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Lista: 10 filmes sobre as complexidades da maternidade

A maternidade longe da óptica glamourizada em 10 longas que te farão pensar
A relação mais universalmente humana é a de uma mãe com suas crias. De histórias de amor incondicional até as dificuldades desse elo (supostamente) natural e a ruptura de um amor absoluto, a maternidade foi tema de inúmeros filmes que ousam desafiar os meandros do relacionamento. Essa lista é sobre isso.

Selecionei 10 filmes do cinema contemporâneo que abordam a maternidade nos mais diversos contextos. De dramas russos até terrores norte-americanos, são filme que, ou possuem o relacionamento como palco principal, ou que são elementos fundamentais da trama. Bom deixar claro que não se tratam de fitas para se ver no almoço de domingo, e sim películas que estão interessadas em discutir as complexidades da maternidade e o que significa a relação - acho bem mais interessante trazer obras que discorram de maneiras não óbvias uma das bases da nossa sociedade. Todos os textos são, como sempre, livres de spoilers.


Tully (idem), 2018

Direção de: Jason Reitman, EUA.
Marlo, mãe de dois, está esperando o terceiro e não planejado filho. Uma das crianças possui um problema de desenvolvimento que médico nenhum consegue diagnosticar, e a mulher se vê afogada em ansiedade sobre os desafios que já possui e os que ainda estão pela frente, até que surge Tully, a babá. A maternidade é um evento dito como o maior na vida de uma mulher, um período fabuloso que não pode ser definido por nada além de “uma dádiva”, então é muito subversivo ver como “Tully” se preocupa em quebrar essa imagem de glamourização: é claro que a gravidez é um marco, todavia, ninguém tem coragem de contar todos os lados não-tão-agradáveis. 

Mommy (idem), 2014

Direção de: Xavier Dolan, Canadá.
"Mommy", quinto filme de Xavier Dolan, retoma o tema central de seu cinema, retratando o relacionamento conturbado de Steve, o filho, e Die, a mãe. O garoto, cheio de transtornos mentais, toca o terror onde passa, dificultando a vida da mãe. A situação muda quando eles conhecem Kyla, sua vizinha, que passa a integrar a família. O filme usa de uma sacada visual sensacional: a maior parte dele se passa dentro de um quadrado. Não temos a tela cheia, apenas um quadrado, refletindo a situação claustrofóbica e tensa dos personagens. Quando eles conseguem algum momento de paz, a tela literalmente se abre, num efeito belíssimo que consegue deixar uma marca visual sem precedentes.

Hereditário (Hereditary), 2017

Direção de: Ari Aster, EUA.
Um dos mais refinados terrores já feitos, “Hereditário” já é aberto com a morte da matriarca de uma família. Quem assume as rédeas é Annie, que não espera que a ida da avó iria impactar permanentemente a vida dos dois filhos. Um dos maiores sucessos do filme de estreia de Ari Aster é em desenvolver caprichosamente o drama familiar, principalmente o quão tenso se torna o laço entre Annie e o filho mais velho. Annie é a força-motriz de todo o enredo e é muito interessante ver o limiar entre amor e ódio que tragédias podem traçar no seio de uma família.

Projeto Flórida (The Florida Project), 2017

Direção de: Sean Baker, EUA.
Contado através da ótica das crianças, a produção é o retrato agridoce de uma fatia esmagada à margem e varrida para debaixo do tapete: a nova geração de sem tetos. Carregado por uma das melhores performances da década – de Brooklynn Prince, que tinha SEIS anos durante as filmagens –, seguimos os pequenos criando seus contos de fada para burlarem aquela precária condição, culminando num dos finais mais puros e desoladores já colocados na tela do Cinema. Quem liga o público e as crianças é Halley, mãe adolescente que claramente não tem noção da responsabilidade que possui.

