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Crítica: "Dirty Computer" é incrível em suas partes, mas um computador defeituoso como conjunto

Obs.: para diferenciar e deixar o texto mais claro, o filme será chamado de "Computador Sujo", a tradução literal do seu título, enquanto o álbum será referido como "Dirty Computer". Você pode assisti-lo completo (em inglês) no link oficial abaixo.



Uma tendência na música que parece se solidificar de vez é a moda dos "álbuns visuais". O conceito nada mais é do que um álbum musical que possui trabalhos audiovisuais acompanhando todas as músicas, entregando dois modos de consumir o material.

Se você imediatamente pensou na Beyoncé, não é por acaso: ela reascendeu a fama dos visual albums neste século com o "Beyoncé" (2013) e o "Lemonade" (2016), mas não se engane; essa forma de divulgação existe desde a década de 60. Os Beatles foram quem começaram o que se tornaria o "álbum visual" que conhecemos hoje com "Os Reis do Iê Iê Iê" (1964), filme que acompanhava o álbum "A Hard Day's Night". Os exemplos que seguem a mesma linha são vários: "Purple Rain" (1984) do Prince, que rendeu o álbum de mesmo nome; "Moonwalker" (1988), filme de Michael Jackson para o álbum "Bad"; e o famigerado "O Mundo das Spice Girls" (1997), divulgando o "Spiceworld".


"A Hard Day's Night" - meu álbum favorito da banda, inclusive - não é de fato um "álbum visual". O produto visual que o acompanhava era na verdade um filme - com estreia nos cinemas e tudo. É aqui que entra o "Computador Sujo", filme de Janelle Monáe para a promoção do seu terceiro álbum de estúdio, "Dirty Computer".

Então não, o "Dirty Computer" não é um álbum visual; "Computador Sujo" é um filme musical, como "La La Land" (2016) ou "Moulin Rouge: Amor em Vermelho" (2001). A própria descrição no link oficial do trabalho acrescenta: "vídeo emocional: filme narrativo que acompanha um álbum musical". E também não, esse texto não está aqui para discorrer sobre o "Dirty Computer" - o álbum -, e sim sobre o "Computador Sujo" - o filme. São materiais absolutamente distintos, então suas análises também.


O média-metragem - de 46 minutos - segue Jane 57821 (Monáe), uma androide presa numa instalação governamental. Ela foi capturada por ser bissexual, algo que vai contra a nova sociedade totalitária, obstinada a apagar todas suas memórias e transformá-la num "computador limpo". O filme então passeia pelo presente da robô, que questiona sua condição e as regras opressoras do seu mundo, enquanto ela encontra seu grande amor, Zen (Tessa Thompson), agora uma espécie de enfermeira "limpa" - suas memórias já foram excluídas.

Antes do lançamento do filme, Monáe já havia lançado quatro trechos do trabalho em forma de videoclipes para quatro canções - "Make Me Feel", "Django Jane", "Pynk" e "I Like That". O que percebíamos era que, apesar de possuírem temas similares, os vídeos não se encaixavam dentro de um único universo, então como todos poderiam possuir conexões dentro do filme? A saída foi uma faca de dois gumes: os clipes são na verdade memórias e sonhos da protagonista, e assistidos concomitantemente aos técnicos responsáveis por apagá-los.


Digo que a ideia foi uma faca de dois gumes pois, ao mesmo tempo em que se mostra uma solução criativa e absolutamente prática para a realização do todo - os diretores dos clipes não são os mesmos diretores dos filmes -, há uma ruptura narrativa muito grande em alguns segmentos. Enquanto "Pynk" se encaixa sem esforços na narrativa da trama, partes como a de "I Like That" são abstratas demais para fazer sentido dentro do contexto geral - apesar da implícita resolução de que ali seria um sonho ou uma fantasia.

Como toda ficção científica, um dos aspectos mais importantes para a consolidação da atmosfera da obra é seu design de produção, ou como o mundo futurista foi imageticamente criado. Com efeitos especiais competentes - temos carros voadores e robôs espiões -, "Computador Sujo" esbanja pretensão com seus enquadramentos milimétricos e formas geométricas que misturam cyberpunk com afrofuturismo, em cenas absolutamente lindas. Desde a maca negra onde Jane é submetida à "limpeza" até os acessórios dourados usados pelos computadores limpos, gerando uma áurea de santidade, há bastante esmero e cuidado na formulação visual do filme, que remete desde de "Blade Runner: o Caçador de Androides" (1982) até "O Quinto Elemento" (1997).


A fotografia, aliada com a direção de arte, faz contrastes interessantes de cores, principalmente o azul e o rosa, que dialoga com uma das canções presentes no filme, "Pynk". Um hino feminista sem fronteiras, Monáe canta sobre a apropriação de cores por gênero, o velho "azul para meninos e rosa para meninas". Para ela o rosa é marca de orgulho e está tudo bem os meninos ficarem com o azul, pois ela e todas as mulheres são rosa por dentro e por fora. Em momentos de maior tensão, o azul é a cor presente, enquanto o rosa é dedicado para as cenas mais leves e emocionantes.

Porém, logo de cara há um aspecto defeituoso: as atuações. Enquanto há algumas performances passáveis apenas com bom grado, como a de Tessa Thompson, nem Monáe, que fez bom trabalho em "Moonlight: Sobre a Luz do Luar" (2016) e "Estrelas Além do Tempo" (2016), está em grande momento. Há sempre uma película de estranheza e artificialidade, como se os atores não estivessem confortáveis ou familiarizados com os eventos do roteiro.


E esse aqui é outro problema: o roteiro é muito óbvio, raso e previsível. Assim como o álbum, o filme discorre sobre liberdade sexual feminina, orgulho negro, ativismo LGBT e a onda conservadora que o planeta vem enfrentando, todos temas importantíssimos e que renderiam uma obra sem precedentes, porém, não há muito aprofundamento nos 46 minutos. Os segmentos musicais conseguem encontrar apogeus impressionantes, porém a narrativa fílmica jamais consegue acompanhar a grandeza dessas partes, o que deixa o todo defeituoso.

Com atuações medianas e um roteiro fraco, o que aparentava ser uma obra-prima do afrofuturismo vai cada vez mais se revelando pobre, pouco inspirado e com saídas deveras elementares. É claro que há um apreço cinematográfico por trás de alguns aspectos da produção, todavia, os números musicais são muito mais requintados do que os momentos com a narrativa convencional, talvez por conta da diferença de direção/produção, o que é reflexo perfeito da obra geral: exemplar em suas partes, rasa como conjunto. Como um suposto álbum visual, "Computador Sujo" é um sucesso - os clipes são obras-primas. Como filme em si, que é a sua real proposta, é um computador defeituoso. O Oscar foi cancelado.

