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Por que “Squid Game”, a nova febre da Netflix, se chama “Round 6” só no Brasil?

As dinâmicas infantis, coloridas e cheias de regras valendo recompensas em dinheiro lembram as gincanas de programas de auditório como “Caldeirão do Huck” ou, para os mais velhos, as clássicas releituras de Silvio Santos; a maneira como selecionam seus participantes e, claro, as consequências mortais, já se assemelham a formatos como “Jogos Vorazes” e, pela violência bastante gráfica, até “Jogos Mortais”, mas toda a carga emocional e dramática permite uma conexão quase instantânea com seus personagens que, inevitavelmente, fazem de “Round 6” uma fórmula perfeita.

Novo sucesso da Netflix por todo o mundo, se tornando a primeira produção a assumir o topo das paradas da plataforma em todos os países que atua, a série é uma produção sul-coreana, originalmente chamada “Ojingeo Geim”,  e em meio a tantos elementos capazes de levantar discussões em torno da sua trama e formato, no Brasil, uma curiosidade sobrou para o seu título: por que somos o único país que deu outro nome para a produção?

Em todos os países em que foi exibida, a série recebeu como título a tradução para o nome “Ojingeo Geim” (em inglês, “Squid Game”), uma brincadeira infantil tradicional sul-coreana que é introduzida logo no primeiro episódio da história e, posteriormente, retorna como um elemento crucial dentro da trama, mas, no Brasil, optaram pela chamada “Round 6”, em referência às seis rodadas que permeiam seus nove episódios.

Apesar da Netflix ainda não ter se manifestado sobre o assunto, a teoria mais crível pelas redes sociais é de que a plataforma quis fugir de associações políticas ao nome “Jogo da Lula”, que poderia ser relacionado ao ex-presidente do Brasil e atual pré-candidato do PT para as eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais do que prejudicar a adesão de bolsonaristas e eleitores da direita sem a capacidade de compreender a aplicação do nome dentro de outros contextos, inclusive do animal “lula”, que inspira o jogo sul-coreano, um possível risco seria atrair para as suas redes sociais os famosos “bots” antipetistas, que poderiam afetar também o engajamento das redes sociais da plataforma, fosse respondendo as suas próprias postagens com links e ofensas ou gerando discussões com os usuários que estivessem reagindo e comentando sobre a série organicamente.

E se foi essa a estratégia, funcionou, né? “Round 6” se tornou um sucesso absurdo por aqui e mal podemos esperar para, numa realidade pós-pandêmica, receber o elenco também em solo brasileiro! Tirando a bonequinha do “Batatinha Frita 1, 2, 3”... Essa, eles podem deixar por lá.

É tudo o que a gente precisava: “Queer Eye” vai ganhar uma versão brasileira na Netflix

Sim! "Queer Eye", o reality show da Netflix que é muito mais que um makeover, irá ganhar uma versão brasileira em 2021! A novidade foi revelada com um vídeo bem divertido com o elenco original dizendo gírias do Brasil, na noite desta quinta-feira (5), durante o terceiro dia do Tudum, o festival da Netflix.  



Jonathan Van Ness, Antoni Porowski, Bobby Berk, Karamo Brown e Tan France apresentam o novo elenco com frases em português como "tudo para mim". Fred será o responsável por bem-estar, Guto ficará com design, Rica com estilo, Luca ficará com cultura e, por fim, Yohan ficará a cargo de beleza.


Os rumores da produção de uma versão brasileira do reality show são antigos. Inclusive, em fevereiro, foi confirmado que a nova versão iria acontecer por meio do podcast "Episódio", do jornal O Estado de S. Paulo. "Queer Eye Brasil" está previsto para chegar a plataforma de streaming em algum momento de 2021.

Crítica: a cultura do cancelamento e como a Netflix estragou o ótimo “Lindinhas”

Atenção: o texto contém detalhes da obra.

Lá estava eu na minha passeada pelo Twitter quando vejo a hashtag "#CancelNetfix" nos Trend Topics, os assuntos mais falados do mundo no momento. Pensei que seria revolta de fãs por alguma série sendo cancelada pela plataforma ou algo do tipo, então continuei rolando a timeline. A hashtag permanecia no dia seguinte, junto com mais uma: "#Pedoflix". Okay, algo sério estava acontecendo.

E o que aconteceu foi: na última quinta (09), a Netflix lançou o filme "Lindinhas" (Mignonnes) no seu catálogo. O longa, uma produção francesa e senegalesa, estreou no Festival de Sundance no comecinho de 2020, recebendo ótimas críticas e o prêmio de "Melhor Direção" para sua realizadora, Maïmouna Doucouré - e a Netflix correu para adquirir os direitos de exibição internacional. Como podemos ver, até Sundance tudo estava indo bem, o problema começou quando a Netflix colocou as mãos no filme.

E a bomba estourou quando a plataforma decidiu o marketing promocional da obra: o pôster escolhido era bastante diferente da arte original. Como vemos abaixo, o cartaz francês é colorido e celebrativo, mostrando suas protagonistas em posição de alegria e liberdade, o que quase todo coming of age quer exalar na tela. No entanto, a arte feita pela Netflix coloca as meninas em um figurino curtíssimo e poses provocantes. Elas, no filme, têm 11 anos. Juntamente com o nome do filme, "Lindinhas", a falta de contextualização da cena em questão (que está no filme) gerou revolta na internet, e com muita razão. Nem é preciso ser um entendedor de semiótica para ver a discrepância entre as duas imagens e o que elas querem vender - e, ironicamente, a Netflix fez exatamente o que a obra critica.

Pôster original francês X Pôster internacional feito pela Netflix

A revolta virtual levou a Netflix a soltar uma nota de desculpas, dizendo: "Nós estamos profundamente arrependidos pela arte inapropriada que usamos para 'Lindinhas'. Não é correto - e nem representa o filme. Nós atualizamos as artes e descrições do filme". É meio alarmante pensar que a arte passou por diversas pessoas e departamentos e ainda assim conseguiu ver a luz do dia sem ser barrada. A retratação da plataforma demonstra que reivindicações online são, sim, efetivas, e a vida poderia seguir. Mas não seguiu.

O terreno já estava capinado e adubado para o que chamamos de "cultura do cancelamento": a Netflix estava permanentemente maculada pelo júri da internet, acusada de promover a pedofilia (?). Até o momento que escrevo este texto, o filme está sendo massacrado pelo público, com nota 2.1/10 no Imdb e um assustador 0.6/10 no Metacritic, o extremo oposto dos comentários da crítica. Tive que parar tudo e assistir ao filme para saber se o cancelamento em massa era fruto de justiça ou pura histeria coletiva - e, confesso, só soube da existência da fita por meio da turba com foices nas redes sociais.

A película gira ao redor de Aminata (Fathia Youssouf Abdillahi), uma menina recém-chegada em Paris com a família, vindoura do Senegal. Eles agora moram em um dos bairros pobres da capital, e Amy carrega o peso da religião de sua família nas costas. Desde sempre ela ouve como a mulher deve respeitar e obedecer seu marido, e que suas vidas orbitam ao redor do matrimônio. Aminata olha tudo com cara de que concorda com nada daquilo. Na nova escola, ela conhece um grupo de meninas que, apesar de dividir o corpo geográfico com Amy, vive em um universo totalmente diferente: elas usam roupas curtas, não andam "na linha" e possuem um grupo de dança - chamado de "As Lindinhas". Os olhos de Amy se enchem ao ver a realidade delas.

Aqui está um dos pilares fundamentais do coming of age, quando uma protagonista quer se encaixar em um mundo que não é seu - imediatamente lembrei do ótimo "Garotas" (2014), da proprietária do cinema francês contemporâneo, Céline Sciamma. Ambos, além de se passarem no mesmo lugar, anseiam ir até o cerne da relação de um grupo de meninas que crescem a partir dos laços ali criados.

