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10 músicas para explicar Daft Punk, sem Daft Punk

De Skrillex a Britney Spears, é possível encontrar Daft Punk em praticamente tudo o que consumimos de música pop nos últimos anos.


Quando Dua Lipa lançou o álbum “Future Nostalgia”, já antecipava ali uma proposta que só veio a se completar com a chegada de seu álbum extensor, “Club Future Nostalgia”, no qual, através de suas referências, remixes e batidas, o registro rompia com o jejum proposto pela pandemia e fazia-nos sentir dentro de um verdadeiro clube, da forma mais musicalmente sensorial possível.

A ideia não era novidade e, pensando principalmente na sonoridade eletrônica e inspirada pela disco music, nos leva diretamente para um clube que abriu as suas portas em meados de 2003, com a assinatura do duo francês que praticamente redefiniu tudo o que entendemos por estética e som da música pop nos últimos vinte anos. Estamos falando do “Daft Club”, lançado pelo Daft Punk naquele ano para promover um dos seus discos de maior sucesso, “Discovery”, reinventando as músicas dos franceses para, bem, as pistas.

Desde a última segunda-feira (22) em que Guy-Manuel de Homem Christo e Thomas Bangalter anunciaram o fim de suas atividades com o Daft Punk, caímos no looping de revisitas aos trabalhos do duo e, inevitavelmente, nos pegamos pensando sobre o quanto eles deixaram de legado para a música como um todo, sem quaisquer limitações.

Com isso, decidimos reunir uma playlist um tanto quanto inusitada, com “10 músicas para explicar Daft Punk, sem Daft Punk”.

Pra começar essa experiência, é claro que pensamos em Dua Lipa. “Future Nostalgia”, faixa-título do último trabalho da britânica, exala a energia do Daft Punk em cada uma de suas batidas. A música traça um roteiro que passeia pelas fases mais pop do duo, com o vocal computadoramente alterado ao fundo, as batidas crescentes que desenham a sua jornada até a pista e, claro, essa eterna sensação de nostalgia por o que está por vir. 

Apesar dos hits dançantes, Daft Punk sempre escondeu baladas grandiosas ao longo de sua discografia, com destaques como “Something About Us” (Discovery), “Make Love” (Human after all) e “Instant Crush” (Random Access Memories), e, em comum, elas carregam essa atmosfera eletrônica quase que psicodélica, soando como uma grande viagem de bala sentimental que, atualmente, só nos tem sido tão bem servida pelo dealer Kevin Parker e sua banda, Tame Impala

Ainda pela fase mais humana dos robôs franceses, o revival disco invocado em “Random Access Memories” se faz muito presente nos trabalhos de Mark Ronson, que sempre brincou com esse meio termo entre o som eletrônico, virtual, e orgânico, com bandas e instrumentos reais. Lembramos aqui desse remix do Jax Jones para a parceria dele com Lykke Li, “Late Night Feelings”.

A partir daqui, a coisa fica mais eletrônica. Antes do Daft Punk, Guy-Man e Bangalter formaram a banda Darlin’, que contava ainda com o terceiro membro Laurent Brancowitz, mais tarde integrante da Phoenix, mas as coisas não deram muito certo. Nesse meio tempo, ali pelos anos 90, eles piraram no universo das raves e todos seus sons ácidos e, anos depois, surgiram com o que os revelou para o mundo no disco “Homework”. A soma de passado no rock com presente no eletrônico se assemelha bastante a trajetória de ninguém menos que Skrillex, que teve a banda emo From First to Last, e assim como o Daft Punk, nunca deixou de incorporar elementos do rock em suas produções. As entradas rasgadas e acompanhadas de loopings vocais repletos de autotune em “Rock ‘n’ Roll (Will Take You To The Mountain)” é um dos filhos mais fiéis aos primeiros trabalhos do duo francês.

A estética robótica e futurista pode ter confundido algumas pessoas, mas a intenção de Daft Punk sempre foi o oposto ao que seu som inicialmente propôs: eles queriam encontrar a humanidade através da tecnologia, e não o contrário. E nem todos entenderam o conceito. Um artista que provavelmente mexeu com os sentimentos dos robôs da pior forma possível, foi will.i.am. Ao contrário de nomes como Pharrell Williams e Kanye West, que através de seus remixes e samples, sempre tiveram a admiração da dupla francesa, o líder do Black Eyed Peas viveu tendo o seu apreço ao som dos caras sendo ignorado. E olha que se esforçou. Em carreira solo, por exemplo, o produtor de “Scream and Shout” sampleou faixas como “Technologic” e “Around The World”, mas teve como alguns dos exemplos mais notáveis de sua influência no toque francês a fase super eletrônica do BEP nos discos “The Beginning" e “The E.N.D.”.