Lista: os sete filmes definitivos do cinema colorido e dramático de Pedro Almodóvar

A Espanha é uma monarquia parlamentarista, com um monarca hereditário que exerce como Chefe de Estado, o Rei da Espanha, atualmente o rei Filipe VI. Mas no Cinema, o rei do país é Pedro Almodóvar. Cineasta, diretor, roteirista, produtor e ator nas horas vagas, Almodóvar vem desde a década de 80 cunhando uma das mais poderosas filmografias da história da Sétima Arte, que já lhe rendeu dois Oscars, cinco BAFTAs e dois Globos de Ouro, além de vários outros prêmios mundiais. O diretor é famoso pelos seus temas e narrativas, que unem melodrama, cultura pop, cores extravagantes, tragédias, romances proibidos, metanarrativa, homossexualidade, transexualidade e muito humor.

Atualmente com vinte filmes lançados, o espanhol está em processo de produção do seu 21º longa, "Dor e Glória", que trará dois de seus pupilos: Antonio Banderas e Penélope Cruz. As filmagens do filme começam em junho deste ano e, em comemoração a mais uma dádiva vindo de Almodóvar, decidi listar quais são as melhores obras dessa vasta e atemporal filmografia. Caso você não seja familiarizado com os filmes do diretor e não sabe por onde começar, essa é uma lista para você. Caso Almodóvar já esteja há tempos em seu coração, sempre é o momento para fazer aquela maratona com os já clássicos nomes que não só figuram entre os melhores do espanhol como também de todo o Cinema.


7. Tudo Sobre Minha Mãe

Do que se trata? No dia de seu aniversário, Esteban (Eloy Azorín) ganha de presente da mãe, Manuela (Cecilia Roth): um ingresso para a nova montagem da peça "Uma Rua Chamada Pecado", estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após o espetáculo, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho, ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.

Por que é bom? O filme que deu o primeiro Oscar para Almodóvar - de "Melhor Filme Estrangeiro" - é uma dolorosa história sobre luto e reconciliação. Lançado em 1999, o longa trata de assuntos preponderantes à época - e atualmente também - como a AIDS e o meio LGBT. A história fica ainda mais intricada quando sabemos que o pai de Esteban é agora Lola, uma travesti, que é a peça misteriosa do sofrido quebra-cabeças que Manuela tenta por fim completar e assim superar a morte do filho. Uma película puramente feminina sobre os dramas e a busca de suas forças.

6. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos

Do que se trata? Em Madri, Pepa Marcos (Carmen Maura), uma atriz e dubladora, é abandonada por Ivan (Fernando Guillén), seu amante, e se desespera tentando encontrá-lo. Ela recebe a visita de Candela (María Barranco), uma amiga que se apaixonou por um desconhecido e agora que descobre que o amado é um terrorista xiita, temendo ser presa. A mulher de Ivan descobre a traição do marido e tenta matá-lo. Pepa quer fazer de tudo para salvar a vida de Ivan.

Por que é bom? Se Almódovar alcançou a fama no meio popular, foi graças a "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos". Lotadíssimo de indas e vindas, encontros e desencontros e mulheres desesperadas com seus problemas particulares, com Pepa sendo o malfadado ímã para todas elas, "Ataque de Nervos" é brega, kitsch, camp, histérico, caótico e divertidíssimo (os brincos de cafeteira!). Uma comédia sobre como a progesterona e o estrogênio podem ser mais corrosivos que ácido sulfúrico.

5. Abraços Partidos

Do que se trata? Há 14 anos, o cineasta Mateo Blanco (Lluís Homar) sofreu um trágico acidente de carro, no qual perdeu a visão. A partir de então ele abandona sua posição de cineasta e preserva apenas o lado de escritor, assumindo o pseudônimo de Harry Caine. Um dia Diego (Tamar Novas), filho de sua antiga e fiel diretora de produção Judit Garcia (Blanca Portillo), é enviado ao hospital por ter ingerido drogas acidentalmente. Assim que sabe do ocorrido, Harry vai em seu socorro. Quando o jovem o indaga sobre seus dias de cineasta, o amargurado homem revela se lembrar de detalhes marcantes de sua vida e do acidente.

Por que é bom? Um dos mais intricados Almodóvares, "Abraços Partidos" talvez seja, também, um dos mais subestimados longas do diretor - provavelmente por estar exatamente entre dois dos maiores filmes do espanhol. Aqui há tudo o que resume o cinema almodovariano: uma trama sensacional sobre obsessão, infidelidade, sexo e jogos de interesses sem piedade e redenção - e Penélope Cruz deslumbrante na trama vertebral da produção. Homenagem lindíssima à Sétima Arte e a vários gêneros, Almodóvar não perde tempo e se auto-referencia com um filme dentro do filme, em uma metalinguagem que só acrescenta ao todo.

4. Volver

Do que se trata? Raimunda (Penélope Cruz) é uma jovem mãe, trabalhadora e atraente, que tem um marido desempregado e uma filha adolescente. Certo dia, ao chegar em casa, encontra o marido morto na cozinha, com uma faca enterrada no peito. A filha de Raimunda confessa que matou o pai, que estava bêbado e queria abusar dela sexualmente. A partir de então Raimunda busca meios de salvar a filha e a si própria.

Por que é bom? Você leu a mesma sinopse que eu? Ali já há motivos o suficientes para existir um grande filme, mas Almodóvar vai muito além ao colocar diversos eixos femininos ligados à Raimunda, que se vê sufocada por todos os eventos que acontecem à sua volta enquanto tenta se manter longe da prisão pela morte do marido - apesar de não ser a culpada. "Volver" deu a Palma de "Melhor Atriz" no Festival de Cannes para todas as atrizes do filme, e não era para menos. Obra-prima sobre o rancor e como ele pode nos atrasar e fazer com que vivamos cada vez mais infelizes, "Volver" é visualmente belíssimo, carregado de emoção, cenas marcantes e atuações estupendas.

3. Fale Com Ela

Do que se trata? Benigno (Javier Cámara) e Marco (Darío Grandinetti) são dois desconhecidos que acabam virando amigos em decorrência do destino. Enquanto esperam com toda a esperança possível as mulheres por quem são apaixonados saírem do estado de coma do hospital, acabam tendo uma afinidade muito grande, enquanto descobrem o que cada um sente de verdade pelas suas amadas em coma.

Por que é bom? Um dos poucos filmes do diretor a não ser protagonizado por mulheres, "Fale Com Ela" é, ao mesmo tempo, uma das obras mais sombrias de sua filmografia. Passeando por temas como o limite entre a vida e a morte, voyeurismo, obsessão, psicopatia e passividade, o filme retrata as formas insanas de atuação do machismo e como o homem se porta na posição de dono das mulheres. Uma pintura em movimento, com pitadas na medida correta dos debates mais complexos, "Fale Com Ela" conquista pelo fator mais primordial e óbvio que existe na terra: as pessoas, o que deu ao diretor o Oscar de "Roteiro Original", um dos poucos em língua não-inglesa a vencerem. Suas elipses são tão criativas que impressionam - a cena do pequeno filme mudo para representar o que se passa na realidade fílmica é brilhante.

