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Review: o que achamos do "Trouble", o divertido e conturbado segundo disco da Natalia Kills!


Muito se fala sobre o "desafio do segundo disco" e a forma com que muitos artistas tendem a derrapar nele, mas o que há de tão preocupante neste momento da carreira? Fácil. Quando o disco de estreia do artista em questão faz dele um fenômeno ou algo perto disso, muitos ouvidos estarão atentos ao seu próximo passo e bem mais críticos do que foram na primeira vez, visto que já o julgam entendedor desse jogo chamado showbiz e é aí que a maioria peca. O público vai se contentar com ele fazendo mais do mesmo que o tornou conhecido? Mudanças são válidas até que ponto? Há alguma fórmula que nunca falha? Questões não faltam, mas dificilmente haverá alguma resposta justa pra cada uma delas. Público é público e a missão deles na Terra é julgá-lo justamente daquela forma que você não esperava. 

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A artista que protagoniza essa review, porém, parece estar bem vacinada. Dona de um dos melhores discos de 2011, "Perfectionist", a britânica Natalia Kills ganhou fama marcada pelo quê obscuro que trazia para o mercado pop, mas seja pela má divulgação ou por realmente não terem ido com a cara dela, a mocinha simplesmente não vingou. Quando foram lançá-la nos EUA, até se esforçaram colocando-a ao lado do will.i.am ou de nomes como a dupla LMFAO, no auge de "Party Rock Anthem", mas nem isso adiantou, aí ela voltou pros estúdios e só saiu nesse ano, com um segundo disco chamado "Trouble" e um conturbado buzz-single chamado "Controversy". Teorias à parte, o novo álbum (qual listamos 25 razões pra vocês escutarem aqui) de Natalia Kills aparenta ser uma produção bem pessoal, onde a cantora fala sobre seu passado, sua família, seu pai e seus romances ruins. A crítica a sociedade, prometida pelo clipe do buzz-single já citado, acaba em segundo plano, mas ainda chama a atenção mesmo que implicitamente. 

Como por aqui temos assunto de sobra, que tal conferirem o que achamos da produção nessa crítica faixa-à-faixa?

1) "Television"
Ao som de sirenes, um instrumental de filme de suspense e até vestígios de uma discussão, essa começa introduzindo de forma pesada um pouco do drama que teremos no álbum. Ainda assim, basta começar a música de verdade pra levarmos um choque. Divida em partes, nesta canção Natalia Kills vai do céu ao inferno em questão de segundos, primeiro se divertindo ao som da batida radiofônica enquanto vive uma cena de ação como as da televisão e então caindo na real, ao notar que quando começa o sofrimento, não há um botão que desligue pra acabar com tudo.

Daria um bom single? Sim, sem dúvidas.



2) "Problem"
Soa um pouco mais experimental que a faixa anterior, com um batidão nada linear, acompanhado por vocais mais graves e a cantora reforçando o que dizem sobre ela, "essa menina é encrenca". Aqui temos a primeira noção do trabalho do Jeff Bhasker no álbum, principalmente no momento em que a voz de Nat ganha um efeito rádio AM (após 1:50). O resultado é sensacional, mas não entendemos a razão de ter sido o primeiro single. Talvez esperassem que o clipe polêmico impulsionasse as vendas, né?

Daria um bom single? Pensando nas rádios e na missão de atrair um bom público, não.

3) "Stop Me"
Essa foi uma das primeiras reveladas do "Trouble", após a cantora performá-la ao vivo, mas confessamos que não esperávamos tanto. Mesmo sendo mais lenta, aqui ela mantém a bagunça-organizada de "Problem" e carrega mais alguns versos pesados como "coloco meu salto alto e fico perto de Deus / essa noite vamos dançar até que o Demônio chegue e eu preciso de alguém / Preciso que alguém me pare", sob uma percussão que dá todo um tom dramático pra canção.

Daria um bom single? Não, mas renderia um clipe interessante.

