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Review: A inocência pop resgatada e banhada com muito talento, no despretensioso "Yours Truly" de Ariana Grande!


Tem sido de praxe praticamente nos últimos anos surgir uma revelação musical (de preferência feminina) para ocupar um espaço em nossos corações, este é o caso de Ariana Grande, que até pouco tempo atrás, era apenas conhecida por participar dos seriados "Victorious" e "Sam & Cat" da Nickelodeon. Dona de uma técnica e alcance vocal impecável, a doce Ariana se preparou exaustivamente por três anos, até que estivesse inteiramente pronta para estrear num mercado pop cada vez mais injusto. Talentosa como há muito tempo não víamos, ela já chegou arrasando. Em parceria com o também talentoso rapper Mac Miller e sem prometer, já emplacou seu primeiro single, "The Way" no topo do iTunes, de onde mesmo sem divulgação alguma de sua gravadora, a faixa estabeleceu-se no Top 10 da Billboard Hot 100.


A partir daí, começaram a surgir inúmeras comparações a respeito de sua similaridade com Mariah Carey, o que de fato, se comprovam em "Yours Truly", mas que em nenhum momento atrapalham o desempenho e muito menos afetam todo o brilhantismo da produção milimetricamente despretensiosa. E que me desculpem tantas outras se estou sendo injusto, mas esse é de longe o melhor debut de alguém tão jovem que ouvi em anos.


Uma mistura despretensiosa, divertida e consistente é o que temos ao longo das doze faixas presentes. Começando o samba temos "Honeymoon Avenue", faixa mais longa do álbum, que é uma falsa baladinha sobre aquele famoso momento em que terminamos um relacionamento e por uma série de motivos ficamos com o sentimento do "se" martelando na nossa cabeça, brigando com todas as decisões já tomadas e de alguma forma, mesmo que sofrendo, querendo voltar ao que era antes. Em versos dramáticos como "Eu sinto como se meu coração estivesse preso no para-choque no meio do tráfego. Eu estou sob pressão pois não posso ter você do jeito que eu quero, vamos deixar apenas que isso volte a ser do jeito que era antes", explorando tranquilamente todo seu potencial vocal, de forma calma, segura e harmônica. Um ótimo começo.

Na sequência temos "Baby I", segundo single extraído do álbum. Aqui as comparações com Mariah ficam ainda mais evidentes (e nem estamos falando da nota mais alta, quase um gritinho ao seu final), por se tratar de uma faixa que tranquilamente se encaixaria em algum álbum de Mimi dos anos 90. A vibe noventista da canção está presente por toda a parte, desde seu arranjo melódico, as palmas, a bateria e os vocais voltados pra um R&B mais pop de Ariana, que seduzem ao longo dela inteira, sem contar essa risadinha deliciosa no finalzinho.


À frente, chegamos em "Right There", atual novo single de Ariana Grande em parceria com o rapper Big Sean e que repete a fórmula de sucesso de "The Way": juntar uma música com levada amorosa, com vocais deliciosamente postos e os versos de um rapper talentoso e em ascensão. Adiantando logo de cara que quer celebrar "Se você quer festejar, (se você quer festejar), coloque suas mãos pra cima (coloque suas mãos pra cima)", Ariana dá todos os ingredientes possíveis pra se ter uma noite juntinha ao lado de quem se ama.

Depois de festejar enchendo de elogios a pessoa amada, chegamos na primeira baladinha oficial do álbum, a belíssima "Tattooed Heart", que assim como todo o "Yours Truly" segue bem e de forma consistente a sonoridade anos 90, repleta de doçura e estalos de dedo, que interagem muito bem com o show controlado e que vai crescendo junto com a voz arrasadora de Ariana, até encerrar nessa preciosidade vocal do seu fim prendendo a respiração.

Depois de juras e mais juras de amor, chegamos num uptempo, na verdade dois: "Lovin' It" e "Piano". No primeiro, Ariana é uma mistura de cantora talentosa de alguma discoteca cantando uma letra bobinha, sobre como sofrer por uma relação da qual você não consegue sair mais e que, apesar disso, consegue ficar bem agradável. Méritos pra ela. Já na segunda, temos uma melhora da letra da primeira, com Ariana ainda sofrendo pela relação, mas contando com seu inseparável amigo: o piano. Onde ela fala sobre compôr uma canção para seu amor e faz um um jogo de palavras bem interessante se pararmos pra analisar: "Eu poderia escrever uma canção em meu piano novo. Eu poderia cantar sobre como o amor é uma batalha perdida. Não é difícil, não é difícil. (...) Mas eu prefiro fazer uma música que pode tocar no rádio e que faça você querer pegar a mão de seu amor". Se foi intencional ou não, não sabemos, mas que surte o efeito desejado, ah, isso sim.

