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Afinal, é verdade que a M.I.A. influencia Madonna, Beyoncé e Rihanna?

Sim, é verdade, e nós temos evidências.
Beyoncé fez a sua parte e, com o disco “Lemonade”, propôs uma longa discussão sobre questões sociais, incluindo a importância da representatividade – termo esse bastante utilizado quando a cantora se apresentou no Super Bowl, vestida em homenagem às Panteras Negras, ao som da protestante “Formation” – mas toda essa história de empoderamento parece não ter o mesmo peso para seus fãs quando o assunto são as minorias do Oriente Médio.

De uns dias pra cá, você provavelmente viu o nome de M.I.A. por sua timeline e, se não foi com essas palavras, encontrou alguma manchete sensacionalista bem semelhante: ela acusou Beyoncé, Rihanna e Madonna de roubarem o seu som.

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Já acostumados com a necessidade dos grandes veículos em conseguirem cliques por meio de covardes distorções, fomos saber o que a rapper disse, de fato, e a declaração completa, dada numa entrevista para a Q Magazine, foi essa aqui:
“Eu estou bem em ter Madonna, Beyoncé ou Rihanna se ‘inspirando’ no meu trabalho, mas eu gostaria que elas chegassem e, ‘Gente, essa imigrante que veio de lugar nenhum nos influenciou, então talvez nem todos os imigrantes sejam terríveis pra caralho’. Mas elas não pensam assim, então chegam e, ‘Talvez ela não se incomode se eu roubar essas coisas. Ela deveria ficar grata por nos ter roubando isso’”, continuou. “Mas às vezes você pensa, ‘Porra, eu tenho que pagar minhas contas’, sabe?”
Não parando por aí, ela também disse: “Beyoncé veio de uma escola à la Michael Jackson, onde a família constrói um mundo inteiro para te apoiar desde quando era uma criança. Eu nunca tive esse luxo. (...) Sou como um pasto. Um modelo para estrelas pop criarem mais conteúdo. Nós constantemente alimentamos o topo da pirâmide”.

E, assim, começou a Terceira Guerra Mundial.

Gostem os fãs dessas cantoras ou não, a grande verdade é que a rapper não disse nenhuma mentira. E, inclusive, acrescentaríamos nessa lista alguns nomes masculinos, como Kanye West e Jay Z, que sempre pagaram muito pau para M.I.A., mas sua crítica é ainda mais complexa do que isso.

M.I.A. vem de uma família de refugiados do Sri Lanka e, desde o começo da sua carreira, enfrenta problemas com os Estados Unidos, que chegaram a negar sua entrada pelo conteúdo de suas músicas em 2006, época em que gravava o álbum “Kala”. Os empecilhos impostos pelo governo americano, entretanto, foram só mais um impulso pra que ela tocasse cada vez mais na ferida, e isso lhe rendeu alguns dos melhores momentos da sua carreira, como o icônico clipe de “Born Free” e, em trabalhos mais recentes, um dos melhores clipes de 2016, “Borders”.


Para um país presidido por um homem que tem como prioridade a construção de um muro que inviabilize a entrada de imigrantes pelo México, saber que algumas das suas maiores artistas bebem da fonte de uma artista que levanta a bandeira em prol dos refugiados é de uma significância imensa. Aquela tal da representatividade. E é sobre isso que M.I.A. está falando.

O grande problema, para a maioria, foi o fato dela trabalhar com nomes e cair justamente em cima de uma artista que tem feito um trabalho foda pelo movimento negro por lá, mas se a ideia era incomodar, é claro que ela se lembraria dos nomes maiores. E, outra vez, ela não mentiu – nem sequer aumentou a história.

Beyoncé, de quem M.I.A. já se disse fã, é uma artista que mudou bastante sua sonoridade e apelo visual ao longo dos últimos anos. Quem vê a cantora de “Irreplaceable”, mal consegue imaginá-la fazendo coisas como esse último disco, e essa mudança conversa bastante com o que a rapper de “Bad Girls” já vem fazendo há anos. Embora não seja algo tão explicito, essa influência respinga até mesmo na sua sonoridade, sendo um dos exemplos mais marcantes a canção “Run The World (Girls)”, do disco “4” (2011), que sampleia Major Lazer, projeto liderado por ninguém menos que Diplo, que tem como uma das suas maiores produções de sucesso “Paper Planes”, da M.I.A.


Em 2014, Beyoncé chegou a convidá-la para um remix da música “Flawless”, do seu álbum visual autointitulado, mas não aprovou a versão final da parceria e, no fim das contas, lançou a colaboração que conhecemos com Nicki Minaj. Como forma de protesto, M.I.A. publicou a sua edição pelo Soundcloud, intitulada “Baddygirl 2”, e incluiu também trechos da canção “Diva” como samples. 


Falando de Rihanna, traçar uma inspiração fica bem mais fácil. A cantora sempre conversou bem com a musicalidade de M.I.A., que vai do hip-hop ao reggae, e nos shows do começo de sua carreira, chegou a arriscar covers do mesmo hit mencionado acima, “Paper Planes” – faixa essa que também foi sampleada duas vezes por Jay Z; a primeira vez em “Swagga Like Us”, parceria com Kanye West e T.I. lançada em 2008, e na segunda em “Tom Ford”, do disco “Magna Carta” (2013). Um dos momentos mais próximos de M.I.A. na carreira de Riri foi a canção “Rude Boy”, que nos remete à rapper tanto na sua sonoridade quanto videoclipe:


Quando gravou o disco “ANTI”, Rihanna finalmente teve a oportunidade de dividir estúdio com M.I.A., porém, a parceria ficou entre as muitas descartadas desse álbum – que também contaria com a colaboração de Azealia Banks.


Encerrando o burn book de M.I.A., chegamos na Madonna. Assim como Beyoncé, a admiração entre a rapper e a Rainha do Pop era mútua, tanto que Madonna quis colocá-la em duas músicas do disco “MDNA”: o single “Give Me All Your Luvin’” e a canção “B-Day Song”. Mas as coisas mudaram desde o Super Bowl em que a rapper ousou mostrar o dedo do meio em plena transmissão ao vivo, se tornando alvo de duras críticas pela imprensa americana e, claro, da própria Madonna, que pulou fora do barco quando percebeu que, se desse merda, sobraria pra ela também.


Sem perder tempo, no disco “Rebel Heart”, Madonna surgiu ao lado de Diplo, com uma sonoridade bem próxima às canções de M.I.A. em músicas como “Autotune Baby” e “Body Shop”.



Nas palavras da própria Madonna, “imitação é a melhor forma de homenagem”.

Pelas redes sociais, não existe discurso de igualdade, liberdade e representatividade que supere a irremediável necessidade de defender as divas do pop, mas se tem uma coisa que M.I.A. sabe fazer tão bem quanto música, é incomodar pelas razões corretas. 

Infelizmente, tudo isso é assunto demais pra quem pode simplesmente jogá-la contra meia dúzia de cantoras e deixar que a internet cuide do resto, mas pra quem está há anos batendo de frente contra o boicote de grandes organizações, qual a relevância de uma série de ofensas pelo Twitter?

disqus, portalitpop-1

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