenvolvimento do tímido mentor do ritual de maioridade que vive por trás de uma máscara opressora é cinematograficamente poderoso. Os caminhos tão diferentes da atuação de Touré detrás desta máscara e junto com seu grande amor, outro mentor, demonstra a capacidade do ator de ir aos extremos e apresentar um show no ecrã.

5. Evan Rosado (Os Animais)

Alguém não ama uma boa atuação infantil? Crianças na tela são uma aposta muito alta, pois ou vai dar muito ruim ou muito bom. Quanto maior a demanda emocional, maior o risco, e o risco foi pago com maestria pelo pequeno Evan Rosado no drama indie "Os Animais". Caçula de três irmãos, Jonah (personagem de Rosado) tem que criar um universo fantasioso próprio para manter sua sanidade. Um papel muito complexo, recheado de camadas e que até um ator consagrado teria que suar para fazer, Rosado tira de letra e mostra um nível de afinidade e conforto dentro da pele de Jonah que choca. Quanto mais o filme passa, mais é exigido do garoto, que nem parece se esforçar.

4. Ethan Hawke (No Coração da Escuridão)

É curioso ver como padres conturbados geram tantas performances além da média - de Max von Sydow em "O Exorcista" (1973) até Philip Seymour Hoffman em "Dúvida" (2008). Ethan Hawke entra nesse hall em "No Coração da Escuridão". Entrando na vida cristã após a perda do filho, padre Toller não imagina o turbilhão em que está prestes adentrar quando conhece uma esposa grávida e seu marido suicida. Com um roteiro que vai à fundo na perda absoluta da fé, Hawke desenvolve sutilezas avassaladoras ao por na mesa discussões tão atuais e complexas, carregando uma cruz de emoções que rasgam o ecrã.

3. Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)

"Três Anúncios Para um Crime" é, de longe, o melhor corpo de atores de 2018 - não há uma mísera atuação menor que "perfeita" -, é Sam Rockwell que exerce uma das forças naturais da produção. Personagem que merece ser odiado sem pestanejar, Rockwell une uma paleta obscura de ódios e preconceitos para Jason Dixon, um policial racista, homofóbico e misógino, e o resultado é um papel insano. Com o careca dourado de "Melhor Ator Coadjuvante" na estante, Rockwell finalmente sai das sombras e surge como um grande performer, num daqueles personagens para ficarem marcados na história do Cinema.

2. Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)

Bradley Cooper já recebeu múltiplas indicações pela Academia, entretanto, nunca conseguiu ganhar meu apreço. É fato que sua competência é incontestável, mas nenhuma de suas atuações fazia com que eu caísse de amores, o que está devidamente mudado. Além de dirigir, Cooper traz o papel de sua carreira com o músico falido Jackson Maine na quarta versão de "Nasce Uma Estrela". Virando o real protagonista do filme, ao contrário dos longas anteriores, Cooper, mesmo contracenando com Lady Gaga, em momento nenhum deixa a cena ser assaltada, mergulhando de cabeça nos vários demônios de seu personagem, colocando em xeque temas como vícios e problemas psicológicos - e cantando muito. Merece um Oscar.

1. Marcello Fonte (Dogman)

E a melhor atuação masculina do ano é de Marcello Fonte na obra-prima "Dogman", selecionado da Itália para o Oscar 2019 de "Melhor Filme Estrangeiro". Vivendo um adorável dono de pet shop, Marcello (o nome do personagem e do ator é o mesmo) tem uma segunda vida ao vender drogas para dar tudo o que a fofa filha deseja. O problema é que ele é um fantoche nas mãos de Simone (Edoardo Pesce), um cara barra pesada que usa Marcello de gato e sapato a fim de conseguir drogas. Usando o meio decrépito de uma Itália em ruínas, o protagonista se afoga em questões morais violentamente importantes e produz a performance mais brilhante de 2018, laureada com a Palma de "Melhor Ator" em Cannes. Da composição física até as escolhas psicológicas, há nenhuma camada fora do lugar com Fonte.

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