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Album Review: Justin Bieber dança conforme o ritmo enquanto implora por nosso perdão em “Purpose”

Os últimos anos foram agitados para Justin Bieber. O canadense, que há algum tempo foi a maior tendência da indústria pop, viu sua carreira ser engolida por polêmicas e relacionamentos e, de uma forma que talvez nem ele esperasse, precisou lidar com essa fase conturbada impactando diretamente nas vendas de seu último disco, “Journals”, deixando claro que estava na hora dele repensar para onde estava indo.

Daí em diante, a história você deve conhecer e partiu para um lado bastante previsível, com ele deixando para trás o Bieber “bad boy” que urinava na rua e pichava muros, para se transformar no garoto que teve seu coração partido e vinha aprendendo com seus erros. Nesse processo de limpeza da sua imagem, o canadense concedeu diversas entrevistas, chorando em muitas delas, e, num dos passos mais marcantes desse período, protagonizou um especial humorístico da MTV, em que diversos artistas se uniram para, literalmente, acabar com ele em frente às câmeras.

Boa parte disso pareceu funcionar e, logo após o especial da MTV, muitos já falavam sobre a postura amadurecida do cantor, que pareceu segurar bem as críticas, mas, até então, estávamos falando apenas de uma reinvenção midiática, deixando em segundo plano a parte mais importante: sua música.

E foi aí que Justin foi praticamente catapultado para a aceitação de sua nova fase. “Where Are Ü Now”, parceria dele com Skrillex e Diplo, presente no álbum de estreia dos últimos dois com o projeto Jack Ü, surgiu como uma das parcerias mais inusitadas do ano e cumpriu com o seu propósito, soando como algo inédito na carreira do canadense e se tornando também o maior sucesso dos produtores envolvidos, fazendo o que o último disco de Bieber não foi capaz, provando sua facilidade em se encaixar em novas propostas musicais e colocando-o de volta em exposição nas rádios e paradas.

De volta ao jogo, não demoraria até que Bieber pudesse seguir seus próprios passos sozinho outra vez e ele o fez no single seguinte, “What Do You Mean”, que anunciou o disco “Purpose” ao mundo e, refletindo o impacto de “Where” na sua carreira, se tornou sua primeira canção a alcançar o topo das paradas nos EUA, superando sucessos como “Baby” e “Boyfriend”, dos seus discos anteriores. 

O grande trunfo de Bieber, mais uma vez, foi a capacidade de reinvenção, boa parte por conta dos novos produtores com quem ele esteve em estúdio, como Skrillex, que assina seis músicas do novo disco, e os novatos Blood Diamonds e Poo Bear. “What Do You Mean” seguia, inclusive, uma tendência que continua crescendo nas paradas, do tropical house, que também corresponde a faixas como “Cheerleader”, do jamaicano OMI, e depois disso, ficou praticamente impossível não prestar atenção nos próximos passos do cantor.

Antes de seu lançamento oficial, “Purpose” rendeu outro hit, também produzido por Skrillex, “Sorry”, além de um remix pouco comentado para “What Do You Mean”, com participação da Ariana Grande, e quando revelado por completo, ainda rendeu a série audiovisual “Purpose: The Movement”, que contava com vídeos pra todas suas canções e depoimentos do cantor que descreviam melhor essa fase dançante de redenção. Mas, enfim, teria ele alcançado o seu propósito?

Confira abaixo nossa resenha faixa-à-faixa para o álbum “Purpose”:

“Mark My Words”

Começando devagar, a primeira canção do disco soa como uma introdução, em que Justin Bieber pede: “guarde minhas palavras, isso é tudo o que eu tenho”. Com pouco mais de dois minutos, a música nos faz esperar por alguma ascensão, nem que seja algum break, como em “Where Are Ü Now”, mas se resume ao curto discurso sob um sample em looping. Em entrevista a Ellen DeGeneres, o cantor confessou que a música é uma das que ele compôs sobre Selena Gomez, ao lado do hit com Jack Ü e “What Do You Mean”.