2. A Pele Que Habito

Do que se trata? Desde que a sua mulher foi vítima de um acidente de automóvel, o doutor Robert Ledgard (Antonio Banderas), eminente cirurgião estético, dedica-se à criação de uma nova pele graças à qual poderia salvá-la. Para além de muitos anos de investigação e de experimentação, Robert precisa de um cobaia, de um cúmplice e de uma ausência total de escrúpulos. Marília (Marisa Paredes), a mulher que se ocupou de Robert desde o dia em que nasceu, é a cúmplice a mais fiel do mundo, enquanto Vera (Elena Anaya) é sua cobaia e obra-prima.

Por que é bom? O filme de terror do Almodóvar é uma das mais bizarras histórias de vinganças já filmadas quando o Dr. Frankenstein moderno retira o que há de mais humano de sua criação: a identidade. Resgatando aquele que seja o nome definitivo do seu cinema, Antonio Banderas, o domínio cênico e narrativo do diretor é estupendo quando ele mistura diversas linhas temporais que se encaixam no presente diegético, um experimento medonho onde o preço que se paga é alto demais. Praticamente todos os enquadramentos do genial trabalho fotográfico poderia ser pendurado numa moldura, nessa obra-prima do rancor e crueldade.

1. Má Educação

Do que se trata? Quando um velho amigo entrega ao cineasta Enrique Goded (Fele Martínez) um roteiro baseado na adolescência dos dois, Enrique é obrigado a reviver sua juventude em um internato católico. Alternando passado e presente, o roteiro acompanha um travesti (Gael García Bernal) que se reconecta com os fantasmas do passado, fantasmas esses ligados à vida de Enrique.

Por que é bom? O Almodóvar definitivo, "Má Educação" não só alia tudo o que há de mais precioso no cinema do diretor como também traz a melhor história escrita por ele. Um neo-noir que referencia clássicos, cultura queer e o ato puro de fazer cinema, a película vai ao cerne de um problema recorrente sem medo de por o dedo na ferida: pedofilia por parte da Igreja Católica, e como a instituição encobre esse crime. Corajoso, controverso e violentamente espetacular, "Má Educação" é uma aula cinematográfica de direção, roteiro, montagem, trilha sonora, fotografia e atuações, carregado com louvor por Gael García Bernal. Não apenas o maior do espanhol como um dos maiores filmes já feitos na história.

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De "Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão", o primeiro Almodóvar, até "Julieta", o mais recente lançamento, temos em mãos um acervo audiovisual inestimável, e só podemos esperar que Pedro continue enriquecendo o cinema como ele já faz há quase 40 anos. Mas qual é o seu Almodóvar favorito?

Lista: 10 filmes LGBTs dessa década para amarmos com todas as cores

Nós podemos dizer que estamos vivendo tempos difíceis. Em meio ao tsunami de conservadorismo que vem assolando esse planetinha azul, com Donalds Trump excluindo direitos LGBTs de um lado e juízes federais heterossexuais brasileiros dando sinal verde à chamada "cura gay", ainda há motivos para mantermos a fé em meio a tanto caos. A preocupação progressistas sobre os direitos da população lésbica, gay, bissexual e transsexual está cada vez mais presente entre os debates sociais e, consequentemente, no cinema, arte primordial no reflexo da vida.

Um exemplo claro é o número de filmes com temática LGBT a serem lançados ano após ano, num montante cada vez maior. Mas o que isso muda na nossa vida?, você pode está se perguntando. É uma clara amostra da preocupação de cineastas com a representação da vida dessa parcela no cinema. Não se engane: um filme não é mero entretenimento de uma hora e meia, que, ao acabar, desaparece na tela. Cinema é fomentador de ideologias, ideias, conceitos e gostos, com o cinema LGBT ajudando a naturalizar socialmente essa camada ainda tão marginalizada.

Venho por meio deste dar 10 exemplos contemporâneos que, além de ilustrarem belamente a vida e a existência dessa população, são ótimos nomes para entendermos como o cinema LGBT vem sendo construído nessa década. Essa não é uma lista dos melhores filmes LGBTs lançados até agora - ela é ordenada de forma alfabética -, e sim longas importantes para a compreensão das construções na Sétima Arte acerca do tema, de nomes óbvios, conhecidos e premiados até os mais anônimos - e que merecem todo o reconhecimento.

120 Batimentos Por Minuto (2017)

Qual letra aborda? LGBT.

Do que se trata? Na França dos anos 1990, em pleno boom da AIDS, o grupo ativista Act Up intensifica seus esforços para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento da doença.

Por que é bom? O filme é o que há de mais militante no exercício cinematográfico. Seguindo a rotina de vários membros do grupo, vemos forças pioneiras da destabulização, conscientização e fortalecimento contra o HIV. Cheio de vida e esperança, a obra pode - e vai - muitas vezes derrubar a plateia, mas é um ótimo exemplo de orgulho e de como até hoje ainda precisamos de filmes como esse.

Amores Imaginários (2010)

Qual letra aborda? GB.

Do que se trata? Francis e Marie são amigos inseparáveis que veem suas vidas mudarem ao conhecerem Nicolas, um charmoso rapaz que acaba conquistando o coração de ambos, e o que era uma amizade passa a ser uma grande disputa.

Por que é bom? Jogando de maneira até hilária com o rumo de seus personagens, perdidos numa teia para conquistar o coração do crush, o longa trata a sexualidade de todos da forma mais natural possível, com pontadas de ironia ao ter um homem e uma mulher jogando fora a amizade graças ao mesmo amor. A sagacidade de "Amores Imaginários" é amplificado pelo apuro estético da fita, bem camp e exagerado - assim como seu diretor/protagonista, Xavier Dolan.

Azul é a Cor Mais Quente (2013)

Qual letra aborda? LB.

Do que se trata? Adèle é uma adolescente que enfrenta os desafios da chegada da maturidade. Sua vida toma um rumo inesperado ao conhecer uma encantadora garota de cabelo azul, com quem começará uma intensa relação e uma viagem de descobertas e prazer.

Por que é bom? Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, "Azul" causou frisson logo no seu lançamento pelas (longas) cenas de sexo quase explícitas entre as protagonistas. Porém o filme é muito mais sua polêmica, é uma viagem aos cantos mais íntimos de uma relação, colocando o público como parceiros daquele bonde amoroso e da descoberta da própria sexualidade.

Carol (2014)

Qual letra aborda? LB.

Do que se trata? Therese tem um emprego entediante em uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece Carol, uma elegante e misteriosa cliente. Rapidamente, as duas mulheres desenvolvem um vínculo amoroso que terá consequências sérias.

Por que é bom? Voltando para a América dos anos 50, "Carol" é uma elegante e apaixonante composição de duas mulheres que devem enfrentar os percalços sociais e judiciais para poderem ficar juntas. Com atuações poderosas de Cate Blanchett e Rooney Mara, somos postos de um modo diferente aqui: vislumbramos o florescer desse amor à distância, por trás de vidros, espiando por frestas, e vemos como uma pessoa pode mudar nossas vidas para sempre.

Me Chame Pelo Seu Nome (2017)

Qual letra aborda? GB.

Do que se trata? O jovem Elio está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda com a chegada de Oliver, um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.