Dentro de casa, o dilema de Amy é com o pai: ele chegará do Senegal com outra esposa - a cultura permite a poligamia dos homens. Ela vê como a mãe tenta esconder a dor de saber que o marido escolheu outra mulher e como é irrelevante para ela seus sentimentos sobre o fato. Sua tia empurra a ideologia da religião à força na menina, sendo preparada para "virar uma mulher" (a partir da menstruação), o que apavora Amy.


E lá está ela: sufocada entre duas culturas tão opostas e tão fortes. Uma enclausura a figura feminina enquanto a outra a liberta, contudo, essa liberdade extrapola os limites do bom senso - e o roteiro critica os dois extremos. A fita não tem rodeios em filmar como as meninas estão cada vez mais cedo abraçando uma cultura que as sexualiza. Por meio de videoclipes e Instagrans, elas estão a um clique das selfies de figuras como Kim Kardashian e Kylie Jenner, a um clique de videoclipes como o de "WAP" da Cardi B e Megan Thee Stallion, com seus corpos volumosos em roupas minúsculas e reveladoras (e totalmente dentro dos seus direitos absolutos de existirem, não pense o oposto).

Com o montante de atenção e apreço, é aquele tipo de corpo e life style que é o desejado, principalmente para garotas, que sofrem desde sempre a pressão por uma beleza inatingível. Esse tipo de conteúdo é apropriado para garotas daquela idade? Quem deve fiscalizar isso? Importante pontuar que toda a produção ao redor das atriz mirins (que arrasam) foi feita com supervisão dos pais, apoiando as discussões do texto. "Eu explicava tudo que estava fazendo e as pesquisas que fiz antes de escrever a história. Fui muito sortuda que os pais das meninas também eram ativistas, estão estávamos todos no mesmo lado. Naquela idade, as meninas já tinham visto aquele tipo de dança. Qualquer criança com um celular pode achar esse tipo de imagem nas redes sociais hoje em dia", disse a diretora sobre a motivação por trás do filme.

Amy e suas novas amigas treinam exaustivamente para um concurso de dança que acontecerá em breve. Enquanto assistem a vídeos no YouTube, vão aprendendo novos passos para garantir o prêmio - e o filme pincela em vários momentos o quão sexualizado será o produto final, todavia, choca quando vemos a coreografia executada no concurso. É desconcertante ver menininhas de 11 anos rebolando e fazendo gestos sexuais, aprendidos nos smartphones, e Doucouré faz questão de mostrar a reação da audiência presente diante do espetáculo horrendo: todos vão de incredulidade a total assombro. Uma mãe na plateia cobre os olhos da filha.

Então "Lindinhas" levanta questionamentos urgentes: de quem é a culpa por tudo isso? É das meninas, que não possuem discernimento na malpropriedade da dança? É da facilidade de acesso do mundo moderno, com conteúdos infinitos nas mãos de quem possuir um aparelho conectado com a internet? É dos pais das meninas, que não tomam cuidado com o tipo de material consumido pelas filhas? É da sociedade, que incentiva cada vez mais cedo a "adultizar" crianças e adolescentes em cima de salto alto, croppeds e batons?

Não dá para apontar o dedo para um culpado: todos nós somos. As meninas são as últimas a serem responsabilizadas por não possuírem base sólida para entender a dimensão de seus atos, e isso é reflexo, também, da falta de educação sexual em casa e nas escolas. Garotas são distanciadas ao máximo de qualquer debate na temática, ilustrado na cena em que uma delas encontra uma camisinha usada e as outras surtam achando que ela, só por ter tocado, "pegou AIDS". Com discussões acerca, as meninas se reforçariam de armaduras para se proteger, afinal, vivemos na cultura do estupro. Ao esconder o sexo da vida delas, a sociedade acaba fortalecendo a postura predatória do homem.


O roteiro vai superficial e acertadamente na figura dos pais das meninas - com exceção da família de Amy. Não há muita noção dessas figuras, como se elas se educassem sozinhas, uma triste realidade. E como culpar esses pais tão pobres, que não possuem tempo de fiscalizar com afinco a educação dos filhos quando devem se desdobrar para trabalhar e sobreviver? Uma delas fala que basicamente não vê mais os pais, criando-se na vida, nas ruas. O sistema é cruel demais e são camadas em cima de camadas que vão piorando a situação daquelas garotas.

Já percebemos que o roteiro de Doucouré não apenas coloca no ecrã um leque de problemáticas ao redor da vida de crianças e adolescentes diante da sexualização (com alguns exageros que poderiam ser lapidados) como também introduz questionamentos que vão além da tela. Então por que tantos comentários odiosos? O que justifica uma nota 0.9 para o filme? A resposta está no olhar de patrulha. Esse conceito - que tive contato por meio da maravilhosa cantora Mahmundi - é sobre como estamos 24h por dia esperando um deslize de alguém na internet e como levamos esse deslize para níveis desproporcionais a fim de recebermos o certificado de "desconstruidão". Como a Netflix errou feio no marketing de "Lindinha", a histeria coletiva deitou e rolou.

Em momento n-e-n-h-u-m o longa glorifica o comportamento das meninas, pelo extremo contrário: é um filme bastante triste e desconfortável sobre a lamentável situação que resume tão bem a realidade do lado de cá. Lembra da Melody? A cantora mirim de (agora) 13 anos viralizou nas redes, e é só você entrar no Instagram dela para notar uma imagem longe de alguém de 13 anos. Muita revolta já aconteceu pela forma como a carreira da menina - gerenciada pelo pai - é cunhada na sexualização, e isso é só um exemplo dentro de milhares, famosos ou anônimos. Já viu as fotos de adolescentes com seios marcados por baixo das camisas e muita maquiagem e pensou "Nossa, eu nessa idade estava brincando" enquanto eles posam em fotos sensuais ou adultizadas? Pois é. É uma montanha-russa o desenvolvimento de Amy: ela começa brincando com o irmão, passa pela adultização que desmorona seu emocional e termina em uma das cenas mais lindas do ano, quando finalmente volta a ser criança.

Entrando na hashtag "#Pedoflix", vi váaaarios tweets com a cena do concurso e legendas inflamadas sobre como a Netflix reforça a pedofilia com o filme. É um desserviço (para dizer o mínimo) pegar uma cena, retirar de todo o seu contexto e postar em rede social para ganhar likes e levar para frente uma ideia que não existe. É muito apelativa a facilidade de dar RT em comentários assim, afinal, é mais prático assistir a um vídeo de 1 minuto e cunhar uma opinião do que assistir aos 96 minutos de duração. Em tempos que tanto se fala em "fake news", tirar conclusões a partir de tweets assim é o mesmo que ler uma manchete e afirmar sem ler toda a matéria (e se ela é, de fato, verdade). Esse é um dos enormes males da maneira como consumimos internet atualmente: tomamos como verdade sem nos aprofundarmos no tópico.

Maïmouna Doucouré, que obviamente não teve poder algum na forma como seu filme foi inicialmente vendido, disse em entrevista que que se chocou com o número de ameaças de morte que recebeu com a explosão do filme pós-Netflix. Ela não foi consultada sobre as estratégias de marketing adotadas e recebeu um telefonema do próprio CEO da plataforma, desculpando-se pelo ocorrido. No entanto, era tarde demais. O fenômeno ao redor de "Lindinhas" é um afinco estudo sobre a cultura do cancelamento e como as pessoas estão ávidas para eleger o anticristo da semana e derramar ódio sem total embasamento. Se a Netflix errou ao criar a arte inadequada para a obra, é um erro pequeno perto da narrativa criada contra o filme, que culpabiliza (e ameaça) não apenas uma indústria, mas pessoas reais como eu e você. "Lindinhas" encontra precisão enquanto complexa e desafiadora arte contra o patriarcado e um bom objeto de estudo (apesar de involuntário) sobre a criação de percepções na internet em tempos de redes sociais.

