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Review: o curioso caso de Avril Lavigne e a despretensão pop do seu novo disco!


Avril Lavigne ainda tem sua cara de 17 anos e talvez por isso seja subestimada por muitos, que a todo momento esperam por sua próxima "My Happy Ending" ou "Sk8ter Boi", mas nesse ano ela nos trouxe um novo álbum, autointitulado, e com ele firmou a resposta para algumas de nossas questões. Agora casada e beirando os trinta anos, a canadense nunca mais será aquela skatista que cantava sobre ser o oposto do sonho americano, Britney Spears, mas também pudera, de lá pra cá se passaram mais de 10 anos, e obviamente sua mente mudou. Mas até aonde as mudanças são boas?



Por seus primeiros singles, "Here's To Never Growing Up" e "Rock N' Roll", o quinto álbum de estúdio da canadense promete tudo o que não é. Aparentemente, se mostra um disco genérico, talvez o mais enlatado e preso numa zona de comodismo de toda sua carreira, mas só quem parou pra escutá-lo por completo sabe que essa não é a realidade. Talvez seja cedo pra elegê-lo o melhor da Avril, isso é título que se conquista depois de toda a euforia pós-lançamento, após muitas audições e o mesmo amor por muitas das canções, mas de certo podemos afirmar que é uma grande produção, além de vir com o bônus de ser um material totalmente despretensioso, mesmo que acompanhado da pressão em tornar a loira atraente para as rádios outra vez. Mas vamos ver o que temos de bom por lá?

"Deixem-os saber que continuamos mandando ver", é esse o primeiro verso do quinto cd da Avril Lavigne. O trecho, talvez não tão animador o quanto deveria soar, pertence ao segundo single do álbum, "Rock N' Roll", e começa então com a parte coxinha do disco. Quem ouviu o "Goodbye Lullaby" deve ter escutado canções como "What The Hell" e "Smile", então logo já estão familiarizados com toda essa pegada. O mesmo serve para a temática, com Avril cantando sobre continuar a mesma menina ~badass~ de antigamente, o que é uma grande mentira. Mantendo o clima, a próxima da tracklist é o primeiro single, "Here's To Never Growing Up", e nossa preocupação com ela só aumenta. As batidas radiofônicas, a conversa sobre estar aqui para nunca crescer. A ideia é não se levar a sério enquanto escuta Radiohead. É tudo bem controverso visto que integra justamente o disco em que Avril Lavigne se desprenderia das coisas que a obrigaram a cantar no RCA, mas alguém parou pra pensar na hipótese dela realmente se sentir bem cantando coisas assim?

Reforçando tal pensamento, a música que vem na sequência é "17" e com ela as coisas se tornam ainda mais pop. Avril Lavigne É uma cantora pop. Mais nostálgica que a faixa anterior, algo nos diz que essa funcionaria melhor como primeiro single do álbum. "Se eu ao menos pudesse voltar no tempo". FI-NAL-MEN-TE apresentando alguma novidade, logo chegamos em "Bitchin' Summer", uma das nossas favoritas do disco. O pop rock bonitinho continua em alta, mas aqui com um flerte na música indie. É como se os Lumineers resolvessem cantar Colbie Caillat e funciona. Caso queiram mais, no fim ainda temos a cantora fazendo rap. Mas não é nada que precise preocupar Nicki Minaj, Iggy Azalea ou qualquer outra rapper, obviamente, rs.



"Let Me Go" é a quinta faixa do disco e a primeira ~triste~ da produção. Chad Kroeger, marido da Avril, teve uma grande participação em todo o álbum, mas é aqui que aproveita pra soltar a voz. Para a discografia dela, a música só tem a acrescentar, é seu primeiro dueto lançado em um álbum, além de ser uma produção impecável, com letra e arranjo de encantar olhos e ouvidos, mas para o Chad deve ter sido fichinha, ou não acham que a música cabe em qualquer disco da banda dele, Nickelback? Um ponto a ser destacado é o fato do casal ter se unido pra cantar uma música sobre separação. Vai ser triste pra ela escutá-la se um dia eles terminarem, hein? Principalmente por ela ser imortal e ele não. Rs.



"Se você me der o que eu quero, eu te dou o que você gosta". Mais uma vez respirando ar fresco, em "Give You What You Like" Avril Lavigne mantém o climão de "Let Me Go", mas aqui parece estar mais confortável com o material que tem em mãos. Mesmo tímido, o instrumental da canção também merece seu destaque, e nele temos a canadense brincando de ser alternativa outra vez. A gente não sabe bem porque, mas a música também lembra um pouco a banda brasileira Pitty. Tem alguma música parecida que deveríamos lembrar o nome? Bom, que essa conversa fique pra depois, pois agora nosso foco é "Bad Girl", segunda parceria do disco e com ninguém menos que o medonho Marilyn Manson. 