“I’ll Show You”

Tanto lírica quanto sonoramente, essa música soa como uma progressão à canção anterior, mantendo, inclusive, o tom de desabafo. Com produção do Skrillex, “I’ll Show You” é marcada por um trap contido e muito bem combinado com algo mais levado para o synthpop, enquanto os vocais de Bieber, quase inanimados, tentam nos convencer de que ele se tornou uma pessoa diferente: “porque a vida não é fácil e eu não sou feito de ferro. Não se esqueça que eu sou humano, não se esqueça que eu sou real. Age como se me conhecesse, mas você nunca irá. Aí está uma coisa que eu tenho certeza e vou te provar”.

“What Do You Mean”

Ao começar o “tique-taque”, não fica difícil saber o que vem a seguir. O primeiro hit do disco, “What Do You Mean”, diminui significativamente o peso das letras do disco, enquanto Bieber só quer entender o que a garota que ele está interessado realmente quer. Caindo para o tropical house mencionado na introdução da resenha, a música soa como um sucesso pronto para o verão, o que faz com que sua rápida aceitação não tenha sido algo tão inesperado.

“Sorry”

De volta ao lado de Skrillex, “Sorry” é o super-hit de “Purpose”. Enquanto “What Do You Mean” apresenta uma sonoridade mais contida, essa parece vir pronta para não deixar ninguém parado e, repetindo alguns elementos que deram certo em “Where”, se torna um dos maiores destaques do álbum. Ainda pendendo para uma sonoridade tropical, “Sorry” é, como seu título sugere, um pedido de desculpas de Justin, que pergunta inocentemente em seu refrão, “é tarde demais para se desculpar?”, e então repete, em meio a um break à la “Lean On”, do Major Lazer, “me desculpe”.

“Love Yourself”

Pela primeira vez, o cantor deixa a posição de réu para ser quem aponta o dedo. Com composição do Ed Sheeran, a música chega a soar como uma paródia do britânico de tão característica aos seus trabalhos, mas caiu bem nas mãos de Bieber, quebrando um pouco da hegemonia eletrônica do álbum e, toda no violão, dizendo umas verdades para a menina, passando longe do clichê “o problema não é você, sou eu”, para assumir algo mais próximo do “o problema não sou eu, é você”. Está aí uma homenagem que Selena Gomez provavelmente não gostaria de receber.

“Company”

Como se aproveitasse a fase de solteiro pós-término de “Love Yourself”, em “Company”, Justin parece estar bastante despreocupado quanto a assumir outro compromisso, estando mais interessado em apenas ter a companhia da garota, sem pressões ou obrigações de um relacionamento. Compartilhando do mesmo produtor de “What Do You Mean”, a música leva o disco de volta para a proposta eletrônica, mesclando o já usual tropical house com um dance semelhante aos trabalhos de artistas como MNEK e Disclosure.

“No Pressure (feat. Big Sean)”

E mantendo a mesma necessidade de liberdade, em “No Pressure” ele está disposto a esperar o quanto for preciso pra que sua amada decida sobre continuar ou não ao seu lado. Agora mais próximo do R&B, a música se assemelha ao que ele nos apresentou no disco “Journals”, trazendo até mesmo uma das suas colaborações do outro CD, o rapper Big Sean, com o refrão sendo um emotivo, “você não precisa mudar tomar uma decisão agora. Não se apresse, sem pressão. Eu estarei esperando por você”.

“No Sense (feat. Travis $cott)”

A linha urban ganha sequência em “No Sense”, que é também a segunda parceria do disco. Desta vez ao lado do rapper Travis $cott, com quem colaborou pela primeira vez na canção “Maria I’m Drunk”, do disco de estreia dele, “Rodeo”, Justin parece mandar um recado para a pessoa que ainda não está ao seu lado, falando sobre o quanto as coisas não fazem sentido sem ela. Nos seus versos, $cott parece sintetizar bem essa visão do cantor: “Mais de uma vez, eu quebrei uma promessa. Sem você, garota,  eu não posso ser o cara. Nunca conseguirei ser o máximo de mim. Sem seu apoio, fico incompleto”.