Antes de cancelar qualquer coisa, certifique-se.


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São as patroas! BLACKPINK ganhará seu próprio documentário na Netflix

Investindo em divulgação pesada pra consolidar a dominação mundial, o BLACKPINK ganhará um documentário na Netflix, com lançamento marcado para o dia 14 de outubro.

A informação foi compartilhada pela gigante dos streamings em suas redes sociais e a companhia, que se mostrou bastante orgulhosa ao anunciar que o “BLACKPINK: Light Up The Sky” será seu primeiro projeto documental de K-pop.


Qual ícone vocês vão escolher? Nós vamos de Lisa, com certeza! 

O documentário não poderia vir em melhor hora. As garotas acabam conquistar sua melhor posição na Hot 100 americana, estreando o single “Ice Cream”, em parceria com a Selena Gomez, em #13, além de estarem com seu primeiro disco completo com lançamento marcado para dia 2 de outubro, quase duas semanas antes do lançamento do filme.



Esperamos que o “BLACKPINK: Light Up The Sky” traga muitas imagens de bastidores da gravação do THE ALBUM, dos clipes da era e, quem sabe, até da suposta parceria com a Cardi B que vem aí. 

BLACKPINK in your area e em uma Netflix perto de você!

Crítica: “Boca a Boca” é a manufaturação de “Malhação” com cor-de-rosa e neon

Atenção: a crítica contém spoilers.

Eu, este entusiasta do audiovisual brasileiro, possuo alguns nomes que guardo em meu coração - então, qualquer produção feita por eles, terá minha atenção. Um dos maiores nomes para mim é o de Juliana Rojas. Rojas é diretora de curtas e longas pesadamente inspirados no terror, e é dela dois dos meus filmes tupiniquins favoritos da década passada: “Trabalhar Cansa” (2011) e “As Boas Maneiras” (2017), ambos co-dirigidos pelo também maravilhoso Marco Dutra. Resumindo: se Rojas sai de casa para fazer alguma coisa, eu assisto. Tudo para mim.

Foi exatamente por conta dela que encarei “Boca a Boca”, a nova série brasileira a estrear na Netflix. “Encarar” pode ser um verbo usado com certa.... força, mas até agora não consegui encontrar um seriado feito no país e com o selo da plataforma que seja algo realmente bom – “3%” (2016-) e “Reality Z” (2020), cof. Realmente, não assisti a todos os disponíveis (dizem que “Coisa Mais Linda”, 2019-20, vale a pena), no entanto, os que se encaixam mais no meu apetite foram decepções. Mas Rojas estava ali em “Boca a Boca” – que foi criada pelo também cineasta Esmir Filho –, e era irrelevante (até certo ponto) se a produção seria boa ou não, meu stream estava garantido.

Pois bem. “Boca a Boca” se passa em algum futuro não tão distante da nossa realidade – não fica explícito o quando, apenas o onde, em uma cidade do interior de Goiás chamada Progresso. A trama gira ao redor de três alunos da mesma escola: Alex (Caio Horowicz), filho do maior produtor de gado da região; Fran (Iza Moreira), filha da emprega da casa de Alex; e Chico (Michel Joelsas, o Fabinho do maior ato nacional da década, “Que Horas Ela Volta?”, 2015), um garoto vindo da capital para morar com o pai e reiniciar a vida.

A trama já é aberta com o mistério principal: a ficante/namorada de Fran, após uma festa, acorda com uma mancha preta nos lábios, o que desencadeia pânico na cidade sobre que doença seria aquela. O trio, quando a menina é internada, percebe que a coisa é mais séria do que poderia supor, e começa a buscar respostas sobre a epidemia, chegando à conclusão que ela era transmitida pelo beijo. Como todo mundo beijou todo mundo na tal festa, uma corrida contra o tempo se inicia para encontrar a cura.

Já fica bem evidente qual o primeiro pilar de sustentação de “Boca a Boca”: discutir as ânsias da juventude. O primeiro contato sexual, o descobrimento do próprio corpo, o acesso às drogas, tudo é embalado ali mesmo na sequência da festa – ou melhor, da rave, para ficar mais nos parâmetros modernecos. Um dos maiores alívios do roteiro é como o texto se preocupou não apenas em abrir uma gama de diversidade sexual, mas também explorá-la de maneira natural – Fran e sua bissexualidade existem na tela como qualquer relacionamento hétero. É claro que temos a ainda necessária discussão da homofobia quando a sexualidade de Chico cai na boca do povo.


Então dá para notar que os roteiristas sabiam da importância de transmitir sua mensagem da melhor maneira para a plateia. Todavia, também temos a certeza de que não foi um jovem que escreveu tudo aquilo, mais parecendo um compilado de tendências do momento (ou nem tanto) para fazer com que adolescentes se vejam no seriado. São jovens fazendo stories no Instagram com filtros de cachorro enquanto filmam um pai arrastando a filha para fora da escola ou até mesmo o grupo do “Zap-Zap” chamado “Progresso da Depressão”. Se no futuro ainda tivermos “Qualquer-Coisa da Depressão”, falharemos enquanto sociedade. Em diversos momentos me questionei se os jovens de hoje são daquela forma mesmo e eu, quase nos 30, já fui deixado para trás, mas quando os protagonistas tentam alertar uma menina sobre os riscos da doença e pedem para ela parar de beijar, ela grita “VoCÊs NãO pOdEM mE RePRimIR!”. É, talvez o problema não seja eu.

Uma das subtramas mais sem nexo é a da diretora da escola, Guiomar (Denise Fraga, anjo imaculado em “O Auto da Compadecida”, 2000). Além de ela ter sido composta com uma atuação muuuuito artificial, sua filha foi mandada para os EUA e a plateia só a vê através de suas fotos em redes sociais. SÓ QUE é gritante que todas as fotos são falsas – dá para catar imediatamente, logo na primeira vez que um dos personagens desliza pela timeline da garota –, no entanto, ninguém ali parece perceber. Demora alguns episódios para Chico desvendar um dos mais óbvios mistérios da cultura contemporânea, e isso ilustra bem como havia uma ideia que não foi executada de forma eficiente, afinal, a Rainha do Photoshop que conseguiu enganar todo mundo é um empurrão para fazer a história andar à força.

A trama de “Boca a Boca” está sentada em cima de uma briga ou desentendimento ou chame como quiser entre a cidade e a aldeia ao lado. Inúmeras vezes fica pontuado para os alunos que a segurança só existe dentro da cidade, e a culpa para a doença logo é jogada para os de “fora”, a clássica dicotomia “nós X eles”. É bem evidente que a solução de todo está exatamente do lado de lá, mas até mesmo a “mitologia” criada para salvar o dia é tão sem inspiração. Tudo vai sendo deixado pelo caminho.

Tenho notado uma feliz atenção de produções brasileiras em tocar nas desigualdades raciais. Mesmo em filmes/séries em que a pauta principal não seja esta, temos discussões acerca, afinal, a desigualdade social em nosso país é gritante. Em “Boca a Boca”, a questão está na casa grande X quarto da empregada. Os pais de Alex moram na “mansão” enquanto Fran e sua mãe vivem nos fundos, o padrão colonial que até presente data ainda habita nosso país. Há algumas tensões entre a mãe de Fran e o pai de Alex, contudo, o debate nunca consegue ser concreto o suficiente para ter relevância dentro do enredo – e não ajuda o personagem do pai ser o “vilão” unidimensional, o homem branco rico, frio e mal-humorado que só pensa em dinheiro.


