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Review: O mágico espetáculo que Ang Lee nos presenteia com seu belíssimo “As Aventuras de Pi”!


Prosseguindo com nosso especial do Oscar 2013, o segundo filme a ganhar nossa devida atenção é As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012). O filme é dirigido por Ang Lee, diretor que ganhou o Oscar no aclamado O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005), filme que deveria ter levado o Oscar de Melhor Filme na premiação, mas não vamos chorar sobre o CGI derramado, né.

As Aventuras de Pi conta a história de Pi (really???), um garoto indiano, interpretado por Suraj Sharma na parte importante da história, que tem como maior dúvida a fé. No que acreditar? Ou por que acreditar? Essa dúvida o faz “buscar Deus” de todas as formas, até chegar ao ponto que ele tem três religiões ao mesmo tempo. Nessa ânsia de se encontrar, de se descobrir, Pi encontra no Cristianismo uma fonte dessa verdade divina. Okay, você deve está pensando “vou assistir a um filme ou a uma missa?”. Esse papo religioso poderá incomodar alguns; no meu caso não incomodou, porém torna a história tosca em certos momentos. Nada que atrapalhe criticamente.

Indo para a parte que o filme começa realmente, Pi e sua família, que é dona de um zoológico, está partindo da Índia num navio. Uma tempestade cruza o caminho, o navio afunda, e o garoto é o único sobrevivente, caindo dentro de um barco com uma hiena, uma zebra e um tigre. É isso aí, e depois aparece um orangotango para completar a festa. Com o andar da carruagem, ou do barco, sobra apenas Pi e o tigre, que se chama Richard Parker (?). Se você fizer as contas vai chegar na seguinte equação: garoto + tragédia + barco + oceano + tigre adulto faminto = problema. A partir dessa situação, Pi vai ter que encontrar forças para sobreviver ao isolamento, fome e claro, ao tigre, apegando-se à sua fé.

Falando no Richard Parker, o tigre é um espetáculo à parte. Todo, eu repito, TODO feito com efeitos especiais, apenas o bicho já garante o Oscar de Efeitos Especiais para a produção. É incrível a qualidade de todos os efeitos, fotografia, som, trilha sonora (ganhadora do Globo de Ouro): a parte técnica é impecável. Algumas das cenas mais belas do ano também estão aqui; foco em três: quando Pi afunda e vê o navio sendo tragado pelas profundezas; quando o oceano vira o “espelho do céu”; e a da baleia, minha preferida. Tudo isso empacotado numa explosão de 3D que evoca as maiores emoções de quem assiste, e olha que ainda sou relutante quando ao uso da terceira dimensão na telona. O filme concorre em 11 categorias, o segundo filme com mais indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (duvidoso, trocaria Lee por Bigelow facilmente), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Fotografia, Melhor Edição de Som, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original – Pi’s Lullaby, Melhor Mixagem de Som e Melhor Design de Produção (antes chamada de “Melhor Direção de Arte”).

Quanto à “pregação ou não” da religião no filme, ela existe, mas na verdade não é isso que a fita quer passar. Ela trata da natureza humana, que de tão frágil necessita de um placebo psicológico para se apegar, depositar esperanças. Uma válvula de escape que o faz acreditar que tudo pode dar certo, e a falta disso é insuportável. É aí que “Deus” entra, é esse o seu trabalho. A storyline (o “slogan”) do filme é “Acredite no inacreditável”, e isso não é por acaso. Então seria Deus algo puramente humano, e assim o filme acaba pregando a ideologia ateia? Não, ele apenas passeia pelo óbvio: “Deus” existe dentro de cada um de nós, e nós o vemos da forma como queremos.

Apesar dessa carga metafórica forte, As Aventuras de Pi é fraco em estrutura narrativa, já que se baseia na “história que vai fazer você acreditar em Deus”, fora as passagens por vezes piegas. Lee consegue nos fazer entrar na história (não conseguimos ficar desatentos, temendo pelo destino de Pi e vigiando o temido tigre) e é uma dádiva visual, sem dúvidas (apesar da imensidão azul que o cerca, o filme é quase inteiramente passado dentro de um claustrofóbico barco cercado por tubarões, mostrando como o infinito causa solidão), todavia o roteiro não possui tanta força. Parece que ele, o roteiro, também fora tragado pelas águas furiosas e terminado ensopado. Com o menor puxão ele se rasga.


  • Próxima Oscar Review: Amor, de Michael Haneke, terça, 29/01.
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