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O Oscar nem é tudo isso

Dias atrás fui com a minha mãe assistir “A Forma da Água”, vencedor de quatro categorias no Oscar 2018, incluindo a mais cobiçada da noite: Melhor Filme. Fui na estreia, animada. As expectativas estavam altas. Minha mãe, contudo, não sabia muito sobre do que se tratava o longa, mas foi mesmo assim. Passados 40 minutos de filme, ela vira e diz “acho que vou embora”. Pergunto o porquê e ela diz “nossa, estou odiando esse filme”. Peço para ela ficar até o final e assim ela, claramente entediada, fica.

Quando saímos da sessão, a primeira coisa que ela diz é “nossa, que filme chato”. Minha resposta é: “não sei como não gostou, está indicado a várias categorias no Oscar!”. Numa das minhas reflexões inúteis sobre a vida pensei nesse episódio e em como meu argumento para justificar que o longa era bom foi infeliz. Ela, em momento algum, disse que o filme era ruim tecnicamente. Apenas que era chato. E qual é o problema disso?

O Oscar conta com uma criteriosa (e complexa) votação para escolher os indicados e vencedores da premiação. Não vou me estender muito porque o negócio é bem complicado – e não vou entrar no mérito do justo ou injusto, da realidade e do que seria ideal –, mas um dos processos de escolha pede que os mais de 6 mil membros da Academia elenquem, numa lista, dos que mais gostaram até os menos prediletos. Obviamente os critérios que os levam a escolher filme X em detrimento de Y não são banais (pelo menos espera-se que não sejam). Tudo conta; inclusive, mesmo que numa discreta parcela, os gostos ou conceitos pessoais.

A arte, feliz ou infelizmente, não é como um esporte, que quem faz mais gols, cestas ou pontos, ganha. Então, se não há consenso nem dentro da Academia, que é composta por figurões do mercado cinematográfico, por que minha mãe tem que ter a mesma opinião que eu sobre "A Forma da Água"?

Algo curioso sobre o não-gostar de certo filme é que as pessoas que apreciam tal obra sempre rebatem e tentam explicar porque as que não gostam estão erradas. Com música, pelo menos do que tiro de minhas experiências pessoais, é diferente. Eu, por exemplo, odeio a música “Evidências” com todas as minhas forças. Tenho a infelicidade de ouvi-la em quase todo karaokê, churrasco e fim de festa. É a hora em que todos se abraçam e cantam a todo pulmão este clássico sertanejo e eu só manifesto, para todos à minha volta, o quanto odeio esta canção. A não ser que Freud tenha uma explicação mais profunda para o meu desgosto por “Evidências”, eu, que me conheço há 23 anos, não tenho justificativa alguma para isso. Eu simplesmente não gosto e ponto. Nunca fui indagada por isso.

Porém, com filmes, principalmente aqueles "de arte", o “porquê” é quase inevitável e ai da pessoa que se embananar nos argumentos de resposta. "Ele(a) não entendeu o conceito", dizem. Porque, afinal de contas, não existe a possibilidade de entender o conceito e simplesmente não gostar, não é? Abro, ainda, um parêntese: quantas vezes não criamos pré-conceitos sobre alguém pelo gosto cinematográfico? “É fã de Star-Wars? Ih, deve ser um(a) daqueles(as) nerds bitolados(as)”. “Para gostar de filme baseado em livro do Nicholas Sparks tem que ser aquelas pessoas bem melosas”. Pense bem. Você já fez isso. Eu, pelo menos, já fiz e aproveito esse texto para fazer um mea culpa por todos que julguei, mesmo que inconscientemente, pelo gosto (ou não) por certos filmes ou figuras do cinema.