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4) "Boys Don't Cry"
Sucedendo o pesadíssimo trio acima, é aqui que o álbum finalmente respira um pouco de ar fresco. Saem as tags de "dark-pop" do Last.FM e temos então lacunas em branco pra falar sobre a canção ser um pop radiofônico, divertido e até mesmo comercial, mas nada de farofa, estamos falando de um pop-rock à la Blondie e No Doubt, e os vocais da Natalia também entram no clima, encarnando Gwen Stefani de uma forma tão boa quanto assustadora, enquanto ela mostra que também sabe partir corações, dizendo que o rapaz não deve chorar quando ela disser adeus.

Daria um bom single? Com certeza! PRE-CI-SA.

5) "Daddy's Girl"
Dando um tom nostálgico para o disco, a quinta faixa é introduzida com um sample de "Rich Girl", lançado pela dupla Daryl Hall & John Oates lá na década de 70. Mantendo a postura durona da faixa anterior, aqui ela põe em jogo todos os erros do cara, perguntando se valeu a pena ele ter abandonado tanta coisa, abandonado a vida luxuosa de "filhinha do papai", mas se rende ao garantir que ele pode contar com ela para o que precisar. Mais uma vez, os vocais lembram MUITO os da Gwen Stefani (e, obviamente, isso não é ruim, nunca, hahaha) e a sonoridade ganha agora um clima mais "estrada", sabem?

Daria um bom single? Talvez não funcione para as rádios, mas dane-se as vendas. Lance, Kills! Kill it!

6) "Saturday Night"
A gente não vai mais citar a Gwen Stefani pra não ficar chato, mas essa todos já conhecem e amam, não? O segundo single do "Trouble" é uma das produções mais completas do disco. A introdução devagar, tipo começo do filme, a quebra do clima por meio dos vocais quase puros de Natalia, seguidos então pela batida que cresce gradualmente mas nunca "chega lá". Aqui as coisas ficam mais claras, mais lineares, e o "woah ooh, woah ooh" também cumpre bem sua função, tornando a canção marcante em meio a todo o disco. O tema, por sua vez, é a infância da cantora, como a própria ilustrou em seu videoclipe.

Daria um bom single? A gente jurava que sim, mas as rádios não abraçaram. :(

7) "Devil's Don't Fly"
Aparentemente, é aqui que Natalia dá uma descansada com o "Trouble". Já rolaram sofrimentos, confusões, amores, sábados e, claro, agora é a hora do desabafo. "Devil's Don't Fly" marca uma das partes mais sensíveis do álbum, visto que aqui não temos um instrumental que possa disfarçar/maquiar o tema em questão. Desarmada, na letra ela canta que "demônios não voam, então não espere que eu não caia", mas conclui contando ao seu favor o fato de ter tentado.

Daria um bom single? De certo, cumpre o papel daquela favorita dos fãs que não fariam um bom trabalho nas rádios.

8) "Outta Time"
Não é a melhor do disco, mas uma das mais gostosinhas. Se for pra fazer uma longa viagem de estrada, bota "Daddy's Girl" enquanto estiver indo e essa quando estiver pertinho do destino final. E é nessa sonoridade mais contida que Natalia faz o rascunho de uma carta numa entregue para seu amado, dizendo que só foi embora pra que as coisas pudessem "acontecer". Ela queria voltar, queria levá-lo com ela, queria que fosse diferente, mas ambos já estavam sem tempo pra voltar atrás.

Daria um bom single? É o terceiro single do "Trouble" e só aprovamos a escolha por não conseguir imaginar clipes ruins pra uma música assim.



9) "Controvery"
Um tapa na nossa, na sua, na da senhora sua mãe, na cara da sociedade. O buzz-single que começou toda a "nova" jornada. É uma crítica a sociedade, a tudo o que Natalia Kills crucifica. Toda a coisa linear que tomava conta do disco sai e voltamos então a baderna funcional do começo do disco. Isso sem falar nas repetições do polêmico "drink the kool-aid, don't drink the kool-aid", onde Natalia faz referência ao massacre de 1978, em Jonestown, onde mais de 900 pessoas morreram após serem obrigadas a tomar uma bebida com cianureto, o que resultou em um dos suicídios em massa mais marcantes e trágicos de todos os tempos. Eita!