Mesmo sem a validação dos próprios Daft Punk, reconhecemos acertos como a produção de David Guetta em “Rock That Body”, que resgata muito do que os franceses propuseram em hits como “Around The World” e “One More Time”, promovendo o encontro definitivo entre o homem e a máquina, através de fusões distorcidas e intencionalmente excessivas, que mal nos deixam saber onde começam as vozes reais e o que são apenas apetrechos eletrônicos. Tem seu valor.

Ao contrário de will.i.am, Kanye West tem crédito de sobra com a dupla. “Stronger”, do álbum “Graduation”, cria a interação perfeita entre “Harder, Better, Faster, Stronger” e o hip-hop, de uma forma que, arriscamos dizer, nenhum outro artista soube fazer desde então. A música chegou a ser apresentada ao vivo no Grammy de 2008, sendo essa a primeira performance televisionada do duo, que, anos mais tarde, voltou a trabalhar com Kanye no disco “Yeezus” (2013), através das faixas “On Sight”, “Blkkk Skkkn Head”, “I’m a God” e “Send It Up”.

E já que puxamos o bonde dos que têm moral com os caras, não dá pra não falar de The Weeknd. Até então, o músico canadense foi o responsável pelas últimas aparições do duo com novo material, por conta dos feats em “Starboy” e “I Feel It Coming” (2019), mas, pra não trapacear a proposta do post, a gente segue nossa pesquisa com outra colaboração dele: o nu-disco de “Nocturnal”, do Disclosure.

Diplo, que já transformou Daft Punk em afrobeat com cara de funk carioca no edit “Work Is Never Over” (2007), aqui é lembrado pela parceria com a cantora Poppy: personagem controversa que, através de uma interpretação apática e robótica, se esforçava para convencer o público sobre o quanto era humana. Em “Time Is Up”, do álbum “Am I A Girl?”, os dois se entregam ao synthwave enquanto versam sobre uma realidade em que a inteligência artificial domina a raça humana.

Quase um anti-disco na carreira do Daft Punk, “Human After All” é uma das fases mais fora da curva da dupla que, ali, se aventurava por sons que buscavam fugir da matemática pop comercial, rebuscava as batidas secas do debut “Homework” e se infiltrava por um dance-rock improvisado (ele foi produzido em seis semanas), desafiando os ouvidos que chegaram ao seu trabalho pelo pop perfeito do “Discovery”. Essa provocação eletrônica, que utiliza de um pop barulhento e, em determinadas faixas, até incômodos, não pode ser explicada de uma forma melhor, senão através do trabalho de artistas como a produtora e cantora londrina SOPHIE, precursora dos chamados “hyperpop” e “pc music”, que redefine a percepção do que é música pop justamente por essa sátira exacerbada. Para a playlist, fomos de “Not Okay (Alone Mix)”, presente na versão remix do álbum “Oil Of Every Pear’s Un-Inside”.

Pra fechar, a gente traz uma curiosidade: Britney Spears bem tentou um feat com Daft Punk e isso no comecinho da carreira. Mas a parceria não aconteceu, nunca soubemos se por questões criativas, ou apenas imprevistos de agenda. O fato é que, nas pesquisas que levaram aos produtores do seu segundo álbum, “In The Zone”, a princesinha do pop sondou os franceses, além de nomes como William Orbit, The Neptunes e LCD Soundsystem. Murphy, do LCD, chegou a falar sobre a época em que estiveram em estúdio como um período improdutivo, até que “certo dia, Britney saiu para jantar e nunca mais voltou.”

Por aqui, voltamos a redenção eletrônica da artista no disco “Femme Fatale”, de 2013, que foi muito influenciado pela cena europeia, indo desde o synthpop ao que começava a desenhar o dubstep mainstream de anos depois. “Big Fat Bass”, com, olha ele aí de novo, will.i.am, soa como uma versão polida do que Daft Punk ensina como fazer desde a sua primeira lição de casa.

A playlist completa com o resultado da nossa pesquisa está no Spotify e, vale esclarecer, nossa ideia foi justamente buscar um pouquinho do som da dupla através de sons e artistas atuais, fugindo de associações óbvias ou mais explícitas que, sabemos, existem aos montes dado a dimensão do seu legado e influência na música das últimas duas décadas.

Que esse ainda seja o início de muitos outros anos de ensinamentos e atualizações baseadas neles que redefiniram o driver da indústria pop.

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