Mas voltando ao Oscar: por que é tão importante termos os mesmos gostos daqueles que integram a Academia? Precisamos mesmo comprar tudo o que ela nos vende? A resposta é não. O Oscar, mesmo sendo controverso, ainda é a mais importante premiação do cinema e por isso carrega tanto peso e responsabilidade, mas não deve moldar quem somos ou o que gostamos. Ninguém é melhor ou pior por gostar ou não de certas produções. O guilty pleasure não deveria ter o guilty no nome; somente o pleasure. Tudo bem eu, até hoje, gostar da saga "Crepúsculo". Minha mãe continua não gostando de "A  Forma da Água" e deixou isso claro enquanto assistíamos à premiação, já que toda vez que o longa aparecia como um dos indicados à determinada categoria ela dizia "nossa, esse filme é muito chato". E tá tudo bem.

Can't remember to forget us: o que a esnobada de Shakira, Gaga, Britney e Lily Allen no VMA 2014 reflete


O Video Music Awards, o Oscar dos videoclipes, é uma premiação promovida pela MTV desde 1984, quando o maior clipe da história, "Thriller", perdeu o prêmio de "Vídeo do Ano" para "You Might Think" do The Cars. Pois é. Desde a primeira edição o VMA dá derrapadas (de cara ao chão). Trinta anos depois cá estamos com a lista de indicados divulgada e mais escorregadas gritantes.

Na 31ª edição do prêmio temos Beyoncé liderando com oito indicações - também pudera, Ms. Carter lançou nada menos de 18 clipes de uma só vez com seu álbum visual. Agora, longe das honrarias conquistadas pelas simples indicações, alguns artistas foram completamente ignorados/esquecidos pelo juri viêmístico, dentre eles destacamos quatro: Lady Gaga, Britney Spears, Lily Allen e Shakira.

Lady Gaga fez seu comeback - no palco do VMA 2013, inclusive - com "Applause". Dirigido pela dupla de artistas plásticos Inez & Vinoodh, o clipe é uma verdadeira obra de arte com influências do Expressionismo Alemão até os velhos carnavais circenses dos séculos passados com seus shows de horrores - tudo para conseguir o aplauso do público. Venceu "Melhor Clipe Pop" no VMAJ 2014 (o VMA do Japão, onde artistas ocidentais não tem muito espaço) e "Melhor Clipe" nas enquetes anuais da Billboard, mas no VMA não recebeu indicação alguma.



Como se não bastasse, Gaga também lançou outro clipe digno de indicações: "G.U.Y." foi filmado no famoso e belíssimo Hearst Castle com um dos melhores roteiros e conceitos em um videoclipe no ano, que fez o mundo pop entrar em fervor - um curta-metragem intitulado "An ARTPOP Film" com três canções do álbum, "ARTPOP", "Venus" e "G.U.Y.", com a cantora ressuscitando Jesus, Gandhi, John Lennon e Michael Jackson (!). Nada disso foi suficiente para marcá-lo entre os indicados. E por quê?



Provavelmente pela "baixa" na carreira da cantora, tanto a baixa real quando a midiática e inventada. "Applause" flopou? De maneira nenhuma, é um dos maiores hits da cantora, porém, quando posto na "briga" entre Katy Perry e seu smash single "Roar", "Applause" foi "ofuscado" até o patamar de "flop". Absurdo. "G.U.Y." flopou? Flopou sim, mas a premiação se chama "Video Music Awards" e não "Video de Music que Hitou Awards". O que deveria ser levado em conta era o CONTEÚDO ARTÍSTICO, coisa que os dois clipes de Gaga com a era "ARTPOP" tiveram de sobra. Uma pena e um equívoco sem tamanho.

Lady Gaga merecia indicações em:
- Melhor Clipe Pop ("Applause")
- Melhor Clipe Feminino ("G.U.Y.")
- Melhor Direção ("Applause")
- Melhor Cinematografia ("Applause")
- Melhor Coreografia ("G.U.Y.")
- Melhor Direção de Arte ("G.U.Y.")
- Melhor Edição ("Applause")

O lead single do "Britney Jean", a clubbager "Work Bitch" não foi bem recebida logo no seu lançamento, mas com o videclipe as coisas mudaram. Britney Spears retoma o que há de melhor em sua videografia num clipe sexy, quente, divertido e super eficiente. Tem girl power, tem blonde fierce, tem S&M e tem Britney bitch como há tempos não víamos ("Work Bitch" é melhor que todos os clipes da era "Femme Fatale", por exemplo, e é interessante apontar "Till The World Ends" ganhou "Melhor Clipe Pop" no VMA 2011). Nem todo o trabalho feito por Britney foi capaz de colocar seu nome na lista de indicados. O motivo? O mesmo que "justifica" a esnobada de Lady Gaga.