Por que é bom? Mais uma ida ao passado, dessa vez à Itália da década de 80, "Me Chame" é um dos mais amados filmes LGBTs da década e, mesmo não sendo tão absurdamente incrível assim, é uma corretíssima representação do amor gay. A paixão de verão de Elio, fadada ao fracasso de forma tão certa quanto o fim do próprio verão, é carregada nas costas de Timothée Chalamet, em estrelar atuação, que exala uma química assustadora com Armie Hammer, entregando cenas onde ambos se devoram como poucas vezes feitas.

Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)

Qual letra aborda? GB.

Do que se trata? Chiron trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.

Por que é bom? Se há um filme gay definitivo nessa década, esse filme é "Moonlight". O primeiro vencedor LGBT do Oscar de "Melhor Filme" em toda a história retrata três fases da vida de seu protagonista e como o machismo e a homofobia ainda aprisionam. Tocante, melancólico e socialmente urgente, "Moonlight" merece ficar onde está: entre os melhores filmes já feitos pela Sétima Arte. E você nem precisa ser gay, negro ou periférico para se devastar com o filme. Mas, caso seja, essa será uma jornada para toda a vida. A sua e a de Chiron.

Os Iniciados (2017)

Qual letra aborda? G.

Do que se trata? Xolani, um operário solitário, viaja para as montanhas rurais com os homens de sua comunidade com intuito de atuar nos rituais de Ulwaluko, que consiste na circuncisão de adolescentes de origem Xhosa para que eles ingressem finalmente na vida adulta, tornando-se homens. Xolani assume a responsabilidade sobre um garoto da cidade que o pai teme ser homossexual e, quando o iniciante questionador descobre seu segredo mais bem guardado, o operário não tem mais paz.

Por que é bom? Pré-selecionado ao Oscar 2018 de Filme Estrangeiro (e deveria ter ficado entre os cinco finalistas), o filme nos leva até o interior da África para vermos como a homofobia faz parte dos rituais locais para a inicialização do ser homem. Culturalmente relevante, "Os Iniciados" vai a alguns extremos ao rasgar na tela a relação de dois homens presos pelo machismo e suas máscaras sociais.

Princesa Cyd (2017)

Qual letra aborda? LBT.

Do que se trata? Cyd, que perdeu a mãe precocemente, decide passar o verão na casa de sua tia Miranda, uma famosa escritora, para fugir do pai, que está depressivo. Lá, a jovem se envolve com uma vizinha de Miranda, Katie, barista no café local. Enquanto descobre sua relação com a garota, ela se aprofunda mundo mais consigo mesma ao fortalecer laços com a tia.

Por que é bom? A sinopse é absolutamente simples e talvez não gere grandes interesses, mas o sucesso de "Princessa Cyd" está exatamente aqui: sua simplicidade. O que à primeira vista soava como um filme lésbico de verão se revela uma obra sobre libertação de gênero e pansexualidade - Cyd, numa animada cena, se define com "eu gosto de tudo" depois de perguntada sobre sua orientação sexual, e Katie é muito mais complexa que uma garota tomboy - a personagem é interpretada por um ator trans. E nas idas e vindas das personagens, somos engolidos por uma delicadeza genial, num filme feel good para aquecer corações.

Tangerina (2015)

Qual letra aborda? T.

Do que se trata? Após descobrir que foi traída por seu namorado e cafetão enquanto estava na prisão, uma prostituta e sua melhor amiga saem em busca do traidor e sua nova amante para se vingar.

Por que é bom? A produção do filme por si só já vale a sessão: filmado inteiramente em celulares e com atrizes trans reais. A crueza de uma filmagem bem próxima do real é fundamental para a imersão em "Tangerina", fita sobre as lutas e os sonhos de duas mulheres trans sufocadas à margem. A lição final é de que, independente de qualquer diferença, nós temos que ajudar uns aos outros para nos tornar mais forte.

Uma Mulher Fantástica (2017)

Qual letra aborda? T.

Do que se trata? Marina e Orlando, vinte anos mais velho do que ela, amam-se longe dos olhares e fazem projetos futuros. Quando ele morre repentinamente, Marina, mulher trans, é alvo da hostilidade dos familiares de Orlando: uma santa família que rejeita tudo o que Marina representa. Marina lutará com a mesma energia que dedica desde sempre para se tornar naquilo que é.

Por que é bom? Imagine você lutar diariamente para ter o direito de quem você é. A produção chilena faz o favor de dissecar essa tarefa no ecrã para termos uma leve ideia do quão difícil é a realidade transexual, quando todas as autoridades negam (e até pioram) sua situação. O primeiro filme na história do Oscar a vencer um prêmio encabeçado por uma atriz trans, o título de "Uma Mulher Fantástica" é um daqueles spoilers que não nos incomodamos em receber.

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Quantos da lista você já conferiu - e quais os seus filmes LGBTs modernos do coração? Dicas, sugestões e maratonas como todos os citados são bem vindas - e tem muito mais vindo aí para amarmos com todas as cores.

"Provavelmente não as aceitaria em Drag Race", diz RuPaul sobre mulheres trans

O reality "RuPaul's Drag Race" está vivendo o seu apogeu. Prêmios, recordes de audiência, popularidade à mil e dois Emmys de "Melhor Apresentador" na estante são as comprovações do sucesso e da importância do maior exemplar da arte drag na contemporaneidade. Aproveitando o embalo, Mama Ru deu uma entrevista ao The Guardian onde falou do programa e soltou alguns comentários que se destacaram.

Segundo o apresentador, mulheres cisgêneras e trans mulheres não são bem vindas no "Drag Race". Sobre mulheres cisgêneras , ele explica:

Drag perde o sentido de perigo e de ironia quando não é feito por homens, porque seu objetivo é um manifesto social e um f*da-se para a cultura dominada por homens. Então homens fazendo isso é realmente punk rock, porque é a real rejeição da masculinidade.

Quando questionado sobre mulheres trans, Ru hesita e fala:

Provavelmente não [aceitaria mulheres trans no programa]. Se você se identifica como uma mulher e faz a transição, você muda a partir das mudanças no seu corpo. Vira algo diferente; isso muda todo o conceito do que estamos fazendo. Nós tivemos algumas garotas que já fizeram enchimentos no rosto e talvez um pouco de implantes aqui e acolá, mas elas não estavam em transição.

Peppermint, famosíssima drag queen de Nova York, foi a primeira participante a entrar no programa sendo abertamente trans, na nona temporada - ao contrário de várias outras, que se identificaram como trans durante - Monica Beverly Hillz, Sonique - ou depois do show - Gia Gunn, Carmen Carrera. Sobre Peppermint, Ru comenta: "Ela não tinha implantes mamários até sair do programa; ela se identificava como mulher, mas não havia feito a transição".


A própria Peppermint, na final de sua temporada, foi questionada como poderia ser uma mulher trans e drag queen ao mesmo tempo, respondendo: "Mulheres trans sempre contribuíram para a incrível arte drag, desde o começo dos tempos. Isso não é novidade. Minha contribuição ao mundo drag é tão poderosa quanto a de qualquer homem gay", sendo aplaudida. Monica, na final da quinta temporada, respondeu o mesmo: "Drag é o que eu faço, trans é quem eu sou".