Ondas (Waves), 2019

Direção de: Trey Edward Shults, EUA.
Um jovem lutador tem um empecilho na carreira quando sobre uma lesão. Ainda por cima, sua namorada está grávida e sem intenção de abortar, o que o faz entrar em uma espiral de ódio. "Ondas" é um drama muito realístico que se senta no meio de uma família e como os atos do protagonista impactam a todos. Quem tenta sustentar tudo é a mãe adotiva do garoto, que, mesmo sendo atacada por não ser a mãe biológica, permanece de pé para o que é mais importante, sua família, provando que laços vão muito além do sangue.

A Hora de Voar (Lady Bird), 2017

Direção de: Greta Gerwig, EUA.
Christine Lady Bird McPherson está saindo da escola e vê seu universo como um utóptico conto de fadas. Porém a princesa aqui não possui um castelo, nem príncipe encantado, nem sapato de cristal. Fazendo o contraponto perfeito da solar personalidade de Lady Bird temos sua fada madrinha, sua mãe Marion. Sua personagem é deveras complexa: devendo cuidar da casa, ela se vê com a responsabilidade de cuidar do marido desempregado e depressivo, dos filhos nada fáceis e da sua própria vida, dividida entre o papel de dona de casa e enfermeira com jornada dupla. Mesmo totalmente diferentes, as duas devem aprender a colocar o incontestável amor acima de tudo.

Nessa atual e urgente onda feminina de denúncias contra abusos, acompanhar a luta de uma mãe em busca de justiça pela morte da filha é a história que precisávamos ver. Um dos mais originais e bem escritos roteiros da década “Três Anúncios” deixa chover sarcasmo para apontar o dedo na cara da hipocrisia, do ódio e de como caminhamos sob uma estrutura aparentemente sem conserto. Com seus personagens escancaradamente conturbados e situações ácidas, temos em mãos uma produção atemporal - ou você acha que Frances McDormand, vencedora do Oscar pelo papel, querendo honrar a memória da filha e colocando todos os homens ao redor em seus devidos lugares não será um clássico?

Que Horas Ela Volta? (idem), 2015

Direção de: Anna Muylaert, Brasil.
A maior obra-prima do nosso cinema nessa década e pilar central dos novos rumos que viriam a seguir, "Que Horas Ela Volta?" transcende a barreira regional para entrar no panteão internacional ao unir uma história que tanto reflete as rachaduras da nossa sociedade quanto universaliza seus dramas. Carregado por uma louvável atuação de Regina Casé, que não assustaria caso fosse indicada ao Oscar, o próprio título surge a partir da indagação de um filho sobre sua mãe. O longa de Anna Muylarte – que teve o título traduzido para “A Segunda Mãe” no mercado estrangeiro – mostra um lado cultural bem brasileiro, a de empregadas cuidando dos filhos de outras mulheres. Mas e os filhos dessas empregadas?

As Filhas de Abril (Las Hijas de Abril), 2017

Direção de: Michel Franco, México.
As Filhas de Abril" tem uma menina de 17 anos que faz de tudo para que a mãe não descubra sua gravidez. Quando Abril tem a revelação, ela se mostra compreensiva e apta a ajudar no que puder, retrato de uma sororidade lindíssima entre aquelas mulheres. Pobre coitada da plateia que não tem ideia do abismo logo ali do lado. Falar mais que isso é entregar a história, todavia, essa é uma película que demonstra o próprio slogan: "o amor de uma mãe não conhece limites". Prepare-se para ver seu queixo cair.

Sem Amor (Loveless), 2017

Direção de: Andrey Zvyagintsev, Rússia.
Um casal à beira do divórcio nutre ódio mútuo que torna a mera aproximação insustentável. Sobra para o filho deles, esquecido e renegado, já que os pais estão ocupados demais se odiando. Quando o menino foge e desaparece (após uma das cenas mais devastadoras do ano – a da porta), a mãe deverá deixar de lados as diferenças para achar a criança. A situação extrema costura seus personagens de maneira homeopática, construindo uma trama universalmente afiada que consegue tirar a fé do espectador pelos momentos frios e egoístas do homem. “Sem Amor” é nome absoluto do que há de melhor da misantropia na Sétima Arte. Nem todo mundo nasceu para ter filhos.

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