Britney Spears merecia indicações em:
- Melhor Clipe Pop ("Work Bitch")
- Melhor Clipe Feminino ("Work Bitch")
- Melhor Coreografia ("Work Bitch")

Se houve uma canção que já tava marcada na história pop antes mesmo de sair foi "Can't Remember to Forget You", parceria entre Shakira e Rihanna. É verdade que a música não foi o hit que estávamos esperando, mas seu videoclipe foi o último tijolo do majestoso castelo que é esse featuring. Shak e Riri são duas das cantoras mais sexies da atualidade, e juntar as duas num só clipe só poderia ter saído o que saiu. Apoteótico, o clipe de "Can't Remember to Forget You" era nome certo entre os indicados, fortalecido ainda mais pelo certificado VEVO de 100.000.000 de views (atualmente o número está em 350.000.000), mas levamos um balde de água fria quando procuramos e o nome não estava lá. Ué? O motivo é realmente incompreensível. Nada justifica.



Shakira merecia indicações em:
- Melhor Clipe Pop ("Can't Remember to Forget You")
- Melhor Clipe Feminino ("Can't Remember to Forget You")
- Melhor Parceria ("Can't Remember to Forget You")
- Melhor Cinematografia ("Can't Remember to Forget You")
- Melhor Direção de Arte ("Can't Remember to Forget You")

Um dos clipes que mais causaram o ano de 2013, depois do rei "Wrecking Ball" da Miley Cyrus, foi "Hard Out Here" da Lily Allen. Primeiramente porque marcava o retorno da britânica ao mundo da música depois de cinco anos afastada. Depois pelo conteúdo da música, reforçado pelo clipe. Abertamente e violentamente feminista, o vídeo é um grande tapa na cara da indústria que usa a imagem feminina como mero objeto.

Aclamado pelo público, o vídeo foi completamente esquecido entre os indicados. Mas a pior parte de tudo é que "Hard Out Here" é uma resposta ao clipe de "Blurred Lines" do Robin Thicke, que apresenta conteúdo machista pra mais de metro, onde ele, com toda sua superioridade de macho, usa mulheres para pura satisfação - e esse mesmo clipe disseminador de práticas absurdas concorreu em nada mais nada menos que quatro categorias no VMA 2013, incluindo "Clipe do Ano" (!!!). Então quer dizer que um clipe machista e misógino é ovacionado enquanto um feminista é ignorado? Tem algo de muito errado aí, hein.



Lily Allen merecia indicações em:
- Melhor Clipe Pop ("Hard Out Here")
- Melhor Clipe Feminino ("Hard Out Here")
- Melhor Clipe com Mensagem Social ("Hard Out Here")
- Melhor Edição ("Hard Out Here")

Sabemos que é impossível que todos os clipes legais lançados no ano concorram em categorias justas, e que alguns muito bons vão sim ficar de fora, mas alguns erros elementares poderiam ser evitados. É só olhar algumas das principais categorias para vermos o quanto alguns indicados não mereciam estar ali - e só estão graças, principalmente, às vendas e ao sucesso, o que é um erro imperdoável. Se as premiações continuarem indicando artistas baseados em conta bancária em vez de expressão artística, nós perderemos muito. Alô Grammy, isso vale pra você também, tá? #JusticeForGaga #JusticeForBritney #JusticeForShakira #JusticeForLilyAllen #JusticeForMusic

A síndrome do cavalo preto: como "Dark Horse" foi o maior acerto e maior erro de Katy Perry


Não é segredo algum que Katy Perry e sua equipe são uma máquina de hits, e não é de se estranhar que com o "Prism", novo álbum da cantora (nossa resenha aqui), mais canções catapultadas para o topo dos charts tenham aparecido, porém há algo de estranho acontecendo com a nova era.