Essa matéria não tem o intuito de ser didático no que tange à sexualidade e gênero humano, e muito menos ser lenha para colocar RuPaul numa fogueira, todavia, o discurso da drag queen mais rica do mundo é preocupante quando transforma o "Drag Race" num Clube do Bolinha - só homens podem entrar. É certo que o programa é dela, são as regras dela, porém tal declaração perigosamente cai na casinha da transfobia ao querer excluir uma comunidade que já é tão oprimida dentro do próprio meio LGBT - Peppermint comentou no próprio reality como passou anos com medo de aceitar sua transexualidade, temendo não ser mais aceita na cena drag.

E esse não é o primeiro close errado do apresentador: questionado sobre o porquê de não ir "montado" na entrega do Emmy, ele falou: "Para mim, [drag] é um negócio, então você não vai me ver montado se eu não estiver sendo pago". O quão problemática é essa fala? O que poderia - e deveria - ser um ato fundamentalmente político, acaba sendo moeda de troca. É óbvio que a arte deve sim ser valorizada e muito bem paga - "Lembra dos cara achando que consumação paga peruca?", já cantava Gloria Groove -, mas quando o lado comercial vem antes do político, a coisa fica complicada. Já imaginou o quão revolucionário seria uma drag queen de saltão e cílios postiços recebendo o maior prêmio da televisão?


Em entrevista à Oprah, Ru comenta que, caso tivesse que parar hoje de fazer drag, estaria bem com isso. Seria uma sensação de "dever cumprido" depois de anos na arte ou puro descaso? É certo que o universo criado por ele é de suma importância para o mundo queer, entretanto: amiga não tem como te defender, não tem como ficar do teu lado, bicha.

Meu telão está morto.

Crítica: "O Reino de Deus" tem lindas paisagens e gays sobrevivendo à base de miojo

Atenção: a crítica contém detalhes da trama.

Nos últimos tempos, aqui no Cinematofagia, andei escrevendo sobre filmes com temática LGBT, e, à essa altura, o cinema gay-lésbico-bi-trans já se tornou um subgênero - principalmente o focado na homossexualidade masculina. Para ser rotulado como "subgênero", esses filmes devem trazer uma espécie de padrão, semelhanças, moldes específicos e familiaridade de estilos e narrativas que formem um todo - como por exemplo os "slashers", subgênero do terror (o gênero que o engloba) que traz um vilão matando os personagens, geralmente em atmosfera adolescente. Você conhece vários nomes, certeza.

O número de exemplares com o mote gay são - felizmente - cada vez maiores, de nomes pops como "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005), "Moonlight" (2016), "Orações Para Bobby" (2009) e o nacional "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" (2014); até os menos conhecidos, como o islandês "Crepúsculo" (2017), "Patrik 1.5" (2008) e "Orgulho e Esperança" (2014). E esses são apenas os masculinos; cinema lésbico e trans, mesmo que em passo menor, também vêm crescendo exponencialmente.

Até podemos tentar, todavia é difícil não compararmos uns aos outros. E isso não é um pecado. Obras com temas semelhantes acabam "concorrendo" entre si, já que involuntariamente vamos formando conexões entre elas e uma hora ou outra falaremos "ah, mas essa cena é tão insira o nome do filme aqui". E quanto mais famoso e bem sucedido o filme, mais referência ele se tornará. Não é à toa que "Brokeback", indicado a inúmeros Oscars, tenha se tornado o pilar central do cinema gay deste século, com vários dos filmes em seguida seguindo (voluntariamente ou não) tendências.


Ao lado de "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017), a temporada 2018 recebeu também "O Reino de Deus" (God's Own Country), dirigido pelo estreante Francis Lee. Apesar de não tão conhecido pelo público como o primeiro, "Reino" é queridinho da crítica, vencendo "Melhor Direção" no Festival de Sundance e indicado a "Melhor Filme Britânico" no BAFTA, o Oscar da terra da rainha.

O longa segue os passos de Johnny (a revelação Josh O'Connor). Ele mora no interior da Inglaterra com sua avó e seu pai, esse debilitado depois de um enfarto. Após o ocorrido, é Johnny quem deve tomar conta das principais tarefas da fazenda da família, tendo como distração o álcool e sexo casual. O pai então contrata Gheorghe (Alec Secarean), um imigrante romeno que aceita passar uns tempos na fazenda para auxiliar nos inúmeros afazeres.

Antes de começar o filme eu fiz um exercício mental: a partir da sinopse, tracei alguns pontos que já viraram clichê dentro do subgênero para ver quais o filme faria, desde os mais elementares até detalhes bem específicos. Aconselho, caso você ainda não tenha assistido, a parar agora e pensar: "o que deve acontecer a partir de agora no filme?" e continuar para descobrir.


Johnny é aquela persona absolutamente rude, ríspida e preconceituosa com todos à sua volta, desde o pai doente, passando pelo carinha que ele fica aleatoriamente numa tarde até Gheorghe. Mas é evidente que os rumos da fita farão com que os dois fiquem juntos - e isso não é um problema. Em meio à tensão criada por Johnny pelo seu comportamento, há troca de olhares entre ele e o forasteiro, mesmo sem gerar uma palpável áurea sexual.

Certo dia os dois devem construir uma cerca longe da fazenda, o que os deixam sozinhos por uma semana. E é lá que a relação será consumada. A cena onde os dois têm o primeiro contato sexual é crua e revela por demais os pólos distintos da relação: para Johnny, o sexo é um ato animalesco, instintivo, onde ele ataca a presa como uma besta. Gheorghe, ao contrário, pede para o rapaz ir com calma e delicadeza, enquanto rolam pela lama e se consomem ali mesmo, num ato primitivo.

Como Johnny nunca experimentou o sexo daquela forma, distante do automático e predatório, os próximos dias são recheados com muita estranheza, já que ele não sabe como lidar com a situação. Resta Gheorge observá-lo com seus grandes olhos, atento a cada passo daquele desconcertado garoto que parece estar florescendo um sentimento maior do que o esperado.


Durante a estadia nesse local, a obra constrói a personalidade de Gheorghe utilizando arquétipos bíblicos. Numa cena, ao verem um bezerro recém-parido nascer inconsciente, o romeno consegue reacordar o bicho dado como morto. Num momento depois, Johnny corta a mão e Gheorghe cospe e lambe a ferida, que aparece cicatrizada dias depois. Tudo isso remete à figura de Jesus, que ressuscita mortos, cura e, claro, o corte na mão remete à crucificação. O próprio título do filme reforça essa mitologia - "o reino de deus" é, também, o nome popular dado ao condado em que se passa a produção.

Todavia, tudo isso, que seria um peso bem interessante à trama, é rapidamente esquecido e não é abordado novamente durante a duração. O que é iniciado como um mistério é deixado de lado como algo irrelevante, frustrando o espectador pela falta de continuidade. É certo que não há um dever pela explicação de todos esses ganchos, mas por qual motivo o roteiro os introduz de formas tão pontuais para depois descartá-los?