Quando noticiaram que o cara estaria nesse cd, ficamos sem acreditar. Avril e Manson? Quer mistura mais inusitada? O engraçado é que tudo terminou bem e no fim foi Lavigne quem ofuscou MM e não o inverso. Pra nós, que questionamos o que Avril Lavigne atualmente entendia por rock and roll, é uma boa resposta. "Bad Girl" é um rock sujo à la Holy e Joan Jett, mas perdido pela rebeldia e sintetizador dos dias atuais. Aceitamos e doeu menos, musicão! Esquisito é ver a canção antecedendo "Hello Kitty" na tracklist do álbum. Onde fica a credibilidade agora? Mas esperem, não julguemos a farofa pelo break dubstep, uma das letras mais legais do "Avril Lavigne" vem justamente da música que deve ter dado menos trabalho pra ser composta.



Flertando com o pop coreano, "Hello Kitty" foi a forma que Avril encontrou pra agradecer seus dedicados fãs asiáticos. Na música, ela canta sobre a curiosidade que matou o gato e se diverte entre os synths e auto-tune, que em momentos parecem ter saltado de algo da Ke$ha. A gente queria ver sendo single, é uma tosqueira proposital e do bem, talvez resultasse na nova "Girlfriend", ou talvez não. Seja como for, o choque pós-batidão logo faz com que esqueçamos da depressão musical que rolou há alguns minutos e ficamos então prontos pra mais uma leva de pop rock bonitinho. Voltando ao básico, "You Ain't Seen Nothin' Yet" poderia facilmente ser algo da Demi Lovato. "Se você tá amando isso, apenas me beije outra vez, porque você ainda não viu nada". Toda a felicidade está de volta, como preveu "Hello Kitty", e o fator chiclete se dá por conta do "yeah yeah, not yet". Não ficaríamos surpresos se mandassem pras rádios. "Sippin' On Sunshine" mantém o padrão Disney, mas agora soa como algo que talvez fosse lançado pela Bridgit Mendler (o que não é uma relação pejorativa, "Ready or Not" e "Hurricane" são singles incríveis) ou pela Cher Lloyd. Como temática principal, temos essa paixão adolescente, daquelas que nos deixam bobos ao ponto de achar tudo uma maravilha. É bonitinha. 

Tudo estava lindo e ensolarado, mas eis que Avril Lavigne começa a cantar coisas como "adeus, meu amigo. Olá, mágoa. Não é o fim, não é a mesma coisa". Parece que alguém partiu o coração e constatamos isso em "Hello Heartache". Nela os vocais de Avril Lavigne estão incríveis e a falta de intervenções nos ajudam a notar a vulnerabilidade dos versos. Como se isso e todo o arranjo não fossem o bastante, a música ainda traz um coro ao fundo, o que deixa tudo mais emotivo, e é assim que seguimos até o fim do disco. Nesta relação agridoce, em "Falling Fast" ela confessa uma paixão quase incontrolável, enquanto torce pra que o sentimento dure o bastante pra satisfazer os dois. "Eu digo 'vamos dar uma chance, aproveite enquanto pode', sei que também sente o mesmo". Sem um final feliz, "Hush Hush" encerra o disco e ganha o título de uma das melhores baladinhas de todo o material. Aqui, Avril Lavigne tem seu ápice de fragilidade, numa canção que, mesmo com um instrumental em tom crescente, dá margem pra que ela possa "brincar" com seus vocais. A letra com temática de despedida nos lembra de "When You're Gone" e todos adoram essa, certo? Com certeza, fecha o disco com chave de ouro. 



Em suma, SIM, "Avril Lavigne" é um bom disco. Com toda a sinceridade do mundo, talvez a canadense não tire dele nenhum grande hino para sua carreira, mas a impressão que temos ao escutá-lo é que foi essa a última coisa que ela pensou ao começar a gravá-lo, se é que pensou. Se comparado aos seus discos anteriores, esse não apresenta nenhuma enorme evolução, mas é justamente de toda essa pressão que ela foge quando investe em algo tão despretensioso e canta sobre estar aqui para nunca crescer. Dar seu nome para o disco talvez tenha sido a grande sacada da coisa toda, afinal, o que é Avril Lavigne se não essa muleca que, mesmo casada, continua alimentando sua menina interior, com seus momentos tristes e superdivertidos, como qualquer outra!?

disqus, portalitpop-1

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