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Um papo com a drag e cantora Kaya Conky: “Estamos deixando nossa marca, pra que outras pessoas possam se identificar”

“Todas as danadas safadinhas aqui do baile, eu convoco agora pra fazer uma sacanagem”, canta Kaya Conky em seu novo single, a grudenta “Bumbum Tremendo”.

Com apenas 21 anos, a cantora e drag queen de Natal estreou na música no finalzinho de 2016, mesma época em que a internet já começava a abraçar nomes como Pabllo Vittar e Lia Clark, e ao som do funk “E Aí Bebê”, começou a trilhar o caminho que hoje chega no seu primeiro EP, “Sabe Que Vai, Pt. 1”.



“Antes era uma coisa alternativa. Dentro da cultura LGBT, tinham pessoas que acompanhavam o programa do RuPaul e se interessavam por isso”, ela nos conta, sobre o interesse crescente do público nas drags e, principalmente, drags cantoras. “Pabllo [Vittar] facilitou muito a ascensão de outras. É como se ela tivesse atingido um público tão grande, que conseguiu colocar o drag numa categoria mais popular, mainstream.”

Mas esse impacto tá longe de ter alcançado outro patamar apenas na música. “Todo o mercado voltou os olhos pra essa coisa do drag”, explica Kaya. “Pra levar também o ser drag dentro das discussões sobre gênero e sexualidade, então foi algo que acabou dando mais voz para o rolê.”



Seu primeiro single, “E Aí Bebê”, teve uma repercussão maravilhosa pela internet e fora dela. Na nossa conversa, contamos que a faixa tocou bastante nas baladas de São Paulo, por exemplo, e ela se lembra sobre todas as portas que foram abertas por conta desta faixa.

“Foi quando eu comecei a viajar de avião, né?”, brinca, se referindo aos shows que passou a fazer fora da sua cidade como drag queen. “Já tinha viajado uma vez, como drag também, mas quando eu era DJ. Depois que comecei a cantar, viajei direto, todo final de semana tava pegando um avião pra um estado diferente, e isso era muito surreal pra mim. A gente acaba se acostumando, porque é o meu trabalho, mas no começo, tudo é muito surreal. Eu pensava, tipo, 'que isso!? Vida de estrela!'. (Risos)”

Agora a cantora trabalha a faixa “Bumbum Tremendo”, bem diferente do funk de sua primeira música de trabalho, e também explica: “esse estilo musical, o transa-reggae, é muito forte aqui no Nordeste e, quando vi que seguiria mesmo com esse lance de música, eu disse, 'nossa, quero muito fazer algo nesta linha'. Espero que a música faça as pessoas me conhecerem de uma outra forma, com uma nova sonoridade e tal, e que dê uma cara pra primeira parte do EP, mas, ao mesmo tempo, crie curiosidade para os meus próximos projetos.”

Quando lançou o clipe deste novo single, em dezembro do ano passado, Kaya chegou ao 2º lugar entre os tópicos mais comentados do Twitter no Brasil. “Só não pegou o primeiro porque a Katy Perry lançou um clipe no mesmo dia e a primeira tag era dela”, ressalta, rindo. “Se não tivesse lançado, teríamos ficado em primeiro nos assuntos mais comentados do site e, nossa, teria sido incrível!”



Mas ela não para e, enquanto promove este trabalho, já começa a pensar na parte 2 do EP.  “Já começou a ser produzida, mas ainda não temos uma previsão de lançamento. Tô querendo fazer essa segunda parte com bastante calma, dando atenção pra todos os detalhes, pra que, enfim, fique tudo bonitinho e dê tudo certo.”



Falando em parcerias, a cantora se empolga. Kaya colaborou com a Katy da Voz na faixa “Sarrada”, do seu primeiro EP, e também emprestou seus vocais para “Eu Gosto É De Dar”, da Danny Bond, mas agora quer ir além. “Do meio drag, eu admiro todas elas, mas as que mais me animo pra uma ideia de parceria, que eu acho que sairia algo bem legal, é a Gloria Groove e a Lia [Clark]. Curto muito a vibe delas e a personalidade das duas”, nos conta. “Queria muito trabalhar com algum MC desses héteros, sabe? Tipo Jerry Smith, ou MC WM. E também adoraria fazer uma parceria com a JoJo 'Toddynho' e Linn da Quebrada. Acho elas incríveis, incríveis!”

No Spotify, ela mantém uma playlist de funk, com nomes como Heavy Baile, MC Maha, MC Don Juan, MC Zaac e Pabllo Vittar. Ouça aqui.



“É o babado da representatividade mesmo, né?”

Apesar da ascensão de tantos nomes LGBTQ+, em sua maioria pela internet, o Brasil ainda é um país extremamente LGBTQfóbico e que, nos últimos anos, passou por uma onda crescente e preocupante de discursos conversadores, e nossa conversa também bateu nesta tecla.

“Acabei de receber um comentário aqui no Youtube exatamente sobre isso! Um hétero falando sobre 'viadagem' e não sei o que… A gente vê que essa parcela da população é bem insistente”, diz a cantora. “Acho que o primeiro passo pra desafiarmos essas pessoas e ir contra o que querem nos impor é, justamente, continuar produzindo. Ter pessoas LGBTs, negras, pobres, que fazem parte de alguma minoria, é importante ter essas pessoas produzindo e tendo visibilidade para esses materiais.”

Ciente de que nem todas conquistam os mesmos espaços, ela se complementa: “e, tendo visibilidade ou não, é importante que elas existam, porque a gente tá ali, deixando a nossa marca, pra que outras pessoas como a gente, seja como a gente for, tenham um tipo de material com o qual vão se identificar. Não necessariamente por o que a letra da música diz ou o clipe mostra, mas por ver que ali, em algum lugar, tem uma pessoa que se parece com você. É o babado da representatividade mesmo, né?”

Neste sentido, ela celebra o cenário drag brasileiro dos dias atuais. “Isso acaba te dando um gás pra ir atrás do seu, porque deixa de parecer algo distante. Mesmo que as pessoas critiquem, digam que a música é ruim, a gente continua deixando a nossa impressão e conseguindo dialogar com quem gosta do que fazemos, e acredito que isso seja o mais importante, no final das contas.”

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