Há também um diálogo que a película levanta sobre xenofobia, quando Gheorghe é colocado numa posição inferior e ridicularizado por Johnny ao ser chamado de "cigano". O debate também não é limado e nunca alcança relevância dentro da trama, recebendo poucas pinceladas de um tópico bastante atual em meio à crise europeia e a migração em busca de trabalho nos países mais pobres (ou menos ricos, como queira) do continente.


É essa a impressão que "O Reino de Deus" transmite: tudo fica pela metade. Todos os acontecimentos com Johnny são altamente previsíveis e seguem a cartilha do subgênero em vários itens. Sabemos que ambos se apaixonarão, que acontecerá algo que os separará e que fará o protagonista, antes uma pedra emocional, se pegar mexido pelo amado e transformado numa nova pessoa. E há a máxima "não é um filme gay até que um dos personagens se apegue emocionalmente a uma peça de roupa do outro": Ennis (Heath Ledger) e a camisa de Jack (Jack Gyllenhaal) em "Brokeback"; Elio (Timothée Chalamet) e o calção de Oliver (Armie Hammer) em "Me Chame Pelo Seu Nome"; e Johnny e o moletom de Gheorghe aqui.

Mas caso você me questione como eu posso ter aclamado "Azul é a Cor Mais Quente", por exemplo, que segue vários desses "clichês", enquanto em "O Reino de Deus" são defeitos, respondo-te. Uma obra jamais conseguirá ser 100% original. Como comento na crítica de "Lady Bird", um grande clichê ambulante, o cinema é uma renovação constante de histórias já contadas, porém, assim como "Lady Bird", "Azul é a Cor Mais Quente" e vários outros nomes entregam algo além do que já está previsto. Sejam em atuações, em roteiro, em direção, o que for. O problema não é ser clichê, é não apresentar algo mágico que faz o filme deixar de ser ordinário para ser espetacular.


E isso não acontece em "O Reino de Deus". Com exceção da fotografia, que sem pena explora as paisagens estonteantes do norte da Inglaterra, e a atuação de Josh O'Connor, bastante sincero na pele de um personagem complexo, apesar do chavão, tudo voa apenas moderadamente. A direção é competente e faz as atuações serem naturalistas e exalarem química para provar o amor dos protagonistas - não num nível de "Me Chame Pelo Seu Nome", mas convence; o pior mesmo é a montagem, que em muitas horas parece não saber o que está fazendo e cria cortes bruscos e une cenas de maneira grosseira. Engraçado como os acertos e os erros desse são tão parecidos com os de "Me Chame", entretanto Elio e seu pêssego assumem a dianteira pela irretocável sintonia entre os protagonistas.

E é óbvio que essa percepção da mágica de um filme é algo que cutuca o lado subjetivo de cada um: você pode assistir à obra e achá-la apaixonante, tocante e verdadeira. E não dá para negar que há cenas bem sinceras, como o banho que o protagonista dá no pai, uma bela (e triste) cena que poderia até mesmo explorar mais a subtrama da debilitação física; e um beijo em específico do casal principal, feito numa sequência que exala tensão e deixa a plateia na ânsia pelo contato. Há pequenas grandezas aqui - principalmente por ser um dos raros filmes LGBT a possuir um final feliz.

"O Reino de Deus" é um longa ruim? Longe disso. Toda representação respeitosa sobre o amor gay é bem vinda no cinema, ainda uma parcela bem pequena diante do número absoluto de filmes produzidos anualmente. Mas sem tanta originalidade e personalidade, a obra soa mais como uma emulação de sucessos do subgênero ao invés de um material próprio e concreto. Apesar de carregar beleza em suas imagens, no fim é um filme sobre gays aprendendo a viver com os próprios sentimentos e sobrevivendo à base de miojo.

Crítica: o título de "Uma Mulher Fantástica" é o spoiler que não nos incomodamos em receber

Na minha crítica de "Me Chame Pelo Seu Nome" eu aponto que estamos vivendo um grande momento para o cinema LGBT, com a indústria cada vez mais criando filmes com a temática e aceitando-os entre a fatia mainstream. Os críticos internacionais estão deitando para tais obras: pelo terceiro ano seguido temos filmes LGBTs entre os mais aclamado do ano no Metacritic: "Carol" em 2015, "Moonlight: Sob a Luz do Luar" em 2016 e "Uma Mulher Fantástica" em 2017, feito inédito na história. Jamais tivemos um filme lésbico, gay e trans - respectivamente - entre os melhores dos melhores. E todos os três são absolutas pérolas da Sétima Arte e com suas aclamações mais que merecidas. 

"Uma Mulher Fantástica" (Una Mujer Fantastica) possui um grande diferencial dos outros dois filmes: sua protagonista, Daniela Vega, é uma mulher trans - Cate Blanchett, Rooney Mara e Trevante Rhodes, protagonistas de "Carol" e "Moonlight", não são homossexuais. Há muito a discussão sobre representatividade e atores héteros interpretando personagens LGBT - Felicity Huffman em "Transamérica" e Jared Leto em "Clube de Compras Dallas" são outros bons exemplos (se você se questionar "e o Eddy Redmaine em 'A Garota Dinamarquesa'?", foque que falei "bons exemplos"), e essa é uma discussão necessária, porém, quando bem feito, desenvolvendo o assunto de forma competente, o filme não merece ser diminuído por isso. A mensagem é mais importante que a sexualidade/identidade de gênero do ator.


Porém "Uma Mulher Fantástica" não passa por essa discussão ao trazer a revelação Vega, em seu primeiro papel. Ela vive Marina, uma mulher trans feliz com seu namorado, Orlando (Francisco Reyes), um homem cis. O casal leva uma vida normal, com o cara jantando com a namorada no aniversário dela, voltando para casa, fazendo sexo e tudo mais. Nada de diferente de um casal cis-hétero, e aqui temos uma representação bem correta do amor trans.

Orlando, 30 anos mais velho que a namorada, não possui o menor problema com a transsexualidade de Marina (e deveria possuir?), e o filme mostra o relacionamento por meio de lentes naturalistas e contemplativas. A cena de sexo dos dois é feita de maneira terna, sem fetichismos para a plateia, sem soar como se o corpo de Marina estivesse ali para a curiosidade mórbida do público. É uma construção como a de Elio e Oliver em "Me Chame", feita sem grandes exclusividades pela fuga do padrão.

Só que o namorado subitamente morre, o que vai trazer à superfície uma realidade opressora que Marina tentava evitar. Logo no hospital, ao dizer seu nome social, o médico pergunta se aquilo era um "apelido". A áurea de desconforto escorre pela tela, com o médico pisando em ovos ao perguntar se ela era parceira do falecido, como se isso fosse uma vergonha a ser revelada em sussurros. Com a chegada da polícia a coisa piora: o policial se recusa a chamar Marina pelo nome social e se refere à ela sempre no masculino. "Meu nome é Marina Vidal", ela reforça, em vão.


O público tem ciência dos acontecimentos, mas, para os médicos e a polícia, a morte de Orlando não foi apenas um evento natural. Enquanto Marina o levava ao hospital, o homem cai da escada. Os machucados são provas de que aconteceu mais do que ela afirma, e a suposição é levantada não só pelos trâmites práticos, mas porque a mulher é uma transexual. Essa população ainda está com a reputação plantada com a prostituição, e a cena da morte de Orlando parece, para as autoridades, um caso de agressão.