Antes de o álbum ser lançado, Miss Perry, através de uma parceria com a Pepsi, deixou os fãs escolherem qual seria o primeiro single promocional do álbum. Na disputa entre "Walking on Air" e "Dark Horse" a última saiu ganhando e foi logo um sucesso, tanto pela letra cheia de poder quanto pela melodia viciante e fora do lugar-comum imposto pela diva desde o "Teenage Dream".

Aí que fomos surpreendidos com "Unconditionally" sendo escolhida como segundo single depois do lead e smash "Roar". A balada, linda de morrer, acabou sendo tragada pela imposição do próprio público, que tornava "Dark Horse" um hit antes mesmo de ser single oficial. Mesmo com a californiana divulgando massivamente o single em várias apresentações e com um clipe belíssimo, os esforços não foram o suficientes. Com isso, o desempenho de "Unconditionally" foi "ofuscado" pelo tal cavalo preto, não vindo a ser o hit que esperávamos (mas também foi beeeeeem longe de um flop, como afirmam).



O jeito foi atender o clamor público: transformar "Dark Horse" em single oficial. Como o hit já estava garantido, foi bem fácil transformar a canção num smash, conseguindo o famigerado (e merecido, a música é a melhor do álbum e uma das melhores de toda a carreira de Katy) #1 na Hot 100. Nem mesmo o clipe horroroso conseguiu apagar o brilho da faixa, um dos grandes nomes de 2014.



Mais um hit no bolso, hora de partir pra frente, certo? Não tão certo assim. Katy lançou "Birthday" como quarto single do "Prism" de forma precipitada em vários aspectos, como a prematuridade (o single foi lançado cedo demais, enquanto "Dark Horse" ainda fervia) e a simples escolha errada (a música poderia sim ser single, mas bem depois, como foi comentado na nossa Single Review).



O reflexo disso é o desempenho de "Birthday" nos charts, em posições mais tímidas, e a absurda falta de divulgação do single além dos streams e rádios, que é o que anda elevando a faixa (e nem vamos entrar na polêmica história do jabá, com a cantora enviando bolos com a capa do single para as rádios). Em contra partida, "Dark Horse" ainda hoje se encontra no top 10 de váaaarios charts pelo mundo, e, como se não bastasse, foi lançado na semana passada (09) o making of do clipe de "Dark Horse", para dar mais uma ofuscada na pobre "Birthday".



Com isso "Dark Horse" acabou sendo o maior acerto e o maior erro de Katy Perry, por se tornar uma canção icônica em sua carreira e, por tal grandiosidade, diminuir as outras de certa forma, o que dentro de uma "era" é prejudicial. Mas o que isso significa de verdade? Fora do mundo das análises mercadológicas e tendências musicais, nada rs. Porém, se formos levar em conta só e somente só o que é aplicável e mutável no nosso mundo real, bem, muitas discussões não teriam sentido. E você já ouviu "Dark Horse" hoje?

A vida e morte de "Britney Jean": por que o novo álbum de Britney Spears se tornou um erro?


O oitavo álbum de Britney Spears, o auto-intitulado "Britney Jean", foi lançado mundialmente dia 04 de dezembro, e veio envolto de muita expectativa, afinal, um álbum da Princesa do Pop já carrega muita coisa por si só. Isso já era quase uma garantia de sucesso, afinal, "Britney Spears" além de artista é uma marca, e das poderosas. Seu nome consegue alavancar quase tudo que toca (exemplo maior que "Scream & Shout" do will.i.am não há), porém algo estranho aconteceu com o "Britney Jean": ele não está se saindo como o esperado. E qual o motivo disso?


Podemos enumerar algumas razões para o baixo rendimento do álbum, alguns mais diretos do que outros. Começa pelo seu visual: a capa é simples demais, o nome é batido (auto-intitulação em 2013 foi febre, "Demi", "Ciara", "Avril Lavigne" são alguns exemplos), nada que chame a atenção de alguém que passa numa loja ou mesmo rola a página do Facebook - você vê a capa e passa direto (e ela já tinha lançado o "Britney", pra que outro com seu nome?). Todo artista acha que são seus fãs que fazem seu sucesso em vendas; claro, eles são absurdamente importantes, mas a maior parte das vendas vêm de NÃO FÃS, e é nisso que vários artistas pecam, já que eu, como não fã, tenho que ser convencido a comprar aquele material, e, com uma capa dessas, a última coisa que alguém vai fazer é se interessar.