“The Feeling (feat. Halsey)”

As parcerias não acabam por aqui. Halsey é uma das maiores revelações do ano, mesmo em que lançou seu disco de estreia, “BADLANDS”, e ainda que apresente em seus trabalhos uma sonoridade mais alternativa, herda muito de suas influências da música pop, o que explica bem sua aparição do lado do Justin nesta canção. Funcionando como um dueto, “The Feeling” não é dançante como as outras faixas do disco, mas mantém o apelo radiofônico em seu refrão, com os dois se questionando, “eu estou apaixonado por você ou por esse sentimento?”. Também assinada pelo Skrillex, essa talvez seja uma das produções mais genéricas de todo o disco.

“Life Is Worth Living”

Passada uma fase mais descontraída, “Life Is Worth Living” é uma balada ao piano que retoma o clima de desabafo das canções iniciais, enquanto o cantor volta a pedir por uma segunda chance, enquanto afirma que tentaram o crucificar e, de fato, ele não é perfeito, mas “as pessoas cometem erros e você não deve desistir delas por isso (...) A vida vale a pena, então viva um dia após o outro”.

“Where Are Ü Now (feat. Jack Ü)”

O começo de tudo. Nesta altura do disco, “Where” soa familiar ao que nos foi apresentado até então, mas continua mantendo uma singularidade musical incrível, que nos faz pensar se em algum momento iremos nos cansar dessa faixa. Começando de maneira lenta, a faixa nos entrega os vocais de Bieber de maneira dramática, pessoal, e ascende aos poucos, sob os synths de Skrillex e Diplo, até se deixar levar por completo pela fórmula infalível, que ainda ditará muito do que escutaremos com outros artistas pelos próximos meses. Impressionantemente impecável.

“Children”

Desde os trabalhos com seu primeiro disco, antes de toda a fase conturbada que por pouco não acabou com seu nome, Bieber esteve envolvido em causas sociais, ajudando diversas instituições e, claro, mostrando muitas dessas ações publicamente, e em “Children”, o cantor aproveita para compartilhar um pouco dessa visão, dizendo que somos nós os visionários que devem olhar para o futuro e pensar em fazer alguma diferença. Outra vez ao lado de Skrillex, a música começa soando como uma faixa dançante qualquer, facilmente executável por outros como David Guetta e Calvin Harris, mas fica inconfundivelmente próxima dos trabalhos de Sonny ao chegar em seu break, que repete a bagunça de elementos de outras como “Where” e “Sorry”.

“Purpose”

Bastante religioso, Bieber já demonstrou sua fé em músicas de seus discos anteriores, como o single “Pray”, e na faixa-título de “Purpose”, que encerra o álbum, é nas mãos de Deus que ele parece entregar o seu propósito, afirmando que foi ele quem deu tudo o que ele conquistou, então é em quem se apega para seguir em frente. Toda ao piano, a música encerra o disco de maneira um pouco deslocada, mas possui um peso mais lírico do que sonoro. Como diria Inês Brasil, “graças a Deus”.

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Goste você ou não, Justin Bieber entrega em “Purpose” o melhor álbum de sua carreira, além de ser também um dos materiais pop mais interessantes do ano, e ainda que pouco evolua em suas letras, em sua maioria sobre o relacionamento com Selena Gomez, prova sua facilidade em se adaptar às novas propostas sonoras, assumindo o risco de investir numa fórmula musical que, até então, ainda vinha ganhando forma no mercado, bem como fez quando reabriu as portas para os artistas teen em sua estreia, com o disco “My World”.

Ainda que soe um pouco cansativa essa ideia de ficar se desculpando e batendo na tecla do “eu também sou humano”, Bieber conseguiu fazer disso músicas dançantes o suficiente para que não nos preocupássemos em, quase sem percebermos, lhe dar outra chance, e nossa torcida agora é para que o cantor aproveite esse espaço que reconquistou e, de fato, cumpra com seus versos, reconhecendo suas vulnerabilidades, mas também suas responsabilidades, até porque ele deixou de ser o adolescente inconsequente de outrora e, como viu em seu disco anterior, poderá ter suas ações impactando diretamente na maneira como o público recebe suas canções. 

Considere seu propósito alcançado, Justin. Você conseguiu.

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