Nada é realmente dito, todavia, a atmosfera construída pelo filme grita tais preconceitos. Uma detetive da divisa de crimes sexuais não é tão sutil: já chega perguntando se Orlando pagava Marina e detalhes da intimidade do casal. O que poderia ser apenas procedimento padrão sai da boca da mulher como ataque velado, como se ela não acreditasse na palavra de Marina e quisesse arrancar uma confissão de prostituição. E essa é a realidade de uma pessoa trans, encurralada ao não poder contar com os órgãos de regimento da sociedade: até eles negam sua existência.

Mas nada disso chega perto do pior obstáculo que a protagonista terá que enfrentar: a família de Orlando. Desde o raivoso filho, que culpa Marina pela morte do pai, até a ex mulher, que carrega uma ofensa por ter sido "trocada" por uma "aberração". A mulher aqui é, talvez, o pior tipo de intolerante: aquele que vomita preconceito "educado". "Me desculpe se isso soar rude, mas eu acho o relacionamento de vocês uma perversão. Quando olho para você, eu vejo uma quimera", ela fala cheia de boas maneiras para Marina. E é assim mesmo que a protagonista é vista: como um animal disforme, incongruente.


Uma das principais reclamações em relação ao filme é a maneira como Marina lida com todos esses ataques: ela faz nada. Fica estampado em seu rosto o quanto tudo aquilo a machuca, no entanto ela prefere não comprar briga. É de se esperar que o público deseje que ela rode a baiana e dê um ataque - eu esperei ansioso que ela pulasse no pescoço da tal ex-mulher -, mas a realidade da protagonista é bem diferente da nossa. Dá para entender o motivo de ela não descer na porrada: ela quer evitar maiores problemas. Uma pessoa trans indo à delegacia após bater em uma pessoa (cis) vai acabar sobrando para quem?

A frustração não-diegética da plateia, sufocada por se tornar cúmplice passivo de tais agressões psicológicas, é reflexo do sofrimento de Marina: estamos presos diante de uma realidade que não conseguimos interferir, amarrados numa camisa de força. Tudo é revoltante, e nos vermos nessa posição impotente torna a mensagem do filme ainda mais forte. A protagonista é um espécime estranho que o corpo social quer eliminar a todo momento. Ela, claro, luta pela sobrevivência, metaforizada na cena em que anda numa rua e um vendaval tenta pará-la: Marina está nadando contra a maré.


A mulher é negada do ato de se despedir do namorado ao ser proibida de ir ao velório do falecido. Ela não é socialmente permitida nem de passar pelo próprio luto, entretanto não desiste tão fácil assim e vai procurar meios para burlar a ordem restrita da ex-mulher de não ir ao velório para não perturbar as filhas (?), o que inevitavelmente não acabará bem - momento onde a obra sai do plano psicológico para ir ao campo físico, na cena mais terrível de sua duração.

Uma sequência primordial aqui é o momento em que Marina deve passar pelo exame de corpo e delito. Denunciando o nosso despreparo para lidar com a transexualidade, o médico a fazer o exame não sabe como deve chamá-la, no masculino ou feminino. E o exame em si é gritantemente desconfortável, quando a mulher é obrigada a se despir para fotos na frente de estranhos. É uma violação elementar de Marina, a exposição da propriedade máxima que é o corpo.


O longa foi o selecionado do Chile ao Oscar 2018, garantindo a segunda indicação de país na categoria "Melhor Filme Estrangeiro" ("No" foi indicado em 2013), sendo o primeiro filme de ficção protagonizado por uma atriz trans a ser indicado ao Oscar, quebra necessária de uma barreira - algo que o magnífico "Tangerine" não conseguiu em 2015. Notável também pontuar que, também esse ano, o doc "Strong Island", do diretor trans Yance Ford, recebeu indicação a "Melhor Documentário". Vega, que se entrega de carne e osso ao papel, foi cotada ao Oscar de "Melhor Atriz" e, mesmo não conseguindo a indicação, entrega um triunfo ao dar verdade absoluta à obra. Os maiores rivais da película na premiação são os igualmente brilhantes "Sem Amor" (da Rússia) e "A Arte da Discórdia" (da Suécia) e, caso vença, será o primeiro com temática trans a levar o Oscar para casa.

"Uma Mulher Fantástica" é um filme revoltante e que não só vai como deve gerar indignação, porém altamente urgente ao tramar um enredo que expõe transfobia, ódio e ignorância de maneiras tão diversas - e se "Moonlight" é um representante absoluto sobre o ser negro e gay, aqui temos o panteão da realidade trans no cinema, arte que deve ser usada para escancarar os problemas na interação humana, não apenas entreter. Marina luta dia após dia pelo direito de ser quem é, e imagine o quão exaustivo é ter que entrar em batalhas constantes para ser respeitado enquanto ser humano. O título aqui é um daqueles spoilers que ficamos gratos em receber, e nossa protagonista é muito mais que fantástica. É complexa. Forte. E, acima de tudo, mulher.

Crítica: "Me Chame Pelo Seu Nome" é cinema gay de qualidade, mas não merece o Oscar

Indicado aos Oscars de:

- Melhor Filme
- Melhor Ator (Timothée Chalamet)
- Melhor Roteiro Adaptado *favorito*
- Melhor Canção Original

Crítica editada após os indicados ao Oscar 2018

Pode ser prematuro afirmar, mas parece que estamos vivendo o apogeu do cinema LGBT. Filmes com a temática são produzidos há tempos, mesmo que de forma não tão explícita - "Festim Diabólico" (1948), clássico do Hitchcock, é um exemplo com personagens gays sem possuir o tema desenvolvido -, porém estamos encontrando cada vez mais destaques anuais que embarquem nos dramas e vidas dessa população.

Pelo terceiro ano consecutivo, temos um filme LGBT recebendo aclamação e figurando entre os melhores do ano: "Carol" em 2015, "Moonlight: Sob a Luz do Luar" em 2016 e "Me Chame Pelo Seu Nome" (Call Me By Your Name) em 2017, todos premiados e importantíssimos para as discussões que envolvem sexualidade e gênero. Se "Moonlight" venceu o Oscar de "Melhor Filme" na edição de 2017, "Me Chame Pelo Seu Nome" já figura como um dos favoritos, podendo ser o segundo filme gay a ter a maior honraria da Academia.


"Me Chame Pelo Seu Nome" tem causado frisson desde sua estreia no Festival de Sundance, em janeiro deste ano, quando já era cotado para o Oscar de 2018. Dirigido por Luca Guadagnino, a obra segue Elio (Timothée Chalamet), jovem de 17 anos que passa seus dias preguiçosos no interior da Itália. Essa preguiça será abalada com a chegada de Oliver (Armie Hammer), estudante norte-americano convidado pelo pai do garoto a passar as férias em sua casa. A locação, em união com a fotografia e os figurinos, é responsável pelo clima edílico da fita, um filme solar, veraneio e que evoca a liberdade.