Quanto mais chegamos perto do desvendar da série, mais absurda ela vai ficando. E nem digo “absurda” no sentido de “fantasiosa”, é “sem noção” mesmo. O que menos faz sentido em tudo – e olha que muita coisa não faz – é a maneira como o trio fica revoltado com os jovens doentes sendo internados no hospital. Quando Fran finalmente demonstra os sintomas, a mãe de Alex rapidamente a leva ao hospital, e o menino fica furioso. “Tá com a consciência pesada por ter lado a Fran ao hospital?”, pergunta ele, e eeeerrrrr, não? Por que ela estaria? Estamos falando de uma doença que ninguém nunca viu, que não se sabe ao certo como é transmitida, nem como age nas pessoas, e existe a certeza de que ela mata. Não seria a única coisa possível levar o doente ao médico e deixar profissionais capacitados resolverem (ou tentarem resolver) a questão? Os meninos agem como se houvesse uma prisão, ou que o hospital estivesse fazendo experiências como os doentes, mas não, eles estão literalmente fazendo de tudo para salvarem a vida dos enfermos. Qual a lógica ficar revoltado com isso?

A peça-chave da trama é que o pai de Alex está usando a pesquisa da filha para gerar mutações em seus bois e criar uma super raça a fim de impulsionar os negócios. Esse fio já começa ruim quando a filha, que trabalha com engenharia genética, é introduzida na história com uma placa em forma de DNA na mesa – porque tem que ficar extremamente óbvio que ela trabalha com DNA, por favor não esqueçam, hein, DNA, ela trabalha com DNA. Os bois, depois de várias mutações, desenvolvem a doença, o que é sim uma ideia boa, todavia, a história jamais explica como foi que a doença saiu dos bois e atingiu exatamente aquele grupo de pessoas da rave. Ou seja, a série termina e não sabemos o que de fato aconteceu. Então tá.

Ao terminar o seriado – que assisti com uma amiga (virtualmente, okay?, mantenham o distanciamento social) também perplexa com o quão forte a série se perde –, fomos ler os comentários das pessoas que gostaram, a fim de entender o ponto de vista oposto, e era quase um clichê falar como a série era boa graças à fotografia e trilha-sonora. E de fato, ambas são incríveis. Temos imagens fantásticas do interior do Brasil e uma trilha que vai de Baco Exú do Blues a Sophie (a saudades que deu de uma festa quando tocou “Faceshopping”), só que tais recursos não são o suficiente para fazer um bom trabalho. Aparatos para encher os olhos e os ouvidos, pelo visto, são o suficiente para muita gente.

É aí que está o cerne da produção. “Boca a Boca” é uma “Malhação” manufaturada para seu público-alvo: adolescentes que amam a Netflix e vivem no Instagram com suas fotos cheias de filtros. Uma pesquisa feita pela NetQuest para a Netflix informou que 80% dos jovens se veem mais na tela do que antes, e o que isso quer dizer? A plataforma está cada vez mais alimentando o público que a sustenta, com mercadorias feitas para agradá-los, o que, do ponto de vista mercadológico, é o correto a ser feito. Mas e o ponto de vista artístico? É claro que uma série como "Boca a Boca" não é algo descartável - e, curiosamente, ainda reflete bem o tempo de pandemia em que vivemos, outro acerto de timing da Netflix após "O Poço" (2020) -, porém, passa muito longe de algo que demonstra cuidado em sua concepção. Sempre que não gosto de uma produção nacional, repito: qualquer um que desbrave o audiovisual no Brasil merece total respeito, mas “Boca a Boca" usa fardas cor-de-rosa e luzes neon para hipnotizar, e não é todo mundo que vai se deixar levar pelo encanto. A mesma fórmula (futuro + pitadas de fantasia + análise social + cores neon) foi efetuada com brilhantismo em “Divino Amor” (2019).

P.S.: Juliana Rojas, continue contando comigo para tudo.

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Sarah Paulson é “Ratched” nas primeiras imagens da nova série de Ryan Murphy

Após "The Politican" e "Hollywood", Ryan Murphy está prestes a trazer sua terceira série original Netflix e é claro que a produção será estrelada por mais uma figurinha carimbada do produtor. Sarah Paulson dará vida a Mildred Ratched - sim, a mesma de "Um Estranho no Ninho", em "Ratched", série que chega ao serviço de streaming no dia 15 de setembro. Judy Davis ("Feud") também se integra ao elenco.

A data de lançamento da série foi divulgada pela própria Netflix. Além do anúncio, quatro imagens foram divulgadas e já dá pra ficar animado com o que está por vir.


Situada em 1947, "Ratched" servirá como uma prelúdio para "Um Estranho no Ninho". Na série, iremos acompanhar toda a trajetória de Mildred para que ela se torne a personagem conhecida no filme estrelado por Jack Nicholson. Além de Paulson e Davis, Finn Wittrock, Sharon Stone e Amanda Plummer também fazem parte do elenco.

Hilary Swank está chegando em Marte no teaser de “Away”, nova série da Netflix

Eterna "Menina de Ouro", Hilary Swank irá chegar aos streamings pela primeira vez com uma produção original em setembro dessa ano. Swank estrela "Away", a nova séria da Netflix sobre viagem no espaço. Seu primeiro teaser foi divulgado nesta terça-feira (7).


Só pelo trailer já dá pra sentir que a série deve possuir uma carga dramática interessante, né? Saca só a sinopse: Emma Green (Hilary Swank) irá liderar a primeira missão tripulada a Marte junto de outros astronautas, mas terá que lidar com sua escolha de deixar para trás o marido e engenheiro da NASA, Matt Logan (Josh Charles), e sua filha Alexis (Talitha Bateman).

"Away" é mais uma série espacial da Netflix. O serviço de streaming já apostou outras vezes com temáticas relativamente similares. A última aposta da Netflix foi "Space Force", protagonizado por ninguém menos que Steve Carell e Lisa Kudrow.

Crítica: “O Grito - Origens” usa do gore e desconforto para recontar história clássica de terror

Atenção: o texto a seguir possui spoilers da série e do universo de "Ju-On". Leia por sua conta risco.

A franquia "Ju-On", criada por Takashi Shimizu, é uma das maiores exportações do horror japonês para o mundo. Com 13 filmes, entre altos e baixos, a história de Kayako foi contada diversas vezes, inclusive em quatro longa-metragens norte-americanos, mas retorna ao Japão como "O Grito - Origens" sob um novo olhar que visa, desta vez, contar do zero a maldição que deu origem a uma das entidades mais famosas do terror.


Dirigida por Sho Miyake, a série, entretanto, não é sobre Kayako e a violência doméstica sofrida pelo marido. No universo deste show, os filmes foram inspirados por uma série de acontecimentos "reais" ao longo de nove anos que estão ligados por uma casa onde uma mulher grávida morreu em 1952. Inclusive, "Origens" termina um ano antes do lançamento dos curtas de Shimizu em 1998, "Katasumi" e "4444444444".

Graças a essa liberdade criada, foi possível trazer uma história totalmente nova acerca da maldição. Não há menção há qualquer personagem mostrado nos filmes. Apesar da liberdade, isso não impediu com que certos elementos já conhecidos fossem mantidos justamente para deixar claro que foram eventos "reais" que inspiraram a franquia de filmes. Destaco, por exemplo, as mortes de certas personagens que claramente fazem referência a morte de Kayako, seu marido e Toshio.

Em certos momentos, a série parece ser uma grande celebração da própria franquia, tanto que a atmosfera e tensão criadas remetem muito aos longas originais. Outro ponto que lembra bastante os primeiros é justamente o mistério. É tudo muito propositalmente confuso.

Apesar destes pontos positivos, "Origens" erra justamente naquilo que trouxe um dos trunfos na maioria dos episódios: o desconforto. A série não traz muito sustos, mas deixa o espectador tenso e desconfortável a partir de cenas totalmente gráficas. Em um destes momentos, todavia, há uma cena de estupro que sequer é desenvolvida de forma decente para que seja justificada na trama.