O álbum foi descrito pela cantora como "o mais íntimo da carreira"; ela, inclusive, co-escreveu todas as faixas (o mais próximo que isso aconteceu foi com o "In The Zone"). Apesar de não ser o seu álbum mais "pessoal" no fim das contas ("Blackout", considerado por muitos o melhor da loira, é muito mais sincero, tratando da fase conturbada de maneira pop maravilhosa -"Piece of Me" não poderia ter outra dona do mundo, é uma música Britney sobre Britney), "Britney Jean" é o "Unapologetic" da Spears, um álbum com todas as "Britneys". Entretanto, se é (ou deveria ser, no caso em questão) o mais íntimo, consequentemente seria "voltado" para os fãs, certo? 

Na opinião da crítica, o álbum tem recebido opiniões muito medianas. No "Metacritic", "Britney Jean" é o álbum com a pior nota da cantora, um ralo 50/100 (a nota mais alta é para o "Oops!...I Did It Again", 72/100). Uma das críticas fala "Ouvindo esse álbum do início ao fim é difícil não sentir que o fundo dessa gratificação barata nada mais é que miséria" (e tem outras bem piores).

No debut, o álbum foi aquém de todas as previsões. No Reino Unido debutou em #34 com 12,959 cópias (seu mais baixo desempenho na terra da Rainha havia sido um #13 com o "In The Zone"). Nos Estados Unidos o álbum estreou em #4, com 107.000 cópias, o pior desempenho na primeira semana de um álbum dela por lá. Vamos analisar o desempenho dos outros:
"...Baby One More Time": #1 na Hot 200, 121.000 cópias na primeira semana.
"Oops!...I Did It Again": #1 na Hot 200, 1.300.000 cópias na primeira semana.
"Britney": #1 na Hot 200, 745.000 cópias na primeira semana.
"In The Zone": #1 na Hot 200, 609.000 cópias na primeira semana.
"Blackout": #2 na Hot 200, 290.000 cópias na primeira semana.
"Circus": #1 na Hot 200, 505.000 cópias na primeira semana.
"Femme Fatale": #1 na Hot 200, 276.000 cópias na primeira semana.
"Britney Jean": #4 na Hot 200, 107.000 cópias na primeira semana.
Devemos levar em conta o início da "era digital", que começou por volta do "Blackout" (que bateu o recorde de vendas digitais na época), ou seja, a tendência é que as vendas caiam mesmo - em 2000, quando o "Oops!...I Did It Again" foi lançado, ou você comprava o álbum ou ficava sem ouvir, coisa impensável hoje em dia. Então o que devemos pensar? Britney está acabada? Porque as "concorrentes" venderam muito mais na primeira semana (e pegaram o famigerado #1).

Não, não e não. É impossível comparar o desempenho de álbuns que foram lançados em semanas diferentes, afinal, cada semana tem uma vendagem geral totalmente diferente da outra. Um álbum lançado hoje que vende 100.000 cópias pode debutar em #2; o mesmo álbum, debutando com a mesma vendagem só que na semana seguinte poderia debutar em #1. Qual a diferença então? Nenhuma. Aliás, pra que comparar mesmo? Um álbum só é bem sucedido se pegar o #1? Mas sim, as vendas do "Britney Jean" foram baixas e decepcionantes, tanto pelos motivos já citados quanto pelos que comentaremos agora. 