Saindo da euforia e agitação dos anos 90, voltamos pra parte romântica e ritmada agora na baladinha "Daydreamin'", com Ariana Grande pagando de bobona apaixonada em quanto o boy passa "Então eu estava sonhando acordada, com o queixo na palma das minhas mãos. Com você, você, e só você. (...) Diga sim, diga sim, diga sim".

A próxima sequência traz uma das grandes faixas do ano nos EUA e que colocou inicialmente todos os holofotes virados para Ariana Grande, lá no começo de 2013. Inicialmente feita para Jordin Sparks e caindo no colo de Grande, "The Way" é uma faixa pop excelente, principalmente se tratando de uma garota de apenas 20 anos de idade e um debut single. Hit de verão, com todo o aparato 90's presente mais uma vez e ainda somada aos "ooohs" ao fundo. Hype mais que merecido. "You'll Never Know" vem pro lado oposto. Enquanto em "The Way" ela listava os motivos para dar certo com alguém, aqui, só tirando a parte rap do Mac Miller, e deixando que sua voz brilhe constantemente, Ariana faz o caminho inverso e dá o troco num boy que fez por merecer todo seu desprezo, provando que mesmo sem ele, ela está mais que bem em outra relação.

Caminhando pra parte final temos o aguardado dueto de Ariana Grande e seu atual namorado, Nathan Sykes, do The Wanted em "Almost is Never Enough". Não julgaremos a relação, muito embora esse blogueiro aqui queira, por não ter engolido a história até agora (#marketing #TeamJariana detected), mas enfim, o dueto em si, é uma lindeza só. Puro, inocente, com os dois divando vocalmente e tendo seus espaços solo e nas harmonias, sem contar na beleza que é sua letra toda trabalhada na fofura. Belo trabalho do Scooter Braun (marketeiro de mão cheia), gerenciador da carreira de ambos e que deu essa brilhante ideia.


A fase final do "Yours Truly" conta com o dueto midtempo entre Ariana e o britânico Mika em "Popular", já conhecida do último álbum dele e que acabou entrando na tracklist dela também. Particularmente eu não curto esse dueto. Adoro ambos individualmente, mas acho essa a faixa mais chatinha de todo álbum, muito embora entenda terem inserido a canção na tracklist final. Analisando como um todo, este é o meio de um caminho perfeito e bem harmônico. Por fim, temos a ~semi-farofa~ "Better Left Unsaid", que logo no seu início nos dá a impressão que vem outra baladinha por aí, mas não passa de um engano. Com toques EDM e deixando com que seus vocais guiem a canção sem serem afetados pela produção, Ariana Grande encerra o samba que foi sua estreia em grande estilo, mostrando que caso queira se arriscar mais à frente (embora não queira que seja dessa forma), ao menos já temos uma prova que não decepcionaria num uptempo com cara de EDM. 


Concluindo: Talvez, as únicas coisas que possam descontar alguns pontos são as letras um tanto quanto infantis em alguns momentos, mesmo assim, entendemos que essa é a proposta da gravadora com ela: de alguém jovem, que passe a imagem de moça de família e de bons costumes que a cultura norte-americana tanto idolatra. E nesse papel, Ariana se sai muito bem  sem polêmicas e discreta na sua vida pessoal. Mas num geral, o conjunto do "Yours Truly" é brilhantemente harmônico, feito milimetricamente com qualidade, onde cada faixa tem sua função de estar no álbum, sem ter nada descartável ou enfadonho, pelo contrário. O que temos na brilhante estreia de Ariana Grande, é um resgate muito bem feito da sonoridade despretensiosa R&B/Pop dos anos 90, inocente, sem esse interesse absurdo que vemos atualmente em querer hitar a qualquer custo. Tudo o que temos de mais precioso no álbum, é aquilo que de fato deveria ser o necessário a qualquer artista nos dias atuais: se sustentar apenas em cima do seu próprio talento. Talento este, que Ariana tem de sobra com esses vocais divinos, cheios de melismas e modulações. Agora, se ela conseguirá se manter apenas com ele, é uma incógnita, afinal, estamos falando de uma indústria pop que a cada dia vem deixando isso mais de lado. Porém, se tivéssemos que apostar em algo a longo prazo, nosso conselho seria o seguinte: "Segurem-se, porque estamos presenciando sem prometer, o nascimento de uma das melhores artistas dessa década". Bem-vinda, GRANDE Ariana!

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