A sequência se torna ainda mais problemática quando a vítima Kiyomi (Ririka) toma uma atitude muito bizarra se levarmos em consideração o que acabou de acontecer com ela. Há a possibilidade dela estar possuída por alguma entidade da casa, mas a série não se presta a momento algum a deixar isso claro de forma que tal interpretação seja feita.


O estupro gratuito poderia passar despercebido caso a grande maioria das personagens femininas não fossem tratadas como histéricas ou problemáticas de outras formas. É estranho ver tais personagens serem retratadas desta forma pois não as apresenta como realmente vítimas, diferente de Kayako, morta pelo marido somente por gostar de outra pessoa. Parece que os roteiristas Hiroshi Takahashi e Takashige Ichise decidiram mostrar que o problema é apenas das mulheres. É estranho.

Enfim, "O Grito - Origens" é uma bela homenagem a franquia, mas deixa perguntas sem respostas - e talvez isso seja seu grande charme. Porém enquanto série a falta de respostas seja uma decisão criativa tomada unicamente para deixar ganchos para uma possível segunda temporada. Só o tempo dirá.

Charlize Theron é uma mercenária imortal no novo trailer de “The Old Guard”, novo filme da Netflix

Charlize Theron anda embarcando em uns papéis bem bacanas em filmes de ação desde "Mad Max: Estrada da Fúria", filme em que interpretou a já clássica Furiosa. Já foi vilã em "Velozes e Furiosos: 8" e protagonista badass em "Atômica". Agora ela é uma imortal em "The Old Guard", o novo filme da Netflix que estreia no próximo dia 10 de julho.

Um novo trailer foi divulgado nesta quinta-feira (02) e mostra um pouco sobre a trama. Em "The Old Guard", acompanharemos Andromache of Scythia, uma imortal que precisa proteger Nile (KiKi Layne), uma nova imortal descoberta. O bacana é que já neste trailer descobrimos que os personagens não são totalmente imortais: em algum momento o "poder" perde efeito, eles só não sabem quando.


Além de Charlize e Kiki, o longa-metragem conta com Chiwetel Ejiofor ("Doutor Estranho e o Multiverso da Louruca") e Matthias Schoenaerts ("Red Sparrow"). "The Old Guard" conta com a direção de Gina Prince-Bythewood, responsável por alguns episódios de séries como "Todo Mundo Odeia o Chris" e o filme "Além dos Limites".

Os 10 melhores filmes de 2020 (até agora)

A melhor época do ano para o escritor que cá se encontra é a época de fazer as listas de melhores do mundinho cinematográfico no ano. Gasto horas catalogando tudo o que assisti até a marca temporal que quero fechar (seja a de metade do ano, ano inteiro ou da década), a fim de trazer a você, leitor, o que considero o suprassumo dos lançamentos (dentro da enorme cerquinha da subjetividade, é claro). Mas 2020 está sendo um ano diferente.

Com a pandemia, a indústria cinematográfica parou. Não há filmes em produção no momento, e os já finalizados foram adiados até que as salas de cinemas possam ser reabertas. O mercado brasileiro - ironicamente - acabou sofrendo menos com isso por receber filmes que já rodaram em outros países meses antes - vários do Oscar 2020, por exemplo, que estrearam internacionalmente em novembro e dezembro, só chegaram aqui após a virada da década. No entanto, mesmo com o fluxo de obras sendo drasticamente reduzido, ainda conseguimos assistir a filmes imperdíveis que salvaram nosso ano (e nossa quarentena). Aqui estão meus 10 longas favoritos de 2020 (até agora).

De indicados e vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2020 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 10, meu amor por você é real. Preparado para uma maratona do que há de melhor no cinema mundial até agora?


10. Queen & Slim (idem)

Direção de Melina Matsoukas, EUA.
"Queen & Slim" é um daqueles filmes corretos lançados no momento correto. Seguindo o casal protagonista, a vida dos dois é permanentemente afetada quando são parados com um policial branco, que - por basicamente nada - quase os mata. Em legítima defesa, Slim atira no policial, desencadeando uma fuga nacional enquanto protestos contra abusos raciais rolam pelo país. Estreia no Cinema de Melina Matsoukas, diretora de vários videoclipes, como "Formation" da Beyoncé, é bastante intrigante - e também triste - que "Queen & Slim" tenha sido lançado poucos meses antes de George Floyd perder a vida. Floyd não foi o primeiro (e, infelizmente, não deve ser o último) a passar pelo o que passou sob o poder de um sistema que não encontrou falhas ao longo do caminho, e sim foi construído para ser assim, o que faz de "Queen & Slim" um quadro e um aviso de uma sociedade claramente doente.

9. Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Always)

Direção de Eliza Hittman, EUA/Reino Unido.
O aborto é um dos temas mais controversos da nossa sociedade atual, encontrando discussões muito calorosas sobre os dois extremos do debate. "Nunca Raramente Às Vezes Sempre" é a carta-aberta de Eliza Hittman sobre a temática. Uma garota de 17 anos está grávida e, com a ajuda da melhor amiga, vai até Nova Iorque para realizar um aborto. A superfície do longa carrega características que, de maneira previsível, nos dará a ideia de irresponsabilidade por parte da garota, contudo, o roteiro nos empurra para um mergulho muito complexo que explica tudo o que ocasionou a protagonista estar ali. A cena que dá título ao filme já é uma das mais incríveis do ano pela veracidade e dor que o corpo feminino está sujeito nas mãos do patriarcado.

8. O Poço (El Hoyo)

Direção de Galder Gaztelu-Urrutia, Espanha.
"O Poço" talvez seja o filme mais badalado de 2020. Não por ser o mais assistido ou o melhor, mas por ter sido lançado em um terreno absurdamente fértil para fomentar suas discussões - e foram inúmeras ao longo das semanas após a Netflix jogar a obra em seu catálogo. Conhecemos uma prisão vertical que tem uma curiosa (e cruel) forma de alimentar seus detentos: através de um poço, onde o andar de baixo comerá o que sobrou do andar de cima. As discussões de “O Poço” soam óbvias – é só você ler a sinopse que a fundamentação central da fita estará presente. Sim, esse é um filme que quer mostrar como a estruturação do Capitalismo é falha, desumana e cruel – e provavelmente você, proletariado, já sabe disso. “O Poço” é uma alegoria brilhantemente terrível da natureza humana que gera indagações ao mesmo tempo que executa um trabalho de gênero delicioso.

7. E Então Nós Dançamos (And Then We Danced)

Direção de Levan Akin, Geórgia/Suíça.
A melhor fita LGBT do ano até o momento, "E Então Nós Dançamos" vem de um país que você talvez nem saiba onde se encontra: a Geórgia, um pequeno país na divisa entre a Europa e a Ásia. Com um cinema ainda proporcional ao tamanho do país, não se engane, a Geórgia é dona de filmes fantásticos, e "E Então Nós Dançamos" foi o selecionado ao Oscar 2020. Um dançarino vai ter que escolher entre aceitar sua sexualidade em um país sufocantemente homofóbico ou viver uma mentira assim que outro dançarino chega em sua escola. A dança georgiana, presente em todo o filme, é usada como catalizador desse amor proibido que termina, também, como um belíssimo documento cultural - e, sem surpresa, foi recebido com protestos pedindo o cancelamento das sessões. No entanto, o filme foi lançado, uma vitória para a resistência LGBT.

6. Devorar (Swallow)

Direção de Carlo Mirabella-Davis, EUA.
Esse pequeno horror indie causou desde a estreia no Festival de Tribeca ano passado, e, ainda bem, não ficou apenas no shock value: uma jovem e recém-casada mulher tem dificuldade em manter o casamento e a vida doméstica. Afogada em tédio e distanciamento emocional, ela descobre que está grávida, fato que desencadeia um transtorno que a faz engolir os mais diferentes objetos. "Devorar" recebeu uma embalagem colorida, harmônica e deliciosa, um contraste perfeito para toda a carga obscura de sua trama. Carregado pela atuação exemplar de Haley Bennett, o filme é uma mistura de "Grave" (2016) com "O Bebê de Rosemary" (1968), transformando o drama de sua protagonista em potência do horror. Bon appétit, baby.