"Work Bitch", o lead-single do álbum, foi a club banger que prometia destruir os charts, só que não funcionou. Com peak de #7 no UK e #12 no US, a faixa tentou bastante sobreviver no iTunes, conseguindo apenas colocações mais baixas da tabela. A principal razão é a absurda falta de divulgação. Enquanto Lady Gaga, Katy Perry e Miley Cyrus, todas com álbuns lançados no mesmo período, suavam o bumbum com entrevistas, aparições, performances, colocando seus singles nos classificados do jornal e tudo mais, Britney não moveu um dedo. Claro, a culpa não é só dela, a gravadora, a RCA (tinha que ser) não colabora em quase nada. A faixa acabou no esquecimento. Seu videoclipe, super divertido, ajudou a colocá-la de volta sob os holofotes, entretanto não foi o suficiente para disputar atenção.

#suando #pra #hitar
Aí como não deu certo a fórmula dance, Britney foi para o extremo oposto e lançou "Perfume" como segundo single, todavia a situação piorou. Enquanto "Work Bitch" tinha o apelo das pistas de dança, "Perfume" soou como uma balada água com açúcar sem a menor força (peak de #76 no US e nem sinal no UK). O clipe, clichê e quase um "Criminal 2.0" também não deve ajudar muita coisa, então mais uma frustração.


Ainda há salvação para o álbum? Há sim. "Alien", "Body Ache" e "Tik Tik Boom (feat. T.I.)" são faixas excelentes que bem trabalhadas podem dar ótimos singles e levantar a moral do álbum, contudo, levando em conta o histórico recente da RCA com álbuns mal sucedidos, o futuro do "Britney Jean" pode ser o "arquivamento" ("Warrior" da Ke$ha, "Trespassing" do Adam Lambert, "Lotus" da Christina Aguilera, todos com trabalhos encerrados cedo demais graças ao "flop" inesperado, que ironicamente tem grande peso da própria RCA, péssima em divulgação).

Com toda essa falta de cuidado de Britney e sua equipe fica parecendo que ela não está dando a mínima para o álbum. É só olhar o nome da série de shows que ela fará em Las Vegas, "Britney: Piece of Me". Nomes de turnês e shows com algum álbum de apoio sempre recebem ou o nome do próprio álbum ("The Femme Fatale Tour") ou algo que remeta ao mesmo ("The Onyx Hotel Tour"), então por que intitular o atual espetáculo com o nome de uma música "antiga"? E por que não uma turnê mundial? Tudo isso ajuda a fase baixa da cantora, que parece não amar seu próprio álbum da mesma forma que as suas amigas do pop, algo que deixa uma impressão bem ruim.

Mas afinal, o que diabos tudo isso significa na verdade? Nada. Nadinha. Você como fã deve apoiar a cantora, comprar o álbum, ouvi-lo, mandar aquela farofa delícia pros amigos fazerem a coreografia e afins. E isso vale pra qualquer fã de qualquer artista. Ser fã é casar. Você tem que estar do lado do ídolo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Claro, não é o mesmo que ficar cego e amar tudo que ele faça, achar tudo perfeito, pelo contrário, é ser crítico dele mais do que de qualquer outro, porque você o conhece bem. Ser fã é saber reconhecer o erro, e sim, queridos, "Britney Jean" é cheio deles, o que é uma pena. Então Britney, amiga, you betta work, bitch. Se continuar assim você estará justificando o fracasso, e nem você nem seus fãs merecem isso.

P.S.: Parem de colocar a culpa dos erros do "Britney Jean" no will.i.am. A culpa é da equipe inteira, da gravadora até à própria Britney.

Lugar de velho é no asilo? Aos 54 anos, Madonna continua quebrando tabus em sua turnê "MDNA"


Madonna fez 54 anos na semana passada. Mais de trinta anos de carreira, 12 álbuns de inéditas e dezenas de videoclipes. Além, é claro, das polêmicas.

Recentemente, vários artistas deram declarações criticando, e até ofendendo, a cantora. Alguma novidade? Não.

Madonna quebrou tabus, lutou pelo direito de se falar abertamente sobre sexo, sobre homossexuais, discursou pela liberdade das mulheres, cutucou a religião e os dogmas da igreja. Foi expulsa do Vaticano e criticada por conservadores do mundo inteiro.

Justify My Love, de 1990: polêmica e escândalo NÃO são novidades na carreira de Madonna

E para fazer tudo isso, ela não usou apenas sua música. Ela uniu imagem, som, moda e atitude, coisa que nenhum artista havia feito antes - não com tanta competência e ousadia.