Em um legítimo coming-of-age, "Me Chame Pelo Seu Nome" visa desbravar o autoconhecimento de Elio na fase mais turbulenta da vida. Em meio ao marasmo da sua cidade, ele tenta se encontrar como pessoa, sendo obrigado a pegar um grande desvio quando Oliver entra na sua casa. Charmoso, bastante inteligente e facilmente apegável, Elio vê no rapaz o oposto de si mesmo, que passa a vida lendo ou ouvindo música, recolhido na sua própria introspectividade.

O longa acerta em já começar com a chegada de Oliver, logo na primeira cena. Os olhares dados por Elio sobre o cara são imediatamente de curiosidade, um exemplar atrativo para a descoberta de sua sexualidade. Então passamos a seguir os passos de ambos até o florescer do relacionamento.


Aqui esbarramos no primeiro problema: demora uma hora para o relacionamento de fato começar. Até lá, somos obrigados a enfrentar as mais diversas e clichês burocracias do gênero: se de um lado temos a dúvida de Elio sobre seus próprios sentimentos, o filme nos dá aquele velho lenga-lenga do personagem (no caso, Oliver) ficando com uma menina, para o ciúme velado do protagonista, que vai tentando chamar a atenção do outro. Daí para frente, tudo é altamente previsível.

Até que a atenção seja concretamente alcançada, a primeira hora é maçante, sem emoção e recheada de momentos em que nada acrescentam à narrativa. Arqueólogo como o pai de Elio, Oliver vai desde explicações sobre origens linguísticas até visitas arqueológicas. E tome recitais de poemas, e sequências no piano e leituras de autores franceses do século XVIII.

Tudo isso ajuda a compor a persona de Elio, que vive submerso num mundo de cultura, todavia, todos os personagens ao seu redor não recebem grandes estudos. Oliver é um personagem que serve quase exclusivamente para colocar os pés de Elio na sua sexualidade, já que não possui desenvolvimento. Todos ali gravitam ao redor do protagonista e não têm relações tão bem feitas. É tudo no piloto automático, funcionando por um background formado pelo próprio espectador.


E sem tais desenvolvimentos, o nascimento do romance entre o casal não chega a convencer de maneira assertiva. Há pinceladas de composição romântica, como o momento em que Oliver massageia as costas de Elio, para o aborrecimento (forçado) do garoto, que continua ficando com uma garota, seja por desejo fidedigno ou para expulsar Oliver da sua mente.

Porém, quando o relacionamento começa a tomar forma, o filme decola. O primeiro beijo dos dois é feito com uma veracidade rara: é palpável o desejo de ambos, a vontade animalesca de se devorarem, e é curioso ver como é Elio, aquele sem tanta experiência, que dá o primeiro passo, abrindo caminho para Oliver entrar no jogo - e ele entra, mesmo saindo rapidamente.

Se "Me Chame Pelo Seu Nome" acerta na mosca em algo é na relação física do casal: extremamente sensual, a química sexual exala da tela. Os atores conseguem se jogar de cabeça nos personagens, e entregam performances dignas de aplausos pelo comprometimento em momentos tão difíceis como as cenas de intimidade e sexo (nada explícitas). A obra explora bastante os corpos desnudos dos dois, que passam boa parte da metragem sem camisa, molhados, expelindo feromônios. Vemos suas peles, suas ânsias, seus fluidos (e seus pêssegos), e viramos cúmplices do relacionamento, visto de maneira próxima e naturalista.


Obras com temática LGBT quase sempre caem nos chavões de: mostrar os conflitos do personagem com sua família (que não aceita a sexualidade do mesmo); ou lincar com doenças, geralmente as sexualmente transmissíveis; ou enfrentar a morte de algum personagem. "Me Chame Pelo Seu Nome" faz nada disso - não que obras que tragam esses prismas sejam ruins, ainda necessita-se que se debata essas mazelas da vida LGBT, como o recente e ótimo "Viva" (2015), em especial quando esses prismas refletem também as realidades de países menos desenvolvidos.

Os pais de Elio têm ciência da "mais-que-amizade" do garoto com o pupilo, e estão bem com isso. De fato, infelizmente é exceção ter pais que aceitam com a naturalidade devida a relação homossexual do filho, porém o longa não está interessado em discutir a relação do jovem gay com sua família, e sim sua relação consigo mesmo e com Oliver. O namoro dos dois é mostrado como um romance de verão como qualquer outro - leia-se: a forma correta de ser retratada. Claro, há as dificuldades que a população LGBT ainda enfrenta - principalmente quando levamos em conta que a história se passa nos anos 80 -, entretanto, tirando isso, não há diferenças do amor dos dois com um amor hétero.

Um grande exemplo da falta de desenvolvimento do roteiro, atrapalhado pela montagem, é o período de "férias" que o casal tira do universo em que se conheceram. Eles viajam e passam três dias sozinhos, contudo quase nada é mostrado ali. Depois da viagem, Oliver terá que voltar para os Estados Unidos, o que fomentaria a angústia de qualquer um, no entanto, nem mesmo na despedida há a dose de emoção correta para o momento. Elio fica sim devastado, não havia como não ficar, mas tudo é feito letargicamente, apenas na superfície, ao invés de se aprofundar na separação dos dois, no ponto final daquele bucólico amor.


E essa impressão permanece pela maior parte da duração: desejamos nos entregar à emoção, entrarmos com força na história, mas soa como se a produção não se preocupasse tanto com isso. O amor dos dois não extrapola o ecrã e chega até o público - algo que o sexo consegue fazer sem percalços. Quando conseguimos alcançar o coração do filme, no diálogo final entre pai e filho, já estamos nos 45 minutos do segundo tempo de uma longa partida, porém, ainda assim, vislumbramos um belíssimo coração, quando o pai dá uma aula sobre o quão complexo é o nada simples ato de viver.

O filme tem sido recebido com entusiasmo generalizado, mas não dá para fugir: ele entrega quase nada de novo ou que não já tenhamos visto. Tirando o final da película e a excepcional atuação de Timothée Chalamet, que pode lhe render um Oscar de "Melhor Ator" aos 22 anos, há nada realmente fora do comum ou triunfal em "Me Chame Pelo Seu Nome". Não se engane, temos em mãos um bom filme, feito com bastante competência, porém sem alcançar os feitos fora-de-série de obras similares.

"Me Chame Pelo Seu Nome" é uma corretíssima representação da vida gay, um importante acréscimo no debate sobre o assunto e um marco para essa população ao levar o tema à mais alta forma de entretenimento para as massas. A forma como a produção soa tão contemporânea, mesmo revisitando os anos 80, prova como o trato à vida gay foi exemplar. Só é inegável perceber como ele não tem o desenvolvimento de "O Segredo de Brokeback Mountain", a delicadeza de "Carol", a crueza de "Tangerine", a importância de "Moonlight" ou a devastação de "Azul é a Cor Mais Quente", primos no cinema LGBT realizados com muito mais expertise - e muitas vezes sem metade do reconhecimento recebido de "Me Chame Pelo Seu Nome".

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