5. Viveiro (Vivarium)

Direção de Lorcan Finnegan, Irlanda.
Todo ano precisamos de pelo menos um longa que seja a definição de "amei, mas não entendi", e "Viveiro" é o nome perfeito para isso. Quando um casal visita um conjunto habitacional em busca de um imóvel e fica preso nas ruas com casas totalmente iguais, rapidamente percebem que foi sua última decisão na vida. Estamos vivenciando uma fase interessante na mistura de horror e ficção científica, casando criatividade com as colunas dos dois gêneros: atmosfera e reflexão. "Viveiro" sem dúvidas não é um longa para qualquer paladar: é uma fita lenta, estranha, sufocante e que não vai entregar seus segredos de mão beijada. Sua beleza imagética esconde toda sua bizarrice com uma estética que passeia por "Edward Mãos de Tesoura" (1990) e "O Show de Truman" (1998), e transforma a casa própria, uma das mais desejadas paisagens, em um verdadeiro labirinto em que cada esquina é um pesadelo.

4. Joias Brutas (Uncut Gems)

Direção de Josh Safdie & Benny Safdie, EUA.
Adam Sandler é um ícone do cinema norte-americano, mas pelos motivos errados. Ele já possui nada mais nada menos que NOVE Framboesas de Ouro (que premia o que há de pior no Cinema), inclusive sendo o detentor do recorde de maior número de prêmios em uma noite: "Cada Um Tem a Gêmea Que Merece" (2011) foi indicado a sete Framboesas e ganhou todas. Todavia, Hollywood adora ver um nome falido encontrando o Olimpo com alguma fita, e Sandler encontrou com "Joias Brutas". Os diretores, os irmãos Josh e Benny Safdie, adoram pegar atores considerados ruins e transformarem em donos de prêmios - como Robert Pattinson com "Bom Comportamento" (2017) -, e o Olimpo de Sandler foi fabuloso: dono de uma joalheria, ele é viciado em jogos de azar e vai levar a vida de todo mundo ao redor numa montanha-russa eletrizante, marca dos irmãos Safdie. "Joias Brutas" é um estudo de personagem raro e imperdível que entrega muito mais que um ator ruim conseguindo quebrar o estigma.

3. O Chalé (The Lodge)

Direção de Veronika Franz & Severin Fiala, Reino Unido/EUA.
O segundo filme da dupla austríaca que nos presenteou o clássico moderno "Boa Noite Mamãe" (2014), "O Chalé" satisfará o paladar de quem gosta do tipo de terror do primeiro. Duas crianças perdem a mãe quando ela se suicida depois de um ex-marido começar a namorar uma mulher nova. O pai tenta (com insistência) aproximar os filhos da namorada, que possui um passado macabro e, segundo a prole, possui algo de muito errado. Eles ficam presos em uma cabana, e situações inexplicáveis desafiam a sanidade de todos. "O Chalé" nada contra a maré do modelo atual de cinema de terror, acomodado em berrar sustos, e edifica sua atmosfera com muito cuidado, trabalhando com sugestões e temáticas geralmente tratadas com pobreza. A religião católica já perdeu as contas de quantos filmes a tomam como ethos de maneira preguiçosa, sem agarrar o quão assustador pode ser quando roteirizada da maneira certa, e "O Chalé" é um desses exemplos de sucesso, ainda mais louvável quando não possui uma trama sobrenatural, bengala batida e saturada dentro do gênero.

2. Os Miseráveis (Les Misérables)

Direção de Ladj Ly, França.
O vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2019 ao lado da obra-prima tupiniquim "Bacurau" (2019), "Os Miseráveis" é mais um filme a analisar a brutalidade da polícia (majoritariamente contra pessoas negras), tendo a França depois da vitória na Copa do Mundo 2018 como palco principal. Indicado ao Oscar 2020 de "Melhor Filme Internacional", o filme possui vários polos que se chocarão da mesma forma como os diferentes contextos culturais do caldeirão que é Paris, tendo um policial que atira em uma criança negra como estopim de uma revolta. É um daqueles filmes enormes, que não terminam com o rolar dos créditos, permanecendo com o espectador por muito tempo ao pôr no ecrã tantos debates pertinentes e atuais.

1. 1917 (idem)

Direção de Sam Mendes, Reino Unido.
Filme de guerra chegando em premiações, alguém ainda aguenta isso? "1917" teve o trabalho inicial de conseguir conquistar um público cansado de um molde bélico feito para arrepiar a epiderme de premiações, e o resultado é (quase) irretocável - não por acaso ganhou três Oscars e sete BAFTAs. Com foco na Primeira Guerra Mundial, o trabalho segue dois soldados que são mandados em uma missão a fim de evitar um combate ainda maior e mais trágico. Filmado com a técnica de plano sequência - como se não houvesse cortes -, "1917" possui a consciência de que toda a fotografia, som, direção de arte e qualquer elemento técnico não sustenta uma arte que é, primordialmente, o ato de contar uma história. Os pequenos tropeços são ínfimos em meio à experiência visual e sensorial que imerge o espectador nos horrores e nas glórias desse período, sendo um daqueles filmes que nos recorda o quão impressionante e indispensável é a Sétima Arte. Nenhuma outra mídia seria capaz de causar o mesmo impacto.

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Crítica: “Reality Z”, nova série nacional da Netflix, tem zumbis demais e criatividade de menos


Atenção: a crítica contém spoilers.

De tempos em tempos, alguma criatura ressurge com força total na cultura mainstream. Nenhuma delas está mais saturada do que os vampiros, sabemos, com zumbis estando um pouco atrás. A série “The Walking Dead” está desde 2010 injetando os mortos-vivos na tevê, sendo o maior expoente da criatura na atualidade. Quando pegamos algo tão batido, só enxergo real necessidade se a abordagem trouxer algo verdadeiramente original, como “Amantes Eternos” (2013) com vampiros e “Os Famintos” (2017) com zumbis.

Fiquei bastante curioso com o anúncio de “Reality Z”, nova série original da Netflix. Mais uma produção brasileira na plataforma – seguindo “3%” (2016-) e “O Mecanismo” (2018-), para citar algumas –, o que traz o diferencial de “Reality Z” é a temática. Se em um contexto geral os zumbis são figurinhas carimbadas há décadas, na arte brasileira ainda é elemento raro. Por algum motivo, nossa indústria não gera tantas fitas com o gênero terror, vendo-o desabrochar com maior efusão nos últimos tempos, o que garante o interesse.

“Reality Z” é um remake da série britânica “Dead Set” (2008). Criada por Charlie Brooker – a mente por trás do hit “Black Mirror” (2011-) –, “Dead Set” é uma sátira do “Big Brother”, colocando participantes reais para interpretarem eles mesmos durante o apocalipse zumbi – “Reality Z” pegou apenas a premissa, readaptando-a. Os cinco primeiros episódios são ligados diretamente aos cinco (e únicos) episódios de “Dead Set”, com os cinco restantes sendo originais. 

Em terras tupiniquins, o seriado se passa no Rio de Janeiro. Lá é sede do “Olimpo”, o maior reality da tevê nacional: é basicamente um “Big Brother”, mas os participantes “interpretam” deuses da mitologia grega. Por quê? Eis uma boa questão. A base de “Reality Z” enquanto trama gira ao redor do “Olimpo” – a casa falsa dos deuses é, de certa forma, a protagonista de tudo –, todavia, tudo o que passava pela minha cabeça era: “Como inventaram um reality (apesar de fictício) tão ruim?”.