Os escândalos, as polêmicas, as alfinetadas... estas sempre foram as manchetes envolvendo Madonna. E começaram logo cedo, com Like a Virgin. Depois, veio Papa Don't Preach, Like a Prayer, Express Yourself, Erotica, Justify My Love, Vogue, a maravilhosa Human Nature...

Com Erotica, de 1992, ela foi expulsa do Vaticano... Mesmo no auge, ela nunca deixou de alfinetar e protestar

Mas hoje em dia, tudo isso é motivo de piada. Atualmente, Madonna é uma velha querendo chamar atenção, aparecer na mídia e se aproveitar dos debates sociais para vender álbuns. O que uma mulher de 54 anos quer dizer, afinal, se expondo como se tivesse 20?

Madonna mostrou o peito em sua turnê atual, a MDNA. Vindo da cantora, nada de novo e incomum. Alguém já viu o clipe de Erotica? Já ouviram falar sobre o livro SEX? E as pessoas estão realmente preocupadas por causa de um peito?


Madonna fazendo o que faz desde o início da carreira. Mas agora é velha, e não pode mais

O que acontece é muito simples, e é algo que a própria Madonna previu e anunciou anos atrás: o preconceito por conta de sua idade. Ela envelheceu. E ao fazer isso, perdeu o direito de continuar seus protestos, de continuar falando sobre sexo e sobre temas delicados.

Historicamente, um rockstar, homem, quando coça a genitália, tira a camisa e faz protestos acerca de qualquer assunto, é gênio. É uma lenda, que deveria servir de exemplo para a geração atual.

Madonna, quando faz exatamente a mesma coisa, não passa de uma velha sem vergonha. E isso se chama machismo.

Ela lota estádios e mostra claramente que pouco liga para números de vendas e concorrência com artistas atuais. Mas mesmo assim, é sempre acusada de querer chamar atenção para vender...

Quando Madonna lança um álbum como MDNA, ela ainda assim está lutando contra preconceitos e tabus. Ela tem 54 anos e canta músicas falando sobre sexo, baladas, festas, curtição, mágoa, vingança e amor. As pessoas se incomodam, porque essa não é uma postura considerada correta pela sociedade. Uma mulher "velha" não deveria se portar de tal forma.

Em Nobody Knows Me, música do American Life, ela canta "No one's telling you how to live your life, but it's a setup until you're fed up".

Madonna usa sua fama para lutar a favor da liberdade de expressão. Mas é tudo marketing... Se Bono, do U2, luta pelo ambiente, é causa nobre

Pois é. Ninguém está dizendo como você deve viver sua vida, mas na realidade tudo já está determinado. Esperam que Madonna fique velha e se recolha à sua velhice. Mas porque ela deveria fazer isso, afinal?

Madonna continua lotando shows ao redor do mundo, apesar da pouca divulgação dos seus álbuns e singles. Ela não está atrás de atenção quando luta na Rússia contra a homofobia e pela liberdade de expressão.

Aos 54 anos, ela canta (e chora): Like a virgin, touched by the very first time... É o estigma da idade

Quando ela sobe em um palco na Rússia, e faz um discurso a favor dos gays, ela se arrisca e infringe a lei russa defendendo conceitos que ela apresenta há mais de 20 anos! Quando coloca o rosto de uma ministra francesa com um símbolo nazista, ela mostra que nunca perdeu sua essência nem se vendeu para a indústria. Essa é a Madonna de sempre.

Com 24, 34 ou 54 anos, ela continua sendo Madonna, e vai continuar protestando e lutando pelas coisas que acredita.

A música, mais uma vez, é pano de fundo de algo maior e muito mais importante. E eu acredito, cegamente, que um dia seus álbuns atuais ainda serão devidamente valorizados. Hard Candy e MDNA são um ode à juventude - mas a juventude da alma, e não do corpo.

Como um garota que vai à loucura, uma garota de 54 anos que vai à loucura!


Vai, Madonna!



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