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Racismo, gordofobia e transfobia não deveriam ser motivos de piadas em 2017

Aconteceu na última terça-feira (24) mais uma edição do Prêmio Multishow, a premiação da emissora de mesmo nome, focada na música brasileira, e com performances de nomes como Iza, Anitta, Ludmilla e Karol Conka, o evento teve um grande teor político, mas falhou quanto ao mesmo assunto por conta de seus apresentadores.

Logo no início do evento, Tatá Werneck e Fábio Porchat deram uma alfinetada genial na própria emissora, ironizando sobre serem a cara do Brasil: brancos, ricos e que não pegam transporte público desde 2002. Tatá, entrando na brincadeira, disse não pegar ônibus há ainda mais tempo, e todos riram.

O primeiro tiro no pé, entretanto, rolou quando anunciaram a performance do Nego do Borel, que se apresentaria ao lado da dupla Maiara e Maraísa. Fábio Porchat disse que não poderia falar o nome do cantor inteiro, pra que não fosse acusado de racismo. Causando um momento bastante desconfortável, eles começam uma série de brincadeiras com nomes que façam relações preconceituosas ou não com pessoas negras, incluindo artistas como Criolo, que se apresentou um pouco antes.

Pra fugir então das “pessoas que reclamam por tudo”, anunciaram a apresentação do “...do Borel”, até porque o problema no racismo está em quem o denuncia, não nos que praticam, né? Fizeram parecer que os negros exageram quando apontam falas que os ofendem e, consequentemente, ofenderam, brincaram com o que não deviam.

Empenhado em causar comentários controversos, Porchat não parou por aí: ofendeu mais de uma vez Simone, da dupla Simone & Simaria, com uma piada sobre o seu peso e figurino e, numa fala que quase passou despercebida, também brincou sobre mulheres que teriam dormido com caras de Hollywood pela fama, pouco depois de explodirem as discussões sobre os assédios do diretor Harvey Weinstein.


Apesar de ter mais tato que Fábio e, em alguns momentos, escapado de suas piadas ofensivas, Tatá Werneck também teve sua falha. Mesmo em tom bem humorado e, aparentemente, bem intencionado, falou que não importava de quem vinha a música, mesmo que fosse “homem, mulher, homem que é mulher, mulher que na verdade é um brócolis” e, dando uma amenizada na frase, uma menção ao Fiuk, que é diretamente zoado no final. O papo de “homem que é mulher” e vice-versa cai de cabeça na transfobia, por desrespeitar a identidade de gênero dessas pessoas, incluindo artistas indicados na premiação, como a cantora Liniker. Podia ter saído sem essa.

Com tamanho acesso à informação e discussões cada vez mais frequentes sobre minorias, representatividade e preconceitos, foi-se o tempo em que parecia ser aceitável rir de falas racistas, machistas, gordofóbicas e transfóbicas. E não, não é sobre censura, liberdade de expressão ou o mundo estar “chato demais” e, sim, sobre ter respeito com as pessoas que receberão e poderão ser ofendidas por essas mensagens.

Por anos, inúmeras violências foram naturalizadas por meio da comunicação, fosse ela por filmes, novelas, séries ou grandes eventos televisionados, de forma que, passada a produção de programas como Amor & Sexo e até mesmo a última novela da Globo, que pertence ao mesmo grupo da Multishow, o mínimo que poderiam ter tido era o cuidado de não reproduzirem os velhos discursos preconceituosos, ainda mais em um momento que tanto dependem desses grupos para manterem alguma credibilidade.

Se para arrancar risadas de alguém, você precisa ofender outra pessoa, talvez esteja exercendo a sua profissão da forma errada.

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