E nem falo “ruim” no sentido de “é tão ruim que com certeza venderia”, e sim “ruim” como criatividade. A fundamentação do reality (o porquê do formato) é fraquíssima, e, mesmo fictícia, difícil de imaginar alguém assistindo. Toda a história de deuses é totalmente descartável, apenas uma ideia (bem rasteira) para enfeitar e tentar fugir de ser mais um reality convencional. A cereja do bolo é a apresentadora, Divina (“interpretada”, sim, entre aspas, por Sabrina Sato).

A escolha de Sato é tanto mercadológica como metalinguística. É divertido ver que ela participou do real “Big Brother Brasil”, no entanto, a apresentadora está ali como chamariz de público – ela estampa várias artes promocionais da série, apesar de durar bem pouco no enredo. Eu não encontro problemas em escalações de globais quando há uma sólida justificativa baseada no talento, e, perdão caso soe ríspido, não é minha intenção, talento para a atuação não se encontra presente em Sato diante da tela. Aliás, não se encontra na maior parte do corpo de atores.

A trama de “Reality Z” se desenrola em três vertentes – que se chocarão em algum momento. Levi (Emílio de Mello), um deputado corrupto e sua comitiva, suborna policiais para o tirarem do meio de um ataque; Ana (Carla Ribas), engenheira-chefe da construção do Olimpo, e seu filho Léo (Ravel Andrade) veem que as instalações do reality são a via de salvação; e Nina (Ana Hartmann), produtora do “Olimpo” que está dentro do prédio sem saber o inferno que acontece lá fora.

Os cinco primeiros episódios são focados em Nina e os participantes do “Olimpo”. Há poucos exemplos de redenção ali quando as performances são sofríveis. Para tornar o resultado ainda pior, o roteiro não tem sutilezas em transformar os personagens em completos imbecis que tomarão as decisões mais absurdas possíveis, condenando o destino de todos. Os “deuses” são criados em cima de estereótipos absolutamente clichês e unidimensionais – o malhado tapado e preconceituoso contra a travesti piedosa, o velho sexualmente reprimido contra a gostosa que vive na academia, etc.

Quem controla todo o jogo é Brandão (Guilherme Weber), o Boninho do “Olimpo”. Na minha crítica de “A Ilha da Fantasia” (2020), falei que o vilão do longa era o pior que havia encontrado em muito tempo; pois ele pode dormir sossegado que o título passou para Brandão. Nem me refiro à atuação de Weber, e sim à construção do personagem. Ele não é insuportável porque foi refinadamente pensado para assim ser (tenho uma lista especificamente acerca, com personagens criados para odiarmos), é insuportável por ser tão mal feito. De ser injustificadamente cruel até arrotar e defecar na frente de mocinhas loiras que choram pedindo pela mãe (?), o texto força ao extremo a figura de malvado, levando-o à uma caricatura ambulante que consegue ser a pior coisa pensada ali dentro. Cada cena em que ele está na tela é uma tortura – principalmente porque em vários momentos Divina está com ele - seja viva ou em formato de zumbi (Sato é morta em câmera-lenta, eeerrrr).


A partir do sexto episódio, o foco passa a ser sobre Ana e Levi, os dois polos da luta do bem contra o mal. Como era de se esperar, as composições são preguiçosas e não conseguem levar a história ao rumo que deveria ir. Um dos acertos da segunda metade do seriado é a diferenciação particular que “Reality Z” tem do seu derivado britânico: as discussões de classe e raça. No carro dos policiais que Levi suborna havia Teresa (Luellem de Castro), uma mulher negra presa que será uma das protagonistas na luta contra os zumbis. Ela é a porta-voz do bom-senso no meio das insanidades conduzidas por Levi e é constantemente vítima de racismo pelos outros. Na luta extrema pela sobrevivência, a mulher preta não se surpreende em se ver na posição de descartável - o que é um bom estudo a ser entregue ao público.

Porém, apesar das discussões racializadas (que poderiam ser bem maiores e mais contundentes), há três passagens específicas que possuem um padrão meio desconcertante. Dentro do Olimpo há apenas uma participante negra, e ela é a primeira a morrer. Em uma abordagem policial fora de um supermercado, há cinco pessoas; três vindos do Olimpo, um policial branco e um negro, e o negro é o primeiro a morrer. Na chegada de Levi com a polícia no Olimpo, o motorista é um policial negro, e ele é o primeiro (e único) a morrer ali. Coincidência ou não, isso segue uma tradição em obras de terror em que personagens negros são os primeiros a morrerem, e só me questionava o porquê.

Já levantei uma hipótese em algum dos inúmeros textos desta coluna, e várias recepções sobre “Reality Z” tendem a fomentá-la: quando falada na nossa língua materna, conseguimos perceber atuações ruins com mais afinco. Vi vários comentários muito positivos de expectadores internacionais sobre as performances em “Reality Z”, mas pensemos: como podemos captar as nuances de fala e atuação em uma língua que não dominamos? Um filme em húngaro dificilmente será assimilado por nós da mesma forma que uma película brasileira, por isso, tendemos a ser mais críticos com algo próximo por sabermos como aquelas pessoas agem de verdade – e não estou apontando a “Síndrome de Vira-lata”, que rejeita qualquer coisa só por ser local, e sim do simples fato de que temos o português brasileiro como língua materna. Roteiros nacionais precisam parar de fazer com que seus atores falem da mesma maneira que escrevemos.

Pensando que não teria salvação, “Reality Z” me surpreendeu demais com as escolhas do episódio final, introduzindo trama com uma milícia que ameaça invadir o Olimpo. Toda a criatividade que mal aparecia nos nove episódios anteriores é derramada na finale, que tem plot-twists divertidos e não possui pena dos personagens, finalmente injetando uma sensação de perigo. Achei muito acertada a decisão de salvar nenhum dos personagens, o que provavelmente aconteceria com um mar de zumbis invadindo. A cena final ainda finca um gancho para uma continuação que, caso replique a engenhosidade da conclusão, será bem-vinda.

Realmente me doía ver o quanto estava desgostoso com “Reality Z”: sou um grande entusiasta de qualquer pessoa que desbrave o mercado audiovisual nesse país que ainda põe a cultura em um patamar de menor importância. Qualquer tentativa é bem-sucedida só por conseguir existir. Apesar de ser um seriado distante de uma mercadoria de qualidade – com exceção da ótima maquiagem dos zumbis – e não funcionar como entretenimento trash por se levar a sério demais para ser classificada como tal, “Reality Z” deve ser assistida para fortalecer as produções de gênero no nosso mercado, carente de exemplares do terror.

P.S.: caso exista em segunda temporada, produtores, um apelo: não façam mais cenas de ação com câmera de mão + slow motion. Obrigado.


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Crítica: “The Midnight Gospel” e os mistérios da vida com muito ácido

A Netflix tem uma grade de seriados bastante extensa, e uma das melhores já produzidas é “BoJack Horseman”. A animação é uma das várias do segmento dentro da plataforma, mas chama a atenção por ser feita para o público adulto. Isso, por si só, é uma subversão bem curiosa, afinal, animações são fundamentalmente voltadas para o público infantil.

“BoJack” foi finalizada em 2020, mas nem deu tempo de sentir falta do formato. Estreou na Netflix “The Midnight Gospel”, mais uma animação adulta. Criada por Pendleton Ward (a mente por trás do sucesso “Adventure Time”) e Duncan Trussell. No curso de oito episódios (de aproximadamente 25-30 minutos), a história segue Clancy, um cara que possui uma espécie de podcast espacial. Ele vive numa dimensão chamada “Laço Cromático” (o mesmo local onde Lady Gaga agora vive no novo álbum, berro), e possui uma máquina que simula viagem para diversos universos paralelos – e é nessas viagens que ele grava o que se acontece para produzir seu conteúdo (assistido por poucos, mas fiéis espectadores).

