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Lista: os sete filmes definitivos do cinema colorido e dramático de Pedro Almodóvar

Um dos maiores diretores da história vai para seu 21º filme e listamos os melhores de sua filmografia, prestes a completar 40 anos
A Espanha é uma monarquia parlamentarista, com um monarca hereditário que exerce como Chefe de Estado, o Rei da Espanha, atualmente o rei Filipe VI. Mas no Cinema, o rei do país é Pedro Almodóvar. Cineasta, diretor, roteirista, produtor e ator nas horas vagas, Almodóvar vem desde a década de 80 cunhando uma das mais poderosas filmografias da história da Sétima Arte, que já lhe rendeu dois Oscars, cinco BAFTAs e dois Globos de Ouro, além de vários outros prêmios mundiais. O diretor é famoso pelos seus temas e narrativas, que unem melodrama, cultura pop, cores extravagantes, tragédias, romances proibidos, metanarrativa, homossexualidade, transexualidade e muito humor.

Atualmente com vinte filmes lançados, o espanhol está em processo de produção do seu 21º longa, "Dor e Glória", que trará dois de seus pupilos: Antonio Banderas e Penélope Cruz. As filmagens do filme começam em junho deste ano e, em comemoração a mais uma dádiva vindo de Almodóvar, decidi listar quais são as melhores obras dessa vasta e atemporal filmografia. Caso você não seja familiarizado com os filmes do diretor e não sabe por onde começar, essa é uma lista para você. Caso Almodóvar já esteja há tempos em seu coração, sempre é o momento para fazer aquela maratona com os já clássicos nomes que não só figuram entre os melhores do espanhol como também de todo o Cinema.


7. Tudo Sobre Minha Mãe

Do que se trata? No dia de seu aniversário, Esteban (Eloy Azorín) ganha de presente da mãe, Manuela (Cecilia Roth): um ingresso para a nova montagem da peça "Uma Rua Chamada Pecado", estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após o espetáculo, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho, ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.

Por que é bom? O filme que deu o primeiro Oscar para Almodóvar - de "Melhor Filme Estrangeiro" - é uma dolorosa história sobre luto e reconciliação. Lançado em 1999, o longa trata de assuntos preponderantes à época - e atualmente também - como a AIDS e o meio LGBT. A história fica ainda mais intricada quando sabemos que o pai de Esteban é agora Lola, uma travesti, que é a peça misteriosa do sofrido quebra-cabeças que Manuela tenta por fim completar e assim superar a morte do filho. Uma película puramente feminina sobre os dramas e a busca de suas forças.

6. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos

Do que se trata? Em Madri, Pepa Marcos (Carmen Maura), uma atriz e dubladora, é abandonada por Ivan (Fernando Guillén), seu amante, e se desespera tentando encontrá-lo. Ela recebe a visita de Candela (María Barranco), uma amiga que se apaixonou por um desconhecido e agora que descobre que o amado é um terrorista xiita, temendo ser presa. A mulher de Ivan descobre a traição do marido e tenta matá-lo. Pepa quer fazer de tudo para salvar a vida de Ivan.

Por que é bom? Se Almódovar alcançou a fama no meio popular, foi graças a "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos". Lotadíssimo de indas e vindas, encontros e desencontros e mulheres desesperadas com seus problemas particulares, com Pepa sendo o malfadado ímã para todas elas, "Ataque de Nervos" é brega, kitsch, camp, histérico, caótico e divertidíssimo (os brincos de cafeteira!). Uma comédia sobre como a progesterona e o estrogênio podem ser mais corrosivos que ácido sulfúrico.

5. Abraços Partidos

Do que se trata? Há 14 anos, o cineasta Mateo Blanco (Lluís Homar) sofreu um trágico acidente de carro, no qual perdeu a visão. A partir de então ele abandona sua posição de cineasta e preserva apenas o lado de escritor, assumindo o pseudônimo de Harry Caine. Um dia Diego (Tamar Novas), filho de sua antiga e fiel diretora de produção Judit Garcia (Blanca Portillo), é enviado ao hospital por ter ingerido drogas acidentalmente. Assim que sabe do ocorrido, Harry vai em seu socorro. Quando o jovem o indaga sobre seus dias de cineasta, o amargurado homem revela se lembrar de detalhes marcantes de sua vida e do acidente.

Por que é bom? Um dos mais intricados Almodóvares, "Abraços Partidos" talvez seja, também, um dos mais subestimados longas do diretor - provavelmente por estar exatamente entre dois dos maiores filmes do espanhol. Aqui há tudo o que resume o cinema almodovariano: uma trama sensacional sobre obsessão, infidelidade, sexo e jogos de interesses sem piedade e redenção - e Penélope Cruz deslumbrante na trama vertebral da produção. Homenagem lindíssima à Sétima Arte e a vários gêneros, Almodóvar não perde tempo e se auto-referencia com um filme dentro do filme, em uma metalinguagem que só acrescenta ao todo.