Daria um bom single? Se não tivesse sido buzz, não botaríamos fé para as rádios por conta da polêmica. Pesada demais para o grande público.

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10) "Rabbit Hole"
Como pouca polêmica é bobagem, agora vamos de "Rabbit Hole" e é na toca do coelho que as coisas acontecem. Com a mesma conturbação sonora da música anterior ou outras como "Problem", aqui Natalia Kills já ilustra a história nos versos iniciais: ela a professora, ele o aluno ~dedicado~, juntos são "as crianças que sua mãe disse pra você ficar longe". Irônica ao máaaaximo, ela diz que dará ao aluno vários "A" e que juntos vão praticar química e biologia, seja na sala de aula, no banheiro, aonde os dois couberem. Caso toda a ideia não fique clara, em alguns versos mais tarde ela torna explícito: "nós vamos transar que nem coelhos". Tá bom pra vocês?

Daria um bom single? "Alguém falou em dar?" KILLS, Natalia. Já pensaram? Hahahah.

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11) "Watching You"
Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Há alguns minutos, ela partia corações dizendo que garotos não choram e agora tá aqui, sofrendo e vendo seu amado com outra. Mas cuidado, pois o passado dela condena e ela garante "se eu não posso te ter, ninguém mais poderá", além de cantar sobre estar do lado de fora da casa do cara assistindo-o com outra pessoa. Stalker de outro nível. Sonoramente, a canção dá uma acalmada no disco, com uma coisa bélica sem soar pesada.

Daria um bom single? Láaaa pro final da promoção do álbum, sim.

12) "Marlboro Lights"
Para os interessados, ela acaba não matando o cara da faixa 11 e até o deixa em paz, sofrendo em silêncio enquanto pensa e canta sobre ele em "Marlboro Lights". Pra tornar mais claro esse momento pra baixo, a canção repete a vulnerabilidade de "Devil's Don't Fly", onde temos como único destaque a profundidade da letra e vocais da Natalia. É pra se cortar ouvindo. É de partir o coração. Vem aqui amar a gente, Nat!

Daria um bom single? A música é linda, mas não.

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13) "Trouble"
E pra fechar o disco, vamos com sua faixa-título e gente, QUE FAIXA-TÍTULO! Depois de se assumir como uma garota-problema e ver que nem bancando a destruidora de corações tinha salvação, aqui Natalia Kills canta seus versos de despedida e tenta, pela última vez, encontrar alguém que a aceite da forma que é. Assim como nas faixas 7 e 12, a cantora se mostra vulnerável outra vez, mas de novo protegida pelo instrumental, no disco muitas vezes utilizados como um escudo. De qualquer forma, nem isso a protege dela mesma, enquanto te convida para ser seu álibi pois irá incendiar sua casa e finaliza tentando explicar seu comportamento em versos como "nós só temos um ao outro / guarde sua inocência para a próxima vida / não deixe que eles façam com que você pense duas vezes / a vida não dura pra sempre, querido".

Daria um bom single? Último single do álbum, pra encerrar com chave de ouro.


Concluindo:
 infelizmente, ao menos com base na recepção de "Problem" e "Saturday Night" nas rádios/paradas, não será desta vez que o grande público vai abraçar Natalia Kills. Mas com "Trouble" ela prova outra vez que tem potencial pra isso, até tirando, de certa forma, a má impressão que pode ter deixado em alguns pela obscuridade carregada em seu debute, aqui não oculta, mas disfarçada, seja pelos instrumentais mais animados ou o tom rosa dado a sua capa. Seja como for, o resultado final é impecável e continuamos na torcida pra que muitas outras pessoas notem isso a tempo, pois seria horrível ver uma cantora tão talentosa cair no esquecimento antes mesmo de ter seus 15 minutos de fama e cá para nós, em tempos de "21" da Adele e "Born to Die" da Lana Del Rey, teria momento mais oportuno para o mundo começar a amá-la? 
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