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Album Review: MØ faz um jantar musical completo com o "No Mythologies To Follow"


Existem alguns álbuns, bem poucos, que não são descritos com palavras fáceis. É aquele bom e velho "Olho para o teclado e não sei o que escrever, só sentir", só que de verdade. Talvez seja isso o trunfo do álbum, causar sentimentos além das palavras humanas. Ou não. O álbum em questão é o "No Mythologies To Follow", debut da dinamarquesa Karen Marie Ørsted, conhecida como MØ. No seu lançamento, um tsunami de hype nos abateu, e isso deturpou ainda mais nossa visão (e os tais sentimentos inexplicáveis), por isso esperamos a maré abaixar para ver com mais clareza o estrago causado pela "Grimes da Dinamarca".

MØ surgiu para a gente numa daquelas noites tediosas onde vagamos pelo Last.fm em busca de algo maravilhoso. Naquele dia deu certo. O EP "Bikini Daze" foi o primeiro material concreto da cantora no mundo, trazendo músicas exemplares e criando sua persona no cenário musical.

Com o "No Mythologies To Follow" (que você pode ouvir na íntegra aqui), MØ pula a cerca do seu primeiro EP e abre um leque do seu próprio estilo e conceito, aberto por "Fire Rides". "Nas profundezas eu me tornei meu mais obscuro sonho, do qual eu estou fugindo" vem embalado em inúmeras camadas de sintetizadores que oscilam como o humor da intérprete ("Oh vadia, você entendeu errado"). "Maiden", o primeiro single da cantora, lançado em 2012, continua a parte contida do álbum, mesmo com sua letra provocativa, com "Tudo que eles dizem sobre mim de tempos em tempos nunca vai ser verdade" e o já conhecido "Eu sou uma virgem para você", num jogo sonoro magistral.

"Never Wanna Know" é a primeira faixa universalmente comercial, uma autêntica balada que poderia ser cantada por qualquer cantora de soul/R&B. "Eu nunca vou querer saber o nome da sua nova namorada" lamenta MØ em meio a um instrumental suave. Bem fim de relacionamento mesmo. Dando uma elevada no astral do álbum vem "Red In The Grey", algo que seria facilmente cantado por M.I.A., o que é ótimo. Com uma pegadinha reagge, a canção poderia servir como um bom single pelo seu ótimo refrão e os acordes que abrem e fecham a canção.

Saxofones poderosos são a marca de "Pilgrim", outro single avulso lançado pela dinamarquesa na fase pré-Bikini Daze. Coincidência ou não, a canção de título "peregrino" combina com aquelas longas viagens, com palmas carregando a faixa do começo ao fim. Aí chegamos em "Don't Wanna Dance", um verdadeiro hino de 2014. Pop na medida certa, mas sem deixar a identidade escandinava de lado, o single que antecipou o álbum é um acerto por completo. Letra fácil, refrão chiclete, melodia envolvente, clipe divertido. "Eu estou sozinha e sou louca por você. Me dá arrepios o jeito que seu corpo se move", enfim, não há molécula fora do lugar em "Don't Wanna Dance", já um dos melhores singles do ano.


"Waste of Time", à título de curiosidade, foi a primeira faixa que ouvimos da cantora, e talvez por isso temos um carinho extra-especial por ela. A canção é o resumo de toda MØ. A melodia é um híbrido de tudo que ela já fez de melhor, a letra tem o mistério que andam nas suas obscuras facetas tudo é combinado de forma genial com estralar de dedos. "Por que isso dói tanto? Você sempre me faz chorar, oh que perda de tempo". Linda de morrer. Em "Dust Is Gone" temos a balada mais contida do álbum, mas de beleza ímpar. Com vocais quase crus, Karen canta de mansinho um arrebatador "Você já me amou, garoto? Você já amou o azul do céu? Você já beijou os lábios que gosta com tanta força que não poderia continuar vivendo?".


O hino com todas as letras "XXX 88", featuring com Diplo, tem gritinhos, efeitos sonoros e um refrão para jogar qualquer um no chão. Eufórica, alucinante e com produção do pai do Major Lazer, era impossível não dar certo, só não imaginávamos que o acerto seria tão grande. ARR%MBARAM. Continuando com a animação vem  a divertidíssima "Walk This Way". Cheia de gingado, tem um pezinho no passado sem esquecer as tendências criadas pela cantora, elevando em mais um patamar a sonoridade do álbum.


Deixando aflorar a Lykke Li que existe dentro de todos nós, "Slow Love" carrega falsetes belíssimos e efeitos vocais dando profundidade e nos dando um pós-refrão para ouvir de joelhos. "Oh, por que o ritmo sempre me deixa chapada? É difícil resistir, você grudou na minha cabeça" resume bem a faixa. Fechando a versão Standard do álbum, a também já conhecida (e carregada) "Glass" pode soar imatura perto das novas produções da cantora, mas não poderia deixar de estar aqui. Seu "Apague as luzes para que nossas almas excitadas tenham um momento de privacidade" é o que há de melhor liricamente falando.


A versão Deluxe começa com a faixa-título. "No Mythologies To Follow" é uma daquelas músicas que nos perguntamos "Por que diabos isso é só uma faixa bônus???". A música é perfeita e, como se espera de uma faixa-título, carrega o conceito do álbum. "Para onde você quer ir? Para onde os ventos sopram? (...) Somos uma geração sem mitologias a serem seguidas". O pós-refrão é, talvez, a melhor coisa do álbum inteiro. "Dummy Head" é um pequeno estudo de estilo, um "alongamento" da sonoridade imposta pela dinamarquesa, servindo como uma sobremesa quando já estamos fartos do prato principal.

Aí chegamos em "The Sea" e descobrimos que ainda estamos com fome. A música poderia muito bem estar entre o prato principal, como um delicioso molho. Criando uma trilogia pessoal do suingue com "XXX 88" e "Walk This Way", a música é uma pérola que deve ser apreciada. "Gone And Found" conclui o álbum com tranquilidade, como desabafo sinceros da cantora. "Minha mãe disse 'Um dia você vai brilhar'". Ela acertou.


RESUMINDO: De tempos em tempos surge algum álbum para quebrar a monotonia da música, como uma pedra jogada num lago, causando ondas e desequilíbrio necessário para sairmos da mesmice. Talvez as intenções de MØ nem sejam essas exatamente, sendo somente pensamentos e memórias adolescentes conturbadas, mas a notoriedade para essa garota deve ser algo inevitável. "No Mythologies To Follow" é o frescor que não achávamos precisar, porém, depois de ouvido e re(re-re-re-re)ouvido, é um exemplar que marcará 2014 e que veio no momento certo. Um banquete completo.
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