4. Volver

Do que se trata? Raimunda (Penélope Cruz) é uma jovem mãe, trabalhadora e atraente, que tem um marido desempregado e uma filha adolescente. Certo dia, ao chegar em casa, encontra o marido morto na cozinha, com uma faca enterrada no peito. A filha de Raimunda confessa que matou o pai, que estava bêbado e queria abusar dela sexualmente. A partir de então Raimunda busca meios de salvar a filha e a si própria.

Por que é bom? Você leu a mesma sinopse que eu? Ali já há motivos o suficientes para existir um grande filme, mas Almodóvar vai muito além ao colocar diversos eixos femininos ligados à Raimunda, que se vê sufocada por todos os eventos que acontecem à sua volta enquanto tenta se manter longe da prisão pela morte do marido - apesar de não ser a culpada. "Volver" deu a Palma de "Melhor Atriz" no Festival de Cannes para todas as atrizes do filme, e não era para menos. Obra-prima sobre o rancor e como ele pode nos atrasar e fazer com que vivamos cada vez mais infelizes, "Volver" é visualmente belíssimo, carregado de emoção, cenas marcantes e atuações estupendas.

3. Fale Com Ela

Do que se trata? Benigno (Javier Cámara) e Marco (Darío Grandinetti) são dois desconhecidos que acabam virando amigos em decorrência do destino. Enquanto esperam com toda a esperança possível as mulheres por quem são apaixonados saírem do estado de coma do hospital, acabam tendo uma afinidade muito grande, enquanto descobrem o que cada um sente de verdade pelas suas amadas em coma.

Por que é bom? Um dos poucos filmes do diretor a não ser protagonizado por mulheres, "Fale Com Ela" é, ao mesmo tempo, uma das obras mais sombrias de sua filmografia. Passeando por temas como o limite entre a vida e a morte, voyeurismo, obsessão, psicopatia e passividade, o filme retrata as formas insanas de atuação do machismo e como o homem se porta na posição de dono das mulheres. Uma pintura em movimento, com pitadas na medida correta dos debates mais complexos, "Fale Com Ela" conquista pelo fator mais primordial e óbvio que existe na terra: as pessoas, o que deu ao diretor o Oscar de "Roteiro Original", um dos poucos em língua não-inglesa a vencerem. Suas elipses são tão criativas que impressionam - a cena do pequeno filme mudo para representar o que se passa na realidade fílmica é brilhante.

2. A Pele Que Habito

Do que se trata? Desde que a sua mulher foi vítima de um acidente de automóvel, o doutor Robert Ledgard (Antonio Banderas), eminente cirurgião estético, dedica-se à criação de uma nova pele graças à qual poderia salvá-la. Para além de muitos anos de investigação e de experimentação, Robert precisa de um cobaia, de um cúmplice e de uma ausência total de escrúpulos. Marília (Marisa Paredes), a mulher que se ocupou de Robert desde o dia em que nasceu, é a cúmplice a mais fiel do mundo, enquanto Vera (Elena Anaya) é sua cobaia e obra-prima.

Por que é bom? O filme de terror do Almodóvar é uma das mais bizarras histórias de vinganças já filmadas quando o Dr. Frankenstein moderno retira o que há de mais humano de sua criação: a identidade. Resgatando aquele que seja o nome definitivo do seu cinema, Antonio Banderas, o domínio cênico e narrativo do diretor é estupendo quando ele mistura diversas linhas temporais que se encaixam no presente diegético, um experimento medonho onde o preço que se paga é alto demais. Praticamente todos os enquadramentos do genial trabalho fotográfico poderia ser pendurado numa moldura, nessa obra-prima do rancor e crueldade.

1. Má Educação

Do que se trata? Quando um velho amigo entrega ao cineasta Enrique Goded (Fele Martínez) um roteiro baseado na adolescência dos dois, Enrique é obrigado a reviver sua juventude em um internato católico. Alternando passado e presente, o roteiro acompanha um travesti (Gael García Bernal) que se reconecta com os fantasmas do passado, fantasmas esses ligados à vida de Enrique.

Por que é bom? O Almodóvar definitivo, "Má Educação" não só alia tudo o que há de mais precioso no cinema do diretor como também traz a melhor história escrita por ele. Um neo-noir que referencia clássicos, cultura queer e o ato puro de fazer cinema, a película vai ao cerne de um problema recorrente sem medo de por o dedo na ferida: pedofilia por parte da Igreja Católica, e como a instituição encobre esse crime. Corajoso, controverso e violentamente espetacular, "Má Educação" é uma aula cinematográfica de direção, roteiro, montagem, trilha sonora, fotografia e atuações, carregado com louvor por Gael García Bernal. Não apenas o maior do espanhol como um dos maiores filmes já feitos na história.

***

De "Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão", o primeiro Almodóvar, até "Julieta", o mais recente lançamento, temos em mãos um acervo audiovisual inestimável, e só podemos esperar que Pedro continue enriquecendo o cinema como ele já faz há quase 40 anos. Mas qual é o seu Almodóvar favorito?
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