Cada episódio começa com Clancy escolhendo um dos diversos planetas disponíveis no computador – com exceção daqueles que já foram destruídos. Todos estão passando por algum processo de apocalipse (como zumbi ou palhaços), e Clancy entrevista algum morador local e conversa sobre algum tópico. O título do seriado, traduzido livremente como "A Religião da Meia-noite", gerou bastante dúvida sobre o significado, e o criador explica: o "Gospel" vem da nova (e, segundo ele, "boa") percepção da religião, significando "boas notícias". Para ele, o desafio da produção é transmitir discussões relevantes mesmo no meio de situações catastróficas. Apesar do caos, somos capazes de crescermos enquanto seres humanos.


Assim como “BoJack”, os temas abordados pelo seriado são bastante complexos. As entrevistas de Clancy são baseadas em entrevistas reais, feitas no podcast de Trussell, então é uma verdadeira viagem. Os personagens conversam sobre a vida, o mistério da morte, o impacto do uso de drogas, o medo da solidão, como funciona a religião e váaaarias outras coisas.

É interessante como o roteiro não tem muita sutileza em discorrer sobre assuntos polêmicos – como o uso recreativo de drogas e suas responsabilidades –, então, caso tais conversas sejam demais para você, essa é uma série para deixar para depois. No decorrer da série, era engraçado como discordava veementemente de alguns pontos defendidos pelo texto, mas aí está a graça da obra: fazer com que você pense e repense seus conceitos. São temas muito necessários, como nossa relação com a morte e como podemos melhorar nossa percepção sobre a única certeza das nossas vidas.

Mergulhado em uma estética completamente surrealista, “The Midnight Gospel” é uma alucinação sem as drogas. Não é um estilo muito acessível, afinal, são milhares de coisas acontecendo ao mesmo tempo, numa explosão de cores e formas não tão bem especificadas. Um dos maiores acertos do visual é a maneira que a “fotografia” desenha seus enquadramentos, não possuindo limitações de onde veremos a história se passando. Para completar o processo de assimilação, ainda temos referências (bem charmosas) espalhadas – como os palhaços do segundo episódio possuindo uma aranha na parte interna, clara referência a “It: A Coisa”.

Confesso que algumas vezes fica um pouco difícil acompanhar o que está se passando: além da inundação de informações visuais, os diálogos são quase ininterruptos, e, somando com a complexidade dos temas, carece maior atenção do público para conseguir embarcar na mesma viagem dos personagens. Quem espera um “Adventure Time” - algo lúdico e recreativo - pode se decepcionar com a diferença de abordagens, com “The Midnight Gospel” sendo para quem busca um substituto para o vazio deixado por “BoJack Horseman” em termos de dinâmica. Eu, que nunca usei um alucinógeno na vida, acho que deve ser mais ou menos assim a sensação.

Você já assistiu os cinco melhores documentários da Netflix, segundo o Rotten Tomatoes?

Nesta quarta-feira (6), o documentário “Becoming”, de Michelle Obama, chega ao streaming da Netflix. O filme relata a turnê da ex-primeira-dama dos Estados Unidos para promover o livro homônimo que conta sua história, da infância à ascensão ao lado de seu marido, Barack Obama.

Obras não-ficcionais estão cada vez mais influentes nos serviços digitais. Na própria Netflix, o catálogo está recheado de títulos importantes e aclamados pela crítica. O Rotten Tomatoes, um dos mais conhecidos e influentes sites especializados em cinema, listou as 250 melhores produções da plataforma, as cinco primeiras colocações estão ocupadas por documentários. Conheça:

#1 Virando a Mesa do Poder (2019)


O primeiro título destacado pelo Rotten Tomatoes é “Virando a Mesa do Poder”. Dirigido por Rachel Lears, a obra explora os bastidores da eleição de quatro candidatas empenhadas em derrotar políticos com campanhas milionárias na disputa para o Congresso dos EUA em novembro 2018. A produção teve início um dia após a vitória de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos em 2016.

#2 Crip Camp: Revolução pela Inclusão (2020)


A divulgação da segunda obra da lista, que fala sobre a luta pela inclusão de pessoas com deficiência nos EUA, teve que ser cancelada pela pandemia causada pela Covid-19. Em seu enredo, os diretores Nicole Newnham e James LeBrecht mostram um acampamento de verão que motivou jovens com deficiência a desenvolverem um movimento em busca de um mundo com mais igualdade.

#3 The Square (2013)


O documentário de Jehane Noujaim aborda a crise egípcia entre 2011 e 2013, começando pela Revolução Egípcia na Praça Tahrir, movimento que derrubou dois governos. A produção foi indicada ao Oscar por Melhor Documentário e ganhou três Emmys no Primetime Creative Arts Emmy Awards.


#4 Shirkers - O Filme Roubado (2018)


No verão de 1992, a cineasta Sandi Tan, com a ajuda de seus amigos, tinha o objetivo de gravar um road movie sobre uma assassina chamada “S” nas ruas de Singapura. Depois da gravação, no entanto, o material foi roubado. O enredo parte da aventura de Tan para descobrir o que aconteceu com as filmagens. “Shirkers” foi ganhador do prêmio de Melhor Direção de Documentário na edição de 2018 do Festival Sundance.

#5 Strong Island (2017)


A obra da norte-americana, quinta entre as melhores da Netflix pelo Rotten Tomatoes, foi indicada ao Oscar de 2018. Aqui, Yance Ford embarca na cultura racista dos Estados Unidos para tentar entender a morte de seu irmão, William Ford, e a justiça falha que, sequer, indiciou o assassino. 

Com saudade de “Black Mirror”? Conheça duas séries parecidas na Amazon Prime

Com apenas três episódios, sendo a fase mais curta desde 2013, a quinta temporada de “Black Mirror” estreou há quase um ano na Netflix e, até o momento, ainda não há confirmação de quando a 6ª temporada vai chegar ao streaming.

Com um enredo filtrado em ficção científica e distopia, a produção caiu no gosto do público por apresentar histórias que ainda são incomuns à sociedade moderna, como as consequências da evolução tecnológica para daqui uns anos.

Fora da Netflix, outras séries despontam para tramas similares, como o revival de “The Twilight Zone” e “Upload”, que chegou à plataforma da Amazon Prime Video na última sexta-feira (1). Confira:

The Twilight Zone (2019 -)


A ficção científica de “Black Mirror” não tem a mesma intensidade na nova versão de “The Twilight Zone” - uma ressalva para episódios como “Um Viajante”, por exemplo. Apesar disso, as séries apresentam muitas semelhanças entre si.

Aqui, cada episódio conta uma história diferente, os personagens têm que lidar com as consequências de seus atos e alguns roteiros beiram uma mistura da realidade com distopia.

Outro detalhe interessante - e importante - de “The Twilight Zone (2019)”, que teve sua versão original lançada em 1959, criada por Rod Serling e dirigida por Stuart Rosenberg, é a participação de Jordan Peele, produtor-executivo e uma espécie de “apresentador/narrador” em todos os 10 episódios da produção.

“Upload” (2020 - )


Se “The Twilight Zone estava ao lado de “Black Mirror” principalmente na divisão de episódios, “Upload” é totalmente voltada à ficção científica e revolução tecnológica.

A produção lançada na última sexta-feira (1), gira em torno de um futuro próximo, em 2033, onde os seres humanos podem se “carregar” para uma pós-vida em um paraíso pago.

Em meio à essa inovação, conhecemos Nathan (Robbie Amell), um rapaz de 27 anos que morre acidentalmente e é auxiliado por Nora (Andy Allo), uma assistente na Horizen, empresa responsável pelos uploads na pós-vida.

A série não tem a intensidade dramática das outras produções citadas, mas aborda muito sobre como será o nosso futuro, até mesmo depois da morte.

Além disso, Upload entrega um apelo cômico muito interessante, principalmente nas cenas de Aleesha (Zainab Johnson), uma colega de trabalho de Nora.

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